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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS - CEJURS CURSO DE DIREITO A PROTEÇÃO JURÍDICA DO IDOSO, DIANTE DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, E O SEU DIREITO A ALIMENTOS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO SARAH ANELISE FLORES Itajaí, outubro de 2007.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALICENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS - CEJURSCURSO DE DIREITO

A PROTEÇÃO JURÍDICA DO IDOSO, DIANTE DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, E O SEU DIREITO A

ALIMENTOS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

SARAH ANELISE FLORES

Itajaí, outubro de 2007.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALICENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS - CEJURSCURSO DE DIREITO

A PROTEÇÃO JURÍDICA DO IDOSO, DIANTE DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, E O SEU DIREITO A

ALIMENTOS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

SARAH ANELISE FLORES

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Dr. Diego Richard Ronconi

Itajaí, outubro de 2007.

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AGRADECIMENTOS

Dizem que quando estamos no céu Deus permite que façamos algumas escolhas como em qual

família deveríamos cair.... Acho que no meu caso ele deu um pouquinho mais de privilégio, pois

creio que programei grande parte da minha vida...

Acredito que escolhi a família perfeita, eis cada membro dela é imprescindível na minha vida;

Acredito que tenho os melhores amigos, pois os tenho sempre perto de mim, nas horas de dúvida,

de tristeza e de alegria, tornando os meus dias melhores;

Da mesma forma, acredito que não poderia cair em melhor turma na universidade, estes com

certeza também tornaram os meus dias melhores e deixarão muita saudade...

Por isso, agradeço a Deus por ter permitido que estas pessoas façam parte da minha vida.

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais Walter e Daura por todos os esforços dedicados para proporcionar o melhor a

mim e aos meus irmãos sempre;

Aos meus amigos da turma 2007/II pelos ótimos momentos vividos nestes cinco anos, em especial

às minhas amigas Bruna e Janaina;

A minha amiga Mirelle por me ajudar, mesmo que indiretamente, e por estar sempre comigo;

Ao meu orientador Dr. Diego Richard Ronconi por me auxiliar na presente com sua competência.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, outubro de 2007

Sarah Anelise FloresGraduanda

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Sarah Anelise Flores, sob o título

A Proteção Jurídica do Idoso, Diante do Princípio da Dignidade da Pessoa

Humana e o seu Direito a Alimentos no Ordenamento Jurídico Brasileiro, foi

submetida em 12 de novembro de 2007 à banca examinadora composta pelos

seguintes professores: Dr. Diego Richard Ronconi (Presidente da banca), Msc.

Ana Lúcia Pedroni e Fernando Laélio Coelho e aprovada com a nota 9.7 (nove e

sete).

Itajaí, outubro de 2007.

Prof. Dr. Diego Richard RonconiOrientador e Presidente da Banca

MSc. Antônio Augusto LapaCoordenação da Monografia

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AMPL. Ampliada

ART. Artigo

ATUAL. Atualizada

CC Código Civil

CC/1916 Código Civil Brasileiro de 1916

CC/2002 Código Civil Brasileiro de 2002

CP Código Penal

CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil

ED. Edição

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INC. Inciso

LOAS Lei Orgânica de Assistência Social

P. Página

PNI Política Nacional do Idoso

N° Número

REV. Revisada

SUS Sistema Único de Saúde

V. Volume

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ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Alimentando

Aquele a quem se dá ou deve alimentos. O mesmo que alimentário e

alimentando1.

Alimentante

Aquele que dá, paga, fornece alimentos. É o sujeito passivo da obrigação

alimentar, o devedor. Na linguagem jurídica, é usado, preferencialmente,

alimentador que tem o mesmo significado2.

Alimentos

Alimentos são prestações para a satisfação das necessidades vitais de quem não

pode provê-lo por si. A expressão designa medidas diversas. Ora significa o que é

estritamente necessário à vida de uma pessoa, compreendendo, tão somente, a

alimentação, a cura, o vestuário e a habitação, ora abrange outras necessidades,

compreendidas as intelectuais e morais, variando conforme a posição social da

pessoa necessitada3.

Ascendente

(...) é empregado para designar a pessoa de quem outra procede, em linha reta4.

Descendente

(...) é empregado para designar todo parente que descende (provém) de um

progenitor comum, o qual, na ordem em que se coloca na linha reta, que desce,

1 FRANÇA, R. Limongi. Enciclopédia Saraiva do Direito. São Paulo: Saraiva, 1978, v. 6, p. 144.2 FRANÇA, R. Limongi. Enciclopédia Saraiva do Direito, p. 144.3 GOMES, Orlando. Direito de família. 14ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 427.4 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 2ª ed. Forense: Rio de Janeiro, 1967, v. 1, p. 166

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sucede sempre o que lhe antecede5.

Dever de sustento

O dever de sustento significa a provisão, a subsistência material e moral,

fornecimento de alimentação, vestuário, abrigo, medicamentos, ou seja, propiciar

condições para a sobrevivência e desenvolvimento do filho. É resultante do poder

familiar. Existe enquanto os filhos são menores de 18 anos e subsiste à

autoridade. Com a maioridade ou emancipação rompe-se, então, o poder familiar

e, portanto, cessa o dever de sustento6.

Dignidade da Pessoa Humana

(...) qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do

mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade,

implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que

assegurem a pessoa tanto contra tudo e qualquer ato de cunho degradante e

desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para

uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e co-

responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão comuns

demais seres humanos7.

Direitos Humanos

O conjunto institucionalizado de direitos e garantias do ser humano que tem por

finalidade básica o respeito à sua dignidade, por meio de sua proteção contra o

arbítrio do poder estatal e o estabelecimento de condições mínimas de vida e

desenvolvimento da personalidade humana8.

Família

5 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico, p.508.6 LEITE, Heloisa Maria Daltro (Coord.). O novo código civil: do direito de família. Rio de

Janeiro: Freitas Bastos, 2004, p. 292.7 SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais. Porto

Alegre: Livraria do Advogado, 2002, p. 62.8 MORAES, Alexandre de. Direitos fundamentais: teoria geral, comentários aos arts. 1° a 5°

da constituição da república federativa do Brasil. Doutrina e Jurisprudência. 6ª ed. São Paulo: Atlas, 2005, p.21.

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Considera-se família em conceito amplo, como parentesco, ou seja, o conjunto de

natureza familiar. Nesse sentido, compreende os ascendentes, descendentes e

colaterais de uma linhagem, incluindo-se os ascendentes colaterais do cônjuge,

que se denominam parentes por afinidade ou afins9.

Necessidade

Necessidade para fins alimentícios, significa estado de miserabilidade da pessoa

que necessita de alimentos, sendo um “pressuposto de exigibilidade” Da pensão

alimentar10.

Obrigação alimentar

O encargo alimentar, decorrente do casamento e da união estável, tem origem no

dever de mútua assistência, que existe durante a convivência e persiste mesmo

depois de rompido o vínculo afetivo. Cessada a vida em comum, a obrigação de

assistência cristaliza-se na modalidade de pensão alimentícia. Basta que um do

par não consiga prover a própria subsistência, e o outro tenha condições de

prestar auxílio11.

Parentesco

(...) relação vinculatória existente não só entre pessoas que descendem umas das

outras ou de um mesmo tronco comum, mas também entre um cônjuge e os

parentes do outro e entre adotante e adotado12.

Pensão Alimentícia

Pensão alimentícia ou verba alimentar, é o pagamento sucessivo e continuado de

uma certa quantia em dinheiro, que uma pessoa faz a outra, em razão de

parentesco ou de dever de assistência, destinada a prover sua subsistência13.

9 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: direito de família. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2003, v. 6, p. 14.

10 OLIVEIRA, J.F. Basílio de. Alimentos, revisão e exoneração. 4ª ed. rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2004, p. 55.

11 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 449.

12 DINIZ, Maria Helena. Direito civil brasileiro: direito de família. v. 5. 18 ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 367.

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Políticas Públicas

Um conjunto de formulações e uma organização de vários programas e serviços

que contemplem ações não áreas econômicas, sociais, ambientais, culturas,

etc.14.

Possibilidade

Como pressuposto para encargo alimentar, para a caracterização da

possibilidade, faz-se mister que o alimentante se encontra em condições de

fornecer ajuda sem desfalque ao seu próprio sustento15.

Sociedade

Agrupamento de pessoas que mantém entre si relações convencionais, políticas

econômicas, sociais, culturais, obedecendo a regras comuns de convivência16.

Idoso

Pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos17.

13 LUZ, Valdemar P. da. Manual do advogado. 15ª ed. ver. e ampl. Florianópolis: OAB/SC, 2002, p. 271.

14 SEIFFERT, Raquel Quadros. Gereontologia: introdução sócio política. Florianópolis: UNIMEP, 2001, p. 79.

15 OLIVEIRA, J.F. Basílio de. Alimentos, revisão e exoneração, p. 55.16 GUIMARÃES, Deoclesiano Torrieri. Dicionário jurídico. São Paulo: Rideel, 1999, p. 170.17 De acordo com o artigo 1° da Lei 10.741, sancionada em outubro de 2003.

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SUMÁRIO

RESUMO.................................................... ......................................XIV

INTRODUÇÃO................................................................................ ........

CAPÍTULO 1.................................................................................. .......5

NOÇÕES GERAIS SOBRE O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E SOBRE O IDOSO.............................................5

1.1 BREVE HISTÓRICO DOS DIREITOS HUMANOS............................................51.2 CONSIDERAÇOES ACERCA DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA................................................................................................................121.3 A IDADE COMO FATOR DE STATUS SOCIAL NAS SOCIEDADES ANTIGAS................................................................................................................181.4 BREVE RELATO DO CONTEXTO DO IDOSO NAS CULTURAS MUNDIAIS................................................................................................................................211.5 AS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS ACERCA DO IDOSO.....................22

CAPÍTULO 2............................................................................... ........27

BREVES NOÇÕES SOBRE O DIREITO DE ALIMENTOS NO BRASIL........................................................................................ .......272.1 BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA ACERCA DOS ALIMENTOS................... 272.2 CONCEITO DE ALIMENTOS E REQUISITOS................................................312.3 A ABRANGÊNCIA DO DIREITO A ALIMENTOS...........................................362.4 A FORMA DA PRESTAÇÃO DOS ALIMENTOS............................................392.5 O DEVER DE ALIMENTOS EM RAZÃO DO DEVER DE SUSTENTO E SOCORRO FAMILIAR...........................................................................................412.6 O DEVER DE ALIMENTOS EM RAZÃO DO PARENTESCO........................ 432.7 CONSEQÜENCIAS JURÍDICAS DO NÃO PAGAMENTO DE ALIMENTOS: A EXECUÇÃO E A PRISÃO CIVIL DO DEVEDOR..................................................49

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CAPÍTULO 3............................................................................... ........52

O ESTATUTO DO IDOSO E A PROTEÇÃO JURÍDICA DOS IDOSOS, EM ESPECIAL À SUA SOBREVIVÊNCIA.........................................523.1 O ESTATUTO DO IDOSO (LEI N º 10.741, DE 01/10/2003) E O CONCEITO DE IDOSO...............................................................................................................523.2 DIREITOS ASSEGURADOS AO IDOSO.........................................................553.2.1 DO DIREITO À VIDA............................................................................................. 563.2.2 DA LIBERDADE, RESPEITO E DIGNIDADE.................................................................... 563.2.3 DO DIREITO À SAÚDE........................................................................................... 573.2.4 DA EDUCAÇÃO, CULTURA E LAZER.......................................................................... 583.2.5 DA PROFISSIONALIZAÇÃO E DO TRABALHO................................................................ 593.2.6 DA PREVIDÊNCIA SOCIAL...................................................................................... 603.2.7 DA ASSISTÊNCIA SOCIAL....................................................................................... 613.2.8 DA HABITAÇÃO.................................................................................................. 613.2.10 DO TRANSPORTE.............................................................................................. 613.3 MEDIDAS DE PROTEÇÃO AO IDOSO...........................................................633.4 AS POLÍTICAS DE ATENDIMENTO AO IDOSO............................................643.5 DO ACESSO À JUSTIÇA................................................................................693.6 DO MINISTÉRIO PÚBLICO.............................................................................703.7 DELITOS CONTRA O IDOSO......................................................................... 713.8 DA FIXAÇÃO DE ALIMENTOS À PESSOA IDOSA.......................................743.8.1 DA SOLIDARIEDADE DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR DA PESSOA IDOSA ................................. 753.8.2 DAS TRANSAÇÕES RELATIVAS A ALIMENTOS.............................................................. 803.8.3 DO DEVER DO ESTADO EM RELAÇÃO AOS IDOSOS NECESSITADOS................................... 80

CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................. ..82

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS............................................86

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RESUMO

A presente Monografia de conclusão de curso tem como

objeto principal a análise da Proteção Jurídica do Idoso, diante do Princípio da

Dignidade da pessoa Humana e o seu Direito a Alimentos no Ordenamento

Jurídico Brasileiro. É abordado nesta pesquisa a evolução histórica dos direitos

humanos, expondo como o homem reconheceu que o respeito desses direitos é

essencial para a humanidade; o instituto de alimentos e seu conceito, requisitos,

características, forma de prestação, bem como quem deve prestá-los e a punição

para o obrigado que descumprir tal obrigação; e uma apreciação a respeito do

Idoso, conceituado-o, demonstrando o quanto a Lei 10.741 é importante para a

garantia dos direitos humanos, especificamente dos idosos e discorrendo-se

acerca das políticas de atendimento ao idoso, as medidas de proteção, as

punições dos crimes contra pessoas da referida faixa etária entre outros. Destaca-

se acerca do direito a alimentos quando destinado à pessoa idosa.

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto a proteção jurídica

do idoso, diante do princípio da dignidade da pessoa humana, e o seu direito a

alimentos no ordenamento jurídico brasileiro.

O objetivo institucional foi o de produzir a presente

Monografia para a obtenção do título de Bacharel em Direito, pela Universidade

do Vale do Itajaí - UNIVALI.

O objetivo geral foi o de analisar os direitos do idoso, nas

suas relações civis, em suas relações com o Estado, iniciando-se por uma análise

quanto os direitos fundamentais, em especial o da dignidade da pessoa humana,

explanando acerca do instituto dos alimentos, conceituando o idoso e

identificando os seus direitos, de forma a solucionar os problemas formulados,

dirimindo as dúvidas acerca do tema.

O tema é relevante por ampliar a área de conhecimento e

esclarecer dúvidas acerca do que a legislação brasileira dispõe em seu

ordenamento para assegurar os direitos dos idosos, vez que, estes ainda são

vítimas de preconceitos e atos atentatórios à sua dignidade e, muitas vezes, não

sabem a que órgão recorrer para pleitear seus interesses.

Os objetivos específicos foram os seguintes:

a) Pesquisar acerca dos direitos fundamentais em especial

sobre o princípio da dignidade da pessoa humana;

b) Conceituar alimentos;

c) Identificar os requisitos da obrigação alimentar;

d) Identificar quem deve prover o sustento do idoso, quando

este não tiver condições de prover o seu sustento.

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A presente monografia foi desenvolvida tendo como base os

seguintes problemas:

Primeiro Problema: No que consistem os alimentos?

Hipótese: Alimentos são prestações para a satisfação das

necessidades vitais de quem não pode provê-la por si.

Segundo problema: Quais os requisitos para a concessão a

pensão alimentícia?

Hipótese: A concessão de pensão alimentícia ou alimentos

deverá sempre estar condicionada a possibilidade do alimentante e a

necessidade do alimentando. E deve existir proporcionalidade na fixação dos

alimentos entre as necessidades do alimentando em os recursos econômico-

financeiros do alimentante;

Terceiro problema: Quem tem direito a alimentos?

Hipótese: Terá direito a alimentos, parente, cônjuge ou

companheiro que, em virtude de idade avançada, doença, estudo, falta de

trabalho ou qualquer incapacidade, estiver impossibilitado de produzir meios

materiais com o próprio esforço.

Quarto problema: Qual a ordem de precedência da

obrigação alimentar?

Hipótese: Deve recair a obrigação alimentar primeiramente

sobre o cônjuge ou companheiro, posteriormente a obrigação cabe aos

ascendentes, descendentes e, faltando estes, aos irmãos, assim germanos como

unilaterais.

Quinto problema: Quem deve prover o sustento de familiar

idoso, quando os familiares do idoso não possuírem condições econômicas de

prover o seu sustento?

Hipótese: No caso de familiar não ter condições de prover o

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sustento de pessoa idosa, cabe ao Poder Público este provimento, no âmbito da

assistência social.

Para a investigação do objeto e alcance dos objetivos

propostos, adotou-se o método indutivo18, operacionalizado com as técnicas19 do

referente20, da categoria21, dos conceitos operacionais22 e da pesquisa

bibliográfica, em conjunto com as técnicas propostas por Colzani23, dividindo-se o

relatório final em três capítulos.

Para melhor entendimento do surgimento dos Direitos

Humanos, do instituto dos Alimentos e da necessidade do Estatuto do Idoso, a

pesquisa foi dividida em três capítulos.

Principia-se no Capítulo 1, tratando sobre o princípio da

dignidade humana e sobre o idoso, pretende-se esclarecer acerca da evolução

histórica dos Direitos Humanos e demonstrar que a dignidade da pessoa humana

é um princípio elementar no ordenamento jurídico brasileiro. Ainda no primeiro

capítulo será explanado a respeito da imagem do idoso nas sociedades antigas e

nas diversas culturas mundiais e o que a Constituição da República Federativa do

Brasil prevê para o referido grupo social.

No Capítulo 2, será tratado sobre o direito a alimentos no

Brasil, iniciando-se com uma breve evolução histórica acerca do instituto dos

alimentos até a atualidade, seus conceitos e requisitos, sua abrangência, modos

de prestação, alimentos oriundos em razão do dever de sustento e socorro

18 O método indutivo consiste em ‘pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral’. [Pasold, 2001, p. 87].

19 “Técnica é um conjunto diferenciado de informações reunidas e acionadas em forma instrumental para realizar operações intelectuais ou físicas, sob o comando de uma ou mais bases lógicas investigatórias”. [Pasold, 2001, p. 88].

20 Referente “é a explicitação prévia do motivo, objetivo e produto desejado, delimitando o seu alcance temático e de abordagem para uma atividade intelectual, especial-mente para uma pesquisa”. [Pasold, 2001, p. 63].

21 Categoria “é a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéia”. [Pasold, 2001, p. 37].

22 Conceito Operacional é a “definição para uma palavra e/ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos”. [Pasold, 2001, p. 51].

23 COLZANI, Valdir Francisco. Guia para elaboração do trabalho científico. Curitiba: Juruá, 2002.

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familiar e em razão do parentesco. Finalizando o segundo capítulo serão

ilustradas as garantias para o pagamento da pensão e as conseqüências jurídicas

do não pagamento dos alimentos, a sua execução e a prisão civil do devedor

como conseqüência.

No Capítulo 3, irá conceituar o idoso e tratar da Lei

10.741/03 que dispõe acerca do Estatuto do Idoso, o que representa um grande

avanço na legislação brasileira, incluindo-a entre as mais modernas e avançadas

do mundo, quanto ao reconhecimento e à garantia dos direitos dos idosos24. Em

breves considerações serão vistos os direitos assegurados ao idoso, destacando-

se o seu direito a alimentos, bem como as políticas de atendimento ao idoso, as

medidas de proteção e as punições dos crimes contra pessoas da referida faixa

etária.

Além das palavras, expressões e respectivos conceitos

constantes no rol de categorias existem outros conceitos e definições no decorrer

desta monografia.

A área da concentração restringe-se ao “Direito Privado”. A

linha de pesquisa é “Direito Civil”.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados, análises e reflexões, havendo breve síntese de cada capítulo e

demonstrações sobre as hipóteses básicas da pesquisa, verificando-se se as

mesmas foram ou não confirmadas.

24 BRASIL. Lei n. 10.741, de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso. Brasília: Senado Federal, Secretaria Especial de Editoração e Publicações: Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 2003, p.7.

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CAPÍTULO 1

NOÇÕES GERAIS SOBRE O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E SOBRE O IDOSO

1.1BREVE HISTÓRICO DOS DIREITOS HUMANOS

Os mais importantes acontecimentos históricos das

declarações de direitos humanos fundamentais originaram-se na Inglaterra, no

século XIII.

Bonavides25 afirma que:

(...) a vinculação essencial dos direitos fundamentais à liberdade e à dignidade da pessoa humana, enquanto valores históricos e filosóficos, nos conduzirá sem óbices ao significado de universalidade inerente a esses direitos como ideal da pessoa humana. A universalidade se manifestou pela vez primeira, qual descoberta do racionalismo francês da Revolução, por ensejou da célebre Declaração dos Direitos do Homem de 1789.

A Magna Carta Libertatum seu Concorduam inter regem

Johannem et Barones pro conssione libertatum ecclesiae et regni Angliae

(Carta Magna das Liberdades ou Concórdia entre o Rei João e os Barões para

outorga das liberdades da igreja e do reino inglês), assinada em 15 de junho de

1215, foi o pacto que o rei da Inglaterra, conhecido como João Sem Terra,

firmou com os barões do reino e o alto clero. Tal documento restringiu o poder

absoluto do monarca, consagrando os direitos dos barões e dos prelados

ingleses.

25 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional, 18ª ed. atual.. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 562.

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Assim confirma Comparato 26: “(...) a Magna Carta deixa

implícito pela primeira vez, na história política medieval, que o rei se achasse

naturalmente vinculado pelas próprias leis que edita”.

Segundo Bonavides27, a Declaração francesa exprimiu em

três princípios cardeais todo o conteúdo possível dos direitos fundamentais,

profetizando até mesmo a seqüência histórica de sua gradativa

institucionalização: liberdade, igualdade e fraternidade.

E Moraes28 esclarece:

(...) a Magna Carta Libertatum, (...) entre outras garantias previa: a liberdade da Igreja da Inglaterra, restrições tributárias, proporcionalidade entre delito e sansão (a multa a pagar por um homem livre, pela prática de um pequeno delito, será proporcional à gravidade do delito; e pela prática de um crime será proporcional ao horror deste, sem prejuízo do necessário à subsistência e infração do infrator – item 20); previsão do devido processo legal (Nenhum homem livre será detido ou sujeito à prisão, ou privado dos seus bens, ou colocado fora da lei, ou exilado, ou de qualquer modo molestado, e nós não procedemos nem mandaremos proceder contra ele senão mediante um julgamento regular pelos seus pares ou de harmonia com a lei do país – item 39); livre acesso à Justiça (Não venderemos, nem recusaremos, nem protelaremos o direito de qualquer pessoa a obter justiça – item 40); liberdade de locomoção livre e entrada e saída do país.

Posteriormente, vale citar as declarações de direitos

inglesas do século XVII, especificamente a Petition of Rights, de 1628,

assinada por Carlos I, o Hábeas Corpus Act, de 1679, subscrito por Carlos II, e

o Bill of Rights, de 1689. Tais declarações denotaram a evolução das

liberdades e privilégios.

26 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos, 4ª ed. rev. e atual.. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 77.

27 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional, p. 562.28 MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos Fundamentais, 6ª ed.. São Paulo: Atlas S.A.,

2005, p. 7-8.

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Apesar de ter sido na Inglaterra o impulso inicial, foi a

América do Norte o berço dos direitos fundamentais.

Neste sentido, doutrina Sarlet29:

(...) apesar de conduzir a limitações do poder real em favor da liberdade individual, não pode, ainda, ser considerada como marco inicial, isto é, com o nascimento dos direitos fundamentais no sentido que hoje se atribui ao termo. (...) na Inglaterra, tivemos uma fundamentalização, mas não uma constitucionalização dos direitos e liberdades individuais fundamentais.

Conforme já mencionado, foi a América que consagrou o

primeiro documento legal dos direitos fundamentais, foi a Declaração de

Virgínia, firmada pelos revolucionários norte-americanos, em junho de 1776.

Sarlet30 alude que:

(...) a paternidade dos direitos fundamentais, disputada entre a Declaração de Direitos do povo da Virgínia, de 1776, e a 1789, é a primeira que marca a transição dos direitos de liberdade legais ingleses para os direitos fundamentais constitucionais. As declarações americanas incorporaram virtualmente os direitos e liberdades já reconhecidos pelas suas antecessoras inglesas do século XVII.

Referindo-se à Declaração de Virgínia, Silva31 aduz que:

A Declaração se preocupara com a estrutura de um governo democrático, com um sistema de limitações de poderes. Os textos ingleses apenas tiveram por finalidade limitar o poder do rei, proteger o indivíduo contra a arbitrariedade do rei e firmar a supremacia do Parlamento. As Declarações de Direitos, iniciadas com a da Virgínia, importam em limitações do poder estatal como tal, inspiradas na crença, na existência de direitos naturais e imprescritíveis do homem.

29 SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais, 3ª ed. rev. atual. e ampl.. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003, p.47.

30 SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais, p.47.31 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 13. ed. rev. São Paulo:

Malheiros Editores, 1997, p. 154.

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Comparato 32 descreve que:

(...) os dois primeiros parágrafos da Declaração de Virgínia expressam com nitidez os fundamentos do regime democrático: o reconhecimento de ‘direitos inatos’ de toda a pessoa humana, os quais não podem ser alienados ou suprimidos por uma decisão política (parágrafo primeiro) e o princípio de que todo poder emana do povo, sendo os governantes a este subordinados (parágrafo segundo).

E Comparato33 esclarece:

(...) os Estados Unidos deram aos direitos humanos a qualidade de direitos fundamentais, isto é, direitos reconhecidos expressamente pelo Estado, elevando-os ao nível constitucional, acima, portanto da legislação ordinária.

Posteriormente, na França, a Assembléia Nacional

promulgou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em 26 de

agosto de 1789. Dentre as inúmeras previsões, Alexandre de Moraes34 destaca

os seguintes direitos humanos fundamentais: princípio da igualdade, liberdade,

propriedade, segurança, resistência à opressão, associação política, princípio

da legalidade, princípio da reserva legal e anterioridade em matéria penal,

princípio da presunção da inocência, liberdade religiosa, livre manifestação do

pensamento.

Acerca das referidas declarações, cabe aludir a lição de

Kriele, citada por Sarlet35:

Martin Kriele, de forma sintética e marcante traduz a relevância de ambas as Declarações para a consagração dos direitos fundamentais, afirmando que, enquanto os americanos tinham apenas direitos fundamentais, a França legou ao mundo os direitos humanos.

32 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos, p. 111-112.33 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos, p. 108.34 MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos Fundamentais, p. 1035 Martin Kriele apud SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais, p.49.

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Segundo Comparato 36, a Declaração de 1789 tem

‘espírito universal’, ou seja, diferentemente dos Estados Unidos que

priorizavam firmar a sua independência e estabelecer o seu próprio regime

político, os revolucionários franceses tinham interesse em levar a idéia de

liberdade à outros povos. Duquesnoy37, citado por Comparato, explica com

clareza o caráter universal da declaração de 1789:

Uma declaração deve ser de todos os tempos e todos os povos; as circunstâncias mudam, mas ela deve ser invariável em meio às revoluções. É preciso distinguir as leis e os direitos: as leis são análogas aos costumes, sofrem o influxo do caráter nacional; os direitos são sempre os mesmos.

Elaborada e votada após a grande guerra de 1914-1918,

a Constituição de Weimar de 11 de agosto de 1919, foi a instituidora da

primeira república alemã. A referida constituição influenciou a evolução das

instituições políticas em todo Ocidente.

Comparato 38 esclarece que:

A estrutura da Constituição de Weimar é claramente dualista: a primeira parte tem por objetivo a organização do Estado, enquanto a segunda apresenta a declaração dos direitos e deveres fundamentais.

E mais:

Essa estrutura dualista não teria chocado os juristas de formação conservadora, caso a segunda parte da Constituição de Weimar se tivesse limitado à clássica declaração de direitos e garantias individuais. Estes, com efeito, são instrumentos de defesa contra o Estado, delimitações do campo bem demarcado da liberdade individual, que os Poderes Públicos não estavam autorizados a invadir. Os direitos sociais, ao contrário, têm por objetivo não uma obstensão, mas uma atividade positiva do Estado, pois o direito à educação, à saúde, ao trabalho, à previdência social e outros do mesmo

36 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos, p. 130.37 Duquesnoy apud COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos

Humanos, p. 130.38 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos, p. 189.

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gênero só se realizam por meio de políticas públicas, isto é, de programas de ação governamental. Aqui, são grupos sociais inteiros, e não apenas indivíduos, que passam a exigir dos Poderes Públicos uma orientação determinada.

Como visto, a Constituição de Weimar teve em destaque

os direitos sociais, o que a seguir, serviria de embasamento para o posterior

reconhecimento dos direitos fundamentais.

Na data de 10 de dezembro de 1948, foi aprovada pela

Organização das Nações Unidas a Declaração Universal de Direitos Humanos,

cujos trinta artigos constituem, nos termos do preâmbulo “o ideal comum a ser

atingido por todos os povos e todas as nações.”.

Tal declaração retomou os ideais da Revolução Francesa,

o reconhecimento do valor da fraternidade, liberdade e igualdade entre os

homens (art. 1º).

Segundo Comparato39, os direitos definidos na

Declaração de 1948 correspondem aos costumes e princípios jurídicos e

internacionais, hoje, como normas e imperativas de direito internacional geral, e

afirma que:

(...) a vigência dos direitos humanos independe de sua declaração em constituições, leis e tratados internacionais, exatamente porque se está diante de exigências de respeito à dignidade da pessoa humana, exercidas contra todos os poderes estabelecidos, oficiais ou não.

Comparato40 ainda aduz que:

(...) a Declaração Universal de 1948 representa a culminância de um processo ético que, (...) levou ao reconhecimento da igualdade essencial de todo ser humano em sua dignidade de pessoa, isto é, como fonte de todos os valores, independentemente das diferenças de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião, origem nacional ou social, riqueza,

39 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos, p. 224.40 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos, p. 224-225.

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nascimento, ou qualquer outra condição, como se diz em seu artigo II.

E Dallari41 contempla a referida declaração:

O exame dos artigos da Declaração revela que ela consagrou três objetivos fundamentais: a certeza dos direitos, exigindo que haja uma fixação previa e clara dos direitos e deveres, para que os indivíduos possam gozar dos direitos ou sofrer imposições; a segurança dos direitos, impondo uma série de normas tendentes a garantir que, em qualquer circunstância os direitos fundamentais serão respeitados; a possibilidade dos direitos, exigindo que se procure assegurar a todos os indivíduos os meios necessários à fruição dos direitos, não se permanecendo no formalismo cínico e mentiroso da afirmação de igualdade de direitos onde grande parte do povo vive em condições subumanas.

Destaca-se também a iniciativa dos quinze países

membros do Conselho da Europa, os quais firmaram a Convenção para a

Proteção dos Direitos Humanos e das Liberdades Fundamentais, em 1950, e

em 1952 um protocolo ampliativo dela. Em 1961, o Comitê de Ministros do

Conselho da Europa, adotou a Carta Social Européia, o primeiro acordo

internacional a assegurar o direito de greve.

Há um desenvolvimento constante nos últimos tempos no

que diz respeito aos Direitos da Solidariedade ou Direitos Difusos da

Humanidade Inteira, que abrangem o direito ao desenvolvimento, direito à paz,

direito ao meio ambiente sadio e equilibrado, dentre outros. O sistema global

de proteção dos direitos foi o instrumento de preferência da grande maioria dos

países da segunda metade do século XX.

Com os Direitos Humanos, declara-se a vontade da

universalidade demonstrando o que todos os seres racionais têm em comum.

Tais direitos tratam de garantir valores essenciais para um povo democrático

com a dignidade, a liberdade, a paz, a justiça, o bem estar e a segurança.

41 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado, 22ª ed. Atual. São Paulo: Saraiva, 2001, p. 212.

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1.2CONSIDERAÇÕES ACERCA DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana está

previsto no artigo 1°, inc. III da Constituição da República Federativa do Brasil

de 198842.

A noção da dignidade da pessoa humana formou-se com

a história da humanidade. Não se sabe quando ou onde, porém, de algum

modo, na consciência de todos os povos, desenvolve-se tal universalidade.

Tal consciência, conforme lembra Sarlet43, já aparecia no

contexto de várias religiões, sendo manifestada no cristianismo com a premissa

de que o ser humano foi criado com a imagem e semelhança de Deus e por tal

motivo teriam igual dignidade.

Acerca do pensamento supra, Alves44 complementa:

O constitutivo principal da qualidade do homem como “imagem” de Deus seria o “domínio sobre a natureza e sobre os seres que nela habitam”, recebido diretamente de Deus (Gn 1,28-30). O exercício desse domínio pressupõe a inteligência e a liberdade como elementos que distinguem o homem (...) dos outros animais.

Quanto ao pensamento filosófico e político da antiguidade

clássica, a dignidade da pessoa humana era equivalente à posição social

ocupada pelo indivíduo, assim Sarlet45 descreve:

Verifica-se que a dignidade da pessoa humana dizia, em regra, com a posição social ocupada pelo indivíduo e o seu grau de reconhecimento pelos demais membros da comunidade, daí poder-se falar em uma quantificação e modulação da

42 Doravante chamada de Constituição Federal de 1988.43 SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais, 2ª ed.

ver. e ampl.. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003, p.31.44 ALVES, Cleber Francisco. O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana: O Enfoque da

Doutrina Social da Igreja, Rio de Janeiro: Renovar, 2001, p. 18.45 SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais, p.30.

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dignidade, no sentido de haver pessoas mais dignas ou menos dignas.

A dignidade do homem já era reconhecida na antiguidade

clássica, como podemos verificar ao examinar antigos códigos. Conforme

aborda Klingen46:

Os povos da antiguidade foram descobrindo com suas próprias luzes e razão a lei que o ser humano tem gravada em sua natureza, organizando-a de diversas maneiras em códigos ou referências, nos quais descobrimos os primeiros esforços em favor do homem, desde a racionalidade natural. Assim, por exemplo temos o código de Hamurabi, da Babilônia e da Assíria. (...) trata-se de formas jurídicas elementares, que nem sempre produzem os efeitos que a consciência jurídica atual exige, mas que são (...) as primeiras expressões de defesa da dignidade da pessoa humana e dos direitos do ser humano.

Ainda acerca da antiguidade clássica Alves47 esclarece:

Em todas as civilizações da antiguidade, (...) destacava-se, como norma elementar de reconhecimento da igual dignidade humana, a famosa “regra de ouro” que prescreve: “não faças a outro o que não queres que façam a ti”, onde fica patente o ideal do respeito à dignidade do semelhante, com base na consciência da dignidade própria.

A concepção jusnaturalista consagra a idéia de que a

dignidade do humano parte do princípio de que o homem, em virtude de sua

condição humana e independente de qualquer outra circunstância, é dotado de

direitos que devem ser reconhecidos e respeitados por seus semelhantes e

pelo Estado48.

Atualmente prevalece no pensamento filosófico a

concepção elaborada por Kant, citada por Miranda49:

46 KLINGEN, Germán Doig. Direitos Humanos e Ensinamento Social da Igreja, São Paulo: Loyola, 1994, p. 38.

47 ALVES, Cleber Francisco. O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana: O Enfoque da Doutrina Social da Igreja, p. 13-14.

48 SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais, p.37.

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No reino dos fins, tudo tem um preço e uma dignidade. Quando uma coisa tem um preço, pode-se pôr em vez dele qualquer outro como equivalente; mas quando uma coisa está acima de todo o preço e, portanto, não permite equivalente, então tem ela dignidade.

Como complemento deste pensamento kantiniano,

Comparato50 prossegue:

Os entes cujo ser na verdade não depende de nossa vontade, mas da natureza, quando irracionais, têm unicamente um valor relativo, como meios, e chamam-se por isso coisas; os entes racionais, ao contrário, denominam-se pessoas, pois são marcados pela sua própria natureza, como fins em si mesmo; ou seja, como algo que não pode servir simplesmente de meio, o que limita, em conseqüência, nosso livre arbítrio.

Acerca da concepção supramencionada, Kant caracteriza

o individualismo de cada homem e afirma que o ser humano é um ser especial,

dotado de dignidade. Comparato51 explana:

(...) todo homem tem dignidade e não tem preço, como as coisas. A humanidade como espécie, e cada ser humano em sua individualidade, é propriamente insubstituível: não tem equivalente, não pode ser roçado por coisa alguma.

E, ainda sobre a referida concepção Martins52 esclarece:

(...) Kant afirma na noção de dignidade a qualidade peculiar e ímpar da pessoa humana, pois somente a pessoa humana como ser racional – único e insubstituível – possui dignidade. E a dignidade está acima de qualquer preço (que é um valor relativo), sendo impossível tentar atribuir a ela um preço ou colocá-la em confronto com qualquer coisa com preço.

49 MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional: Direitos Fundamentais, 3ª ed. ver. e atual. Lisboa: Coimbra, 2000, Tomo IV, p. 188.

50 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos, p. 21.51 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos, p. 21.52 MARTINS, Flademir Jerônimo Belinati. Dignidade da Pessoa Humana: Princípio

Constitucional Fundamental, Curitiba: Juruá, 2003, p. 122.

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Ademais, um ponto crucial no campo da dignidade da

pessoa humana, como menciona Francisco Alves53, é o direito à vida. Muito se

fala em direitos humanos e em dignidade da pessoa humana, mas é esquecida

sua rudimentar premissa que é o direito à vida.

Ilustra Espinosa54:

A vida física, embora não esgote a pessoa, é um bem fundamental que todos os outros bens e valores pressupõem. Tirar a vida física é privar a pessoa do bem sem o qual ela não poderá usufruir nenhum outro bem neste mundo. Por isso, o sofrimento – a privação temporária de algum bem, como a saúde, a alegria, a realização profissional, a utilidade para os outros – não é nunca motivo suficiente quer para tirar a própria vida, quer a de qualquer outra pessoa.

Moraes55 elucida que a dignidade da pessoa humana é

uma importância imaterial e ética que tem como objetivo o respeito por parte

dos demais indivíduos:

(...) a dignidade da pessoa humana é um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas (...). O Direito à vida privada, à intimidade, à honra, à imagem, dentre outros, aparece como conseqüência imediata da consagração da dignidade da pessoa humana (...).

Segundo Cretella Júnior56:

O ser humano, o homem, seja de qual origem for, sem discriminação de raça, sexo, religião, convicção política ou filosófica tem direito a ser tratado pelos semelhantes como ‘pessoa humana’, fundando-se, o atual Estado de direito, em vários atributos, entre os quais se inclui a ‘dignidade’ do homem, repelido, assim, como aviltante e merecedor de

53 ALVES, Cleber Francisco. O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana: O Enfoque da Doutrina Social da Igreja, p. 166.

54 ESPINOSA, Jaime. Questões de Bioética, São Paulo: Quadrante, 1998, p. 21.55 MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos Fundamentais, p. 48.56 CRETELLA JÚNIOR, José. Comentários à Constituição Brasileira de 1988. Rio de

Janeiro: Forense Universitária, 1997, v. I, p. 139.

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combater qualquer tipo de comportamento que atente contra esse apanágio do homem.

Para Moraes57 o referido princípio consagrado pela

Constituição Federal apresenta-se em dupla concepção:

Primeiramente, prevê um direito individual protetivo, seja em relação ao próprio Estado, seja em relação aos demais indivíduos. Em segundo lugar, estabelece verdadeiro dever fundamental de tratamento igualitário dos próprios semelhantes. Esse dever configura-se pela exigência do indivíduo respeitar a dignidade de seu semelhante (...).

Segundo Jorge Teixeira Cunha (1997), citado por

Miranda58 (2000), a dignidade humana deve ser recíproca:

A dignidade humana inclui a reciprocidade do reconhecimento. A afirmação da dignidade humana não pode ser uma bandeira das pessoas que já são na sua dignidade, mas deve igualmente lembrar a estas que a dignidade só pode crescer simultaneamente em todas as pessoas e em todos os povos. Enquanto houver uma pessoa que não veja reconhecida a sua dignidade, ninguém pode considerar-se satisfeito com a dignidade adquirida.

Miranda59 alude que o indivíduo que tem o valor absoluto

não é a comunidade ou classe, mas o homem pessoal em Sociedade:

A dimensão pessoal postula o valor da pessoa humana e exige o respeito incondicional da sua dignidade. Dignidade da pessoa a considerar em si e por si, que o mesmo é dizer a respeitar para além e independentemente dos contextos integrantes e das situações sociais em que ela concretamente se insira. Assim, se o homem é sempre membro de uma comunidade, de um grupo, de uma classe, o que ele é em dignidade e valor não se reduz a esses modos de existência comunitária social, será por isso inválido, e inadmissível, o sacrifício desse seu valor e dignidade pessoal a benefício simplesmente da comunidade, do grupo, da classe.

57 MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos Fundamentais, p. 48-49.58 MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional: Direitos Fundamentais, p. 188.59 MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional: Direitos Fundamentais, p. 188.

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Sarlet60 menciona que a dignidade da pessoa humana é

um valor próprio de todo ser humano, algo que lhe é inerente:

(...) temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que asseguram pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos.

Deste modo, após breve esboço acerca da dignidade da

pessoa humana, reafirma-se que todo ser humano deve ter respeito absoluto

diante dos demais membros da sociedade, já que este é titular valor

imprescindível.

1.3A IDADE COMO FATOR DE STATUS SOCIAL NAS SOCIEDADES ANTIGAS

Na antiguidade, a Sociedade era separada por “camadas

de idade”. Para melhor compreensão deste período será feito um breve estudo

sobre o pensamento de Georges Balandier.

Balandier61 relata a história da “sociedade lugbara”, um

povo estabelecido sobre a Uganda e o Zaire que reúne cerca de quatro milhões

de pessoas. Tal coletividade é formada por grupos patrilineares (clãs, subclãs e

linhagens em três níveis, ligada aos ancestrais) e sobre os grupos de

residência ou localizados (tribos e seções). A sociedade não apresenta

autoridades políticas especializadas e regula os conflitos pela violência, pela

negociação (no interior das tribos) e pela cisão (o contínuo processo de

60 SARLET, Ingo Wolf. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001, p. 60.

61 BALANDIER, Georges. Antropo-lógicas: tradução de Oswaldo Elias Xidieh. São Paulo: Cultrix, Editora da Universidade de São Paulo, 1976, p. 94-95.

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fragmentação que divide as patrilinhagens de três em três ou de quatro em

quatro gerações).

Balandier62 descreve que:

As figuras dominantes da sociedade lugbara são os idosos ou anciões, colocados à cabeceira das linhagens; eles formam a ‘classe’ dos ‘homens importantes’. E o são efetivamente detentores da autoridade, de seus símbolos (assento, longo bastão) e de seus privilégios; guardiões dos costumes; intercessores junto aos ancestrais.

Esta última característica é fundamental para a veneração

da Sociedade para com os mais velhos, pois se trata de uma Sociedade com

definição retrospectiva, em que os mortos são tidos como regentes de boas

realizações nos negócios e da prosperidade do povo.

Acerca de tal intercessão dos velhos junto aos ancestrais,

Balandier63 narra:

(...) os ‘velhos’ mantêm com eles um relacionamento privilegiado; são-lhes o mais próximos, e como eles, manifestaram-se como genitores, produtores de homens; vão juntar-se a eles muito em breve e já se comunicam entre si mediante a linguagem ritual.

Neste caso, o respaldo ao mais velho é assinalada a lei

principal que prevê que “os ‘idosos’ governam a sociedade e cada um deles

será substituído após a sua morte pelo primeiro dentre os filhos tidos de sua

primeira esposa.

O fator da idade fixa o status e os níveis de autoridade64

distinguindo os comportamentos e condutas da classe.

Quando há divergência de idéias entre as ‘linhagens’ ou

no interior de uma delas que ameaçam harmonia das linhagens, abandona-se 62 BALANDIER, Georges. Antropo-lógicas, p. 95.63 BALANDIER, Georges. Antropo-lógicas, p. 95.64 J. Middleton, apud Balandier acentua: “A distribuição da autoridade é expressa em termos de

senioridade, a qual é fundamentada, em princípio nas diferenças de geração e de idade”.

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a triagem das camadas de idade e provoca-se a junção das classes de idade.

Quando tal medida se torna necessária, contraria o conceito dos jovens (que

respeitam, temem e obedecem) à geração dos idosos. Sintetizando, temos aqui

duas situações extremes: numa as relações de idade são levadas à estaca

zero, noutra, a concentração das classes de idade aumenta o abuso da

autoridade.

A hierarquia não consiste unicamente da idade, ou seja, o

simples ‘acrescer em idade’ não basta para escalar em todos os seus degraus.

Interfere também a situação genealógica, a ancianidade, a detenção de uma

descendência (ou agrupamento doméstico), o casamento e a eficácia ritual.

Balandier65 explana acerca da hierarquia das classes:

As diferenciações são mais complexas nas circunstâncias mais banais da vida social. Dão-se ao conhecer por ocasião de festas religiosas, revendo quatro categorias de idade: 1. ‘idosos’ (ou anciãos), homens importantes; 2. ‘homens de segundo plano’, à frente das unidades domésticas; 3. ‘jovens importantes’, devendo seu status ao casamento; 4. ‘jovens’, ainda celibatários. (...) muito abaixo, situam-se as crianças.

Alguns objetos simbolizam as funções destes grupos de

idade, distinguindo, assim, a posição de cada um deles, o carcás66 que

representava os jovens (guerreiros e caçadores), a cabaça d’água que

representava os homens que ‘governam’ uma casa e o banco que

representava os detentores da autoridade.

Para melhor compreensão acerca da hierarquia das

classes Balandier67 explana:

Nesse sistema os grupos de idade, as relações de igualdade e de desigualdade são conotadas pelos termos: irmão e pai (e filho mais velho). Os membros de uma mesma camada de

65 BALANDIER, Georges. Antropo-lógicas, p. 96.66 Estojo para guardar setas, e que se traz a pendente ao ombro, aljava. Cfr. FERREIRA,

Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio: o dicionário da língua portuguesa, 6ª ed. ver. e atual.. Curitiba: Positivo, p.221.

67 BALANDIER, Georges. Antropo-lógicas, p. 96-97.

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idade são irmãos, assim como os possuidores de altares de igual importância. O filho mais velho identifica-se de certa maneira com um irmão mais novo do pai (...), mas o jovem irmão mais novo do pai é considerado como um filho seu.

Balandier68 comenta a análise de Middleton acerca do

contraste que assinala a relação com os idosos que eram aclamados por

representar o ideal quando usavam seus poderes em pró da sociedade ou mal

vistos por terem o poder de desviar seus poderes em benefício próprio:

(...) J. Middleton não pôde deixar de examinar a hostilidade que marca a relação com a geração idosa – uma hostilidade velada, mas perfeitamente reconhecível. Essa hostilidade, nem sempre contida, não pode ser plenamente apanhada se não se tomar como referencia a imagem social ambígua que caracteriza o idoso. Sob o aspecto positivo, ela o representa sob a figura do ‘ancião’, ideal, que exerce sua autoridade a favor da linhagem total. Sob o negativo, mostra-o sob a figura do ‘feiticeiro’, que desvia seus poderes a fim de atingir fins pessoais e egoístas.

Realizando breve apreciação à referida obra, pode-se

perceber a importância e o respeito que a sociedade tinha para com os idosos

na cultura antiga e quão a idade era apontada como fator de status social.

1.4BREVE RELATO DO CONTEXTO DO IDOSO NAS CULTURAS MUNDIAIS

Vivemos em sociedade e nela desempenhamos

determinado papel que influenciam em nossas ações e em nossos

comportamentos. Dependendo da cultura em que vive o idoso ele pode ser

considerado um sábio ou um fraco.

Nas culturas orientais, a pessoa idosa é venerada por ser

considerada pessoa mais sábia, vez que teve oportunidade de adquirir grande

experiência em virtude de seu tempo de vida. No entanto, na cultura ocidental a

imagem do idoso ainda é ligada a certo preconceito, uma vez que este é

68 BALANDIER, Georges. Antropo-lógicas, p. 97.

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idealizado por grande parte dos ocidentais como pessoa de capacidade

limitada, sem habilidade para exercer certas funções. É o que anota a

renomada psicóloga Luzia Travassos Duarte69:

Nas culturas orientais, o velho é tido como alguém que acumulou muita experiência, e é possuidor de um saber digno de respeito e admiração. Na nossa cultura, ocidental, apesar de depender da educação de cada um, o velho pode ser um trambolho, um tirano, um aposentado sofredor, ou cortejado, se dispuser de boa situação financeira.

Porém, há uma tendência mundial para que a velhice

deixe de ser sinônimo de doença para passar a ser apontada como a “Idade do

Poder” 70, visto que este período está sendo cada vez mais valorizado por ser o

momento em que o homem deve gozar pelo que batalhou para conquistar ao

longo de sua vida.

1.5AS DISPOSIÇÕES ACERCA DO IDOSO NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

Os idosos não foram esquecidos pelo constituinte.

Diferente disso há vários dispositivos que citam a velhice como objeto de

direitos específicos, como o do direito previdenciário (art. 201, I) e do direito

assistencial (art. 203, I). Tais dispositivos merecem referência especial, porque

o objeto de consideração é a pessoa em sua terceira idade71.

Prevê o artigo 230 da Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988:

Art. 230. “A família, a sociedade, e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando a sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem estar e garantindo-lhes o direito à vida”.

69 DUARTE, Luzia Travasssos. Envelhecimento: Processo biopsicossocial. Disponível em: <http://psiconet.com.mx/tiempo/monografias/brasil.htm>. Acessado em 17.09.2007.

70 DUARTE, Luzia Travasssos. Envelhecimento: Processo biopsicossocial. Disponível em: <http://psiconet.com.mx/tiempo/monografias/brasil.htm>. Acessado em 17.09.2007.

71 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, p.776.

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Como será visto, o artigo 230 estabelece que a família, a

Sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, garantindo

sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e

estatuindo-lhes o direito à vida, de preferência mediante programas executados

no recesso do lar, garantindo-se, ainda, o benefício de um salário mínimo

mensal ao idoso que comprove não possuir meios de prover manutenção ou de

tê-la provida por família, conforme dispuser a lei (art. 203, V), e aos maiores de

sessenta e cinco anos, independente de condição social, é garantida a

gratuidade dos transportes urbanos72.

Ferreira73 esclarece o amparo do direito à vida dos idosos,

o que implica na premissa da proibição da eutanásia, assim assinala o autor:

A proteção e o amparo às pessoas idosas repousa em tripeça: a família, a sociedade e o Estado. Eles têm o dever de amparar os velhos, assegurando-lhes uma participação na comunidade, defendendo ainda a sua dignidade e bem estar. A Constituição deixa determinado que também se ampara o direito à vida das pessoas idosas, ficando assim subententida a proibição da eutanásia. Elucida Wolgran Junqueira Ferreira: ‘ Não poderá a lei vir a permitir a eutanásia, que à família, à sociedade e ao Estado cabe a garantir aos idosos o direito à vida, mesmo durante a ocorrência de doenças fatais. ’

Ferreira74 registra que a velhice é o período de vida de

‘idade madura’, ao contrário de sinal de caduquice como algumas pessoas pré-

conceituam:

A velhice, significando idade avançada, é o período de vida humana que sucede à idade madura. Os filósofos e biólogos, médicos e gerontólogos preocupam-se com os problemas que com ela se relacionam. Cícero escreveu, a propósito, o seu trabalho filosófico intitulado ‘De senectute’ (Da Velhice), ao lado de outras dissertações de natureza estóica, como as

72 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, p.777.73 FERREIRA apud BASTOS, Celso Ribeiro, MARTINS, Ives Granda da Silva. Comentários à

Constituição do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988, 2ª ed. atual.. São Paulo: Saraiva, 2000, v.8, p. 1108.

74 FERREIRA apud BASTOS, Celso Ribeiro, MARTINS, Ives Granda da Silva. Comentários à Constituição do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988, p. 1109.

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Tusculane disputationes,onde louva a velhice e a virtude, esta última necessária à conquista da felicidade. Não se deve confundir a velhice com a senilidade, provocando a doença senil, doença mental que afeta os velhos com a deteorização do cérebro, em virtude da idade.

Pela quantidade de experiências acumulada, os velhos

sabem aconselhar e achar solução para situações que são novas aos jovens. É

com este pensamento que Christian de Duve, citado por Comparato 75 chama a

atenção para o quão é importante o auxílio dos mais velhos para a Sociedade:

Já se observou, de resto, que o processo de seleção natural deu mais vantagens biológicas aos grupos que cuidavam de seus membros não reprodutivos do que àqueles que abandonavam ou matavam os anciãos, pois a capacidade de reprodução global dos grupos altruístas via-se assim singularmente reforçada. Os velhos sempre constituíram um grande auxílio ao grupo, não só pelo fato de se ocuparem das crianças, liberando os demais adultos para a realização de outras tarefas, mas também pelo concurso de sua maior experiência a enfrentar as situações que põe em perigo a sobrevivência do grupo.

É considerada idosa a pessoa maior de sessenta anos de

idade. A Lei 8.842/94 criou o Conselho Nacional do Idoso e prevê acerca da

política nacional do idoso. Tal lei é um instrumento feito para cumprir o art. 230

da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, determinando as

linhas fundamentais da iniciativa dos diferentes entes políticos. Acerca da lei,

preleciona Silva76:

A Lei 8.842, de 04.01.1994, que dispôs sobre a política nacional do idoso e criou o Conselho Nacional do Idoso, considera idoso, para os seus efeitos, a pessoa maior de sessenta anos de idade. Segundo seu art. 1°, a política do idoso tem por seu objetivo assegurar seus direitos sociais, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade. Traça ela os princípios e diretrizes da política do idoso, a organização e gestão dessa política, que incumbe ao Ministério responsável pela

75 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos, p. 39.76 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 777.

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assistência e promoção social, e ainda estabelece as ações governamentais necessárias à implementação dessa política.

Acerca da natureza de direito social do artigo 230 da

Constituição Federal, Silva77 instrui:

(...) uma dimensão integra o direito previdenciário (art. 201, I) e se realiza basicamente pela aposentadoria e o direito assistenciário (art. 203, I), como forma protetiva da velhice, incluindo a garantia de pagamento de um salário mínimo mensal, quando ele não possuir meios de prover à própria subsistência, conforme dispuser a lei. Mas o amparo à velhice vai um pouco mais longe, daí o texto do art. 230, segundo o qual a família, a sociedade e o Estado tem o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem estar e garantindo-lhes o direito à vida, bem como a gratuidade dos transportes coletivos urbanos e, tanto quanto, possível a convivência em seu lar.

Para que haja uma intensa participação do idoso na

Sociedade, são necessários subsídios da comunidade para a busca de

movimentos próprios para a sua faixa etária, proporcionando-lhes cursos,

agrupando-os em atividades recreativas e oferecendo-lhes diversas formas de

distração.

O Estado fornece condições legais e administrativas para

que os idosos vivam dignamente e possam ter garantidos os seus direitos

fundamentais, cabe agora ao Poder Executivo cumpri-las.

Vislumbra Caio Mário Pereira78, que todo indivíduo tem

direito à subsistência. Primeiramente, através do trabalho, que pode ser

exercido livremente e é assegurado constitucionalmente (art. 5°, XIII da

CF/1988) e integra o desenvolvimento nacional segundo o princípio de sua

valorização como um direito social (arts. 6° e 9° da CF/1988). Todavia o

77 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 305.78 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil: Direito de Família. 11ª ed.,

Rio de Janeiro: Forense, 2004, V.5, p. 275-276.

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indivíduo impossibilitado de prover sua própria subsistência deve ser amparado

pela sociedade através de meios e órgãos do Estado ou entidades particulares.

Cabe ao Poder Público desenvolver a assistência social,

estimular o seguro e tomar medidas defensivas adequadas para prover a

subsistência dos impossibilitados. Porém aos necessitados que possuam no

organismo familiar pessoas capazes de proporcioná-los tal assistência, o

Estado institucionalizou o dever de solidariedade, atribuindo aos parentes do

necessitado ou pessoa a ele ligada por um elo civil, o dever de prover-lhes

subsistência. O referido dever é imposto por lei e é denominado como alimento.

O próximo capítulo tratará acerca do Instituto dos

Alimentos sendo abordado seu histórico, conceito, requisitos, forma de

prestação, a quem cabe tal prestação e quem deve prover-lhes, entre outras

questões.

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CAPÍTULO 2

BREVES NOÇÕES SOBRE O DIREITO DE ALIMENTOS NO BRASIL

2.1 BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA ACERCA DOS ALIMENTOS

O ser humano, do nascimento até a sua morte, necessita

de amparo de seus semelhantes e de bens essenciais ou necessários para a

sobrevivência79.

O ser humano impossibilitado de prover seu sustento não

pode ser levado à desgraça. A sociedade deve dar assistência a esses

indivíduos, assim ilustra Venosa80:

(...) quem não pode prover a própria subsistência nem por isso deve ser relegado ao infortúnio. A pouca idade a velhice, a doença, a falta de trabalho ou qualquer incapacidade pode colocar a pessoa em estado de necessidade alimentar. A sociedade deve prestar-lhe auxílio.

À necessidade alimentar do indivíduo foi atribuído o termo

alimento, o que é vulgarmente entendido como tudo aquilo que é necessário

para que o ser humano possa permanecer com vida.

Da necessidade do ser humano em receber alimento,

surgiu a obrigação de outro em fornecer-lhes. Cahali81 observa que no direito

romano a obrigação alimentar era fundada em várias causas: a) na convenção;

b) no testamento; c) na relação familiar; d) na relação de patronato; e e) na

tutela.

79 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: direito de família, p. 371.80 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: direito de família, p. 373.81 CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos, 3ª ed. rev. e ampl.. São Paulo: Editora Revista dos

Tribunais, 1998, p. 41.

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Segundo Segrè82, no direito romano, a obrigação

alimentar foi instituída primeiramente nas relações de clientela e patronato, não

sendo fundada, inicialmente, nas relações familiares. Em relação à referida

omissão, comenta Cahali83:

(...) essa omissão seria reflexo da própria constituição da família romana, que subsistiu durante todo o período arcaico e republicano; um direito a alimentos resultante de uma relação de parentesco seria até mesmo sem sentido, tendo em vista que o único vínculo existente entre os integrantes do grupo familiar seria o vínculo derivado do pátrio poder; a teor daquela estrutura , o paterfamilias concentrava em suas mãos todos os direitos, sem que qualquer obrigação o vinculasse aos seus dependentes, sobre os quais, aliás, tinha, o ius vitae et necis; gravitando à sua volta, tais dependentes não poderiam exercitar contra o titular da patria potestas nenhuma pretensão de caráter patrimonial, como a derivada dos alimentos, na medida em que todos eram privados de qualquer capacidade patrimonial; com a natural recíproca da inexigibilidade de alimentos pelo pater em relação aos membros da família sob seu poder, à evidência de não disporem esses de patrimônio próprio.

Não há uma exatidão do momento histórico em que os

vínculos familiares passaram a ensejar o reconhecimento da obrigação

alimentar. Entretanto se pode afirmar que tais vínculos adquiriram uma maior

importância observando que houve uma notável transformação do dever moral

de socorro, o que corresponderia à obrigação jurídica alimentar.

Leciona Silvio Rodrigues84 que os romanos denominavam

os alimentos de officium pietatis, idéia que aproxima a obrigação alimentar da

noção de caridade. Porém, conforme será visto a seguir, a partir do momento

em que o legislador deu ação ao alimentário para exigir socorro, surgiu para o

alimentante uma obrigação de caráter jurídico e não apenas moral.

82 Segrè apud CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos, p. 43.83 CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos, p. 43.84 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: direito de família, v.6, 28ª ed.. São Paulo: Saraiva,

2004, p. 375.

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Conforme anota Cahali85, foi no direito Justiniano que se

reconheceu a obrigação alimentar entre ascendentes e descendentes:

No direito justinianeu foi seguramente reconhecida uma obrigação alimentar recíproca entre ascendentes e descendentes em linha reta ao infinito, paternos e maternos na família legítima, entre ascendentes maternos, pai e descendentes na família ilegítima (...), talvez entre irmãos e irmãs; e muito provavelmente pertence a esse período a extensão da obrigação alimentar à linha colateral.

Há controvérsias acerca da obrigação alimentar recíproca

entre cônjuges no direito Justiniano. Contudo, acredita-se que somente a

mulher teria direito a alimentos, o marido não. Já no direito canônico expandiu-

se o comprometimento das obrigações alimentares, até mesmo fora do âmbito

familiar. Questionava-se a obrigação alimentar entre tio e sobrinho ou padrinho

e afilhado resultante da ligação espiritual que havia entres esses. Deduziu-se

também nesta fase, a reciprocidade da obrigação alimentar entre os cônjuges.

Analisando-se a obrigação alimentar nas legislações de

outros países, observa-se que tal instituto é tratado de diversas maneiras,

levando-se em conta as tradições, costumes e valores que o sistema jurídico

de cada país pretende preservar.

No Brasil, antes mesmo da codificação da obrigação

alimentar, aparecem vestígios a respeito do instituto nas Ordenações Filipinas.

Apontando acerca da proteção aos órfãos, Cahali86 indica alguns dos

elementos que comporiam a obrigação alimentar:

Se alguns órfãos forem filhos de tais pessoas, que não devam ser dados por soldados, o Juiz lhes ordenará o que lhes necessário for para seu mantimento, vestido e calçado, e tudo mais em cada um ano. E mandará escrever no inventário, para se levar em conta a seu Tutor, ou Curador. E mandará ensinar a ler e escrever aqueles que forem para isso, até a idade de 12 anos. E daí em diante lhes ordenará sua vida e ensino, segundo a qualidade de suas pessoas e fazenda.

85 CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos, p. 46.86 CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos, p. 49.

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Cahali87 aponta o Assento de 09.04.1772 como o

documento mais importante desta época, sendo que este apregoou ser dever

de cada indivíduo alimentar e sustentar a si mesmo e estabeleceu exceções

àquele princípio em determinados casos de descendentes legítimos e

ilegítimos; ascendentes transversais, irmãos legítimos e irmãos ilegítimos,

primos e outros consangüíneos ilegítimos.

Na Consolidação das Leis Civis, apesar de não haver

uma disciplina única para o instituto dos alimentos, há vários dispositivos em

que são proferidos o dever de sustento dos filhos e os direitos recíprocos de

alimentos entre pais e filhos e entre parentes.

O Código Civil de 1916 tratou a obrigação alimentar como

efeito jurídico do casamento, ou seja, tal obrigação passou a ser um dos

deveres dos cônjuges sob a forma de mútua assistência, sustento e educação

dos filhos ou imposição de provimento de sustento à família ao marido. A

obrigação era estabelecida também nas relações resultantes do parentesco.

A posteriori do Código de 1916, por influência de

mudanças sociológicas da família, foram introduzidas várias nuanças que

buscaram o aprimorar e regulamentar o referido estatuto. Como exemplo temos

a Lei de Proteção à Família, a Lei do Divórcio e a Lei 8.648/9388 que

estabeleceu o dever de ajuda e amparo em favor dos pais que, na velhice,

carência ou enfermidade, ficaram sem condições de prover o próprio

sustento89.

No atual Código Civil90, não há expressiva mudança no

histórico do instituto dos alimentos. Foi mantida a reciprocidade da obrigação 87 CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos, p. 49.88 Acrescenta parágrafo único do art. 399 da Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916. Código Civil.

Art. 399, §único: No caso de pais que, na velhice, carência ou enfermidade, ficaram sem condições de prover o próprio sustento, principalmente quando se despojaram de bens em favor da prole, cabe, sem perda de tempo, e até em caráter provisional, aos filhos maiores e capazes, o dever de ajudá-los e ampará-los, com a obrigação irrenunciável de assisti-los e alimentá-los até o final de suas vidas.

89 CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos, p. 52.90 BRASIL. Lei nº 10.406. Institui o Código Civil.

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alimentar, e a sua extensão indefinida entre os parentes em linha reta,

primeiramente pelos ascendentes, iniciando pelos mais próximos e em seguida

os mais remotos, para então incidir a obrigação nos descentes, mantendo a

ordem da hereditariedade. Na falta destes, procura-se a solidariedade dos

colaterais em segundo grau, que são os irmãos, não se distinguindo para esta

finalidade, entre os unilaterais e os bilaterais91.

2.2 CONCEITO DE ALIMENTOS E REQUISITOS

Gomes92 denomina os alimentos como sendo prestações

para atender às necessidades fundamentais dos que não podem provê-las por

si. E, por isso, explana que:

A expressão designa medidas diversas. Ora significa o que é estritamente necessário à vida de uma pessoa, compreendendo, tão somente, a alimentação à cura, o vestuário e a habilitação, ora abrange outras necessidades, compreendidas as intelectuais e morais, variando conforme a posição social da pessoa necessitada.

Gonçalves93 raciocina:

(...) a expressão ‘alimentos’ ora significa ‘o que é estritamente necessário à vida de uma pessoa, compreendendo, tão somente a alimentação, a cura, o vestuário e a habitação, ora abrange outras necessidades, compreendidas as intelectuais e morais, variando conforme a posição social da pessoa necessitada. Na primeira dimensão, os alimentos limitam-se ao necessarium vitae; na segunda, compreendem o necessarium personae. Os primeiros chamam-se de alimentos naturais, os outros de civis ou côngruos.

Assis94 complementa apontando à advertência feita por

Pontes de Miranda: 91 DIAS, Maria Berenice e PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de família e o novo código

civil, 2ª ed. rev., atual. e ampl., Belo Horizonte: Del Rey, 2002, p.195.92 GOMES, Orlando. Direito de Família, p. 427.93 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: direito de família, 3. ed. rev. e

atual., São Paulo: Saraiva, 2007, vol. VI , p. 442.94 Pontes de Miranda apud ASSIS, Araken de. Da execução de alimentos e prisão do

devedor, 6. ed. rev., atual. e ampl., São Paulo: Editora dos Tribunais, 2004, p. 110.

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A palavra alimentos (...), possui o sentido amplo de compreender tudo quanto for imprescindível ao sustento, à habitação, ao vestuário, ao tratamento de enfermidades e às despesas de criação e educação (...). Hoje em dia, ao catálogo mencionado se acrescenta o lazer, fator essencial ao desenvolvimento equilibrado, sadio, e à sobrevivência sadia da pessoa humana.

Venosa95 conceitua os alimentos e os define como

prestações periódicas para que sejam supridas as necessidades de alguém:

(...) os alimentos, na linguagem jurídica, possuem significado bem mais amplo do que o sentido comum, compreendendo, além de alimentação, também tudo o que for necessário para moradia, vestuário, assistência médica e instrução. Os alimentos, assim traduzem-se em prestações periódicas fornecidas a alguém para suprir essas necessidades e assegurar sua subsistência.

Venosa96 ainda faz referência ao Código Civil francês que,

em seu artigo 203, emprega as palavras “nourrir, entretenir et éléver” que

significam: alimentar, manter e educar. E o Código português, em seu artigo

2.003, que define:

Por alimentos entende-se tudo o que é indispensável ao sustento, habitação e vestuário. Os alimentos compreendem também a educação do alimentando no caso de este ser menor.

No entendimento de Rizzardo97 a obrigação alimentar

compreende:

(...) o dever de prestar à outra o necessário para a sua manutenção e, em certos casos, para uma criação, educação, saúde e recreação; em suma, para atender às necessidades fundamentais do cônjuge ou do parente.

95 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: direito de família, p. 372.96 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: direito de família, p. 372.97 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família: Lei 10.406, de 10.01.2002. Rio de Janeiro:

Forense, 2005, p. 713.

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Acerca da decorrência da obrigação alimentar, ponderam

Salém e Matias98:

A obrigação de prestar alimentos consiste no dever, previsto por lei, decisão judicial ou convenção, que alguém tem de fornecer a outrem a satisfação das necessidades vitais.

Como requisito básico da obrigação alimentar, deve o

montante dos alimentos ser fixados de acordo com as necessidades do

alimentando e as possibilidades do alimentante (art.1.694, § 1° do CC).

Gomes99 arrazoa:

A potencialidade econômico-financeira da pessoa de quem podem ser exigidos os alimentos é, assim, um pressuposto da obrigação, tal como a necessidade do alimentando. Não basta que um precise; importa igualmente, que o outro possa dar, mas se há vínculo de família e o interessado se encontra em estado de miserabilidade, a obrigação existe, sendo apenas inexeqüível. A impossibilidade de execução é arrolada entre seus pressupostos porque a natureza da obrigação impossibilita sua formação.

A impossibilidade econômica do alimentante se dá

quando o devedor não pode fornecê-los sem o desfalque do necessário para a

sua mantença e nem desfazer-se dos seus bens ou sacrificar-se, mesmo que

para o futuro, para satisfazer a obrigação, enquanto esta pode ser exigida de

um parente mais afastado sem que este seja sacrificado para cumprir tal

obrigação.

Observa Venosa100:

Não podemos pretender que o fornecedor de alimentos fique entregue à necessidade, nem que o necessitado se locuplete a sua custa. Cabe ao juiz ponderar os dois valores de ordem axiológica em destaque. Destarte, só pode reclamar alimentos quem comprovar que não pode sustentar-se com o seu próprio

98 SALÉM, Luciano Rossignoli e MATIAS, Arthur J. Jacon. Prática Forense no Direito de Família. 3. ed. ver. atual. e ampl., Campinas: Millenium, 2001, p. 33.

99 GOMES, Orlando. Direito de Família, p. 430.100 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: direito de família, p.374.

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esforço. Não podem os alimentos converter-se em prêmio para os néscios e descomprometidos com a vida. Se, no entanto, o alimentando encontra-se em situação de penúria, ainda que por ele causada, poderá pedir alimentos. Do alimentante, como vimos, importa que ele tenha meios de fornecê-los: não pode o Estado, ao vestir um santo, desnudar outro. Não há que se exigir sacrifício do alimentante.

No caso em que a culpa é do reclamante, serão

destinados apenas os alimentos necessários, conforme discorre o §2° do art.

1.694 do Código Civil101.

Carbonier102 adverte que o alimentando possuidor de bens

que possam ser alienados para obter meios de subsistência não tem o direito

de reclamar os alimentos e que não importa o volume do patrimônio do

alimentante, mas sim a disponibilidade de rendas para que delas se possa

extrair o necessário ao pensionato.

Gomes103 ainda faz menção a um terceiro pressuposto

que é a necessidade da existência de determinado vínculo de família entre o

alimentando e a pessoa obrigada a suprir alimentos, e comenta:

A existência do vínculo de família constitui o fato básico do qual a lei faz derivar a obrigação. Não são todas as pessoas ligadas por laços familiares que estão sujeitas, porém, às disposições legais atinentes aos alimentos, mas somente os ascendentes, os descendentes, os irmão, assim germanos como unilaterais, e os cônjuges. Limita-se aos colaterais de segundo grau de obrigação proveniente de parentesco. Quanto aos cônjuges, a obrigação pressupõe a dissolução da sociedade conjugal pela dissolução judicial, visto que, na constância do matrimônio, o dever do marido de sustentar a mulher e o desta de concorrer

101 CC/2002, art. 1.694: Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.

§ 1o Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada.

§ 2o Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a situação de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia.

102 Carbonier apud GOMES, Orlando. Direito de Família, p. 431.103 GOMES, Orlando. Direito de Família, p. 427.

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para as despesas do casal são efeitos jurídicos imediatamente decorrentes do casamento. Do mesmo modo, a obrigação dos pais diz respeito aos filhos adultos, pois, enquanto menores, devem-lhes sustento.

Cabe lembrar que as condições financeiras tanto do

alimentante quanto do alimentado não são fixas, portanto, é possível que mude

a qualquer momento não somente o montante dos alimentos fixados, como

também a obrigação alimentar pode ser extinta quando alterada as condições

de fortuna das partes. Há possibilidade do alimentando passar a ter condições

de prover sua própria subsistência como também é possível que o alimentante

passe a não mais ter capacidade econômica de prestar alimentos ao

alimentando, caso em que poderá o interessado reclamar ao juiz, conforme

circunstâncias, exoneração, redução ou agravação do encargo, conforme prevê

o Código Civil em seu artigo 1.699104.

Matias e Salém105 aclararam:

(...) a sentença que fixa os alimentos não transita materialmente em julgado daí por que podem o devedor ou credor, através da pertinente ação revisional, propugnar pela majoração, redução ou mesmo extinção do encargo, de acordo com a mudança na fortuna de quem os recebe, ou na de quem os supre, podendo o réu ajuizar reconvenção.

Portanto, identifica-se que a sentença da ação de

alimentos nunca faz coisa julgada material, mas apenas formal, o que

possibilita a mutabilidade do quantum da pensão alimentícia no caso de

mudança de fortuna de quem os provê ou de quem os recebe.

104 CC/2002, art. 1.699: Se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação financeira de quem os supre, ou na de quem os recebe, poderá o interessado reclamar ao juiz, conforme as circunstâncias, exoneração, redução ou majoração do encargo.

105 SALÉM, Luciano Rossignoli e MATIAS, Arthur J. Jacon. Prática Forense no Direito de Família, p. 37.

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2.3ABRANGÊNCIA DO DIREITO A ALIMENTOS

O Código Civil, no capítulo específico (art.1.694 e segs.),

não se preocupou em definir os alimentos106. Porém, encontra-se sua definição

quando a lei refere-se ao legado:

Art. 1.687 - O legado de alimentos abrange o sustento, a cura, o vestuário e a casa, enquanto o legatário viver, além da educação se for menor.

Os alimentos são derivados do direito de família, do

casamento e do companheirismo, sendo uma obrigação legal, conforme prevê

o artigo 1.694 do Código Civil:

Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.

Venosa107 observa que o Projeto n° 6.960/2002 altera o

término desta composição para indicar que os alimentos devem convir para a

pessoa “viver com dignidade”. Porém, com o mesmo entendimento, os

alimentos também podem decorrer da vontade, serem instituídos em contrato

gratuito ou oneroso e por testamento108 ou ainda derivar de sentença

condenatória decorrente de responsabilidade civil. Porém, a obrigação civil

decorrente de prática de ato ilícito figura uma forma de reparação do dano,

assim sendo, não deriva do direito de família.

Os Alimentos são classificados como naturais ou

necessários no caso daqueles que possuem alcance limitado, ou seja, os que

compreendem o estritamente necessário para a mantença da vida de uma

pessoa, compreendendo apenas a alimentação, a cura, o vestuário e a

106 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: direito de família, p.371.107 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: direito de família, p.376.108 “Sucessão - "Mortis Causa" - Testamento - legado de alimentos a ser prestado pelos

herdeiros - Questionamento de tal disposição testamentária - "voluntas testatoris" que infletiu na adoção do salário mínimo que estiver em vigência - desprovimento mantido - Agravo não provido.” (TJSP - Recurso: AI 129496, 08-03-90 Origem: SP, Orgão: CCIV, Rel. NEY ALMADA).

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habitação. Ou, no caso daqueles convenientes, ou que abrangem as

necessidades intelectuais, morais e de recreação do beneficiário são

denominados alimentos civis ou côngruos109.

Seguindo a mesma linha de raciocínio, Herrera110

conceitua:

(...) por alimentos côngruos entende-se o dever de ministrar a comida, vestuário, habitação e demais recursos econômicos necessários, tomando-se em consideração a idade, a condição social e demais circunstâncias pertinentes ao familiar em situação de necessidade; de modo diverso, os alimentos necessários, se bem que igualmente compreensivos da comida, do vestuário, da habitação, reclamados pelo alimentando, devem ser calculados à base do mínimo indispensável para qualquer pessoa sobreviver, sem tomar em consideração as condições próprias do beneficiário.

E Gonçalves111, sintetiza na mesma linha de raciocínio:

Quanto à natureza dos alimentos, eles podem ser naturais ou civis. Os naturais ou necessários restringem-se ao indispensável à satisfação das necessidades primárias à vida; os civis ou côngruos (...) destinam-se a manter a condição social, o status da família.

Acerca da distinção, comentam Dias e Pereira112:

(...) além das necessidades básicas de habitação, alimentação, vestuário e saúde, não se poderia excluir o mínimo razoável para o lazer do alimentado, essencial ao desenvolvimento sadio da pessoa. Em certa medida, pois, exclui-se tão-somente o excedente destinado à manutenção da condição social, além dos gastos supérfluos, ainda que a pretexto daquelas verbas referidas.

109 CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos, p. 19.110 Lopes Herrera apud CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos, p. 52.111 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, p. 442.112 DIAS, Maria Berenice e PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de família e o novo código

civil, p.196.

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Vê-se, então, que os alimentos naturais ou necessários

(necessarium vitae) são aqueles indispensáveis à subsistência (alimentção,

vestuário, saúde, habitação) e os alimentos civis ou côngruos (necessarium

personae), são os destinados a manter a qualidade de vida do credor (lazer e

educação), de acordo com as condições financeiras dos envolvidos,

resguardando, assim o padrão de vida e status social do alimentando. A

quantificação é limitada em decorrência da capacidade econômica do

alimentante.

2.4 A FORMA DA PRESTAÇÃO DOS ALIMENTOS

Consoante a forma de prestação de alimentos, o Código

Civil prevê em seu artigo 1.701 uma faculdade:

Art. 1.701. A pessoa obrigada a suprir alimentos poderá pensionar o alimentando, ou dar-lhe hospedagem e sustento, sem prejuízo do dever de prestar o necessário à sua educação, quando menor.

Nota-se que o referido artigo dispõe duas formas de

prestação alimentar facultando ao devedor analisar o modo menos gravoso do

cumprimento da sua obrigação, podendo assim, optar por uma ou outra.

Acerca desta faculdade anota Silva113:

Compete, porém, ao juiz fixar o modo de cumprir a prestação, de acordo com as circunstâncias, de molde a não criar para o alimentando uma situação de constrangimento ou de humilhação, pelo fato de residir em companhia do obrigado.

Um exemplo de circunstância que faz com que o juiz fixe

maneira de prestação devida é o caso, por exemplo114, de existência de

incompatibilidade entre alimentante e alimentado, não podendo o juiz

constranger o segundo a coabitar com o primeiro sob o mesmo teto, o que

acarretaria em novos atritos.

113 SILVA, Caio Mário da. Instituições de Direito Civil: direito de família, 11ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 1999, v. 5, p.286.

114 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito de família, 37ª ed., rev. e atual. por Regina Tavares da Silva, São Paulo: Saraiva, 2004, p. 375.

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Segundo Diniz115:

(...) permite que o alimentante satisfaça sua obrigação por dois modos: dando uma pensão ao alimentando, ou dando-lhe em sua própria casa, hospedagem e sustento, sem prejuízo do dever de prestar o necessário à sua educação, quando menos, não podendo interná-lo em asilos, nem sustentá-lo em casa alheia. Prescreve-se, assim, uma obrigação alternativa (Código Civil, art. 252), cabendo a escolha ao devedor, que se libera do encargo cumprindo uma ou outra obrigação.

Porém a escolha não é irrevogável. Pode116, o devedor

satisfazer a prestação durante um período pela forma de pagamento de pensão

e depois, se preferir, dar hospedagem e sustento ao credor. Desde que não

haja alguma circunstância que enseje o juiz a fixar a maneira de prestação

devida àquele caso, conforme prevê o parágrafo único do artigo 1.701.

Habitualmente a obrigação alimentar é compensada

periodicamente e em dinheiro para que o obrigado satisfaça as necessidades

básicas do alimentando como alimentação, vestuário, moradia, escolaridade e

saúde. Desta forma leciona Silva117:

A pensão alimentar é, via de regra, em dinheiro. O devedor paga à reclamante uma soma periódica (mensal, ou trimestral, ou anual, ou, mesmo quinzenal), compreendendo os fatores básicos essenciais à vida: alimentação vestuário, habitação, criação, educação, tratamento.

Monteiro reafirma que a prestação de alimentos118 em

casa alheia vem sendo empregada freqüentemente, que é o pagamento direto

de despesas do alimentando pelo alimentante. Neste caso, mesmo que o

credor não habite debaixo do mesmo teto do devedor, o alimentante paga as

despesas básicas e entrega dinheiro para o complemento de outros gastos

115 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito das sucessões, 18ª ed. São Paulo: Saraiva, 2004, v.6, p. 514.

116 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família, 17ª ed., atual. de acordo com o novo Código Civil, São Paulo: Saraiva, 2002, p. 473.

117 SILVA, Caio Mário da. Instituições de Direito Civil , p.286.118 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito de família, p. 376.

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diretamente ao alimentante. Esta forma de pensão pode ser estabelecida

através de acordo entre as partes ou por decisão judicial.

No caso da pensão alimentícia, o critério adotado

usualmente para o arbitramento da provisão devida pelo alimentante à ex-

esposa, ou mesmo à ex-esposa e filhos, é de um terço dos vencimentos

líquidos daquele. Porém, pode a fixação ser acima ou abaixo deste critério, de

acordo com os pressupostos: possibilidade do obrigado e necessidade do

credor119.

A lei estabelece que a obrigação alimentar pode decorrer

do parentesco, do casamento e da união estável. Silvio Rodrigues leciona que

a pensão alimentícia decorrente do parentesco já era prevista no Código Civil

de 1916, a prestação em razão da dissolução de casamento tinha

características próprias e era prevista na Lei do Divórcio, enquanto os

alimentos originados do rompimento da união estável eram determinados pela

Lei 8.971/94 e revigorados pela Lei 9.278/96. Porém, o atual Código Civil (Lei

10.406/02) unificou estes três tipos de prestações alimentícias em um único

subtítulo (arts. 1694 e ss.). A seguir identificar-se-á a distinção entre o dever de

alimentos decorrentes do dever de sustento e socorro e do parentesco.

2.5 O DEVER DE ALIMENTOS EM RAZÃO DO DEVER DE SUSTENTO E SOCORRO FAMILIAR

O dever de sustento é resultante de imposição legal

dirigida a determinadas pessoas ligadas por vínculos familiares, é unilateral e

deve ser cumprido incondicionalmente. São deveres de sustento e socorro

familiar a obrigação dos cônjuges, companheiros e dos pais em relação aos

filhos menores, que revertem-se em obrigação de alimento. Acerca do referido

dever pondera Cahali120:

(...) o dever de alimentos tem como fundamento uma obrigação de caridade e solidariedade familiares. Está na sua base um

119 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito de família, p. 369.120 CAHALI, Yussef Said. Dos Alimentos, 4ª ed. rev. e ampl.. São Paulo: Editora Revista dos

Tribunais, 2002, p.343.

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dever ético de assistência e socorro resultante de vínculo familiar.

Os pais devem sustento aos filhos enquanto estes são

menores e depois que se tornarem adultos poderá se falar em obrigação

alimentar. Da mesma forma é considerada a prestação alimentar aos cônjuges.

Assim instrui Gomes121:

(...) quanto aos cônjuges, a obrigação pressupõe a dissolução da sociedade conjugal pela separação judicial, visto que, na constância do matrimônio, o dever do marido de sustentar a mulher e o desta de concorrer para as despesas do casal são efeitos jurídicos imediatamente decorrentes do casamento. Do mesmo modo, a obrigação dos pais diz respeito aos filhos adultos, pois, enquanto menores, devem-lhes sustento.

O atual Código Civil reduziu a capacidade civil de 21 para

18 anos (art. 5°), conseqüentemente, houve mudança na obrigação alimentar

enquanto decorrência do dever de sustento inerente ao poder familiar. Porém,

Salém e Matias122 mencionam que tal obrigação deve ser prolongada até os 24

anos do “maior” estudante, ou seja, acaso o filho prossiga nos estudos após

ultrapassar sua capacidade civil, a obrigação de sustento dos pais deve

continuar. Ainda, afirmam que a jurisprudência tem ponderado que os pais

devem sim prolongar a prestação alimentícia, sobrepondo que a referida

obrigação não decorre do pátrio poder, e sim do parentesco. Fatalmente, o pai

poderá ser exonerado do encargo se provar que o filho, por si só, tem

condições de prover à sua subsistência.

Desta forma ponderam Dias e Pereira123:

(...) ao se estabelecer expressamente que a pensão deve ser fixada “inclusive para atender às necessidades de sua educação” (art. 1.694), fácil será sustentar a subsitênciada obrigação mesmo após alcançada a capacidade civil com 18

121 GOMES, Orlando. Direito de Família, p. 430.122 SALÉM, Luciano Rossignoli e MATIAS, Arthur J. Jacon. Prática Forense no Direito de

Família, p. 34123 DIAS, Maria Berenice e PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de família e o novo código

civil, p.196-197.

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anos, quando destinado o valor pela mantença do filho estudante.

Salém e Matias124 interpretam que o provimento dos

alimentos de criação e educação dos filhos menores não decorre do

parentesco, mas do pátrio poder, assim sendo, é dever dos pais administrar a

criação e educação dos filhos menores independente da situação financeira do

menor até que este atinja a plena capacidade civil. E também observam que

“os pais não serão exonerados da obrigação mesmo que os filhos disponham

de grande número de bens125”.

2.6O DEVER DE ALIMENTOS EM RAZÃO DO PARENTESCO

Bittar126 refere-se à obrigação alimentar como um dos

principais deveres decorrentes da relação do parentesco e assim registra:

Relacionada ao direito à vida e no aspecto de subsistência, a obrigação alimentar é um dos principais efeitos que decorrem da relação do parentesco. Trata-se de dever, imposto por lei aos parentes de auxiliar-se mutuamente em necessidades derivadas de contingências desfavoráveis da existência. Fundada na moral (idéia de solidariedade familiar) e oriunda da esquematização romana (no denominado officium pietatis), a obrigação alimentar interliga parentes necessitados e capacitados na satisfação de exigências mínimas de subsistência digna, incluindo-se, em seu contexto, não só filhos, mas também pessoas outras do círculo familiar. Integra, portanto, as relações de parentesco em geral, incluída a de filiação, havida ou não de casamento, e tanto sob o aspecto natural, ou biológico, como civil (famílias natural e substituta, Lei n° 8.069/90, arts. 25 e ss. e 28 e ss.127).

124 SALÉM, Luciano Rossignoli e MATIAS, Arthur J. Jacon. Prática Forense no Direito de Família, p. 33-34

125 SALÉM, Luciano Rossignoli e MATIAS, Arthur J. Jacon. Prática Forense no Direito de Família, p. 34.

126 BITTAR, Carlos Alberto. Direito de Família. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1993, p. 252.

127 Da Família Natural

Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes.

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Acerca do dever dos parentes em assistir as pessoas

incapazes de prover seu próprio sustento discorre Pereira128:

(...) o direito não descura o fato da vinculação da pessoa a seu próprio organismo familiar. E impõe, então, aos parentes do necessitado, ou pessoa ligada a ele por um elo civil, o dever de proporcionar-lhe as condições mínimas de sobrevivência, não como favor ou generosidade, mas como obrigação judicialmente exigível.

Da mesma forma que os pais tem o dever de sustentar os

filhos, devem também os filhos sustentar os pais em caso de necessidade.

Assim prevê o artigo 1.696 do Código Civil:

Art. 1.696. O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros.

Art. 26. Os filhos havidos fora do casamento poderão ser reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente, no próprio termo de nascimento, por testamento, mediante escritura ou outro documento público, qualquer que seja a origem da filiação.

Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou suceder-lhe ao falecimento, se deixar descendente.

Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restrição, observado o segredo de Justiça.

Da Família Substituta

Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á mediante guarda, tutela ou adoção, independentemente da situação jurídica da criança ou adolescente, nos termos desta Lei.

§ 1º Sempre que possível, a criança ou adolescente deverá ser previamente ouvido e a sua opinião devidamente considerada.

§ 2º Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o grau de parentesco e a relação de afinidade ou de afetividade, a fim de evitar ou minorar as conseqüências decorrentes da medida. Art. 29. Não se deferirá colocação em família substituta a pessoa que revele, por qualquer modo, incompatibilidade com a natureza da medida ou não ofereça ambiente familiar adequado. Art. 30. A colocação em família substituta não admitirá transferência da criança ou adolescente a terceiros ou a entidades governamentais ou não-governamentais, sem autorização judicial.

Art. 31. A colocação em família substituta estrangeira constitui medida excepcional, somente admissível na modalidade de adoção.

Art. 32. Ao assumir a guarda ou a tutela, o responsável prestará compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo, mediante termo nos autos.

128 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil: Direito de Família, 11ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 1996, v.5, p. 276.

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Anota Laurent129 que seria realmente uma coisa

escandalosa ver um filho negar alimentos ao pai, dando, por assim dizer, a

morte a quem lhe deu a vida.

Lecionam Dias e Pereira130 que nos alimentos decorrentes

de parentesco, pensão deve ser reduzida ao indispensável ao sustento,

quando a situação de necessidade resultar da culpa de quem os pleiteia.

A incapacidade financeira do parente mais próximo, em

grau, possibilita que o necessitado reclame os alimentos aos parentes do grau

seguinte. Salém e Matias131 comentam:

Os parentes que podem ser credores, ou devedores, de alimentos, são em princípio, os ascendentes e descendentes, recaindo a obrigação nessa ordem, preferindo-se, também, os mais próximos em grau. A falta dos ascendentes ou descendentes importa na obrigação dos colaterais. A impossibilidade de os mais próximos prestarem alimentos – v. g. pais e filhos – é que possibilita exigir a obrigação a obrigação de ascendentes mais distantes – v. g. avós e netos.

O artigo 1.697 do atual Código identifica a ordem dos

parentes os quais incidem a obrigação alimentar:

Art. 1.697. Na falta dos ascendentes cabe a obrigação aos descendentes e na falta destes, aos irmãos, assim germanos como unilaterais.

Seguindo a ordem prescrita no artigo 1.697 do Código

Civil, entende-se que a ordem de precedência da obrigação alimentar deve

recair primeiramente no cônjuge ou companheiro e só depois nos parentes,

posto que, com o casamento ou união estável, cessa a obrigação de alimentar

dos parentes, passando esta a ser do cônjuge ou companheiro que tem o

129 LAURENT apud MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito de família, p. 366.

130 DIAS, Maria Berenice e PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de família e o novo código civil, p. 197.

131 SALÉM, Luciano Rossignoli e MATIAS, Arthur J. Jacon. Prática Forense no Direito de Família, p. 34.

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dever de mútua assistência o qual persiste mesmo após a separação132 (artigo

1.576 do CC).

Quanto à mencionada disposição Arnaldo Rizzardo133

comenta:

(...) discrimina-se a obrigação nesta ordem:

Quanto aos pais: em face do artigo 1.697 (...), se necessitarem de alimentos, cumpre, primeiramente, que se socorram junto aos respectivos genitores; não tendo estes condições, devem procurar o amparo perante seus descendentes. Somente se nada obtiverem dos ascendentes e dos filhos, por falta de recursos, ou por serem menores os últimos e terem falecido aqueles, permite a lei que se exija dos irmãos a pensão alimentícia.

Quanto aos filhos: os primeiros obrigados são os pais, seguindo-se os avós e, finalmente, os irmãos.

Pontes134 complementa e comenta casos em que há

possibilidade de pedir alimentos ao consecutivo parente na ordem da escala

dos devedores:

Sempre que um parente que estaria obrigado a prestar alimentos, ou que esteve a prestá-los, passe a não poder prestá-los, tem de os prestar quem venha após ele, na escala dos devedores de alimentos. Dá-se o mesmo se o que os deveria se acha em território estrangeiro e dificilmente se poderia acionar. O ônus da prova de que se dá uma dessas espécies toca, aí, ao alimentando, porque está inclusa na afirmação de necessidade a alegação de faltar o legitimado passivo anterior na escala. Se algum presta, em vez de outro, que por ausência, ou motivo semelhante, não prestou, mas era devedor, tem o que lhe fez às vezes ação de reembolso, ou a de repetição se o alimentando vem a receber do outro parente os alimentos atrasados. Dá-se o mesmo, se algum prestou apenas a quota que lhe foi marcada.

132 Maria Danielle Simões Veras Ribeiro apud PINHEIRO, Naide Maria. O Estatuto do Idoso Comentado. Campinas: LZN Informática e Editora, 2006, p.125.

133 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família: Lei 10.406, de 10.01.2002, p. 748-749.134 Pontes apud Rizzardo, Arnaldo. Direito de Família: Lei 10.406, de 10.01.2002, p. 748.

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O salto na ordem da escala de devedores dos alimentos

não é facultativo, apenas poderá ocorrer no caso de infortuna ou no caso em

que o parente mais próximo em grau não for encontrado. Silvio Rodrigues135

explica:

São chamados a prestar alimentos, em primeiro lugar, os parentes em linha reta, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta dos outros. Assim, se por causa de idade ou de moléstia, a pessoa não pode prover a sua subsistência, deve reclamar alimentos de seu pai, ou de seus filhos. A estes, desde que o possam, incube fornecer alimentos, ainda que haja netos ou bisnetos com recursos muito mais amplos. Só não havendo filhos é que são chamados os netos a prestar alimentos, e assim por diante, porque a existência de parentes mais próximos exclui os mais remotos da obrigação alimentícia.

E completam Salém e Mathias136:

(...) o credor dos alimentos pode, na própria ação que é dirigida contra os avós, provar que os pais não dispõem de condições de prestar alimentos, seja porque estão desaparecidos, seja porque são miseráveis, seja porque não implementaram a obrigação nem sob a coação da prisão civil, abreviando, assim, o estado de penúria dos infantes (...)

Venosa137 atenta que no caso da existência de mais de

um parente do mesmo grau, na obrigação de alimentar, não há solidariedade

entre eles, pois a obrigação é divisível. É possível que cada um concorra com

apenas parte do valor devido e adequado ao alimentando. A incapacidade

econômica de alimentar de um parente deve ser compreendida da mesma

forma que a inexistência de um alimentante.

Dispõe o artigo 1.698 do Código Civil:

135 Silvio Rodrigues apud Rizzardo, Arnaldo. Direito de Família: Lei 10.406, de 10.01.2002, p. 749.

136 SALÉM, Luciano Rossignoli e MATIAS, Arthur J. Jacon. Prática Forense no Direito de Família, p. 35.

137 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: direito de família, p.382.

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Art. 1.698. Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver em condições de suportar totalmente o encargo, serão chamados a concorrer os de grau imediato; sendo várias as pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas devem concorrer na proporção dos respectivos recursos, e, intentada ação contra uma delas, poderão as demais ser chamadas a integrar a lide.

Observa-se que aqui o Código Civil estabelece a

possibilidade de o credor de alimentos optar por um dos coobrigados ou

ingressar contra todos, não existindo litisconsórcio passivo necessário. Ribeiro

esclarece138:

(...) a integração dos demais prestadores à lide busca beneficiar o próprio alimentário, posto que este deixaria de receber apenas o montante correspondente à parte demandada, passando a obter a totalidade da obrigação alimentar de todos os prestadores, na medida de suas possibilidades, para atender as necessidades existentes.

Acerca do rateio entre os parentes, Wald139 esclarece:

(...) admite-se o rateio entre parentes do mesmo grau ou de grau diverso quando os mais próximos não tiverem bens suficientes para atender às necessidades do alimentando, devendo recorrer-se para os mais remotos.

Neste sentido já se decidiu que:

A exclusão dos mais remotos pelos mais próximos, entre os ascendentes, não impedem que possam aqueles ser chamados para complementar a pensão, se provada pelo alimentante a insuficiência do que recebe; aliás, regra da complementação é válida ainda quando um só dos ascendentes da mesma classe esteja prestando os alimentos reputados suficientes. (JTJ 169/13)

138 Maria Danielle Simões Veras Ribeiro apud PINHEIRO, Naide Maria. O Estatuto do Idoso Comentado, p.123.

139 Arnold Wald apud SALÉM, Luciano Rossignoli e MATIAS, Arthur J. Jacon. Prática Forense no Direito de Família, p. 33.

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Assim sendo, fica claro que nas circunstâncias em que os

parentes mais próximos não tiverem condições de prover alimentos ao

alimentando é admitido o rateio entres parentes de mesmo grau do obrigado ou

de grau diverso na ocasião em que os mais próximos não tiverem condições de

suprir o valor necessário para a mantença do alimentado.

2.7CONSEQÜÊNCIAS JURÍDICAS DO NÃO PAGAMENTO DE ALIMENTOS: A EXECUÇÃO E A PRISÃO CIVIL DO DEVEDOR

A obrigação alimentar tem como finalidade atender à

necessidade de alguém que precisa de amparo por não ter condições de

prover sua subsistência. O fato de tratar de um socorro acarreta algumas

conseqüências importantes.

Como doutrina Rodrigues140, a prestação alimentícia deve

ser exigida no presente e não no passado, pois o que a justifica é uma

necessidade inadiável, que é a mantença das necessidades de uma pessoa. É

por este motivo que a lei aplica meios coativos ao credor para que seja

facilitado o pronto recebimento da prestação alimentar.

Para a garantia do cumprimento da obrigação alimentar,

dispõe o credor dos seguintes meios141: a) ação de alimentos, para reclamá-los

(Lei 5.478/68); b) execução por quantia certa (art. 732 do CPC); c) penhora em

vencimento de magistrados, professores e funcionários públicos, soldo de

militares e salários em geral, inclusive subsídios de parlamentares (art. 649, IV

do CPC); d) desconto em folha de pagamento da pessoa obrigada (art. 734 do

CPC); e) reserva de aluguéis de prédios do alimentante (art. 17 da Lei 5.478); f)

entrega ao cônjuge, mensalmente, para assegurar o pagamento de alimentos

provisórios (§ único do art. 4° da Lei 5.478/68), de parte de renda líquida dos

bens comuns, administrados pelo devedor, se o regime de casamento for o da

comunhão universal de bens; g) constituição de garantia real ou fidejussória e

de usufruto (art. 21 da Lei 6.515/77); h) prisão do devedor (art. 21 da Lei

5.478/68 e art. 733 do CPC).

140 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: direito de família, p. 375.141 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, p. 488-489.

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Caso o devedor não pague a pensão na data e no valor

estipulados na ação judicial, cabe ao credor reclamar ao Poder Judiciário com

a Ação de Execução. Assim, o magistrado determinará um prazo para o

devedor efetuar o pagamento, provar que o fez ou justificar a impossibilidade

de fazê-lo. Se o devedor não cumprir a determinação dada pelo juiz, será

decretada a sua prisão. Porém, o pagamento da pena não exime o obrigado do

pagamento ao credor.

Assim instrui Cahali142:

(...) na execução da sentença que fixa a prestação alimentícia, o juiz mandará citar o devedor para, em 3 dias, efetuar o pagamento, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo; se o devedor não pagar, nem se escusar, o magistrado decretará sua prisão civil (CPC, art. 733) pelo prazo de 1 (um) a 3 (três) meses, salvo se realmente impossibilitado de fornecê-la (...), sendo uma das exceções a de que não há prisão por dívidas (CF/88, art. 5°, LXVII).

Entretanto, Diniz143 reforça que só haverá prisão civil se

malogradas as providências que visam assegurar o adimplemento da

obrigação alimentícia, as quais foram relacionadas anteriormente.

Como já mencionado, a obrigação alimentar é de

interesse do Estado por se tratar da preservação da vida do alimentando,

direito fundamental, protegido pela Lei Maior144, que garante a sua

inviolabilidade.

São resguardados também pela Constituição a proteção

aos idosos, como já visto anteriormente.

142 Cahali apud DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família, p. 475.

143 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família, p. 476144 CRFB/88, art. 5º: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (...).

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No próximo capítulo, será abordado o referido tema com

mais precisão para que seja feita uma breve análise da proteção jurídica do

idoso atual no ordenamento jurídico brasileiro.

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CAPÍTULO 3

O ESTATUTO DO IDOSO E A PROTEÇÃO JURÍDICA DOS IDOSOS, EM ESPECIAL À SUA SOBREVIVÊNCIA

3 .1 O ESTATUTO DO IDOSO (LEI N º 10.741, DE 01/10/2003) E O CONCEITO DE IDOSO

Os idosos estão cada vez mais numerosos e tem papel

fundamental na sociedade brasileira. Em razão da redução do número de

natalidade e aumento da expectativa de vida do brasileiro, pode-se dizer que o

Brasil envelheceu. Atualmente existem aproximadamente 30 idosos para cem

crianças, conforme divulgação do IBGE145, com base no CENSO 2000.

A proporção de idosos vem crescendo mais rapidamente que a proporção de crianças. Em 1980, existiam cerca de 16 idosos para cada 100 crianças; em 2000, essa relação praticamente dobrou, passando para quase 30 idosos por 100 crianças. A queda da taxa de fecundidade ainda é a principal responsável pela redução do número de crianças, mas a longevidade vem contribuindo progressivamente para o aumento de idosos na população. Um exemplo é o grupo das pessoas de 75 anos ou mais de idade que teve o maior crescimento relativo (49,3%) nos últimos dez anos, em relação ao total da população idosa.

Foi pensando no aumento da estimativa de vida do

brasileiro que o governo nacional promulgou legislação específica para a

referida faixa etária, a Política Nacional do Idoso (PNI), Lei n° 8.842 de 4 de

janeiro de 1994, posteriormente regulamentada pelo Decreto Federal n° 1.974

de 3 de julho de 1996. A PNI foi um marco para o Brasil, uma vez que chamou

a atenção para aqueles responsáveis pela nossa sabedoria e que ao longo de

suas vidas construíram e melhoraram a nossa sociedade para que hoje

145 Informações colhidas do site oficial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/25072002pidoso.shtm>. Acessado em 12.09.2007.

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possamos desfrutar dos avanços por eles conquistados146. Porém o Promotor

de Justiça Anderson Freire147 comenta sobre a eficácia o referido diploma legal:

(...) a Lei n° 8.842/94 resultou na previsão de direitos sem muita eficácia, uma vez que se o poder publico não adotava medidas, a fim de concretizá-los, não havia como exigi-los. Além disso , o aludido diploma legal não prevê nenhum tipo de sansão para aqueles que violarem os direitos dessa parcela da população.

Anteriormente, a Constituição Federal de 1988 já havia

traçado meios de proteção ao idoso. A Carta Magna dispõe alguns artigos

como acerca da seguridade social (art. 201), garantia de salário mínimo mensal

ao idoso que comprove não possuir meios de prover seu próprio sustento ou

tê-lo provido por sua família (art. 203, inciso V e art. 204), amparo aos idosos,

defendendo sua dignidade e garantindo o direito à vida (art. 230, caput), direito

ao transporte gratuito (art. 230, § 2°), voto facultativo aos maiores de setenta

anos (art. 14, inc. II, alínea “b”), entre outros. Entretanto, os direitos

constitucionais não foram suficientes para que os idosos fossem efetivamente

respeitados.

Posteriormente a PNI, foi criado o Estatuto do Idoso.

Sancionado em outubro de 2003, o atual instituto entrou em vigor na data de 1°

de janeiro de 2004. O Estatuto do Idoso veio para complementar a PNI, eis que

esta previa a garantia de direitos sociais de um modo menos abrangente.

Freire148 assim refere-se ao estatuto:

A partir da implantação do estatuto, houve uma significativa mudança em relação à efetivação dos direitos das pessoas idosas, porquanto muitos destes foram consagrados mediante determinações específicas, acompanhadas de instrumentos jurídicos para se exigir a observância das normas, bem como

146 Wikipédia, a enciclopédia livre. Idoso. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Idoso>. Acessado em 12.09.2007.

147 Anderson Ricardo Fernandes Freire apud PINHEIRO, Naide Maria. O Estatuto do Idoso Comentado, p. 294.

148 Anderson Ricardo Fernandes Freire apud PINHEIRO, Naide Maria. O Estatuto do Idoso Comentado, p. 294.

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de preceitos cominatórios de sanções para os infratores, inclusive no âmbito criminal.

O referido Estatuto está dividido em 7 títulos e, alguns

desses, subdivididos em capítulos, num total de 118 artigos. Este tem como

objetivo promover a inclusão social do idoso e dispõe à sua proteção integral,

garantindo-lhe direitos e estipulando deveres aos cidadãos, vez que institui

penas severas para os que desrespeitarem ou abandonarem pessoas com

mais de 60 anos no Brasil. Discriminação, maus tratos e negligência serão

punidos com penas que chegam a 12 anos de reclusão.

O Código Penal Brasileiro de 1940, em sua edição original

empregava para a qualificação do sujeito passivo do crime o termo “velho”

referindo-se a circunstância agravante genérica149, ou ainda, “maior de setenta

anos”, quando mencionava a idade como atenuante genérica150 ou causa de

redução dos prazos prescricionais, conforme lembra Damásio de Jesus151.

Existem artigos do Estatuto do Idoso em que o legislador

indica o idoso como pessoa de idade “igual ou superior a 60 (sessenta) anos152”

e outros em que o idoso é qualificado como “pessoa maior de 60 (sessenta)

anos153”. Damásio de Jesus esclarece importância desta desigualdade:

No dia do aniversário o sujeito tem idade igual a 60 (sessenta) anos; no dia posterior, já é maior de 60 (sessenta). Desta forma, se o sexagenário vier a ser vítima de homicídio doloso no dia seguinte ao seu aniversário, incidirá a causa de aumento de pena do art. 121 § 4°, segunda parte do CP. Se, contudo, for feriado na data em que completa 60 anos, morrendo no dia posterior, quando já era maior de 60, o autor não sofrerá agravação de pena, uma vez que, aplicada a teoria da atividade na questão do tempo do crime, não era maior de 60 anos no momento da agressão.

149 Art. 61, II, h do Código Penal Brasileiro (alterado pela Lei 10.741 de 2003).150 Arts. 65, I e 115 do Código Penal Brasileiro (alterado pela Lei 10.741 de 2003).151 JESUS, Damásio de. Revista Síntese de Direito Penal e Processual Penal. Porto Alegre:

Síntese, v.5, n. 25, abr./mai., 2004, p. 05.152 Arts. 96 a 104 do Estatuto do Idoso (Lei 10.741/03); 183, III do Código Penal Brasileiro; 18,

III da Lei 6.368/76.153 Arts. 61, II, h; 121 § 4°, parte final; 133, § 3°, III; 141, IV; 148, § 1°, I; 159, §1°; e 244 todos

do Código Penal Brasileiro.

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Jesus menciona o referido tema porque ele é relevante na

prática, vez que depende dele a existência do crime, a presença de

qualificadoras, causas de aumento de pena, agravante genérica ou a extinção

de punibilidade. Porém, acredita que não há motivos para que o legislador

indique o idoso por vezes como pessoa com idade igual ou superior a sessenta

anos e outras como pessoa maior de sessenta anos. O mesmo autor atribui a

diferença a um simples descuido do legislador na elaboração do Estatuto e

acredita que se a legislação pretende proteger especialmente o idoso, deve ser

considerado o conceito que mais o favorece, desta forma, Jesus154 traz à baila:

O conceito que mais favorece o sujeito passivo do crime que é o referente à idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. De modo que, nos casos em que, as leis mencionam o idoso como o maior de 60 (sessenta) anos, estendendo o âmbito da norma, cumpre incluir o de idade igual a 60 (sessenta) anos.

Portanto, conforme o autor conclui e prevê o artigo 1° do

Estatuto do Idoso, é considerada idosa na legislação brasileira a pessoa de

idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.

3.2 DIREITOS ASSEGURADOS AO IDOSO

O Capítulo II da Lei 10.741 de outubro de 2003 dispõe

acerca dos direitos fundamentais da pessoa com mais de 60 anos no Brasil

que são o direito à vida, à liberdade, ao respeito e à dignidade, à alimentos, à

saúde, à educação, cultura, esporte e lazer, à profissionalização e ao trabalho,

à previdência social, à assistência social, à habitação e ao transporte.

3.2.1 Do direito à vida

O direito à vida é fundamental e próprio do homem. O

idoso deve ser valorizado pela família, sociedade e instituições sendo que

estes devem dar especial atenção para que os idosos desfrutem de uma boa

qualidade de vida, pois de nada adianta crescer a expectativa de vida sem

dignas condições existenciais. É por este motivo que o Estado deve garantir

154 JESUS, Damásio de. Revista Síntese de Direito Penal e Processual Penal, p. 08.

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um envelhecimento saudável ao idoso, assegurado por meios de políticas

públicas e sociais.

3.2.2 Da liberdade, respeito e dignidade

A dignidade, a liberdade e o respeito constituem direitos

fundamentais e de cidadania, assegurados não apenas no Estatuto do Idoso,

mas também na Constituição da República Federativa do Brasil.

O estatuto se refere à liberdade do idoso com àquela de

locomoção, de participação na família e na comunidade, de opinião e

expressão, de crença religiosa e de buscar refúgio ou orientação. Abreu Filho155

explana o porquê a liberdade do idoso tem características peculiares:

O relacionamento do idoso com o mundo se caracteriza pelas dificuldades adaptativas, tanto emocionais quanto fisiológicas. Em sua performance ocupacional e de valores e a disposição geral para o relacionamento afetivo, além de se verem cerceados muitos dos seus direitos à liberdade, ao respeito e à dignidade.

A garantia da liberdade ao grupo em questão pressupõe

seu reconhecimento como cidadão de direitos civis, políticos, individuais,

sociais e culturais em sua mais ampla concepção, vez que esta está liga à

auto-estima e qualidade de vida do indivíduo, o que interliga o direito à

liberdade ao direito ao respeito e à dignidade.

O idoso deve ter a faculdade de buscar refúgio, auxílio e

orientação aonde bem entender e ser independente familiar e socialmente.

Faz-se necessário refletir na hipótese de o idoso não querer ou não poder

desfrutar do aconchego da família, tendo necessidade de integrar-se numa

comunidade de pessoas da mesma idade ou de interesse comum. Trata-se de

questão ligada à faculdade do indivíduo de se internar numa clínica e do

Estado de ensejar a instalação dessas entidades.

155 ABREU FILHO, Hélio. Comentários sobre o Estatuto do Idoso. Brasília: Secretaria Especial dos Direito Humanos, 2004, p. 83.

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3.2.3 Do direito à saúde

Prevê o artigo 15 da Lei 10.741 de outubro de 2003:

Art. 15. É assegurada a atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do Sistema Único de Saúde – SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em conjunto articulado e contínuo das ações e serviços, para a prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde, incluindo a atenção especial às doenças que afetam preferencialmente os idosos.

No que diz respeito à saúde, o atendimento ao idoso é

realizado por intermédio do Sistema Único de Saúde (SUS), que, em face do

previsto no art. 15156, está obrigado a dispor de profissionais com

especialização nas áreas de geriatria e gerontologia social.

O referido artigo também prevê que os idosos deverão ter

preferência no SUS no tratamento e na prevenção de doenças e a garantia no

recebimento gratuito de remédios, em especial os de uso freqüente, bem como

próteses, órteses entre outros recursos destinados à habilitação e reabilitação

do idoso. Em relação a isso Albuquerque157 comenta:

Novamente, aqui, o princípio da integralidade se manifesta, pois ele é garantia de que o idoso ter direito a receber do SUS todas as ações de saúde das quais necessitar para o êxito do seu tratamento, seja na seara da prevenção, da promoção ou recuperação de seu estado de saúde.

É assegurado também no § 4° do referido artigo,

atendimento especializado aos maiores de 60 anos que tenha limitação em sua

capacidade ou aos portadores de qualquer deficiência. O sexagenário também

tem direito a acompanhante na internação.

Cabe ressaltar que o estatuto não faz menção em relação

a hipossuficiência financeira da classe como condição para o recebimento de

156 BRASIL. Lei 10.741/2003, art. 15.157 Iara Maria Pinheiro de Albuquerque apud PINHEIRO, Naide Maria. O Estatuto do Idoso

Comentado, p.133.

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medicamentos e de outras vantagens dispostas no artigo 15° basta comprovar

idade igual ou superior a sessenta anos158.

Concernente aos planos de saúde, o Estatuto do Idoso

determinou a proibição de discriminação dos idosos em razão da idade,

disposto no parágrafo 3° do art. 15, ou seja, foi proibido o reajuste dos planos

de saúde em razão da idade.

3.2.4 Da educação, cultura e lazer

Dispõe o artigo 20 do Estatuto do Idoso:

Art. 20. O idoso tem direito a educação, cultura, esporte, lazer, diversões, espetáculos, produtos e serviços que respeitem sua peculiar condição de idade.

O homem tem necessidade de desfrutar do lazer e para a

garantia destes direitos, o estatuto prevê alguns privilégios para facilitar o

acesso deste grupo social à programas de entretenimento. Um exemplo disso é

o abatimento de 50% em ingressos de eventos culturais, artísticos, esportivos e

de lazer e acesso preferencial a estes locais.

O governo brasileiro também idealizou o incentivo à

universidades para idosos e o apoio para matérias didáticos com conteúdos de

interesse de pessoas idosas, bem como adequação para que estes facilitem a

leitura dos que tem reduzida a sua capacidade visual.

3.2.5 Da profissionalização e do trabalho

O trabalho é um direito fundamental da pessoa

humana159, independente do avanço de seu tempo de vida. Assim sendo, o

idoso tem direito ao exercício de atividade profissional, porém, as condições de

trabalho devem ser compatíveis com as condições da pessoa idosa por ser

esta portadora de um maior tempo de vida: condição natural e inafastável

158 Informações colhidas na internet: BRAGA, Pérola Melissa Vianna. O idoso tem direito a receber gratuitamente seus medicamentos. Disponível em: < http://direitodoidoso.braslink.com/pdf/Artigo_5direitogratuidademedicamentos.pdf>. Acessado em 13.09.2007.

159 Artigo 6° da CRFB/88.

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inerente a todo ser humano. Medeiros160 explica quais condições devem ser

respeitadas:

(...) as condições físicas, que impedem a designação de tarefas que imponham desmesurada ou desproporcional carga de esforço e movimentos; as condições intelectuais, que proíbe serviços que impliquem conhecimentos ou técnicas de complexidade incompatíveis com a capacidade pessoal; as condições psíquicas, que vedam atividades que acarretem inadequada pressão psicológica, intensas situações de estresse ou carga emocional acima de limites razoáveis.

O estatuto veda a discriminação e fixação de limite de

idade, inclusive em concursos, salvo nos casos em que a natureza do cargo

assim exigir. Nos concursos, para ingressar nas empresas que prestam

serviços públicos, o critério de desempate deverá ser a idade, eis que deverá

ser dada preferência àquele com maior idade.

3.2.6 Da previdência social

Na previdência social faz-se proveitoso mencionar o

estudo da consultora legislativa David161 em relação aos dispositivos do

Estatuto do Idoso:

(...) os critérios de reajuste devem preservar o valor real dos benefícios de aposentadoria e pensão; a aposentadoria por idade será concedida, mesmo após a perda da “qualidade de segurado”, desde que o tempo de contribuição corresponda ao período de carência (15 anos); não havendo comprovantes das contribuições pagas a partir de julho de 1994, o benefício terá o valor de 01 (um) salário mínimo; os benefício pagos com atraso, por responsabilidade da Previdência Social, serão atualizados pelos índices de reajustamento dos demais benefícios(...)

160 Xisto Tiago de Medeiros Neto apud PINHEIRO, Naide Maria. O Estatuto do Idoso Comentado, p.187.

161 DAVID, Ednalva Maria Guimarães Farias de. Estatuto do Idoso – Pontos Fundamentais. Disponível em: <http://www2.camara.gov.br/internet/publicacoes/estnottec/tema5/pdf/2003_4951.pdf>. Acessado em 19.09.2007.

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A data base do reajuste dos benefícios (aposentadoria e

pensão) incidirão na mesma data do reajuste do salário mínimo, ou seja, 1° de

Maio. No entanto, o percentual do benefício será definido em regulamento.

O salário mínimo é estipulado pela Lei Orgânica da

Assistência Social – LOAS. Para solicitá-los, os idosos que não possuam

condições de prover seu próprio sustento, nem tê-lo provido pela família,

devem contar com a idade de 65 (sessenta e cinco anos). Tal benefício é

denominado como BPC – Benefício de Prestação Continuada, já previsto no

artigo 42 do Decreto Federal n° 1.744/95162.

3.2.7 Da assistência social

No âmbito da assistência social, aos maiores de sessenta

e cinco anos que estejam impossibilitados de prover sua mantença e cujos

familiares não tenham condições de proporcioná-la, a Lei 10.741/03 assegura o

benefício de um salário mínimo mensal. O referido auxílio cessa com a morte

do beneficiário.

O referido diploma legal também determina que aos

adultos ou núcleos familiares que ampararem idosos que estejam em

circunstâncias de risco social163, caracterizará a dependência econômica.

3.2.8 Da habitação

É garantido ao idoso moradia digna, preferencialmente

juntamente à sua família. Na ocasião de o idoso residir em instituição pública

ou privada, estas devem ser próprias para a habitação164. Os idosos terão

prioridade nos programas habitacionais, públicos ou subsidiados com recursos

públicos165, tendo reserva de 3% (três por cento) das unidades residenciais

162 BRASIL. Decreto Federal n° 1.744/95. Regulamenta o benefício de prestação continuada devido à pessoa portadora de deficiência e ao idoso, de que trata a Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, e dá outras providências.

163 “Entende-se por ‘situação de risco social’ aquela em que o idoso se encontra vulnerável diante do abandono, de maus tratos, fome, vícios, doenças, entre ouras carências”. (Uliana Lemos de Paiva, apud PINHEIRO, Naide Maria. O Estatuto do Idoso Comentado, p. 233).

164 § 3° do art. 37 da Lei 10.741/2003.165 Art. 38, caput, da Lei 10.741/2003.

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para atendimento. Devem ser implantados equipamentos urbanos voltados aos

idosos e eliminadas barreiras que dificultem a acessibilidade do idoso a

qualquer local. Ficam asseguradas também condições de financiamento

compatíveis com os rendimentos de aposentadoria e pensão166.

3.2.9 Do transporte

Relativo ao transporte, os maiores de 65 (sessenta e

cinco anos) passaram a ter acesso gratuito ao transporte coletivo público

urbano e semi-urbano, basta que a pessoa idosa apresente qualquer

documento que faça prova de sua idade167. Os referidos veículos devem

reservar dez por cento dos acentos preferencialmente para os idosos,

devidamente identificados. Conforme prevê o parágrafo 3° do art. 39 do

estatuto, para os indivíduos com idade entre 60 (sessenta) e 65 (sessenta e

cinco) anos, ficará a critério da legislação local dispor sobre as condições para

o exercício da gratuidade.

No caso das linhas intermunicipais e interestaduais, estas

deverão reservar duas vagas por veículo para que os que contarem com idade

igual ou superior a sessenta anos, com renda igual ou inferior a dois salários

mínimos utilizem-nas gratuitamente, conforme dispõe o artigo 40 do Estatuto.

E, para os que excederem as duas reservas e perceberem igual renda terão

desconto de no mínimo 50% (cinqüenta por cento),

Diferente do que estabeleceu o artigo 40 do estatuto, a lei

que o regulamenta (Decreto n° 5.934168, de outubro de 2006) oferece uma

vantagem que é a definição de pessoa idosa aquela com idade igual ou

superior a sessenta anos.

Outra vantagem é a regulamentação da solicitação de

comprovante de renda igual ou inferior a dois salários mínimos, o que acaba

por privilegiar àqueles de renda financeira desfavorável.

166 Art. 38 e incisos I, II, III e IV da Lei 10.741/2003.167 Artigo 39 da Lei 10.741/2003.168 BRASIL. Decreto n° 5.934/2006. Estabelece mecanismos e critérios a serem adotados na

aplicação do disposto no art. 40 da Lei no 10.741, de 1o de outubro de 2003 (Estatuto do Idoso), e dá outras providências.

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Porém, no decorrer desta lei, há uma desvantagem para

com os idosos. Estabelece o § 2° do art. 3°169:

§ 2o O idoso, para fazer uso da reserva prevista no caput deste artigo, deverá solicitar um único “Bilhete de Viagem do Idoso”, nos pontos de venda próprios da transportadora, com antecedência de, pelo menos, três horas em relação ao horário de partida do ponto inicial da linha do serviço de transporte, podendo solicitar a emissão do bilhete de viagem de retorno, respeitados os procedimentos da venda de bilhete de passagem, no que couber.

Conforme anota Pontieri170, a condição imposta para a

compra das passagens interestaduais de certa forma restringe o direito do

idoso, vez que quando este necessitar fazer uma viagem com urgência, terá

que se submeter ao aguardo do próximo veículo ou ao pagamento do valor

integral da passagem.

Desta forma complementa Pontieri171:

Condicionar o idoso a fazer uso da reserva do “Bilhete de Viagem do Idoso”, com antecedência de, pelo menos, três horas em relação ao horário de partida do ponto inicial da linha do serviço de transporte, é o mesmo que colocá-lo em desvantagem, ferindo a absoluta prioridade disciplinada no artigo 3º da lei nº 10.741/03 – “é obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do poder público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária”.

Os direitos do idoso são garantidos por lei federal, mas

incumbe também a cada indivíduo contribuir para sua efetiva aplicação,

incentivando-os, apoiando e protegendo os idosos.169 Decreto n° 5.934/2006.170 PONTIERI, Alexandre. Estatuto do Idoso – Lei n° 10.741 e Transporte Interestadual de

Passageiros. Disponível em: <http://sisnet.aduaneiras.com.br/lex/doutrinas/arquivos/transp-idosos.pdf>. Acessado em 13.09.2007.

171 PONTIERI, Alexandre. Estatuto do Idoso – Lei n° 10.741 e Transporte Interestadual de Passageiros. Disponível em: <http://sisnet.aduaneiras.com.br/lex/doutrinas/arquivos/transp-idosos.pdf>. Acessado em 13.09.2007.

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3.3 MEDIDAS DE PROTEÇÃO AO IDOSO

Ao prever a proteção integral à população idosa, o

Estatuto exige do poder público e da sociedade ações efetivas voltadas à

garantia de todos os direitos assegurados na Constituição e nas leis às

pessoas idosas172.

Para regulamentar a proteção integral aos idosos e

melhor difundir a necessidade de assegurar a estes a proteção especial, o

estatuto instituiu as medidas de proteção. Pinheiro173 explana:

(...) o estatuto instituiu medidas de proteção voltadas para aquelas pessoas sempre que os direitos a elas assegurados forem ameaçados ou violados por ação ou omissão da sociedade ou do Estado, por falta, omissão ou abuso da família, curador ou entidade de atendimento, bem assim, em razão da própria condição pessoal do idoso.

Portanto, fica claro que as medidas de proteção ao idoso

visam proteger o idoso quando da violação de seu direito e que estas devem

ser aplicadas sempre que os direitos nela reconhecidos forem ameaçados ou

violados, seja por ação ou omissão da sociedade ou do Estado, seja por

omissão ou abuso da família, curador ou da entidade de atendimento ou, ainda,

em razão de condições especiais da condição do idoso174. Nestas

circunstâncias o Ministério Público deve intervir imediatamente para a proteção

do idoso que encontrar-se em situação de risco.

3.4 AS POLÍTICAS DE ATENDIMENTO AO IDOSO

Utilizando-se o paradigma do Estatuto da Criança, a

Política de Atendimento ao Idoso é definida por Costa como175:

172 Expressões retiradas de: PINHEIRO, Naide Maria. O Estatuto do Idoso Comentado, p. 279.

173 Rossana Campos Cavalcanti Pinheiro apud PINHEIRO, Naide Maria. O Estatuto do Idoso Comentado, p. 279.

174 Lei 10.741/2003, art. 43, inc. I, II e III da Lei 10.741/03.175 Antônio Carlos Gomes Costa apud ABREU FILHO, Hélio. Comentários sobre o Estatuto

do Idoso, p. 42.

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A estrutura de leis, propósitos, compromissos, princípios e valores que presidem a estrutura e o funcionamento do ramo social do Estado no âmbito da satisfação das necessidades básicas do cidadão.

Ou seja, o Estado tem como propósito atender o cidadão

em suas necessidades fundamentais e é representado pelos conselhos sociais

que administram estas funções para a garantia de políticas sociais básicas,

bem como o atendimento às vítimas de negligência, maus tratos, exploração,

abuso, crueldade e opressão entres outros.

Com efeito, transcreve-se o artigo 46 da Lei 10.741/03:

Art. 46. A política de atendimento ao idoso far-se-á por meio do conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

Este dispositivo deixa claro que as ações em favor do

idoso devem ser realizadas não apenas pelo Estado, mas também por toda a

sociedade através das organizações não-governamentais, como os abrigos e

as associações de defesa dos idosos, que têm personalidade jurídica de direito

privado176.

O artigo em comento determina ainda que a política de

atendimento ao idoso seja implementada por órgãos, governamentais e não-

governamentais. Acerca disto, o promotor Freire177 registra:

(...) assim, o legislador preceitua a cooperação entre entes estatais e pessoas jurídicas de direito privado que incluam entre suas finalidades a assistência aos idosos, o que poderá ser feito através de convênios, para permitir o intercâmbio de informações e adoção de ações em conjunto destinadas a garantir o cumprimento do estatuto. (...) Tanto as entidades governamentais como as não-governamentais estão sujeitas à fiscalização pelos Conselhos do Idoso, Ministério Público, Vigilância Sanitária e outros órgãos, conforme previsto no art.

176 PINHEIRO, Naide Maria. O Estatuto do Idoso Comentado, p. 292-293.177 Anderson Ricardo Fernandes Freire apud PINHEIRO, Naide Maria. O Estatuto do Idoso

Comentado, p. 293.

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52178. Tais entidades, em caso de descumprimento de suas obrigações, poderão sofrer as penalidades enumeradas pelo art. 55.

Transcreve-se, porque oportuno, o artigo 47, inciso I da

Lei 10.741/2003.

Art. 47. São linhas de ação da política de atendimento:

I – políticas sociais básicas, previstas na Lei no 8.842, de 4 de janeiro de 1994;

As ações governamentais da Lei 8.842/94 são expressas

de forma genérica, funcionando, na maioria das vezes, como normas

programáticas, que penas estabelecem uma orientação para a administração

pública no que tange à adoção de medidas voltadas para as necessidades

específicas dos idosos179.

Conforme já comentado, o que muito difere a PNI do

Estatuto do Idoso é a sua eficácia, eis que o estatuto tem determinações

específicas, acompanhadas de sanções para os que descumprirem o que a lei

determina.

Pode-se embasar no art. 10, inc, V, “c” da PNI, onde está

dito que a administração pública deve “elaborar critérios que garantam o

acesso da pessoa idosa à habitação popular”. Se os órgãos governamentais

não fixassem esses critérios, os idosos simplesmente não teriam nenhum

acesso diferenciado à habitação popular. Já o estatuto estabeleceu que, nos

programas habitacionais públicos ou subsidiados com recursos públicos, é

garantida uma reserva de 3% (três por cento) das unidades residenciais para

atendimento aos idosos (art. 38, I). Assim sendo, através da reserva de

178 Lei 10.741/2003, art. 52: As entidades governamentais e não-governamentais de atendimento ao idoso serão fiscalizadas pelos Conselhos do Idoso, Ministério Público, Vigilância Sanitária e outros previstos em lei.

179 Expressões retiradas de: PINHEIRO, Naide Maria. O Estatuto do Idoso Comentado, p. 294.

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unidades, fica assegurada a prioridade do acesso do idoso à habitação, sem

necessidade de regulamentação posterior180.

As normas de controle das entidades de atendimento ao

idoso são minuciosas no estatuto, sejam elas públicas ou privadas. Este

cuidado se dá com o intuito de coibir a violação de direitos dos idosos

internados ou não.

Desta forma, observa-se que as medidas concretas

previstas na Lei 10.741/2003 representam um grande avanço, no sentido de

tornar efetivas as políticas sociais básicas que a PNI apenas estabelecia como

orientação para a administração pública.

O art. 47 da mencionada lei, em seus incisos, ainda

prevê:

II - políticas e programas de assistência social (disciplinada de forma detalhada nas LOAS), em caráter supletivo, para aqueles que necessitarem;

III - serviços especiais181 de prevenção e atendimento às vítimas de negligência, maus tratos, exploração, abuso crueldade e opressão;

IV - serviço de identificação e localização de parentes ou responsáveis por idosos abandonados em hospitais e instituições de longa permanência;

V - proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos dos idosos;

VI - mobilização da opinião pública no sentido se participação dos diversos segmentos da sociedade no atendimento do idoso.

180 Exemplo extraído de PINHEIRO, Naide Maria. O Estatuto do Idoso Comentado, p. 294.181 “A expressão serviços especiais de prevenção e atendimento compreende os diversos tipos

de atendimentos necessários aos idosos, como o psicológico, o social, o de saúde e o jurídico, por exemplo, sendo importante uma atuação em conjunto de diferentes órgãos estatais e entidades da sociedade civil, como Secretarias de Estado e Municipais, hospitais, Ministério Público, associações de defesa de idosos entre outros, com o desiderato de promover a proteção da vítima em todos os aspectos” (PINHEIRO, Naide Maria. O Estatuto do Idoso Comentado, p. 296).

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O serviço de identificação disposto no inc. IV é de

fundamental importância para evitar que idosos, que possuem família sejam

encaminhados para abrigos ou outras entidades, especialmente para dar

cumprimento ao art. 3°, § único, V, que determina a priorização do atendimento

do idoso por sua própria família.

A proteção jurídico-social prevista no inc. V significa182:

(...) o oferecimento de serviços que permitam às pessoas de 60 (sessenta) anos ou mais satisfazerem plenamene suas diversas necessidades, como educação, cultura, lazer, entre outros, além de defesa de direitos quando estes forem ameaçados.

De acordo com o art. 81, IV183, as mencionadas

associações têm legitimidade para propor ações cíveis fundadas em interesses

difusos, coletivos e individuais indisponíveis ou homogêneos, eis que,

legalmente constituídas há pelo menos um ano.

No inciso VI, o legislador teve intenção de conscientizar a

sociedade em relação aos direitos dos idosos para garantir-lhes atendimento

adequado em diferentes áreas, como saúde transporte, lazer, entre outros. Tal

mobilização pode ser feita através de campanhas veiculadas na televisão, bem

como promoção de cursos e seminários que abordem questões relativas ao

envelhecimento184.

As entidades responsáveis pelo atendimento ao idoso

devem providenciar a inscrição no Conselho Municipal do Idoso e na Vigilância

Sanitária e cumprir os seguintes requisitos: instalações físicas em condições de

habitabilidade, higiene, salubridade e segurança; preceituar os objetivos em

182 PINHEIRO, Naide Maria. O Estatuto do Idoso Comentado, p. 296.183 Lei 10.741/2003, art. 81: Para as ações cíveis fundadas em interesses difusos, coletivos,

individuais indisponíveis ou homogêneos, consideram-se legitimados, concorrentemente:

(...)

IV – as associações legalmente constituídas há pelo menos 1 (um) ano e que incluam entre os fins institucionais a defesa dos interesses e direitos da pessoa idosa, dispensada a autorização da assembléia, se houver prévia autorização estatutária.

184 Expressões retiradas de: PINHEIRO, Naide Maria. O Estatuto do Idoso Comentado, p. 299.

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estatuto e estar regularmente constituída; apresentar planos de trabalho

compatíveis com a Lei 10.741/03; manter o idoso na mesma instituição, salvo

por força maior; atender individualmente e em pequenos grupos; preservar os

vínculos familiares; diligenciar a saúde; atividades educacionais, esportivas,

culturais e de lazer; assistência religiosa aos interessados; participação nas

ações comunitárias entre outros previstos nos artigos 48 a 51 da Lei 10.741/03.

A fiscalização das entidades de atendimento fica a cargo

dos Conselhos do Idoso, da Vigilância Sanitária e do Ministério Público. As

prestações de contas dos recursos públicos e privados recebidos pela entidade

devem ser públicas e em caso de descumprimento do que previsto no estatuto

as entidades podem sofrer as penalidades administrativas ou judiciais.

3.5 DO ACESSO À JUSTIÇA

Ao idoso é assegurada a prioridade na tramitação de

processos, procedimentos, execução de atos e diligencias judiciais em que

figure como parte o idoso ou pessoa que intervenha por ele. Em caso de morte

do beneficiado, a prioridade não cessará se o cônjuge ou companheiro contar

mais de sessenta anos de idade185.

Transcreve-se o artigo 70 do Estatuto do Idoso:

Art. 70. O Poder Público poderá criar varas especializadas e exclusivas do idoso.

É facultada ao Poder Público a implantação de varas

especializadas e exclusivas ao idoso. Para a garantia da prioridade no

atendimento ao idoso, este deverá ter fácil acesso aos assentos e caixas, os

quais devem ser devidamente identificados186.

Nesta esteira, Alencar187:

185 Lei 10.741/2003, art. 71, caput e § 2°.186 Lei 10.741/2003, art. 71, § 4°.187 Rosmar Antonni Rodrigues Cavalvanti Alencar apud PINHEIRO, Naide Maria. O Estatuto

do Idoso Comentado, p. 339.

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(...) é bem-vinda a disposição em análise, especialmente por funcionar como recomendação ao poder público – levando em conta o crescente número de pessoas idosas no Brasil -, não se olvidando, de outro prisma, que se cuida de experiência com bons resultados em outras áreas especializadas, da justiça comum, como as já existentes varas da infância e da juventude, sendo exato asseverar que a esperada criação de varas especializadas em direito do idoso, através de intervenção positiva do Estado, será efetivo meio para garantir-se acesso à justiça à pessoa com 60 (sessenta) anos de idade ou mais.

3.6 DO MINISTÉRIO PÚBLICO

O Ministério Público tem o dever de atuar nas ações de

concernentes ao idoso, devendo instaurar Ação Civil Pública, atuar como

substituto processual, promover e acompanhar as ações de alimentos,

instaurar procedimento administrativo e sindicâncias, requisitar a instauração

de inquérito policial, inspecionar entidades de atendimento ao idoso entre

outros dispostos nos artigos 73 a 77 do estatuto.

Na proteção judicial aos interesses difusos, coletivos ou

individuais, relativamente aos idosos, têm legitimidade para a propositura da

ação o Ministério Público, a União, os Estados, o Distrito Federal e os

Municípios, a Ordem dos Advogados do Brasil e as associações que tenha por

finalidade a defesa dos direitos dos idosos188.

3.7 DELITOS CONTRA O IDOSO

Mais abrangente que a Política Nacional do Idoso, o

Estatuto do Idoso considera os mais velhos como prioridade absoluta,

estabelece como dever de todos prevenir a ameaça ou violação aos direitos

188 DAVID, Ednalva Maria Guimarães Farias de. Estatuto do Idoso – Pontos Fundamentais. Disponível em: <http://www2.camara.gov.br/internet/publicacoes/estnottec/tema5/pdf/2003_4951.pdf>. Acessado em 19.09.2007.

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dos idosos e institui penas aplicáveis a quem desrespeitar ou abandonar

cidadãos idosos.

O Título VI do Estatuto trata dos crimes contra o idoso e

prevê as formas de violação aos direitos dos idosos. O artigo 93 inicia por

asseverar aplicáveis subsidiariamente as disposições da Lei nº 7.437/85, que

inclui entre as contravenções penais os atos resultantes à discriminação.

Aos crimes previstos no estatuto em que a pena privativa

de liberdade não ultrapassar quatro anos, é aplicado o mesmo procedimento

dos Juizados Especiais Criminais189 e subsidiariamente as disposições do

Código Penal e Código de Processo Penal.

O Capítulo II do Título VI do Estatuto trata dos crimes

contra o idoso e prevê como infração de direitos:

a) discriminar o idoso em operações bancárias, nos meios

de transporte, no direito de contratar ou outro meio de exercício da cidadania,

bem como desdenhar, humilhar, menosprezar ou discriminar o idoso.

Pena: reclusão de seis meses a um ano e multa; caso a

vítima se encontre aos cuidados do agente será aumentado um terço da pena;

b) deixar de prestar assistência ao idoso em situação de

iminente perigo; recusar ou dificultar a assistência à saúde, sem justa causa,

ou não pedir socorro da autoridade pública.

Pena: detenção de seis meses a um ano e multa; se

resultar em lesão corporal grave será aumentada a metade da pena e triplicada

se resultar em morte;

c) abandonar o idoso em hospitais ou entidades de

abrigo, ou não prover suas necessidades básica.

Pena: detenção de seis meses a três anos e multa;

189 BRASIL. Lei n° 9.099, de 16 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências.

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d) expor a perigo a integridade e a saúde do idoso,

submetendo-o a condições desumanas ou degradantes, privando-o de

alimentos e cuidados indispensáveis, quando obrigado a fazê-lo.

Pena: detenção de dois meses a um ano e multa; se

resultar lesão corporal grave: reclusão de um a quatro anos, se resultar em

morte: reclusão de quatro a doze anos;

e) obstar o acesso a cargo público, negar emprego,

recusar ou dificultar o atendimento à saúde sem justa causa, deixar de cumprir

ou retardar ordem judicial expedida na ação civil, recusar ou omitir dados

técnicos requisitados pelo Ministério Público.

Pena: reclusão de seis meses a um ano e multa;

f) apropriar-se de ou desviar bens, proventos, pensão ou

qualquer rendimento do idoso.

Pena: reclusão um a quatro anos e multa;

g) negar acolhimento em entidade de atendimento, por

recusa deste em outorgar procuração à entidade.

Pena: detenção de seis meses a um ano e multa;

h) reter cartão magnético de conta bancária relativa a

benefícios, proventos ou pensão do idoso com o objetivo de assegurar o

pagamento de dívida.

Pena: detenção de seis meses a dois anos e multa;

i) exibir ou veicular informações ou imagens depreciativas

ao idoso.

Pena: detenção de um a três anos e multa;

j) induzir a outorga de procuração, por idoso sem

discernimento, para fins de administração ou disposição de bens.

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Pena: reclusão de dois a quatro anos;

k) coagir o idoso a doar, contratar, testar ou outorgar

procuração.

Pena: reclusão de dois a cinco anos;

l) lavrar ato notarial que envolva idoso sem discernimento

sem a devida representação legal.

Pena: reclusão de dois a quatro anos;

m) impedir ou embaraçar ato ministerial ou de outro

agente fiscalizador.

Pena: reclusão de seis meses a um ano e multa;

Como se pode observar, a maioria das penas do estatuto

variam de seis meses a um ano de detenção ou reclusão e multa, com exceção

dos crimes de apropriação de proventos, retenção de cartão bancário, coação

do idoso para doar, testar, contratar ou outorgar procuração que são punidos

com mais rigor, que tem penas que variam de seis meses a cinco anos. Além

de aumento de pena quando o crime resulta lesão corporal grave (reclusão de

1 a 4 anos) ou morte (reclusão de 4 a 12 anos).

Ainda, nas disposições finais e transitórias, são

promovidas alterações no Código Penal190, na Lei de Contravenções Penais191,

na Lei da Tortura192, na Lei do Tráfico de Entorpecentes193 e na Lei de

Prioridade de Atendimento à Pessoas Específicas194.190 Decreto-Lei n° 2.848, de 1940: arts. 61, 121, 133, 140, 141, 148, 159, 183 e 244, referentes

às circunstâncias agravantes, aos crimes de homicídio, de abandono de incapaz, de injúria, de seqüestro e cárcere privado, de extorsão mediante seqüestro, à penalização de cônjuge, ascendente ou descendente, nos crimes contra o patrimônio, e ao crime de abandono material.

191 Lei n° 3.688/41, art. 21, concernente ao aumento de pena em caso de prática de vias de fato (briga em que não sejam constatadas lesões corporais) contra idoso.

192 Lei n° 9.455, de 1997: art. 1°, § 4°, inc. II, relativo à prática de tortura cometida contra idoso.193 Lei ° 6.368 de 1976: art. 18, inc. III, caso de aumento de pena nos crimes definidos na

referida lei quando a vítima for pessoa idosa.194 Lei 10.048, de 2000: regulamenta que entre outras pessoas especificadas no artigo 1°, os

idosos tem atendimento prioritário no que determina a referida Lei.

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3.8 DA FIXAÇÃO DE ALIMENTOS À PESSOA IDOSA

Os idosos têm direito de receber alimentos, na forma da

lei civil195, dos filhos ou outros descendentes quando não tiverem meios

próprios de se manter ou quando os recursos não forem suficientes para a sua

sobrevivência.

Santos196 lembra que o Estatuto do Idoso empregou toda

a regulamentação e conceituação já existente no direito de alimentos prevista

no Código Civil (arts. 1.694 a 1.710), na Lei de Alimentos, na Constituição

Federal (art. 229) e do Código de Processo Civil (arts. 732 a 735 e 852 a 854).

3.8.1 Da solidariedade da obrigação alimentar da pessoa idosa

Para um melhor entendimento será feita uma breve

explanação sobre a evolução legislativa que disciplinou a obrigação alimentar,

firmando-se nos ensinamentos de Ribeiro197.

A autora lembra que, durante a vigência do CC/1916,

havia discussões acerca da questão jurídica da divisibilidade da obrigação

alimentar e da exigência de todos os coobrigados constarem no pólo passivo

da demanda. Elucida que haviam duas correntes e explica:

Para uma primeira corrente, era necessária a permanência de todos os prestadores da obrigação alimentar no pólo passivo da ação, existindo um litisconsórcio passivo necessário entre eles. Caso a parte autora se recusasse a promover a citação destes, o processo deveria ser extinto (art. 47, § único do CPC)198.

195 Lei 10.741/2003, art. 11.196 Luiz Felipe Brasil Santos apud DELGADO, Mário Luiz (coord.); FIGUEIREDO ALVES, Jones

(coord.). Questões Controvertidas no Novo Código Civil. São Paulo: Método, 2004, v. 2, p. 210.

197 Maria Danielle Simões Veras Ribeiro apud PINHEIRO, Naide Maria. O Estatuto do Idoso Comentado, p.122.

198 Esta posição podia ser exemplificada no acórdão ora transcrito:

ALIMENTOS – AÇÃO DE ALIMENTOS PROPOSTA PELA MÃE CONTRA UM DE SEUS FILHOS – Comprovado o "cerceamento de defesa", indiscutivelmente havido, é de ser anulada a sentença, bem como a audiência, impondo-se também a citação dos outros filhos da autora, como litisconsortes passivos necessários, já que, coexistindo vários filhos, todos sujeitos à obrigação alimentar para com sua genitora, eis que não se trata de obrigação

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(...)

De outra banda, tem uma segunda corrente que vem defendendo a inexistência de litisconsórcio passivo necessário, não se podendo obrigar o credor de alimentos a litigar contra quem ele não deseja, uma vez que a obrigação alimentar não é solidária, mas diante de sua divisibilidade, deve assumir o ônus por essa escolha, expondo-se ao risco de ver a pensão fixada apenas no montante correspondente à parte demandada, cabendo ao alimentado, para obter o todo, ingressar judicialmente contra os demais co-obrigados.

Referente à segunda corrente, Cahali199 colaciona:

Embora não se tratando de obrigação solidária, o credor não está impedido de ajuizar ação de alimentos apenas contra um dos coobrigados; sendo certo, porém, que, não se propondo à instauração do litisconsórcio facultativo impróprio entre devedores eventuais, sujeita-se ao autor às conseqüências de sua omissão.

Ribeiro200 lembra que integração dos demais coobrigados

busca beneficiar o próprio alimentário, posto que este deixaria de receber

apenas o montante correspondente à parte demandada, passando a obter a

totalidade da obrigação alimentar de todos os prestadores, na medida de suas

possibilidades para atender as necessidades existentes.

O artigo 1.698 do CC/2002 prevê:

Art. 1.698. Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver em condições de suportar totalmente o encargo, serão chamados a concorrer os de grau imediato; sendo várias as pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas devem concorrer na proporção dos respectivos recursos, e, intentada

solidária, em que qualquer dos co-devedores responde pela dívida toda (CC, art. 904), cumpre sejam todos eles citados. Acolhimento da alegação do "cerceamento de defesa", anulando-se a sentença e a respectiva audiência. (TJRJ – Ap. 5.501/89 (SJ) – Rel. Des. Francisco Faria – J. 04.09.1990) (RT 669/150) (RJ 175/80).

199 CAHALI, Yussef Said. Dos Alimentos, 4ª ed. rev. e ampl.. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002, p.152.

200 Maria Danielle Simões Veras Ribeiro apud PINHEIRO, Naide Maria. O Estatuto do Idoso Comentado, p.123.

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ação contra uma delas, poderão as demais ser chamadas a integrar a lide201.

Nota-se que o atual Código Civil solucionou a contenda

adotando a segunda corrente, eis que estabelece a possibilidade de o credor

optar por um dos coobrigados ou ingressar contra todos, não existindo

litisconsórcio passivo necessário.

Porém há uma diferença na obrigação alimentar quando

se trata de pessoa idosa. A Lei 10.741/03, diante do princípio da proteção

integral202 e do atendimento prioritário ao idoso203, estabelece a obrigação

alimentar solidária entre todos os prestadores, podendo o idoso optar entre os

prestadores. Assim preceitua o artigo 12 da Lei 10.741/2003:

Art. 12. A obrigação alimentar é solidária, podendo o idoso optar entre os prestadores.

Consoante esta faculdade, explana Ribeiro204:

Com isso, o idoso necessitado poderá exigir alimentos de qualquer um dos co-obrigados, optando pelo ingresso da ação de alimentos contra o cônjuge ou companheiro, ascendente (o que não é comum, pelo fato de o idoso não contar mais com este devido a idade), descendente (qualquer um dos filhos, netos e bisnetos) e irmãos (qualquer um, quer unilaterais ou germanos).

Na ação de alimentos ingressada pelo idoso, a parte ré

não poderá chamar os demais obrigados a integrar à lide. Maria Ribeiro

explica205:

201 Cahali alude que o artigo 1.698 do CC/2002 criou uma espécie de litisconsórcio facultativo, diante do fato de a obrigação alimentar não ser solidária, sendo diferenciada do litisconsórcio facultativo do CPC apenas o fato de ser requerido não a pedido da parte autora, mas sim da parte ré, única demandada.

202 Art. 2° da Lei 10.741/2003.203 PINHEIRO, Naide Maria. O Estatuto do Idoso Comentado, p.125.204 Maria Danielle Simões Veras Ribeiro apud PINHEIRO, Naide Maria. O Estatuto do Idoso

Comentado, p.125.205 Maria Danielle Simões Veras Ribeiro apud PINHEIRO, Naide Maria. O Estatuto do Idoso

Comentado, p.125-126.

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(...) primeiro porque a intervenção de terceiros não é admitida no rito sumário; segundo, pelo fato de não ser o artigo 1.698 do NCCB aplicado na ação alimentar ingressada pelo idoso, e sim o artigo 12 da Lei 10.741/2003; e terceiro, pelo fato de que o chamamento dos demais coobrigados para integrar à lide, nos termos do artigo 1.698 do NCCB, ter sido estabelecido em benefício do credor de alimentos, a fim de que este venha a receber a pensão total de modo a satisfazer as suas necessidades e não a quota-parte cabível ao réu acionado, o que não se faz necessário em sede de ação de alimentos em favor do idoso, em virtude desta já ser solidária, vindo este sempre ter o direito de receber a pensão total de qualquer um dos prestadores demandados.

O que difere a ação de alimentos da Lei 10.741/03 da

prevista no Código Civil é o fato de que a fundamentada pelo estatuto além do

idoso poder optar por qualquer dos prestadores que irá lhe fornecer alimentos

(filhos, netos, irmãos), poderá ainda exigir deste o valor total suficiente para

suprir as suas necessidades206, eis que a dívida alimentar do idoso é solidária.

Enquanto que na prestação alimentar prevista no CC, o parente escolhido pelo

alimentário, existindo outros coobrigados, será condenado apenas na

proporção de sua responsabilidade, devendo o credor de alimentos exigir o

complemento da obrigação alimentar dos demais prestadores com o ingresso

de outra ação.

No caso da prestação solidária, se existirem outros

coobrigados, pode o parente devedor entrar com ação regressiva contra os

demais coobrigados. É o que anota Ribeiro207:

Neste caso, diante da divisibilidade da obrigação alimentar, deve o parente de grau imediato chamado a suprir as necessidades do idoso, ingressar com ação regressiva contra os demais parentes coobrigados de mesmo grau, a fim de que também contribuam na proporção dos seus recursos. De igual forma, aplica-se em relação ao parente que está obrigado a prestar alimentos em primeiro lugar, a fim de este o reponha do

206 Maria Danielle Simões Veras Ribeiro apud PINHEIRO, Naide Maria. O Estatuto do Idoso Comentado, p.125.

207 Maria Danielle Simões Veras Ribeiro apud PINHEIRO, Naide Maria. O Estatuto do Idoso Comentado, p.125.

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montante mensal pago ao idoso ou, verificando-se que ele não teria condições de suportar o encargo total sozinho, venha a contribuir com a parcela que possa fornecer (direito de regresso proporcional).

Braga208, comenta que existem muitos idosos vivendo em

situação de total abandono enquanto seus filhos e demais parentes vivem em

situação muito confortável. E que muitos destes idosos tinham situação estável

e se despojaram de seus bens em benefício dos filhos esperando por um

amparo que nunca chega. Referente a esta situação Braga anota209:

(...) são estes casos que merecem atenção especial por dois motivos: primeiro porque a lei prevê que a família é a primeira e principal responsável pelo seu idoso, o Estado só deve atuar quando a família não existe ou é também carente e segundo porque cada vez que um idoso que tem uma família rica faz uso dos parcos recursos públicos isto significa que um idoso carente deixou de ser atendido.

A autora210 ainda comenta que na maioria das vezes em

que é procurada para intervir em casos de abandono de idosos, a família é

financeiramente afortunada. Muitas vezes o idoso doou aos filhos todo seu

patrimônio em vida para evitar problemas de divisão de bens depois de sua

morte e infelizmente em vários casos este acaba completamente abandonado

e sem assistência.

Conforme já comentado, é clara a regra da Obrigação

Alimentar: a necessidade do alimentando e possibilidade do alimentante. No

caso da família do idoso necessitado apresentar condições para o pagamento

de pensão, o idoso ou seu curador deverão ingressar com Ação de Alimentos

na Vara da Família e será fixado pelo Juiz um valor mensal. Se demonstrada a

208 BRAGA, Pérola Melissa Vianna. Os idosos e o direito a alimentos. Disponível em: <http://direitodoidoso.braslink.com/pdf/ARTIGO_4direitoalimentos.pdf>. Acessado em 13.09.2007.

209 BRAGA, Pérola Melissa Vianna. Os idosos e o direito a alimentos. Disponível em: <http://direitodoidoso.braslink.com/pdf/ARTIGO_4direitoalimentos.pdf>. Acessado em 13.09.2007.

210 BRAGA, Pérola Melissa Vianna. Os idosos e o direito a alimentos. Disponível em: <http://direitodoidoso.braslink.com/pdf/ARTIGO_4direitoalimentos.pdf>. Acessado em 13.09.2007.

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urgência, poderá o juiz fixar provisoriamente um valor, antes mesmo de ouvir

os filhos ou parentes. E caso o parente chamado não possuir condições

econômicas de cumprir a obrigação, serão chamados para concorrer os de

grau imediato, por exemplo, todos os filhos devem contribuir na mantença dos

pais, cada um na proporção que as sua condições permitirem211.

3.8.2 Das transações relativas a alimentos

O artigo 13 do Estatuto atribuiu ao Ministério Público a

responsabilidade de promover e acompanhar ações de alimentos em favor do

idoso em virtude de ser conferida proteção integral a este, conforme disposto

no artigo 74, inciso II, da Lei 10.741/03.

As transações relativas a alimentos celebradas perante o

Órgão do Ministério Público passarão a ter efeito de Título Executivo

Extrajudicial, o que possibilita a execução judicial direta, independentemente de

processo de conhecimento212.

O parágrafo único do artigo 57 da Lei 9.099/95213, já

permitia a atuação do Promotor de Justiça nas ações de alimentos em favor do

idoso, no entanto, a disposição expressa no artigo 13 do estatuto veio para dar

mais força, evidência e significado a ela, lembrando que esta não se restringe

ao idoso carente.

3.8.3 Do dever do Estado em relação aos idosos necessitados

No caso de a família da pessoa idosa também não prover

condições financeiras de fornecer os alimentos sem desfalque do necessário

ao seu próprio sustento, obviamente não será possível determinar que esta

preste pensão alimentícia ao idoso necessitado. Por este motivo, neste caso, o

211 BRAGA, Pérola Melissa Vianna. Os idosos e o direito a alimentos. Disponível em: <http://direitodoidoso.braslink.com/pdf/ARTIGO_4direitoalimentos.pdf>. Acessado em 13.09.2007.

212 Oscar Hugo de Souza Ramos apud PINHEIRO, Naide Maria. O Estatuto do Idoso Comentado, p. 392.

213 Brasil. Lei 9.099/95. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências.

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art. 14 do estatuto determina que o Estado seja o detentor deste encargo

social. Concernente ao referido artigo, Ribeiro214 tece algumas considerações:

(...) o provimento do sustento do idoso ocorrerá no âmbito da assistência social que se dará pelo Instituto Nacional da Seguridade Social – INSS, nos termos do artigo 34 do próprio Estatuto do Idoso e no artigo 2°, incisos I e V da Lei 8.742 de 7/12/93 (Lei Orgânica da Assistência Social), com o fornecimento mensal de 1 (um) salário mínimo a título de benefício previdenciário, mas apenas aos idosos a partir de 65 (sessenta e cinco) anos de idade.

Como se pode observar, o Estado fica obrigado a

amparar os idosos que não tenham condições de prover seu próprio sustento

de forma subsidiária. Em primeiro lugar são chamados cônjuges, companheiros

ou familiares para suprir-la, caso estes não possam fazê-la, a obrigação será

incumbida ao Estado.

214 Maria Danielle Simões Veras Ribeiro apud PINHEIRO, Naide Maria. O Estatuto do Idoso Comentado, p.127.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo investigar, à luz da

legislação, da doutrina e da jurisprudência, a Proteção Jurídica do Idoso,

Diante do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, e o seu Direito a

Alimentos. E, para seu desenvolvimento lógico, o trabalho foi dividido em três

capítulos, tratando entre eles da evolução histórica dos direitos humanos, do

instituto dos alimentos e do Estatuto do Idoso.

O primeiro capítulo tratou dos Direitos Humanos, que

visam garantir valores essenciais para que uma sociedade viva com dignidade,

liberdade, paz, justiça, bem estar e segurança. Ainda no referido capítulo é

dado destaque para o princípio da dignidade humana onde entende-se que

todo ser humano deve ter respeito absoluto diante dos demais membros da

sociedade, vez que este é titular de valor imprescindível.

Observou também o primeiro capítulo a grande

importância do idoso nas antigas culturas sendo mais valorizado, respeitado e

quão a idade era assinalada como fator de elevação no status social do

indivíduo. Foi apontada a cultura oriental que preserva este raciocínio e as

disposições constitucionais que protegem o idoso.

O segundo capítulo tratou acerca da evolução histórica do

instituto dos alimentos, ilustrando que este compreende tudo o que é

indispensável ao sustento, habitação e vestuário entre outras necessidades do

ser humano. Elucidou-se também que a obrigação alimentar não depende tão

somente da necessidade do alimentando com também das condições

financeiras para que haja possibilidade de o alimentante cumpri-la.

Foram demonstradas as diferenças entre a obrigação

alimentar em razão do sustento e socorro familiar e em razão do parentesco,

as formas de prestação alimentar e as conseqüências jurídicas para o devedor

que não cumprir tal obrigação.

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A população idosa aumenta cada vez mais, o que tornou

fundamental, a união de esforços para a prática de políticas públicas voltadas a

terceira idade. Por esta razão, o legislador brasileiro criou uma legislação para

assegurar esta parte da população que até então se encontrava desprotegida,

foi então que surgiu o Estatuto do Idoso, que passou a vigorar em janeiro de

2004.

O terceiro capítulo faz uma breve análise acerca do

referido estatuto, desta forma, pode-se observar que este instituto trouxe uma

nova concepção de direitos voltados aos idosos no nosso ordenamento

jurídico. Notou-se que todos os direitos previstos neste instituto são

fundamentais para que os indivíduos desta faixa etária vivam dignamente e

com qualidade de vida.

O Estatuto estabelece garantias aos direitos dos idosos,

bem como políticas de atendimento, medidas de proteção e punições para os

crimes contra pessoas da referida faixa etária.

Dentre as garantias asseguradas aos idosos, está o

direito de receber alimentos. O código Civil estabelece que os parentes podem

pedir uns aos outros os alimentos necessários para que possam viver de modo

compatível com a sua condição social.

Finalizando, ao considerar as hipóteses apresentadas,

conclui-se que:

Confirma-se a primeira hipótese apresentada que

presume que alimentos são prestações para a satisfação das necessidades

vitais de quem não pode provê-la por si. No entanto, ao longo do presente

estudo, observou-se que os alimentos abrangem mais do que isto,

compreende-se por alimentos não apenas o que é estritamente necessário à

vida de uma pessoa como somente a alimentação, a cura, o vestuário e a

habitação, como também implicam outras necessidades para manter a

qualidade de vida da pessoa como a educação e o lazer, de acordo com as

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condições financeiras dos envolvidos, resguardando, assim, o padrão de vida e

status social do alimentando.

Foi demonstrado ao longo da presente monografia que o

montante dos alimentos deve ser fixado de acordo com a necessidade do

alimentando e as possibilidade econômica do alimentante.

Entende-se que a impossibilidade econômica do

alimentante se dá quando este não pode fornecê-los sem o desfalque do

necessário para a sua mantença e nem desfazer-se dos bens ou sacrificar-se,

para satisfazer a obrigação, enquanto esta pode ser exigida de um parente

mais afastado sem que este seja sacrificado para cumprir tal obrigação, assim

sendo, resta confirmada a segunda hipótese.

Terá direito a exigir alimentos os parentes, os cônjuges ou

companheiros que, em virtude de idade avançada, doença, estudo, falta de

trabalho ou qualquer incapacidade, estiver impossibilitado de produzir meios

materiais com o próprio esforço, podendo estes pedir uns aos outros os

alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua

condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação,

confirmando-se, desta forma, a terceira hipótese.

A quarta hipótese resta confirmada, uma vez que a

precedência da obrigação alimentar deve recair primeiramente sobre o cônjuge

ou companheiro e posteriormente sobre os ascendentes, descendentes e

irmãos, respectivamente. Todavia, há uma diferença no dever alimentar

quando se trata de pessoa idosa.

A Lei 10.741/03 estabelece que a obrigação alimentar é

solidária entre todos os prestadores, podendo o idoso optar entre os co-

obrigados.

A ação de alimentos prevista no CC/2002 permite que

quando o parente que deve alimentos em primeiro lugar não estiver em

condições de suportar totalmente o encargo, poderá este chamar os de grau

imediato. No caso em que várias pessoas são obrigadas a prestar alimentos,

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todas devem concorrer na proporção dos respectivos recursos, e, intentada

ação contra uma delas, poderão as demais ser chamadas a integrar a lide, ou

seja, pode o credor de alimentos optar por um dos coobrigados ou ingressar

contra todos, não existindo litisconsórcio passivo necessário.

Diversamente, na ação de alimentos ingressada pelo

idoso, a obrigação alimentar é solidária entre todos os prestadores, podendo o

idoso optar entre os co-obrigados. A parte ré não poderá chamar os demais co-

obrigados a integrar à lide. Além disto, o idoso ainda poderá exigir o valor total

suficiente para suprir as suas necessidades, vez que a dívida alimentar do

idoso é solidária.

Na prestação alimentar prevista no CC/2002, o parente

escolhido pelo alimentário, existindo outros coobrigados, será condenado

apenas na proporção de sua responsabilidade, devendo o credor de alimentos

exigir o complemento da obrigação alimentar dos demais prestadores com o

ingresso de outra ação.

No caso de a família da pessoa idosa também não prover

condições financeiras de fornecer os alimentos sem desfalque do necessário

ao seu próprio sustento, o Estado fica obrigado a amparar os idosos que não

tenham condições de prover seu próprio sustento de forma subsidiária, no

âmbito da assistência social, diante disto resta igualmente confirmada a quinta

hipótese.

O Estatuto do Idoso causou uma revolução no que tange

à proteção dos direitos dos idosos. Portanto, uma vez tornado eficaz o estatuto

consolida uma vida digna para quem doou tanto de si, para que este tenha a

certeza de que será respeitado pela sociedade da qual faz parte.

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