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Universidade Estadual de Maringá 27 e 28/04/2010 1 A PROPOSIÇÃO DE INTEGRAÇÃO DA AMÉRICA LATINA NA LEI ORGÂNICA DE EDUCAÇÃO DA VENEZUELA ZUCK, Débora Villetti (UNIOESTE) NOGUEIRA, Francis Mary Guimarães (Orientadora/UNIOESTE) Introdução No atual cenário mundial, configurado pelo modo de produção capitalista, as relações estabelecidas pelos países hegemônicos, constituídos pelas grandes potências (G8: Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Itália, Inglaterra, Canadá e Rússia) mantém os demais numa situação de dependência e subordinação. Exemplo disso foi que, com a crise do capital internacional dos anos 70, como solução dos problemas, o novo receituário aos países dependentes, na década de 1980 e 1990, foram as políticas neoliberais. Dessa forma, se consumou a transferência da crise, particularmente para os países dependentes da América Latina, pois o conjunto de medidas feito para o mundo inteiro foi aplicado de forma distinta nos países periféricos. Conseqüência do aprofundamento dessas medidas, é que no contexto da América Latina, estes países literalmente pagaram a conta. Porém, nos últimos anos, algumas nações cujo posicionamento político é de centro- esquerda e de caráter nacional têm procurado reverter essas tendências, que imperam tanto nas políticas econômicas como nas políticas sociais, e buscam formas alternativas de se impor frente ao mundo “globalizado”. Nesse sentido, estes Estados nações têm apontado que o caminho para perseguir um certo protagonismo na dinâmica competitiva capitalista internacional de forma não tão subordinada aos Estados Unidos seria por meio da integração. No desenvolvimento do processo de integração, na atualidade, a Venezuela, a partir do governo Chávez, tem se posicionado afirmativamente nesse sentido, inclusive está expresso no preâmbulo da nova Constituição da República Bolivariana da Venezuela

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Universidade Estadual de Maringá 27 e 28/04/2010

1

A PROPOSIÇÃO DE INTEGRAÇÃO DA AMÉRICA LATINA NA LEI

ORGÂNICA DE EDUCAÇÃO DA VENEZUELA

ZUCK, Débora Villetti (UNIOESTE)

NOGUEIRA, Francis Mary Guimarães (Orientadora/UNIOESTE)

Introdução

No atual cenário mundial, configurado pelo modo de produção capitalista, as relações

estabelecidas pelos países hegemônicos, constituídos pelas grandes potências (G8:

Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Itália, Inglaterra, Canadá e Rússia) mantém

os demais numa situação de dependência e subordinação. Exemplo disso foi que, com a

crise do capital internacional dos anos 70, como solução dos problemas, o novo

receituário aos países dependentes, na década de 1980 e 1990, foram as políticas

neoliberais. Dessa forma, se consumou a transferência da crise, particularmente para os

países dependentes da América Latina, pois o conjunto de medidas feito para o mundo

inteiro foi aplicado de forma distinta nos países periféricos. Conseqüência do

aprofundamento dessas medidas, é que no contexto da América Latina, estes países

literalmente pagaram a conta.

Porém, nos últimos anos, algumas nações cujo posicionamento político é de centro-

esquerda e de caráter nacional têm procurado reverter essas tendências, que imperam

tanto nas políticas econômicas como nas políticas sociais, e buscam formas alternativas

de se impor frente ao mundo “globalizado”. Nesse sentido, estes Estados nações têm

apontado que o caminho para perseguir um certo protagonismo na dinâmica competitiva

capitalista internacional de forma não tão subordinada aos Estados Unidos seria por

meio da integração.

No desenvolvimento do processo de integração, na atualidade, a Venezuela, a partir do

governo Chávez, tem se posicionado afirmativamente nesse sentido, inclusive está

expresso no preâmbulo da nova Constituição da República Bolivariana da Venezuela

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(CRBV), que explicita que se promova a cooperação pacífica entre as nações e se

impulsione e consolide a integração latino-americana de acordo com o princípio de não

intervenção e autodeterminação dos povos, a garantia universal e indivisível dos direitos

humanos, a democratização da sociedade internacional (VENEZUELA, 2000).

Isso porque, parte do entendimento de que a solução dos problemas domésticos depende

da integração dos países da região, visando a formação de um bloco econômico e

político mais consistente, com capacidade de romper com a atual forma subordinada e

dependente de inserção dos países da região na dinâmica capitalista mundial, e quiçá

contribuir para a construção de outro projeto de sociedade distinto do projeto burguês. A

Revolução Bolivariana da Venezuela, como projeto político econômico e social, se

insere neste contexto histórico. Ensinamentos e ideais de Simón Bolívar e de seu mestre

Simón Rodríguez são recolocados no cenário político da Venezuela: recuperam-se

princípios, visões de mundo, homem e de sociedade, que revelam um projeto de

República, de liberdade, que espera envolver, como outrora, não apenas aquele país,

mas a América Latina. A defesa da soberania nacional e integração da América Latina

ajudam a constituir o atual projeto político da Venezuela, a Revolução Bolivariana, que

está, de certa forma, expresso na Constituição da República Bolivariana da Venezuela

(CRBV), de 1999 e que se articula, a partir de 2007 com o Primeiro Plano Socialista

(PPS), com a proposta de construção do socialismo de via venezuelana, que enfatiza a

radicalização da democracia, com base no protagonismo dos setores populares1.

Com a CRBV o formato jurídico-político do Estado se reorientou e se definiu, conforme

o artigo 2º da Constituição, como um Estado democrático e social de direito e de justiça

(VENEZUELA, 2000). Esta nova concepção de Estado, teve desdobramentos políticos,

econômicos, culturais e educacionais, à medida em que seria preciso dar respostas

efetivas à problemática educativa de exclusão da população pobre e marginalizada, que

1 Como os Conselhos Comunais “[...] instâncias de participação, articulação e integração entre as diversas organizações comunitárias, grupos sociais e cidadãos e cidadãs, que permite ao povo organizado exercer diretamente a gestão das políticas públicas e projetos orientados a responder às necessidades e aspirações das comunidades na construção de uma sociedade de equidade e justiça social” (VENEZUELA apud CABRERA, 2009, p. 91). Mais informações ver: CABRERA, B. F. Os Conselhos Comunais: subjetividades e rupturas do mundo popular venezuelano. In: BORGES, L. F.P.; MAZZUCO, N. G. (orgs). Democracia e políticas sociais na América Latina. São Paulo: Xamã, 2009.

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se arrastava historicamente, e se aprofundou nas décadas de 1980 e 1990 com as

políticas neoliberais.

Com todo o cenário de marginalização da população com empregos informais e

desempregadas, a orientação constitucional de que o Estado deveria ser democrático e

social de direito e de justiça, permitiu ao governo Chávez propor e implementar, a partir

de 2003, programas de grande impacto social, na direção de deixar no passado a enorme

dívida social com o povo venezuelano à margem dos bens sociais.

Uma vez que o projeto revolucionário não se desenvolve sem tensões, dos

enfrentamentos que ocorreram entre governo e oposição, vale destacar a greve ou paro

petrolero, que ocorreu entre dezembro de 2002 e fevereiro de 2003, do qual resultaram

importantes mudanças nos rumos da política interna do país: na área social, passou a

implementar uma série de políticas de caráter massivo, denominadas de missões,

financiadas com recursos vindos diretamente da PDVSA (Petróleos da Venezuela SA).

Dentre as ações voltadas para a consecução do Projeto Revolucionário Bolivariano

(PRB), propôs, também, o Projeto Bolivariano de Educação (PBE). Logo, no que diz

respeito à educação, “Um novo mapa estratégico da Educação Bolivariana”, que em sua

implementação ganha status de sistema, foi composto dos seguintes níveis: Proyecto

Simoncito (Educação inicial: maternal de 0-3 anos e pré-escolar de 3-6 anos), Escuela

Bolivariana (de 1º a 6º ano, educação da criança de 7-12 anos), Liceo Bolivariano

(Ensino Médio, educação a adolescentes e jovens de 13-18 anos), Educação Técnica

Robinsoniana (ensino técnico, educação média profissional ao jovem), Universidade

Bolivariana de Venezuela (ensino superior), e Sistema Nacional Inclusivo de Misiones-

Robinson, Ribas e Sucre (educação do adulto).

Os níveis escolares deste Sistema Educativo Bolivariano expressam a relevância política

da educação escolar na República Bolivariana, vista a impossibilidade de realizar o

Projeto Revolucionário Bolivariano nos marcos da escola considerada tradicional2. A

escola, então, seria responsável por criar o novo homem, que deve estar “a serviço da

refundação da república bolivariana”, se apropriando de conhecimentos que sirvam para 2 O Sistema Educativo Bolivariano, do qual os níveis fazem parte, seguiam de forma experimental e em paralelo a escola considerada tradicional na Venezuela, ou seja, as escolas de caráter elitista.

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a vida, partindo da experiência e dirigindo-se para a formação patriótica, solidária e

humanitária e que esteja preparado para compartilhar a vida social e ajudar na

construção da integração da América Latina (VENEZUELA, 2006). Também

sinalizando a importância educacional, foi aprovada, em agosto de 2009, uma nova

diretriz norteadora para a educação - a Lei Orgânica de Educação (LOE) - já que a Lei

Orgânica de 2003 não era considerada como oficial e acabava se tomando como

referência a Lei Orgânica de Educação de 1980. Portanto, com a aprovação da LOE3,

esta representa a referência educacional, revogando as leis anteriores.

Nesse processo inicial de investigação algumas perguntas são necessárias, tais como: As

bases constitucionais e os documentos oficiais do governo Chávez e as práticas

econômicas e políticas para a integração da América Latina em que medida se configura

como um enfrentamento em relação às potências do mundo globalizado? Esta busca de

integração faria parte do ideário capitalista, numa perspectiva que atenda as novas

demandas da sua internacionalização? As políticas para a educação escolar estão

articuladas organicamente a esta forma de integração da América Latina? Se estão, qual

seria sua função? E de forma particular a questão central desta pesquisa de caráter

bibliográfico e documental é analisar a proposição de integração da América Latina

(AL) expressa na Lei Orgânica de Educação (LOE) da Venezuela, buscando desvelar a

problemática de qual a função da incorporação da categoria de integração da AL na

LOE, na hipótese de que seja formação ideológica para a construção do Socialismo do

Século XXI. Para tanto, parte-se do pressuposto de que quando um projeto de Estado

tem hegemonia a educação tende a reproduzir o que está na economia, na sociedade, no

projeto de governo de Hugo Chávez Frías. Contudo, há uma contradição visto que o

Primeiro Plano Socialista (PPS), que orienta econômica e socialmente (2007–2013) a

nação, estabelece – dentre as estratégias e políticas – adequar o sistema educativo ao

modelo produtivo socialista, porém isso não se expressa na LOE, visto que não há uma

inferência direta ao termo ‘socialismo’. Dadas as contradições presentes na realidade

3 O sistema de educação está organizado da seguinte forma: 1) subsistema de educação básica composta pelo: nível de educação inicial - maternal e pré-escolar (6 anos); nível de educação primária; e nível de educação média - geral (5 anos) e técnica (6 anos) e 2) subsistema de educação universitária: nível de graduação e nível de pós-graduação. Estes dois subsistemas a serem regidos por leis especiais.

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venezuelana e as tensões entre governo e oposição, entende-se que este é um problema

que parece resultar do confronto de lutas de classes e que precisa ser resolvido.

A metodologia para realização do que se propõe se dará por meio de abordagem crítica,

considerando as categorias de contradição, mediação, reprodução, luta de classes como

norteadoras na pesquisa. A apresentação do objeto se dará de forma descritiva e

analítica e as fontes utilizadas são documentos oficiais venezuelanos e fontes

bibliográficas.

Tendo em vista o caminho que será percorrido, na direção de aprofundar as questões

mencionadas anteriormente, circunscritas no âmbito da temática Políticas Sociais na

América Latina, considerando a integração como eixo central e buscando analisá-la na

LOE, perseguindo a problemática já enunciada, a seguir buscar-se-á uma aproximação

com o objeto.

A Venezuela desde el sur

Inicialmente, vale ressaltar que o processo venezuelano merece ser estudado pela

peculiaridade que apresenta, a partir das mudanças políticas, econômicas e sociais

colocadas em prática, embora de forma distinta, desde 1999 até 2009, pela orientação do

Projeto Revolucionário Bolivariano (PRB), do governo de Hugo Chávez Fráias, que

recoloca no cenário daquele Estado nação, em especial, a figura de Simón Bolívar, pela

busca da identidade bolivariana e de protagonismo na dinâmica capitalista, bem como

pela conjuntura da América Latina, com governos de orientação de centro-esquerda,

teoricamente mais propensos a realizar mudanças.

A América Latina vive, no final da primeira década do século XXI, um momento

particular da sua história, onde se pode observar um movimento de vários países, como

por exemplo da Venezuela, em recuperar a unidade latino-americana e a integração dos

países da região e suas soberanias, na direção de reconstruir e atualizar o emblema de

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Simon Bolívar, da Grande Pátria4, que propugnava uma sociedade independente e

republicana, a fim de concretizar a integração da região.

De certa forma, o entendimento acerca da integração, no contexto atual, é orientado pela

posição política dos governos de centro-esquerda, tais como: na Argentina, no Chile, na

Venezuela, no Uruguai, na Bolívia, no Equador, no Brasil e no Paraguai. Contudo, esse

quadro favorável, somente será mantido se houver pressão da sociedade, tensionando os

governos para construir agendas de integração e cooperação entre os países latino-

americanos e caribenhos. Historicamente a burguesia na correlação de forças

estabeleceu as políticas que lhe foram convenientes, a fim de continuar, com suas

estratégias para a reprodução do modo de produção capitalista e nessa tensão de classes

o resultado alcançado para a classe trabalhadora, em última instância, é o que está nos

seus limites, afinal, na lógica de funcionamento capitalista isso não poderia ser

diferente. Contudo, se não houver tensão de classe não se avança para lugar nenhum,

então, as políticas sociais podem ser um campo de possibilidades, que precisa ser

entendida como resultado das contradições desta forma de produzir a vida.

Nesse sentido, as relações exteriores estabelecidas pelos países da região latino-

americana procuram se dar com vistas a obter um suporte maior, possibilitando-lhe as

condições necessárias para negociações soberanas com os organismos internacionais e

os Estados Unidos e para uma melhor inserção na organização mundial. Seguindo essa

linha de raciocínio, ao que parece ser, a proposta de integração econômica da América

Latina, tem se colocado como um elemento de enfrentamento, às potências do mundo

globalizado (G8), em especial, aos EUA, por sua posição central no processo de

exploração capitalista, ou, então, faz parte de ideário liberal numa lógica que atenda as

novas demandas da exploração capitalista.

Pertinente a esse entendimento e ao que se propõe, a Venezuela vem perseguindo uma

perspectiva integracionista que parece promover, como já exposto, a não intervenção e a

4 Para Simón Bolívar, O Libertador, a liberdade da Venezuela se consolidaria se todos os países do continente fossem livres e integrados, constituindo uma grande nação, soberana, capaz de enfrentar ameaças externas e de inventar alternativas para os problemas internos. Assim, A Gran Colombia, abrangia os atuais territórios da Colômbia, Venezuela, Panamá e Equador, ao qual Bolívar esteve ligado, e nos processos de independência da Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia.

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autodeterminação dos povos, uma integração na nação e regional, ao passo que o

governo Chávez tem estabelecido acordos nessa perspectiva com países da região5.

Isso porque, o regime econômico solidário e sustentável tem no centro de sua proposta a

função social da economia e o papel do Estado enquanto regulador das relações

econômicas, bem como da sociedade em gerar as condições para o desenvolvimento,

pois o povo deve ser protagonista em seu desenvolvimento e no desenvolvimento da

nação. Emerge daí a necessidade do desenvolvimento endógeno: enfoque e modo para

conseguir o desenvolvimento próprio a partir de, para e por dentro. Todas as propostas

de desenvolvimento, regional ou nacional, devem realizar-se em projetos locais, os

núcleos de desenvolvimento, pois a partir de razões e potencialidades internas espera-se

desenvolver um projeto nacional que dê origem a uma nova sociedade. Assim, tenta-se

construir a integração física e econômica interna e externa para impulsionar o

desenvolvimento endógeno, indicando como mecanismos de integração a ALBA e o

MERCOSUL e busca criar relações com a China, Irã e a Rússia, trocando petróleo por

tecnologia e colocando em cheque a hegemonia imperialista.

É necessário, todavia, observar mais de perto as contradições presentes na construção do

socialismo venezuelano, que parece ter se pautado na radicalização da democracia e

tem, em consonância com esse entendimento, proposto e implantado outra estrutura

educativa, que recoloca no atual cenário daquele país a figura de Simón Bolívar, nos

termos político, econômico e social. Mas que nem por isso descartou a influência de

organismos internacionais como a UNESCO, cujas formulações estão presentes na

Constituição e na educação. Este é um problema que a Venezuela terá que resolver no

seu percurso histórico, procurando a superação. Mas, carece pensar se seria possível

massificar a educação de outra forma, diferente da que foi realizada, nos moldes do

capitalismo.

Por isso, entende-se que é relevante lançar novas interpretações sobre a constituição e o

desenvolvimento do capitalismo na América Latina, nas formações sociais da região, e

especificamente da Venezuela, que estão no âmbito do capitalismo periférico e 5Tais como: os relacionados aos Petrocaribes; o Banco do Sul; a proposta do Sucre como moeda para negociações comerciais.

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dependente e suas implicações para as Políticas Sociais e Educacionais, pois, ao que

parece, a dinâmica de dependência aplicada por organismos multilaterais, só faz

aumentar a dívida externa dos países dependentes, obrigando-os a investir boa parte do

PIB (Produto Interno Bruto) para o pagamento dos juros e serviços da dívida,

aprofundando as dificuldades para o desenvolvimento sustentado e soberano desses

países, e suprimindo, ainda mais, os investimentos em Políticas Sociais e, com isso,

obstaculizando a luta. Decorre daí, também, a necessidade de entender a realidade

venezuelana, buscando desvelar aspectos não visíveis a um primeiro olhar, ou seja, ir à

essência da questão. Faz-se necessário entender o desenvolvimento histórico em curso

naquele país, procurando compreender que mediações e contradições estão presentes

neste processo. Vale considerar que, por se tratar de um objeto relativamente recente,

alguns elementos podem não estar totalmente desenvolvidos na realidade ou se

apresentar parcialmente, o que indica a necessidade de continuidade da investigação.

A questão da integração da América Latina

No contexto vigente da América Latina alguns governos de centro-esquerda vêm

defendendo a tese de que é preciso aumentar a integração entre os países da região para

ampliar o desenvolvimento, ajudar a diminuir as imensas desigualdades sociais locais e

dar ao continente melhores condições para competir no mundo globalizado (MARTINS,

2007).

Barbosa (1991), ao discorrer sobre a integração regional, esclarece que esse processo

está vinculado a um movimento mais amplo de reestruturação de forças que configuram

o quadro político, econômico, financeiro e comercial mundial. Por isso, o autor explicita

que discutir a integração latino-americana é uma tarefa que não pode estar dissociada da

análise sobre os efeitos dessas mudanças na sua realidade interna e da sua posição no

cenário mundial.

Tendo isso em vista, parece relevante salientar que, segundo Amin (2008), o

capitalismo que se constituiu historicamente, é, por natureza, imperialista. Fundado

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sobre a conquista do mundo pelos centros imperialistas (Europa, EUA, Japão) ele

suprime, por sua própria natureza, a possibilidade de as sociedades das periferias de seu

sistema mundial (Ásia, África, América Latina) “se fortalecerem” e crescerem, à

imagem dos países do centro, sociedades capitalistas abastadas. Assim, a questão de

resolver as desigualdades entre os países por meio da inclusão não se sustenta, por isso,

a via capitalista para esses povos tornou-se um impasse.

Nessa perspectiva, conforme esclarece o autor supracitado, o crescimento do

movimento de resistência e de lutas contra o capitalismo e o imperialismo, os êxitos

obtidos pelas novas esquerdas na América Latina, a radicalização das forças sociais, a

conquista de posições críticas adotadas pelos governos do Sul no interior da

Organização Mundial do Comércio, constituem a prova de que um “outro mundo”,

melhor, é efetivamente possível. Assim, Amin (2008), coloca que os movimentos

populares devem promover perspectivas regionais, e elucida que a conquista de

alternativas populares e nacionais autocentradas talvez já estejam em vias de

desenvolvimento na América do Sul com a iniciativa da ALBA6.

A ALBA, de acordo com Wansetto (2008), é uma proposta de integração dos povos,

governos, estados e movimentos sociais que vivem e atuam no continente americano,

que vem sendo gestada há vários anos, tendo espaço na eleição de governos

progressistas, segundo a autora, que passaram a adotar políticas antiliberais e

antiimperialistas, e uma significativa aproximação do governo cubano. E, por

conseguinte busca se contrapor à proposta de governos, como Estados Unidos que

tinham como proposta a ALCA - Área de Livre Comércio das Américas (em

negociação desde 1995), que ocorre entre governos das Américas com exceção de Cuba.

A questão da integração que está em pauta nas discussões do âmbito regional veio sendo

construída historicamente, em décadas anteriores, com propostas e tratados voltados à

integração regional. Desde o sonho da Grande Pátria de Bolívar, várias propostas de

integração da América Latina, para alcançar o mercado comum, foram formuladas, nem

6 Aliança Bolivariana para os Povos das Américas; constitui um grupo político liderado pela Venezuela e Cuba, juntamente com a Bolívia.

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sempre considerando a realidade interna de cada um dos países ou as circunstâncias de

âmbito internacional.

Dentre eles, é possível mencionar a ALALC – Associação Latino-Americana de Livre

Comércio, que previa o estabelecimento de uma zona de comércio livre, nos moldes do

Mercado Comum Europeu, que deveria ser a base para a criação de um mercado comum

latino-americano. Esta foi, na década de 1980, substituída por uma nova organização

mais flexível: a ALADI – Associação Latino-Americana de Integração. Em 1994 foi

criado o MERCOSUL – Mercado Comum do Sul7, que nasce como relação comercial.

Em 2004, foi assinada a Declaração da Comunidade Sul-Americana de Nações; neste

mesmo ano, ainda, entrou em vigor o acordo econômico entre o Mercosul e a

Comunidade Andina8, num único bloco político de caráter comercial que, aos poucos,

vai permitindo a integração econômica e sociais entre os países, caracterizada por um

sentimento defensivo marcante, frente às pressões norte-americanas para a formação da

ALCA.

No processo de integração, na atualidade, em fevereiro de 2010, na 2ª Cúpula da

Unidade da América Latina e do Caribe, com o objetivo principal de consolidar a

integração regional e avançar na construção de uma nova organização multilateral do

continente sem a presença dos Estados Unidos e do Canadá, foi decidido pela criação de

um novo organismo regional: a Comunidade de Estados Latino-Americanos e

Caribenhos (CELAC), que prevê reunir 33 países da região e encontra-se em via de

desenvolvimento.

Em face as colocações anteriores, é possível observar que os países da região vem

pensando e pondo em prática alternativas integracionistas, algumas com fins

estritamente comerciais e outros que vão para além, que buscam uma integração social.

Os desafios para que esta integração realmente se efetive estão postos na própria

realidade e dependem dos interesses que cada Estado nação tem em vista, quiçá a

7 Composto pela Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, com o Chile, a Bolívia, o Peru e a Venezuela sendo membros associados. 8 Formada pela Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela.

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tendência dos governos mais progressistas na região latino americana contribuía para

dar direção a este processo.

A seguir, após uma breve explanação acerca da orientação econômica e social da nação

venezuelana, apresenta-se um panorama de como a LOE expressa a temática da

integração da América Latina.

Integração da AL na LOE

A Venezuela com uma posição política definida de integração nos marcos da ALBA e

nova orientação jurídico-político, inicia, a partir de 1999, um processo de mudanças,

conforme o PPS (2007 – 2013), orientadas para a construção do Proyecto Nacional

Simón Bolívar, que continua nesta fase do governo para aprofundar os alcances obtidos

pelas orientações do Plan de Desarrollo Económico y Social 2001 – 2007. Neste

período, de 2007-2013, a Venezuela se orienta para a construção do Socialismo del

Siglo XXI, por meio das seguintes diretrizes: nova ética socialista, a suprema felicidade

social, democracia protagônica e revolucionária e o modelo produtivo socialista

(VENEZUELA, 2007).

O Proyecto Ético Socialista Bolivariano,

tiene como misión la superación de la ética del capital, y se centra en la configuración de una conciencia revolucionaria de la necesidad de una nueva moral colectiva, que sólo puede ser alcanzada mediante la dialéctica de la lucha por la transformación material de la sociedad y el desarrollo de la espiritualidad de los que habitamos en este hermoso espacio de tierra que es Venezuela. Tal dialéctica debe llevarnos a fundar la convicción de que si nosotros mismos no nos cambiamos, de nada valdría cambiar la realidad exterior (VENEZUELA, 2007, p. 8).

Todos os venezuelanos são chamados a ser protagonistas na construção da sociedade

mais humana, conforme expressa o preâmbulo da Constituição da República

Bolivariana da Venezuela: “refundar la República para establecer una sociedad

democrática, participativa y protagónica, multiétnica, pluricultural en un Estado de

justicia, federal y descentralizado que consolide los valores de la libertad, la

independencia, la paz, la solidaridad, el bien común” (VENEZUELA, 2007, p. 10).

Com essa perspectiva,

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El Proyecto Ético Socialista Bolivariano debe llevarnos a la construcción del hombre nuevo del Siglo XXI. Socialismo y hombre nuevo deben ser sinónimos. No puede pensarse ni concebirse uno sin el outro”, por isso, “La conciencia moral revolucionaria constituye el motor para dejar atrás la prehistoria humana y entrar definitivamente a la verdadera historia, la sociedad realmente humanista En definitiva, habrá socialismo cuando exista un hombre nuevo (VENEZUELA, 2007, p. 10).

E, para que se dê a construção do novo homem, a revolução bolivariana pressupõe uma

educação conscientizadora, libertadora, a educação bolivariana, estritamente relacionada

ao projeto societário, pois para o governo bolivariano a educação é uma prioridade que

fortalece o desenvolvimento do país (VENEZUELA, 2008), sinaliza a relevância

política da educação como parte das políticas sociais e sua articulação com o projeto

econômico de desenvolvimento endógeno. Nessa perspectiva, foi aprovada uma nova

diretriz educacional, a Lei Orgânica de Educação.

Conforme o disposto no artigo 2º da LOE, que dispõe sobre os princípios e valores que

orientam a educação indicando como o conceito de integração aparece articulado à

formação, a Lei

establece como principios de la educación, la democracia participativa y protagónica, la responsabilidad social, la igualdad entre todos los ciudadanos y ciudadanas sin discriminaciones de ninguna índole, la formación para la independencia, la libertad y la emancipación, la valoración y defensa de la soberanía, la formación en una cultura para la paz, la justicia social, el respeto a los derechos humanos, la práctica de la equidad y la inclusión; la sustentabilidad del desarrollo, el derecho a la igualdad de género, el fortalecimiento de la identidad nacional, la lealtad a la patria e integración latinoamericana y caribeña (VENEZUELA, 2009, p. 1) [grifos nossos].

Além disso, a LOE, no artigo 14, em conformidade com o disposto na Constituição,

reitera que educação é um direito humano e um dever social fundamental, é

democrática, gratuita e obrigatória:

La educación es un derecho humano y un deber social fundamental concebida como un proceso de formación integral, gratuita, laica, inclusiva y de calidad, permanente, continua e interactiva, promueve la construcción social del conocimiento, la valoración ética y social del trabajo, y la integralidad y preeminencia de los derechos humanos,

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la formación de nuevos republicanos y republicanas para la participación activa, consciente y solidaria en los procesos de transformación individual y social, consustanciada con los valores de la identidad nacional, con una visión latinoamericana, caribeña, indígena, afrodescendiente y universal. La educación regulada por esta Ley se fundamenta en la doctrina de nuestro Libertador Simón Bolívar, en la doctrina de Simón Rodríguez, en el humanismo social y está abierta a todas las corrientes del pensamiento. La didáctica está centrada en los procesos que tienen como eje la investigación, la creatividad y la innovación, lo cual permite adecuar las estrategias, los recursos y la organización del aula, a partir de la diversidad de intereses y necesidades de los y las estudiantes. La educación ambiental, la enseñanza del idioma castellano, la historia y la geografía de Venezuela, así como los principios del ideario bolivariano son de obligatorio cumplimiento, en las instituciones y centros educativos oficiales y privados (VENEZUELA, 2009, p. 9/10) [grifos nossos].

Em vista disso, não há como negar que a LOE apresenta uma proposição de integração

inspirada nos valores bolivarianos, sendo esta a orientação embasadora que perpassa

também a orientação do PRB e que se expressa mais nitidamente no PPS.

Contudo, há uma vinculação entre a concepção de educação venezuelana – concepção

humanista moderna – com a UNESCO e esse estreitamento conceitual pode indicar uma

contradição em relação à nova ética socialista, contradição que terá que ser resolvida no

percurso político-social daquele país. Isso porque, a nova ética socialista, estabelecida a

partir do PPS, que orienta econômica e socialmente a Venezuela, supõe um projeto ético

e moral para a nação venezuelana, fundando suas raízes na fusão dos valores e dos

princípios mais avançados das correntes humanistas do socialismo e da herança

histórica do pensamento de Simón Bolívar (VENEZUELA, 2007).

O Estado assume a educação como um processo essencial para promover, fortalecer e

difundir os valores culturais da Venezuela, que, entre outros aspectos, promove a

integração cultural e educativa regional e universal, sob uma concepção de integração

que privilegia a relação geoestratégica com o mundo, respeitando a diversidade cultural

(VENEZUELA, 2009). Assim, a LOE estabelece entre as finalidades da educação,

Impulsar la integración latinoamericana y caribeña bajo la perspectiva multipolar orientada por el impulso de la democracia participativa, por la lucha contra la exclusión, el racismo y toda forma de discriminación, por la promoción del desarme nuclear y la

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búsqueda del equilibrio ecológico en el mundo (VENEZUELA, 2009, p. 11) [grifos nossos].

Vale observar em relação a isso que a revolução bolivariana, em curso naquele país,

parece mediar uma proposição de integração que se propõe a não intervenção e

autodeterminação dos povos, já assinalado anteriormente, conforme revela o preâmbulo

da Carta Magna de 1999, numa visão pluralista de mundo, pautada pelo governo

Chávez em oposição a visão de mundo polarizado, única. Nesse aspecto, vale considerar

o significado da discussão da integração para os países do capitalismo central, enquanto

um movimento do capital, e para os países periféricos e dependentes da América Latina,

como é o caso venezuelano, em que parece haver outro movimento, de libertação latino

americana, mais vinculada a noção de unidade e unificação. É necessário analisar,

portanto, em que medida a proposição de integração expressa na LOE, sendo em

afirmativa a retomada e atualização dos ideais de Simón Bolívar, em que direção tem se

colocado, se de rompimento e libertação – sinalizando pela via socialista ou no

movimento do capital, de integração ao já estabelecido. No caso de apontar para a

primeira possibilidade carece analisar a função da incorporação da categoria de

integração da AL na LOE.

No âmbito educativo,

El Estado docente es la expresión rectora del Estado en Educación, en cumplimiento de su función indeclinable y de máximo interés como derecho humano universal y deber social fundamental, inalienable, irrenunciable, y como servicio público que se materializa en las políticas educativas. El Estado docente se rige por los principios de integralidad, cooperación, solidaridad, concurrencia y corresponsabilidad (VENEZUELA, 2009, p. 2). [grifos nossos]

Logo, nota-se que o Estado requer para si a centralidade da educação, como parte de seu

projeto. Mas, afinal, quando a educação esteve ausente de ideologia? Seja num projeto

de sociedade capitalista ou num projeto que se propõe a construção do socialismo do

século XXI, a educação não é um elemento neutro, mas que vincula um processo de

formação a um projeto societário, quiçá diferente do burguês.

Contudo, não há um caminho universal e único ao socialismo, daí precisar uma

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aplicação criadora marxista, leninista à realidade nacional. A Venezuela leva adiante o

projeto de construção do socialismo como sinônimo de radicalização da democracia,

mas a vitória da nova luta pelo socialismo na região “depende de uma longa trajetória

de acumulação revolucionária de forças, sujeita a idas e vindas, vitórias e fracassos,

avanços e recuos” (CARMONA, 2007). Esse é o desafio que está posto e que a classe

trabalhadora terá que enfrentar desde el sur.

Considerações finais

Neste trabalho apresentou-se - ainda que de forma parcial, pois necessita continuidade o

processo de investigação - parte da pesquisa que ora se encontra em desenvolvimento e

que objetiva analisar a proposição de integração da América Latina, buscando desvelar

a função da incorporação desta categoria na Lei Orgânica de Educação da Venezuela

(LOE).

No exposto anterior, foi possível observar que a LOE estabelece entre as finalidades da

educação, impulsionar a integração latino americana e caribenha sob uma perspectiva

multipolar - pautada no princípio de não intervenção e autodeterminação dos povos,

numa visão contra-hegemôncia e anti-sistêmica - orientada pela impulso da democracia

participativa, bem como revela o fundamento da educação regulada pela lei: a doutrina

de Simón Bolívar, de Simón Rodríguez e o humanismo social.

O ideário bolivariano, desta forma, ajuda a recompor o atual cenário venezuelano, seja

nos âmbitos educativos, sociais ou econômicos. No âmbito econômico e social se

expressa no PPS, na Constituição, nas práticas de integração que o governo venezuelano

tem se vinculado, na ALBA e no MERCOSUL. No âmbito educativo, nos níveis

educativos e na diretriz norteadora educacional, a LOE. Isso porque, conforme já

assinalado, a educação não é neutra, não está a parte de um projeto societário, seja ele

de que cunho for: capitalista ou socialista – que fique claro: em proposta de construção.

Embora na LOE não haja referência direta ao termo ‘socialismo’ – consideradas as

tensões em curso e o que isto poderia significar na correlação de forças– poder-se-ia

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inferir que a proposição de integração nela expressa está em consonância com a

orientação do Projeto Revolucionário Bolivariano, com os ideiais integracionistas do

Libertador, resignificados na realidade atual. Como se observa, há contradições

presentes no processo em curso na realidade venezuelana que carecem ser superados e

que demandam a apreensão de classe, para a continuidade da luta, desde el sur.

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