a produção do espaço urbano da cidade de patos - pb: do bnh ao programa minha casa minha vida

231
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA MESTRADO A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO DA CIDADE DE PATOS/PB: DO BNH AO PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA Wilma Guedes de Lucena Orientadora: Doralice Sátyro Maia Coorientadora: Eliana Freitas Calado João Pessoa PB Agosto de 2014

Upload: wilma-guedes-de-lucena

Post on 18-Aug-2015

63 views

Category:

Documents


39 download

DESCRIPTION

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal da Paraíba

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARABA CENTRO DE CINCIAS EXATAS E DA NATUREZA PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM GEOGRAFIA MESTRADO A PRODUO DO ESPAO URBANO DA CIDADE DE PATOS/PB: DO BNH AO PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA Wilma Guedes de Lucena Orientadora: Doralice Styro Maia Coorientadora: Eliana Freitas Calado Joo Pessoa PB Agosto de 2014 Wilma Guedes de Lucena A PRODUO DO ESPAO URBANO DA CIDADE DE PATOS/PB: DO BNH AO PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA Joo Pessoa PB Agosto de 2014 DissertaoapresentadaaoProgramadePs-graduaoemGeografia,daUniversidade FederaldaParaba,comopartedosrequisitos paraaobtenodottulodeMestreem Geografia,sobaorientaodaProf.Doralice Styro Maia e coorientao da Prof. Eliana A. de Freitas Calado. A produo do espao urbano da cidade de Patos/PB: do BNH ao Programa Minha Casa, Minha Vida Wilma Guedes de Lucena Dissertao apresentada ao Corpo Docente do Programa de Ps-graduao em Geografia do CCEN-UFPB, como requisito parcial para obteno do ttulo de Mestre em Geografia. Arguidores: _________________________________________________ Prof. Dr. Doralice Styro Maia (Orientadora) _________________________________________________ Prof. Dr. Eliana A. de Freitas Calado (Coorientadora) _________________________________________________ Prof. Dr. Marcele Trigueiro de A. Morais (Examinadora interna) _________________________________________________ Prof. Dr. Jan Bitoun (Examinador externo) Universidade Federal da Paraba Centro de Cincias Exatas e da Natureza Programa de Ps-graduao em Geografia Curso de Mestrado em Geografia Agosto/2014 AGRADECIMENTOS Essemomentotoparticulardaescritadadissertaorepletodeumaimensa satisfaoedesentimentosquetenhoasensaodequeaspalavrassoinsuficientespara descrever.Mas,seaspalavrassoaformapelaqualtenhoqueagradecertodaaajudaeo apoio que recebi na construodeste projeto, no as pouparei. Afinal,agradecer o mnimo quepossofazerportodososqueestiverampresentes,deumaformaoudeoutra,nos momentos das conquistas e das dificuldades. Em primeiro lugar, agradeo e sempre ofarei incansavelmente minhame (Maria de Ftima), que enfrentou muitas dificuldades para que eu pudesse chegar at aqui, pois, alm de ter sido o pai (que deixou muito cedo a vida terrena) e a me capaz de tudo por suas filhas, temsidoumagrandeamiga.SougratatambmminhairmWilmara,pelaconfianaque sempredepositounosmeuspoucosprojetosprofissionaisepessoais,almdesempreser companheira nas minhas jornadas, como esta que concluo; Agradeoorientadoradagraduao,amestraeamigaNirvana(Nir),quenos abriu,mastambmescancarouportasejanelasnopercursodaminhavidaacadmica, compartilhou e compreendeu lgrimas e sorrisos;ProfessoraDoraliceMaia(Dora),queroagradecerimensamente,porteraceitado orientar este trabalho e, conseguintemente, pela confiana depositada, por sempre ter sido to prestativa,mesmoquandodistantefisicamente.Pelassugestessempretopreciosas,pelo apoio sempre ofertado e pelos novos caminhos que esse apoio me proporcionou; Professora Eliana Calado, tambmagradeo pelacoorientao, pelas palavras de incentivo, pelos encontros sempre to agradveis e pela amizade que pudemos construir nesse perodo:AAnaBernadete,que,comoprofessoraeamiga,meincentivouafazeraseleo para o Mestrado e contribuiu lendo e corrigindo o projeto;AoProfessorEdilson,quesempreconfiouemseusalunos-amigos,almdeme ajudarrecentemente,devidoaminhadificuldadedelidarcomalgunsprogramasde computador;AErickson,cujaajudaeamizadeforamimensurveisepelosquaisserei imensamente grata; AgradeosmeninasdaResidnciaUniversitriaFemininaElizabethTeixeira (RUFET),emespecial,Lilly,JulianaePollyanna,quemeacolheram,meabrigarame fizeram o possvel para me sentir em casa; ADanielle,quemeajudouasentircommenosintensidadeopesodasprimeiras adversidades no percurso trilhado; AJarissa,RegianeeThaynara,porteremtornadoonossoquartonaRUFETum verdadeirolar,pormefazeremsentirumagegrafacomumdedinhonaantropologia (responsabilidade de Anny tambm) e por terem sido to presentes nos momentos de alegria e de tristeza. Delas eu nunca esquecerei;AoscolegasdoGrupodePesquisa(GEURB)edoLaboratriodeEstudosUrbanos (LEU), tanto os que se afastaramquanto os que permaneceram, Chrislayne, Rebeca, Camila, Rafaela,Luciana,Rachel,Elianae,especialmente,SonaleeLeornado,quesosempre atenciososesocorremtodomundoqueprecisadeajuda(principalmentenaproduodos mapas)eMarina,cujaamizadenasceuecresceuentrecafs,conversas,encontros (acadmicosouno)eviagens.Faogostonessaamizade,pelaqualtenhoumcarinho especial, pois, nesses diversos momentos em que estivemos juntas, compartilhamos angstias, esperanasediverso.Essaspessoas,definitivamente,contriburamparameu amadurecimento acadmico e pessoal; AosprofessoresdoPPGG,queministraramasdisciplinasquecurseinesseperodo, porque contriburam para que minha bagagem terica chegasse at aqui bem mais recheada; a algunsprofessoresdeoutrosprogramasdeps-graduao,emquetiveaoportunidadede participardealgumasaulaseatividadesequeacrescentarambastanteminhaformao. Entreeles,destacoascontribuiesdosProfessoresAniereseJosias,noseminriode dissertao;aoProfessorRenatoPequenodaUniversidadeFederaldoCear,queparticipou da qualificao, dando valiosas sugestes para a pesquisa, alm de ceder um banco de dados da CEF que dispunha sobre o PMCMV na Paraba; ProfessoraMarceleTrigueirodoPPGAU/UFPB,porparticipardaconstruo destetrabalho,desdeaqualificaoecujaavaliaomuitocontribuiuparaaconclusoda pesquisaedaescrita.AoProfessorJanBitoundaUFPE,porteraceitadooconvitepara participardessaetapafinaldotrabalho,eaoProfessorPedroVianna,pelapreocupaoe pelas palavras de incentivo; A todos os colegas de Mestrado, principalmente os da turma de 2012, pois os nossos encontros antes, durante e aps as aulas sempre foram muito agradveis. Dessa turma guardo namemria,comafetoecarinho,osgestosatenciososdeMarina,Deusia,Pmela,Flvia, Rose,Vernica,Diego,NielsoneJonathas.Desejoatodosqueafasequeseiniciaapsa concluso do Mestrado seja repleta de novas conquistas; Aopessoaldagraduao,queconheciquandocomeamosanosmobilizarpara participardoENGde2012,emespecial,Rassa,RodrigoeFrancisco(oqualconheci posteriormente),quecompartilhavamcomigoseusconhecimentosgeogrficoseseus momentos de descontrao nos corredores do DGEO;Aosamigosquefuiagregando,aolongodavida,eque,deumaformaoudeoutra, me acompanharam na estrada, serei eternamente grata; AAmanda,porsempreacreditaremmim,mesmoquandoeuestavanoaugedo pessimismo. Aqui as palavras so insuficientes para descrever a importncia da nossa relao fraterna;A Allison, pelas constantes palavras de apoio; AVeruza,pormefazerenxergarnovoscaminhos,pormeestimularsempre,pela amizade to preciosa e pela reviso de texto com tanto empenho;A ngelo, pelospuxes de orelha, desde a graduao, e pela amizade que nasceu em algum momento longnquo da infncia;AMariana,Sara(Sarinha),AnaCaroline(Carol),JosEverton(Sauron),Aurino, Erick, Rafaela,Tayse (Tay), Arthur, Georgee Roland, por mostrarem a leveza da vida e me fazerem esquecer a ansiedade e as preocupaes, e a todos do Coletivo Espinho Branco, com osquaiscompartilhoplanos,ideaiseodesejodemudarparamelhor(nemquesejaum pouquinho) o lugar em que vivemos; AJuan,pelafora,pelocarinho,pelaleituraepelassugestestoimportantesno momento da qualificao;A Eripetson sou grata, por ter me ajudado com a escrita do abstract. Espero que logo possa retribuir o seu esforo e a sua ateno; AosetordegeoprocessamentoeSecretariadeDesenvolvimentoEconmicoe Habitao do municpio de Patos, que cederam alguns dados durante a pesquisa;A Vnia, que trabalha no arquivo da Cmara dos Vereadores e que foi extremamente prestativa e atenciosa quando tive que fazer a pesquisa documental dos projetos de Lei;Aos moradores do Conjunto Residencial Vista da Serra I, que me receberam em suas casasecontriburamdetodasasformaspossveis(respondendoaoquestionrio,oferecendo lanches,gua,cafeumaenormeateno).Graasaessaspessoas,pudeconcluiresta pesquisa e conhecer um pouco mais sobre a cidade onde nasci e cresci;ACapes,pelofinanciamentoatravsdabolsadeestudos,quedefundamental importncia para a pesquisa. Concluodizendoqueaindahmuitasoutraspessoasqueforamfundamentaispara que eu conseguisse concluir este trabalho, s quais reservarei meus muitos abraos e algumas palavras a serem ditas pessoalmente.A todos os que fizeram parte disso tudo, muito obrigada! E a cidade se apresenta Centro das ambies Para mendigos ou ricos E outras armaes Coletivos, automveis, Motos e metrs Trabalhadores, patres, Policiais, camels A cidade no para A cidade s cresce [...] (Chico Science) RESUMO O presente trabalho objetivou analisar as implicaes do Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV),nacidadedePatos-PB,sobretudoemseusespaosdemoradia.Adiscusso centrou-senacompreensodecomoapolticahabitacionalinfluiu(eaindainflui)na produo do espao urbano, especialmente nas cidades mdias. Para tanto, buscou-se entender aproduodoespaourbanodacidadedePatos/PB,atravsdaspolticaspassadas(perodo devignciadoBancoNacionaldeHabitao)enomomentoatualdeimplantaodo PMCMV.Nessaperspectiva,analisou-seapolticahabitacionalconsiderandoarelao Estado-capitalimobilirio,asformasdepromoodosprojetoshabitacionaisdoreferido programa,bemcomoascaractersticasurbansticasdessesprojetos.Assim,foipossvel discutirsobreosefeitosdosprojetosdehabitaofinanciadospeloEstadoemsuasdiversas escalas de atuao, sobretudo na escala da cidade. Ao longo da pesquisa, as leituras realizadas sobre as noes de (re) produo do espao urbano, sobre os agentes produtores desse espao edequestesmaisespecficasreferentesaosprocessosdeperiferizaoe produo/valorizaodesigualdacidadeforamdesumaimportnciaparaodebateterico desenvolvidonestetrabalho.Almdoreferencialbibliogrfico,fez-seumlevantamentode dados,informaesebasescartogrficasnossetoresdeadministraopblicadacidadede Patos (setor de geoprocessamento, secretarias de infraestrutura e de habitao) e em rgos e instituies das demais esferas da ao estatal, como a CEHAP, o IBGE, entre outros, com o intuito de apreender com mais profundidade a realidade pesquisada. Apesar de o PMCMV ter modalidades de financiamento para famlias de diferentes faixas de renda, o foco da pesquisa foramosprojetoshabitacionaisparaapopulaoquetemrendimentomensaldezeroatrs salrios mnimos. A pesquisa de campo foi realizada no Conjunto Residencial Vista da Serra I,porque,entreosprojetospropostoseemavaliaopelaCEF,essetinhasido,ata conclusodestapesquisa,onicoconjuntohabitacionalquehaviasidoentreguesfamlias sorteadasparaserematendidaspeloPMCMVemPatos.Duranteapesquisadecampo, procedeu-seobservao/descriodapaisagemeaplicaram-seosquestionriosaos moradores do local. Com o levantamento dos dados e das informaes obtidos no decorrer da pesquisa,oarquivamentodelesesuaposterioranlise,foramalcanadososobjetivos especficostraadose,conseguintemente,oobjetivogeral.Comaconclusodapesquisa, levantaram-sequestesconcernentesaosimpassesparaaimplantaodeumapoltica habitacionalque,efetivamente,atendasdemandashabitacionaislocais,tantoquantitativas comoqualitativas,bemcomoquestesrelacionadasreproduoeintensificaodas desigualdadessocioespaciaisnascidadesmdias,especificamentenacidadedePatos-PB- onde identificamos a atuao de agentes que tm produzido duas periferias bem distintas: uma emqueseobservaaprovisodehabitaodeinteressesocialvoltadaparaapopulaode baixarendaemlocaisondehpoucainfraestrutraeservios,eoutraemquehumgrande nmero de loteamentos e empreendimentos imobilirios destinados aos grupos de renda mais elevadaequeselocalizamondehgrandepressodosagentesimobiliriosemrelaoao poderpblicolocalparaaimplantaodainfraestruturaedosserviosnecessriosparaa valorizao desses espaos. Palavras-chave:ProgramaMinhaCasa,MinhaVidaCidadesmdiasPeriferizao Desigualdades socioespaciais Patos/PB. ABSTRACT The present work aimed to analyse the implications of theMinha CasaMinha Vida social housing Program (PMCMV) in Patos PB, above all, regarding their spaces for housing. The discussionwasbasedontheperceptionofhowhousingpolicyinfluenced(andstill influences)theconstructionoftheurbanspace,mainlyinmedium-sizedcities.Forthis purpose, it was pursued to understand the construction of the urban space in Patos-PB through previoushousingpolicies(underthepolicyoftheNationalBankofHousing)aswellasthe current moment of implementation of the PMCMV. From this perspective, the housing policy wasanalysed,thewaysofpromotingthehousingprojectsoftheProgram,aswellasits urbanisticcharacteristics.Thereby,itwaspossibletodiscusstheeffectsofthehousing projectsfundedbythegovernmentonitsvariousareasofactivities,especiallyinthecity.Hence, throughout the study, the bibliographical research on (re) construction of urban spaces, theagentswhichpromotethesespacesandmorespecificissuesontheperipheryformation and unequal production/valorization of the city, was essential for the theoretical debate of this work.Besidesthebibliographicalreference,adataresearchwascarriedoutincludinga collectionofinformationandcartographicscalesinthepublicsectorinPatosPB (geoprocessing,infrastructureandhousingdepartments)andinorgansandinstitutionsfrom otherareasofthegovernmentsuchasCEHAP, IBGE,amongothers,inordertoprofoundly comprehend the studied reality. Although PMCMV offers funding for families from different income levels, the research focused on those aiming at families whose income varies from 0 to3minimumwages.FieldresearchwascarriedoutatVistadaSerraIresidentialarea,as amongtheprojectswhichwereproposedandwerebeingevaluatedbyCEF,thisonewas actually, the only one which had been delivered to the families enrolled at the programme in Patos,whenthisresearchwasconcluded.Duringfieldresearch,landscape observation/descriptionandapplicationofquestionnairestolocalswerecarriedout.The specificpurposesand,consequentlythegeneralpurposewereachievedthroughdata collection,informationgatheredduringtheresearchanditsfiling,aswellasitsposterior analysis.Withtheconclusionoftheresearch,itweretakenintoaccountsomeissues concerningobstaclestotheimplementationofahousingpolicywhichactuallymeetsthe populationneeds,qualitativeandalsoquantitative,aswellasissuesrelatedtoreproduction and intensification of the socio spatial inequalities in medium-sized cities, specifically in the municipality of Patos PB. It was identified in this city the performance of agents which has been forming two different sorts of periphery, one of them in which social housing aiming at lowincomepopulationinplaceswithpoorinfrastructureandserviceisprovided;andthe otheroneinwhichdivisionintolotsandstateventuresaimingathigherincomepopulation are present, this kind of periphery is located in places where there is great pressure from state agentsregardingitslocalpublicpowerduetohaveinfrastructureandessentialservices properly implemented to increase the value of these spaces. Keywords:MinhaCasa,MinhaVidahousingProgramMedium-sizedcitiesPeriphery formation Socio spatial inequalities Patos/PB LISTA DE SIGLAS AESA Agncia Executiva de Gesto das guas do Estado BNDS Banco Nacional do Desenvolvimento BNH Banco Nacional de Habitao CAGEPA Companhia de gua e Esgotos da Paraba CEF Caixa Econmica Federal CEHAP Companhia Estadual de Habitao Popular CEPAL Comisso Econmica para a Amrica Latina e o Caribe CGFHIS Conselho Gestor do Fundo de Habitao de Interesse Social CGMHIS Conselho Gestor Municipal do Fundo de Habitao de Interesse Social COHABS Companhias de Habitao PopularCSU Centro Social Urbano CURA Projeto de Comunidades Urbanas de Recuperao Acelerada DFI Danos Fsicos do Imvel EC Estatuto das Cidades EPEA Escritrio de Pesquisa Econmica Aplicada FAC/PB Fundao de Ao Comunitria da Paraba FAR Fundo de Arrendamento ResidencialFCP Fundao da Casa Popular FGTS Fundo de Garantia por Tempo de ServioFICAM Financiamento para Construo Ampliao e Melhoria Fimaco Financiamento de Material de Construo Finansa Financiamento para o Saneamento FINEP Financiadora de Estudos e Projetos FIP Faculdades Integradas de PatosFJP Fundao Joo Pinheiro FMI Fundo Monetrio Internacional FNHIS Fundo Nacional de Habitao de Interesse Social FPM Fundo de Participao dos Municpios FRN Financiadora de Estudos e Projetos FUNASA Fundao Nacional de Sade GEURB Grupo de Estudos Urbanos HIS Habitao de Interesse Social IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IBMEC Banco Nacional do DesenvolvimentoICM Imposto de Circulao de Mercadoria IES Instituies de Ensino Superior INOCOOP Institutos de Orientao s Cooperativas Habitacionais IPASE Aposentadoria dos Servidores do EstadoIPEP Instituto de Previdncia do Estado da ParabaISO - Organizao Internacional para PadronizaoMEC Ministrio de Educao e Cultura MHU Ministrio de Habitao e Desenvolvimento Urbano OGU Oramento Geral da Unio ORTN Obrigaes Reajustveis do Tesouro Nacional PAC Programa de Acelerao do Crescimento PBQP-H Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat PDI Plano de Desenvolvimento Integrado Planasa Plano Nacional de SaneamentoPlanHab - Plano Nacional de Habitao PLHIS Plano Local de Habitao de Interesse Social PMCMV Programa Minha Casa Minha Vida PMP Prefeitura Municipal de Patos PND Plano Nacional de DesenvolvimentoPNH Poltica Nacional de Habitao PNUD Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento PRODEEM Programa de Desenvolvimento Energtico dos Estados e Municpios ReCiMe Rede de Pesquisadores sobre Cidades Mdias RVS I Residencial Vista da Serra I SBPE Sistema Brasileiro de Poupana e Emprstimo SEDEHAB Secretaria de Desenvolvimento Econmico e Habitao SEINFRA Secretaria de Infraestrutura SERFHAU Servio Federal da Habitao e Urbanismo SFH Sistema Financeiro de Habitao SNHIS Sistema Nacional de Habitao de Interesse Social SNHM Sistema Nacional de Habitao de Mercado SUPLAN Superintendncia de Obras do Plano de Desenvolvimento do Estado UFPB Universidade Federal da ParabaUHs Unidades Habitacionais UPC Unidade Padro de Capital USF Unidade de Sade Familiar LISTA DE FIGURAS Figura 01:Localizaoe distino das Unidades Habitacionais (UHs) onde foramaplicados os questionrios na pesquisa de campo Figura 02: Estabelecimentos comerciais na Rua Grande (Atual Solon de Lucena)Figura03:LocalizaodoConjuntoBivarOlinto(1),construdoem1982,edoConjunto No Trajano (2), concludo no incio dos anos de 1970 Figura04:CircuitodePromooPblicadosprojetoshabitacionaisnaestruturadaPoltica Nacional de Habitao (PNH)Figura 05: Circuito de Promoo Privada de projetos habitacionais nos moldes do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) Poltica HabitacionalFigura06:PropagandadosCondomniosJardimFlorestaempreendimentocomcasas financiadas pelo PMCMV Figura 07: Propaganda de venda de casas localizadas no Distrito Industrial e financiadas pelo PMCMV Figura08:PainelexpostonaentradadoescritriodaJGAEngenhariaLtda,localizadoao lado das obras do Residencial Vista da Serra II em Patos Figura 09: Limites da rea de expanso urbana da cidade de Patos estabelecidos pela PMP Figura 10: Condomnio Villas do LagoFigura 11: Loteamento no Bairro Novo HorizonteFigura 12: Casa venda no Jardim Magnlia Figura 13: Casas dos Condomnios Jardim Floresta Figura 14: Outdoor do projeto do EcoShopping que vai ser construdo Figura 15: Localizao dos conjuntos habitacionais do PMCM na cidade de Patos PB Figura 16: Estrutura do Sistema Nacional de Habitao (SNHIS) Figura17:LocalizaodareadoRSVIedosdemaisconjuntoshabitacionaislocalizadosemseu entorno Figura 18: Unidades Habitacionais (UHs) do Residencial Vista da Serra IFigura 19: Unidades Habitacionais (UHs) do Conjunto dos Sapateiros (Projeto PAC)Figura 20: Venda de terrenos, no ano de 2013, do loteamento HardmanCavalcanti, onde se localizam os Conjuntos Habitacionais Residencial Vista da Serra I e II (PMCMV) Figura 21: Barracos construdos pelas famlias sem teto nos arreadores do terreno destinado construodoResidencialVistadaSerraIIedoconjuntohabitacionalconhecido popularmente como Conjunto dos Sapateiros Figura22:ViadoBairroMonteCasteloquedacessoaoRSVIeaosdemaisconjuntos habitacionais de seu entorno Figura 23: Unidades Habitacionais dos Conjuntos Novo Monte Castelo II e Residencial Vista da Serra II e da infraestrutura de pavimentao inacabada que d acesso ao RSV I Figura 24: Fossa que transbordou em uma das casas do RSV I e localizao do Rio Farinha prximo a essa rea Figura25:BocasdeloboparaasquaisalgunsmoradorescanalizaramasfossasparaoRio Farinha Figura 26: Localizao dos servios e do comrcio em relao ao Bairro Monte Castelo e ao RSV I Figura 27: Pequeno comrcio estabelecido em Unidade Habitacional do RSV I Figura28:PequenocomrcioestabelecidoemUnidadeHabitacionaldoConjuntoNovo Monte Castelo II, localizado nas imediaes do RSV I Figura 29: Placa de venda de terreno entre o RSVI e o RSV II Figura 30: Usos e apropriaes do Loteamento Hardman Cavalcanti, localizado no Bairro Monte Castelo LISTA DE MAPAS Mapa 01 Situao geogrfica do Municpio de Patos em relao ferrovia e s rodovias na Paraba Mapa 02: Expanso da malha urbana da cidade de Patos/PB desde 1960 at 2010 Mapa03:EstadodaParabaQuantidadedeunidadeshabitacionais(UHs)aprovadasnos municpios atravs do PMCMV Mapa 04: reas loteadas e em oferta no mercado imobilirio da cidade de Patos/PB Mapa 05: Localizao dos novos empreendimentos imobilirios na cidade de Patos/PB e que tm provocado o aumento do preo/m nas reas em que se localizam Mapa06:reasdeocorrnciadeproblemashabitacionaiscomoadensamentoexcessivo, caracterizao de assentamento precrio e risco de inundaes Mapa07:reasdeinterveneshabitacionaisatravsdaconstruodenovasunidadese regularizao fundiria Mapa 08: Densidade demogrfica por setores censitrios na cidade de Patos em 2010 Mapa 09: Densidade habitacional por setores censitrios na cidade de Patos em 2010 Mapa 10: Distribuio de renda por setores censitrios na cidade de Patos em 2010 LISTA DE TABELAS Tabela 01: Crescimento populacional do municpio de Patos entre as dcadas de 1960 e 2000 Tabela02:Quantidadedeempreendimentos,porfaixaderenda,contratadosatoanode 2012 nos municpios de Joo Pessoa, Campina Grande, Patos e Sousa Tabela03:Dficithabitacionaltotalerelativo,porcomponente,noestadodaParabaeno municpio de Patos - 2010 Tabela04:Dficithabitacionalurbanoporclassederendimentodomiciliarnoestadoda Paraba e em Patos - 2010 Tabela 05: Dficit habitacional, por inadequao de domiclios urbanos, total e nas classes at trs salrios mnimos em Patos - 2010 Tabela06:ConjuntoshabitacionaisfinanciadospeloPMCMVpropostosparaacidadede Patos at o ano de 2013 LISTA DE GRFICOS Grfico 01: Perfil etrio dos moradores de RVS IGrfico 02: Renda familiar mensal dos moradores entrevistados no RSV IGrfico03:Quantidadedefamliasporvalorpagonasparcelasdofinanciamentodascasas do RSV I Grfico 04: Avaliao dos moradores sobre os servios bsicos oferecidos no RSV I Grfico 05: Avaliao dos moradores sobre os servios bsicos oferecidos no RSV I LISTA DE QUADROS Quadro 01: Aumento do teto para financiamento de imveis pelo PMCMV em 2012 Quadro 02: Matriz dos eixos estratgicos e diretrizes especficas do PLHIS do Municpio de Patos PB Quadro 03: Matriz das Linhas Programticas e Programas de ao do PLHIS de Patos/PB Quadro 04: Procedncia dos moradores do RSV I (onde moravam antes) Quadro05:AvaliaodosmoradoressobrealocalizaodoRSVIemrelaocidade Quadro 06: Mdia de m por quantidade de moradores nas Unidades Habitacionais do RSV I SUMRIO INTRODUO.......................................................................................................................21 CAPTULO 1 APRODUODOESPAOURBANODACIDADEPATOS/PB:AQUESTO URBANA E HABITACIONAL DURANTE O SFH/BNH.................................................. 34 1.1 O problema habitacional: abordagens tericas e histricas..........................................35 1.2 A questo da habitao no Brasil: as estratgias e o papel do Estado..........................41 1.2.1APolticadeDesenvolvimentoUrbanonombitodasPolticasde Desenvolvimento Regional..................................................................................................... 45 1.2.2 Poltica e Planejamento Urbano na cidade de Patos PB..........................................49 1.3 A estruturao da cidade de Patos-PB............................................................................53 1.4 O Sistema Financeiro de Habitao: a gesto do BNH e seus efeitos socioespaciais..62 1.4.1OProjetodeComunidadeUrbanadeRecuperaoAcelerada(CURA)eos Programas Especficos para as cidades de porte mdio na cidade de Patos/PB.............. 68 1.5 A poltica habitacional Ps-BNH.....................................................................................75 CAPTULO 2 DETERMINAES POLTICAS E ECONMICAS DO PMCMV: UMA ANLISE ENTRE ESCALAS............................................................................................................... 81 2.1 Da articulao de escalas espaciais produo do espao intraurbano: a criao e a implantao do PMCMV..................................................................................................... 82 2.1.1 Os fatores econmicos e polticos para a criao do PMCMV..................................84 2.1.2 Do BNH ao PMCMV: o que mudou para as cidades mdias?...................................90 2.2 A produo da habitao e do espao urbano na cidade de Patos/PB.........................99 2.2.1 O PMCMV e o processo de periferizao em Patos/PB.............................................107 2.2.2 O papel dos governos municipais e estaduais na implantao do PMCMV.............121 2.3 A Poltica Nacional de Habitao (PNH) e o PMCMV: passos e descompassos.........124 2.4DaelaboraodoPLHISimplantaodoPMCMVemPatosaes convergentes e divergentes...................................................................................................... 129 CAPTULO 3 ESPAO INTRAURBANO E O PMCMV EM PATOS-PB: O RESIDENCIAL VISTA DA SERRA I............................................................................................................... 137 3.1 Caracterizao do conjunto habitacional Residencial Vista da Serra I RVS I e de seus moradores................................................................................................................. 138 3.2 Das diferenas s desigualdades socioespaciais: algumas consideraes....................145 3.3 Incorporao, construo e ocupao do Residencial Vista da Serra I: o uso do solo como reproduo do capital e como reproduo da vida.................................................... 154 3.4 Caractersticas urbansticas do Residencial Vista da Serra I: o onde e o como morar...................................................................................................................................... 163 3.4.1 Insero urbana do RVS I...........................................................................................164 3.4.2 Implantao do RVS I..................................................................................................177 3.4.3 Unidades habitacionais no RVS I...............................................................................181 CONSIDERAES FINAIS...............................................................................................188 REFERNCIAS....................................................................................................................194 SUPORTE ELETRNICO APNDICE ANEXOS 21 INTRODUO O processo de urbanizao brasileirafoi marcado, principalmente a partir da dcada de 1970, pela desconcentrao industrial, pela difuso cada vez maior de comrcios e servios especializadosepelareconfiguraodasrelaescidade/campocomaexpansodas atividades ligadas ao agronegcio. Agora esse processo passa por um novo momento, em que seobservaumpadrodeacumulaodecapitalbaseadanasfinanasespeculativas,como aponta Paiva (2007), em que se impe o comando do capital financeiro internacional.Sobreacapacidadedocapitalismodecriarnovasoportunidadesdereproduoe acumulaodocapital,DavidHarvey(2005)destacaumelementofundamental:aexpanso geogrfica. Diante disso, corroboramos a assertiva de Carlos (2011), ao afirmar que, tendo o espao como seu elemento determinante, a acumulao realiza-se em outras escalas, alm do plano global, portanto, tambm na escala da cidade. Nessecontexto,entendemosacomplexidadequeconfiguraoatualmomentodo processodeurbanizaonoBrasil,emque,nomovimentodereproduoeexpanso capitalista,tmsedestacadonosasmetrpoleseasgrandescidades,comotambmas cidadesmdias,porquetambmtmseconstitudocomoespaospromissoresnesse movimento.Assim,sobremaneiraimportantequeosestudosurbanossevoltemtambm para os espaos no metropolitanos, pois, como questiona Sobarzo (2008, p.270), ser que o queacontecenaschamadascidadesmdiasoupequenasnonosauxiliaacompreendero urbano hoje? H um nmero crescente de pesquisas direcionadas para as cidades mdias, seja nocampodosestudosregionais,sejacomfoconaproduodoespaointraurbano,almde outras abordagens.Porisso,apropostadestetrabalhosurgiu,inicialmente,dosquestionamentosque resultaramdasleiturasrealizadasduranteagraduao,entre2008e2011,nasFaculdades IntegradasdePatos(FIP),sobreostrabalhoseaspesquisasdesenvolvidaspelaRedede PesquisadoresdeCidadesMdias(ReCiMe),quenosofereceramsubsdiostericose metodolgicosparaanalisarmoscomoacidadedePatos-PBpodeserentendidanoprocesso de urbanizao brasileira e como, atravs disso, tem se dado a produo de seu espao. Assim, apesquisarealizada,napoca,sobreacentralidadequePatosexercenosertodaParaba, com a oferta de cursos oferecidos em faculdades particulares e universidades pblicas, ajudou aperceberasrecentestransformaesquetmocorridonoespaourbanopatoense.Dentre elas,destacamosarpidaexpansodamalhaurbanacomoaumentosignificativoda 22 quantidade de novos loteamentos, de conjuntos habitacionais e do surgimento de condomnios fechados, bem como uma elevada valorizao de terrenos em determinados bairros da cidade.Ressalte-se,contudo,que,apesardeapresenadeInstituiesdeEnsinoSuperior (IES) ser um fator relevante para a vinda de consumidores desses novos espaos, supnhamos haveroutrosdeterminantesparaessesprocessos,comoacriaoeaimplantaode programasfederaisdeurbanizaoehabitaoesuasimplicaessocioespaciaisnoespao urbanodePatos-PB.Nessecaso,destacam-seoProgramadeAceleraodoCrescimento (PAC)eoProgramaMinhaCasaMinhaVida(PMCMV),quecompemaatualPoltica Nacional de Habitao (PNH).O PAC foi institudo em 2007, com o objetivo principal de promover o crescimento econmico,atravsdemedidasqueestimulassemoinvestimentoprivado,aampliaode investimentospblicoseminfraestrutura,voltadasparaamelhoriadaqualidadedogasto pblicoeparaocontroledaexpansodosgastoscorrentesnombitodaAdministrao PblicaFederal1.OPMCMVsurgiu,porsuavez,noescopodesseprojetomaisabrangente, institudonoanode2009ecriadocomomedidaanticclicaemummomentodecrise econmicainternacional.OobjetivodesseProgramadeestimularepromoveraproduo habitacional, com ampla repercusso entre famlias de diferentes faixas de renda, para atender desde as que recebem de zero a trs salrios mnimos (famlias da Faixa 01 do PMCMV), at as famlias que recebem de trs a seis s/m (Faixa 02) e de seis a dez s/m (Faixa 03).Nessecontexto,presencia-seumaaceleradaexpansodeinvestimentosimobilirios portodoopas,marcadaporumagradualassociaoentrecapitalimobilirioecapital financeiro,favorecidapelasgarantiasdecrdito,segurananomercadoepeloaumentode investimentosdegruposinternacionais.Observa-seque,almdasmetrpoles,ascidadesde menor porte tambm passam a atrair esses investimentos cada vez mais. O municpio de Patos comeouaparticipardoPMCMVjnoanode2009,dandoincioaocadastramentodas famliasqueseenquadravamnaFaixa01derenda,aomesmotempoemqueaCaixa Econmica Federal (CEF) passava a ser procurada por construtoras e, de maneira individual, porfamliasderendamdiapararealizarosfinanciamentosqueatendiamaessesgrupos.Nesse mesmo perodo, foram assinados contratos de projetos de grandes obras de urbanizao edehabitaoparaacidadecomrecursosdoPAC,dosquaissedestacaramaobrado contornovirioaAlaSudeste,aobrademacrodrenagemdeguaspluviaisoCanaldo Frango e a construo do Conjunto Habitacional Novo Monte Castelo II.

1 Ver o Decreto n 6.025/2007, que institui o Programa. 23 Almdisso,umpoucoantesdesseperodo,noanode2008,davam-seosprimeiros passos para a contratao da empresa que seria responsvel pela elaborao do Plano Local de HabitaodeInteresseSocial(PLHIS),queconsisteemuminstrumentodeplanejamento urbanoqueincorporaasdiretrizestraadasnaPNHenoPlanoNacionaldeHabitao (PlanHab).Concomitanteaocenriodescrito,observa-seumcrescimentodeempresasede investimentosnomercadoimobiliriodePatos,inclusivecomavindadeincorporadorase construtoras da capital estadual, Joo Pessoa e da capital pernambucana, Recife.Portanto,nessaconjunturaqueseconfiguramastransformaespelasquaistem passadooespaourbanopatoense,emquesepercebeaproduodesigualdesseespao atravs da articulao entre vrios agentes, principalmente o Estado e o mercado imobilirio, equesedatravsdasdiversasescalasespaciais.Nessemovimento,produz-seumespao intraurbano, marcado por intensas desigualdades socioespaciais, acentuando a distncia social entreaperiferiapobreeaperiferiarica,comodiscutemRodrigues(2001)eMaia(2010).O debatesobreproduodoespaourbano(eaquinosreferimosproduocapitalistado espao)tobemdesenvolvidoporautorescomoLefebvre(1974;1999;2008),Gottdiener (1993), Harvey(2005),Carlos (2008; 2011), entre outros, em que nos aprofundamos atravs das discusses2 realizadas nos encontros do Grupo de Estudos Urbanos (GEURB) da UFPB, trouxe-nos uma valiosa contribuio terica para entendermos os processos ora apresentados.Essa contribuio est nas anlises dos conflitos delineados na relao dialtica entre sociedadeeespaoinerenteaomododeproduocapitalista,oquepossibilitacompreender asestratgiaseasaesdosagentesprodutoresdoespaoedequemaneiraesseespao produzidoreproduzasrelaessociaisvigentes.Nessaperspectiva,aescolhaporsefazera anlise a partir da implantao do PMCMV se justifica pelo fato de que o programa foi criado evemservindoparaexpandirinvestimentosimobiliriosnopas,ondesetmobservado rpidas transformaes nos espaos no metropolitanos, sobretudo nas cidades mdias. Alm disso, o processo de implantao do referido programa conduz e reproduz os conflitos que se configuramcomasdiferentesformasdeapropriaodahabitaoedesualocalizaona cidade por parte agentes produtores do espao. Diante do exposto, chegamos ao objetivo geral deste estudo - o de analisar os efeitos da implantao do PMCMV na cidade de Patos, principalmente as que se referem aos espaos

2DestacamosaquiasdiscussesrealizadascombasenaobraAproduodoespao,deLefebvre(1974).A partirda,pudemosestabelecerrelaescomleiturasdeoutrasobrasecontribuirparaaprofundarmose ampliarmosanossacompreensodoespaosocialedasdiversasmaneirassobasquaisesseespaopodeser entendido.AlmdasleiturasdiscutidasnoGEURB,osdebatesdesenvolvidosnasdisciplinasdoProgramade Ps-graduao da UFPB, nas aulas de que participei no Programa de Ps-graduao da Unesp e da UECE, foram de suma importncia para o aprofundamento terico do presente trabalho. 24 demoradia.Dessapropositura,traamosalgunsobjetivosespecficos,asaber:a)entender comoaspolticashabitacionaisanterioresaoPMCMV,principalmentenapocadoBNH, repercutiramnosespaosnometropolitanos,comoascidadesmdias,particularmente,na produo do espao intraurbano de Patos;b) identificar as mudanas queocorreram na atual polticahabitacional,atravsdacriaodoPMCMV,esuasimplicaesterritoriaisnas diversasescalasespaciais;c)averiguaroPMCMVcomopolticahabitacionalnacidadede Patos;d)observareapontarosefeitosdesseprogramasobreaproduodasdesigualdades socioespaciaisnareferidacidade;e)caracterizaredesvelaroprimeiroprojetohabitacional para a populao de baixa renda implantado em Patos, com o intuito de verificar os resultados obtidos frente s demandas habitacionais dessa cidade.Adiscussodotextofoidivididaemdoismomentos.Oprimeira,compostopelo captulo1,abordaquestesrelacionadasaopapeldoEstadonaproduodoespao,atravs daspolticashabitacionaisededesenvolvimentourbano;aopapelqueascidadesmdias exerciamnocontextoemqueseelaborou,pelaprimeiraveznoBrasil,umaestrutura institucional para a implantao de uma poltica habitacional com ampla repercusso, ocasio emqueforamcriadosoSistemaFinanceirodeHabitao(SFH)eoBancoNacionalde Habitao(BNH),equestesrelacionadasproduodoespaointraurbanodacidadede Patosnesseperodo.Osegundomomento,captulos2e3,tratadasrecentestransformaes observadas nas cidades mdias, especialmente em Patos-PB, e traz tona questes referentes maneira como tem sido a relao Estado-capital imobilirio na atual poltica habitacional; s convergncias e divergncias da implantao do PMCMV com o planejamento urbano local; eaosprocessosdeexpansodamalhaurbana,aumentodeinvestimentosimobilirios, periferizaoeintensificaodasdesigualdadessocioespaciaisapartirdacriaodesse programa. Assim, no decorrer deste trabalho, discute-se sobre os processos de periferizao da cidade e produo desigual do espao, bem como sobre a relao do Estado com a reproduo eaacumulaodocapital,atravsdaproduohabitacional,devidosuaimportnciana configuraodoespaourbano,noapenasporqueousoresidencialpredominantena cidade,mastambmporqueahabitaoseconstitui,segundoFarret(1985),comoumfator social e uma fonte de conflito e de barganha entre os diversos grupos de poder. Portanto,em Patos,aproduohabitacionalfoianalisadatomando-secomoinstrumentosiniciaisos projetos de habitao popular do PMCMV, observando-se os seguintes aspectos e contedos: oatendimentodademandalocal,otamanhodoprojeto,noquedizrespeitoreaaser ocupada;alocalizao;asaesdosagentesenvolvidosnosprocessosdeelaboraoe 25 execuo da proposta do PMCMV e dos seus projetos habitacionais em nvel local; conflitos inerentesaessesprocessos;eoselementosurbansticosdareadelimitadaparaoestudo, tendoemvistaquenosmostramascondiesdemoradiadasreasemqueforam/sero implantados os conjuntos habitacionais.Emborafaamosmenoaalgunsdadossobreosprojetosdehabitaopopularna cidade de Patos, tanto os que j foram aprovadosquanto os que ainda esto sendo avaliados, elegemosumconjuntohabitacional,oResidencialVistadaSerraI,paraseranalisadocom maisprofundidade,utilizandoinstrumentosdapesquisaqualitativa,comoasentrevistas.A escolhadessarea,emespecfico,justifica-seemrazodetersidooprimeiroenico conjunto habitacional proposto no PMCMV entregue at o momento. Tal fato nos possibilitou observarapaisagemeosaspectosmorfolgicoseentenderosseuscontedospormeioda dinmica local e das avaliaes dos prprios moradores sobre ela. Oscaminhosmetodolgicosdesenvolvidosnodecorrerdestapesquisaforamse delineandodeacordocomosquestionamentoseasdemandasoriundosdosobjetivos especficosedoobjetivogeral.Assim,realizamososprocedimentosdadocumentao indireta, que a pesquisa bibliogrfica e a pesquisa documental, e documentao direta, nesse caso,apesquisadecampoque,oradesenvolvemosemmomentosdiferentes,ora concomitantemente.Apesquisabibliogrficafoifundamental,poisnospossibilitouelegeromtodode anliseenoscapacitouaescolherasnoesmaisadequadasparaaleituradarealidade estudada,fornecendodadosatuaisepassadossobreaproblemticaabordada.Tambmnos ajudouaenxergarasdiversasfacetasdoobjetodeestudoeasinmerasmaneirascomofoi estudado,almdecontribuirparaaconstruodametodologiadapesquisa.Assim,como afirmam Villaa (2004), Marconi e Lakatos (2003), foi necessria uma exaustiva investigao bibliogrfica,oquenoslevouabuscarleiturasdelivros,monografias,dissertaes,teses, revistasacadmicas,jornais,almdeummaterialcartogrficosobrearealidadeestudada, referencial que foi acessado tanto atravs de materiais impressos quanto virtuais (sites de IES, de revistas e links de anais de eventos). Buscamosumacervobibliogrficocomoqualpudssemoscompreenderquestes relacionadasconfiguraodapolticahabitacionalnoBrasil,emdiversosperodos,esuas implicaessocioespaciaiseterritoriais,dequestessobreasnoesdeproduoe reproduodoespaourbanoesobreasestratgiaseasaesdosagentesprodutoresdesse espao.Atravs dessas leituras, obtivemos a orientao terica para compreender o papel do Estadonaproduodoespaointraurbano,apartirdaquestodahabitao;oprocessode 26 periferizaodacidadeesuasimplicaeseasdeterminaeseaconfiguraodas desigualdadessocioespaciais.Valesalientarqueascontribuiesnovieramapenasda produogeogrfica,mastambmdeestudosnombitodaSociologia,daHistria,da Arquiteturae do Urbanismo e da Economia Poltica.Com as leituras de autores como Henri Lefebvre(1974;1999;2008),Carlos(2008;2011),Rodrigues(2001;2007),DavidHarvey (2005; 2011), Villaa (1986; 2001), Engels (1983; 1985), Bonduki (2004; 2008) entre outros, foipossveldiscutirsobreacidadecomumavisocrticadaproduodoespaono capitalismo, pautada nas questes levantadas pelo mtodo materialista histrico-dialtico.fundamentalressaltar,ainda,quetivemosapreocupaodeassociaro levantamento bibliogrfico realidade emprica estudada, contextualizando-a ao todo em que se insere, posto que, assim como Santos (1994), entendemos que os processos globais se do seletivamente, de maneira mpar, ainda que comandado pela totalidade.Apesquisadocumental,porsuavez,possibilitou-nosobterdadosestatsticose informaes e de um material cartogrfico que nos aproximou ainda mais da rea de estudo, subsidiandosuacaracterizaoecontextualizaomaiscompleta.Contudo,forammuitasas dificuldadesdeacessoaesseacervo,dasquaisasprincipaisforamaburocraciadosrgos pblicoseadesarticulaoentreeles,oquetornouessaetapadapesquisabastante fragmentada e dispendiosa no que diz respeito ao tempo de sua realizao.Pararealiz-la,foinecessriaaconsultaemsitesdeinstituies,comooInstituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) e a Fundao Joo Pinheiro (FJP), com o intuito deacessardadoseconmicos,demogrficos,habitacionais,entreoutros,sobreacidadede Patos,emsiteslocaisquedivulgaminformaesacercadosprojetoshabitacionais desenvolvidos na cidade e a visita a rgos pblicos, como a Fundao de Ao Comunitria daParaba(FAC),aCompanhiaEstadualdeHabitaoPopular(CEHAP),aSecretariade DesenvolvimentoEconmicoeHabitaodePatos(SEDEHAB),aSecretariade Infraestrutura (SEINFRA) do referido municpio, o Setor de Geoprocessamento da Prefeitura MunicipaldePatos(PMP)eoArquivodaCmaraMunicipal,ondeobtivemosdadossobre projetosdehabitaopopularedeurbanizaonacidade,tantodoperododevignciado BNHquantodoatualmomentodeimplantaodosprojetosdoPMCMV.Avisitaaesses rgostambmnospossibilitouoacessoaumabasecartogrficaquecontinhainformaes sobre a expanso urbana e os espaos de moradia da cidade em estudo. A necessidade de ir aos rgos pblicos se justifica, em primeiro lugar, por causa do poucoreferencialbibliogrficoarespeitodoprocessodeestruturaourbanadePatosede 27 suaproduohabitacional,edevidonecessidadedeverificar,demaneiramaisobjetiva,os dados sobre os atuais projetos. Devido escassez de referencial sobre a conformao do espao urbano da cidade de Patosesobresuaparticipaonapolticahabitacionalededesenvolvimentourbanono perodo do BNH, tivemos que conseguir documentos que dispusessem dessas informaes, o que nos levou ao Arquivo da Cmara Municipal de Patos, mais especificamente, aos Projetos deLeidoPoderExecutivodoperodode1964a1999.Paralereanalisarmais detalhadamenteessesprojetos,tivemosquefotograf-los,vistoquenoseencontravam digitalizados,oquenoscustoupoucomaisdeumms,tendoemvistaograndenmerode projetosentreosanosanalisadoseconsiderandoque,noperodoemquerealizamosessa etapa da pesquisa, o arquivo municipal ficava aberto apenas durante o turno matutino.Comesseprocedimento,obtivemosinformaessobreasestratgiasdosgovernos locais para inserir a cidade nas polticas de mbito nacional, no perodo de vigncia do BNH, bemcomosobreosrecursosqueforamdisponibilizadosparaosprojetosquepropunham obras de habitao e urbanizao nesse mesmo perodo. A leitura das justificativas de muitos dosProjetosdeLeitambmfoiimportante,porque,atravsdisso,verificamoscomose encontravamaeconomiaeascondiessociaisdapopulaolocaldiantedocontexto nacional e regional daquela poca. Vale destacar que sabemos das limitaes desse procedimento de leitura dos Projetos de Lei, visto que, mesmo no havendo dvidas quanto aos dados fornecidos nos documentos oficiais,comoapontamMarconieLakatos(2003),elesdizemmaissobreosanseioseas iniciativas do governo local e no nos permitem afirmar se, realmente, houve a efetivao das obraspropostas.Apesardisso,ressaltamossuaimportncia,porquenosrevelaram informaessobrepolticaurbanaehabitacionaldacidade,napocadaelaboraodos projetos e, ao mesmo tempo, permitiu-nos identificar o papel que a cidade exercia no mbito dessas polticas. Por ltimo, destacamos que foi na fase da pesquisa documental em que descobrimos aexistnciadoprojetodoPlanoLocaldeHabitaodeInteresseSocial(PLHIS),que,na poca, estava em fase de avaliao pela CEF e que foi aprovado recentemente (final de 2013). Isso nos levou a e entender como foi a relao e quais as implicaes da implantao de uma polticadeplanejamentourbanolocal,concomitanteimplantaodeumprograma habitacional,oPMCMV,que,emalgunsmomentos,convergiae,emoutros,divergiadessa poltica.Almdisso,abuscainfrutferapelalegislaolocalcujaatualizaooPLHIS mencionava,tambmnosmostrouosproblemasrelacionadosdesarticulaoentreas 28 secretariasdogovernomunicipalrelacionadassquestesdeurbanizaoehabitao,bem comoosproblemasrelacionadosaodescasonoarquivamentodosreferidosdocumentos legislativos, cujas consequncias discutiremos no decorrer do texto. Valesalientarque,emboraosdiversosmomentosdapesquisaseconfundam, optamospordividirasetapasemdocumentaoindireta(pesquisabibliogrficae documental)edocumentaodireta(pesquisadecampo),comosugeremMarconieLakatos (2003), para apresentar cada passo com mais detalhamento. Assim, tendo apresentado a etapa dadocumentaoindireta,faremosadescriodadocumentaodireta.Sobreapesquisade campo,Minayo(2007,p.26)afirmaqueconsisteemlevarparaaprticaempricaa construo terica elaborada. De acordo com a autora, essa fase combina instrumentos como observao, entrevistas e outras maneiras de comunicao e interlocuo com os pesquisados. Nesse sentido, realizamos a pesquisa de campo atravs de diversos instrumentos, a saber: a)Observao Desdeasprimeirasleiturasdesenvolvidasjnoinciodapesquisabibliogrficae documental, iniciamos tambm o exerccio de observao direta nas reas delimitadas para a pesquisaque,inicialmente,tratava-sedeumconjuntohabitacionalpopular(oResidencial VistadaSerraIRVSI)edepequenoscondomniosfechados(osCondomniosJardim Floresta),ambosfinanciadospeloPMCMV.Posteriormente,optamosporestudarapenaso conjunto habitacional, tendo em vista as dificuldades de obter dados acerca dos condomnios fechados, por serem de imveis financiados pelo PMCMV de maneira individual, ou seja, de acordocomointeressedafamlia,oquetambmexigiriaumareavaliaodametodologia elaborada, principalmente no que diz respeito elaborao e aplicao de questionrios.Aobservaodiretaouobservaosimples,comodefineGil(2008,p.101), espontnea,informal,noplanificada,coloca-senoplanocientfico,poisvaialmda simplesconstataodosfatos.Emqualquercircunstncia,exigeomnimodecontrolena obtenodosdados.Duranteoandamentodapesquisa,foramnecessriosprocedimentos como as visitas in loco, com o intuito de reconhecer a rea de estudo, de registrar (atravs de fotografiasenotasdecampo)asmudanasqueocorriamnapaisagemenadinmicado espaoanalisado,oquenospermitiuverificarinformaesdivulgadasoficialmenteepor meiodamdialocal,bemcomotrazernovoselementosparaadiscussoinicialmente proposta.Tambmimportanteenfatizarque,emalgunsmomentos,aobservaoocorreu combinada com outros instrumentos, como a aplicao de entrevistas e de questionrios. b)Entrevistas 29 DeacordocomMarconieLakatos(2003,p.196),aentrevistatemcomoobjetivo principalaobtenodeinformaesdoentrevistadosobredeterminadoassuntoou problema.Dentreostiposdeentrevistasfrequentementeaplicadasnaspesquisassociais, optamospelanoestruturada.Segundoosautoressupracitados,atravsdelaqueo entrevistadortemmaisliberdadeparadesenvolvercadasituaoemqualquerdireoque considere adequada e que permite explorar mais amplamente uma questo. Gil (2008, p. 112) denominaessemesmotipodeinstrumentodeentrevistaporpautas.Essetipodeentrevista apresenta certo grau de estruturao, faz poucas perguntas diretas e deixa o entrevistado falar livremente medida que se refere pauta assinalada. Assim,realizamosentrevistascomoSecretriodaSEDEHAB(Gestocomincio em2013),comumfuncionriodaCEHAP,comumconstrutoreumcorretor,atuantesna cidadedePatos,ecomoengenheiroresidenteresponsvelpelaobradoConjunto Habitacional RVS I onde realizamos a pesquisa de campo. Dessas, exceto as entrevistas com oconstrutorecomorepresentantedaCEHAPnopuderamsergravadas,poiselesno permitiramagravao,inclusiveesseltimosolicitouasanotaesrealizadasdurantea entrevista e enviou as correes que achou que fossem pertinentes. importante ressaltar que, assim como as primeiras observaes de reconhecimento dareadeestudo,logonoinciodapesquisa,tambmrealizamosconversasinformaisde cunho exploratrio, com o intuito de confirmar informaes que no haviam sido divulgadas oficialmenteedeencontrarpistassobreaquefontesrecorrer,nabuscaporinformaesda produohabitacionalporpartedoEstadonoperododoBNHedoatualPMCMV.Nesse sentido, os dados e as informaes obtidos nas conversas com a secretria da SEDEHAB em gesto no ano de 2012 e com outro funcionrio da CEHAP foram muito valiosos. c) Questionrios SegundoGil(2008,p.121),construirumquestionrioconsistebasicamenteem traduzirobjetivosdapesquisaemquestesespecficas.Asrespostasdessasquestesque iroproporcionarosdadosrequeridosparadescreverascaractersticasdapopulao pesquisada. A aplicao de questionrios foi a nossa ltima etapa da presente pesquisa e foi importante exatamente por trazer dados que subsidiaram adiscusso acerca da produo das desigualdades socioespaciais, com a implantao de projetos de habitao popular nos moldes do PMCMV e referente ao atendimento das demandas habitacionais na cidade de Patos, tendo como ponto de partida o estudo na rea do conjunto RSV I.Asquestesforamelaboradasconsiderando-seanecessidadedeanalisaras caractersticasurbansticaseascondiesdemoradiadoconjuntoRSVI,asquaisforam 30 verificadassobaperspectivadasescalasespaciaispropostasporFerreira(2012)para apreenderasimplicaesdeempreendimentosimobiliriosnoespaointraurbano.Essas escalasso:inserourbana,implantaoeaunidadehabitacional,apartirdasquais levantamosquestesreferentesacessibilidadedareapesquisada,presenade infraestrutura, aos servios e aos equipamentos urbanos, sua repercusso na demanda local, relaodotamanhodacasacomotamanhodafamlia,aoperfilsocioeconmicodessas famlias e sua satisfao em relao aos elementos listados.AssimcomofoifeitonapesquisadeLeite(2011),oconjuntodeperguntasque compem o questionrio pode ser divido em trs tipos: fechadas ou dicotmicas, com apenas duasalternativas(simouno);demltiplaescolha,quetambmsofechadas,mastmum nmeromaiordealternativas,emqueoentrevistadopodeoptarpormaisdeumaresposta. H,inclusive,aalternativadeacrescentaroutrarespostaquenotenhasidoprevistano questionrioeperguntasdeavaliao,quepossibilitamumaapreciaoporpartedo entrevistadosobreocontedodaquesto.Dentreasperguntasdeavaliao,tantoh questes estruturadas damesma maneira que as perguntasfechadas e as de mltipla escolha quantoaquelasemqueoentrevistadoavaliaatribuindovalorescomdiversosgrausde intensidade (timo, bom regular, ruim ou pssimo). Nas pesquisas em que se aplicam questionrios, comum o estabelecimento de uma amostragem, ou seja, o recorte de uma parte dos elementos que compe o universo analisado. Contudo,tendoemvistaonmerodeunidadeshabitacionais(UHs)existentesnoconjunto RSVIeacomparaocomoutrostrabalhosdepesquisaemquetambmseusouo questionrioeseestabeleceuumaamostragem,comoadissertaodeLeite(2011), consideramospossvelentrevistartodasasfamliasdoconjuntohabitacionalemquesto, posto que ele tem 136 UHs. Os questionrios foram aplicados sem uma equipe de campo, por isso tal procedimento durou pouco mais de uma semana e foi realizado nos turnos matutino e vespertino. Verificamos que, no decorrer da semana, muitas casas estavam fechadas. E como supomos que isso ocorria por ser horrio de trabalho, decidimos retornar s casas fechadas no final de semana. Isso aconteceu em dois finais de semana, o que aumentou significativamente o nmero de moradores entrevistados, somando um total de 98 questionrios aplicados (entre as 136 UHs visitadas). O controle sobre as casas s quais deveramos retornar foi feito atravs de um mapa do conjunto habitacional (Figura 01, p. 31) 31 Legenda Unidades habitacionais onde foram aplicados questionrios

Unidades habitacionais onde no foram aplicados questionrios Figura01:LocalizaoedistinodasUnidadeshabitacionais(UHs)ondeforamaplicadosos questionriosnapesquisadecampo-Fonte:Pesquisadecampoemfevereirode2014-Imagem: Google Earth, 2014. Elaborao prpria Escala 32 misterrelatarqueoespaoreservadonoquestionrioparaanotaesde comentrioseobservaesdosmoradoresentrevistadosfoisobremaneiraimportantepara registrarmoscaractersticas,informaeseproblemas,bemcomooutroselementosqueno foram previstos na elaborao do questionrio e que contriburam muito para complementar a anlise dos dados oficiais e dos prprios dados levantados nessa etapa da pesquisa.Todoomaterialadquiridoeproduzidonodecorrerdapesquisa,comodocumentos, matriasdejornais,foldersdepropagandadeempreendimentosimobilirios,fotos,caderno decampoequestionrios,foiarquivadoeorganizadoempastas,virtuaisemateriais,oque facilitou o acesso s informaes sempre que necessrio. Para a anlise e a interpretao dos dados,foiprecisoproduzirtabelasegrficosereorganizarabasecartogrficacedidapela Prefeitura Municipal de Patos, atravs do setor de geoprocessamento. Oconjuntodeinformaesededados,reunidosapartirdametodologiaacima descrita, forneceu-nos subsdios para alcanar os objetivos especficos e, consequentemente, o propsitomaiordestapesquisa.Entendemosque,emsetratandodeanalisaroprocessode produodoespaourbano,nessecaso,dacidadedePatos,adiversidadeeacomplexidade desseprocessoexigiamousodeprocedimentosmetodolgicostambmdiversos,daa necessidadederealizar,almdapesquisabibliogrficaedocumental,apesquisadecampo com vrios instrumentos, como a observao, as entrevistas e os questionrios.Nomomentodaescrita,tentamoscontextualizararealidadeempricaestudadae relacion-labasetericaconstrudanapesquisabibliogrfica.Assim,nofoiescritoum captulo unicamente terico, ora se sobressaem as noes e a discusso terica, ora se destaca a contextualizao, no tempo e no espao, dos processos analisados e, ainda, ora se enfatizam os dados empricos e o local de estudo, mas sempre de maneira correlacionada. Assim, o texto completo ficou dividido em trs captulos: no primeiro, intitulado A produodoespaourbanodePatosPB:aquestourbanaehabitacionalduranteo SFH/BNH,discutimos,conceitualmente,sobreoproblemahabitacional,paraentenderqual tem sido o papel do Estado e da poltica habitacional no Brasil. Tambm analisamos como as cidades mdias, especificamente a cidade de Patos, inseriram-se nos Programas Habitacionais enaPolticadeDesenvolvimentoUrbano,apartirdoperododecriaodoSFH/BNH,e como,apartirdessesprogramas,projetosepolticasurbanas,aconteciamaconfigurao territorial e a produo desses espaos urbanos.Nosegundocaptulo,queintitulamosDeterminaeseconmicasepolticasdo ProgramaMinhaCasaMinhaVida:umaanliseentreescalas,fazemosumaabordagem sobreospapisqueascidadesmdiasassumemnaatualpolticahabitacional,emquese 33 destaca o PMCMV, visando entender como esses papis se configuram atravs da relao do Estado com os demais agentes produtores do espao que se d, por sua vez, entre as diversas escalasespaciais.Essadiscussotambmnoslevouacompreenderosrebatimentosdo PMCMVfrenteimplantaodoPlanHabe,conseguintemente,aosPLHIS.Aindanessa partedotexto,fazemosodebatetomandocomobaseainserodacidadedePatosnessa conjuntura mais ampla.O terceiro e ltimo captulo, que denominamos de Espao intraurbano e o PMCMV em Patos-PB: o caso do Residencial Vista da Serra I, discutimos sobre questes relacionadas reproduodasdesigualdadessocioespaciaisnoespaointraurbano,atravsdamaneira comovmsendoatendidasasdemandashabitacionaisedosconflitosdeinteresseque permeiam a atual poltica habitacional. Nessa parte do texto, a caracterizao detalhada de um espao de moradia, o conjunto Residencial Vista da SerraI, buscou subsidiar acompreenso de como tm se reproduzido as diferenas entre esses espaos na cidade.Porfim,apresentamosasconsideraesfinais,emquedestacamosaimportncia cada vez maior, considerando o momento atual do processo de urbanizao, dos estudos sobre ascidadesmdias,bemcomoasdificuldadesquepermeiamessesestudos;aatuaodo Estado e do capital imobilirio na cidade de Patos, para a conformao de duas periferias bem distintas,noqueconcernepaisageme,principalmente,aoseucontedosocial;ealguns questionamentosquesurgiramcomaconclusodestapesquisaequeficamcomoproposta para estudos futuros. 34 CAPTULO1APRODUODOESPAOURBANODEPATOSPB:A QUESTO URBANA E HABITACIONAL DURANTE O SFH/BNH Nestetrabalho,partimosdanoodeproduodoespaodiscutidaporLefebvre (1974; 2008), a partir da qual se compreende o espao como produto e produtor das relaes sociaisdeproduoqueseconfiguramnodecorrerdotempohistrico.Essanoo,porsua vez,importacontedosedeterminaesquenosobrigamaconsiderarosdiversosnveisda realidadecomomomentosdiferenciadosdareproduogeraldasociedadeemsua complexidade, como discute Carlos (2011).Essas consideraes nostrazem a necessidade deentender a sociedade e seu espao emsuarelaoentreasdiversasescalasgeogrficas(espaciaiseconceituais)e,aomesmo tempo, de considerar os agentes produtores do espao. Mas quem so esses agentes? Segundo Corra(1989),soosproprietriosdosmeiosdeproduo,osproprietriosfundirios,os promotoresimobilirios,oEstadoeosgrupossociaisexcludos.Ressaltamos,segundoesse autor, que essa tipologia mais de natureza analtica do que efetivamente absoluta, visto que um agente pode assumir a condio de outro, como o Estado, por exemplo, que tambm pode ser proprietrio de meios de produo, proprietrio fundirio etc. Naproduodoespaourbanocapitalista,aaodosagentesmencionadosderiva da dinmica de acumulao de capital, das necessidades mutveis de reproduo das relaes deproduoedosconflitosdeclassequedelaemergem(CORRA,1989,p.11).Nesse movimento,aaodoEstadocrucial,postoque,segundoCorra(2011),esseagente desempenhamltiplospapis,eissoumaarenaondediferentesinteresseseconflitosse enfrentam.Neste captulo, procuramos entender como foi feita a produo do espao urbano de PatosPB,considerandoaaodoEstadoemsuastrsesferaspoltico-administrativas-federal, estadual e municipal - frente problemtica urbana e habitacional. O recorte temporal consiste no momento em quea aoestatalfoi mais enftica diante dessas problemticas no Brasil, ou seja, o perodo de vigncia do Banco Nacional de Habitao - BNH - e do Sistema FinanceirodeHabitaoSFH-criadosem1964,noobstantetambmsejanecessrio avanarmosumpoucomaisfrentedesseperodo,paradiscutirmossobreasimplicaes socioespaciaisobservadasnoatualmomentodereconfiguraodaPolticaNacionalde Habitao, com destaque para o Programa Minha Casa Minha Vida PMCMV.OEstadoagepormeiodaspolticaspblicas,elaborandoPlanoseimplantando programas que produzem efeitos econmicos, sociais e espaciais. Nesse sentido, realizar uma 35 pesquisatendocomoprimeiroobjetodeanliseumapolticapblicanoumatarefafcil, pois, como afirmam Azevedo e Andrade (1982), ela busca, muitas vezes, realizar noapenas um, mas vrios objetivos, serve a numerosos propsitos e, frequentemente, conduz a efeitos e a resultados no antecipados.Para se compreenderem os seusefeitos naproduo doespao urbano,precisoconsideraroconjuntosocialeeconmicoemqueapolticapblicafoi elaborada e se insere, porque ela no atemporal, mas carregada de interesses de relaes de poder entre os agentes sociais e reflete os conflitos inerentes a esses interesses. Contudo, antes de nos remetermos diretamente poltica pblica, nesse caso, habitacional, especificamente, bemcomoaosseusefeitossocioespaciais,precisamoscompreenderoproblemaaqueelase detm, em suas diversas dimenses, sejam elas conceituais e/ou prticas.Esseexercciodepensar,histricaeconceitualmenteoproblemahabitacionalno Brasil, ajuda-nos a identificar quais caractersticas da poltica habitacional ainda permanecem e quais se modificaram, considerando o novo contexto poltico, social e econmico em que se encontraoatualdesenhodessaspolticas,eaentendera(re)configuraodosprocessos, comoodaurbanizaobrasileira,inerentesaessesmomentos.Inicialmente,discutiremos sobrealgumasquestestericas,noqueconcerneaoproblemahabitacionale,emseguida, faremosumretrospectohistrico,buscandoentendercomoacidadedePatos/PBfoise inserindonapolticahabitacionaldopasecomofoifeitaaproduodeseuespaourbano nosdoismomentosdemaisarticulaodessapoltica,ouseja,noperododoregime ditatorial, com o Sistema Financeiro de Habitao SFH - e o Banco Nacional de Habitao BNH-enoatualcontextoemqueforamcriadosoMinistriodasCidades,oEstatutoda Cidadeeprogramasdeamplarepercussonacional,comooProgramadeAceleraodo Crescimento(PAC)e,maisespecificamente,oProgramaMinhaCasaMinhaVida (PMCMV). 1.1 O problema habitacional: abordagens tericas e histricas A habitao, tendoem vista sua apropriao nomodo de produocapitalista, pode seranalisadasobdiversosenfoques.DeacordocomVraseBonduki(1986),elapodeser vistacomoproblema,crise,espaoprivadodeliberdade,direitofundamentaldocidado, mercadoria e investimento ou, ainda, ser smbolo de status e ascenso social. Um estudo que parte da questo habitacional no pode negligenciar nenhum desses aspectos, pois eles no se dissociamnarealidadeconcreta,elesoriginaram-senosmesmosprocessoserefletemas relaessociaisvigentesnotempohistricoemqueseinserem.Noentanto,devido 36 complexidade da temtica, elegemos para esse momento as discusses tericas que abordam o problema da habitao, pois, a partir dessa questo, podemos focar nossa anlise na ao do Estado e em como ela se esboou e se espacializou nas cidades brasileiras. Asabordagensacercadoproblemahabitacional,tantonoquedizrespeitosde cunhosocioeconmicoepoltico,emseusdiversosmomentoshistricos,quantos discusses tericas propriamente ditas, no so recentes.No Sculo XIX, vrios trabalhos se dedicavam a discutir, direta ou indiretamente, sobre essa questo, como os escritos de Engels (1983;1985),ostextosaqueeleserefereemseutrabalhointituladoParaaquestoda habitao,osinmerosrelatriosoficiaisematriasdejornaisaosquaiseletambmfaz meno no livro Situao da classe trabalhadora na Inglaterra, como at mesmo as inmeras obrasliterriasmencionadasporBresciani(1982),quesedetinhamaocenriodecidades como Londres e Paris.Emestudosmaisrecentes,comoosdePeruzzo(1984),Villaa(1986),Rodrigues (2001),VictorMartins(2007),entreoutros,tambmmarcanteodebateacercadoqueo problemahabitacionalequaisasformasdesolucion-lo,oquedemonstraqueessaquesto ainda est bem presente na sociedade. Ao se referir falta de habitao, Engels (1983 [1873]), jemfinsdoSculoXIX,afirmavaqueessenoeraumsofrimentoprpriodomoderno proletariado,masdetodasasclassesoprimidasdetodosostempos,vistoque,emmuitos casos,ahabitao,almdeserprecria,serviaparareforaracondiodeopressoe subordinao, como era, por exemplo, a senzala em relao ao escravo.Nessa perspectiva, fundamental entendermos o que o problema habitacional. Para Engels(1983),afaltadehabitao,comoserefereaoquehojeentendemoscomoproblema da habitao, consistia no agravamentoparticularqueasmscondiesdehabitaesdosoperrios sofreram devida a repentina afluncia da populao s grandes cidades; [no] aumentocolossaldosalugueres,[de]umaconcentraoaindamaiordos inquilinosemcadacasae,paraalguns,[na]impossibilidadedeemgeral encontrar um alojamento. (ENGELS, 1983, p. 10. Grifo nosso) Esses,deacordocomoautor,soalgunsdosinmerosmalesqueresultaramdo avano do modo de produo capitalista. Assim, compreendemos que a questo da habitao noestdissociadadoprocessodeacumulaoereproduodocapital,emqueacidade assumeumpapelfundamentalconcentrandoatividadesepessoas,comoseobservounafase docapitalismoindustrial,quandoaconcentraodasatividadesprodutivasnasgrandes cidades atraa uma multido, como destaca Bresciani (1982), que aumentava a demanda por 37 terraurbanaefavoreciaaaoespeculativadosproprietriosfundiriosedocapital incorporador. Entendemos que o espao urbano de Patos se conforma num momento em que passa aexercerumpoderdeconcentraodecapital,deserviosedepessoas,consequentemente.importanteressaltarque,comoPatos(Mapa01,p.38)foielevadacategoriadecidade somente no Sculo XX, precisamente no ano de 1903, s entrou, efetivamente, no circuito de produoindustrialdegrandesempresascomosinvestimentosnocultivodoalgodopara exportaoe,deacordocomCavalcante(2008),pelascondiesespeciaisoferecidaspelo governoestadualdeArgemiroFigueiredo(1935-1940),asquaisatraramempresascomo AndersonClayton&CiaLtda.(estadunidense)eaSANBRA(argentina)3.Achegadada linha frrea da Rede Viao, que fez da cidade de Patos uma ponta de trilho, como afirma Botelho (1965), tambm foi de suma importncia nesse momento.Apesar disso, a atividade industrial no foi o principal vetor no processo de expanso urbana de Patos. Sua populao urbana s teve um crescimento expressivo na dcada de 1970, tendocomoprincipaisfatores:oxododapopulaodocampoparaacidade,provocado, principalmente,pelassecasquecomprometeramascondiesdevidanocampoeaspragas queatingiramaslavouras,sobretudoaalgodoeira;aampliaodaofertadeservios educacionais, com a instalao da Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras de Patos, a Escola deAgronomiaeMedicinaVeterinria,mantidapelaFundaoFranciscoMascarenhase acompanhada, na poca, pela Universidade Federal da Paraba UFPB;e o crescimento das atividadescomerciais,favorecidopelarealizaodeobrasdeinfraestrutura,entreelas,a construo da faixa da rodovia BR -230 (fazendo o contorno pela cidade), que liga o litoral ao interior do estado da Paraba e intensifica a relao comercial com os estados do Rio Grande do Norte e de Pernambuco. Nessapoca,jhaviaumapreocupaodogovernolocalemsuprirademandapor habitao, como constatamos em justificativas de Projetos de Lei e em projetos que firmavam a participao da cidade na Companhia Estadual de Habitao Popular CEHAP. Contudo, a compreenso que se tinha do que seria o problema habitacional restringiu a ao do governo localaapenaspossibilitarpopulaomaispobreoacessoaterrenosparaquepudesse construir sua casa por conta prpria, ou seja, promover a autoconstruo, sem nenhuma ajuda tcnica e disponibilidade de materiais adequados.

3Cavalcante (op. cit.) mostra que, embora a colheita de algodo tenha decrescido na dcada de 1940, devido conjuntura nacional, s pragas e s secas, o ciclo do algodo se estendeu at 1970.38 Mapa 01 Situao geogrfica do Municpio de Patos em relao ferrovia e s rodovias na Paraba A atuao do governo do estado, por sua vez, no foi muito mais alm, limitando-se aproporcionaroacessocasaprpria,restringindoacompreensodoqueseriaoproblema habitacional.Valeressaltar,ainda,quetantoadoaodeterrenospelogovernolocal(como foipropostaatravsdoProjetodeLei64/89)quantoaconstruodecasasunifamiliares, Fonte: Base cartogrfica da AESA PB, 2006 e do IBGE - 2007 39 comofezaCEHAP,nacidadedePatos,localizavam-seemreastotalmentecarentesde infraestruturaemuitodistantesdocentrodacidade,assimcomofoinasdemaiscidades brasileiras nesse perodo. Entendemos,ento,queoEstado,engendradopelasrelaesdomododeproduo capitalista,agiadistorcendoacompreensodoproblemahabitacionalemsuaessncia, colocando-ocomoalgoa-histrico,desfazendoanecessidadedequestionarmosoporqude serumproblemaouparaquemseriaoproblemaequalseriasuaorigem.E,sendo compreendido como a-histrico, seria como algo que sempre existiu e que, portanto, seria um problemainsolvel.Poressesmotivos,Villaa(1986,p.04)destacaaimportnciadese avanarnadefinio,afirmandoqueaformulaodaquestodahabitaonopodeser desvinculadadasdeterminaesfundamentaisquehistoricamenteasengendram.Apartir dessaconcepo,entendemosqueoproblemahabitacionalnopodeservistodemaneira uniformeegenrica,poiseledecorredahistriaondemarcampresenaostrselementos bsicos:ocapital,aforadetrabalhoeoEstado.Essacombinaovariahistoricamentee emana do processo constitutivo de nossa sociedade (PERUZZO, 1984, p. 22). Nessesentido,concordamoscomMaricato(2003)ePeruzzo(1984),aoafirmarem que, no Brasil, o problema habitacional nasce com a emergncia do trabalho livre. Sobre essa questo, Soares (2007) afirma que o problema da moradia para as camadas pobres brasileiras datadasltimasdcadasdoSculoXIX,perodoemqueocorreuumasriedemudanas sociais: abolio da escravatura, em 1888; uma incipiente industrializao; uma renovao do contextopolticocomaRepblicaeumainversopopulacional(quesaidocampoparaa cidade e que se refora com a vinda dos imigrantes na primeira metade do Sculo XX). Comoavanodomododeproduocapitalista,osbensessenciaisparaatenders necessidadeshumanas,entreeles,ahabitao,foramassumindoaformademercadoria,ou seja,otrabalhadorpassouaarcarcomasdespesasnecessriassuasobrevivncia.Dentro dessalgicademercado,osdetentoresdosmeiosdeproduoeosproprietriosfundirios nopodiamoferecerhabitaesatodos,vistoque,segundoRodrigues(2001,p.12),para quemcontacomrecursoslimitados,aofertadeimveisnomercadonocompatvelcom seus salrios.H que se ressaltar queproblema no se limitava ao acesso habitao, mas tambmterraurbana,queseconcentravacomopropriedadenasmosdepoucos,ecoma especulaoimobiliria,cujospreoserambastanteelevados.Essarealidade,nocasodo Brasil,nosefaziapresenteapenasnosgrandescentros,mastambmnascidadesdemenor porte, como Patos, fato que podemos observar em um trecho da justificativa do Projeto de Lei 64/89 (ano 1964), que dizia:40 [...] como todo pobredesejaconstruir o seu rancho e osterrenoscada vez mais esto sendo vendidos por preos exorbitantes, decorrncia natural do desenvolvimentodacidadeedadesvalorizaodamoeda,encontra-se justificativaparaqueoPoderPblicofaciliteocrescimentodacidade ajudandoapobreza[sic]doandoterreno,emlugarapropriado,paraa construo de suas residncias. certoquesoluescomoasapontadasnoSculoXIXparaaconstruode habitaes operrias e, como no caso de Patos, com doaes de casas ou terrenos, no s no resolviam o problema como tambm reforavam os j existentes, como as pssimas condies demoradia,asdificuldadesdeacessoaosserviosbsicoseosequipamentosurbanos,a distnciacadavezmaiordocentrodacidade,entreoutros.Almdisso,osefeitosdessas solues eram nfimos diante da demanda, que era (como ainda ) bastante elevada. Nesse contexto, a ao do Estado foi, como no momento atual, bastante relevante e aindaestmaispresentequandoosinteressesdaclassedominanteoexigem(PERUZZO, 1984).Martins(2007)mostraque,jem1847,existiaumaLeinoBrasilque,entreoutras responsabilidades,incluaadeconstruirhabitaespopulares.ALeideTerras,de1850, tambmseconstituiucomooutraintervenoestatalquefavoreciaaclassedominante, restringindo o direitoe o acesso a terra para os que no dispunham derecursos. As medidas higienistas4tambmrepresentavamaintervenodoEstadoemfavordaelite,como exemplifica Villaa (1984), ao mencionar que, no Brasil, a classe dominante precisava de um discurso que lhe permitisse ora demolir os cortios, quando isso fosse necessrio, ora mant-los e toler-los quando precisasse abrigar a classe trabalhadora.Portanto,percebemoscomooEstado,progressivamente,vaiassumindoa responsabilidadedeproverhabitaesparaaquelestrabalhadoresquenopodempagarpor uma, agindo, no entanto, em detrimento dos interesses dos detentores dos meios de produo e,principalmente,dosproprietriosfundirios,comovimosnodiscursodequeo encarecimento dos terrenos na cidade de Patos decorrncia natural do desenvolvimento da cidade.Contudo,aomesmotempoemqueassumeefetivamenteessaobrigao,oEstado noconseguecumpri-ladeformasatisfatria,nombitosocial,eacabapordisseminaruma ideia distorcida do que o problema habitacional e condizente com os interesses do mercado imobilirio. nesse sentido que Martins (2007) discorre sobre o carter ideolgico e sobre o que seria o falso problema da habitao popular.

4 Ver Bonduki (2004) A origem da habitao social no Brasil 41 Entendemosqueoproblemadahabitaosurgeesereproduz,inicialmente,no campoideolgico,noporqueoproblemanoexistanarealidadeconcreta,mas,como escreveVillaa(1986),porqueaburguesia-nessecaso,osproprietriosfundiriose capitalistas que investiam no mercado imobilirio- no podiaenunci-lo corretamente, pois, seofizesse,teriaqueassumirsuaincapacidadederesolv-lo.Bastos(2012)explicaessa incapacidademostrandoqueaescassezdamercadoriahabitaofuncionaparagarantira demandaecontrolarsuadistribuio,demodoaconstrangerostrabalhadoreslivresa venderem sua fora de trabalho ao capital na produo de valor. Portanto, segundo esse autor, odficithabitacionalnoadvm,necessariamente,dafaltadeproduo,oqueexiste,na verdade,afaltadehabitaesnoprecriasedisponveis,comovalordeusoapreos compatveis com os recursos daqueles que vivem do trabalho. Entendemos,assimcomoafirmaEngels(1983),queocapitalnoquersuprimiro problema da habitao, mesmo podendo faz-lo, portanto, restam classe trabalhadora apenas duas sadas: a mutualidade operria e a ajuda do Estado.Vale ressaltar que, destacando-se a aoestatal,foramasformasdesolucionaroproblemahabitacionalquesedifundiramno Brasil ao longo do Sculo XX. 1.2 A questo da habitao no Brasil: as estratgias e o papel do Estado Aofazerumretrospectohistricodasorigensdaintervenoestatalnahabitao social no Brasil, considerando o perodo que se estende das ltimas dcadas do Sculo XIX ao governo Vargas,Bonduki (2004), em vrios momentos de sua obra, deixa explcito que essa interveno atendia, principalmente, aos interesses ideolgicos da classe dominante. Lefebvre (1974) afirma que preciso admitir que os produtores do espao, nesse caso, os que detm o poder, o saber formal e a propriedade dos meios de produo especificamente, sempre agiram segundo uma representao do espao, e que os usadores5 desse espao tendem a suportar o quelhesimposto,inseridoe/oujustificadoemseuespaoderepresentao.Aoquestionar sobrecomoseefetuariamessasmanipulaesdoespao,oprprioautorresponde,partindo da noo de ideologia, que o que se denomina de ideologia s adquire consistncia intervindo

5Os tradutores (Margarida Maria de Andrade e Srgio Martins) do texto de Lefebvre (2008) esclarecem o uso do termo da seguinte forma: [...] a palavra usager foi ora traduzida como usador, ora como usurio. A distino refere-seaoconflitoentreusoetroca[...],ousonocoincidecomovalordeuso,poisessecorrespondeaos termos implicados pelamercadoria, especialmente as relaes de propriedade, ao passo que aquele corresponde aodomniodoquevividosobostermosdaapropriao(naacepoconferidaaotermoporMarxnos manuscritos econmico-filosficos, de1844), portantofora, equi contra, os pressupostos davalorizao(p. 181). 42 noespaosocial.FoiassimcomasmedidashigienistasemfinsdoSculoXIX,quandoo Estado (de carter liberal) se limitou a criar uma legislao urbanstica, planos de saneamento bsicoeestratgiasdecontrolesanitrio,efoiassimnasprimeirasdcadasdoSculoXX, quandoosinteressesdaeliteprecisavamserprotegidosdiantedapressosocialcadavez maiorqueaclassetrabalhadoravinhaexercendoemanifestando,perodoemqueoEstado teve que agir mais energicamente.Apartirdadcadade1930,oproblemahabitacionalganhouumaforaideolgica aindamaior.Nocontextodoprojetonacional-desenvolvimentistadeVargas,ahabitao passou a ser vista sob dois aspectos: primeiro,[...]comocondiobsicadereproduodaforadetrabalhoe, portanto,comofatoreconmiconaestratgiadeindustrializaodopas; segundo,[...]comoelementonaformaoideolgica,polticaemoraldo trabalhador,e,portanto,decisivanacriaodohomemnovoedo trabalhador-padroqueoregimequeriaforjar,comosuaprincipalbasede sustentao poltica. (BONDUKI, 2003, p. 73) Nessemesmoperodo,foiconstanteaocorrnciadeseminrios,congressose encontrosquesedetinhamquestohabitacional,almdaatenomaiorquepassoua receberdaimprensaedasinstituiesacadmicas.Aintervenoestatalassumiu,ento,a concepo keynesiana que se disseminava por todo o mundo. Assim, na dcada de 1940, foi criada a Lei do Inquilinato, que consistia no congelamento dos aluguis sob a justificativa de combateaosefeitossociaisemergentesdaSegundaGuerraMundial.Almdisso,nessa mesmapoca,difundia-seaprefernciapelacasaprpria,quandoasdiscussespassarama ocorrersemprenosentidodeviabiliz-la,principalmenteparaaclassetrabalhadora.Nessa perspectiva,Bonduki(2004,p.83)fazoseguintequestionamento:Porqueistoerato importanteparaaideologiadominantenummomentoemque70%dosdomiclioseram alugados?, que ele mesmo responde: Aquestodamoradiaassumepapelfundamentalnodiscursoenas realizaesdo EstadoNovo, como smbolo davalorizaodo trabalhador e comprovaodequeapolticadeamparoaosbrasileirosestavamdando resultadospositivos.Nocentrodessaconcepoestavaaideiadoqueo trabalhodignificaegerafrutos,osquaiscompensariamdcadasde sacrifcio.[...]Nessesentido,nadaeramaiseloquentedoqueoacessodo trabalhador casa prpria. 43 AindasegundoBonduki(2004),otrabalhadoracreditariaqueapossibilidadede acesso propriedade (atravs da moradia) demonstrava que a sociedade estava valorizando o seu trabalho, o que faria aceitar a moral e a lgica burguesa passivamente e manteria estvel o regimevigente,postoqueumtrabalhadorquetivesseumacasaprpria,aoinvsdeuma moradiaprecriaemumcortio,noserevoltariacontraogovernoenoengrossariao movimentoesquerdista.Nessaperspectiva,apropriedadedacasadivulgadaparaos trabalhadores como uma conquista e uma consequente independncia econmica, como uma reservaemtemposdeadversidadesecomoumapossibilidadedeacessoaocrdito,entre outrasvantagens.EssaconcepofoibastantecriticadaporEngels(1983),quedestacoua ineficciadasreformassociaisquepartiamdessaspremissas,porquantotinhamafinalidade harmonizar os antagonismos de classe. importantedestacarqueasdiscussesatentolevantadasacercadoproblema habitacionalnospossibilitamesclareceralgumasquestesbastantepertinentespara discutirmossobreapolticahabitacionalnoBrasil,dasquaisdestacamos:1)Qualaorigem desse problema? Surge,principalmente,com a propriedade privada da terra, que se encontra concentrada em pequenos grupos, o que, por sua vez, no garante o acesso a todos; 2) Por que problema?Porque,nocontextoemqueprevalecemosinteressesdasdiversasfraesdo capital,emqueoEstadoatuacontraditoriamente,eapopulaodemaisbaixarendapossui apenasonecessriosuasobrevivncia,ahabitaovaisetornandoumbemcaroe inacessvelaumagrandepartedapopulaoque,quandoaobtm,geralmente,em condies precrias; 3) Problema para quem? Podemos concluir que se trata de um problema paraapopulaopobre,que,porterumarendaquemalconseguecustearasnecessidades bsicas para sua reproduo, no pode ter acesso habitao como forma de mercadoria. Assim,elucidaressasquestesnospermitechegaraocernedoproblemaaquenos detivemos,ouseja,aentenderoproblemadahabitaocomoresultantedoprocessode consolidaodasrelaesdeproduocapitalistas.Almdisso,esseexercciotericonos leva a compreender como e por que se disseminou a ideologia da casa prpria, como serviu ao Estadoe,principalmente,aocapitalimobilirio.Valeressaltarqueessacompreenso contribuisobremaneiraparaadiscussoquenospropusemosafazeracercadaatualpoltica habitacionaleseusefeitossocioespaciais,postoqueumesforodeperiodizaoseimpe paraqueoestudopossaalcanarosseusobjetivos,isto,interpretaropresentecomo resultado de um processo e indicar possveis linhas de evoluo (SANTOS, 1994). Sabemos que, de meados da dcada de 1940 at1964, vrias foram as intervenes doEstadobrasileironoquedizrespeitoaoproblemadahabitao,principalmentepara 44 atender s famlias de baixa renda. Foram criados os Institutos de Aposentadorias e Penses IAPs-queconstruamconjuntosefinanciavamcasasapenasparaseusassociados (RODRIGUES, 2001). Posteriormente, foi criada a Fundao da Casa Popular FCP - entre muitas outras aes. Porm, nenhumadelas repercutiu como a poltica urbana e habitacional desenvolvidas no decorrer dos anos de 19606.Sabendo que, a partir desse perodo, a questo habitacional ganhou outra dimenso, tanto no campo ideolgico como na realidade concreta, perguntamos:Quaisforamessasmudanas?Comoinfluenciaramnoprocessodeproduo das cidades brasileiras e da cidade de Patos/ PB, mais especificamente? Comogovernoditatorial,queseimplantouapartirde1964,aideologiadacasa prprianospermaneceu,mastambmsefortaleceu.Tambmnoserviasomentecomo estratgiaparalegitimareestabilizaressenovoarranjodepoder,mastambmparaatender, almdasdemandassociais,snecessidadesqueseapresentavamdiantedaconjuntura econmicadopasedomercadoimobilirioprecisamente.Apolticahabitacionalquese implantavanesseperodovisavaalavancaraconstruocivilegerarnovosempregospara amenizar os efeitos da crise econmica. Essas condies teriam papel fundamental no quadro doqueseentendia,napoca,comodesenvolvimentourbanodoBrasil(AZEVEDOe ANDRADE,1982).Contudo,precisoquestionarsehouvemesmocoernciaentreas polticas de habitao e de desenvolvimento urbano nesse perodo e considerar que elas foram esboadas num momento em que se configuravam as polticas de desenvolvimento regional e integraonacional,comvistasapromoverumaindustrializaoqueseintegrassecomos mercados externos.Para compreender o processo de produo do espao urbano de cidades como Patos/ PBecomosuascaractersticassociaiseconmicasepolticasinfluramnesseprocesso, preciso entender, antes de tudo, como esse tipo de cidade estava inserido tanto na conjuntura nacionalquantonapolticahabitacionaldapoca,segundametadedoSculoXX.Sabemos que as cidades mdias foram alvos das polticas de desenvolvimento regional e que serviram debaseparaaarticulaodeumapolticaurbananacionalqueestavaintimamenteligada questohabitacional.Nessesentido,buscaremosentender,atravsdeumacontextualizao histrica,comoessaspolticasserelacionaramecomoacidadedePatosseinseriuemsua conformao.

6Nossoobjetivoaquinofoideavaliarseessasintervenesforamounobemsucedidas,masdediscorrer brevemente sobre como o problema habitacional se configurou e surgiu no Brasil, para compreender, a partir de ento,comovematuandooEstadofrentesconsequnciasdesseproblemaediantedosinteressesdosgrupos dominantes que foram se apropriando dele a seu favor. 45 1.2.1 A Poltica de Desenvolvimento Urbano no mbito das Polticas de Desenvolvimento Regional

OBrasil,emmeadosdadcadade1950,foimarcadopelointensoprocessode urbanizao,peloagravamentodosproblemasedosdesequilbriosurbano-regionais;pela perdadaqualidadedevidanosgrandescentrosoriundosdaconcentraodepessoase atividadesprodutivas,acelerandoasdiscrepnciaseosproblemassociais,almdemanter umajfrgilorganizaohierrquicadascidades7,queacabavaporconfigurarumfluxo insuficientedeinformaese,consequentemente,dasrelaeseconmicasentreasvrias regies do pas (AMORIM FILHO e SERRA, 2001). Diante da necessidade de superar esses problemas,deminimizarosseusefeitosede,aomesmotempo,promoverocrescimento econmicoesteltimoconsideradocondionecessriafrenteaocontextomundialda poca (perodo ps-guerra) - muitos foram os projetos, os programas e as instituies criados8 para atender a essas necessidades. EsseprocessodeurbanizaoaceleradapeloqualpassouoBrasilfoi,segundo Maricato(2001,p.19),baseadoemummodelodeindustrializaoededesenvolvimento altamentedependentedocapitalexterno,fatoqueampliouainserosubalternadopasna diviso internacional do trabalho. Nesse perodo, passou-se a aumentar a importncia de uma planificao urbano-regional no territrio nacional.ComaimplantaodoRegimeMilitarem1964,asPolticasdeDesenvolvimento Regional foram planejadas priorizando a industrializao, com vistas integrao competitiva comosmercadosexternos.Paratanto,implantou-seumapolticadeincentivosfiscaise financeiros,bemcomoinvestimentoseminfraestrutura,principalmenteenergiaetransporte. Nessecontexto,foramasmetrpolesregionaisqueabsorveramamaiorpartedosrecursos. AmorimFilhoeSerra(2001)mostramqueessescentrospassaramasertemasprivilegiados de estudos no Brasil e em muitas partes do mundo e nesse momento em que se ampliam os domnios do planejamento urbano-regional.

7De acordo com os autores Amorim Filho e Serra (2001), essa fragilidade pode ser descrita pelo formato primaz do sistema urbano, caracterizado pela insuficincia de centros intermedirios dinmicos que contribussem para a interiorizao do desenvolvimento. 8LeonidesA.daSilvaFilhopublicouumtextopeloInstitutoNacionaldeAdministraoeDesenvolvimento INAD- intitulado Sudene: 50 anos uma abordagem poltica, institucional e administrativa, quemostra que, nessecontextomundial,foramcriados,emdecorrnciadaConfernciadeBretonWoodsem1944,oBanco InternacionalparaaReconstruoeDesenvolvimentooBIRD-que,maistarde,foidivididoemBanco MundialeBancoparainvestimentosinternacionais,etambmoFundoMonetrioInternacionalFMI.Eles tinhamoobjetivoprincipalderegularapolticaeconmicainternacional.Almdessasinstituies,foicriada, em 1948, a Comisso Econmica para a Amrica Latina a CEPAL. 46 Assim, vrios foram os planos criados que estabeleciam as diretrizes de uma poltica dedesenvolvimentoregionaledeintegraonacional,contudo,poucaatenofoidada temticaurbana.Pereiraet.al(1967,p.86)asseveramqueosestudosqueestavamsendo realizados na poca davam uma viso integrada das potencialidades das diferentes reas dos pas,tendoemvistaamaximizaodoseudesenvolvimentoeconmico.Essesautores mostramquealgunsrgos,comooEscritriodePesquisaEconmicaAplicada(EPEA),o BNHeaFinanciadoradeEstudoseProjetos(FINEP),entreoutros,estavamequacionando um sistema que, com recursos nacionais e internacionais, criariam condies objetivas para a montagemdeescritriosdepesquisaseplanejamentomicrorregional.Essedebateserviude baseparaaestratgiadeintegraonacionalnosPNDsIeIIeparaumapolticade desenvolvimento urbano que, posteriormente, foi incorporada nesse ltimo Plano.Vale ressaltar que, apesar de a temtica urbana ter sido negligenciada, pelo menos at o PND I, Steinberger e Bruna (2001) afirmam que havia uma preocupao indireta com essa questo,atravsdasabordagenssobrearedistribuiopopulacional,migraes,habitaoe saneamento,emborapriorizassemasregiesmetropolitanaseseusproblemas.Assim,as cidadesdeportemdioaindanoseconstituamfocodeinteressedapolticaurbanae habitacional,anoserdeformamuitopontual.Essarealidadetambmfoiobservadana cidadedePatos.Noobstante,jnadcadade1960,acidadeseconfigurava,segundo Botelho (1965), como um importante emprio comercial do serto paraibano, concentrando a produodealgodoprovenientedoAltoSerto.Aautoraafirmaqueessaprosperidadese davapelasuaposiodeentroncamentorodovirio(RodoviacentraldaParabae Transnordestina)eportersidopontadetrilhosdaferroviavindadoCear.Atualmente,a cidade d acesso a duas rodovias estaduais, a PB 275 e a PBT 110 e duas federais, as BR-230 e BR-36 (mapa 01). Essa condio favorece ainda mais a dinmica comercial na cidade, postoquefacilitaacirculaodemercadorias,omercadoconsumidoreaforadetrabalho entreascidadescircunvizinhasecomosestadosdoRioGrandedoNorte,Pernambucoe Cear, bem como a capital, Joo Pessoa (localizada no litoral).Magnanini(1965)tambmescreveque,emmeadosdosanosde1960,Patosjera umcentrodeconvergnciadaproduoagrcolaeque,assimcomoosmunicpiosde Alcntara,Cajazeiras,Caic,Sertnia,Caruaru,AmargosaeJequi,tinha,nesseperodo,de 16a26%desuapopulaoativanosetordeservioseat14%naindstria.Apesardisso, acreditamosque,nombitodaatuaodePlanoscomooPaegoDecenal,porexemplo,a cidadeapresentavapoucarelevncia,porquantonocontemplavaseusobjetivose especificidades, j que centros como Patos, denominados por Coelho (1992, p. 89) de capitais 47 regionais,apresentavam,napoca,umafracabaseprodutivaparaatenderdemandaque [partia]dosinmeroscentrosdehierarquiainferior,includosemsuasextensasreasde influncia. Somentenadcadade1970oGovernoMunicipaldacidadedePatostevea possibilidadedereceberrecursosdoscofresdoGovernoFederal,pormeiodeprojetosde iniciativalocal,comointuitodeatenderconfiguraodapolticaurbanaquesearticulou nessemomento,comoveremosmaisadiante.Nesseperodo,osistemaurbanonacionalera marcado pela insuficincia de centros intermedirios dinmicos, como afirmam Amorim Filho e Serra (2001), o que no s dificultava a interiorizao do desenvolvimento econmico como tambm provocava um acmulo de funes econmicas e polticas nas metrpoles. Esse fato apontava,portanto,paraanecessidadedesistematizarumapolticaurbanaconciliadacoma poltica de desenvolvimento regional. O primeiro passo dado para isso foi atravs da Poltica NacionaldeDesenvolvimentoUrbano,cujaelaboraofoicontratadapelaSecretariade Planejamento da Presidncia da Repblica (Seplan/PR). Segundo Steinberger e Bruna (2001, p. 41), esse documento considerava que a poltica urbana deveria ir alm da problemtica do funcionamentointernodascidadeseaoencontrocomaproblemticaregional,oque significa propugnar pela implantao de uma poltica nacional de organizao territorial. As autoras destacam, ainda, que o documento tambm buscava a compatibilizao de um modelo deocupaodoterritriocomoprocessoeconmicoesocial,atravsdeinvestimentos pblicoseprivados,tarefaquecaberiaaosorganismosresponsveispelo planejamento,pela coordenao e pela implantao da poltica de desenvolvimento nacional.Esse documento foi incorporado, em 1974, ao II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND), em que se encontra um captulo inteiro que trata da problemtica urbana. De acordo comSteinbergereBruna(op.cit.),apropostadesseplanotinhacomobaseasseguintes questes: o acelerado processo de urbanizao, que gerou uma sociedade predominantemente urbana; o desequilbrio do sistema urbano provocado por uma metropolizao prematura, pela propagaodegrandesaglomeradosurbanosepelapulverizaodepequenascidades,com umnmeroinsuficientedecidadesmdias9paraequilibraresseconjunto,almdeuma

9Muitos autores, como Soares, Melo (2010) e Branco (2006), bem como os estudiosos que compem a Rede de PesquisadoressobreCidadesMdias(ReCiMe),vmelencandoinmeroscritriosparadefiniroqueuma cidademdia.Corra(2007)mostraque,paraessetipodecidade,necessrioconsiderararelaoentre tamanho demogrfico, funes urbanas e espao intraurbano. Alm disso, oautor afirma que as cidades mdias devem ter interaes espaciais complexas com direes diversas equeocorram emmltiplas escalas.Portanto, tendocomorefernciaotextoConstruindooconceitodecidademdia,deCorra(op.cit.),easdemais referncias supracitadas aqui,faremos meno cidade de Patos como sendo uma cidademdia. Nos casos em que nos remetermos a cidades de porte mdio, estaremos nos referindo apenas ao aspecto populacional.No caso das autoras Steinberg e Bruna (op. cit), percebemos que elas no se preocupam em diferenciar o uso dos termos 48 concentraoespacialnolitoral;e,porltimo,ascidadescomoncleosconcentradoresde riquezaque,consequentemente,geravamproblemasurbanosqueadquiriamgrandes dimenses.Apartirdisso,foramelaboradasestratgiasqueconsistiamnadesconcentrao intrar-regionalnoSudeste,naordenaodosistemaurbanodoSul,nadinamizao econmica das metrpoles regionais no Nordeste e na promoo da urbanizao das reas de ocupaorecentenoNorteeCentro-oeste.Ascidadesmdiastiverampapelfundamental, comofocosdeatraodealgumasatividadesindustriais,transfo