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A PROBLEMÁTICA SOCIOAMBIENTAL DO LIXO DOMICILIAR URBANO EM GUARAPUAVA-PR[1] Luiz Cézar Suéke De Oliveira[2] Pierre Alves Costa[3] RESUMO O lixo urbano é um grave problema que afeta a qualidade de vida de bilhões de pessoas no mundo, desde a produção até o destino final, passando pelo aspecto social, que envolve as condições de vida e de trabalho dos catadores/as desses resíduos sólidos. Nesse contexto, surge a necessidade de fomentar entre os alunos e alunas um debate e a produção de conhecimento sobre a questão, com vistas à formação de posicionamentos críticos em relação a ela. Este artigo apresenta resultados referentes à construção de um Projeto de Trabalho na escola como proposta de realizar uma pesquisa não somente sobre a coleta seletiva de lixo na cidade, mas sobre as políticas públicas e os atores sociais envolvidos no processo, enfatizando ações efetivas relacionadas à Educação Ambiental. Com base nas Diretrizes Curriculares de Geografia do Estado do Paraná, este artigo pretende evidenciar a importância de se trabalhar com os conteúdos de todos os grandes eixos temáticos e que pode nos permitir construir na escola uma nova relação com esses mesmos conteúdos, com o conhecimento em si, entre professores/as e alunos/as e destes com a própria escola e da escola com a sociedade.

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A PROBLEMÁTICA SOCIOAMBIENTAL DO LIXO DOMICILIAR URBANO EM

GUARAPUAVA-PR[1]

Luiz Cézar Suéke De Oliveira[2]

Pierre Alves Costa[3]

RESUMO

O lixo urbano é um grave problema que afeta a qualidade de vida de bilhões de pessoas no mundo, desde a produção até o destino final, passando pelo aspecto social, que envolve as condições de vida e de trabalho dos catadores/as desses resíduos sólidos. Nesse contexto, surge a necessidade de fomentar entre os alunos e alunas um debate e a produção de conhecimento sobre a questão, com vistas à formação de posicionamentos críticos em relação a ela. Este artigo apresenta resultados referentes à construção de um Projeto de Trabalho na escola como proposta de realizar uma pesquisa não somente sobre a coleta seletiva de lixo na cidade, mas sobre as políticas públicas e os atores sociais envolvidos no processo, enfatizando ações efetivas relacionadas à Educação Ambiental. Com base nas Diretrizes Curriculares de Geografia do Estado do Paraná, este artigo pretende evidenciar a importância de se trabalhar com os conteúdos de todos os grandes eixos temáticos e que pode nos permitir construir na escola uma nova relação com esses mesmos conteúdos, com o conhecimento em si, entre professores/as e alunos/as e destes com a própria escola e da escola com a sociedade.

Palavras-chave: Educação Ambiental.

Cidadania. Lixo. Catadores. Reciclagem.

ABSTRACT

The urban garbage is a serious problem that affects the quality of life of billions of people around the world, from production to final destination, passing by the social aspect, which involves conditions of life and work of catchers of the solid residues. In this context, it is necessary to foment among students a discussion and the production of knowledge on the issue, with a view to training for critical positions of her. This article presents results for the construction of a Project Working at the school as a proposal to conduct a research not only on garbage collection in the city, but on public policies and social actors involved in the process, emphasizing effective actions related to Education Environmental. Based on the Curriculum Guidelines for Geography of the State of Parana, this article intends to highlight the importance of working with the contents of all the major themes and that can enable us to build a new school in conjunction with the same content, with the knowledge in themselves, between teachers and students and those with the school and the school with society.

Key-words: Environmental Education. Citizenship. Garbage. Catadores. Recycling.

INTRODUÇÃO

Observa-se que o debate sobre a questão ambiental emerge, mais amplamente, a

partir da década de 1960, ocasião em que alguns segmentos da sociedade começaram a

tomar consciência dos sérios problemas que apareceram decorrentes do uso

indiscriminado dos recursos naturais e do desenvolvimento industrial sem planejamento.

Esses segmentos da sociedade passaram a questionar as consequências da ação

humana sobre o meio ambiente. O debate extrapolou o campo acadêmico, sendo

incorporado por organizações internacionais, a exemplo da ONU (Organização das

Nações Unidas), PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente).

Atualmente, vários segmentos da sociedade têm dedicado atenção à questão do lixo. A

preservação do meio ambiente se transformou num objetivo mundial prioritário, no Brasil,

mais especificamente a partir dos anos de 1980, compondo políticas públicas e acordos

multilaterias. No âmbito global estabeleceu-se a 1ª Conferência Mundial sobre Meio

Ambiente em Estocolmo na Suécia em 1972, esta conferência resultou na Declaração de

Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano, um documento com 26 princípios que

deveriam ser seguidos por todos os países.

A crise de energia e de alimentos, o aumento exponencial das taxas de poluição,

foram alguns dos fatores que alertaram a sociedade mundial para a gravidade dos

problemas ambientais decorrentes dos seus níveis de desenvolvimento ou de

subdesenvolvimento, bem como das suas concepções de como deveria caminhar o

desenvolvimento.

Um dos grandes desafios colocados hoje no horizonte das sociedades é o dever de

continuar o processo do desenvolvimento dos muitos países subdesenvolvidos, a baixos

custos ambientais e a baixas taxas de consumo, em contraposição aos processos de

desenvolvimento que historicamente fizeram a riqueza dos países do norte.

Nesta perspectiva, são inúmeros os desafios a enfrentar para a melhoria das

condições de vida no mundo, principalmente a mudança de atitude em relação ao Meio

Ambiente.

Os problemas ambientais, apesar de terem uma escala global, estão distribuídos,

de forma desigual, por todas as regiões do mundo. Em Guarapuava-PR, chama-nos

particularmente a atenção o grande acúmulo de lixo proveniente do consumo humano de

produtos industrializados, jogados a céu aberto, em terrenos baldios, nas ruas e outros

espaços públicos. Tal inquietação levou-nos a nos perguntar sobre a destinação do lixo

doméstico urbano: qual seria a destinação correta? Como ela tem sido feita em

Guarapuava? Quais são os sujeitos envolvidos no processo? Quais são e como são

desenvolvidas políticas públicas voltadas a essa problemática? Interessa-nos, sobretudo,

a questão do chamado lixo reciclável, aquele que apesar de ser um rejeito proveniente do

consumo, pode ser reaproveitado no mesmo ou em outro processo produtivo e ser

reintroduzido no circuito da produção e do consumo.

Para Grippi (2006, p. 21) “o lixo é matéria prima fora do lugar”; e os modos de

tratamento do lixo pela sociedade indicam o seu “grau de civilização”. Para ele, “o

tratamento do lixo doméstico, além de ser uma questão com implicações tecnológicas é

antes de tudo uma questão cultural”.

Em Guarapuava, assim como em inúmeras outras cidades do Brasil, quer como

política pública ou não, a coleta e separação do lixo reciclável tem se constituído em

atividade desenvolvida por inúmeras pessoas da sociedade local, quer sejam elas

organizadas em cooperativas ou de forma individual. São os chamados catadores de lixo,

pessoas geralmente empurradas para essa atividade como última alternativa de ampliar a

renda familiar e de sobrevivência. São trabalhadores que via de regra sobrevivem e

trabalham precariamente, mas que, com seu trabalho, contribuem para minimizar o

problema da destinação do lixo domiciliar urbano.

Após a realização de visitas a cooperativa de catadores, coletas de dados na

prefeitura municipal, observações e conversas informais realizadas com os catadores e

catadoras de lixo, tanto nas suas histórias de vida, quanto no seu cotidiano de trabalho;

procurou-se entender as relações que eles estabelecem com a cidade e com o mercado

da reciclagem. Conhecer as políticas públicas envolvidas neste processo, o nível de

conscientização e atitudes praticadas pelos alunos e alunas em relação a produção e

destinação do lixo domiciliar, bem como desenvolver ações pedagógicas relativas a

Educação Ambiental, constitui-se nas principais questões deste trabalho.

Para o desenvolvimento de uma proposta de Educação Ambiental promoveu-se a

transposição didática, levando a discussão dessas questões para as aulas de Geografia.

Em relação à Educação Ambiental, concorda-se com Leff (2001, p. 254-5) quando

argumenta que:

A problemática ambiental, como sintonia da crise de civilização da modernidade, coloca a necessidade de criar uma consciência a respeito de suas causas e suas vias de resolução. Isto passa por um processo educativo que vai desde a formulação de normas cosmovisões e imaginários coletivos, até a formação de novas capacidades técnicas e profissionais; desde a reorientação dos valores que guiam o comportamento dos humanos para a natureza, até a elaboração de novas teorias sobre as relações ambientais de produção e reprodução social, e a construção de novas formas de desenvolvimento.

Considerando que o lixo urbano e rural é um problema mundial que cada dia requer

maiores cuidados, faz-se necessário encontrar formas de gestão e destinação adequadas

que possam minimizar os problemas hoje causados pela sua produção e acúmulo

desordenados.

Nesse sentido, este artigo visa contribuir com o debate em torno da problemática

do lixo domiciliar urbano, pelo viés da sua destinação final, sobretudo, no que diz respeito

ao lixo reciclável, as políticas públicas vigentes e os sujeitos envolvidos na sua produção,

separação e destinação final.

A partir deste objetivo geral, os objetivos específicos ficaram assim definidos:

- Conhecer o tratamento dado ao lixo urbano domiciliar pelo poder público na

cidade de Guarapuava - Paraná.

- Compreender a importância da reciclagem dos resíduos sólidos produzidos nos

domicílios urbanos para a preservação do meio ambiente e conservação dos recursos

naturais.

- Propiciar à comunidade escolar, através da construção de um projeto de trabalho,

condições para que se desenvolva a Educação Ambiental, promovendo atitudes

significativas de preservação dos recursos naturais. - Incentivar a separação do lixo

domiciliar reciclável para o encaminhamento à coleta seletiva praticada pelos operadores

ecológicos.

Evidenciando outro aspecto deste trabalho em relação a problemática do lixo

urbano domiciliar em Guarapuava, realizou-se uma intervenção na realidade escolar,

proporcionando encaminhamentos que procuraram desenvolver a conscientização dos

alunos e alunas a respeito da geração e destinação dos resíduos sólidos domiciliares a

fim de que possam ser multiplicadores de informações e ações intervindo na sua

realidade, juntos aos seus familiares e vizinhos e, com isso, possam eles e elas também

contribuírem com a melhoria da qualidade ambiental urbana na nossa cidade.

Este Artigo é resultado de dois anos de estudo, pesquisa e intervenção na

realidade escolar, referente ao Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE,

promovido pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná.

Neste momento ao encerrar as atividades do PDE 2007/2008, faz-se necessário

agradecer: A Deus por me amparar nos momentos difíceis, me dar força interior para

superar as dificuldades, mostrar o caminho nas horas incertas e me suprir em todas as

minhas necessidades; aos meus orientadores e amigos Profº Dr. Nécio Turra Neto,

orientador durante o primeiro ano do PDE, por todo empenho, compreensão e, acima de

tudo, exigência e Profº Mestre Pierre Alves Costa, orientador do segundo ano do PDE,

pelos conhecimentos transmitidos, pela sua presteza, companheirismo e orientação neste

artigo; a Profª Maria Cristina da Fonseca, que nos momentos difíceis esteve ao meu lado

com incentivo constante através de suas palavras sempre muito valiosas; aos meus

familiares que sempre me deram amor e força, valorizando meus potenciais; a todos os

meus amigos e amigas que sempre estiveram presentes me aconselhando e incentivando

com carinho e dedicação; a todas as pessoas que, direta ou indiretamente, contribuíram

para a execução desse Artigo; a todos os alunos e alunas que se envolveram neste

processo; a Direção do Colégio Estadual Ana Vanda Bassara pela oportunidade de

implementação do projeto; a UNICENTRO através de todos os envolvidos no PDE, em

especial a Profª Drª Wanda Terezinha Pacheco dos Santos e Profª Drª Marquiana de

Freitas Vilas Boas Gomes pela presteza e profissionalismo, proporcionando discussões e

sugestões que servirão para crescimento, aprendizado e incentivo à pesquisa e a SEED-

Paraná pela oportunidade de crescimento, aprendizado, realização profissional e pessoal

e pela confiança em mim depositada.

REVISÃO DA LITERATURA

Dentro do ensino de Geografia todos os temas são de relevância para a formação

da cidadania, que se pretende atingir no âmbito escolar. Destacando-se a questão da

conscientização em relação aos problemas ambientais, os quais fazem parte desse

artigo. De acordo com PARANÁ (2006), os conteúdos estruturantes do ensino de

Geografia são: dimensão econômica da produção do/no espaço; geopolítica; dimensão

sócio-ambiental e dinâmica cultural e demográfica. Sendo que o tema de estudo escolhido

para este artigo, o qual foi aplicado em sala de aula está contemplado em todos os

conteúdos estruturantes citados acima.

Ainda em PARANÁ (2006, p. 37), encontramos que:

A concepção de meio ambiente não exclui a sociedade; antes, implica compreender que em seu contexto econômico, político e cultural estão processos relativos as questões ambientais contemporâneas, de modo que a sociedade é componente e sujeito dessa problemática.

Atualmente a humanidade manifesta uma grande angústia devido ao acúmulo de

lixo verificado em todo o Planeta, sendo este considerado um problema de ordem

mundial.

Segundo Rodrigues e Cavinatto (2003, p. 6):

A palavra lixo deriva do termo latim lix, que significa “cinza”. No dicionário, ela é definida como sujeira, imundície, coisa ou coisas inúteis, velhas, sem valor. Lixo, na linguagem técnica, é sinônimo de resíduos sólidos e compreende os materiais descartados pelas atividades humanas.

Ainda Rodrigues e Cavinatto (2003) definem como lixo domiciliar aquele originado

nas residências que resulta de atividades cotidianas como: limpar a casa, cozinhar, ir ao

banheiro, estudar, criar animais domésticos, usar medicamentos, entre outras atividades.

No Brasil, segundo estimativas cada pessoa produz entre 200 a 500 gramas de resíduos

por dia, sendo que a metade dessa quantidade corresponde a sobras de alimentos.

Outro aspecto importante a ser ressaltado é que todo o acúmulo de lixo encontrado

nos mais diferentes ambientes se deve ao consumo gerado pelo modo capitalista de

produção, contribuindo para a degradação ambiental, pois a humanidade ainda não

encontrou a forma mais adequada para sua destinação.

Krajewski, Guimarães e Ribeiro (2003) afirmam que o tratamento do lixo depende

de sua origem. Muitas cidades do Brasil adotaram a coleta seletiva, ou seja, a coleta de

materiais separadamente. Na maioria das residências o trabalho de separação do lixo é

feita pelos moradores e entregue para os catadores ou em postos de coleta.

Muitas ações paliativas e pouco duradouras são observadas em diferentes setores

da sociedade, como por exemplo: gincanas de arrecadação de lixo reciclável nas escolas;

campanhas isoladas de conscientização da população e a falta de organização do

trabalho dos catadores até mesmo dentro da associação da qual participam. Diante dessa

realidade ressalta-se a importância de uma educação ambiental efetiva e duradoura.

Referindo-se a reciclagem Grippi (2006), ressalta que ela não pode ser vista como

a principal solução para o problema do lixo. Deve ser uma atividade econômica inserida

dentro de um conjunto de soluções ambientais. Por outro lado a separação de materiais

do lixo aumenta a oferta de materiais recicláveis. Portanto, não havendo demanda por

parte da sociedade, o processo é interrompido e os materiais podem congestionar os

depósitos ou serem colocados em outro lugar, causando a contaminação do ambiente.

Destacando a responsabilidade ambiental das cooperativas de reciclagem no que

se refere à coleta seletiva, GONÇALVES (2003, p. 73) enfatiza que:

As cooperativas precisam oferecer o serviço de coleta seletiva de todos os materiais recicláveis aos seus clientes, incluindo os menos interessantes economicamente. [...] Se algum material não tem destinação na comercialização da cooperativa é sua responsabilidade destinar corretamente. A cooperativa não pode simplesmente descartar a céu aberto ou deixar na rua, mas sim conduzir o recolhimento desses rejeitos para garantir que terá destinação em aterro sanitário como deve ser.

Dentro do aspecto social que envolve a questão do lixo destaca-se a figura do

catador, que recolhe os rejeitos que podem ser reciclados e os vendem aos postos

particulares de coleta e associações que repassam aos recicladores. A imensa maioria

dos catadores não possui nenhuma proteção, manipulando diretamente o lixo e podendo

contrair doenças quando não se alimentam de restos de comida degradados, enfatiza

KRAJEWSKI, GUIMARÃES e RIBEIRO (2003).

Referindo-se aos catadores LEAL (2002, p. 180) menciona que:

Ao contrário do que podemos imaginar, a existência do trabalho na catação dos resíduos sólidos nas cidades não é fruto da vontade, e da ação dos próprios trabalhadores. De fato esse trabalhador completa e faz parte de uma engrenagem muito mais ampla e complexa do que podemos imaginar ou conceber a partir da observação empírica e superficial das atividades e das condições de vida desses trabalhadores. Essa organização é composta por uma série de outros participantes, que desempenham atividades e papéis dos mais diferenciados, compondo um circuito produtivo, ou cadeia produtiva ligada à reciclagem, em que o catador de material reciclável ocupa um lugar de importância. No entanto, contraditoriamente, trabalha em condições precárias, subumanas e não obtém ganho que lhe assegure uma sobrevivência digna. O catador participa como elemento base de um processo produtivo ou de uma cadeia produtiva bastante lucrativa, para outros é claro, que tem como principal atividade o reaproveitamento de materiais que já foram descartados e que podem ser reindustrializados e recolocados novamente no mercado para serem consumidos. [...] No entanto, a reciclagem, ou seja, a reintrodução dos resíduos sólidos no circuito produtivo da

economia principalmente a realizada em grande escala, apesar de se beneficiar do discurso da preservação ambiental, não tem nessa idéia o seu objetivo principal, sendo pois objetivo primeiro a reprodução ampliada do capital empregado.

Neste artigo destaca-se também a importância das associações e cooperativas

como forma de organização encontrada pelos catadores na tentativa de valorizar o seu

trabalhado. Pois se praticasse essa atividade individualmente não teria o mesmo êxito

como sendo membro de uma associação garantindo-lhe um preço justo pela mercadoria

que está comercializando.

Ainda enfocando o aspecto social da problemática do lixo, GONÇALVES (2003, p.

125) afirma que:

A organização de associações e cooperativas criou a possibilidade de trabalho e renda para os setores mais excluídos da sociedade. Por tudo isso, o trabalho e a organização dos catadores é uma luz que aponta na direção de um novo modelo de desenvolvimento para as nossas cidades e para nossos povos.

Em Guarapuava segundo a pesquisa de Assunção (2006), obtendo dados da

SEMAFLOR (Secretaria Municipal do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Florestal),

relata que no ano de 1995 foi organizada a coleta seletiva juntamente com a Associação

dos Catadores de Papel de Guarapuava (ACPG) que apresentava como principal objetivo

gerar renda às famílias com dificuldades econômicas e que já realizavam a coleta de lixo

reciclável individualmente. Em 1998 foi criado pelo poder público o Programa Lixo Amigo

em parceria com a ACPG. A coleta seletiva foi implantada em 87% da área urbana do

município de Guarapuava até 2004, sendo que o programa foi interrompido devido a

questões políticas.

O trabalho realizou-se envolvendo os aspectos ambientais e sociais relativos à

geração e destinação dos resíduos domiciliares fornecendo elementos significativos para

a intervenção na realidade escolar quando foi proporcionado aos alunos um enfoque

dentro da Educação Ambiental, sendo assim ressalta-se a importância de fazer algumas

considerações nesse âmbito.

Conforme Loureiro (1996), o objetivo maior da Educação Ambiental é, partir do

repensar do estilo de vida humano, construir ampla consciência crítica das relações

sociedade/natureza e individuo/sociedade e formar um cidadão atuante dentro de uma

política-filosófica de mudança global do modelo societário e civilizacional vigente.

Acredita-se que somente quando o cidadão se incluir e perceber seu espaço vivido

e concebido na tão debatida questão ambiental é que começará a agir mais

adequadamente. Neste caso, a escola tem grande contribuição a dar na construção da

consciência ambiental, preparando futuros cidadãos a perceber este espaço e atuar sobre

ele de forma mais consciente.

Além disso, os alunos e alunas de diferentes faixas etárias que estão na escola,

funcionam como agentes multiplicadores de ações e atitudes. A escola deve funcionar

como lugar de treinamento, ambiente de experimentação. A Educação Ambiental é

necessária para alcançar tal objetivo.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB, nº 9.394/96, de 20 de dezembro

de 1996 estabelece, segundo Brasil/SEF (1996) que:

A educação ambiental será considerada na concepção dos conteúdos curriculares nacionais de todos os níveis de ensino (...) implicará desenvolvimento de hábitos e atitudes sadias de conservação ambiental e respeito à natureza a partir do cotidiano a vida escolar e da sociedade.

A Educação Ambiental realizada sem critérios nos diferentes setores da sociedade

e em especial o setor escolar, não conseguirá implementar com sucesso o objetivo da

humanidade em preservar os recursos naturais ainda existentes, minimizando o impacto

ambiental.

Enfocando a dimensão da Educação Ambiental na escola, Leff (2001, p. 261)

lembra que o ensino tradicional básico apresenta defeitos não tanto por ser disciplinar,

mas também por não estimular as capacidades relativas ao conhecimento, interrogativas

de criação do aluno e aluna e por estar na maioria das vezes desvinculado dos problemas

de seu contexto sócio-cultural e ambiental. Assim sendo, a pedagogia ambiental deve

promover o desenvolvimento do pensamento que seja crítico, participativo e apresente

soluções para as problemáticas ambientais.

Compreende-se assim que para desenvolver essa temática de forma a torná-la

mais significativa para alunos e alunas, é importante eles/as serem sujeitos ativos da sua

própria formação. Para isso, os projetos de trabalho, tal como propostos por Hernández

(1998), mostram-se muito pertinentes. Os projetos de trabalho, para esse autor, deverão

levar o docente a repensar toda a sua prática pedagógica e proporcionar mudanças na

educação e na função da escola, não apenas seguindo receitas prontas com direção

linear - como geralmente ocorre com as inovações propostas -, mas realmente

introduzindo formas inovadoras de relação entre professor/a-alunos/as e destes com o

conhecimento, relações inovadoras com os conteúdos curriculares e com os espaços e

tempos escolares.

Os projetos de trabalho supõem, do meu ponto de vista, um enfoque do ensino que trata de ressituar a concepção e as práticas educativas na Escola, para dar resposta (não “A resposta”) às mudanças sociais, que se produzem nos meninos, meninas e adolescentes e na função da educação, e não simplesmente readaptar uma proposta do passado e atualizá-la (HERNÁNDEZ, 1998, p. 64).

Diante da realidade escolar atual que considera as relações de poder mais

importantes que as de saber, Hernández (1998, p. 65) enfatiza:

Deveríamos pensar que, quando falamos de projetos, o estamos fazendo porque supomos ser um meio que nos ajude a repensar e a refazer a Escola. Entre outros motivos, porque por meio deles, estamos tentando reorganizar a gestão do espaço, do tempo, da relação entre os docentes e os alunos, e, sobretudo, porque nos permite redefinir o discurso sobre o saber escolar (aquilo que regula o que se deve ensinar e como se deve fazê-lo).

O projeto de trabalho defendido por Hernández (1998) constituiu-se numa opção

produtiva na tentativa de estabelecer uma educação ambiental efetiva dando mais

significado aos conteúdos abordados nas aulas de Geografia. Com efeito, Hernández

(1998, pp. 83-86) relaciona aspectos dos projetos de trabalho salientando que:

Trabalhar na sala de aula por projetos implica uma mudança de atitude do adulto, o professor é um aprendiz e não um especialista [...] um projeto de trabalho poderá ser um percurso que busca estabelecer conexões entre os fenômenos e que questiona a idéia de uma versão única da realidade [...] os projetos não são uma fórmula que possa ser aplicada de maneira repetida [...] a problematização do tema é uma tarefa-chave, pois abre o processo de pesquisa [...] o projeto contribui para a criação de atitudes de participação e reconhecimento do “outro” que transcendem o conteúdo temático da pesquisa que se realize [...] os projetos permitem aprender o não previsto pelos especialistas, que costumam ter uma concepção de ensino mais pendente da organização seqüencial das didáticas específicas do que das possibilidades de aprender dos alunos.

Sendo assim, pretendeu-se através da implementação do projeto de trabalho

dentro do ensino de Geografia, propiciar aos alunos e alunas subsídios para o

entendimento de todo o processo que envolve a problemática do lixo domiciliar urbano em

todos os seus níveis, podendo efetivamente contribuir de maneira significativa com suas

ações e atitudes no que diz respeito à degradação ambiental.

METODOLOGIA Como procedimento foi desenvolvido um projeto de trabalho na escola, com alunos e alunas da 8ª série do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Ana Vanda Bassara, no período compreendido entre abril e junho de 2008 sobre o tema: “A problemática socioambiental do lixo domiciliar urbano em Guarapuava-PR”, que foi organizado conforme sugestão encontrada em Hernández e Ventura (1998), da seguinte forma: Inicialmente foi lançada aos alunos e alunas a seguinte pergunta: Como a questão do lixo domiciliar urbano tem sido tratada na nossa cidade?As respostas dadas pelos alunos, foram analisadas sob três níveis: 1) hipóteses individuais, 2) perspectiva coletiva e 3) interesses individuais. As análises dos níveis, que foram desenvolvidas de forma simultânea, foram utilizadas como suporte para nortear o projeto. No nível 1 foi estabelecida a distinção entre uma opinião e uma hipótese e classificou-se as hipóteses em verdadeiras, falsas e incompletas. Utilizou-se as diferentes fontes de informação, obtidas no desenvolvimento do nível 2, como forma de comprovar

as hipóteses, as idéias, as opiniões. No nível 2 elaborou-se um índice coletivo inicial com as perspectivas coletadas a partir das respostas dos alunos/as. A partir das análises realizadas, algumas ações foram delineadas como:- pesquisa em livros, revistas, jornais, sites da internet e textos fornecidos sobre os temas levantados no índice inicial - atividade individual e coletiva. Cada grupo ficou responsável pela socialização de um tema em sala utilizando meios diversos como as novas tecnologias[4] nas apresentações. - concurso de desenho de um símbolo representante do tema do projeto de trabalho, sendo que esta atividade na seqüência da sua elaboração teve a colaboração da professora de Artes. (Apêndice 1) - entrevista realizada com catadores/as, que foram convidados a comparecer na escola para contribuírem com seus depoimentos. As questões das entrevistas foram formuladas previamente pelos alunos e alunas, sob a orientação do professor. (Apêndice 2) - levantamento individual sobre o lixo produzido nas suas residências como: cada aluno ou aluna guardou em sua residência durante duas semanas o lixo reciclável produzido. Foram feitos registros referentes aos transtornos que esta situação provocou na família como: mau cheiro, ocupação do espaço, poluição visual e o aparecimento de moscas. O lixo acumulado durante as duas semanas em suas residências foi fotografado pelos alunos e alunas, quando houve a identificação dos diferentes tipos de materiais usados na fabricação dos produtos consumidos que gerou o lixo armazenado em suas casas: plástico, papel, papelão, vidro, metal, tecido e outros. Foi incorporado neste item outro questionamento: “Por que dentro de casa o lixo não pode ficar acumulado e em outros ambientes pode?” Essa atividade implementada pode proporcionar uma integração entre as disciplinas de Matemática, Ciências, Língua Portuguesa, Inglês, História e Artes. Os resultados obtidos com as observações realizadas pelos alunos e alunas foram registradas em apresentações de slides que posteriormente foram socializadas para os demais colegas da turma. (Apêndice 3) - realizou-se uma visita orientada em local importante que se relaciona com o tema do projeto de trabalho na escola, como: Associação dos Catadores de Papel de Guarapuava e algumas moradias de catadores/as. Produziu-se, em grupos, a partir dessas visitas: textos e fotografias, que foram socializados na comunidade escolar. (Apêndice 4) - formaram-se grupos de alunos/as para elaboração de uma trilha geográfica envolvendo o tema do projeto, a qual consiste num jogo com regras de avanços, recuos e paradas, ilustrada com colagens, desenhos, figuras e frases que estimulam a consciência de preservação ambiental. Estes jogos foram aplicados para alunos e alunas de 6ª série do Ensino Fundamental do mesmo colégio. (Apêndice 5) O nível 3 que caracterizou-se por abordar atividades de interesse individual, foi solicitado aos alunos e alunas que escolhessem um tema, dentro de toda a pesquisa coletiva já desenvolvida, para realizar um aprofundamento numa pesquisa individual. Esse passo é importante, pois permite que se dê margem para o desenvolvimento das afinidades temáticas e autonomia individual de pesquisa, pelo estímulo aos alunos e alunas a

buscarem aprender aquilo que gostariam de aprender.- as pesquisas individuais dos alunos e alunas compõem uma coletânea de material didático que se somará à da pesquisa coletiva. Esse material didático foi produzido pelos alunos e alunas utilizando-se de recursos de multimídia como: produção de slides em PowerPoint, utilização do Pendrive, TVPendrive, gravação em CD e Data Show.

A avaliação de todo o processo ocorreu durante o desenvolvimento das atividades

propostas no projeto de trabalho levando em consideração os três níveis abordados na

sua organização, conforme sugerem Hernández e Ventura (1998):

- Nível 1: análise das respostas obtidas para conhecer os conhecimentos prévios dos

alunos/as em relação ao tema proposto, utilizando-se das categorias: respostas

verdadeiras, falsas e incompletas.

- Nível 2: fazer uma avaliação do comprometimento do grupo em relação ao trabalho da

pesquisa coletiva e dos resultados atingidos. Uma avaliação que, segundo Hernández

(1998, p. 95), “não é a de controlar e qualificar os estudantes, mas, sim ajudá-los a

progredir no caminho do conhecimento, a partir do ensino que se ministra e das formas de

trabalhos utilizados em sala de aula”

- Nível 3: nessa etapa avalia-se o desenvolvimento individual do aluno e da aluna em

relação ao seu próprio processo de pesquisa: as fases de problematização, coleta e

análise de dados, tratamento das informações teóricas e apresentação do trabalho final.

Todas essas fases/níveis avaliativos baseiam-se na consideração de que a

avaliação deve ser convertida, segundo Hernández (1998, p. 97):

... numa peça-chave do ensino e da aprendizagem que possibilite aos docentes pronunciar-se sobre os avanços educativos dos alunos e, a esses, contar com os pontos de referência para julgar onde estão, aonde podem chegar e do que vão necessitar para continuar aprendendo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir de algumas investidas preliminares em campo, conversando com catadores

de lixo reciclável em Guarapuava, visitando a cooperativa de catadores e coletando dados

na prefeitura municipal, pode-se constatar que o trabalho dos catadores e catadoras é

explorado de forma negativa por pessoas ligadas ao processo de receptação e destinação

para reciclagem. Não está bem clara como é essa relação entre catadores/as e as

empresas que compram o resultado das suas coletas, nem como a prefeitura organiza e

gerencia esse processo.

Numa conversa com um catador que abordamos na rua, constatamos que ele não

é de Guarapuava, mas migrante de um município vizinho, sendo que lá não encontrou

emprego e veio para Guarapuava em busca de novas oportunidades. A pouca

qualificação profissional, a carência de empregos na cidade, empurrou-o a essa condição

de ter que gerar seu próprio emprego. O trabalho na coleta seletiva de lixo, como catador,

foi a alternativa encontrada. Segundo dados da prefeitura, são hoje em Guarapuava 700

catadores/as cadastrados, com dados da ACPG são mais de 200 famílias que sobrevivem

da coleta de lixo reciclável na cidade e muitos outros não identificados que participam da

coleta seletiva de lixo reciclável que, com seus carrinhos, percorrem toda a cidade,

coletando nas casas e nos comércios, materiais que podem ser depois comercializados

junto aos receptadores particulares que ultrapassam a 30 depósitos.

1. Análise das respostas

Levando-se em conta os dados já obtidos a respeito da situação dos catadores de

lixo reciclável e diante da caótica situação ambiental que o nosso planeta Terra está

exposto na atualidade procedeu-se a implementação do projeto de investigação e

conscientização a respeito da problemática socioambiental do lixo urbano domiciliar em

Guarapuava-PR, no Colégio Estadual Ana Vanda Bassara em uma turma de oitava série

do Ensino Fundamental. O projeto de trabalho na escola iniciou-se com a

problematização do tema, através da pergunta: Como a questão do lixo domiciliar

urbano tem sido tratada na nossa cidade? As respostas obtidas com a questão citada

propiciaram ao professor condições de avaliar o nível de conhecimento e conscientização

ambiental dos alunos e alunas envolvidos no projeto, as quais serão comentadas a seguir,

sob três níveis: 1) hipóteses individuais, 2) perspectiva coletiva e 3) interesses individuais.

Após a análise das respostas dos alunos e alunas da turma experimental verificou-

se no nível 1 - Hipóteses individuais do Projeto de Trabalho na Escola a preocupação no

destino final do lixo e o envolvimento do governo municipal em apresentar soluções para

o problema que na maioria das cidades do país não existem. Comentou-se até que o

governo poderia investir o dinheiro dos impostos em reciclagem e que a população

poderia cooperar de maneira mais significativa separando o lixo. Na visão dos alunos/as

de maneira quase unânime o governo local não dá muita importância para a problemática

do lixo domiciliar urbano. Outro aspecto comentado seria o de desenvolver campanhas

junto à população sobre o lixo, pois acredita que os habitantes não se importam com esse

problema, mesmo sabendo que ele está presente no cotidiano da cidade e que na maioria

da população da cidade não existe a separação do lixo que possa ser reciclado

posteriormente.

Verificou-se ainda como hipóteses levantadas pelos alunos e alunas que se

existissem mais caminhões diariamente coletando o lixo esse problema diminuiria de

gravidade. Teríamos menos lixo nos terrenos baldios, praças, nas ruas e até na periferia

da cidade o que deixaria de comprometer a saúde da população e que não poluiria o meio

ambiente. Alguns alunos/as comentaram sobre o lixão da cidade que o mesmo deveria

receber mais atenção do poder público, que o lixo deveria ser enterrado em vez de ficar

exposto ao ar livre.

Outro fato exposto pelo comentário dos alunos/as foi a respeito de lixeiras que

existem apenas no centro da cidade, mais especificamente em duas ruas e que deveriam

estar presentes também nos bairros.

Através da análise das respostas dos alunos e alunas verificou-se que em se

tratando dos diferentes conceitos que surgiram nos comentários, eles apresentam noções

equivocadas como: usa-se o conceito de reciclagem como sinônimo de coleta seletiva;

que o catador realiza a reciclagem do lixo e não a coleta do lixo; confundem lixão[5] com

aterro sanitário[6].

Estas respostas à questão foco serviram de subsídios para nortear a continuidade

desse projeto de trabalho, verificando-se a necessidade de aprofundar as discussões

sobre o tema e os conceitos que ele envolve a fim de que as concepções prévias dos

alunos e alunas sejam modificadas e/ou aprimoradas, possibilitando assim uma

aprendizagem significativa dos conteúdos na disciplina de Geografia.

No nível 2 - Perspectiva coletiva, a partir da análise das respostas dos alunos e

alunas apresentadas no nível 1, elaborou-se um índice norteador do trabalho de pesquisa

bibliográfica dos aprendizes. Tal índice ficou assim estabelecido:

• Reciclagem;

• Doenças causadas pelo acúmulo de lixo;

• Lixões;

• Educação Ambiental;

• Compostagem;

• Aterros Sanitários e Controlados;

• Coleta Seletiva;

• Catadores (Operadores Ecológicos).

Após análise das pesquisas bibliográficas realizadas sobre os temas delineados no

índice coletivo do nível 2, observou-se que os alunos e alunas envolvidos no projeto

utilizaram como fonte de pesquisa principalmente a internet, comprovando ser este meio o

mais utilizado pelos alunos/as atualmente. Trata-se de uma importante ferramenta para

aprendizagem, porém o professor precisa ter alguns cuidados para que este tipo de

atividade não se torne apenas cópia, indicando sites de pesquisa e cobrando os

resultados em forma de socialização do trabalho em sala de aula, proporcionando assim a

discussão em grupo, através de interpretação das informações obtidas.

Em seguida cada aluno/a realizou uma entrevista individual com um catador

enfocando os seguintes aspectos: Sexo; origem; faixa etária; escolaridade; tempo que

pratica a coleta de lixo reciclável; efetivo familiar; renda mensal; comércio dos produtos

coletados; onde reside; tipo de moradia; dias da coleta; o que gosta de fazer. Realizando

estas entrevistas junto aos catadores de material reciclável (operadores ecológicos) os

alunos e alunas puderam perceber a dura realidade que todos os que fazem parte desse

grupo social enfrenta no cotidiano como: longas jornadas catando materiais, chuva, frio, o

trânsito, o desprezo das pessoas, xingamentos, tratados como marginais, ainda

recebendo outras informações importantes para análise como as dificuldades encontradas

na atividade que eles praticam. (Apêndice 6)

Houve também uma entrevista coletiva realizadas pelos alunos e alunas, quando um casal de catadores foi convidado a participar em sala de aula dessa atividade relacionada com o projeto de trabalho. Nessa oportunidade tanto os alunos e alunas como os catadores/as puderam estar frente a frente e sem a preocupação de ambas as partes do tipo de atividade praticada que envolve o lixo. O casal de catadores respondeu de maneira tranqüila a todas as perguntas dirigidas pelos alunos/as sem constrangimento, satisfazendo em linhas gerais aos anseios dos aprendizes. Sendo que com esta atividade foi-lhes proporcionado conhecer uma amostra do aspecto social que envolve a problemática em estudo no desenvolvimento do projeto. (Apêndice 7) A partir dessa entrevista cada aluno/a elaborou um relatório. (Apêndice 8)

No nível 3 os temas de maior preferência dos alunos e alunas para

aprofundamento individual foram: Reciclagem, Lixão, Aterro Sanitário, Catadores e as

Doenças relacionadas ao lixo domiciliar urbano.

2. Análise do levantamento individual do acúmulo de lixo reciclável nas residências.

Após terem realizado a separação do lixo reciclável para a destinação correta em

suas residências, os alunos/as manifestaram algumas considerações a respeito dessa

ação, as quais são apresentadas a seguir:

• A1[7] - “Na minha casa eu separei o lixo reciclável durante duas semanas.

Nesse lixo continha papéis, latinhas de alumínio, plástico, papelão, garrafas pet. O

lixo não possuia mau cheiro pois eu lavei antes de guardar, minha família

colaborou muito com o meu trabalho. E foi assim que eu ajudei com o meu

mínimo para termos um Planeta melhor. Se todos pudessem fazer isso pelo

menos uma vez por semana seria ótimo para o Planeta Terra. Obrigada!”

• A3 - “Esse trabalho foi realizado ao longo de cinco dias. E nesses cinco dias

não tive a oportunidade de fazer o trabalho com o Operador Ecológico (catador)

mas, além disso aprendi coisas boas, que fazer a separação do lixo em nossas

casas não é uma tarefa difícil e muitas outras coisas...”

• A4 - “O volume de lixo reciclável não foi muito grande devido a circunstância de

que eu e a minha família não ficamos o dia inteiro no local onde foi recolhido o lixo

(local onde moro). Como almoçamos e jantamos na casa da minha avó, não teve

embalagens de arroz, feijão, milho, entre outros. A maioria das embalagens

coletadas são de: leite, remédios, iogurte, etc. Minha mãe relatou que no começo

não gostou muito do projeto pois o lixo gerava mau cheiro e também gerava

poluição visual, além disso, o lixo foi depositado na cozinha. Mas no dia em que

eu o coloquei o lixo no depósito de lixos recicláveis, minha mãe disse que a partir

daquele momento, iria separar todo o lixo para a reciclagem, o que não é difícil.

No condomínio onde moro há um lugar reservado para depositar somente o lixo

reciclável, sendo assim, eu coloquei o lixo nesse devido lugar. Com esse projeto

eu aprendi muita coisa e decidi que a partir do dia 9 de agosto de 2008 eu iria

separar todo o lixo reciclável com o apoio de toda a minha família que me ajudou

em todo o projeto do início ao fim. Reciclar é responsabilidade social, eu vou fazer

a minha parte, faça a sua também.

• A6 - “O objetivo do trabalho é observar qual o impacto que o acúmulo de

reciclável pode causar em nossas vidas, e também aprofundar um pouco o

conhecimento sobre o assunto. O trabalho foi desenvolvido através da separação

do lixo reciclável durante 10 dias. Esse trabalho nos leva a perceber a importância

da reciclagem, pois sem ele todo o material separado iria para o lixão,

aumentando assim ainda mais a quantidade de lixo ali depositada. Foram

coletados diversos tipos de materiais recicláveis, tais como: papel, plástico,

papelão, garrafas pet, etc. Que tiveram a origem de embalagens de produtos para

uso pessoal e coletivo (alimentação, higiene pessoal, limpeza geral, calçados,

material escolar e outros). Pude perceber como é importante fazermos a

separação do lixo reciclável, pois com essa “pequena” atitude estaremos

preservando o meio ambiente e também colaborando com os operadores

ecológicos que geralmente tiram desse trabalho o sustento de suas famílias.

Portanto, cada um deve fazer a sua parte, pois assim estaremos a um passo de

um mundo melhor.”

Analisando os comentários dos alunos/as A1, A3, A4 e A6 expostos nas

conclusões do trabalho de campo realizado em casa separando o lixo reciclável, pode-se

verificar a evolução dos aprendizes com relação à conscientização no ato de separar o

lixo reciclável, para que este não tenha outro destino que não a reciclagem em uma

indústria específica. Estes alunos/as passaram a realizar a separação do lixo reciclável

em suas residências após o desenvolvimento desta atividade.

• A2 - “A separação do lixo reciclável em minha casa foi muito tranqüila, pois já

era feita a separação antes mesmo da conclusão do trabalho. Tive ajuda de minha

avó com a separação, o lixo não causou mal cheiro e foi guardado na garagem”.

• A5 - “Para mim e para minha família, não houve nenhum “impacto”, ao fazer a

separação do lixo reciclável do não reciclável, pois minha mãe já separava o lixo

em nossa casa antes disso. O que mais apareceu como lixo reciclável foi o

papelão, que no caso seriam as caixas de leite, embalagens de creme dental,

caixas de suco. As fotografias tiradas dos materiais coletados, foram apenas uma

parte desse material, pois se fosse tirar uma foto de todo o lixo coletado durante

esses 7 dias iria fazer uma bagunça no local e iria sujar a casa. Se cada pessoa,

se cada família, fizesse a sua parte em realizar a separação do lixo reciclável, e o

entregasse aos catadores, nós não estaríamos vivendo em um mundo poluído.

Com a parte de cada família, viveríamos em um mundo longe da poluição. Então,

faça sua parte você, e separe o lixo reciclável e entregue-o a algum catador.”

• A7 - “Vidros, garrafas plásticas, latas de alumínio, papelão e caixa de leite.

Esses materiais que foram citados são os materiais mais presentes em nossa

cidade. Eles são os mais fáceis de encontrar nas ruas de Guarapuava. Podemos

dizer também que eles são os únicos materiais que as pessoas acham que possa

reciclar. O lixo deve ser reciclado e não jogado.”

• A8 - “Com uma pequena ação podemos ajudar a salvar o planeta...”

• A9 - “Em casa ninguém reclamou, e todos ajudaram, não teve mau cheiro

porque eu sempre lavava as embalagens antes de guardar. Antes de fazer o

trabalho, em casa era separado somente as garrafas (vidro e plástico) eram

entregues para o Seu Vitor (operador ecológico). Eu não pretendo continuar o

processo de separação de lixo, porque, dá muito trabalho, mas vou separar as

garrafas como de costume. Apesar de não continuar com a separação do lixo eu

aprendi a importância da mesma, eu sei que ajudei o meio ambiente e o operador

ecológico. Se todos fizermos um pouco o planeta será o bastante”.

• A10 – “Durante o processo de separação do lixo, foram lavados muito bem os

produtos para serem guardados. A minha avó e minha mãe, me ajudaram no

processo. Tipos de materiais: Papel, papelão, plástico e vidro. Origem do lixo:

Alimentação, compra de objetos de diferentes naturezas, higiene em geral. Local

de armazenagem do lixo: lavanderia. Impacto da família: houve reclamações pelo

tempo em que o lixo ficou armazenado. Produto mais coletado: plástico.

• A11 - “Podemos dar outro destino ao lixo, é somente jogá-lo no lugar certo e

não nas ruas. Pois ao reciclarmos o lixo estaremos ajudando a nossa cidade e

também os garis, pois assim estaremos facilitando o trabalho deles. Todos

querem um país melhor, mas quase ninguém quer ajudar...”

• A12 - “Na minha casa sempre há a separação do lixo para tornar as coisas

mais fáceis. Minha mãe sempre separa o lixo certo para o caminhão do lixo

passar e pegar. O lixo que eu separo vai em sacola diferente, uma para papel,

outra plástico e papelão. Eu aprendi que o mundo não é um lugar onde a gente

pode fazer o que quiser com ele. O mundo não é só um lugar onde divide os

pobres com os ricos, o mundo é a nossa casa, uma casa que tem abrigo para

bilhões de pessoas, mas essas pessoas não gostam de ter a casa limpa”.

Os alunos/as A2, A5, A7, A8, A9, A10, A11 e A12, já realizavam em suas casas

com a colaboração de seus familiares a separação do lixo reciclável do não reciclável

promovendo um destino para esse material que não o lixão, entregando-os para um

operador ecológico (catador). Com essa atividade ficou reforçada a intenção desse

projeto de trabalho que visa a Educação Ambiental, proporcionando uma reflexão sobre

esta ação que poderá ser transformadora no sentido de que os envolvidos se tornem

multiplicadores de atitudes positivas junto aos seus familiares e amigos. Essa é uma

prática que deverá ser sempre realimentada vivenciando experiências como esta levando-

os/as a reflexão.

De um total de 36 alunos da turma onde se implementou o projeto de trabalho,

houve a participação efetiva nessa atividade de 16 alunos/as, ou seja, 44,5% do total da

turma. O percentual da participação dos alunos/as foi inferior as expectativas iniciais,

porém os que realizaram a atividade superaram os obstáculos do processo e

apresentaram resultados significativos. Dos 16 participantes, 08 já realizavam junto com

seus familiares a separação do lixo reciclável do não reciclável, e 08 começaram esta

prática a partir do envolvimento nesta ação, a grande maioria dos alunos e alunas

demonstraram opinião favorável ao fato de continuarem no processo de separação do lixo

reciclável e destinação desses materiais, entregando-os aos “operadores ecológicos”. Ao

final dessa atividade os alunos/as realizaram a socialização dos trabalhos em PowerPoint

em sala de aula proporcionando assim aos colegas uma visão geral das situações

vivenciadas, sendo este um momento bastante delicado do processo, pois envolve o

desenvolvimento das atitudes de escuta e respeito em relação aos colegas de sala.

Foi realizada uma visita orientada no ambiente da ACPG - Associação dos

catadores de papel e papelão de Guarapuava, local este que serviu de laboratório, pois os

alunos/as puderam observar o trabalho desenvolvido nesta instituição que recebe

toneladas de lixo e a maneira como executam a separação do mesmo, prensando-os para

que depois possam ser transportados para uma usina de reciclagem em outros

municípios. Nesta ocasião os alunos e alunas puderam vivenciar o funcionamento da

separação do lixo coletado na cidade de Guarapuava, produzindo fotografias e

conversando com as pessoas que trabalham na associação. Cada aluno/a produziu um

relatório referente ao que foi observado na visita orientada, relatórios estes apresentados

e debatidos posteriormente em sala de aula.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a conclusão do processo de capacitação continuada, referente ao PDE -

Programa de Desenvolvimento Educacional, promovido pela Secretaria de Estado

da Educação do Paraná, que teve a duração de dois anos, pode-se afirmar que a

disciplina de Geografia é fundamental para o entendimento da importância do ser

humano e da sociedade para conhecer e compreender os grupos sociais nos quais

as pessoas estão inseridas, estabelecendo relações entre si e com a natureza.

Pode-se proporcionar aos alunos e alunas do Ensino Fundamental do Colégio

Estadual Ana Vanda Bassara, conhecer em parte a realidade de um grupo social, os

catadores (operadores ecológicos) que estão inseridos economicamente entre os

desprovidos, constituindo-se como parte fundamental para a compreensão da

problemática socioambiental do lixo domiciliar urbano. Pois o trabalho informal

desenvolvido por estes cidadãos está relacionado diretamente ao lixo, os

descartes, as sobras de outros grupos sociais.

Portanto os alunos e alunas são os principais atores para a efetivação de todo este

processo social de conscientização, através da Educação Ambiental, que envolve toda a

problemática da geração e destinação do lixo urbano domiciliar.

Concordando com Hernández (1998), quando se refere ao projeto de trabalho na

escola, enfatizando que ao utilizar essa metodologia, implica entre muitos outros aspectos

numa mudança de atitude do professor, que nesse processo é um aprendiz e não um

especialista, trocando conhecimentos e ações com os alunos e alunas. Na prática isso foi

vivenciado pois com o desenvolvimento das diferentes atividades houve esta constatação,

através do uso das diferentes tecnologias, que não faziam parte do cotidiano escolar do

docente e que atualmente fazem, em especial a utilização da informática como recurso

didático, destacando-se a utilização do pendrive pelos alunos e alunas para o registro e o

transporte de dados obtidos com o trabalho de campo, como também o uso da

TVpendrive para a socialização das atividades produzidas.

No período em que vivemos com rápidas, profundas e constantes transformações,

constatou-se a importância em abordar a Educação Ambiental no âmbito escolar, pois os

diferentes grupos sociais estão subjugados ao capitalismo e conseqüentemente ao

consumo, responsável pela produção de todo o lixo gerado nas diferentes atividades

humanas. Entender esse processo, através das aulas da disciplina de Geografia,

proporcionou aos alunos e alunas a compreensão de vários conceitos como: aterro

sanitário, catadores, coleta seletiva, compostagem, lixão, lixo, reciclagem, separação

seletiva, proporcionando-lhes uma aprendizagem significativa.

Com o desenvolvimento desse Projeto de Trabalho na Escola, percebeu-se a

necessidade de aplicação e aprofundamento permanentes relacionados a essa temática.

Sugere-se que as atividades do projeto sejam aplicadas em outras turmas, estendendo-se

ao Ensino Médio e este realizando a socialização com o Ensino Fundamental em contra

turno, formando assim uma rede de conhecimento, estimulando ações conscientes

relacionadas à problemática que envolve o lixo.

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