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Eber Josué A princesa Lorelei

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Eber Josué

A princesa Lorelei

©2014 Eber Josué Dias de Oliveira E-mail: [email protected] Impressão e acabamento:

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Josué, Eber 1985- J83p A princesa Lorelei / Eber Josué. – Três Corações:

Eber Josué Dias de Oliveira, 2014.

34 p. ISBN 978-85-914543-3-4 1.Literatura brasileira. 2.Literatura infantil.

3.Ficção. I.Título. II.Junior Menezes (ilustrador).

CDD: B869.3 CDU: 82-92 / 82-93

Índice para catálogos sistemáticos. 1.Literatura brasileira: 869.3

Ficção : Contos brasileiros: 869.308

Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução deste livro com fins comerciais

sem prévia autorização do autor.

Eber Josué

A princesa Lorelei

1ª Edição

Três Corações-MG Eber Josué Dias de Oliveira

2014

DEDICATÓRIA

Para Duda,

uma princesinha que mora em um

longínquo reino encantado chamado

Pérola do Atlântico.

Ao Ícaro, eternamente em nossas memórias.

E ao Alas.

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– Só mais um pouquinho de amarelo.

Lorelei se aproximou do conjunto de potes de tintas co-

loridas à sua esquerda e pegou o amarelo. Molhou a ponta do

pincel e retornou ao trabalho.

Delicadamente e com movimentos suaves ela começou a

preencher o contorno que já havia feito na tela. Fez várias

misturas com as cores já existentes e terminou com uma leve

pincelada de água. Afastou-se da obra, observou-a longamente

e sorriu feliz com o resultado, batendo palmas de contenta-

mento.

– Eu preciso te dar um nome, meu amiguinho.

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Começou a andar de um lado para o outro, pensativa.

Correu os olhos por toda a parte, procurando um nome con-

veniente. Afastou as pesadas cortinas que cobriam as janelas

que se abriam para o enorme pátio e fitou o infinito, além da

grande muralha. De repente teve uma iluminação e voltou-se

rapidamente para o cavalete onde estava a sua obra.

– Sabe, meu amiguinho... Vou te chamar de Reno, que é

o nome de um rio maravilhoso – sorriu, satisfeita. – E agora a

fase final.

Ela fitou sua obra e em seguida fechou os olhos, movi-

mentando suavemente suas mãos sobre a tela enquanto de-

clamava as seguintes palavras:

“– Mistério, milagre da vida; Vida, de quem sou instrumento; Instrumento que compõe meus dias, Dê vida ao meu pensamento.”

À medida que dizia aquelas palavras, algo estranho ia

acontecendo. A figura que havia acabado de pintar começou a

tremer sem parar e a tela fazia movimentos para frente e para

trás.

Quando abriu os olhos e virou-se para ver o efeito que

causara, na tela havia apenas um borrão colorido e bastante

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estranho. Sobre o cavalete havia um grande e colorido pássa-

ro. Ela batia palmas de contentamento e pulava de cá para lá.

– Meu amiguinho! Eu consegui! Eu consegui, novamen-

te.

– Sim, princesa – o pássaro concordou. – Sim, você con-

seguiu.

Ela olhou para o pássaro, parecendo repentinamente

confusa, mas logo se refez do susto e continuou a bater palmas

e a dar gritinhos de alegria. O pássaro Reno acompanhava seus

movimentos com os olhos e sorria seu sorriso de pássaro.

A princesa Lorelei não estava mais sozinha

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– Venha, Reno – ela tomou o grande pássaro em seus

braços. – Vou mostrá-lo para a mamãe.

Saiu correndo através do amplo corredor, passou por

salas e mais salas, abrindo e fechando portas. Dirigiu-se à sala

do trono, onde encontrou o rei e a rainha conversando com

algumas pessoas.

– Veja, mamãe! – ela gritou, adentrando correndo ao

enorme salão.

Todos se viraram para a porta. O rei se levantou do tro-

no e deu uma forte pancada no solo com a ponta do seu cetro,

apontando-o em seguida na direção da menina.

– Princesa, não se aproxime! Estamos cuidando de negó-

cios de Estado – disse e tornou a se sentar.

A princesa Lorelei estacou no local em que estava, en-

quanto as pessoas recomeçaram a conversar. Apenas sua mãe,

a rainha, ainda se virou para fitá-la. Com um leve movimento

da mão pediu que a menina se retirasse.

A menina começou a se afastar vagarosamente e de cos-

tas até à porta, saindo então numa desabalada louca na dire-

ção do seu quarto.

Assim que entrou no quarto ela puxou o dossel que or-

namentava sua cama e se jogou sobre o colchão. Uma lágrima

teimosa rolou pela sua face.

– Não chore, alteza – o pássaro pediu, tristemente.

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Ela estendeu a mão para ele e acariciou-lhe as penas

macias.

– A minha vida é assim, Reno – falou soluçando.

– Assim como, princesa?

A menina ergueu o corpo, apoiando-se sobre um dos

braços. Fitou o pássaro nos olhos e viu refletido em seus olhos

tudo o que ela precisava para sorrir. Puxou o pássaro contra o

seu peito.

– É verdade, Reno. Eu não estou mais sozinha.

Na verdade aquele era um reino bastante sossegado,

onde há muito tempo não havia guerras, nem mortes e nem

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revoltas. Era um reino de tranquilidade e calma, mas ainda

assim o rei e a rainha não tinham tempo para a filha, a prince-

sa Lorelei.

No principio ela era triste, muito triste, por se sentir ex-

cluída pela família. Apesar de ser a terceira pessoa mais im-

portante do reino, sua presença só era notada nos desfiles

reais, quando era embonecada com sedas e rendas, além de

fixarem em sua cabeça uma enorme e pesada coroa de ouro e

rubi.

Sempre fora solitária e por isso passava horas em seu

quarto, enquanto o rei e a rainha tratavam dos “assuntos de

Estado”.

Quando tinha fome, a princesa Lorelei se poupava ao

trabalho de ir até o salão de refeições real. Simplesmente sen-

tava-se em frente ao seu cavalete e desenhava na tela o que

queria comer. Pronto, ali estava, à sua frente, tudo o que que-

ria. A qualidade do alimento dependeria de saber desenhar

bem, e isso ela fazia com destreza e perfeição.

Quando se sentia triste e devorada pelo silêncio ela pin-

tava flores, cachoeiras barulhentas, borboletas e pequenos

pássaros, que devolvia à natureza em troca de torná-la feliz.

Os pássaros faziam uma verdadeira festa e show de músicas,

alegrando-a sempre.

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Quando sentia que o tempo estava nublado ela desenha-

va luzes e cores.

E se o tempo estava abafado e quente ela desenhava a

chuva e o vento.

Assim a princesa Lorelei se considerava a pessoa mais

feliz do mundo.

Quando queria brincar ela desenhava meninos e meni-

nas. Brincava com os novos amigos o dia inteirinho, de tudo

que era brincadeira. Eram realmente os dias mais felizes.

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Brincavam até ficarem exaustos. Então a princesinha

contava uma história sempre de teor agradável para o espírito

infantil e que geralmente terminava em final feliz.

As crianças adoravam finais felizes assim. Riam, batiam

palmas e alguns ainda pediam para a princesa repetir.

Ao final as crianças adormeciam ali mesmo no chão,

com um sorriso nos lábios. Então a princesa Lorelei se levan-

tava lentamente e caminhava até à tela posta sobre o cavalete.

Com um pincel molhado em água ela fazia movimentos circu-

lares sobre o borrão colorido da tela, fazendo sumir, uma a

uma, todas as crianças. Ao término do trabalho ela própria se

dirigia à sua cama e dormia feliz.

Por isso e mais a princesa Lorelei se considerava a pes-

soa mais feliz do mundo, ainda mais agora que tinha o pássaro

Reno para conversar todos os dias e dar-lhe ideias sobre novas

criações. Com o tempo ele também aprendera a contar várias

histórias lindas e emocionantes.

Os dois se tornaram os melhores amigos e parceiros de

brincadeiras. Reno já sabia até desenhar quase tão bem quan-

to a princesa. Só que suas criações geralmente saíam com al-

guns probleminhas.

Um dia a princesa acordou muito diferente. Estava triste

e indisposta. Ao contrário dos outros dias ela não acordara

feliz e nem com vontade de brincar. Queria apenas ficar só.

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O pássaro Reno estranhara o modo da princesa, que

nunca estivera assim. Para começar ela nem sequer havia le-

vantado da cama. Passou todo o dia deitada.

O pássaro voou até à tela e começou a desenhar algo pa-

ra a princesa comer. Desenhou pães e frutas que levou para a

princesa. Ela recusou simplesmente porque o pão havia saído

queimado e o pássaro só conseguia desenhar limões azedos.

A princesa estava cada dia pior e o pássaro não sabia o

que fazer para deixá-la alegre.

Já tentara desenhar borboletas, mas tudo o que conse-

guira fora lagartas aladas. Já tentara desenhar flores, mas aca-