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Anais Semana de Geografia. Volume 2, Número 1. Ponta Grossa: UEPG, 2012. ISSN 2317-9759

I SEMANA E JORNADA CIÊNTÍFICA DE GEOGRAFIA DO ENSINO A DISTÂNCIA DA UEPG Teorias e Práticas na Formação Docente do Professor de Geografia

A PRÁTICA DOCENTE EM GEOGRAFIA: “NOVOS” DESAFIOS DIDÁTICOS E METODOLÓGICOS

SILVA, Paulo Vinicius Tosin da1

Resumo

A prática docente em geografia passou por uma mudança de paradigmas no decorrer dos últimos quinze anos e, agora, buscar solucionar a problemática construída e trilhar um caminho autônomo e independente. Esse adendo é facilmente verificado através da inserção maciça dos livros didáticos de Geografia nas esferas do ensino fundamental e médio mediante o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), isso contribuiu para a mecanização do ensino mediante metodologias padronizadas. Nessas fases de aprendizagem sequenciada, os conteúdos geográficos demandam do aluno uma compreensão espacial mais sofisticada, a qual contempla a capacidade analítica e crítica do espaço. Visando a abrangência nacional do livro didático, as editoras formularam e organizaram os conteúdos de modo generalizado sem atentar-se para as disparidades de espaço social no Brasil no que se refere às geografias locais e regionais. Neste ponto, esta revisão de literatura proporciona o desequilíbrio conceitual de ensino da geografia e busca reflexões acerca da geografia que se objetiva ensinar. PALAVRAS CHAVE: Ensino da Geografia, Prática Docente, Ensino Fundamental Introdução

O oficio de ensinar tornou-se atividade mecanizada em razão dos livros didáticos de geografia que passaram de instrumentos metodológicos de ensino para protagonistas na docência. Um mecanismo de doutrinação educacional, ditador dos conteúdos e regente na orquestração educativa. Este texto proporciona reflexões acerca da Geografia que é ensinada nas escolas públicas em detrimento da inserção maciça do Livro Didático, face à autonomia de conteúdos do professor em sala de aula, bem como da distância entre a geografia aprendida e a geografia vivida. O objetivo deste constructo bibliográfico consiste em relacionar e propor indagações acerca do papel do Livro Didático e sua respectiva ausência de interface com o ensino da geografia na contemporaneidade, tomando base o paradoxo ensino versus livro didático. Para tal objetivo, têm-se aporte teórico em Callai (2003), Cavalcanti (2011), Freire (2011) e Santos (2010). A metodologia de pesquisa adotada é a abordagem qualitativa mencionada por Gil (1991), Oliveira (2008) e Flick (2004), com o método da pesquisa bibliográfica apontado por Oliveira (2008, p. 69) como “um estudo direto em fontes cientificas, sem precisar recorrer diretamente aos fatos/fenômenos da realidade empírica”. Desenvolvimento Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997) os conteúdos no Ensino Fundamental estão organizados em primeiro e segundo ciclo (1ª à 4ª série, atual 5º ano) e terceiro e quarto ciclo (5ª à 8ª série, atual 9º ano). Para fins

1 Acadêmico de Geografia na Universidade Federal do Paraná e Professor de Geografia na Rede Estadual. E-mail: [email protected]

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Anais Semana de Geografia. Volume 2, Número 1. Ponta Grossa: UEPG, 2012. ISSN 2317-9759

I SEMANA E JORNADA CIÊNTÍFICA DE GEOGRAFIA DO ENSINO A DISTÂNCIA DA UEPG Teorias e Práticas na Formação Docente do Professor de Geografia

explicativos, os dois primeiros ciclos visam a compreensão geral e sintética do espaço, partindo da interpretação do lugar onde realiza suas atividades cotidianas. Na práxis educativa, os conteúdos encontram-se distantes da realidade do aluno e o docente deve ter uma metodologia própria a fim de estabelecer a conexão do teórico com o empírico, atentando-se às particularidades locais. Como menciona Freire (2010, p. 47) “ensinar não é transferir conhecimento”, este trecho é convergente com as práticas cotidianas e a importância do conhecimento geográfico. Desde que nascemos praticamos geografia, primeiramente, nosso espaço é o ventre da mãe, passando ao berço, depois ao quarto, a casa, a casa dos parentes, a rua etc. Nesse aspecto, Callai (2003, p. 30) aborda a relevância de “olhar para o professor para ver o que ele ensina e o que ele sabe do que deve ensinar”. Estamos no consuetudinário da possibilidade de “viajar virtualmente” a todos os lugares do mundo através da internet e suas respectivas ferramentas. Todavia, nisto reside a utopia pautada na passividade do sujeito em aceitar as coisas como são postas, Santos (2010, p. 39) coloca a violência da informação como ameaçadora à subjetividade e percepção do sujeito, isto é, a informação é repassada segundo a vontade de determinados setores da sociedade que buscam a manutenção de seu bem-estar social e doutrinação da massa.

As demandas da Geografia na atualidade visam transformar as práticas então constituídas e oferecer mais vida ao espaço local a partir das rotinas escolares (Cavalcanti, 2011, p. 88), a autora ressalta que a geografia não se faz somente no espaço escolar e deve constituir instrumento para transformação social, de apropriação da realidade e ser uma “ciência que estuda, analisa e tenta explicar (conhecer) o espaço produzido pelo homem”. (Callai, 2003, p. 57).

De acordo com Callai (2003) é um desafio fazer da Geografia uma disciplina interessante, ensiná-la mediante dados e informações sobre a Terra não é atraente ao discente. O mesmo busca estar contemplado naquilo que se ensina, catálogos e livros didáticos são meramente descritivos e explicativos.

A autora reforça o retorno às escalas espaciais locais, para tal toma de análise o Brasil, comitantemente, têm-se o recorte nacional e as particularidades regionais e locais. Reconhecer tal problemática não é tarefa fácil e demanda autonomia e força de vontade do professor, pois “ensinar exige pesquisa” (Freire, 2010, p. 29) e respeito ao saber extra-escolar, nesse aspecto, o autor ressalta a importância do papel do aluno para construção do conhecimento.

A inserção do Livro Didático, especialmente na disciplina de Geografia, contribuiu para a mecanização do conhecimento, criando outra disciplina, a Geografia dos Livros Didáticos. O professor tornou-se extremamente condicionado ao que prega o livro, ao docente foi sucumbida a capacidade de manejo de conteúdos apropriados à realidade do aluno e elaborou-se a falsa idéia de conhecimento coletivo.

Um exemplo disso são as primeiras demandas de representações espaciais que os livros sugerem aos alunos. Quando os alunos iniciam no 6º ano do Ensino Fundamental, os conteúdos geográficos pedem a interpretação e análise do espaço vivido, entretanto, oferece de modelo um espaço distante da realidade nacional.

Os livros são elaborados pelas editoras e distribuídos em âmbito nacional, contudo, certa vez que requisitei aos meus alunos fazerem um croqui geográfico do caminho de casa até a escola e o exemplo mostrado no livro era de um condomínio de luxo no interior de São Paulo, como se pode conceber tal paradoxo?

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Anais Semana de Geografia. Volume 2, Número 1. Ponta Grossa: UEPG, 2012. ISSN 2317-9759

I SEMANA E JORNADA CIÊNTÍFICA DE GEOGRAFIA DO ENSINO A DISTÂNCIA DA UEPG Teorias e Práticas na Formação Docente do Professor de Geografia

Alunos que estudam em regiões periféricas necessitam da Geografia a fim de utilizar a mesma como instrumento de libertação social e transformação da realidade, entretanto, os livros insistem em exemplos nada práticos e serviçais da sociedade capitalista de consumo flexível.

Ensinar geografia reside na formação de sujeitos que romperão com os paradigmas vigentes e obterão autonomia e independência. Entretanto os organismos estatais com visas a cobrirem os problemas da educação inseriram os livros didáticos, doutrinando assim inúmeros professores, que sem os respectivos livros sentem-se desassistidos e sem objetivos de ensino-aprendizagem.

Considerações Finais Que geografia nós queremos ensinar? A geografia dos livros didáticos, aquela

que sonha com o mundo ideal e faz os discentes vislumbrarem as belas paisagens ou a geografia a fim de impulsionar a formação crítica dos educandos?

Não me refiro aos livros como desprezíveis, mas produtos a serem modificados no que tange sua função educativa, colocando o livro a serviço do professor e do aluno e não o contrário. Precisamos assumir a corrente de formação critica dos alunos, instigarem os mesmos a buscar alternativas de conhecimento e cobrar aplicabilidade dos conteúdos.

A mudança de paradigmas no que diz respeito ao ensino da Geografia deve vir com lutas objetivando desestabilizar os alunos de sua zona de conforto e aceitação das coisas da maneira como elas são postas. Esse papel cabe ao professor que deve inteirar-se da realidade do aluno e assumir a postura de educador e propulsor formador de opiniões e reflexões. Referências BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais de Geografia – Ensino Fundamental. Brasília: 1997 CALLAI, H. C. O ensino da Geografia: recortes espaciais para análise. In: Geografia em sala de aula: práticas e reflexões. Porto Alegre: UFRGS, 2003. CAVALCANTI, L. de S. A Geografia escolar e a sociedade brasileira contemporânea. In: O ensino da Geografia e suas composições curriculares. Porto Alegre: UFRGS, 2011. FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa.

São Paulo: Paz e Terra, 2011. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5ª. ed. São Paulo: Atlas, 2010. OLIVEIRA, M. M. de. Como fazer pesquisa qualitativa. 2. ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 19ª Ed. São Paulo: Record, 2010.