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ADEMILSON EDSON DOS SANTOS 1 A POPULAÇÃO NEGRA E O PROCESSO SOCIAL DA CRIMINALIZAÇÃO Artigo Científico apresentado ao curso de Pós Graduação em Gerenciamento Integrado de Segurança Pública, Universidade Tuiuti do Paraná. Orientadora: Prof. Débora Veneral. CURITIBA 2012 1 Ademilson Edson dos Santos, Bacharel em Direito, Advogado, Especialista em Direito e Processo Penal, membro do Conselho Municipal de Política Étnico-Racial, Fundador e Presidente do Instituto 21 de Março – Consciência Negra e Direitos Humanos

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ADEMILSON EDSON DOS SANTOS1

A POPULAÇÃO NEGRA E O PROCESSO SOCIAL DA CRIMINALIZAÇÃO

Artigo Científico apresentado ao curso de Pós Graduação em Gerenciamento Integrado de Segurança Pública, Universidade Tuiuti do Paraná. Orientadora: Prof. Débora Veneral.

CURITIBA 2012

1 Ademilson Edson dos Santos, Bacharel em Direito, Advogado, Especialista em Direito e Processo Penal, membro do Conselho Municipal de Política Étnico-Racial, Fundador e Presidente do Instituto 21 de Março – Consciência Negra e Direitos Humanos

RESUMO

O Direto Penal foi criado como meio de controle de atos infracionais, e que

impõe limites individuais atingindo a uma coletividade, e não apenas uma parcela da

população da sociedade brasileira. Porém, não é o que observamos a população

negra que ao longo da história social brasileira foi e é estereotipada e estigmatizada

pela sociedade e principalmente pelos órgãos de segurança pública, e pelo Poder

Judiciário.

Muito se diz sobre a prioridade em diminuir a miséria e as diferenças

sociais no Brasil, no entanto a miséria e a marginalização da maior parte da

população são fundamentais para o projeto de poder das elites racistas do país.

A superação da pobreza depende, fundamentalmente, do rompimento com

os interesses do grande capital, no Brasil representado por latifundiários e

empresários do agronegócio; por banqueiros, especuladores financeiros e empresas

multinacionais de diversas áreas. Somente uma mudança estrutural nas relações

políticas, sociais, raciais e econômicas será capaz de eliminar as desigualdades em

nosso país. Há sim uma histórica e permanente divisão de classes composta por um

lado pelos personagens já citados acima, por outro pela população negra

historicamente marginalizada, excluída da participação, em todos os níveis. A

população negra do Brasil é a segunda maior do mundo ficando somente atrás

apenas da Nigéria, que mesmo sendo a maior população do país, é

conseqüentemente a mais pobre. Não bastassem as mazelas sociais que afligem

historicamente a população negra por meio do subemprego, do desemprego, da

falta de moradia, dos serviços precários de saúde e educação, da falta de

oportunidades e do desumano e permanente preconceito e discriminação racial em

todo e qualquer ambiente social, percebe-se a vigência de um projeto de extermínio

da população negra, por parte do Estado brasileiro. O Estado e suas policias,

mantém uma atuação coercitiva, preconceituosa e violenta dirigida a população

negra. Desrespeito, agressões, espancamentos, torturas e assassinatos são

práticas comuns destas instituições. Cada vez mais explícitos, os casos de violência

policial furam o bloqueio da grande mídia, causando comoção e provocando a

atenção da opinião pública a cerca desta realidade. O genocídio negro já é admitido

e visível por todos, por meio da imprensa nacional, com as constantes chacinas nas

favelas, comunidades e com o cruzamento de dados com o Sistema Único de

Saúde. Pesquisas e estudos demonstram no campo da formalidade o que

vivenciamos no dia a dia de nossas comunidades. Presenciamos um momento de

ofensiva de opressões por parte do Estado Brasileiro que por sua vez, enxerga na

população empobrecida, em especial na juventude negra, seu principal inimigo.

Palavra-chave: Racismo, Preconceito, Discriminações, Estigmas e Estereótipos.

ABSTRACT

The Criminal Direct was created as a means to control infractions and imposing individual

limits reaching the community, not just a portion of the population of Brazilian society. But it is not

what we observe that the black population along the Brazilian social history was and is stereotyped

and stigmatized by society and especially by public safety agencies, and the judiciary.

Much is said about the priority to reduce poverty and social differences in Brazil, however the poverty

and marginalization of the majority of the population are fundamental to the design of power elites

racist country.

Overcoming poverty depends crucially on the break with the interests of big business in Brazil

represented by landowners and agribusiness entrepreneurs, bankers, financial speculators and

multinational companies in various fields. Only a structural change in the political, social, racial and

economic will be able to eliminate inequalities in our country. There is rather a historical and

permanent division of classes composed of one side by the characters already mentioned above, the

other by black people historically marginalized, excluded from participation in all levels. The black

population of Brazil is becoming the second largest, behind only Nigeria, but even with the largest

population, is therefore the poorest. Not enough social ills afflicting the historically black population

through underemployment, unemployment, homelessness, poor health services and education, lack

of opportunity and the inhuman and permanent racial prejudice and discrimination in any environment

social, realizes the lifetime of a project to exterminate the Negro population, by the Brazilian

government. The state and its police, maintains a coercive action, prejudiced and violent targeting

blacks. Disrespect, abuse, beatings, torture and murder are common practices of these institutions.

Increasingly explicit cases of police violence bore the mainstream media blockade, causing

commotion and causing the public's attention about this reality. The black genocide is already visible

and accepted by all, through the national press, with the constant killings in the slums, communities

and the cross-checking with the National Health System Research and studies in the field show of

formality we experience in everyday life of our communities. Witnessed a moment of offensive

oppression by the Brazilian government which in turn, sees the impoverished population, in particular

black youth, his main enemy.

Keyword: Racism, Prejudice, Discrimination, stigma and stereotypes.

INTRODUÇÃO

O escritor Nina Rodrigues, datado do início do século XX, analisa

basicamente a questão da responsabilidade penal com relação às raças branca,

negra e indígena. Questiona se essas duas últimas têm discernimento e livre arbítrio

para poderem ser julgadas no mesmo nível da branca.

Nina Rodrigues defende uma hierarquização entre as raças. A superior

(branca) teria a função de civilizar às outras. Porém ela encontra um problema; os

indígenas não aceitam a “civilidade” oferecida pelos colonizadores, através da

catequese. A solução para tal caso seria a de procurar outra raça para civilizar já

que, a dos índios, já havia sido praticamente extinta, logo, a única civilizável foi à

negra.

Como o autor assume uma posição apoiando a “raça branca” como mais

elevada, pode-se concluir que ele defende uma desigualdade entre as raças. O

autor tem papel importante na temática, por ter sido um contemporâneo de Cesare

Lombroso, e das teorias eugênicas pioneiro no estudo dos africanos no Brasil. Ele

foi o primeiro a estudar o negro como objeto de Ciência. Ratificava essa

desigualdade da raça negra com relação às outras através de comprovações

médicas, como por exemplo, medindo o tamanho do crânio do negro e constatando

que esse era menor do que o das outras progênies.

Nina Rodrigues, também observa a existência da mestiçagem. A definição de

“mestiço” seria através da posição social de tal indivíduo e pouco pelo seu fenótipo.

Além disso, dentre os mestiços existiria outra hierarquização baseada na

“quantidade de genes herdados do branco.”, explicitando até nisso a superioridade

deste. Propõe ainda, “um Código Criminal diferente para negros, mestiços e

brancos. Pode-se perceber com tal pensamento que Nina Rodrigues não é defensor

da miscigenação, pois acredita que esta seria sinônimo de degeneração. Apesar

disso, é importante informar que tal pensamento era novo no Brasil, mas já

ultrapassado na Europa.

Nina Rodrigues conclui seu texto afirmando, mais uma vez, a preponderância

do branco com relação às outras raças. Ele diz que os negros e índios,

irresponsáveis em estado selvagem, tem direitos incontestáveis a uma

responsabilidade superior, a branca; ou seja, confirma o fato de que os negros e os

indígenas não possuem consciência de seus direitos e deveres e que, devido a tal,

deveriam ser julgados de formas diferentes e civilizados pela raça branca.

A norma penal, através de seu caráter universal, é criada e positivada, com o

intuito de alcançar qualquer pessoa, seja ela rica, pobre, branca ou negra, porém,

percebe-se que, na realidade, os menos favorecidos estão sempre sobre

representados nas estatísticas do sistema penal.

O período, em que se vive está caracterizado pelo constante processo de

criminalização dos indivíduos, atingindo a classe e a raça mais vulnerável da

sociedade: a classe baixa e negra, diante da percepção de que os estereótipos em

primeira análise parecem orientar a atuação das agências do sistema penal,

objetiva-se, com o presente artigo científico, examinar de que maneira se

estabelece a seleção dos indivíduos estigmatizados pelo etiquetamento do sistema

penal, em função da cor da pele, assim como, também examinar,

conseqüentemente, o processo de criminalização da sociedade e do sistema penal

em relação ao negro.

Dessa forma, partindo da teoria do etiquetamento, torna-se necessário

estudar os processos de criminalização, de forma a compreender os motivos pelos

quais determinados indivíduos são mais perseguidos pelo sistema penal do que

outros. Os processos de criminalização devem ser estudados com seriedade, para

que se descubram as variáveis que orientam a seletividade do sistema. Nessa

perspectiva, procura-se esclarecer e examinar se a cor da pele é uma variável

importante no processo de criminalização, tendo em vista principalmente o

estereótipo de criminoso difundido pelo senso comum.

Este estudo é relevante para o Direito, porque é regido por uma normatização

de regras de abrangência universal, visando sempre a utilizar e aplicar a lei penal

com seu caráter isonômico frente a qualquer cidadão.

O Artigo Científico encontra-se relacionada ao estudo dos referidos princípios

para a investigação de qualquer problematizarão no âmbito do direito, conforme o

tema a ser examinado, inevitável passa a ser a pesquisa aprofundada em relação à

dignidade humana e à igualdade de tratamento entre todos os indivíduos, uma vez

que esses princípios relacionam-se diretamente ao que diz respeito à seletividade

racista do sistema penal e da sociedade, como também ao estudo de todo o

processo preconceituoso e discriminatório em relação ao negro, durante o período

escravista até os dias de hoje no Brasil. Já a teoria do etiquetamento e a

Criminologia Crítica relacionam-se à estrutura deste Artigo Científico no sentido de

se ter uma base teórica quanto às rotulações, estereótipos e estigmatizações do

indivíduo negro, tratado muitas vezes como criminoso por causa do preconceito

racial.

O método de abordagem utilizado neste Artigo Científico foi o dedutivo. O

referido método permite que se possa examinar o objeto para se chegar a uma

conclusão, ao passo que esta deverá resultar sempre da observação de fenômenos

que confirmem uma determinada resposta para tal problema. Ressalta-se que se

pretende fazer um estudo partindo-se do geral, ou seja, da teoria do etiquetamento,

embasada na teoria do labelling approach e da Criminologia Crítica, com o intuito de

examinar, especificamente, a seletividade do sistema penal brasileiro em relação à

estrutura social racista. No que concerne ao método de procedimento utilizado,

destaca-se o método, ainda que de maneira mais sutil.

A partir da teoria do etiquetamento, embasada no paradigma da reação social

ou da conduta desviada do labeling approach e da Criminologia Crítica, estuda-se a

atuação seletiva e estigmatizante do sistema penal e da sociedade no que diz

respeito aos processos de criminalização do indivíduo. Dessa maneira, investiga-se

de que forma se estabelece a seleção dos indivíduos estigmatizados pelo

etiquetamento e pela rotulação do sistema penal, em função de o cidadão ser negro.

Ressalta-se que este Artigo Científico tem como intuito relacionar a estrutura

social racista à seletividade do sistema penal brasileiro, analisando de que forma se

estabelece esta seleção em relação aos indivíduos estigmatizados, com essa

abordagem, o presente estudo insere-se na linha de pesquisa, do Curso de Pós

Graduação em Gerenciamento de Segurança Pública, já que tem como objetivo

demonstrar a seletividade da população negra, diante do sistema penal brasileiro.

O ideal de igualdade, perante a lei, propalado pelo direito penal liberal,

costuma cegar os juristas, diante da realidade operacional do sistema penal, que

contraria totalmente essa percepção. Isso porque se sabe que nem todos os crimes

cometidos são punidos, nem todos os autores de crimes são processados e

condenados. Diante dessa constatação, as décadas de sessenta e setenta do

século passado foram ricas em estudo acerca da seletividade do sistema penal.

A teoria do etiquetamento, embasada no paradigma da reação social que

sustenta a teoria de labelling approach são suas críticas sobre as condições sociais

do criminoso, seu etiquetamento social, o preconceito, o medo e os mecanismos de

seleção que norteiam o sistema penal (DUARTE, 2006 a), ou da conduta desviada

do labeling approach, que data da década de 1960, fez com que o significado da

seletividade do sistema penal esteja relacionado com o processo de estigmatização

e rotulação do indivíduo como criminoso.

Essa teoria foi base para a posterior análise dos teóricos da Criminologia

Crítica, que relacionaram a idéia da seletividade e do papel do controle social na

construção do delito à estrutura de classe. Nesse paradigma, a posição central dos

teóricos se estabelece no sentido de que o delinqüente não irá ser definido pela sua

conduta, de como se portou ou pelas suas fragilidades psíquicas. Mas, que será

rotulado como criminoso, pelo aparato das normas condicionadas a atingirem o seu

alvo específico, qual seja, o cidadão fragilizado pela exclusão social, assim como o

indivíduo de cor negra, pois este é visto, em geral, como raça inferiorizada e

discriminada. Além da normatização da legislação penal criada pelo poder

Legislativo e pelo poder Executivo, com o intuito de atribuir o status de criminoso ao

indivíduo mais vulnerável, encontram-se também, nesse processo de seleção, a

polícia, o Judiciário, o Ministério Público e a sociedade. Assim, “a estigmatização é o

resultado negativo atribuído pelos grupos representantes do poder que, ao se

aperceberem de um perigo, fazem diferenças entre delinqüente e não-delinqüente”

(NASCIMENTO, p. 70, 2003).

Conforme Fagundes e Rossot: O labeling approach nasce, com a virtude de

mudança, de superação da vertente criminológica etiológica, pois trata do crime

como processo de criminalização e não uma realidade ontológica pré-existente (um

objeto a ser estudado). O crime então passa a ser o meio de rotulação pelo qual o

Estado, instituição social, separa o cidadão do delinqüente. Todavia, em sua face

primeira, o etiquetamento se refere apenas a nível individual, ao comportamento

criminoso rotulado pelo Estado, ou o que é derivado da primeira criminalização. O

labeling approach assume relevante importância apenas quando incorporado à

Criminologia Radical, visto que assume sentido sociopolítico. Portanto, o objeto de

estudo passa a ser os mecanismos de distribuição social da criminalidade como

bem negativo, e não mais a relação entre o individuo e o Estado.

Alguns mecanismos de seleção estão na base do bem social negativo a ser

distribuído (em outras palavras, da criminalidade), mas de especial atenção,

ressalta-se a criminalização afeta ao poder econômico-político, em que a ausência

desse poder é limiar entre criminalizados e os não criminalizados (BARATTA 2007,

p. 9).

Ao dizer que a Criminologia crítica não trata o crime como possuidor de

qualidade ontológica, expõe-se que o estudo sobre o criminoso, como forma de

desvio para a criminalidade, não está ligado aos seus comportamentos psíquicos e

aos comportamentos naturais como ser humano, mas, no estudo dessa

Criminologia, procura-se demonstrar que existe “uma qualidade atribuída a

determinados sujeitos por meio de mecanismos oficiais e não-oficiais de definição e

seleção” (ANDRADE, 1997, p. 201).

Diante disso, a Criminologia Crítica estuda o processo da criminalização do

indivíduo sob dois enfoques distintos. Primeiro, estabelece-se a formação da

criminalização primária e, por conseguinte, a criminalização secundária. Está-se

diante da criminalização primária quando esta é dirigida e focada às condutas

penalmente tipificadas pela normatização da legislação penal, através dos órgãos

do Legislativo e do Executivo. Ocorre, nesse sentido, uma pré-seleção dos

indivíduos criminalizados através do conteúdo da lei penal. No que concerne à

criminalização secundária, esta é atribuída à aplicação da norma penal frente aos

órgãos de Segurança Pública, do Ministério Público, do Judiciário e dos

Departamento Penitenciários e da sociedade. Através do controle social informal, ou

seja, da sociedade desigual e elitista, constata-se que os estigmas e as rotulações

de criminosos e marginais surgem como fatores determinantes dessa

criminalização.

Assim: Ao afirmar que a criminalidade não tem natureza ontológica, mas

social e definitorial e acentuar o papel constitutivo do controle social na sua

construção seletiva, o labelling desloca o interesse cognoscitivo e a investigação

das “causas” do crime e, pois, da pessoa do autor e seu meio e mesmo do fato-

crime, para a reação social da conduta desviada, em especial para o sistema penal

(ANDRADE, 2003, p. 42).

Verifica-se, então, que os atores principais desta teoria são a reação social e

o sistema penal, sendo que estes irão produzir a criminalização, através de seu

processo de etiquetamento. Ou seja, o comportamento desviante será marcado e

rotulado como resultado de repulsa e exclusão a determinados indivíduos

propensos a esse tratamento. Estes podem ser definidos como os moradores de

subúrbios, comunidades (antigas favelas), os sem escolaridade, os negros, pardos e

mulatos, enfim, todos aqueles cidadãos que não correspondem aos padrões

econômicos, sociais, estéticos e culturais de uma determinada sociedade. Diante

disso, “trata-se, ainda, a ‘criminalidade’, não apenas de uma realidade social

construída, mas construída de forma altamente seletiva e desigual pelo controle

social” (ANDRADE, 1997, p. 207).

Dessa forma, se fazem necessários, mais uma vez, os ensinamentos de

Andrade: Segundo a definição sociológica, a criminalidade, como em geral o desvio,

é um status social que caracteriza ao indivíduo somente quando lhe é adjudicada

com êxito uma etiqueta de desviante ou criminoso pelas instâncias que detêm o

poder de definição. As possibilidades de resultar etiquetamento, com as graves

conseqüências que isto implica, se encontram desigualmente distribuídas. Isto

implica que o princípio da igualdade, ou seja, a base mesma da ideologia do Direito

Penal seja posta em séria dúvida, eis que a minoria criminal a que se refere à

definição sociológica aparece, na perspectiva do labelling approach, como o

resultado de um processo altamente seletivo e desigual dentro da população total;

enquanto o comportamento efetivo dos indivíduos não é, por si mesmo, condição

suficiente deste processo (1997, p. 201-202).

Nesse sentido, tem-se, então, que a Criminologia crítica enfoca a realidade

comportamental do desvio e traz a realidade funcional ou disfuncional com as

estruturas sociais, junto com o desenvolvimento das relações de produção e de

distribuição. O que separa a nova da velha criminologia é a superação do

paradigma etiológico que, no caso, era o paradigma fundamental de uma ciência

entendida como teoria das causas da criminalidade. A superação deste paradigma

se insere, também, na superação de suas implicações ideológicas, como no que se

refere à concepção do desvio e da criminalidade como realidade ontológica

preexistente à reação social (BARATTA, p, 201/201, 1997).

O que se enfatiza na Criminologia Crítica é que o criminoso não é aquele que

possui características patológicas e comportamentais para cometer e exercer um

determinado crime, como era o foco do estudo da Criminologia Positivista. Mas, sim,

que ele será fruto da rotulagem da sociedade e do sistema penal, contribuindo para

esse processo a sua classe social e a sua cor. Assim, o que ocorre é que “tal

situação acarreta o domínio dos interesses de ordem econômica, ideológica, cultural

e política dos ricos sobre as classes pobres” (OLIVEIRA, 1992, p. 46).

Nesse sentido, são de suma importância os ensinamentos de Baratta: O

direito penal tende a privilegiar os interesses das classes dominantes, e a imunizar

do processo de criminalização comportamentos socialmente danosos típicos dos

indivíduos a elas pertencentes, e ligados funcionalmente à existência da

acumulação capitalista, e tende a dirigir o processo de criminalização,

principalmente, para formas de desvio típicas das classes subalternas (1997, p.

165).

Evidencia-se que a classe dominante, a elite, irá estigmatizar os extratos

inferiores, fazendo com que estes sejam encaixados conforme a norma penal

positivada e direcionada para os indivíduos mais vulneráveis e excluídos da

sociedade. Por isso, dizer que todo o controle social, seja ele advindo do poder

estatal, do judiciário, da polícia ou simplesmente da sociedade, será revestido de

características discriminatórias. Com isso, “pode-se dizer que, de certo modo e em

determinados casos, a Criminologia Dialética ou Crítica apresenta o criminoso como

um protagonista do protesto social ao sistema dos valores dominantes”

(FERNANDES, 2002, p. 559).

Conforme Fernandes: Desse modo, à luz da Criminologia Dialética ou Crítica,

o Direito Penal seria um dos instrumentos de controle social, selecionando e

diferenciando facciosamente os bens e interesses jurídicos a serem tutelados por

via da incriminação das condutas desviantes que os ataquem ou coloquem em

perigo. Assim, o processo de criminalização seria escancaradamente elitista,

incriminando preferencialmente condutas típicas das classes sociais baixas e

privilegiando ou contemporizando, por outro lado, os comportamentos das classes

mais elevadas.

O compromisso primário da Criminologia Dialética ou Crítica é com a abolição

das diferenças sociais em termos de riqueza e poder, repisando seus cultores, e

todos aqueles que comungam de suas teses, que a solução para o problema do

crime depende da eliminação da exploração econômica e da opressão política sobre

as classes menos aquinhoadas (2002, p. 562).

Observa-se que existe, no Brasil, um sistema classificatório, elitista e seletivo

no âmbito social, político e econômico, ou seja, os mais privilegiados

economicamente e socialmente encontram-se no topo da pirâmide, enquanto os

menos afortunados encontram-se na base, inseridos na área da exclusão, do

preconceito, das limitações e das diferenciações. Nessa perspectiva, Baratta expõe

que “a criminalidade é um ‘bem negativo’, distribuído desigualmente conforme a

hierarquia dos interesses fixados no sistema socioeconômico e conforme a

desigualdade social entre os indivíduos” (1997, pg.161).

Nesse âmbito, tem-se que, para os que se encontram no topo da pirâmide,

torna-se mais fácil e cômodo o controle de quem deve ou não ser tratado de forma

desigual e estereotipado de criminoso e marginal. Para a classe inferiorizada social

e economicamente, o que lhe resta é apenas lutar por um ideal de justiça e

igualdade de tratamento, conforme preceitua a Constituição Federal da República,

de 1988, o que, na realidade, não passa de completa ilusão. Ressalta-se que “as

contradições das classes subordinam o controle do crime às relações dessas

classes na produção econômica, determinando o relacionamento da criminologia

com a política e destas com a própria economia” (FERNANDES, 2002, p. 563).

Conforme ensina Santos: A Criminologia crítica se desenvolve por oposição à

Criminologia Tradicional, a ciência etiológica da criminalidade, estudada como

realidade ontológica e explicada pelo método positivista de causas biológicas,

psicológicas e ambientais. Ao contrário, a Criminologia Crítica é construída pela

mudança do objeto de estudo e do método de estudo do objeto: o objeto é

deslocado da criminalidade, como dado ontológico, para a criminalização, como

realidade construída, mostrando o crime como qualidade atribuída a

comportamentos ou pessoas pelo sistema de justiça criminal, que constitui a

criminalidade por processos seletivos fundados em estereótipos, preconceitos e

outras idiossincrasias pessoais, desencadeados por indicadores sociais negativos

de marginalização, desemprego, pobreza, moradia em favelas etc.; o estudo do

objeto não emprega o método etiológico das determinações causais de objetos

naturais empregado pela Criminologia Tradicional, mas um duplo método adaptado

à natureza de objetos sociais: o método integracionista de construção social do

crime e da criminalidade, responsável pela mudança de foco do indivíduo para o

sistema de justiça criminal, e o método dialético que insere a construção social do

crime e da criminalidade no contexto da contradição capital/trabalho assalariado,

que define as instituições básicas das sociedades capitalistas (2005 p. 01-02).

No estudo da Criminologia Crítica, prepondera-se a desigualdade econômica

das classes, a estrutura racista, patriarcal e hierárquica da sociedade. Sendo assim,

designam-se atributos que pertencem à seleção do sistema penal em relação aos

indivíduos criminalizados. Em conseqüência do processo de criminalização do

indivíduo, em razão do preconceito racial, surge constantemente a ligação do

indivíduo de cor negra inserido no âmbito dos menos favorecidos e dos excluídos,

ou seja, o cidadão sem ascensão social e sem poder econômico. Além de o

indivíduo negro e pobre ser discriminado e rotulado muitas vezes de marginal pela

sociedade e pelo sistema penal, encontra-se também o cidadão negro bem

estruturado socialmente e economicamente, predominando, nesse sentido, a

discriminação racial.

Constata-se, então, que os fatores que contribuíram para o estudo da

Criminologia Crítica encontram-se intrinsecamente ligados ao controle pelas classes

dominantes, na sociedade capitalista em que se encontram. É por isso que,

partindo-se dessas afirmações, tem-se que a função principal do estudo da

criminologia é “buscar a abolição das desigualdades sociais em riqueza e poder,

afirmando que a solução para o problema do crime depende da eliminação da

exploração econômica e da opressão política de classe” (SHECAIRA, 2004, p.

328).

Portanto, o estudo do labelling, através do paradigma da reação social, e o

estudo da Criminologia Crítica estão estreitamente interligados com o interesse

social da classe dominante. Também estão relacionados aos interesses de uma

ordem política, pois estes criam mecanismos de seleção da criminalidade por

fazerem parte do poder estatal, com o intuito de proteger a classe mais favorável e

bem-sucedida da sociedade. Por outro lado, passam a estabelecer um status de

delinqüentes aqueles indivíduos bem distantes da hierarquia estética, econômica e

social elevada. Por isso, a criminalidade é um atributo que tende a atingir um grupo

específico da sociedade, como os indivíduos excluídos e vulneráveis, atribuindo-

lhes o estereótipo de delinqüente, uma vez que a criminalização diante do controle

penal e da sociedade passa a ser caracterizada por uma desigual distribuição de

indivíduos criminalizados.

A questão racial na construção seletiva e estigmatizante do sistema penal:

Diante das análises a respeito do ideal constitucional da igualdade e do respeito à

dignidade da pessoa humana podemos demonstrar contraposição do programa

normativo com a realidade da operacionalidade do sistema penal, a partir da teoria

do etiquetamento e da Criminologia Crítica. Agora, relacionam-se os resultados da

criminologia crítica à realidade brasileira, em especial, no que tange ao racismo e

suas várias conseqüências.

Os resultados dos estudos científicos que têm aquelas teorias como base

chegam à idéia de que o sistema penal tem como função real a reprodução das

desigualdades existentes em cada sociedade. No caso de sociedades que vivem

uma situação de racismo ou xenofobia, prioritariamente, as pessoas que são objeto

do preconceito serão recrutadas pelo sistema penal. Por isso, como o enfoque

desse trabalho é a relação entre o sistema penal e a estrutura racista da sociedade

brasileira, torna-se essencial o seu estudo.

A seguir, parte-se de um estudo histórico que compreende desde o período

escravista até os dias de hoje. E, por fim, analisa-se a construção seletiva e a

reprodução desigual do sistema penal em face do preconceito racial. Conforme

verificação anterior estabelece-se que foi através de toda a estrutura rígida,

hierárquica, patriarcal e elitista da sociedade colonial escravista que o indivíduo

negro passou a ser estigmatizado de diferente e inferior em relação ao restante da

população. Ao excluir, humilhar e tornar o negro um indivíduo inferiorizado, a

população e, consequentemente o sistema criminal denota-se com resquícios da

herança escravocrata, com preconceitos e desigualdades.

Por isso, é impossível compreender o quadro geral dos direitos humanos no

Brasil sem precisar historicamente a articulação do direito penal público a um direito

penal privado, a partir do regime escravocrata, na implantação de um sistema penal

genocida, cúmplice das agências do Estado imperial-burocrata no processo de

homicídio, mutilação e tortura da população afro-brasileira.

É neste quadro que se estabelece a concepção de cidadania negativa,

enunciada por Nilo Batista, que se restringe ao conhecimento e exercício dos limites

formais à intervenção coercitiva do Estado. Esses setores vulneráveis, ontem

escravos, hoje massas marginais urbanas, só conhecem a cidadania pelo avesso,

na “trincheira auto-defensiva” da opressão dos organismos do sistema penal (apud,

MALAGUTI BATISTA, 2003, p. 102).

A dominação exercida pelo Estado, pela classe senhorial e pelo controle

penal da época colonial, através do uso da força física e da aniquilação dos

escravos negros, justifica a proliferação de indivíduos negros estigmatizados e

rotulados de criminosos. Essa massa de negros etiquetados como raça inferior a

partir do século XV, e com respaldo “científico” a partir do século XIX, teve início

com o processo de colonização pelos europeus. Até hoje, os negros foram e são

caracterizados como clientela assídua do sistema penal brasileiro. Isso ocorria, e,

ainda ocorre em face de o poder estatal, através das agências policiais e judiciárias,

atenderem à classe social dominante, pois o negro é considerado cidadão inferior e

diferente, por causa da estética, religião, cultos e de sua cultura, sendo assim,

tratados de forma oposta e repulsiva pelos indivíduos brancos.

Automaticamente, nota-se que isso contraria totalmente o preceito da Carta

Magna que, em seu art. 5°, caput,da Constituição Federal da República, de 1988,

normatiza o princípio da igualdade de direitos sem distinções de qualquer natureza.

Com relação aos padrões de detenção, as pesquisas de 1810 a 1821

demonstraram o critério da cor. São pouquíssimos os brancos presos. No Rio de

Janeiro da época (quase metade da população era negra), 80% dos julgados eram

escravos, 95% nascidos na África, 19% ex-escravos e somente 1% livres. No

sistema penal dirigido à escravidão, os principais motivos para a prisão eram fuga

de escravos ou prática de capoeira.

Na obra de Ribeiro (1995), é apresentado, no capítulo Cor e Criminalidade, o

estudo feito pelos autores Yvonne Maggie (1988), Sam Adamo (1983) e Boris

Fausto (1984) acerca do processo de seleção da polícia, dos juízes e dos jurados

do Tribunal do Júri, a partir de dados analisados por processos criminais

oficialmente julgados no início do século XX em relação aos negros.

Maggie, de início, em seu estudo pôde verificar que, de fato, havia tratamento

desigual para negros pelos representantes oficias da lei. Já, Sam Adamo procurou

demonstrar que negros eram tratados com maior severidade, em relação aos

brancos, pelo sistema jurídico-policial. Este autor verificou que negros e pardos

eram tratados com mais violência pela polícia, sem contar que eram presos com

mais freqüência que os brancos, através de seu estudo, Sam Adamo pôde constatar

que o que prevalecia para o enquadramento do estereótipo de criminoso e para o

julgamento dos brancos e negros era o status socioeconômico. Nesse sentido,

como os negros estavam inseridos em uma classe social e econômica inferior, eram

eles o alvo do sistema jurídico-policial da época. Ambos os autores afirmam que

representantes do sistema jurídico-policial utilizavam critérios diferenciados para o

julgamento de brancos e negros. Fausto utiliza processos criminais julgados por

juízes togados e pelo Tribunal do Júri. Ele demonstrou, através da análise dos

processos, que negros e pardos eram mais condenados que os brancos no Tribunal

do Júri de São Paulo. Para Fausto, esses dados eram desproporcionais em relação

aos brancos. Isso se estabelecia devido a um tratamento discriminatório e

preconceituoso por parte dos julgadores e das autoridades policiais em relação aos

indivíduos negros (RIBEIRO, 1995).

E, ainda evidencia-se que o período analisado por Ribeiro é caracterizado

pela repulsa e discriminação racial quanto ao cidadão negro. Segundo o estudo dos

referidos autores, ficou claro que as chances de negros e pardos serem vistos como

criminosos, e conseqüentemente sentenciados como culpados nos processos

criminais e também no Tribunal do Júri eram grandes em comparação ao

julgamento dos infratores brancos.

Diante desses fatos, o que preponderava para a decisão de julgamento dos

juízes e do corpo de jurados do Tribunal do Júri era a cor do acusado e sua posição

social e econômica. Em síntese, os negros, quando acusados, tinham maior chance

de serem condenados e os indivíduos brancos tinham maior chance de serem

absolvidos. Chega-se à conclusão, portanto, que, nesse período, negros, mulatos e

pardos continuavam sendo inferiorizados e maltratados pela sociedade e pelo

controle penal. Existem fortes indícios de que os cidadãos negros eram tratados

desigualmente e discriminatoriamente em face de todo o aparato julgador do início

do século XX.

Segundo os dados estatísticos do InfoPen, destacam-se, no quadro geral da

população prisional por Estados do Sistema integrado de informações penitenciárias

de 2006, os seguintes números de presidiários em relação à cor de pele/etnia:

91154 – 42,3% presos de cor branca, 35534 – 16,5% presos de cor negra, 88656 –

41,2% presos de cor parda, totalizando 215.344 presidiários em 1063

estabelecimentos penitenciários cadastrados no Brasil (BRASIL, 2006). Com

relação aos dados estatísticos do IBGE, no que diz respeito à pesquisa nacional por

amostra de domicílios de 2005, tem-se que 49,9% da população no Brasil são

indivíduos brancos, 6,3 negros e 43,2 dos cidadãos são pardos (BRASIL, 2005).

Conforme dispõe Ribeiro: Verifica-se que os acusados pretos têm 38 pontos

percentuais a mais de probabilidade de serem condenados no Tribunal do Júri do

que os brancos. Os pardos, apesar de terem uma probabilidade menos de

condenação em relação aos pretos, têm 20,5 pontos percentuais a mais de chances

de condenação do que os brancos. Inversamente, os acusados do homicídio de

pretos têm 15,3 pontos percentuais a mais de chances de absolvição do que os

acusados deste mesmo tipo de crime contra brancos, e os acusados de homicídios

contra pardos têm 29,8 pontos percentuais a mais de probabilidade de absolvição

do que os acusados do homicídio de brancos. Neste sentido, há uma base

estatística segura para admitir-se que havia discriminação racial nos julgamentos

dos processos criminais de homicídio. Ser preto ou pardo era o que mais

aumentava as probabilidades de condenação (1995, p. 78-79).

O sistema penal brasileiro do século XXI é caracterizado por um grande

arsenal de normas positivadas pelo Código Penal, a fim de selecionar os integrantes

das diversas penitenciárias espalhadas pelo Brasil. Isso, conseqüentemente, é

resultado de toda a herança preconceituosa e hierárquica em relação ao negro, que

se formou a partir do século XV com o período escravista. Pode-se dizer que os

personagens mais influenciadores do sistema penal em face da seletividade na

contemporaneidade são as agências de informação, com todo o aparato da mídia.

Assim como a sociedade capitalista e patriarcal com a tendência de discriminar e

rotular as minorias (pobres, negros, pardos e mulatos, desempregados, etc.), o

Legislativo, o Executivo, o Judiciário, o Ministério Público e a polícia também o

fazem.

Situação expressa na vergonhosa expressão segundo a qual são clientes do

sistema penal a tríade dos três “pês”: preto, pobre e prostituta. Expressão

politicamente incorreta que traz à tona a seletividade racial e, mais do que isto, o

racismo cordial do povo brasileiro.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE/2010),

declararam-se brancos 7.431.142 pessoas, negros 296.066 pessoas e pardos

1.642.146 pessoas. Percentualmente chega-se à constatação de que existem, no

Paraná, e tomando em conta a população total, 77.70% de brancos, 17.17% de

pardos e 3,09% de negros. Contudo, enquanto os brancos correspondem a 75,52%

da população carcerária do Estado do Paraná em 2005, os negros constituem

7,30%. A cada 100.000 brancos no Estado do Paraná, 81.69 encontram-se

recolhidos em penitenciárias estaduais. A cada 100.000 negros, 198.26 estão

detidos.

A situação que emerge desta análise não é nova. Perpassa praticamente

toda a história brasileira recente. E os argumentos utilizados a fim de digerir tais

dados, tradicionalmente, têm sido os mesmos: o de que os negros – por razões

intrínsecas -,são mais propensos à criminalidade (FAGUNDES; ROSSOT, 2007, p.

12-13).

Conforme os ensinamentos de Fagundes e Rossot (2007) são de se destacar

que a seleção do controle penal e da sociedade diante do negro está marcada

predominantemente pelo preconceito racial, mas, é claro, não deixando de lado que

o fator socioeconômico do indivíduo criminalizado, e, ainda mais se for negro,

contribuirá bastante para ser enquadrado como delinqüente.

O capitalismo exacerbado contribuiu muito para que o controle penal

operasse em defesa da classe alta e da classe média alta da sociedade moderna.

Com isso, ocasiona através da polícia, do poder Judiciário, do Ministério Público, do

Executivo e do Legislativo um enorme controle selecionador de normas e

procedimentos burocráticos processuais com o intuito de atingir os indivíduos mais

fragilizados economicamente, socialmente, esteticamente e culturalmente. Assim,

esses indivíduos excluídos estão presos em delegacias ou penitenciárias, por

transmitirem alívio e segurança para aquelas pessoas que se encontram no ápice

do poder social e econômico. Ou seja, a seleção criminosa parte do princípio de que

negro pardo e mulato são sinônimos de delinqüentes e de marginais, pois a

sociedade brasileira, em sua maioria, é desigual, hipócrita e preconceituosa.

A igualdade diante do sistema penal parece estar deteriorada, pois, diante

dos diversos estudos e estatísticas, chega-se aos dados de que a clientela

penitenciária está composta praticamente por indivíduos pobres, desempregados,

analfabetos, negros, pardos e mulatos. A igualdade pelo controle penal se define

pela forma universal com que as normas penais são positivadas, e não no sentido

desta positivação atingir determinados grupos vulneráveis, carentes e étnicos. O

processo de seleção que se presencia constantemente é caracterizado por ser o

oposto, violando o princípio da igualdade normatizado no art. 5°, caput, da

Constituição Federal, de 1988. Assim, não há que se falar em igualdade formal e,

sim, em estereótipos e rotulações para que aquelas pessoas que se enquadram nos

tipos penais pré-estabelecidos e estigmatizados sejam consideradas como

criminosos.

Nesse contexto, são relevantes os dados de Kahn: Se fizermos uma análise

sobre a cor dos presidiários no país, verificaremos que os negros estão presentes

nas prisões numa proporção maior do que a sua representação na população,

ocorrendo o inverso com a proporção de brancos. A taxa de encarceramento por

grupo racial em São Paulo, onde os dados são mais precisos, é de 76,8 por 100 mil

habitantes para os brancos e 140 por 100 mil para os pardos, elevando-se acerca

de 421 por 100 mil para negros. A probabilidade de um negro estar na prisão é,

portanto de 5.4 vezes maior do que a de um branco e 3 vezes maior que a de uma

pardo. Fenômeno semelhante ocorre em outros países com grande população

negra e fortes desigualdades sociais, como os EUA, onde as taxas, considerando-

se apenas os homens, são de 3.785 por 100 mil para negros, 1.773 para hispânicos

e 407 para brancos (2001 apud, SELL, 2002, p. 75).

Todo esse processo seletivo frente ao sistema penal é marcado pela

sociedade capitalista e preconceituosa, como explicitado anteriormente, pois o

processo de criminalização do indivíduo irá estabelecer-se mediante os estigmas

dos grupos excluídos dos extratos mais inferiores da sociedade brasileira.

Quanto aos estigmas e aos estereótipos produzidos por essa sociedade,

pelas agências de controle do sistema penal e pela mídia, é de se destacar que esta

última possui relevante papel para o processo de criminalização dos indivíduos mais

vulneráveis. Assim, tem-se que os “sistemas penais reproduzem sua clientela por

um processo de seleção e condicionamento criminalizante que se orienta por

estereótipos proporcionados pelos meios de comunicação de massa” (ZAFFARONI,

1991, p. 133).

O processo de criminalização se estabelece a partir de dois momentos.

Primeiramente, ocorrerá a formação da criminalização primária e, posteriormente, a

criminalização secundária. A criminalização primária está ligada à atividade do

Estado na elaboração e criação das regras normativas no âmbito da lei penal,

sendo, dessa forma, originada através das esferas administrativas estatais, ou seja,

do poder Legislativo e do poder Executivo. Assim, tem-se que “a criminalização

primária é o ato e o efeito de sancionar uma lei penal material que incrimine ou

permite a punição de certas pessoas” (Zaffaroni; Batista; Alagia; Slokar, 2003, p.

43). No que diz respeito à criminalização secundária, esta se relaciona ao poder

punitivo dos órgãos policiais, judiciais e das agências penitenciárias e, sem sombra

de dúvida, aos critérios estigmatizantes e selecionadores da sociedade. Diante

disso, a “criminalização secundária se traduz na seleção [...] por fatos burdos ou

grosseiros [...], e [...] de pessoas que causem menos problemas (por sua

incapacidade de acesso positivo ao poder político e econômico ou à comunicação

massiva)” (Zaffaroni; Batista; Alagia; Slokar, 2003, p. 46).

A seleção, através da criminalização secundária, é inevitável diante do fato

de que predomina, através do controle penal e da sociedade hierarquizada, a

constante presença dos estereótipos que estão ligados à raça, ao passo que esta

quase sempre se encontra relacionada ao aspecto socioeconômico do indivíduo, ou

melhor, aos grupos vulneráveis da sociedade brasileira.

Nesse sentido, refere-se Andrade: [...] Assim, o processo de criação de leis

penais (criminalização primária) que define os bens jurídicos protegidos, as

condutas tipificadas como crime e a qualidade e quantidade da pena (que

freqüentemente está em relação inversa com a danosidade social dos

comportamentos), obedece a uma primeira lógica da desigualdade que, mistificada

pelo chamado “caráter fragmentário” do Direito Penal pré-seleciona, até certo ponto,

os indivíduos criminalizáveis. E tal diz respeito, simultaneamente, aos “conteúdos” e

aos “não-conteúdos” da lei penal. Quanto aos “conteúdos” do Direito Penal abstrato,

esta lógica se revela no direcionamento predominante da criminalização primária

para atingir as formas de desvio típicas das classes e grupos socialmente mais

débeis e marginalizados.

Nesta perspectiva, o processo de criminalização secundária não faz mais que

acentuar o caráter seletivo do Direito Penal abstrato. Pois as maiores chances de

ser selecionado para fazer parte da população criminosa e ser sujeito de sanções,

especialmente as estigmatizantes, como a prisão, aparecem, de fato, concentradas

nos níveis mais baixos da escala social (subprolateriado e grupos marginais) (1997,

p. 279-281). Assim, pode-se afirmar que o sistema penal possui uma desigual

distribuição de seu poder coercitivo, uma vez que ele irá atuar em favor de

determinadas categorias elitistas.

A criminalização da população negra, passados os 123 anos da abolição da

escravidão em nosso país, a população negra continua sofrendo de maneira mais

intensa as mazelas do Capital, compondo a maioria dos que vivem na pobreza. São

também os jovens, pobres e negros os que têm sido, centralmente, assassinados.

De acordo com o documento “Mapa da Violência 2011: os jovens do Brasil”, os

negros têm aproximadamente três vezes a mais de risco de serem executados do

que um branco. Os dados são similares quando falamos de encarceramento, visto

que nas prisões e nos educandários o perfil é de uma maioria negra, moradora das

periferias da cidade, o que está em jogo é uma dimensão política elitista e racista

dos aparatos repressores, legitimado pelo Estado Brasileiro, que com um falso

discurso de progresso e de superação da pobreza, mantém a lógica do preconceito

e do massacre vivenciado no período escravocrata, em que os negros e negras são

tidos como suspeitos e inimigos em potencial, idéia a qual é fortalecida pelos meios

de comunicação.

A criminalização da juventude negra, passa neste processo, em que o

sentimento de medo é constantemente reproduzido e potencializado fundamentando

a demanda por práticas repressivas no controle da violência tem-se, como

demonstra Zaluar (2004a, p.43), "os sinais de um ódio violento e vingativo começam

a aparecer cada vez com maior intensidade", construindo uma guerra clandestina

do bem contra o mal. Ela comenta ainda que na confusão criada pelos preconceitos

dos agentes policiais, jovens (trabalhadores, estudantes ou bandidos) pobres passa

a ser o outro lado indiscriminado dessa guerra sem tréguas que pretende livrar-nos

do mal. Essa imagem do ‘menor’, isso é, da criança e do adolescente pobres é a

parte da estratégia para justificar a ação policial violenta e corrupta, na qual já se

tornou difícil distinguir o que é repressão ao crime do que é crime de extorsão

(ZALUAR, 2004a, p. 49-50). Temos aqui o indício da existência de um grupo social

tido como personagem privilegiado da violência urbana, objeto do medo difuso e

principal alvo das medidas repressivas: os adolescentes pobres. E, é neste contexto

que se torna mais compreensível medidas como a redução da maioridade penal:

aos adolescentes infratores é atribuído esse papel de encarnação do mal absoluto

que precisa ser combatido para restauração da ordem perdida.

Segundo Adorno (1999, p.67): [...] em conjunturas em que os sentimentos

coletivos de medo e insegurança diante da violência parecem exacerbados,

estimulando o pânico moral contra suspeitos de cometerem crimes, acirram-se e

radicalizam-se as posições pró e contra a adoção de políticas exclusivamente

repressivas, em especial destinadas aos adolescentes autores de infração penal.

Como já de conhecimento da sociedade o medo e a fala do crime produzem

preconceitos e estereótipos, reforçando assim o processo social de criminalização

de certos grupos, todos pertencentes às camadas pobres. Um dos grandes

consensos nas tentativas de explicação da criminalidade é a sua associação com a

pobreza. Tanto para a população em geral como para alguns analistas, são as

condições de pobreza e marginalidade que causam o crime. Esta constatação

poderia ser explicada com o argumento de que este é um grupo que, de fato, é mais

propenso ao crime, que de fato comete mais crime. Seja por seus atributos morais

ou sociais, existe grande consenso de que a população de baixa renda tem maior

probabilidade de cometer crimes. Ainda que escrito em um contexto distante do qual

nos encontramos, o artigo de Edmundo Campos Coelho (1978) "A criminalização da

marginalidade e a marginalização da criminalidade", apresenta interessantes

análises a esse respeito que acredito ainda serem válidas. Com o objetivo de

questionar a relação causal entre marginalidade e criminalidade urbanas, o autor

afirma que a forma como esta questão é tratada parte de um enfoque socialmente

contaminado sobre a criminalidade.

Neste sentido, o autor comenta sobre o caráter tendencioso das estatísticas

oficiais a partir das quais se tiram as conclusões a esse respeito. Além disso,

observamos diariamente a atuação da polícia é fortemente marcada pelo

estereótipo que estes possuem do criminoso, geralmente associado aos indivíduos

das classes populares que se tornam alvos privilegiados de repressão. A influência

dos preconceitos nas estatísticas faria delas uma definição cultural de crime que

diferencia o criminoso oficial dos que violam a lei, mas não se tornam legalmente

criminosos, ainda que o comportamento de ambos seja objetivamente o mesmo: os

crimes de colarinho branco, por exemplo, apesar de serem considerados ilegais,

não são considerados criminosos. No caso específico dos adolescentes, a

vinculação entre pobreza e criminalidade parece ser ainda mais presente e

significativa. Poderíamos dizer que, ao menos no caso brasileiro, essa associação

se comporta como paradigma tanto nas análises como na formulação de políticas

públicas. Concebidos como indivíduos em formação seriam, por este motivo, mais

vulneráveis aos efeitos do meio social, seja a família, a comunidade ou, e

principalmente, a rua, além disso, como argumenta Pedro Bodê de Moraes (2008),

como efeito de processos de controle social perverso percebem-se os jovens como

incompletos e instáveis e, por isso, perigosos: "Práticas e discursos que definem tal

grupo pela falta aprofundando a estigmatização ao considerar atributos étnicos e

raciais, de classe e/ou geográficos" (MORAES, 2008, p. 6).

O mapa da violência de 2012 mostra que de 2002 à 2010 a taxa de homicídio

de brancos vem caindo no país, enquanto que a de negros está subindo. Segundo

estudo, o número de homicídios de brancos caiu de 20,6 para cada 100mil

habitantes em 2002, para 15 em 2010. Já o dos negros subiu de 30 para cada 100

mil habitantes em 2002, para 35,9, em 2010. Os dados mostram que para cada dois

brancos vítimas de homicídios em 2002, morreram aproximadamente três negros.

Já em 2010, para cada dois brancos assassinados 4,6 negros forma vítimas de

homicídio. É um fato preocupante porque a tendência está aumentando. Nossa

mídia veicula o que acontece em famílias abastadas e há uma preocupação dos

órgãos de segurança, com isso. Mas, ninguém noticia que morreram dois negros em

uma favela, a não ser que seja uma chacina, diz o coordenador da pesquisa Julio

Jacob Waiselfisz. De acordo com ele, a maior violência contra os negros pode ser

explicada, também pela questão econômica e pela privatização da segurança.

“Quem pode pagar, paga a segurança privada, que protege melhor”. Como a

população negra é em média, mais pobre, explica Jacob passa a depender dos

órgãos de segurança pública, que geralmente não conseguem atender

adequadamente a população. Essas evidências nos levam a postular a necessidade

de reorientar as políticas nacionais, estaduais e municipais, em torno da segurança

pública, para enfrentar de forma real e efetiva essa chaga aberta na realidade do

país. O mapa da violência 2012, divulgado pelo Instituto Sangari, mostra ao

contrário do restante do país, que o Paraná não teve uma interiorização da

violência: os crimes estão concentrados em Curitiba e sua região metropolitana. O

Estado passou de uma taxa de 10,8 para 34,4 assassinatos a cada 100 mil

moradores.

CONCLUSÃO

O medo da violência e o preconceito, no que diz respeito à criminalidade,

estão fortemente voltados a grupos socialmente excluídos, como pobres, favelados,

desempregados, grupos raciais (negros, pardos, mulatos e estrangeiros). Sabe-se

que o sistema penal não persegue todos os crimes cometidos diariamente, bem

como não recruta todos os criminosos. É nesse contexto que se evidencia a

necessidade de se estudar os princípios que orientam a seletividade do sistema

penal. O racismo é apenas um dos mecanismos que fazem esse papel, ao lado das

estruturas de classes e patriarcal.

Os princípios da dignidade da pessoa humana e da igualdade, por se

tratarem de normas máximas e fundamentais na Constituição Federal, de 1988, são

caracterizados por zelar pelo tratamento igualitário, sem distinções de qualquer

natureza entre os indivíduos. Além disso, estabelecem direitos, deveres, garantias,

respeito e proteção a todos os cidadãos de uma sociedade. O princípio da dignidade

humana é caracterizado pela qualidade de ser intrínseco e inerente ao indivíduo, ou

seja, sua dignidade jamais poderá lhe ser tirada, uma vez que ela é indispensável,

insubstituível, inalienável e irrenunciável. Por isso, a proteção a que se refere esse

princípio em relação ao cidadão deve ser garantida pelo sistema estatal, pelo

controle penal e pela sociedade sempre que houver violações de sua dignidade.

Nessa perspectiva, pode-se afirmar que esses dois princípios estão

estreitamente ligados, uma vez que são caracterizados por se tratarem de normas

universais, além de definirem tratamento igualitário entre os indivíduos, a fim de

vedar qualquer tipo de relativismo e preconceito diante da sociedade, do Estado e

do sistema penal. No que diz respeito ao racismo em relação aos negros no Brasil,

examinou-se que o mesmo retrocede ao período da colonização, principalmente no

que se refere ao tráfico negreiro, de 1550 a 1850, e da escravidão de africanos, que

durou até 1888. Destacou-se que foi durante a colonização européia ocorrida no

Brasil que se desencadeou todo o processo de desarticulação social, cultural e

étnica em relação aos negros, diante da dominação exercida pela classe senhorial.

Os negros, naquele período, não eram considerados seres humanos, pois eram

tratados de forma humilhante. Eram apenas vistos como objetos de trabalho, ao

passo que sua estética, cultura e religião pela classe senhorial eram consideradas

degradantes e inferiores. Conseqüentemente, diante de todo esse processo

desigual durante o período escravocrata, pode-se afirmar que aí se desencadeou o

preconceito e a discriminação racial do indivíduo negro nos dias de hoje. Constatou-

se que ainda prevalece a hierarquização do branco em relação ao negro, devido ao

fato de este ser rotulado e estigmatizado, na maioria das vezes, como cidadão

portador de deficiências intelectuais, sociais, econômicas, estéticas e culturais.

Historicamente, os negros são identificados como quem não tem status social e

econômico privilegiado, pelo número mínimo que chega à universidade e, em sua

maioria, porque não conseguem concluir o ensino médio. Ou seja, os negros são

relacionados a um estereótipo de pobreza e marginalidade pelo restante da

sociedade branca. Nesse sentido, observou-se que se está diante de uma

sociedade elitista, patriarcal e hierárquica, ao ponto de quase sempre se identificar o

indivíduo negro como ser humano inferior. Assim, examinou-se que o Brasil é

considerado um país racista, porém não ao extremo, mas com características que

tornam os negros, de uma forma ou outra, discriminados e excluídos da sociedade

devido ao preconceito ligado à sua cor.

Verificou-se que a teoria do etiquetamento, embasada no paradigma da

reação social do labelling approach, assim como o estudo da Criminologia crítica,

enfocam que a rotulação e a estigmatização do criminoso estão constantemente

ligadas ao poder da classe dominante. Diante da teoria do labelling e da

Criminologia Crítica, prepondera o estereótipo de criminoso direcionado quase

sempre aos extratos inferiores e mais vulneráveis da sociedade. O controle do

poder estatal e do poder penal está fortemente influenciado pelas pessoas que

detêm o poder, ou seja, a classe social e econômica hierarquicamente superior que

fará de tudo para proteger os seus bens juridicamente tutelados. Assim, observa-se

que a reação social e o sistema penal irão produzir a criminalização através do

processo de etiquetamento e do comportamento desviante do criminoso, sendo que

este comportamento alcançará indivíduos propensos à rotulação de delinqüentes.

Dentre eles, encontram-se negros, pardos, mulatos, pobres, desempregados,

favelados, etc. Nesse sentido, entende-se que a forte influência da posição social,

cor e raça, determinará quais serão os indivíduos submetidos e julgados como

delinqüentes e infratores pelo poder Judiciário, pela polícia ou pela sociedade. Essa

situação fará com que sejam criados mecanismos de seleção e de desigualdades

diante da esfera do controle penal em relação aos indivíduos criminalizados.

Referente à construção seletiva e à reprodução da criminalidade diante do

preconceito racial exercido pelo sistema penal, chega-se à conclusão de que,

através do processo de interiorização dos escravos pela classe senhorial, o

preconceito e a falta de tratamento isonômico em relação aos negros

permaneceram até os dias de hoje, pois o escravo negro, no período colonial, era

tratado desumanamente, sem respeito e sem consideração, era essencial apenas

para o trabalho, e nada mais. O medo das revoltas e das doenças dos negros era

constante, fazendo com que o controle penal da época se tornasse cada vez mais

severo e seletivo. Com este processo degradante de discriminação da raça negra,

constata-se que, desde o período colonial até os dias atuais, predomina o controle

da classe capitalista e hierárquica da sociedade, a fim de rotular alvos específicos

para a clientela do sistema penal. Portanto, o que se conclui é que há, no Brasil, a

existência de um tratamento desigual em relação ao negro, vítima da sociedade,

das normas penais, da polícia, do poder Legislativo, do poder Executivo, do poder

Judiciário e do Ministério Público, contrariando totalmente os preceitos

constitucionais que normatizam a dignidade humana e a igualdade de tratamento

entre todos os indivíduos de uma sociedade.

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