a política . econômica, o tnpe,e o zoom · e o que faz? predo- ... um tripé bem assentado o zoom...

2
I qUINTA-FEIRA, 21 DE FEVEREIRO DE 2013 o ESTADO DE S. PAULO PUBLICAÇÃO DA S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 São Paulo - SP Caixa Postal 2439 CEPOl060-970-SP. Te!. 3856-2122 (PABX) Fax N° (011) 3856-2940 A política econômica, . , o tnpe e o zoom ~lACEDO N odebate dessa política hoje se destaca apenas um dos seus com- ponentes, o cha- mado tripé, que se desdobra nas políticas 1) de metade inflação, do Banco Cen- tral (BC), que fixa um valor e um intervalo para essa meta e procura acertá -Ia gerindo a taxa básica de juros e o crédito, 2) de câmbio flutuante, com inter- venções ocasionais, e 3) de ges- tão das contas públicas, avalia- da pelo resultado primário, an- tes de deduzidos os juros da dívi- da. De horizonte mais curto, o tripé busca corrigir desequilí- brios como a inflação e no balan- ço de pagamentos. Esse tripé, contudo, deve as- sociar-se a outro componente da política econômica, indis- pensável num país como o Bra- siL É política de desenvolvimen- to, que chamarei de zoom. Co- mo ele busca aumentar o tama- nho do PIE que hoje está à sua frente. Volta-se para fatores re- levantes nesse processo, a dis- ponibilidade de recursos natu- rais, a educação e profíssionali- zação e o investimento produti- vo. E avanços tecnológicos para ampliar a produtividade desses fatores e a competitividade da economia, inclusive com inova- ções.tudo numa perspectiva de no (ri'? e doI nomia que vêm dos EUA, um país járico. Neles as políticas de estabilização são dominantes e a teoria do crescimento ocupa pequeno espaço. E deixam de lado as de desenvolvimento, voltadas para países que ainda não o alcançaram. Por motivos políticos, o go- verno federal é também obceca- do com o curto prazo. No mo- mento, seu foco é o PIE de 2013 e o de 2014, para que suas taxas não prejudiquem a reeleição da presidente. E o que faz? Predo- minam medidas tópicas e sem uma estratégia de horizonte mais longo. Como o zoom, uma autêntica política de desenvolvimento de- veria partir de uma visão da eco- nomia em seu tamanho atual e ampliá-lo para o desejado a pelo Sem a estabilidade dada por um tripé bem assentado, a economia não sai bem na foto menos uns cinco anos adiante. Em seguida, a imagem seria edi- tada para mostrar os efeitos do que seria feito para alcançar tal objetivo, pois nesses anos vá- rios aspectos dela se alterariam. Na minha foto, que segue a literatura sobre o assunto, hoje o Brasil está no segundo estágio 1 1 ,.....

Upload: dinhxuyen

Post on 06-Dec-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

I qUINTA-FEIRA, 21 DE FEVEREIRO DE 2013

o ESTADO DE S. PAULO PUBLICAÇÃO DA S.A. O ESTADO DE S. PAULOAv. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP02598-900 São Paulo - SP Caixa Postal 2439CEPOl060-970-SP. Te!. 3856-2122 (PABX)Fax N° (011) 3856-2940

A política econômica,. ,o tnpe e o zoom

~lACEDO

Nodebate dessa

política hoje sedestaca apenasum dos seus com-ponentes, o cha-mado tripé, que

se desdobra nas políticas 1) demetade inflação, do Banco Cen-tral (BC), que fixa um valor eum intervalo para essa meta eprocura acertá -Ia gerindo a taxabásica de juros e o crédito, 2) decâmbio flutuante, com inter-venções ocasionais, e 3) de ges-tão das contas públicas, avalia-da pelo resultado primário, an-tes de deduzidos os juros da dívi-da. De horizonte mais curto, otripé busca corrigir desequilí-brios como a inflação e no balan-ço de pagamentos.

Esse tripé, contudo, deve as-sociar-se a outro componenteda política econômica, indis-pensável num país como o Bra-siLÉpolítica de desenvolvimen-to, que chamarei de zoom. Co-mo ele busca aumentar o tama-nho do PIE que hoje está à suafrente. Volta-se para fatores re-levantes nesse processo, a dis-ponibilidade de recursos natu-rais, a educação e profíssionali-zação e o investimento produti-vo. E avanços tecnológicos paraampliar a produtividade dessesfatores e a competitividade daeconomia, inclusive com inova-ções.tudo numa perspectiva deno (ri'? e doI

nomia que vêm dos EUA, umpaís járico. Neles as políticas deestabilização são dominantes ea teoria do crescimento ocupapequeno espaço. E deixam delado as de desenvolvimento,voltadas para países que aindanão o alcançaram.

Por motivos políticos, o go-verno federal é também obceca-do com o curto prazo. No mo-mento, seu foco é o PIE de 2013e o de 2014, para que suas taxasnão prejudiquem a reeleição dapresidente. E o que faz? Predo-minam medidas tópicas e semuma estratégia de horizontemais longo.

Como o zoom, uma autênticapolítica de desenvolvimento de-veria partir de uma visão da eco-nomia em seu tamanho atual eampliá-lo para o desejado a pelo

Sem a estabilidade dadapor um tripé bemassentado, a economianão sai bem na foto

menos uns cinco anos adiante.Em seguida, a imagem seria edi-tada para mostrar os efeitos doque seria feito para alcançar talobjetivo, pois nesses anos vá-rios aspectos dela se alterariam.

Na minha foto, que segue aliteratura sobre o assunto, hojeo Brasil está no segundo estágio1 1 ,.....

ções.tudo numa perspectiva demédio e de longo prazos.

Sem a estabilidade dada porum tripé bem assentado ozoom funciona mal e a econo-mia não sai bem na foto. Tal co-mo no passado, pelo efeito dealtíssimas taxas de inflação e desucessivas crises no balanço depagamentos.

Esse passado está na origemdo maior destaque hoje dado aotripé. Levou também a uma am-pliação dos departamentos eco-nômicos dos bancos - que noBrasil são também mais focadosno curto prazo - e a muitas con-sultorias atuando também nes-sa perspectiva. As análises quevêm desse lado têm grande espa-ço no noticiário econômico.

E mais: economistas acadêmi-cos' cujos antecessores erammaisvoltados para o desenvolvi-mento econômico, perderamespaço no debate. Além dessaforte concorrência, estão maisatentos a carreiras em que pre-domina o publique ou desista.Outra razão é que em geral nos-sos economistas se educamcom livros-texto de macroeco-

o Brasil está no segundo estágiode desenvolvimento. O primei-rofoi o da produção e exporta-ção de produtos primários, co-mo madeira, ouro e café, susten-tados por recursos naturais emão de obra não qualificada, ex-ceto pelo próprio trabalho.

No segundo, o dinamismovem dos investimentos empre-sariais e, em tese, dos governa-mentais, estes principalmente.em infraestrutura, como estra-das, portos, e energia. Assim, oPaís industrializou-se e urbani-.zou-se rapidamente, mas hoje ocrescimento está longe de satis-fatório. Seu PIB alcança um am-plo leque de serviços e de manu-faturas que usam tecnologia dis-ponível no exterior aqui adapta-da, ou mesmo criada, como naagroindústria. Em particular,avançou neste setor e na cadeiaprodutiva minerometalúrgica apartir de seus recursos naturais.

Hoje sonha com o terceiro es-tágio e quer incursões nele,cujo dinamismo vem da inova-ção, como nos EUA e no Japão.Mas não consolidou o seu se-gundo estágio, pois o governo

rentes para ampliar investimen-tos em infraestrutura. Isso deveser pregado à exaustão, mas ho-je cai nos ouvidos surdos das ca-beças que comandam o País.Mas elas não têm outra saída se-não ampliar esses investimen-tos, como tardiamente já come-çam a demonstrar. Assim, paraampliar o mínimo que podemfazer terão de recorrer a conces-sões de serviços públicos e a par-cerias público-privadas(PPPs). Outra razão é a fraca ca-pacidade de gestão de seus pró-prios empreendimentos.

O carnaval acabou, mas o Blo-co do Tripé seguirá desfilando.Diante dele, e parodiando anti-gamúsica de carnaval, cabe can-tar: "Oi zum zum, zum zum,zum zum, tá faltando zoom".Sem ele o desenvolvimento con-tinuará fraco e muito dependen-te de ventos que sopram de forado País.

ECONOMISTA (UFMG, USP E HAR-VARO), PROFESSOR ASSOCIADO ÀFAAP, É CONSULTOR ECONÔMICO EDE ENSINO SUPERIOR