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Transformações recentes no Brasil rural Arilson Favareto

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Transformações recentes no Brasil rural

Arilson Favareto

Argumento central

Crise contemporânea não é conjuntural, significa o esgotamento de um grande ciclo

As condições para repetir o modelo do passado recente, antes da crise, não existem mais

Para o futuro não basta repetir o cardápio de políticas e programas da última década e meia

Onde inovar?

Duas perguntas

• Onde estamos?

• Quais os cenários?

Onde estamos?

Qual ciclo?Ciclo Pacto Estratégia Eficiência

Nação e Desenvolvimento

(Revolução Capitalista

Brasileira)

Nacional Popular de 1930 Desenvolvimentista Desenvolvimento Econômico, via substituição de

importações

Autoritário Modernizante de

1964

Desenvolvimentista Desenvolvimento Econômico, via exportação de

manufaturados

Democracia, Estabilidade e

Justiça Social

Democrático Popular de 1977 e

Diretas Já

Desenvolvimentista Transição democrática, fracasso em enfrentar a

crise

Liberal Dependente de 1991 Liberal-econômica Estabilização da inflação, fracasso na

estabilidade financeira e retomada do

crescimento

Nacional Popular de 2006-2014 Desenvolvimentista Crescimento econômico continuado mas com

desindustrialização, estabilidade econômica

temporária seguida de aguda crise, expansão

de direitos mas com problema de

financiamento

Uma evolução geral dos indicadores de desenvolvimento humano ao longo dos últimos 25 anos

PNUD, 2013

Porém...

Redução da pobreza e da desigualdade não andam juntas e as desigualdades regionais permanecem

Favareto et al (2013)

Esgotamento

Pobreza extrema Crescimento PIB

Problemas para o desenvolvimento territorial –economias extrativas, industrialização concentrada, terciarização precoce e dependência

Favareto et al (2016)

O decisivo peso da política social brasileiraPolíticas – Programas

Brasil Nordeste Norte

Benefícios ou

contratosvalor

Benefícios ou

contratosvalor

Benefícios ou

contratosvalor

Previdência (2012 – dez 2012)

aposentadorias. pensões e auxílios 25.176 278.778 6.561 57.288 1.074 9.459

aposentadorias e pensões rurais 8.482 60.945 4.112 28.707 712 4.831

BPC (2014 – dez 2014) 4.130 35.141 1.500 12.741 414 3.520

Bolsa Família (2014 – junho 2015

Total 13.717 27.186 6.915 14.120 1.646 5.595

Rural 3.744 8.422 2.455 5.595 522 1.365

Pronaf (2014)

Custeio 615 10.152 51 461 15.741 267

Investimento 1.224 14.596 773 2.994 87.623 1.783

PAA (2013) 96 467 37 180

PNAE (2013) 3.693 1.138 253

agricultura familiar 2.474 660 152

Garantia Safra (2013/14) 909 773 868 738

Cisternas (2013) 77 74

total 2003-2013 1.049 966

Bolsa Verde (2014 37 11 5 2 29 9

Auxílio Defeso (2014) 861 2.355 437 1.195 293 802

dez 2014 168

Subtotal (rurais/agrícolas + BPC) 97.840 39.194 8.587

Total 338.010 77.972 18.347

Por que esta nova situação?

• Agora se trata do “núcleo duro” da pobreza

• A condição fiscal dos governos é mais severa

• A estratégia de inclusão produtiva foi frágil

• Nota: em 2015 ainda não haviam as medidas mais duras de austeridade

Implicações para as políticas

• Necessidade de “coordenação” – várias áreas, níveis de governo e atores

• Necessidade de diversificação – os modos de vida diversos x política única

• Vínculos com desenvolvimento territorial – o caráter multidimensional do desenvolvimento

Quais são os problemas?

• Arranjos institucionais não favorecem coordenação, nem vertical, nem horizontal, nem entre Estado/sociedade/mercado

• Não existe estratégia de desenvolvimento rural – existe uma esquizofrenia institucional (duas agriculturas, duas estratégias)

• Políticas sociais muito descoladas de políticas produtivas – superação efêmera da pobreza

• Necessidade de um projeto de desenvolvimento rural com enfoque territorial

A nova ruralidade brasileira

Heterogeneização como local de vida, de produção, de moradia

• Familiar X patronal

• Alta X baixa produtividade

• Próximo X distante dos centros urbanos

• Degradação x conservação ambiental

Manutenção da importância dos temas tradicionais

• Questão fundiária

• Recursos hídricos

• ATER

Um rural cada vez menos determinado pelo que é exclusivamente agrícola

• PIB agropecuário (não agroindustrial) 5% e -1,4% de ocupações na agricultura ao ano

• Fim da metropolização, do êxodo generalizado e a interiorização dos fluxos demográficos e econômicos

• Mais da metade das famílias rurais não dependem predominantemente de rendas agrícolas

• Cada vez mais deslocamentos pendulares rural/urbano

• Cada vez mais degradação ambiental e novas formas de uso dos recursos naturais (produtos, serviços, energia)

• Gangorra dos indicadores sociais nas zonas mais frágeis, dependentes do gasto social

• Vulnerabilidade

Oportunidades 1 – novo padrão de urbanização e interiorização dos fluxos

Oportunidades 2 – interiorização das redes de educação, ciência e tecnologia

Oportunidades 3 – novas demandas por recursos naturais, para além das commodities

Estados e municípios

• 50% dos municípios brasileiros tem menos de 20 mil habitantes e baixíssima arrecadação própria

• 70% dos municípios brasileiros tem menos de 50 mil habitantes e baixa arrecadação própria

• Constituição de 1988: a) descentralização das políticas públicas no Brasil desconcentrou execução, recursos e responsabilidades, mas não capacidades; b) papel dos Estados em coordenar municípios

• Até 2006, descentralização de recursos da União para Estados e Municípios

• De 2007 a 2014, centralização de recursos executados diretamente pela União nos Municípios

• Esvaziamento dos Estados quanto ao seu papel previsto no Pacto Federativo da Constituição de 1988

• Governos estaduais como transmissores de políticas federais ou como executores diretos nos municípios

• Crise fiscal e interrupção da agenda socialdesenvolvimentista exige um novo papel. Qual?

Problemas para o Brasil rural

• O Brasil rural não tem uma estratégia de desenvolvimento

• Teve duas – uma baseada na primarização e em instituições extrativas, outra baseada na expansão das liberdades dos mais pobres e em instituições inclusivas

• O problema – o fim do modelo de financiamento do desenvolvimento brasileiro recente e o fim da ampla coalizão que sustentou o modelo dos anos 2000 solaparam as perspectivas daquele equilíbrio contraditório

Que narrativas dominam o debate público?

No plano dos discursos sobre a agenda brasileira

• Rever a estrutura do gasto social do Estado - a agenda pré-88

• Retomar a agenda dos anos 2000

No plano do discursos dos agentes dos espaços rurais

• A hipótese convergente – uma só agricultura, produtividade (FPA)

• A hipótese divergente – a defesa do “Pacote MDA”

Os cenários 2018

• Uma candidatura “A”

• Retomada do gasto/investimento social• Necessidade de aumento da carga tributária• Um governo sob forte contestação das elites

• Uma candidatura “B”

• Intensificação da política de austeridade• Necessidade de maior restrição orçamentária• Um governo sob forte contestação popular

• Uma candidatura de “C”

• Tentativa de manter equilíbrio fiscal e retomada de investimentos• Mudanças lentas (se tudo der certo...)

Em síntese: impossibilidade de se repetir nesta década os progressos da década passada

E a política de desenvolvimento territorial?

• Últimos quinze anos trouxe uma disseminação da retórica territorial e a constituição de espaços de gestão

• Três tipos de experiências

• Espacialização/territorialização de programas e políticas

• Matrizes territorializadas

• Projetos territoriais – reestruturação de economias regionais

Quais as fragilidades?

• Muitas listas de demandas, poucos projetos estratégicos

• Muita participação social, pouca negociação de conflitos

• Muitos investimentos pontuais, pouca coordenação de políticas

• Muitos investimentos setoriais, pouco investimento em reestruturação e diversificação das economias interioranas

Para o futuro - a necessidade de conteúdos e métodos inteiramente novos

• Tripla coordenação

• Relações com as cidades

• Diversificação das economias locais

• Novas formas de uso dos recursos naturais

• Conhecimento e inovação, além do alternativo

Para concluir - a grande pergunta

• Primarização, manufaturas e financeirização não são caminhos capazes de levar à convergência entre crescimento duradouro, redução da pobreza e da desigualdade e conservação ambiental

• Os escombros das duas grandes narrativas sobre o desenvolvimento brasileiro nas décadas recentes – o liberalismo e o socialdesenvolvimentismo

• Que coalizões de forças sociais (no plano nacional e no plano local) podem sustentar um novo estilo de desenvolvimento e fazer das regiões rurais ou interioranas uma base importante nesta estratégia?

E os desafios futuros?

As três grandes transformações do mundo contemporâneo o e o futuro dos espaços rurais

Onde as políticas estaduais estão inovando?

Quatro funções nas relações entre Estados e municípios para um novo desenvolvimento dos territórios rurais

• Construir capacidades nos municípios (mas não todas...)

• Tipificar ações – a “tipologia IICA”

• Coordenação tripla (vertical, horizontal, Estado/sociedade/mercado)

• Refundar a tradição do planejamento regional estratégico e reinventar a política de desenvolvimento territorial: repensar as formas de inserção da nova geração do Nordeste rural

E a política de desenvolvimento territorial?

• Últimos quinze anos trouxeram uma disseminação da retórica territorial e a constituição de espaços de gestão

Três tipos de experiências

• Matrizes territorializadas

• Espacialização/territorialização de programas e políticas

• Projetos territoriais – reestruturação de economias regionais

Quais as fragilidades?

• Muitas listas de demandas, poucos projetos estratégicos

• Muita participação social, pouca negociação de conflitos

• Muitos investimentos pontuais, pouca coordenação de políticas

• Muitos investimentos setoriais, pouco investimento em reestruturação e diversificação das economias interioranas

Para o futuro - a necessidade de conteúdos e métodos significativamente novos

• Tripla coordenação

• Relações com as cidades

• Diversificação das economias locais

• Novas formas de uso dos recursos naturais

• Conhecimento e inovação, além do alternativo – estratégia e transição