a policia cidade escassa

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A polícia da cidade escassa Mais uma ação desastrosa da polícia acaba com a morte de um inocente na cidade do Rio de Janeiro. No fim da noite da segunda-feira última o administrador Luiz Carlos Soares da Costa foi morto após ser baleado num tiroteio entre policiais e um ladrão que o havia seqüestrado. O caso é seguido da morte de João Roberto Amorim, de 3 anos, na noite do domingo (6 de julho) no bairro da Tijuca, Rio de Janeiro, metralhado numa operação policial de perseguição a assaltantes. Algumas manchetes de jornais ilustram a política de segurança da cidade: “PM erra e mata mais um inocente”, "PMs fuzilam e matam menino de 3 anos na Tijuca", "PMs acusados de matar diarista no Complexo da Penha", "PMs investigados por sumiço de jovem na Barra", "PMs suspeitos de matar crianças de 6 anos no Muquiço", "Militares do Exército seqüestram jovens na Providência". A Folha de São Paulo desta quarta-feira destaca o aumento no número de mortos por policiais no Rio e em São Paulo. A reportagem mostra que a Polícia Militar paulista matou 182 pessoas entre janeiro e maio de 2007. No mesmo período deste ano foram 221 (21% a mais). No Rio, 449 pessoas perderam suas vidas por ação de PMs. Este ano foram 502 (aumento de 11%). Os erros seqüenciais da polícia militar no Rio de Janeiro vêm acompanhados de uma notória crítica a preparação dos policiais militares. O pesquisador da UFF, Kant de Lima, em artigo¹ que trata justamente da formação dos policiais, critica o modelo de formação policial brasileiro, altamente atrelado a princípios judiciários excludentes e punitivos e a ethos militares. O autor reforça a idéia de que o mau desempenho dos policiais está diretamente relacionado com o despreparo destes, ou seja, a sua má formação, principalmente no que diz respeito ao uso de armas de fogo. [...] José Mariano Beltrame, segue afirmando que a instituição passa por melhoras visíveis... A situação do Rio está sob controle, mas ainda temos que fazer muita coisa mesmo. A realidade do Rio não se faz com alguns fragmentos trágicos como este", referindo-se a morte de João Roberto Amorim, de 3 anos, em entrevista a um jornal de grande circulação carioca. Maria Alice Rezende de Carvalho, Professora do Departamento de Sociologia e Política da PUC / Rio, em artigo² que trata sobre a violência urbana e no qual utiliza a noção de “cidade escassa”, afirma que a violência nas grandes cidades brasileiras está associada a baixa legitimação da autoridade política do Estado, condenando praticamente toda a sociedade à condição de bárbaros. A noção de “cidade escassa”, utilizada pela autora, remete à baixa capacidade do Estado (e da sociedade) de universalizar regras e valores que dêem lugar a um espaço público compartilhado, daí resultando um efeito fragmentador – assinala a ausência de cultura cívica como chave para se compreender a desordem urbana – e reinstala o tema da ordem e da solidariedade como fundamento para o exercício da liberdade em uma sociedade fundada no princípio da igualdade. 1

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A polícia da cidade escassa

Mais uma ação desastrosa da polícia acaba com a morte de um inocente na cidade do Rio de Janeiro. No fim da noite da segunda-feira última o administrador Luiz Carlos Soares da Costa foi morto após ser baleado num tiroteio entre policiais e um ladrão que o havia seqüestrado. O caso é seguido da morte de João Roberto Amorim, de 3 anos, na noite do domingo (6 de julho) no bairro da Tijuca, Rio de Janeiro, metralhado numa operação policial de perseguição a assaltantes. Algumas manchetes de jornais ilustram a política de segurança da cidade: “PM erra e mata mais um inocente”, "PMs fuzilam e matam menino de 3 anos na Tijuca", "PMs acusados de matar diarista no Complexo da Penha", "PMs investigados por sumiço de jovem na Barra", "PMs suspeitos de matar crianças de 6 anos no Muquiço", "Militares do Exército seqüestram jovens na Providência".

A Folha de São Paulo desta quarta-feira destaca o aumento no número de mortos por policiais no Rio e em São Paulo. A reportagem mostra que a Polícia Militar paulista matou 182 pessoas entre janeiro e maio de 2007. No mesmo período deste ano foram 221 (21% a mais). No Rio, 449 pessoas perderam suas vidas por ação de PMs. Este ano foram 502 (aumento de 11%). Os erros seqüenciais da polícia militar no Rio de Janeiro vêm acompanhados de uma notória crítica a preparação dos policiais militares. O pesquisador da UFF, Kant de Lima, em artigo¹ que trata justamente da formação dos policiais, critica o modelo de formação policial brasileiro, altamente atrelado a princípios judiciários excludentes e punitivos e a ethos militares. O autor reforça a idéia de que o mau desempenho dos policiais está diretamente relacionado com o despreparo destes, ou seja, a sua má formação, principalmente no que diz respeito ao uso de armas de fogo.

[...]

José Mariano Beltrame, segue afirmando que a instituição passa por melhoras visíveis... A situação do Rio está sob controle, mas ainda temos que fazer muita coisa mesmo. A realidade do Rio não se faz com alguns fragmentos trágicos como este", referindo-se a morte de João Roberto Amorim, de 3 anos, em entrevista a um jornal de grande circulação carioca. Maria Alice Rezende de Carvalho, Professora do Departamento de Sociologia e Política da PUC / Rio, em artigo² que trata sobre a violência urbana e no qual utiliza a noção de “cidade escassa”, afirma que a violência nas grandes cidades brasileiras está associada a baixa legitimação da autoridade política do Estado, condenando praticamente toda a sociedade à condição de bárbaros. A noção de “cidade escassa”, utilizada pela autora, remete à baixa capacidade do Estado (e da sociedade) de universalizar regras e valores que dêem lugar a um espaço público compartilhado, daí resultando um efeito fragmentador – assinala a ausência de cultura cívica como chave para se compreender a desordem urbana – e reinstala o tema da ordem e da solidariedade como fundamento para o exercício da liberdade em uma sociedade fundada no princípio da igualdade.

[...]

FonteLIMA, Robert Kant. Direitos civis, estado de direito e cultura policial: a formação policial em questão. Disponível em: <http://www.necvu.ifcs.ufrj.br/arquivos/texto%204%20direitos%20civis%20estado%20de%20direito_roberto%20kant%20de%20lima.pdf>. Acesso em: 20 out. 2008.

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