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Polícia Comunitária 2012 CURSO ESPECIAL DE FORMAÇÃO DE CABOS

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Apostila - Policia Comunitaria

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Page 1: Apostila - Policia Comunitaria

Polícia Comunitária

2012

CURSO ESPECIAL DE FORMAÇÃO DE CABOS

Page 2: Apostila - Policia Comunitaria

POLÍCIA COMUNITÁRIA AULA I

TEORIAS

Caro discente, nos dias atuais, cada vez mais as comunidades estão

exigindo dos Governos o atendimento de suas demandas e, numa escala

crescente, a segurança pública aparece como uma das necessidades maiores

dos cidadãos.

A denominação Polícia Comunitária , neste primeiro momento, é utilizada

como uma forma de ação dos organismos policiais, em que existe uma

preponderância da participação comunitária. O ramo especializado da

segurança pública, na maioria das vezes, variando de culturas e tradições, vem

adotando nomes diferenciados, como se verá mais adiante, mas o que

interessa são os fundamentos.

A integração da Comunidade com as atividades de policiar está baseada

em duas teorias básicas, mundialmente aceitas: teoria do patrocínio

normativo e teoria social crítica .

Conforme ensina Sower (1957):

“A Teoria de Patrocínio Normativo declara que a maioria

das pessoas é de boa índole e cooperará com outros, a fim de

satisfazer as necessidades deles, para facilitar a construção de um

consenso. Propõe que um esforço de comunidade só será

patrocinado se for normativo (dentro dos limites de padrões

estabelecidos) para que todas as pessoas e todos os grupos de

interesse se envolveram na solução dos problemas. Uma das

considerações principais,quando tenta-se iniciar o desenvolvimento

de comunidade é entender como dois ou mais grupos de interesse

Page 3: Apostila - Policia Comunitaria

podem ter convergência suficiente de interesse ou consenso em

metas comuns para provocarem a implementação.”

Assim, cada grupo que se envolve e se interessa pela implementação de

um programa, deve ser capaz de justificar e, conseqüentemente, legitimar a

meta do grupo comum dentro de seus próprios padrões de valores, normas, e

metas.

O mais comum é que correspondam aos valores, convicções, e metas de

todos os grupos participativos, já que será mais fácil para eles concordarem

com metas comuns. Porém, os grupos participativos não necessitam que se

tenha que justificar o envolvimento deles ou aceitação de uma meta de grupo

pela mesma razão.

Community Policing também é resultante da Teoria do Patrocínio

Normativo e ajuda a polícia e os cidadãos a ganharem uma compreensão das

causas dos problemas sociais e da situação problemática, ajudando,

consequentemente, os cidadãos a resolverem os próprios problemas.

A Teoria Social Crítica é definida por Fay (1984), como o centro da ciência

social, prática que inspira as pessoas para ficarem socialmente ativas para

corrigir os problemas (conflitos) socioeconômicos e as circunstâncias políticas

que eles poderiam ter, como retorno, para satisfação de suas necessidades.

Procura responder como e porque as pessoas se juntam para corrigir e superar

os seus obstáculos, inclusive para superar os políticos que os impedem de

satisfazer as suas demandas.

Fay discute três pontos principais - impulsionadores - da ciência social

crítica, identificados como: esclarecimento , poder e emancipação . Segundo

o autor:

Page 4: Apostila - Policia Comunitaria

“O esclarecimento educa as pessoas sobre o seu

particular problema, sobre a situação e a capacidade potencial para

mudar a situação, em ordem que satisfaça as necessidades de suas

demandas. Esclarecimento é alcançado por reflexão,discussão

(comunicação) e determinação das causas da condição social

problemática das comunidades e dos cidadãos.”

A visão de Aristóteles sobre política é pertinente com a vertente do

esclarecimento. Na teoria aristotelana, o processo pelo qual são tomadas as

decisões de política é enfatizado como de importância primária. Isto se refere

aos esforços deliberados das pessoas para a ordem e da direção de suas

atividades, estabelecer metas para as suas sociedades, implementar planos

para estas metas, e avaliar o realização destas metas.

O que é muito significante nesta forma de política é o envolvimento de

cidadãos, estabelecendo e administrando as leis da comunidade. Em outras

palavras, uma pessoa pode ser importante se ela participar das decisões que

se fazem nos assuntos que a afeta: este tipo de vida política revela às pessoas

o que eles são e quem os outros são.

Decisões políticas feitas por um grupo de peritos tecnicamente treinados

(autoridades policiais) são um enigma para o futuro e, de acordo com Fay

(1987), “..... as decisões políticas realizadas pelos técnicos perdem uma

importante e parte essencial da liberdade, e resulta freqüentemente na regra de

autocratas com as soluções corretas, nem sempre legitimadas pela

comunidade".

O poder é considerado por Fay (1987) como:

"... uma força prática que estimula umas pessoas para

entrarem em ação, o que é significante para melhorar as suas

condições sociais. As ações sociais levadas pelos cidadãos,

normalmente, produzem resultados positivos. Não é o perito que

decide a ação a ser levada a efeito e que melhore a qualidade de

vida dos outros. É o recebedor do serviço que faz a determinação”.

Page 5: Apostila - Policia Comunitaria

Traduzindo de uma forma mais simples, poder significa que as pessoas

precisam agir para melhorar as suas condições, não havendo lugar para

passividade.

Emancipação pode ser considerada como uma forma de liberação, que é

o resultado de ação social, ou seja, uma pessoa é emancipada pela reflexão e

pela própria ação social de uma situação opressiva, problemática, social. Como

um grupo, eles racionalmente e livremente determinam a direção das próprias

vidas, mudando e melhorando a situação.

Community Policing é baseado no esforço em comum dos cidadãos e da

polícia para resolverem os problemas de bairro, que em troca satisfazem as

necessidades expressadas de cidadãos e aumenta, nos residentes, a

qualidade de vida.

O papel do agente de polícia de comunidade é equivalente ao papel do

cientista social crítico: o facilitador e catalisador do problema e dos

encaminhamentos para a resolução dos mesmos. A comunidade que policia

(polícia e comunidade) ajuda os residentes, reunindo-os individualmente e em

grupos, esperando que as decisões sejam adotadas por consenso de ação.

As principais considerações da Community Policing são: o cidadão é

incentivado a definir os problemas que devem ser resolvidos; o envolvimento

do cidadão, planejando e implementando medidas de gerenciamento de

problemas, que resolvem as atividades; e cidadãos que determinam se as

necessidades de interesse pessoal podem ser resolvidas.

Portanto, pelos pensamentos alinhados acima, pode-se inferir que a

participação comunitária nas atividades de policiamento, é a Teoria Social

Crítica em ação e é baseada nas suposições de Teoria do Patrocínio

Normativo .

Page 6: Apostila - Policia Comunitaria

POLÍCIA COMUNITÁRIA AULA II

ORIGENS E CONCEITOS

Não podemos deixar de reconhecer que em qualquer programa

comunitário voltado para a segurança pública, a polícia tem papel de destaque.

Por esta razão - porém assinalando as limitações das soluções meramente

policiais para as questões da segurança - cumpre tecer considerações

específicas sobre o papel da polícia num programa de segurança comunitária.

Com persistente freqüência, as pessoas, particularmente as mais maduras

e idosas, reclamam da ausência do policial de quarteirão, do guarda da

esquina. As autoridades policiais saem-se com a explicação de que aqueles

tempos eram outros; que os núcleos populacionais existiam em menor

quantidade, que as cidades eram ainda regiões bucólicas, com pouco

movimento, poucos automóveis, poucas armas de fogo; que as pessoas

conheciam os vizinhos; que não havia as densidades demográficas dos

grandes centros brasileiros; que os bairros eram locais mais ou menos

organizados.

O tempo passa, e as mudanças radicais da sociedade afetam a vida das

comunidades. Aparecem os arranha-céus e os conjuntos habitacionais da

periferia. As cidades crescem de tamanho, horizontal e verticalmente, e viram

metrópoles. Os problemas sociais aumentam. A criminalidade e a violência

também.

As autoridades imaginam que a corrupção policial é resultado da

demasiada aproximação dos policiais com a população, e que o policiamento

motorizado, além de resolver esse problema, dará maior visibilidade à polícia,

possibilitando a cobertura de áreas maiores, levando segurança a um número

maior de pessoas, de forma imparcial. Doravante, cristaliza-se como dogma

policial a crença de que o policial não deve ter relacionamento pessoal com o

público.

Page 7: Apostila - Policia Comunitaria

Perseguindo esse objetivo, estabelece-se que o policial não deva

trabalhar por muito tempo no mesmo lugar para não se tornar moroso ou mal-

acostumado, e decide-se direcionar os serviços policiais para as emergências.

Quanto à prevenção, lá se vão os policiais passeando em seus carros,

constituindo-se mesmo num desaforo pretender que eles façam patrulhamento

a pé, em contato direto com o público. São idéias que fazem parte da ideologia

policial dos anos de 1960 e 1970, liderada e difundida pelos administradores

policiais dos Estados Unidos.

O decurso da história mostra que as autoridades não conseguiram frear

completamente a corrupção, nem tornar a polícia imparcial, nem dar maior

visibilidade, nem proporcionar maior segurança e tampouco diminuir o medo do

crime. Todavia, o que houve na prática, foi um isolamento da polícia com

relação a comunidade..

Ocorre que essas idéias tinham sido concebidas unilateralmente, sem que

a opinião dos destinatários dos serviços policiais fosse levada em conta. O

público buscou, e continua buscando o contato direto com o policial do seu

quarteirão, do seu bairro. As pessoas não querem depender do acaso para

terem contato com um uniforme ou um veículo policial qualquer. Elas

querem se dirigir ao cidadão-policial, alguém de carne e osso em quem

possam confiar. O que fazer?

Da mesma forma que as idéias da motorização da polícia e do isolamento

provieram dos Estados Unidos, pois de lá também que vêm as idéias do

relacionamento polícia/povo e da chamada polícia comunitária, ainda que a

gênese dessa forma de empregar a polícia se encontre alhures. A ênfase dada

aos Estados Unidos não desconhece as iniciativas originais e criativas tentadas

no Brasil, nem descarta totalmente eventuais influências de outros países.

Nos últimos anos, centenas de policiais brasileiros têm visitado, além dos

Estados Unidos, organizações policiais de vários países europeus, latino-

americanos, e do Japão, conhecendo seus métodos e técnicas e as formas de

relacionamento com a comunidade. Porém, impende reconhecer o peso

indisfarçável da influência dos Estados Unidos, seja pela ida de policiais

brasileiros, seja pela vinda de policiais daquele país, seja pela literatura

especializada no assunto.

Page 8: Apostila - Policia Comunitaria

Sem que se pretenda levantar a história recente da atividade policial no

mundo ocidental, talvez seja proveitoso fazer um ligeiro esforço histórico de

como essas idéias chegam aos Estados Unidos e se difundem por outros

países, inclusive o Brasil.

De há muito, as autoridades norte-americanas estavam aturdidas com o

fato de tudo aquilo que haviam imaginado com relação à impessoalidade do

policial e à utilização do automóvel não estivesse produzindo os resultados

esperados. Embora sem que se abrisse mão dos dogmas da ideologia

dominante, já na década de 1960, são desenvolvidos alguns projetos esparsos

que buscam contrabalançar os isolamento da polícia e promover a

reaproximação da mesma com o público.

As autoridades norte-americanas, já naquela época, não conseguiam

entender o fato de estarem investindo milhões e milhões de dólares na

contratação de mais e mais policiais, de mais e mais viaturas, armamento e

equipamento sofisticado e, ainda assim, não estarem conseguindo conter a

escalada da criminalidade e da violência. E muito pior, o desapreço da

população pela polícia, com a conseqüente falta de cooperação. O problema é

que não se pensava em mudar os métodos de atuação da polícia; insistia-se,

sim, em que a população fosse convencida a entender e aceitar tais métodos

como técnicos, necessários ao bem da coletividade e único meio de conter a

criminalidade e a violência.

O renomado professor Wilson (1978), cujo livro foi considerado o

referencial dos policiais norte-americanos, apresentava as atividades de

Relações Públicas dentro desta visão, ao problema de como melhorar as

relações do público com a polícia, e vice-versa.

São, conseqüentemente, despendidos grandes esforços de Relações

Públicas, com a produção de farto material sobre o assunto. Se era preciso

melhorar o relacionamento da polícia com a comunidade, bastava otimizar os

serviços de Relações Públicas. Se este objetivo não era alcançado, concluía-se

que não se tinha um bom programa de Relações Públicas. Difundia-se que

todos os policiais deveriam conhecer e praticar Relações Públicas no seu dia-

a-dia. Pensava-se em melhorar a imagem da polícia, bastariam boas ações de

Relações Públicas. Que se mudasse o uniforme. No fundo, pretendiam - e

ainda há quem pretenda - arranjar um rótulo bonito para o produto, ainda que o

Page 9: Apostila - Policia Comunitaria

produto fosse de péssima qualidade. Esta é o que chamam da era das

Relações Públicas.

Ao buscarem a incorporação de minorias e mulheres nos quadros da

polícia para facilitar a aproximação, não atentaram para a imperiosidade de

mudança dos métodos de trabalho. Brancos, negros, latinos, mulheres, todos

se transformaram num uniforme abstrato dentro de uma viatura abstrata.

Só se vai realmente tentar romper os grilhões da velha ideologia com

algumas iniciativas piloto de volta aos antigos padrões do policial de quarteirão,

da esquina, a pé, no final da década de 1960. A partir desse momento,

entrementes, haverá um novo complicador: a proliferação dos grandes edifícios

e dos conjuntos habitacionais das cidades. Eis que, dentre outras, surge a

tática conhecida nos Estados Unidos por team policing, que será vista mais

adiante.

O policiamento em comunidade deixou de ser uma expressão promissora

para se tornar um assunto da moda. Ainda, assim, persiste a confusão

precisamente a respeito do que venha a ser, efetivamente, o termo polícia

comunitária. Que definições estão sendo usadas pelos vários segmentos

policiais, quando afirmam que estão executando este tipo diferenciado de

polícia?

O policiamento comunitário é apenas uma filosofia - uma nova maneira de

pensar? Ou deve, também, a polícia mudar o que faz, com a adoção de uma

nova estratégia organizacional? Será o policiamento comunitário apenas um

novo programa, baseado na permanência dos policiais comunitários em rondas

nos bairros de alta criminalidade? Ou será que ele exige mudanças na

maneira com que todo o pessoal de polícia, civil ou militar, interage e presta

serviços à comunidade?

Policiamento Comunitário é apenas um nome para aquilo que os melhores

segmentos policiais têm feito o tempo todo? É apenas outro nome para o

policiamento orientado para resolução de problemas? Como ele difere de

outros programas, tais como a prevenção do crime e as relações entre polícia e

comunidade? Será que ele transforma os policiais em assistentes sociais?

O sucesso ou o fracasso definitivo do policiamento comunitário repousam

em um consenso a ser alcançado a respeito do que significa o conceito do

termo. Se a definição for demasiadamente vaga, então um número expressivo

Page 10: Apostila - Policia Comunitaria

de programas serão qualificados como já participando do policiamento

comunitário, o que leva a pensar que o policiamento comunitário não exige

nenhuma mudança substancial. E, se persistirem definições contraditórias, o

termo se torna sem significado. É tempo de traçar linhas claras entre o que é

policiamento comunitário e o que ele não é, em hipótese alguma.

A partir desta fundamentação teórica, que procura coletar alguns dados

sobre tudo - ou quase tudo, desculpem a pretensão - que existe sobre o

assunto e sobre o entendimento que o grupo de trabalho possui sobre o

assunto, fruto de uma larga experiência nas atividades de policiamento, se

adotará o Princípio da Evidência, desenvolvido no pensamento cartesiano, ou

seja, nada pode ser reconhecido como verdadeiro antes de ser evidenciado

como verdadeiro: quando não se tem pleno conhecimento de algo,

efetivamente, não se tiram conclusões definitivas baseando-se em dados

incompletos, sendo mais correto enumerar os fatores excludentes, que o

negam. Somente ao final da pesquisa poder-se-á ter um referencial concreto,

ou seja, tentar estabelecer uma definição que se adapte a realidade gaúcha, do

que seja Polícia em Comunidade ou Polícia Comunitária .

Entretanto, seguindo os ensinamentos do pensamento cartesiano, temos

uma razoável consciência do que não seja , já que ela vem sendo,

sistematicamente, confundida com Relações Públicas, Guarda de Bairro,

Vigilante de Rua, etc.

PARA O GRUPO, POLÍCIA COMUNITÁRIA, ENTRE OUTRAS COI SAS, NÃO É:

a) Uma tática , uma técnica ou um programa : O policiamento comunitário não

é um esforço limitado para ser tentado e depois abandonado, e sim um novo

modo de oferecer o serviço policial à comunidade.

b) Relações Públicas : A melhoria das relações com a comunidade é um

agradável subproduto desta nova forma de oferecer serviço descentralizado e

personalizado à comunidade, e não o seu objetivo principal, como seria o caso

de um esforço de relações públicas. Contrariamente ao que ocorre com o

pessoal de relações públicas, entre polícia e comunidade, o policial comunitário

é diretamente responsável perante a sua comunidade.

Page 11: Apostila - Policia Comunitaria

c) Anti-tecnológico : O policiamento comunitário pode beneficiar-se de novas

tecnologias, tais como sistemas computadorizados de gerenciamento de

chamadas, se eles forem capazes de fornecer aos policiais operacionais mais

tempo livre de patrulha para ser aproveitado na resolução de problemas da

comunidade. Podem incluir-se telefones celulares, pager, etc.

d) Condescendente com o Crime : Os policiais comunitários respondem às

chamadas e fazem prisões como quaisquer outros policiais operacionais, mas,

além disto, envolvem a comunidade em iniciativas preventivas de curto e longo

prazo, destinadas a reduzir problemas no futuro. A diferença é que o

policiamento comunitário considera a detenção de um suspeito como um

instrumento importante na resolução de problemas e não como a medida

básica do sucesso ou fracasso.

e) Espalhafatoso : As ações com aparato enchem as manchetes dos jornais,

mas o policiamento comunitário complementa esse esforço atacando

problemas crônicos, que exijam a solução em longo prazo de problemas

comunitários.

f) Paternalista : O policiamento comunitário desloca o papel da polícia

especialista, detentora de todas as respostas, para o de parceria, num esforço

para tornar a comunidade um local onde seja melhor e mais seguro viver e

trabalhar.

g) Trabalho isolado : Embora os policiais comunitários possam ser, às vezes,

símbolo mais visível do engajamento no policiamento comunitário, estes

policiais devem fazer parte de uma estratégia geral de formar uma nova

parceria com a comunidade. O objetivo também é fazer com os policiais

comunitários sejam uma fonte para os demais segmentos policiais, já que eles

detém maiores informações sobre a comunidade e seus hábitos. No

policiamento comunitário, também, os cidadãos devem colaborar, serem

ouvidos e receberem respostas.

Page 12: Apostila - Policia Comunitaria

h) Personalismo e solução por acaso : Todas as atividades devem ser

uniformes, ou seja, deve existir uma diretriz que uniformize procedimentos.

i) Elitista : O objetivo é certificar-se que a polícia não fique distanciada da

comunidade, mas que se torne parte ativa da comunidade. O policiamento

comunitário requer o apoio e a participação direta de todas as pessoas,

independente de sua colocação na escala social ou econômica. Alguns

têm argumentado que o policiamento comunitário não estende a outras classes

sociais o mesmo tratamento pronto, cortês, respeitoso e amável que, em geral,

é dispensado às classes mais altas da sociedade.

j) Rotatividade : A fixação do policial num determinado local auxilia o seu

conhecimento e ser conhecido pela comunidade onde executa seu trabalho,

sendo recomendável, entretanto, um eficaz sistema de controle de

produtividade, a fim de que possam ser detectados possíveis desvios,

proporcionados por esta grande interação.

k) Atuar somente sobre os efeitos : O trabalho do policial em comunidade

deve buscar, também, atuar sobre as causas dos problemas que representam

as demandas da comunidade e, sempre que possível, procurando solucioná-lo

no nascedouro.

l) Planejamento da cúpula para a base : As informações devem ser

canalizadas da base para a cúpula, a fim de subsidiarem os planejamentos. O

policiamento comunitário transfere mais poder, autoridade e responsabilidade

para o nível operacional, ao exigir que todos os segmentos encontrem meios

para expressar a filosofia nos seus trabalhos. Em especial, aos policiais

comunitários deve ser dada a liberdade e a autonomia para agirem nas suas

rondas como se fossem mini-chefes.

m) Substituto do Serviço Social : Ajudar as pessoas a resolverem os seus

problemas, formal ou informalmente, tem sido sempre uma das grandes tarefas

do policial. O policiamento comunitário apenas formaliza e promove a

Page 13: Apostila - Policia Comunitaria

resolução de problemas comunitários, mantendo sempre um forte componente

- ainda que potencial - de repressão.

n) Serviço Reativo : A polícia em comunidade deve ser pró- ativa, integrada e

participativa, incentivando para que todos os cidadãos também ajam da mesma

maneira. No policiamento em comunidade não existe local para simples

espectadores. O papel do agente é de solucionar problemas.

o) Formação fora da sintonia da realidade social : A formação do policial de

comunidade deve englobar assuntos atuais e prioridades sociais, tais como a

geografia do local onde vai atuar.

p) Inacessível: O acesso do cidadão à Polícia deve ser o mais facilitado

possível, sendo que cada policial deve ser visto, reconhecido e identificado

como a primeira e definitiva instância para as demandas e aflições da

comunidade.

q) Prioridade Documentalista: O que é esperado do policial que trabalha em

comunidade é a solução do problema, não somente o seu registro. Portanto, o

aspecto administrativo da ocorrência ou problema é importante, mas não deve

anteceder a ação de sua resolução.

r) Quantitativo : O trabalho da polícia em comunidade busca os aspectos de

qualidade e, por via de conseqüência, a repercussão se dará nos aspectos

quantitativos. Quem faz melhor, normalmente fará menos, já que cada coisa

será feita apenas uma vez.

s) Serviço Indireto: A atuação da polícia em comunidade é direta, já que os

policiais se ocupam das demandas e com suas prevenções e, mesmo quando

acionam outros segmentos, sua ação é que condiciona a solução.

Ao final do trabalho, quando serão analisados e comparados todos os

dados que forem possíveis serem alocados, procurar-se-á entender o que

significa, dentro dos nossos padrões culturais, sociais e econômicos, este

termo. Por enquanto, continuamos procurando entendê-lo.

Page 14: Apostila - Policia Comunitaria

POLÍCIA COMUNITÁRIA AULA III

PRINCÍPIOS BÁSICOS

Conforme podemos constatar em pesquisas científicas, o modelo

tradicional de se fazer polícia em sociedades onde o regime político seja

minimamente democrático, há muito não correspondente à dinâmica dos novos

tempos.

A alternativa da polícia comunitária deve ser levada em conta num leque

de alternativas que se possa abrir para contrabalançar a obsolescência das

formas tradicionais, como viu-se acima. Adotada a alternativa, será

fundamental indagar os princípios que informam o modelo. Tais princípios,

sedimentados ao longo do tempo desde os chamados programas Team

Policing , referidos acima, passando pelos resultados das pesquisas realizadas

nos Estados Unidos, sobretudo as relacionadas ao medo do crime, conduzidas

pelos pesquisadores da Police Foudation ; a experiência da Polícia Militar do

Estado do Rio de Janeiro, e outros dados já referidos, pode-se alinhar o que

costumam chamar de princípios básicos ao empreendimento da polícia

comunitária, mais ou menos na linha das ponderações de Trojanowicz &

Bucqueroux (1994), porém considerada a realidade brasileira:

1. Identificação dos problemas feita em conjunto pela comunidade e pela

polícia;

2. Parceria com a comunidade na solução dos problemas;

3. Redesenho dos setores de patrulhamento de acordo com as

necessidades da comunidade;

4. Melhoria da qualidade de vida das comunidades como um dos objetivos

da polícia;

5. Permanência do policial no local de trabalho;

6. Avaliação dos policiais baseada na qualidade e na capacidade para

resolver problemas, e não a quantidade de ocorrências;

Page 15: Apostila - Policia Comunitaria

7. Delegação de autoridade aos policiais;

8. Facilitação do acesso aos meios públicos (serviços de limpeza, água,

energia, bombeiros,

etc) e mesmo privados, para apoiar os policiais na solução dos problemas da

comunidade;

9. Serviços de emergência somente para emergências;

10. A atividade policial é um serviço à disposição da comunidade;

11. Redução de especialização; o policial comunitário é um generalista;

12. Implantação de mentalidade empresarial nos dirigentes;

13. O policial é um coordenador de determinada área, uma espécie de

gerente;

14. Seleção de candidatos com perfil do policial comunitário, e não

somente daqueles com espírito de aventura e de valentia;

15. Treinamento dos policiais para organizar e liderar os moradores;

16. Ênfase na confiança nos policiais, e não no controle militar;

17. A comunidade é o fiscal da polícia.

Como constrangimentos à efetiva implantação da polícia comunitária,

dentre outros elencados ao longo do texto, podemos destacar: primeiro, o fato

de a polícia comunitária, em geral, não ser entendida dentro de um sistema

mais amplo de luta contra o crime e a violência, ou seja, que não esteja

inserida num esforço do sistema de justiça e segurança (algo como uma ação

comunitária do Sistema de justiça e segurança), em que os agentes desses

outros órgãos do sistema também estivessem imbuídos da mesma filosofia

participativa; segundo, o fato de que, simplificando, pelo menos dois pólos

estarão em interação: a polícia (da parte do poder público) e a comunidade (da

parte da sociedade), sendo demasiada pretensão querer que a integração se

faça pelo esforço isolado - como tem ocorrido no Brasil - dos executivos da

polícia.

Chega a ser um paradoxo que a polícia procure a sociedade para ser

controlada por ela, e que a sociedade se exima dessa responsabilidade e seja

resistente aos esforços no sentido do seu envolvimento nas questões relativas

à sua própria segurança.

Page 16: Apostila - Policia Comunitaria

PRESSUPOSTOS BÁSICOS

Os pressupostos, abaixo apresentados, devem ser entendidos como

pontos básicos, sendo que maior detalhamento sobre as suas influências,

podem ser encontrados na bibliografia disponível e no corpo do presente

trabalho:

Apoio dos Dirigentes Políticos

Cumprimento da Lei

Polícia Ostensiva com Ciclo Completo

Engajamento de Órgãos Públicos

Comandantes Habilitados para intermediar problemas da comunidade

Policiais Treinados e Preparados

Descentralização Operacional

Imprensa Esclarecida sobre atividades comunitárias e policiais

Recursos Materiais e Tecnológicos

Para facilitar a leitura, com base nos pressupostos acima, se procura

demonstrar alguns exemplos de ações, que materializam, ainda que

parcialmente, as indicações acima:

� Polícia em comunidade exige um envolvimento dos segmentos políticos,

quer como apoio para sua existência, quer como força de influência para

solução das demandas sociais das comunidades.

� A polícia deve sensibilizar a administração pública, nas diversas esferas,

da necessidade de uma efetiva participação e colaboração nos atos que

tenham reflexos na ação policial, que vão desde o asseio público até

demolições e interdições de edificações que represente riscos, potencial ou

efetivo, à comunidade.

� O segmento policial deve ter a iniciativa de realizar reuniões periódicas

com as comunidades, a fim de prestar-lhes contas do que está sendo feito e

ouvir as suas reclamações, inclusive as não criminais, sendo ideal que

compareçam, também, as lideranças políticas identificadas com a comunidade.

Page 17: Apostila - Policia Comunitaria

� As comunidades motivadas e engajadas na solução dos seus problemas,

exige que a polícia cumpra a sua parte, ou seja, o cumprimento da Lei, não

havendo espaços para concessões ou liberalidades, sempre danosas à

legitimidade.

� As satisfações efetivas às comunidades, em questões policiais, somente

se verificam se o segmento policial possuir o ciclo completo de polícia ou, na

impossibilidade, que exista uma integração, tão extremada entre as

instituições, que o trabalho de uma seja o complemento da outra, vinte e quatro

horas por dia, sete dias por semana.

� Policiamento em comunidade pressupõe a descentralização de frações

para locais inseridos na própria comunidade onde vai prestar serviços, sendo

que estes prédios, funcionais, devem servir como referencial policial e

comunitário.

� A transparência e o apoio somente são obtidos se todos os resultados

atingidos pelo policiamento no combate à criminalidade e na solução de

problemas da comunidade, forem amplamente divulgados para os cidadãos,

mesmo que não apresentem melhoria.

� O policial da comunidade não se constitui num elemento estranho ao

sistema policial, mas um de seus componentes principais e, desta forma, todas

as ferramentas tecnológicas disponíveis para os demais segmentos, também,

devem ser alcançadas a ele, para melhor cumprirem o seu trabalho.

� O estabelecimento de um sistema de recompensas, que considere mais

relevantes, os aspectos qualitativos do serviço policial - problemas

comunitários solucionados, informações recebidas, ... - ao invés do tradicional

sistema quantitativo – ocorrências atendidas - proporciona um maior

engajamento do policial na filosofia do trabalho.

� Ao policial da comunidade deve ser concedida autonomia para solucionar

problemas de rotina, juntamente com os diversos segmentos da comunidade,

desde que observadas as linhas gerais estabelecidas pelos comandos.

� Determinados locais da comunidade, pela potencialidade de delitos,

devem receber uma atenção especial do policial da comunidade, como, por

exemplo, as escolas, onde podem ser prevenidas diversas condutas delituosas.

� O policiamento em comunidade pode induzir o policial a corromper-se e,

desta forma, deve ser estabelecida uma efetiva estrutura de controle, que inicia

Page 18: Apostila - Policia Comunitaria

pelos órgãos fiscalizadores - Oficial de Serviço, sargento Auxiliar, etc. - e se

completa com o trabalho da Corregedoria.

� A síntese do policiamento em comunidade é o policial à pé, já que se

constitui na forma em que ele, pela menor mobilidade, percorre pequenos

espaços, tendo tempo e oportunidade para estabelecer os contatos com as

pessoas da comunidade.

� O policial empregado no policiamento em comunidade deve receber

treinamento específico sobre este tipo de trabalho, sendo ideal, no entanto, que

na formação policial, sejam incluídas disciplinas relacionadas à psicologia

social, sociologia e liderança.

� O policiamento em comunidade, como modalidade, não substitui o

policiamento tradicional, assentado na mobilidade do Rádio-Patrulhamento,

para quem devem ser convergidas, no entanto, o atendimento de chamadas.

� O policial empregado no policiamento em comunidade deve permanecer

no mesmo posto de trabalho e no mesmo horário, por um período mínimo de

trinta dias, de forma a que possa ser conhecido e conhecer os problemas e

pessoas da comunidade.

� O espaço de policiamento atribuído ao policial da comunidade deve

considerar a importância do local, em termos de criminalidade, número de

pessoas, ocorrências, etc., e não estar baseado, exclusivamente, em aspectos

territoriais.

Page 19: Apostila - Policia Comunitaria

POLÍCIA COMUNITÁRIA AULA IV

POLÍCIA COMUNITÁRIA NO BRASIL

Podemos perceber que, hoje diante da violência e do medo, e depois de

ter investido tudo na repressão, utilizando inclusive as Forças Armadas na

ostensividade contra bandidos, as autoridades brasileiras estão na busca de

caminhos menos inconseqüentes.

Embora correndo o risco da imprecisão, e sem desconsiderar iniciativas

efetivamente empreendidas em outros Estados ao longo do tempo, pode-se

dizer que as iniciativas de Polícia-Comunidade estão presentes na maioria dos

Estados, alguns de forma mais embrionária, outros de forma mais avançada.

ESTADO DO RIO DE JANEIRO

O primeiro grande esforço calcado em um programa estruturado e

formulado objetivamente, segundo uma concepção diferente da tradicional e

incorporando princípios de uma polícia voltada para as noções de serviço

público e de proteção à comunidade, foi tentado no Rio de Janeiro pela Polícia

Militar, no período de 1984 a 1987, e retomado a partir de 1991.

A fundamentação que orientou a decisão do comando geral à época está

refletida no objetivo síntese do Plano Diretor da Corporação:

“Promover, adaptando a estrutura policial militar às

exigências da segurança pública, o ajustamento comportamental da

organização, dentro de uma nova concepção de ordem pública, na qual a

colaboração e a integração comunitária sejam os novos e importantes

referenciais, o que implica um novo policial e uma nova polícia”.

Não é necessário descer a pormenores para relatar as dificuldades e os

problemas decorrentes do choque destas idéias com a cultura organizacional

então existente. E não só o choque interno, mas também o choque externo

Page 20: Apostila - Policia Comunitaria

(curiosamente com a própria sociedade, particularmente a classe média),

confirmando as advertência a respeito da contestação interna e da contestação

externa feitas por Trojanowicz e Bucqueroux (1994).

Ora, esta reação é natural. No caso do Rio de Janeiro, e provavelmente

nos demais Estados, os policiais militares estavam - e ainda estão - fortemente

condicionados ao emprego da polícia como um instrumento de mera repressão

e de combate. De combate concreto (os homens e mulheres policiais, as

viaturas, os uniformes, as armas, as instalações, o sistema de rádio, etc.) a um

inimigo na maioria das vezes abstrato. Pois quem é o criminoso? Onde ele

está? Como ele é?

É claro que a tentativa de responder a esta pergunta, a priori, só pode

acarretar a cristalização de preconceitos calcados em estereótipos. E a

resposta, embora não explicitada em nenhum manual das escolas policias, e

jamais admitida formalmente por qualquer policial, vai sempre na mesma

direção: os criminosos são os pobres; estão nas favelas e periferia de baixa

renda; são pessoas mal vestidas; são negros (e, no Sul, também os

nordestinos).

Ora, em cidades em que a quantidade de pobres é desproporcionalmente

gigantesca, em relação a ricos e médios, não precisa muito esforço de

raciocínio para concluir sobre os resultados dessa filosofia repressiva

tradicional.

Foi neste quadro que foi tentada a introdução da nova filosofia na Polícia

Militar do Estado do Rio de Janeiro, com uma contestação ferrenha de oficiais

e praças em geral. Pior, com o corpo mole até mesmo daqueles que fingiam

concordar com a idéia. E tinham razão. Ora, agora teriam que se relacionar

com as comunidades de uma forma fraternal; teriam que se conscientizar de

que eram seus servidores, e que existiam para protegê-las, e não para

combatê-las, agora teriam que ampliar o conceito de comunidade, não

bastando o relacionamento com os clubes de serviços, as associações

produtivas, os clubes elegantes; agora, teriam que se reunir também com as

associações de moradores, com os pobres, com as representações

comunitárias, com os clubes, agremiações populares e com os sindicatos dos

trabalhadores.

Page 21: Apostila - Policia Comunitaria

Pior ainda, pelos meios de comunicação, as elites e a classe média

condenaram – e continuam condenando - essa filosofia, que para elas seria

mera condescendência com a bandidagem. Só aplaudiram a idéia quando, há

pouco mais de dois anos, se implantou (em Copacabana) um esquema de

policiamento calcado no conceito de polícia comunitária, com a concentração

de recursos da polícia naquela área.

Hoje, fala-se em polícia comunitária com menos preconceito. Mas a

experiência do Rio de Janeiro tem demonstrado que o que as elites e a classe

média entendem por polícia comunitária não corresponde aos princípios gerais

dessa filosofia. Aprovam a polícia comunitária, desde que os recursos da

polícia sejam canalizados para os bairros onde residem e têm os seus

negócios; e polícia comunitária, no sentido amplo do conceito, não é isto.

Polícia comunitária não é concentração de efetivos policiais numa

determinada área. Polícia comunitária não é proteção de áreas turísticas nem a

massificação de efetivos e áreas comerciais. A filosofia da polícia comunitária

não impede que essas formas de policiamento também sejam adotadas, mas

se forem rotuladas com o nome de polícia comunitária, o conceito terá que ser

reformulado, pois passará a significar algo totalmente diferente do que tem sido

universalmente aceito como tal.

A propósito da polícia comunitária, muito mais importante do que saber o

que o conceito significa, será saber o que não é polícia comunitária, como se

preocuparam em sublinhar Trojanowicz e Bucqueroux (1994): “... dentre outras

coisas, a polícia comunitária não é uma tática, uma técnica ou um programa;

não é relações públicas; não é condescendente com o crime; não é

espalhafatosa; não é elitista; não é concebido para favorecer os ricos e

poderosos; não é uma fórmula mágica e rápida ou uma panacéia etc.”

Apesar de tudo, alguns avanços, à brasileira, têm sido observados, não só

com relação à difusão da filosofia (com a modificação de currículos e da

instrução da tropa, em vários Estados); com a Corporação incluindo essa

filosofia nos planos diretores de comando, como no caso do Rio de Janeiro,

São Paulo, Rio Grande do Sul, Espírito Santo e Minas Gerais, por exemplo.

No Rio de Janeiro, aquele esforço inicial do período 1984/87, quando,

além da difusão interna da filosofia, desenvolveram-se algumas ações junto às

comunidades, destacando-se a criação de um grupamento especial,

Page 22: Apostila - Policia Comunitaria

denominado Grupamento Especial de Policiamento do Bairro, que teve como

objetivos, nesta ordem:

a) o integrativo;

b) o preventivo;

c) o educativo-recreativo;

d) o repressivo.

Neste tipo de policiamento, o próprio planejamento decorreria do

levantamento dos problemas, em conjunto, pela comunidade, o Grupamento

Especial e a unidade operacional em que se situasse o bairro em questão.

Fruto de um outro problema que a filosofia da polícia comunitária encontra em

qualquer lugar, o da rotatividade dos comandos policiais, não se pôde avaliar

os resultados do projeto, pois o mesmo foi abandonado na administração

seguinte.

Para se ter idéia de resistência interna à nova filosofia, basta dizer que a

crítica à mesma no período seguinte acabou por cunhar um lema: integração

comunitária, sim; interferência comunitária, não. Um jogo de palavras bem

denotativo do espírito de rejeição à filosofia da integração - rejeição interna e

externa - que predominou no período de 1987/91.

Aquele esforço iniciado em 1984 é retomado em 1991 com a volta ao

comando da Polícia Militar do Coronel PM Cerqueira. Desta feita, os esforços

são empreendidos com maior vigor, com fundamentação teórica mais

consistente, como se procura indicar na bibliografia deste texto. Há de

se reconhecer, entretanto, que um passo já tinha sido dado. Ainda que

discordando, um bom número de oficiais entendia o significado do conceito.

Não se tratava mais da rejeição de algo desconhecido. A rejeição, agora, tinha

outras motivações, o que não é o caso de especular sobre quais seriam.

Desta forma, ainda que a resistência dos policiais ainda seja muito forte,

percebe-se uma progressiva adesão às idéias relacionadas com essa nova

forma de fazer polícia.

Fruto da ansiedade por não ver as práticas tradicionais produzirem os

resultados esperados, e na tentativa de atenuar o problema - e na expectativa

de conseguir a cooptação das comunidades, as autoridades policiais militares,

Page 23: Apostila - Policia Comunitaria

em não poucos Estados do Brasil, têm feito tentativas de aproximar a Polícia

Militar da população, ora através de contatos formais e informais, ora através

da criação de serviços mais próximos das comunidades, por meio de pequenas

unidades, destacamentos, postos de policiamento comunitário etc.

Para melhor esclarecer todas as circunstâncias que envolveram a

iniciativa no estado do Rio de Janeiro, foi buscado o depoimento do Coronel

Sérgio da Cruz, Chefe do Estado-Maior Geral da Polícia Militar do Estado do

Rio de Janeiro, responsável, à época, pelo planejamento e implantação do

policiamento comunitário na cidade do Rio de Janeiro:

“A história do policiamento comunitário na cidade do Rio

de Janeiro começa em 1992, com a idéia de uma Nota de Instrução,

em que as primeiras matérias eram colocadas para fins de reflexão

do público interno da Polícia Militar. A partir deste documento, foram

estabelecidos programas-pilotos de implantação do policiamento

comunitário de quarteirão nos bairros Laranjeiras, Botafogo e Urca,

basicamente. Ainda, no ano de 1993, foi pensado, criado e

implantado o Batalhão-Escola de Polícia Comunitária, que objetivava

formar turmas com a verdadeira noção desta nova filosofia de

policiamento. Este Batalhão funcionou dentro dos seus objetivos,

formou turmas e, ainda, implementou uma modalidade de

policiamento comunitário, denominada Área de Prevenção. Em 1994,

foi expandido o projeto de policiamento comunitário, sendo o mesmo

implantado no bairro de Copacabana, onde foi a área dividida em

seis Conselhos Comunitários de Área, facilitado pela própria divisão

geográfica do bairro de Copacabana, e o Batalhão trabalhava com

sessenta policiais, propositalmente preparados para a execução do

policiamento. No início de 1995, foi feito um monitoramento

qualitativo da execução do policiamento, onde mostrou que a

sensação de insegurança no bairro havia diminuído sensivelmente.

Mais adiante, foi feito um monitoramento dos aspectos quantitativos,

que também demonstrou uma redução sensível nos principais ilícitos

que ocorriam em Copacabana. A partir de 1996, com a mudança do

Governo e a implantação de uma nova Diretriz de Segurança

Page 24: Apostila - Policia Comunitaria

Pública, o policiamento comunitário foi interrompido, não só em

Copacabana, como em outras Unidades onde ele estava sendo

executado.”

O Coronel Sérgio da Cruz, no seu depoimento, alinhou diversos pontos

positivos e negativos, fruto da sua experiência e observação:

“Podemos citar como pontos negativos na implantação

do policiamento comunitário, aqui no Rio de janeiro, uma certa

resistência interna e, de certa forma,a dificuldade de se entender o

que constituía realmente o policiamento comunitário, e também a

dificuldade de saber como começar a execução desta nova

modalidade. Outro ponto negativo foi que o policiamento comunitário

começou, como disse antes, sob a modalidade de Policiamento

Comunitário de Quarteirão, e as pessoas entendiam que

policiamento comunitário era somente aquilo. Como pontos positivos

da implantação do programa, podemos citar os próprios resultados

obtidos e o constante monitoramento dos aspectos qualitativos.“

Hoje, o Rio de Janeiro adota uma nova estratégia de aplicação da filosofia

de Polícia Comunitária nas Unidades de Polícia Pacificadora, mas isso será

assunto a ser abordado posteriormente.