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A PERSPECTIVA DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE SOBRE O ATENDIMENTO EDUCACIONAL EM CLASSE HOSPITALAR Hugo PIRES JÚNIOR' Eduardo José MANZINI 1 Deunézio CORNELIAN JÚNIORZ Ana Helena ZANC0 3 RESUMO: O presente artigo teve como objetivo identificar qual a concepção que os pro- fissionais de saúde que trabalham em hospitais tinham sobre o trabalho do pedagogo em classe hospitalar. Os resultados revelaram que esses profissionais tiveram dificuldade em identificar o objetivo desse tipo de serviço. Também teceram comentários sobre: a) a ne- cessidade de realização de serviços dessa natureza; b) os benefícios que o atendimento educacional poderia proporcionar à clientela do hospital; e c) os possíveis procedimentos para a criação desse tipo de atendimento. PALAVRAS-CHAVE: Educação Especial; classe hospitalar; hospitalização. Introdução A assistência à saúde da criança hospitalizada tem sido analisada sob vários enfoques. Por um lado, existe o enfoque direcionado ao atendi- mento à família e à criança internada. Nessa direção, podemos citar os 1 Departamento de Educação Especial-Faculdade de Filosofia e Ciências - UNESP - 17525-900 - Ma- rilia - SP. 2 Pedagogo especializado em Deficiência Fisica e da Audiocomunicação - SP. 3 Pedagoga especializada - Centro de Educação Especial Egidio Pedreschi - Ribeirão Preto - SP. Didatica, Sao Paulo, n. 31, p. 175-197, 1997 175

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A PERSPECTIVA DE PROFISSIONAIS DE SAÚDESOBRE O ATENDIMENTO EDUCACIONAL

EM CLASSE HOSPITALAR

Hugo PIRES JÚNIOR'

Eduardo José MANZINI1

Deunézio CORNELIAN JÚNIORZ

Ana Helena ZANC0 3

• RESUMO: O presente artigo teve como objetivo identificar qual a concepção que os pro-

fissionais de saúde que trabalham em hospitais tinham sobre o trabalho do pedagogo em

classe hospitalar. Os resultados revelaram que esses profissionais tiveram dificuldade em

identificar o objetivo desse tipo de serviço. Também teceram comentários sobre: a) a ne-

cessidade de realização de serviços dessa natureza; b) os benefícios que o atendimento

educacional poderia proporcionar à clientela do hospital; e c) os possíveis procedimentos

para a criação desse tipo de atendimento.

PALAVRAS-CHAVE: Educação Especial; classe hospitalar; hospitalização.

Introdução

A assistência à saúde da criança hospitalizada tem sido analisadasob vários enfoques. Por um lado, existe o enfoque direcionado ao atendi-

mento à família e à criança internada. Nessa direção, podemos citar os

1 Departamento de Educação Especial-Faculdade de Filosofia e Ciências - UNESP - 17525-900 - Ma-rilia - SP.

2 Pedagogo especializado em Deficiência Fisica e da Audiocomunicação - SP.3 Pedagoga especializada - Centro de Educação Especial Egidio Pedreschi - Ribeirão Preto - SP.

Didatica, Sao Paulo, n. 31, p. 175-197, 1997

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trabalhos que focalizam: a) o papel e a importância da família no processo

de hospitalização (Zannon, 1990); b) a necessidade de cuidados específi-cos com a família e a criança em fase terminal (Valle, 1988, 1990) ; c) a ne-cessidade de avaliação das características emocionais e cognitivas da

criança que irá passar por cirurgia no sentido de adaptá-la à fase de recu-peração (Sarti, 1990). Por outro lado, encontramos os enfoques que se di-

rigem para a criação de recursos e implantação de programas psicológi-cos para dar suporte à criança hospitalizada (Gorayeb, 1990; Sarti, 1990).

Porém, além dessas abordagens com referência à assistência à criançahospitalizada, podemos considerar uma outra: a atuação do pedagogodentro do hospital.

Segundo a CENP (1987, p.27), uma das modalidades de ensino parao atendimento à criança internada seria a classe hospitalar. Essa sala es-

taria localizada dentro de um hospital porém vinculada a uma escola es-tadual. Tal atendimento seria destinado a crianças e jovens hospitaliza-

dos para tratamento, quer por um período de internamento curto, querpor um período prolongado. Esses alunos, "vítimas de acidentes ou por-

tadores de doenças crônicas ou outras moléstias que exigem interna-mento para operações ou tratamento médico mais ou menos freqüente",

seriam atendidos no leito, ou em grupos em sala instalada perto da enfer-maria, por profissionais habilitados para isso. Os objetivos dessa classeseriam: 1. "dar início ou continuidade aos estudos regulares"; 2. "diminuir

traumas psicológicos resultantes da intemação e tratamento médico" ; e3. "procurar manter o nível de vida tão normal quanto possível, enquanto

a criança ou adolescente permanecer no hospital, de modo a facilitar-lhea reintegração ao ambiente familiar e escolar, quando receber alta".

Dessa forma, segundo a CENP (1987), a programação das ativida-des escolares teria características próprias adaptadas às reais condições

dos alunos, ou seja, se este aluno é iniciante na atividade escolar, se é umaluno que requer continuidade do conteúdo programático do qual vinha

usufruindo, se ele necessita - antes de se dar prosseguimento pedagógico -de uma adaptação ao hospital. Portanto, percebe-se que o papel do peda-

gogo dentro de um hospital torna-se bastante variável tendo como fun-ção, por exemplo: a) estabeler contato com o professor da escola que o

aluno freqüentava no sentido de dar continuidade aos estudos; b) estabe-lecer contato com os médicos e profissionais do hospital para avaliar as

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condições médicas do aluno; c) lidar com as conseqüências do hospita-lismo utilizando sua formação educacional.

Vemos, então, que a área de atuação do pedagogo que trabalha emclasse hospitalar é ampla, sendo o seu papel definido pelas várias situa-

ções físicas, sociais e educacionais. Além disso, por ser uma área nova epouco definida, faz-se necessário um melhor conhecimento de como estaárea funciona. Nesse sentido, o objetivo do presente estudo foi o de iden-tificar qual a representação que profissionais de saúde, que trabalhavamem hospitais, tinham sobre o atendimento educacional especializado emclasse hospitalar.

Método

Participantes

Foram contatados profissionais de dois grandes hospitais da cida-de de Marília. Em cada um dos hospitais participaram todas as categoriasde profissionais da equipe do setor de pediatria. Ao todo participaramcomo informantes 18 profissionais: três enfermeiros, dois assistentes so-ciais, dois fisioterapeutas, um psicólogo, nove médicos (três pediatras,

um neuropediatra, um neurologista, dois ortopedistas, dois administra-dores) e um residente em pediatria.

Procedimento de coleta de informações

O procedimento de coleta de informações foi realizado por meio deentrevistas baseadas em um roteiro preestabelecido que continha sete

questões especificas sobre: 1. a classe hospitalar (conhecimento sobre osobjetivos e serviços bem como o interesse em participar de um serviçodessa natureza); 2. implantação (procedimentos de implantação e os be-neficias para a criança); e 3. colaboração dos profissionais tanto no pro-cesso de implementação como na definição de sua atuação junto a esseserviço.

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As entrevistas foram realizadas no próprio local de trabalho. Estasforam gravadas e posteriormente transcritas. Um dos participantes seopôs a ser entrevistado mas pediu o roteiro da entrevista e entregou asrespostas na forma escrita. Outra entrevista, por problemas técnicos degravação, foi escrita pelo entrevistados que registrou a fala do entrevista-do procurando utilizar as próprias palavras proferidas pelo informante.Por entender que as informações eram relevantes para a pesquisa emquestão, optou-se por também utilizar essas duas entrevistas para a aná-lise das informações.

Tratamento das informações

Baseados na transcrição das fitas e nas entrevistas escritas, anali-samos e classificamos as informações atendo-nos aos significados queestas continham. Foram feitas várias leituras da transcrição e a partirdessas leituras selecionamos as falas em temas e subtemas. Nessa fasede análise dos temas participaram todos os autores da pesquisa que pu-deram chegar a um consenso sobre onde cada uma das falas dos entre-vistados se enquadravam. O resultado dessa análise foi a classificaçãodas falas dos informantes em sete grandes temas.

Resultados e discussão

A partir do procedimento de análise foi possível obter informaçõessobre: 1. a importância do atendimento educacional dentro do hospital;2. os objetivos desse tipo de atendimento; 3. o conhecimento e a concep-ção do atendimento pedagógico dentro dos hospitais; 4. implantação dosserviços pedagógicos dentro do hospital; 5. as atribuições do pedagogoquanto ao trabalho pedagógico dentro dos hospitais; 6. contribuiçõesdos profissionais que trabalham no hospital para o andamento dos servi-ços; 7. o ambiente hospitalar. No Quadro 1 apresentamos a relação dos

temas e subtemas encontrados nos discursos de todos os participantesda pesquisa.

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Quadro 1 - Temas e subterras apresentados pelos participantes du-rante o procedimento de coleta de informações

Temas

Subterras

Aspecto educacional1. A importância do atendimento educaci- Aspecto emocionalonal dentro do hospital

RecuperaçãoOutros aspectos

2. Objetivos do atendimento pedagógicodentro do hospital

3. 0 conhecimento e a concepção do aten-dimento pedagógico hospitalar

Dificuldades para a implantaçãoDisponibilidade dos profissionais para a_i mplantaçãoConcepções sobre o próprio papel na

4. A implantação dos serviços pedagógicos implantação dos serviçosno hospital

Procedimentos para implantação dosserviços0 papel do pedagogo na implantação dosserviçosA quem o serviço se destinaria

Trabalho do pedagogo junto às crianças

5. Atribuições do pedagogo quanto ao tra-Trabalho do pedagogo junto à família

balho escolar dentro de hospitais

Trabalho do pedagogo junto à instituiçãoTrabalho do pedagogo junto à equipe desaúde

6. Contribuições dos profissionais que tra-balham no hospital para o andamento dosserviços

7. O ambiente hospitalar

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Características da criança hospitalizadaCaracterísticas do ambiente hospitalarque se relacionam com as consequênciasnegativas do hospitalismoAlterações no ambiente hospitalar quetrariam melhoria para as crianças

A seguir descreveremos e discutiremos cada um dos temas encon-trados no discurso dos participantes.

1 A importância do atendimento educacionaldentro do hospital

Pudemos constatar que, ao referir-se aos aspectos mais importan-tes sobre o atendimento educacional, os profissionais informaram sobre

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os benefícios revertidos à criança no sentido educacional, emocional e derecuperação. Também informaram sobre benefícios revertidos à equipeinterdisciplinar, à instituição, e sobre os resultados positivos desse tipode intervenção.

Aspecto educacional

Os participantes ressaltaram que na internação hospitalar os pa-cientes perdem a "oportunidade de se educar". Isso ocorre principal-mente quando o período de internação é muito longo em decorrência do

"tratamento de uma patologia crônica". Dessa forma a criança "perma-nece durante um longo período dentro dos hospitais, às vezes, por me-ses" por necessitar fazer um tratamento e, em função disto, "ficam semum atendimento adequado na área de educação".

Ressaltaram também que um atendimento escolar dentro do hos-pital "evitaria a perda do aprendizado" durante o período de internação.

Esse atendimento também teria a função de "reinserir as criançasno processo de aprendizagem", o que permitiria o "retomo, de forma in-tegrada, ao meio social onde [a criança] vive".

Para um dos participantes o atendimento escolar hospitalar seriauma "oportunidade de a criança confrontar com outras metodologias deensino e perceber a importância do estudo".

Aspecto emocional

A maioria dos participantes alertou para o fato de que a hospitali-zação agride a criança ao provocar uma modificação brusca em seu am-biente: a troca de um ambiente conhecido (o familiar) por outro desco-

nhecido (ambiente hospitalar). O atendimento escolar ajudaria a criançaa continuar percebendo a existência do mundo externo ao hospital (aescola). Vários são os relatos da importância desse tipo de atendimen-

to: "a criança possa perceber que ainda possui o mundo externo da qualela faz parte" ; "o fato de vocês trazerem uma coisa externa que é do dia-a-dia de uma coisa dela, trazer para dentro do hospital, talvez possa atéfuncionar como terapia auxiliar, ela não se sente tão solta ou retirada da

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sociedade"; "vejo como uma terapia, que leve a criança a esquecerque está doente, e que está longe dos pais",- "perceber que existem pes-soas que se preocupam com ela"; "contribui para diminuir o traumahospitalar".

Os participantes apontaram também que a hospitalização cria, decerta forma, uma inércia nas crianças, fato esse proporcionado pela faltade atividade e pela situação aversiva da hospitalização. Dessa forma, oatendimento escolar poderia ajudar também nesse aspecto: "Eu achoque o professor no hospital poderia ajudar muito principalmente na parte,vamos dizer, além de dar uma atividade, no caso TO, uma atividade alémdisso, porque a criança fica muito sozinha"; "quanto mais [a criança] ficana cama mais quer ficar e, a partir do momento que existe um trabalho dedistração, dela se sentir capaz, eu acho que estaria ajudando neste senti-do, dela estar podendo crescer, ver que aquilo não é tão ruim, aqui não étão ruim" ; "penso que a criança vai sentir um grande apoio e talvez pre-encher mais suas horas desagradáveis dentro do hospital" ; "e tenho umaconcepção minha, se o indivíduo no hospital está com um pedagogo dolado, ele está aprendendo, não paralisa, não detém a marcha do progres-so dele, significa que ele tem vida".

Recuperação

A maioria dos participantes relatou que o trabalho do pedagogodentro do hospital traria vantagens para a recuperação da criança, ouseja, a recuperação seria mais rápida e o tempo de internação seria dimi-nuído. Indicaram como sendo determinante para a recuperação da saú-de da criança: a atividade fornecida pelo pedagogo ("algum tipo de ati-vidade aqui no hospital já está colaborando para ela estar se adaptan-

do"); a atenção despendida ("só a presença de vocês, a atenção que sedaria ... colaboraria com o estado emocional ... recuperação da crian-

ça") ; a aprendizagem ("criança feliz, ou pelo menos acreditando em um fu-turo - aprendendo -, pode ajudar na recuperação", "se você está lá ensi-nando, propiciando a ele visar sua energia para crescer, para aprender,significa que vocês estão do lado dele, com vida, e é interessante paraa recuperação da criança").

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Outros aspectos

Além dos três aspectos arrolados, os participantes citaram que oatendimento pedagógico dentro do hospital seria importante porque: a)o pedagogo estaria fazendo a junção entre educação e saúde e estaria

ampliando o serviço ("somando a um serviço já existente", "é importan-te porque temos vários profissionais trabalhando"); b) seria uma novaexperiência dentro do hospital; c) os resultados conquistados com um

trabalho dessa natureza abririam campo para ser efetivado em outroshospitais.

2 Objetivos do atendimento pedagógicodentro do hospital

Ao serem questionados sobre quais poderiam ser os objetivos deum trabalho pedagógico dentro dos hospitais, os participantes, em suamaioria, não conseguiram especificá-los. Dentre os 18 participantes dapesquisa, seis deles tentaram especificar objetivos: 1. aumentar a motivação

para o estudo da criança; 2. despertar o senso crítico; 3. diminuir o tempoocioso da criança internada, favorecendo o trabalho clínico; 4. impedir a in-terrupção do processo de aprendizagem, para no futuro a criança ser in-

tegrada à sala de aula; 5. controle emocional, estímulo à aprendizagem;6. atender de forma particularizada, respeitando o estado psicoemocionaldo paciente, suas limitações físicas; 7. orientar o paciente - que não estámais na escola ou que nunca esteve - para a vida cotidiana, como higienee saúde física e mental.

Por esses dados é interessante notar que, por ser um serviço relati-vamente pouco conhecido, os participantes tiveram dificuldade de indi-car os objetivos do atendimento pedagógico dentro do hospital.

3 O conhecimento e a concepção do atendimentopedagógico hospitalar

Ao serem interrogados sobre o conhecimento de algum tipo deatendimento pedagógico em hospitais, pudemos constatar que cinco

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participantes indicaram conhecer a existência de serviços dessa nature-za: H.C. em São Paulo; no Japão; Fundação Hemominas - atendimentoao hemofílico em Minas Gerais; em Ribeirão Preto; através de publicaçãoda Roche, onde se informa sobre a atuação de pedagogos-médicos. Po-rém, os participantes sinalizaram desconhecimento sobre o funciona-mento dos serviços.

Ainda sobre a questão do atendimento pedagógico, os participan-tes relataram tipos de atendimentos que talvez pudessem ser entendidoscomo educacionais; dificuldade de execução desses serviços; e as possí-veis características de um atendimento escolar no hospital.

Sobre os tipos de atendimentos que talvez pudessem ser entendi-dos como educacionais, os participantes citaram o trabalho conhecidocomo "mãe participante", grupos com adolescentes e "interconsultas".Os trechos a seguir exemplificam o entendimento sobre os serviços edu-cacionais: "a gente trabalha muito a questão: 'conceitos da saúde'. Comas crianças internadas temos o trabalho de mãe participante" ; "a questãoda mãe participante, e estão formando outros grupos mais na área deadulto, na área da criança e adolescente já está pequena, está caminhan-do, engatinhando" ; "não sei se isso pode estar englobando dentro de umatendimento educacional, o que a gente conhece é o serviço de psicolo-gia, atende por meio de interconsulta das crianças ... não sei se pode es-tar encaixando como esse atendimento educacional, como temos outrosserviços de atendimento visando, dentro da pediatria em si, buscandooutras especialidades, por exemplo, temos o serviço de fisioterapia, quepara a criança internada é muito solicitada".

Sobre as dificuldades de execução do serviço de atendimento pe-dagógico, os participantes apontaram como empecilho a falta de execu-ção das atividades planejadas (" muito pouco tem se feito, fica tudo no pa-pel, não há um caminhar direto com a criança") e, principalmente, a con-cepção de saúde que está interiorizada nos profissionais que trabalhamem hospitais: "só de falar em desenvolver alguma coisa, os profissionais,ele já, é como se vestisse uma carapaça não querendo dar uma abertura aoutras coisas" ; "só assim os profissionais, abrindo a cabeça dele, tentan-do, pelo menos, conhecer o que é o serviço do outro"; "porque normal-mente a gente fica no canto e não dá espaço para outra pessoa, assimestá como soro não precisa tirar da cama, pois está com soro"; "eu ficopensando assim, educação e saúde unidas, a separação é puramenteconvencional, e no nosso país é de interesse político".

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Sobre as características do atendimento pedagógico hospitalar, osprofissionais citaram o desconhecimento devido, principalmente, à falta

de experiência. Outros profissionais citaram as possíveis característicasdesse tipo de atendimento: a) ser realizado através de interconsultas ("oatendimento da maneira que é feita no hospital funciona muito bem. Por

meio de interconsultas nós solicitamos que a pessoa venha. No caso dopsicólogo ou ffsio, nós expomos todo problema clínico da criança sobre apatologia. Ele então explica à criança tudo isso e integra ela no meio. E oatendimento educacional estaria dentro disso"); b) através do próprio co-nhecimento do paciente ("nos pacientes que estão estudando, manter asmatérias que estão estudando. Nos que estão fora da escola, matériasque motivam o estudo"; "em um trabalho organizado, visando a cadaidade e às necessidades, e aquilo que a criança já reconhece, aperfeiçoa-

mento daquilo que já tem informação em termos de educação"); c) atra-vés dos recursos do hospital ("recursos do hospital-programa interdisci-plinaC); d) em conjunto com outros profissionais ("desenvolveria a parteintelectual, a parte motora, junto com o terapeuta ocupacional").

4 Implantação dos serviços pedagógicos no hospital

Ao serem indagados sobre a implantação dos serviços, os partici-pantes: a) indicaram as possíveis dificuldades; b) apresentaram sua dis-ponibilidade; c) fizeram atribuições sobre o próprio papel na implantação

dos serviços; d) indicaram procedimentos para implantação (orientaçõesaos funcionários, normas administrativas, elegibilidade das crianças); e) fi-zeram atribuições sobre o papel do pedagogo na implantação dos servi-ços; e f) indicaram a clientela a que o serviço destinar-se-ia.

Dificuldades para a implantação

Sobre as dificuldades, os participantes concordam entre si que oprocesso de implantação torna-se mais difícil devido ao fato de não haveruma experiência dessa natureza que seja conhecida pelo hospital: "A bri-ga de vocês será grande" ; "A gente sente que com relação a isso (Peda-

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gogia) não tem nada, nenhum tipo de apoio"; "Difícil"; "uma propostainovadora, as pessoas que militam na área hospitalar, um ou outro temconhecimento anterior, mas a maioria não tem e precisaria ser engajadanesse processo" ; "não tenho menor idéia, não deve ser uma coisa fácil,porque envolve a questão do município, a questão do Estado, porquenão sei qual a proposta, se é trabalhar com a pré-escola, a questão deescola de 1° grau" ; "Realmente é difícil responder sem ter experiência an-terior e como foi implantado em outro local ou mesmo quais são os planosde vocês".

Disponibilidade dos profissionais para a implantação

Apesar de entenderem que o processo de implantação seria difícil,os participantes colocaram-se à disposição para colaborarem: "Estaria à

disposição para informar o que temos e o que vocês oferecem para fazerum trabalho único" ; "mas o que depender de mim estou totalmente a dis-

posição"; "Eu acho que já estaria ajudando, de estar colaborando"; "Apartir daí, vamos colaborar de qualquer maneira, que der para colaborar,

vamos colaborar" ; "é estar ajudando, colaborando, então assim tudo quevocês precisarem e solicitarem a gente vai estar ajudando"; "Minhas co-

laborações seriam participar das decisões para implantar para que issoocorra"; "Isso é fundamental, tudo que disse anteriormente é uma coisa

fundamental. Nós temos maior interesse em colaborar em qualquer ini-ciativa que vise, qualquer processo educacional principalmente da crian-

ça"; "dependendo do que vocês precisam a gente vai colaborar, a genteestá tranqüilo. O que vocês precisarem, desde que eu tenha condições" ;" Agora se isso é uma inovação, nós realmente devemos nos abrir para as

coisas novas que surgem"; "Ajudar na instalação".

Concepções sobre o próprio papel naimplantação dos serviços

A respeito do próprio papel sobre os serviços educacionais, a maio-ria dos participantes indicou falta de orientação e dúvidas devido ao des-

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conhecimento do trabalho do pedagogo dentro do hospital: "De inícionão identifico" ; "Não sei"; "Isso é uma questão que já não dá para eu res-ponder, não sei como poderia ser começado", "Não sei responder";"Como nunca executei não sou técnico, não sou especialista na coisa, euacho que tenho muito que aprender e gostaria de participar" ; "Não tenhoidéias".

Alguns profissionais acreditavam que a contribuição viria com oandamento dos serviços e outros se posicionaram a partir de sua área deconhecimento ou especialidade: "primeiro precisamos saber o que vo-cês irão nos oferecer para ver como poderíamos fazer esse trabalho em

conjunto"; "Orientar o profissional em questões psicológicas quanto àequipe de saúde e à própria criança"; "Dando informações da doençade cada criança e dificuldade que a criança apresenta no relacionamento

com as crianças internadas, médicos, enfermagem, e com os pais na horada visita".

Procedimentos para implantação dos serviços

Segundo os participantes a implantação dos serviços deveria, porum lado, iniciarno trâmite administrativo do hospital, por outro, criar con-dições para o envolvimento e participação da equipe de saúde.

Na esfera administrativa, o serviço deveria ser apresentado atravésde um projeto para apreciação e, segundo as expectativas dos partici-pantes, a aprovação dar-se-ia de maneira tranqüila: "Teria que apresen-tar um programa do que ele está pretendendo fazer dentro dos hospitais eaí a gente poderia ver qual o objetivo"; "Tem que apresentar um projeto edepois disso ser encaminhado a diretoria e ter a viabilidade dessa autori-zação..."; "e o hospital querer implantar o serviço (o que não é difícil)";" Através da Administração hospitalar. Sem o apoio da direção é muito di-

fícil entrar no hospital"; "Como é uma experiência nova, iniciar quandotudo estiver organizado: horário, dias da semana..."; "Com relação à di-reção não teria problema nenhum" ; "Eu acho então que teria que ser diri-gido esse pedido às direções dos diferentes hospitais"; "Inicialmente dis-cutindo um projeto já estabelecido junto às direções". Administrativa-mente o trabalho poderia ser realizado com outras instituições: "Em rela-

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ção ao nível municipal há necessidade de haver um entendimento entre

as secretarias responsáveis, as direções de hospital e da faculdade".

Na esfera da equipe desaúdea implantação envolveria uma discus-são ampla e esclarecimento dos serviços e a que ele se dispõe: "entãoquem vai estar relacionada a vocês é a equipe de enfermagem, sob meuponto de vista. Então eu acho que tem que ser feito assim, quando issocomeçar, esse trabalho, fazer um globo para estar passando essa infor-

mação para a enfermagem, toda equipe técnica" ; "e propor a eles discus-sões sobre o assunto para que se chegue a uma conclusão de como im-plantar para que não se prejudique" "Não tenho claro, imagino que seja

através de um processo de discussão de conhecimento da proposta";"vão ter que fazer um trabalho de integração grande, isso significa pessoalaqui dentro sem estar interferindo nas áreas, porque se a criança é de

uma outra escola, se é estadual e não municipal, vocês terão que ter todoum processo de trabalho conjunto"; "Como uma especialização dentrodo que chamaríamos de estimulação precoce, e prestação de servi-ços..."; "depois envolvendo os profissionais que trabalham no dia-a-diacom o paciente" ; "Este tipo de serviço deve ser implantado com orienta-ção de um assistente social".

Além dos procedimentos administrativos e dos procedimentosj unto à equipe de saúde, um dos participantes indicou como modelo deprocedimentos para o funcionamento dos serviços a forma de Intercon-

sultas" ("Eu acho que também deve ser por meios de interconsultas.Você solicita e expõe todo problema da criança e uma pessoa - tem nocaso da psicologia - vem todo dia. Diariamente essas crianças são traba-lhadas para não (se) perder a seqüência (avaliação diária)".

O papel do pedagogo na implantação dos serviços

Para os participantes, o pedagogo teria dois papéis principais naimplantação desse serviço: 1. ser o mentor e criador do projeto ("masacredito que é só aparecer um profissional com qualidades e motivaçãopara"; 2. orientar a equipe quanto ao destino do projeto ("Para começareste trabalho teria que estar orientando primeiro a equipe profissional,

principalmente os funcionários").

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A quem o serviço destinar-se-ia

Ainda sobre a implantação dos serviços, os participantes teceramcomentários sobre quais seriam as crianças elegíveis para o atendimentopedagógico. Os participantes acreditavam que deveria ser feita uma se-leção de crianças para este tipo de serviço e que dever-se-ia considerar,

nos critérios de seleção, o tempo de permanência de internação: "teriaque ser feito uma seleção dessas crianças quais que dariam, que tipo derestrição ela tem dentro do hospital"; "Em primeiro lugar, deveria sele-cionar as crianças que poderiam estar passando por esse aprendizado,nem todas podem estar passando por isso..."; "Para hospitais específicosque atendem um volume de crianças, que tenham uma média de perma-

nência alta no hospital eu até acho interessante. Na nossa realidade eunão sei, pois a média de permanência é muito pequena, então na pedia-tria a média permanente está (em) 5 dias, eu não sei o quanto isso interfe-re..."; "mas seria interessante em hospitais um período que a internaçãoé grande, onde a criança fica um mês e aí atrapalha totalmente"; "comoessas crianças muitas vezes precisam de um tempo de internação pro-longado o pedagogo inicia seu trabalho no momento adequado, princi-palmente a criança que necessita, perde aulas escolares por período lon-go"; "principalmente aquela criança patológica, que necessita de muitosdias de internação fora de seu ambiente familiar e escolar".

5 Atribuições do pedagogo quanto ao trabalhoescolar dentro de hospitais

Ao referirem-se às atribuições do pedagogo no hospital, os partici-pantes teceram considerações sobre o papel deste junto à criança, juntoà família, junto à instituição, e ressaltaram o papel do pedagogo ante aequipe de saúde.

O trabalho do pedagogo junto às crianças

Ao falar do trabalho do pedagogo junto à criança os participantesmencionaram: a) a oportunidade e continuidade dos estudos ("Poderia

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assim ajudar a criança a se sentir perdendo menos possibilidade devida"; "No caso de crianças com doenças que necessitam de longas in-ternações, o pedagogo é peça fundamental no sentido da continuidadedo processo de viver"); b) a motivação para os estudos ("que leve a crian-ça a perceber, adquirir o gosto pelo estudo" ; "Ele deve estar motivadopara transmitir motivação"); c) que a atuação deva ser transformadora("Que ele seja acessível à criança, e principalmente que ele tenha uma li-nha de atuação transformadora"); d) que tenha características pessoaisnecessárias para o trabalho dentro de um hospital ("A atuação do peda-gogo no hospital é um assunto muito abrangente, mas a meu ver é muitoi mportante porque é confortante na medida em que esta atuação for rea-lizada com amor, paciência e dedicação, que são palavras-chave na for-mação de um pedagogo"; "O profissional com capacidade para orientare organizar a criança, frente à estimulação..."; "Um profissional que, no

Brasil, ou por que não dizer nos nossos hospitais de Marília, terá que: 1.1u-tar muito contra preconceito, 2. ter muita paciência, 3. ser muito capacita-do, 4. receber supervisão, 5. ser muito perseverante e chega de muitos").

Trabalho do pedagogo junto à família

Ao falar do trabalho do pedagogo junto à família, um dos partici-

pantes enfatizou o trabalho com a mãe da criança: "e no sentido de cola-borar na condução do tratamento, nessa parte educativa junto à mãe,você trabalha a família além da criança".

Trabalho do pedagogo junto à instituição

Ao falar do trabalho do pedagogo junto à instituição, um dos parti-cipantes salientou que o pedagogo também seria importante na infra-es-trutura do hospital: "Para obter uma colaboração deles, eu acho que não

só no hospital é importante a atuação do pedagogo. Por exemplo: Aquitemos a creche-escola onde atua um pedagogo (filhos de funcionários)".Outro participante acreditava que a atuação do pedagogo deveria norteas-se pela existência de escolas de enfermagem: "No hospital o pedagogoatua somente onde tiver uma escola de enfermagem, visto que para ser

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diretor da escola de enfermagem, além de ser enfermeiro, exige-se peda-gogia. Na Santa Casa tem três pedagogos".

Trabalho do pedagogo junto à equipe de saúde

A maioria dos participantes ressaltou a necessidade de um traba-lho pedagógico ser feito junto com a equipe de saúde apesar de que al-guns participantes acreditavam que o pedagogo não fosse integrantedessa equipe. Suas atribuições seriam: "[realizar um] trabalho mais am-plo da instituição visando à união com a equipe multidisciplinar"; "espe-ro que ele colabore junto com a equipe"; "0 pedagogo pode fazer umacompanhamento como serviço social, psicologia, criança, família. 0 pe-dagogo poderia dar uma força muito grande nesse sentido"; "Não fazparte da equipe de saúde" ; "Nunca ouvi dizer que pedagogo fizesse parteda equipe de saúde"; "Não faz parte ainda [da equipe de saúde]"; "Ele [opedagogo] faz parte da equipe de saúde sim. A partir do momento queexiste um profissional preocupado em estar trabalhando a saúde, físico,mental, social, ele faz parte da equipe multidisciplinar de saúde. 0 peda-gogo ele está preocupado com a parte educacional da criança, ele estáinteirado dentro da equipe de saúde" ; "Essa é uma tendência que nomundo inteiro, nos países de Primeiro Mundo, as equipes o pedagogotem que estar inserido" ; "0 pedagogo deve participar, tem muito quecontribuir para que nós possamos aprender..."; "vai enriquecer o atendi-mento da criança" ; "Eu penso que deva ter profissionais da área, pessoasespecializadas que possam entrosar com a equipe de saúde propriamen-te dita convencional"; "mas do que julgamos necessário, que ocorra umainteração dos profissionais dentro de uma equipe multidisciplinar, querdizer, o pedagogo junto com psicólogo, físico, médico e todos que fazemparte da equipe, para que dentro desse intercâmbio todos terão um obje-tivo comum para que se chegue e se ative esse objetivo"; "Acho que vo-cês devem continuar trabalhando e se infiltrando".

6 Contribuições dos profissionais que trabalhamno hospital para o andamento dos serviços

Ao serem indagados sobre as possíveis formas de contribuir para oandamento dos serviços, metade dos participantes não conseguiu espe-

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cificar a função a desempenhar, porém estes profissionais demonstraram

que o engajamento no projeto deveria acontecer a partir do momento em

que este estivesse em fase de operacionalização: "Aqui dentro da pedia-

tria, tive pouco tempo de experiência, só dois anos, com outro serviço,

por exemplo TO, não sei como seria o trabalho dos pedagogos dentro daunidade" ; "Eu acho que vai depender de vocês, o que vocês pretendem" ;"A contribuição para a recuperação deste atendimento para criança é su-

pergrande, superinteressante, tem que ter uma área específica para isso,com criança, principalmente, mas realmente não sei, não conheço esse

tipo de atuação" ; " Pode ser que haja mais coisa para poder estar colabo-rando, tem que ter um lado para estar aprofundando o trabalho de vo-

cês"; "Uma vez iniciado, nós estaríamos à disposição para alguma solici-tação que vocês assim desejassem".

Outros profissionais mencionaram que a participação poderiaocorrer de acordo com a área de atuação: "O que a gente vê a princípio

ser a nível de orientação pelo próprio posicionamento, posturas adequa-das, para vocês estarem efetuando um atendimento dentro de uma pos-

tura que a gente chame de uma postura normal ou próximo do normaladequada" ; "e até mesmo, a hora que isto existir houver alguém que tem

interesse em meu trabalho, ir lá participar junto das visitas e até mesmoaprender com vocês, quando vocês estiverem executando o serviço"; "A

colaboração, nesse caso específico do HC, seria de fornecer todos os meiospara que o trabalho possa ser desenvolvido de uma forma adequada epara isso a mentalidade nossa não só colaborar com isso, fazer tudo que é

possível ser feito da parte do hospital para que esse processo ocorra"; "Aminha colaboração poderia ser referente a minha área de atuação, po-

dendo dar palestras para maiores esclarecimentos em relação à saúde";"Eu acho que é do médico estar sabendo perceber as coisas. Por exemplo

vivemos na enfermaria com a criança durante todo dia, então a nossa co-laboração é estar percebendo a atitude que essas crianças estão apresen-tando, e estar podendo conversar, e buscar maneiras para ajudar essas

crianças".

As contribuições poderiam vir ainda no sentido de "incentivos" econscientização da necessidade dos serviços: "Incentivar" ; "Ajudar paraque o hospital entendesse a necessidade do profissional. Poderia tentarinfluir mostrar a importância para o grupo..."; "Só boa vontade. Não tra-

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balho nas enfermarias. Talvez informar meus alunos, sobre o trabalho esua importância".

7 O ambiente hospitalar

Características da criança hospitalizada

Durante o processo de coleta de dados os participantes teceram

comentários sobre as características da criança hospitalizada. Segundo

os participantes, a hospitalização afasta a criança de suas atividades so-

ciais, da família e da escola. Dessa forma a criança fica "alheia a tudo queé dela". Esse processo de rompimento com a vida social começa a trazer

prejuízos. A criança sente-se "inútil" e começa a passar por uma fase de

"regressão", em termos emocionais e de funções como memória, con-centração, ou seja, o seu desenvolvimento regride. Outras crianças vêem

a hospitalização como um "castigo". Outras ficam "arredias". Se as doen-ças são contagiosas, o contato com outras crianças é menor e o isola-

mento torna-se maior. Os trechos das falas dos participantes que infor-

mam sobre estas características são os seguintes: "Acho, porque a crian-

ça quando fica hospitalizada, ela fica afastada de toda e qualquer ativida-de, desde a vida social, que ela tem com a família. Se está na escola afasta

da escola..."; "ela fica alheia a tudo que é dela, é a partir do momento que

ela começa a desenvolver algumas coisas, quando estamos doente nósnos sentimos inútil, e a criança passa por uma fase de regressão maior do

que a do adulto..."; porque a criança vê a doença como um castigo mui-tas vezes", "têm crianças muito dependentes, muito doente, algumas

com doenças contagiosas que não podem ficar junto com outras. Eu acho

que tem que ocupar pouco tempo, porque a criança cansa. A criança

hospitalizada fica mais arredia, não tem muito contato, todo mundo que

vem, vem para curar, ou para fazer curativos, então a criança assusta um

pouco..."; "mas a grande maioria das crianças tem uma aversão muitogrande" ; "porque a criança hospitalizada necessita não só do tratamento

médico e sim participação, organização, no seu amadurecimento que

cresce a cada dia-, " A criança doente, a criança hospitalizada, depen-

dendo de sua patologia ocorre regressão de várias áreas do sistema ner-

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voso central como: memória, concentração, atenção, coordenação, pra-

xias, gnosias, linguagem, necessitando de estimulação como um todo e a

área da aprendizagem é muito importante. As patologias que mais com-prometem essas áreas são: traumatismo craniano, meningoencefalites,

epilepsia, encefalopatias".

Características do ambiente hospitalar que se relacionamcom as conseqüências negativas do hospitalismo

Essas características da criança hospitalizada, segundo os partici-

pantes, relacionam-se com as características do atendimento hospitalar,que traz conseqüências negativas. Dentre estas características foram ci-

tadas: a "restrição" dopróprio ambiente hospitalar (ausência dos pais, es-cola); o ambiente desconhecido e aversivo (injeções, pessoas desconhe-

cidas); a invasão que a criança sofre em sua vida e em seu corpo; a grandedemanda das crianças dentro da pediatria, que dificulta aos profissionais

e funcionários dar atenção adequadamente às crianças. Essas caracterís-

ticas causariam na criança estresse, medo, isolamento e perda da escola-rização. Dentre as falas dos participantes que tratam dessas questões po-demos citar: "e dentro do hospital é um lugar muito restrito onde é desen-

volvido muito pouco com ela [criança]. Desde o soroterapia que ela este-ja, que vai acabar estando restrito" ; "Só de falar em hospital é uma restri-ção..."; "Ela aqui dentro é um ambiente extremamente diferente com

pessoas desconhecidas..."; "tem colegas que a gente chama de pacien-tes terápicos que não conhecem. Isso é um vínculo para estar mantendo

contato, e estar integrando a criança dentro do ambiente que ela vai viverdentro dos próximos dias. Eu acho extremamente importante..."; "as crian-

ças internadas na pediatria, por ter muita criança e menos pessoas para es-tar ajudando, eles não tem muito tempo para estar resolvendo este tipo

de atividade" ; "e tem uma certa dificuldade em dar atendimento para osdoentes, principalmente pediatria que se perde muito tempo com a crian-ça, ou seja, qualquer tipo de procedimento perde muito tempo"; M que

prejudica muito a criança no hospital é o estresse, a criança longe dospais, pessoas de branco, injeções" ; "porque muita criança fica ociosa no

leito durante o período que fica internada, onde isso leva determinadascondições para que desenvolva atividades que não são para o ambiente

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onde ela está. Muitas vezes a criança ou adolescente está internada vai

dormir tarde não dando para desenvolver a atividade diária, acorda tarde,é uma situação errônea, o ambiente onde está, que é o ambiente hospita-lar, por falta de uma atividade adequada para desenvolver" ; "Quando ele

fica no hospital e não aprende é como se estivesse morto no momento e

isso para o indivíduo é ruim" ; "e a parte pedagógica fica excluída" ; "vocêsimplesmente interrompe alguma coisa que está em andamento de uma

criança numa fase de aprendizado é um transtorno imenso"; "Criançasque têm uma dificuldade neurológica ou mesmo motora que fica aí, seis

meses. Tenho uma jovem fazendo correção da coluna que já fez seis me-ses que está internada, provavelmente ela perderá o ano, ela pode aban-donar, perder o estímulo. Eu tenho aqui casos esporádicos em relação a

isto" ; "porque o ambiente hospitalar para criança é um ambiente agressi-

vo, estranho..."; "Por exemplo não é fácil um atendente de enfermagempulsionar a veia de uma criança sem ela, a criança saber o que está sendofeito" ; "A internação por si só, já é um procedimento invasivo, tira a crian-

ça do seu lar, do seu modo de viver, e vem coloca na enfermaria"; "visan-do o paciente, temos sempre que colocar na cabeça que existe doente e

não a doença em si".

Alterações no ambiente hospitalar que trariammelhoria para as crianças

Para os participantes, o atendimento hospitalar poderia ser muda-do e as conseqüências negativas, atenuadas. Exemplificam os partici-pantes argumentando: a) que com um número reduzido de crianças seriapossível um melhor atendimento Ç'A gente vê isso assim, nossa unidadeMI, é muito pequena, tem poucas crianças, a gente dá uma atenção mui-

to maior, de brincar, de colocar elas juntas para estar brincando, fazendoalgum tipo de jogo, em educação não porque as crianças são pequenas.Você percebe que a recuperação é muito importante a criança chegaaqui totalmente arrasada, chorando, e a gente consegue trabalhar bemcom essas crianças, e vemos que a recuperação delas é melhor..."); b)

que as atividades propostas poderiam tirar a criança da cama e ajudá-la

na recuperação Ç'e muitas vezes tem condições da criança sair da cama,

sentar no refeitório, comer no refeitório, desenvolver outro tipo de ativi-

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dade, ver o local que pode funcionar essa veia para a criança poder sair dacama, nesse sentido poderia estar ajudando"); c) que a implementaçãode setores essenciais ajudaria na questão do hospitalismo ("Porque issovem ocorrendo no setor de dietética, setor fisioterapia, terapia ocupacio-nal...", "Acho fundamental, principalmente na área de atuação da psico-logia, tem mais exigência que o nosso serviço. Vemos que as criançasaceitam melhor, passam a colaborar com o tratamento", "Então a psico-logia trabalhando com isso a criança passa a aceitar melhor, a colaborarcom o tratamento", "a gente tem até outras coisas diretamente relacio-nadas [com] o que a faculdade daqui proporciona. Por exemplo grupos de

mães participantes, pessoal da psicologia e da psiquiatria, que faz gruposde apoio com essas crianças, de 6 a 10 anos"); d) que a figura maternadentro do hospital ajudaria a diluir os aspectos negativos do ambientehospitalar ("hoje ainda alguns que ficam com a mãe até têm uma estrutu-ra mais adequada...").

Em suma, segundo os participantes, existe a necessidade de semudar a concepção que os profissionais de saúde têm a respeito do aten-dimento hospitalar: "onde as pessoas tenham cabeças mais abertas,compreender isso, que vocês compreenderam muito antes de nós médi-cos, pelo menos estão tentando executar muito antes de nós"; "A maiorparte das pessoas já está começando a ter consciência disso, de que sozi-nho ninguém faz nada, nenhum profissional vai resolver mais a questão,a interação é uma exigência benéfica para qualidades melhores"; "aequipe fica muito restrita à área de saúde, de repente você esquece dooutro lado deste acompanhamento que não vai ser só com criança" ; "An-tes de estar aqui dentro nos temos que nos preparar e normalmente eu

sou enfermeira eu estou preparada para estar lidando com o doente...";"a visão que a pessoa tem, que estar dentro do hospital é para tomar re-médios e não precisa fazer mais nada".

ConclusõesPodemos concluir que os profissionais que trabalham em hospitais

vêem a atuação do pedagogo como uma função profícua. Dentre suasconsiderações podemos citar como prioritárias:

1 o pedagogo dentro do hospital daria suporte à criança internadaquanto ao aspecto educacional, auxiliaria na sua adaptação ao hospital e

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ajudaria no processo de recuperação, ao manter a realidade educacional,que faz parte de sua vida;

2 o pedagogo teria condições de trabalhar com mais um aspectoda totalidade da vida da criança ao aliar saúde e educação;

3 os participantes do estudo pareciam não ter clareza dos objeti-vos de trabalho do pedagogo no hospital devido à inexistência desse tipode serviço em uma escala maior. Isto demonstra uma necessidade de es-clarecimento sobre os objetivos da Classe Hospitalar antes da implanta-ção desse tipo de serviço;

4 a implantação deveria ser iniciada numa esfera administrativa,estendendo-se à equipe de saúde em forma de discussão para planeja-mento e execução. A nosso ver, esta forma de implantação também au-xiliaria o trabalho de esclarecimento a ser executado pelo pedagogo,bem como auxiliaria os profissionais e a equipe de saúde no posiciona-mento de suas possíveis funções para o andamento dos serviços de natu-reza pedagógica;

5 podemos vislumbrar que o papel do pedagogo na implantaçãode uma Classe Hospitalar, em locais ou regiões onde este serviço nãoexista, vai além daqueles necessários para o andamento da classe hospi-talar, ou seja, poderá ser necessária a criação de um projeto em conjuntocom o hospital (administração e equipe de saúde) para esclarecimento ediscussão deste.

PIRES JÚNIOR, H. et al. The image health professionals working in hospitals haveof special education service in a hospital class. Didática (São Paulo), v.31,p.175-197,1996.

• ABSTRACT: The aim of the present paper was to identify how health professionalsworking in hospitals consider special educational service in a hospital class. The resultshowed that these professionals found it difócult to state the purpose of this kind of aservice. They also made comments on: a) the need for such service; b) the benefits itwould bring to hospital users, and, c) the procedures for criating the service.

KEYWORDS: Special Education; hospital class, hospitaliza tion.

Referências bibliográficas

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19 6 Didática, São Paulo, 31: 175-197, 1996

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