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Discussão sobre os estereótipos de arquitetura na cidade e as ocupações no solo urbano de São Paulo

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São Paulo2016

MARIA EDUARDA JUNQUEIRA

A PERCEPÇÃO DA CIDADE: Discussão sobre os estereótipos da arquitetura na cidade e as ocupações no solo urbano de São Paulo

Trabalho de conclusão de curso de graduaçãoapresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisi-to para a obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura.

Orientadora: Maria Isabel Villac

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Dedico este trabalho a aqueles que sempre me apoiaram, minha família.

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiro a minha mãe, Rita de Cássia A. Pescatori e em memória a minha avó, Amélia Saco-mani Pescatori, por me incentivarem e acreditarem em mim. Até quando não via luz no fim do túnel.

Ao meu padrinho, Marcelo De Divitiis Souza, por me apresentar este vasto mundo da arquitetura. Às minhas irmãs, Elaine C. Pescatori Junqueira e Evelise M. Junqueira, por me incentivarem aos estudos com frases motivadoras: “não fez mais que sua obrigação!”À minha família e amigos, pela compreensão e apoio durante os momentos em que não estive presente.

À minha orientadora: Maria Isabel Villac, pela excelente orientação, pela paciência e por compartilhar seu conhecimento. Agradeço por acreditar em mim e em meu tema.

E a todos, que de maneira indireta acrescentaram para a realização desta monografia.

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RESUMO

A discussão sobre a ocupação do solo está se tornando cada vez mais decorrente hoje em dia, na cidade de São Paulo. Por sua vez, o presente trabalho estuda como a multi-plicação de estereótipos arquitetônicos empobrece a composição da paisagem urbana na cidade. Entende-se por estereótipos arquitetônicos, as construções padronizadas de arquitetura. Ou seja, os condomínios fechados com ampla infraestrutura interna. De modo que o objetivo é apresentar uma reflexão sobre os modelos urbanos de ocupa-ção do solo na história ocidental recente da arquitetura. Diante destes fatos, é importante compreender a configuração espacial urbana da cida-de de São Paulo, para entender os motivos das mudanças do bairro da Lapa e da Vila Pompeia. Por outro lado, a percepção da realidade destes bairros instiga a compreen-são das relações entre o arcaico e o novo.Esta análise de território ajuda a apreensão cotidiana da área de intervenção, intera-ções sociais e melhorias no espaço. Ainda a procura de absorver esses processos, a monografia analisa os arredores do SESC POMPEIA para o desenvolvimento de re-qualificação urbana e o projeto de quadra aberta. A pesquisa mostra um possível futuro para estes estudos em São Paulo.

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ABSTRACTThe discussion on land use is becoming increasingly due today, in São Paulo. In turn, this paper studies how the multiplication of architectural stereotypes impoverishes the composition of the urban landscape in the city. It is unders-tood by architectural stereotypes, standardized architecture buildings. Ie, ga-ted communities with large internal infrastructure. So the goal is to present a reflection on the urban models of land use in recent western history of archi-tecture.Given these facts, it is important to understand the urban spatial configuration of the city of São Paulo, to understand the reasons for changes in the Lapa dis-trict and village Pompeii. On the other hand, the perception of reality of these neighborhoods instigates understanding the relationship between the archaic and the new.This analysis of territory helps everyday seizure of the intervention area, social interactions and improvements in space. Still looking to absorb these proces-ses, the monograph examines the surroundings of SESC POMPEIA for the development of urban renewal and the open court project. Research shows a possible future for these studies in São Paulo.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO p. 8

1. FUNDAMENTAÇÃO

1.1 A ruptura de estereótipo da Arquitetura na cidade. p. 9

1.2. O Pensamento diferente sobre os paradigmas urbanos p.15

1.3. A quadra aberta não é uma novidade contemporânea p. 22

2. A CONFIGURAÇÃO ESPACIAL

2.1. O Espaço urbano sob o Contexto Cidade em São Paulo p. 34

3. AS TRANSFORMAÇÕES URBANAS

3.1. No bairro da Lapa e Perdizes – distrito Vila Pompeia p. 44

3.2. A relação entre passado e o presente na Vila Romana - Lapa e na Vila Pompeia - Perdizes p. 53

4. O TERRITÓRIO

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4.1. O conhecimento da Vila Romana e da Vila Pompeia p. 58

5. ENSAIO PROJETUAL

5.1 Estudos de Casos p. 73

5.2 Partido do Projeto p. 85

Considerações finais p. 100

Referências Bibliográficas p. 102

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INTRODUÇÃONo primeiro capítulo do trabalho a constestação sobre os estereótipos da arquitetura da cidade de São Paulo. Compreende-se por estereótipos, os condomínios fechados com anpla infraestrutura interna, ou seja, as construções padronizadas da arquitetura.A paisagem urbana empobrece e a valorização do solo urbano é especulada. Nesse aspecto, é necessária a ruptura deles para haver um debate sobre ocupação do solo e dinâmica urbana. Diante deste assunto, argumenta-se a ocupação da quadra aberta como solução dos aglomerados urbanos contemporâneos, com exemplos executados em diferentes épocas da arquitetura de São Paulo, da metade do século XX ao XXI. No segundo capítulo apresentam-se de forma prática os motivos e as transformações de São Paulo, no período do século XX, por meio dos planos urbanos. Aqui se justifica as decisões tomadas pelo poder público nas circunstancias: espacial, histórica no contexto da cidade estudada. O terceiro capítulo começa com uma breve contextualização histórica das transforma-ções urbanas dos bairros, Lapa e Perdizes. São apresentadas as relações entre passado e presente nessas regiões e como elas afetam na troca das relações cotidianas, nas configurações espaciais e no valor econômico do solo. No quarto capítulo é apresentado o outro lado desses bairros, o conhecimento do territó-rio no entorno do SESC POMPEIA. Por esse aspecto, é discutido também as interações sociais, as atividades cotidianas e a qualidade dos espaços. Além do mais, questionam--se como esses fatores podem favorecer o percurso e a dinâmica urbana, possíveis me-lhorias nos espaços e auxiliarem outras visões urbanas. Encerrando o assunto, o quinto capítulo, demonstra estudos de projetos que executam esses conceitos. E o estudo da requalificação urbana e o projeto de quadra na área de intervenção da Vila Romana e da Vila Pompeia - subdistritos da Lapa e de Perdizes, respectivamente.

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1. FUNDAMENTAÇÃO

1.1. A ruptura de estereótipo da Arquitetura na cidade.9

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Fig. 1 – Vista aérea da cidade de São Paulo. “(...) a cidade como é vista por aquele que transita por suas ruas, atravessa seus territórios, repousa em suas praças, realizando percursos variados por esse espaço que tem algo de labirinto”. (ANDRADE, 1990, p.4)

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A denominação de estereótipo da arquitetu-ra na cidade remete às construções arquite-tônicas padronizadas. Ou seja, os condomí-nios fechados abastecidos de infraestrutura interna, que agregam valor econômico no terreno implantado, e se multiplicam por todo espaço urbano mudando a paisagem e a singularidade da cidade.A beleza de cada cidade é única, por mais que haja organização sobre o espaço urba-no, sendo esse o trabalho do arquiteto ur-banista, a adaptação, a espontaneidade e a particularidade se sobressai no espaço urbano inserido, logo a cidade é como lugar, a diversificação de lugares, e não algo ho-mogêneo, indiferente (Andrade, 1990).A evolução das construções contribuiu para várias transformações no âmbito urbano.Desde a antiguidade até a contemporanei-dade o pensamento construtivo prevalece sobre a realidade de maneira brilhante. To-davia, desde o século XX, conforme a obser-vação de Sitte (ANDRADE, 1990 p. 14), “a construção urbana não deveria ser apenas uma questão técnica, mas também artística, em seu sentido mais próprio e elevado.”De fato todas as demais épocas da histó-

ria - na Antiguidade, na Idade Média e na Renascença - o espaço foi elaborado sob a atenção das artes, harmonizando as edifica-ções com as praças em uma relação intima e bem sucedida. No entanto, na metade do século XIX é que os conjuntos urbanos e a expansão das cidades se tornaram relevan-tes. Com isso, parte do problema é esclare-cido. Por outro lado, o artístico deveria ter a mesma importância. Sitte oberva a relevân-cia do equilíbrio.

“(...) enfim, em toda parte onde as artes re-ceberam atenção merecida. Apenas em nosso sécu-lo matemático é que os conjuntos urbanos e a ex-pansão das cidades se tornaram uma questão quase puramente técnica, e assim parece importante lem-brar que, com isso, apenas um aspecto do problema é solucionado, enquanto o outro, o artístico, deveria ter, no mínimo, a mesma importância.” (ANDRADE, 1990, p. 15).

Durante a metade do século XIX até o XX prevaleceram a visão técnica nas mudanças realizadas na arquitetura, tanto nas constru-ções como nos lugares urbanos; sendo a visão artística gradualmente esquecida. O ponto de vista técnico, é uma análise espe-cializada e pragmática de resolução

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funcional do ambiente urbano. O surgimento da visão técnica se deu nos planos urbanos, quando organizaram as ci-dades nos pradrões modernos. Já a visão artística é a observação do conjunto harmô-nico do ambiente, em que urbano desperta um efeito sedutor sobre os sentidos do indi-víduo. Por meio de regras, os conjuntos urbanos eram implementados pela padronização construtiva, ou seja, os estereótipos arqui-tetônicos. Vale lembrar que esta fórmula ob-teve grande sucesso nas cidades europeias e norte- americanas com o progresso indus-trial no final do século XIX. Já nas cidades latino-americanas, no caso, São Paulo, o progresso iniciou-se efetivamente em 1930, o auge de crescimento da cidade foi em me-ados de 1940 - 1950 com a verticalização construtiva; a transformação em metrópole foi por volta de 1980-1990 para a configura-ção atual da cidade paulista. Para se tornar a grande metrópole industrial brasileira se adotou parâmetros de orga-nização espacial e construtivas, os planos urbanísticos, que contribuíram para sua for-mação (esse assunto será abordado mais

adiante). Todavia, esses mecanismos im-pulsionaram comportamentos práticos nas resoluções das edificações, especialmente, de condomínios residenciais e de serviços, gerando os estereótipos1 arquitetônicos que se propagaram por todo o espaço urbano. Além de não se aprofundarem nas caracte-rísticas do sítio implantado, a priorização do lucro prevalece nestes empreendimentos, de maneira involuntária, que visa o ganho econômico cada vez maior.Na verdade, esse pensamento surgiu ao observar a transformação repentina de re-giões urbanas de São Paulo, principalmen-te no auge dos anos 2000 a 2014. Através do Plano Diretor2 vigente e de empresas do setor privado possibilitaram a intensa cons-trução de empreendimentos, especialmente condomínios residenciais e de serviços, em bairros com ampla infraestrutura no centro expandido da cidade. Pouco antes, em meados da década de 1970, as modificações sobre a paisagem

1 O conceito de estereótipo entende-se sobre uma imagem mental padronizada de repetição automáti-ca. Logo, rejeita as mudanças e expressa a essência comum, a superficialidade de algo. 2 Plano Diretor 2002 (Lei 13.430/02).

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urbana resultaram em construções estere-otipadas pelo ambiente urbano. Os modelos propostos enunciavam desde equipamentos à soluções de espaços dita-das como satisfatórias para qualquer tipo de indivíduo que adquirisse o tal imóvel. No auge (2000 a 2014), os imóveis propu-nham um exemplo de apartamento com ter-raço gourmet, de 1 a 5 dormitórios, 4 suí-tes e 4 vagas de garagem, piscina, quadra, sauna, academia, cinema, churrasqueira e espaço gourmet. Toda infraestrutura de lazer para os moradores para que não en-xerguem a necessidade de desfrutar esses serviços fora do condomínio, na cidade. Logo as interações entre o indivíduo, o es-paço e a cidade diminuíram. Já que o des-locamento essencial é do local de moradia para o local de trabalho, e vice-versa, sem realizar outras atividades externas. O indi-víduo se torna “confinado” em sua morada. Assim com a persistência em distranciar essas moradias os indivíduos resignam-se a serem cidadãos de segunda classe da própria civilização, privados de seus direitos pelo fato de se exilarem coletivamente do centro (KOOLHAS, 2007).

Outro fator é o valor monetário sobre esse estereótipo de moradia e espaço comercial em São Paulo, que no mesmo período ele-vou excessivamente em várias regiões. O poder público3 junto ao setor privado pro-porcionaram os equipamentos e a intraes-trutura urbana que alavancaram a valoriza-ção destes locais atraindo a construção de novos empreendimentos.Mesmo assim, esses estereótipos arquitetô-nicos por serem voltados ao mercado imo-biliário tem um propósito de existirem. Su-postamente é o adensamento populacional. Mas não auxiliam na construção enriquece-dora e diversificada da paisagem, e somen-te uma parte, cada vez menor, da população tem as condições financeiras para comprar esses imóveis. Com isto, segundo KOOLHAS, (2007, p. 31)

“e se esta homogeneização aparentemen-te acidental – e geralmente deplorada – fosse um processo intencional, um movimento consciente de distanciamento da diferença e a aproximação da se-melhança?”

De certa maneira, ela comprometeria dras-

3 O plano diretor de 2002 (Lei 13.430/02)

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ticamente a relação de arquitetura e cidade.Por esse aspecto a busca da homogeneida-de está cada vez mais intensa na arquite-tura propagando-se nas cidades. Segundo KOOLHAAS (2007, p. 35), o conceito de cidade genérica4 se expandiu muito nas úl-timas décadas (de 1970 – dias atuais) de tamanho e número, no sentido de cada vez mais as cidades contemporâneas se trans-figuram em cidades genéricas. E suposto que a origem das cidades genéricas tenha sido na América e por ser pouco original co-gita-se a importação para outros lugares, de qualquer modo, atualmente está enraizada em diversas regiões mundiais.

“A Cidade Genérica cresceu espetacular-mente nas últimas décadas. Não só o seu tamanho aumentou, mas também os seus números. No iní-cio da década de 1970, era habitada em média por 2,5 milhões de residentes oficiais (e mais ou menos 500.000 eventuais); agora, ronda os 15 milhões. 4 De acordo com Koolhaas, cidade genérica é a ci-dade libertada da clausura do centro, do espartilho da identidade. A cidade genérica rompe com o ciclo destrutivo da dependência (...). É a cidade sem his-tória. (...) Não necessita de manutenção. Se tornar demasiado pequena simplesmente expande-se. Se ficar velha, simplesmente autodestrói-se e renova-se (...). É superficial.

Será que a cidade Genérica começou na América? É tão profundamente pouco original que só pode ter sido importada? Em qualquer caso, a Cidade Gené-rica agora também existe na Ásia, Europa, Austrália, África. A passagem definitiva no campo, (...) para a cidade como conhecemos: é a passagem para a Ci-dade Genérica, uma cidade que se expandiu tanto que chegou ao campo.” (2007, p. 36).

Por vezes, a repetição de edificações arqui-tetônicas padronizadas, ou seja, estereoti-padas empobrecem a paisagem urbana da cidade contemporânea. A simplificação excessiva resultará em uma generalização anulando a história, a identi-ficação, a apropriação do espaço e a arqui-tetura da cidade. Em vista disso, a ruptura do estereótipo arquitetônico é extremamen-te importante para a imagem futura das ci-dades contemporâneas. Além do mais, não contribuem na qualidade do espaço urbano e insistem em negar a herança da cidade tradicional e moderna no convívio à cidade contemporânea.

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1.2. O Pensamento diferente sobre os paradigmas de cidade

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As ideias da arquitetura, especificamente do século XIX ao XX, provocaram as fases arquitetônicas, que modificaram a visão ocidental da realidade. Segundo PORT-ZAMPARC (1992, p.34), as oscilações são necessárias à existência do lugar, indiferen-temente disso, a questão maior é tudo muda em ritmo acelerado. Ao mesmo tempo paralisa de choque a ideia das cidades modificarem-se várias vezes ao decorrer de um curto período de tempo. A rapidez das transformações ocorridas em dois séculos foram mais do que em vinte séculos passados. E, após tudo variar, o retorno a calmaria e um sentimento de es-tagnação perpétua prevalecem por não en-contrarem um futuro favorável. Esses fatos sobre as cidades europeias da metade do século XX são pertinentes até os dias atu-ais nas diferentes cidades contemporâneas, como São Paulo.

“Após o entusiasmo construtor e as grandes utopias, veio a inquietude, a prudência, a confusão. Uma incomoda dificuldade em nos situar no nosso tempo histórico nos impede de movimentar. Pois bem sem compreender o tempo atual,

não podemos imaginar o futuro.” (PORTZAMPARC, 1992, p. 34).

A realidade brasileira no início do século XX, importou ideias urbanísticas europeias. E na arquitetura as construções dos edifícios foram influenciadas pela cultura norte-ame-ricana, sem ao menos se adaptar ao espaço geográfico. Essas almejadas utopias trou-xeram soluções impróprias, sem qualquer planejamento e de curto prazo (FRANÇA, 2012). A necessidade das ideias fora do lu-gar trouxeram as cidades brasileiras, princi-palmente, as grandes metrópoles - o Rio de Janeiro e a São Paulo - a incomoda dificul-dade em se situar no tempo, o impedimento de prosseguirem em diversas direções.A tentativa de compreender o futuro con-temporâneo, deu início a discussões sobre os parâmetros de configuração do espaço urbano, que transformaram as cidades e a arquitetura nos séculos XIX e XX (PORT-ZAMPARC, 1992, p. 35). Esse entendimen-to é importante na intenção de elaborar as soluções para as cidades extremamente consolidadas em espaço físico, onde a ex-pansão não é mais possível. Exemplo esse é São Paulo, onde não há mais terrenos

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inexplorados. A mancha urbana agrega os municípios vizinhos, ou seja, a organização do espaço torna-se complexa, portanto es-tagna-se o crescimento. São Paulo demorou apenas um século para que a antiga vila se transfigurasse em uma das maiores metrópoles industriais do mun-do contemporâneo. Já o espraiamento da cidade deve-se primeiramente na implanta-ção dos transportes de trilhos e depois na inclusão dos veículos particulares. Desse modo, a cidade desmembrou-se em múlti-plos núcleos urbanos, os centros expandi-dos; e por isto houve a separação entre os bairros residenciais dos demais - trabalho, indústria, educação, cultura e lazer. Esse deslocamento desandou na maior dificul-dade da cidade atualmente. (MARCHELLI, 2016, p. 22).Sob essas circunstâncias, a metrópole pau-lista possui a configuração espacial da ci-dade tradicional e da moderna contribuindo para o crescimento da cidade. Hoje em dia, o impasse reflete no recurso de modificar o espaço. A discussão sobre o paradigma do espaço urbano é em como ocupar o solo, ou seja, as ruas e os quarteirões. As cidades

contemporâneas experimentaram os en-saios da era tradicional. Em seguida a impo-sição da era moderna priorizava o automó-vel junto com a divisão setorial de moradia, educação, trabalho entre outros segregou seus espaços. A cidade possui uma dupla herança, da primeira e segunda era, em que

“(...), por toda parte onde construímos, onde vivemos face a territórios duais, contraditórios, mar-cados pelas duas Eras precedentes, mas também toda nossa cultura e nossa bagagem teórica estão marcadas por esta dupla herança, sem que uma nova síntese tenha acontecido. Embora a 1ª e 2ª Era tenham permanecido como referências contemporâ-neas, elas são antagônicas e correspondem, eviden-temente, a uma época passada. (...) as quais não podem, de modo algum, constituir um modelo teórico para o momento atual, portanto, continuamos obriga-dos a inventar as formas da cidade contemporânea (...)” (PORTZAMPARC, 1992, p.40)

A possibilidade de se percorrer sobre a mu-dança das 1ª e 2ª junto a uma alternativa - ainda desconhecida - desencadeará na 3ª era, a “era das metrópoles”. PORTZAM-PARC (1992, p. 42) afirma que “a 2ª Era não apagou a 1ª como gostaria. Ela a transfor-mou.” Também ao seu tempo, a 2ª Era foi transformada. Foi o período essencial do

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crescimento industrial. Esta particularidade da cidade que é de conter o tempo, atualmen-te assumiu uma grande importância. Mais do que nunca, o território da cidade é o receptor do tempo, onde há o cruzamento de todas as épocas. “E uma consciência nova da cidade que caracteriza a 3ª Era reforçando seu pró-prio significado.”

A “lógica de transformação” explicada por PORTZAMPARC (1992, p.42) é o reconhe-cimento da cidade como acumuladora de coexistência de épocas diferentes e muitas vezes contraditórias. Acima de tudo, atual-mente é necessário a convivência o existente e a transformação contínua, para projetar um futuro claro.

“Reconhecer a cidade como acumulação, a agregação, coexistência de épocas diferentes e por vezes contraditórias. O híbrido resultante é quase sempre o mais belo acabamento. (...) (...) A transformação contínua deste espaço--tempo, desta cidade atual que nos faz viver o tempo tão intensamente a ponto dele (o tempo), torna-se ma-téria, um novo “motivo” deste trabalho.” (PORTZAM-PARC, 1992, p. 43).

A questão é a preparação a 3ª Era da cidade,

Fig. 2. Diagrama ilustrativo de formas de ocupação urbana.

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nessa mistura de épocas e espaços hete-rogêneos criando as possibilidades de ino-vações espaciais que convivam entre si. A diversifi cação dos bairros trará uma maior dinâmica urbana a cidade (JACOBS, 1961).Essa é a fase de mudança nos bairros es-pecífi cos. Esses bairros são frutos dos pla-nos urbanos para a ocupação do solo e a ordenação dos espaços. Alguns desses pla-nos, como por exemplo de Paris - o Plano de Haussman, 1851-1870, e Barcelona - o Plano de Cerdá, 1859 -, demonstram o ali-nhamento de eixos - as grandes avenidas - com as ruas paralelas, e resultam em uma homogeneirade na ocupação do solo e na paisagem urbana.

No entanto, a homogeneidade foi à missão prioritária de urbanistas para regularizar a espontaneidade das construções e dos espaços por toda a história das cidades na tentativa de discipliná-las e ordená-las. A beleza das cidades é o meio termo entre a espontaneidade e a ordenação, tanto no plano urbano como nas construções, essas são as lembranças das 1ª e 2ª Eras. Daqui por diante, a necessidade de se pensar no plural é a característica da 3ª Era. O pensamento é de desenvolver bairros di-versifi cados em que respeitem uma legis-

Fig. 3 – Imagem do Plano de Haussmann.

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Fig. 4 - Imagem do Plano de Cerdá.Fonte: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.059/473> Acesso: 18/03/2016

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Fig. 5 - Imagem do Plano de Le Corbusier para São Paulo.

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lação convicta e satisfatória, que haverá os estilos arquitetônicos diversos com lingua-gem própria. E que aproximem o diálogo

entre presente e o novo.Em vista disso, a necessidade é de se pen-sar em como reformular as regras legisla-

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Fig. 6 – Cidades 1ª e 2ª Eras, croquis. Autor: Arq. Cristian de Portzamparc.

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tivas e as arquitetônicas na ocupação do solo, o repensar a quadra. “A quadra defi-niu a repartição do cheio e vazio, a relação entre edifício e cidade” (PORTZAMPARC, 1992, p.46), para tal trouxe a dupla herança da 1ª e 2ª Eras na condução de “esquema de quadra aberta”.

“A quadra aberta permite reinventar a rua: legível e ao mesmo tempo realçada por aberturas vi-suais e pela luz do sol. Os objetos continuam sempre autônomos, mas ligados entre eles por regras que impõem vazios e alinhamentos parciais. Formas in-dividuais e formas coletivas coexistem” (PORTZAM-PARC,1992, p. 47).

As dimensões destes novos parâmetros de-vem ser mensuradas à medida que os novos territórios irão se configurar pelo espaço. Alavancar especulações de grande abran-gência não seria o idealizado no momento atual, e sim experimentar em proporções menores para demonstrar a reinvenção da espacialidade urbana posteriormente em maiores escalas.

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1.3. A quadra aberta não é uma novidade contemporânea.

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A quadra aberta é defendida por Portzam-parc, pelo fato de ser a solução para os grandes aglomerados urbanos contemporâ-neos. É um crescente fenômeno urbano em várias metrópoles. (GUERRA, 2011)Aqui na cidade de estudo, São Paulo, se apresentam ao menos quatro exemplos executados de excelente qualidade. Os pe-ríodos são diferentes, dos anos 1960, 1970, 1980 e 2000 que além do investimento, a tecnologia e as características estampadas nas edificações demonstram a especificida-de de cada período.Conforme explica GUERRA (2011) essas diferenças não abalam ou prejudicam o ele-mento urbano presente em todos os pro-jetos como a permeabilidade do solo que integra as edificações privadas ao espaço público envolvendo-as. Ademais, a tipologia de quadra aberta não é uma exclusividade de mecanismos econômicos, ou princípios estéticos, porém uma possibilidade poten-cializada pelos arquitetos e, sobretudo, in-vestidores.

“Contudo, as diferenças flagrantes da ar-quitetura dos edifícios não prejudica a percepção do elemento urbano que os aproxima: a permea-

bilidade do solo, que possibilita a integração de edificações privadas com o espaço público que os envolve. Pode-se observar também, nesta aproxi-mação inicial, que tais diferenças demonstram que a tipologia urbana “quadra aberta” não é exclusiva de determinados mecanismos econômicos e/ou princípios estéticos, mas uma possibilidade poten-cial, que pode ou não ser usada, dependendo da escolha dos projetistas e, principalmente, dos in-vestidores” (GUERRA, 2011).

O primeiro exemplo é o projeto do Centro Comercial do Bom Retiro, dos anos 1960, no qual, – o autor é o Arquiteto Polonês Lu-cjan Korngold. É um empreendimento co-mercial para um grupo de investidores da comunidade hebraica. Ao aproveitar o miolo da quadra acessado pelas ruas opostas – José Paulino e Ribeiro de Lima - “o arquiteto polonês projetou uma edificação contínua, com quatro pisos, que encosta-se aos mu-ros dos fundos dos lotes lindeiros, confor-mando uma clareira, no centro (...) uma pe-quena torre com dez andares.” (GUERRA, 2011).A arquitetura é marcada pelo modernismo europeu que se adapta as restrições ao em-preendimento imobiliário. Atualmente o cen-tro Comercial está em pleno funcionamento,

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absolutamente adequado ao comércio po-pular local. Já a conservação é um pouco precária com algumas lojas fechadas nos pisos superiores, mas o térreo está ocupa-

díssimo e o edifício no centro do lote ocupa o serviço e o comércio em praticamente to-dos os pavimentos.

Fig. 7 - Centro Comercial, implantação, Bom Retiro, São Paulo. Arq. Lucjan Korngold Mapamontagem de Luis Espallargas.

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Fig. 8 – Centro Comercial, corte longitudinal, Bom Retiro, São Paulo. Arq. Lucjan Korngold

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Em seguida, o segundo projeto de quadra aberta localiza-se na esquina de Av. Paulis-ta com a Alameda Ministro Rocha Azevedo. Os autores são os arquitetos Rubens Car-neiro Vianna e Ricardo Sievers. O projeto foi

executado nos anos 1970.Os principais bancos do centro velho migra-ram para a Avenida Paulista, entre 1960 e 1970. Assim o novo complexo locou os ser-viços nos pavimentos superiores e no tér-

Fig. 9 – Implantação do Cetenco Plaza, esq. Da Av. Paulista e Ala. Ministro Rocha Azevedo.

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reo abrigou as atividades bancárias – Caixa Econômica Federal e o extinto Banespa.Para atender aos investidores, os arquitetos projetaram duas torres gêmeas, de planta quadrada e envidraçada em tom esverde-ado. E essa solução era a tradicional divi-são tripartite – o embasamento, o corpo e o coroamento – bastante presente em edifí-cios modernos até os anos 1960 (GUERRA, 2011).Ao posicionar a primeira torre na esquina, os arquitetos deslocam a segunda torre para o fundo do terreno, no qual possibilitou a criação de praças e de passagens, permi-tindo o acesso ao conjunto por outra rua, a Frei Caneca. Em articulação ao projeto ar-quitetônico houve o projeto paisagístico do arquiteto paisagista Luciano Fiaschi.Apesar de críticas como: “o jogo de refle-xos frios e cambiantes da desolada praça ‘nova-iorquina’”5, a praça entre os edifícios – Banco de Crédito Comercial, de José Ma-

5 GUERRA apud a autora RUTH VERDE. No arti-go, Abilio Guerra faz referência a outro artigo: ZEIN, Ruth Verde. A harmonia e a melodia de uma orques-tra onde cada instrumento ensaia sozinho. Projeto, São Paulo, n. 78, ago.1985, p. 83 e 80, respectiva-mente.

galhães e Samuel Szpigel, e as duas torres da Caixa Econômica Federal – acolhe as áreas verdes em qualidade exemplar.Mesmo a quadra aberta não possuir respal-do em meados de 1980, o uso restrito da Avenida Paulista naquele período, justifica as críticas recebidas. A diversificação das atividades veio ocorrer após a inauguração da linha verde do metrô, em 1991. Assim, a ideia visionária dos arquitetos responsáveis previu o uso intenso que a avenida viria ter nos anos posteriores, onde nas áreas livres virou o refúgio da tumultuada e eclética Ave-nida Paulista (GUERRA, 2011).Adiante, o terceiro exemplo de quadra aber-ta paulistana é o Centro Empresarial Itaú, no qual é um empreendimento pioneiro nos aspectos legais e urbanísticos da capital. O empreendimento formalizou a PPP – Par-ceira Pública Privada – antes que esse tipo de iniciativa fosse debatido, em teoria, no país e entrado em vigor por lei. Por meio de uma lei municipal específica a gestão do empreendimento foi atribuída à EMURB – Empresa Municipal de Urba-nização – empresa pública, cujo concedeu a concordância de interesses públicos na

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implantação da estação Conceição – linha norte-sul – do metrô e os interesses priva-dos, no caso, o Banco Itaú, - proprietário do terreno -, os e investidores imobiliários. (GUERRA, 2011) O Complexo - construído entre 1980 a 1985 – está localizado em uma gleba na zona sul de São Paulo, limitada pela Avenida Armando Arruda Pereira e as ruas locais.O projeto subdividiu-se em duas fases, a primeira ficou sob a liderança dos arquite-tos João De Gennaro, Javier Judas y Ma-nubens e Jaime Marcondes Cupertino, no qual foi desenvolvido o embasamento do conjunto, conectado a estação no subsolo, com a praça externa e os vários acessos às áreas públicas e privadas. E a segunda

fase, as torres, foi realizada pelo escritório Aflalo e Gasperini, com a equipe dos arqui-tetos Eduardo Martins Ferreira, Felipe Aflalo e Jaime Marcondes Cupertino (esse é o úni-co na participação das duas fases) realiza-ram cinco torres construídas em momentos diferentes.GUERRA (2011) descreve que as três pri-meiras torres – localizadas a Rua das Car-naubeiras – possuem forma cúbica de estrutura periférica e a caixa central de ele-vadores, escadas e banheiros. “As eleva-ções (...) alteram faixas horizontais opacas (estrutura e alvenaria) e transparentes (es-quadrias envidraças), modelo seguido, com algumas modificações nas proporções, pela quinta torre, a última a ser construída junto

Fig. 10 - Centro Empresarial, alternativas de implantação das torres. Fonte:<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/11.124/3819>

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à Avenida Dr. Hugo Beochi”. Já a quarta tor-re é envidraçada e ”conta com a estrutura central na periferia da caixa de circulação vertical e banheiros”.O contraste das torres de formato prismático e com embasamento de formas orgânicas tem sua origem na divisão inicial do proje-to, das equipes de arquitetos distintos. Essa

decisão projetual trouxe uma integração e um caráter urbano com a praça pública, a passagem de pedestres. A essas qualida-des se conclui que a implantação do projeto é para a cidade, por sua conectividade na transição de pedestres.

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Fig. 11 – Implantação Centro Empresarial.

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E por último, o quarto projeto é o Brascan Century Plaza, dos arquitetos Jorge Kӧnigs-berger e Gianfranco Vannucchi, construído no início dos anos 2000 no bairro Itaim Bibi. Esse bairro teve profunda transformação.

Durante os anos 1990, de verticalização maciça e modificações dos usos tornando--se uma região nobre da cidade, com diver-sas edificações residenciais, implantação de equipamentos e de serviços aos novos

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Fig. 12 – Centro Empresarial, elevação e corte longitudinal.

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habitantes. Sob essas circunstâncias houve o esgotamento de terrenos no bairro.Desse modo, o conjunto Brascan apresen-ta a renovação espacial do bairro, com três torres contemporâneas – de tecnologia de ponta, nas edificações e nas fachadas. O térreo, de área livre, se articula com as cal-

çadas das três ruas que contornam a quadra – a Joaquim Floriano, a Bandeira Paulista e a Tamandaré Toledo – juntamente com o imenso jardim no térreo, que também abriga as lojas, os cafés e os cinemas. O arquiteto Gianfranco Vannucchi expressa seu ponto de vista urbano do projeto para GUERRA:

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Fig. 13 - Implantação Brascan Century Plaza.

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“as pessoas não aguentam mais ficar fe-chadas dentro de um shopping (...). É um projeto (...) que vai na contramão dos con-domínios fechados, das grades, dos muros, quer dizer, do enclausurar; pelo contrário, é um projeto que se abre para a cidade”.Em breve entrevista com o outro autor do Conjunto Brascan, o arquiteto Jorge Kӧnis-gsberger, GUERRA (2011) expõe um trecho bastante interessante:

“(...) há anos, desenvolvendo projetos imo-biliários privados e vimos nos opondo às tendências segregacionistas entre espaços públicos e privados. Consideramos ser perfeitamente possível suprir boa parte das carências e fragilidades urbanísticas brasi-leiras através de maior suprimento de novos espaços públicos privados qualificados integrados ao espaço público existente, dentro do modelo econômico vi-gente.”

Aqui foi exemplificado que é perfeitamente

32Fig. 14 - Brascan Century Plaza, vista da implantação. Google mapas.

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possível o desenvolvimento de projetos imo-biliários privados articulados aos espaços públicos, que valorizavam de outras manei-ras o lugar. Nos exemplos fica evidenciado que a proposta de quadra aberta supera o fator tempo, não se limita as épocas arqui-tetônicas. À frente disso, a quadra aberta abraça de tal forma as características mo-dernas, como o Conjunto Comercial do Bom Retiro – anos 1960 – à tecnologia de última geração implantado no Conjunto Branscan Century Plaza – anos 2000. Os argumentos de Portzamparc apresentam a quadra aber-ta como o futuro das cidades ao articular as cidades da 1ª e 2ª Eras passadas, dito an-teriormente.

“Todas estas questões necessitam de mu-danças na regra do jogo para certos bairros de re-pensar a quadra. A quadra definiu a repartição do cheio e do vazio, a relação entre o edifício e a cidade. É preciso redefinir essas relações. E é esta indagação que me conduziu ao esquema de quadra aberta, o qual sin-tetiza, em uma única forma, esta dupla herança da 1ª e 2ª Eras.” (PORTZAMPARC, 1992 p. 47)

O entendimento sobre a configuração es-pacial da cidade, as circunstâncias que

trouxeram ao atual cenário são de extrema importância. Adiante, neste trabalho será estudada a história sobre o contexto da cidade de São Paulo para apontarem os acontecimentos que levaram a cidade na conjectura atual. Também serão explicadas as circunstâncias tomadas pelo poder pú-blico para as medidas urbanísticas em dife-rentes períodos na formação da metrópole paulista; se contribuíram positivamente e/ou negativamente.

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2. A CONFIGURAÇÃO ESPACIAL

2.1. O Espaço urbano sob o Contexto Cidade em São Paulo

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O início deste capítulo referencia a Teoria Geral de Sistemas praticada extensivamen-te às análises urbanas e no planejamento das cidades, desde o final da década de 1960, com os trabalhos de Berry e Marble. Nessa ênfase, a análise urbana se baseia no conceito de sistema abrangendo a estru-tura física, a dinâmica ambiental, a relação espaço-tempo, as interações variáveis do sistema urbano e sua tendência evolutiva (VILLAC, 2015, p. 117).A partir das análises urbanas, esses conjun-tos de fatores irão auxilia-la na percepção, especialmente, do espaço frente à história geral. No entanto, o estudo sobre a cidade, a civilização urbana e a organização do es-paço urbano se devem inteiramente à histó-ria urbana, já que a sociedade, o mundo e os países são urbanizados. Conclui-se que toda história é urbana (ROLNIK, 1990, p. 27).Diante disso, um novo ponto de vista da his-tória urbana se diferencia à história geral, de maneira a elucidar a visão da especificidade da história urbana das demais, como a eco-nômica, a social ou a política abordando o contexto de cidade. O conceito de cidade é

debatido como a fonte de mudança social. Esse é o seu papel na transformação da so-ciedade, sendo a agente oculta da história urbana conectada a variável fundamental: o espaço.

“o que caracterizaria a história urbana (em contraposição a uma história na cidade) é a especi-ficidade do foco sobre a configuração espacial. Re-conhecer esta especificidade pode significar, dentro de uma leitura do processo de transformação ou da temporalidade, reconhecer um certo papel do espa-ço nesse processo” (ROLNIK, 1990, p. 27).

O poder transformador do espaço urbano é a cidade, desde o ressurgimento delas per-cebe-se a mutação de sociedades em pro-gresso diante desta configuração espacial. Esse ponto de vista contradiz drasticamen-te à ideia de cidade como o espaço inerte, onde precipitam se mudanças cujo princípio está além das configurações espaciais. A tendência é a noção de relação especula-tiva de que o campo da economia realiza a transformação, consequentemente projeta no espaço urbano (ROLNIK, 1990, p.27). Na verdade, o que ocorre é o oposto a ci-dade além de transformar, de acordo com VILLAC (2015, p. 118) também é “compre-

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endida como sistema pelo planejamento urbano focaliza principalmente quatro com-ponentes fundamentais: trabalho, capital, política e comportamento, e menos a estru-tura física do território urbano.6”A afirmação desta linha de pensamento dire-ciona o espaço como articulador, pois essa variável incorpora na história uma questão importante, de teoria e de metodologia na organização da cidade. Sem o espaço tal-vez não existisse tantas relações de com-preensão sobre a cidade, a história urba-na, a relação social entre outros aspectos (ROLNIK, 1990, p. 27). Enquanto pensa-se em cada um – o espaço, a história urbana, a cidade – separadamente, é difícil o entendi-mento de que eles ajudam na construção do todo, por isso é necessário a compreensão deles junto às análises urbanas.Tal reflexão segue a São Paulo, por exem-plo, que se subordinou a variável espacial e modificou inúmeras vezes seu sítio por consequência de sua história urbana. Por esse ponto de vista, o entendimento sobre os planos urbanos realizados nas primeiras décadas do século XX torna-se claramente 6 VILLAC apud o autor BEAUJEU-GARNIER, 1980.

definido no sentido de “ideias fora do lugar” (FRANÇA, 2012, p.2).Assim, são esclarecidos certas dúvidas que surgem ao estudarmos a história urbana paulista:

“A tradição do pensamento brasileiro de transposição de ideias sem a necessária adaptação ao modo de vida local, também esteve presente na cultura arquitetônica e urbanística do país, mais par-ticularmente de São Paulo. No final do século XIX e primeiras décadas do século XX, ocorreu uma inflexão no trato das questões urbanas, principalmente (...), em São Pau-lo. Ao contrário da cultura da colonização espanhola que introduziu a prática do desenho urbano em no-vas cidades, a colonização portuguesa não se preo-cupava em organizar as cidade e sobre elas legislar. Tal fato resultou na inexistência de padrões ou legislações urbanísticas que contribuíssem para construção de um pensamento próprio para as cida-des brasileiras” (FRANÇA, 2012, p.2).

A estratégia adotada em São Paulo pelo po-der público foram experimentações realiza-das durante a maior parte do século XX. E conforme a teoria de VILLAC (2015, p. 118) chega no século XXI desacreditado pois São Paulo não é uma exceção.

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“A cidade compacta que perdura até o advento da máquina foi substituída pelo espalhamento da área urbana, principalmente no continente americano. Este modelo que privilegiou a pouca densidade, as áreas monofuncionais, os sistemas motorizados de transporte e toda a infraestrutura, sobretudo rodo-viarista, que amparou o movimento nas áreas urba-nas, chega ao século XXI totalmente desacreditado, seja pela anorezia de espaços de lazer e vida públi-ca, seja pela deseconomia que o modelo acarreta.” (VILLAC, 2015, p. 118).

Na cidade de São Paulo ocorreu uma vas-ta transformação, devido ao crescimento espacial, econômico e demográfico desde 1940. Esse acontecimento é por conta da expansão espacial potencializada no Plano Prestes Maia em 1929. Sua criação viabili-zou, a princípio, de um novo sistema viário estrutural, de avenidas radiais ao centro, que estruturou o crescimento horizontal da cidade. A movimentação entre centro (local de tra-balho e de administração) e os arredores/periferia (os bairros residenciais) foi possível por este plano. A proposta era a criação de novas centralidades e polos de atividades, ou seja, os bairros impulsionaram a cons-trução de edificações nas áreas centrais.

Ao longo das avenidas eram estimuladas as edificações altas, por conta do automóvel, a cidade se configurava a partir deste novo elemento (MARCHELLI, 2016, p.33 – p. 34).O início da organização do espaço urba-no de São Paulo, nos anos 1930, trouxe a transferência de conceitos internacionais, que precisavam da adaptação local, o que não foi feito na época. O plano de avenidas, projetado pelo engenheiro Prestes Maia, foi o início da tradição de transferências de ideias nos planos urbanos para São Paulo (FRANÇA, 2012, pg. 2).A escritora FRANÇA (2012, p. 2) explica as referências urbanísticas das cidades euro-peias que influenciaram o plano de aveni-das.

“As referências urbanísticas que influen-ciaram o Plano de Avenidas, portanto, resultaram na proposição de transformações urbanas que uti-lizavam modelos trazidos de lugares distantes.“ Os elementos urbanos que vão se tornar referência na cidade do início do século XX são os rings e bouleva-res”.

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Fig.15 – Esquema teórico de São Paulo, segundo Prestes MaiaFo

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Fig. 16 – Versão fi nal perímetro de irradiação, São Paulo.

Em consequência do Plano de Avenidas, a verticalização em São Paulo era um aconte-cimento central até 1939, onde o solo pos-suía maior valorização monetária. Já a dé-cada de 1940 foi o boom dos arranha-céus incentivados pelo progresso acelerado do centro. A fi sionomia da cidade mudou drasti-camente, as casas térreas e os sobrados vi-raram prédios, principalmente, residenciais.

O importante era valorizar o capital no terre-no urbano. A nitidez da lógica comercial no desejo do lucro, se chocava sobre a busca da paisagem urbana ordenada. Diferencia-va-se, dessa maneira, São Paulo das cida-des europeias (MARCHELLI, 2016, p. 34).No imediato período pós Segunda Guerra Mundial, nas cidades europeias fervilhava o momento dos ideais do movimento moder-

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no, estimulado pela reconstrução das áreas destruídas e a construção de grandes quan-tidades de conjuntos habitacionais, com os recursos industrializados, para abrigar a população desalojada. Enquanto no Brasil, coincidentemente, as normas modernistas eram adotadas devido ao desenvolvimento tecnológico, junto à construção vertical, no qual foi o simbolismo e o marco do progres-so da cidade de São Paulo. As ideias do “Movimento Economie et Humanisme” tam-bém influenciaram por um longo período, a elaboração dos planos urbanos de São

Paulo, e foi determinante na formação de toda uma geração de urbanistas (FRANÇA, 2012, p. 2).Esse movimento foi formado no ambien-te da igreja católica reformadora, no qual se apresentava como alternativa as visões correntes (capitalismo e socialismo) e pro-movia a busca de um bem comum. O líder expoente, Padre Lebert, organizou na cida-de de São Paulo, a Sociedade para Análise Gráfica e Mecanográfica Aplicada aos Com-plexos Sociais (SAGMACS), a responsável que preparou o estudo de Estrutura Urbana

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Fig. 17 - Vista central de São Paulo, anos 1950.

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da Aglomeração Paulistana, de 1958. Outra vez, a imposição de ideias trazidas de ou-tros lugares, prevaleceu (FRANÇA, 2012, p. 2).O estudo realizava a comparação das pe-riferias de São Paulo, que cresciam de for-ma desordenada e eram irregulares, com as cidades europeias reconstruídas. FRANÇA (2012, p. 2) relata que “ sem compreender que o crescimento paulistano resultava da vitalidade do momento. Vitalidade de uma cidade que se urbanisava em números pouco conhecidas dos tradicionais tratados urbanos e que o estudo entendia, restrita-mente, como um grande “acampamento” descontrolado.” A busca dos recursos para o crescimento paulistano na época foi o aproveitamen-to máximo construtivo junto às tecnologias construtivas, os exemplos dos edifícios são: o Edifício Copan (1952) e oEdifício Itália (1959) (MARCHELLI, 2016, p. 35)Entretanto, nos anos seguintes, a legisla-ção começa a interferência na verticaliza-ção, restringindo o potencial construtivo. “O projeto de lei n º 5.261 (1957) determina os coeficientes 6 (seis) para projetos de escri-

tórios e comerciais e 4 (quatro) para proje-tos residenciais (...)”. Por esses motivos, a procura por terrenos mais baratos e o uso prioritário do automóvel, contribuíram para o espraiamento da cidade e o distanciamento das áreas centrais (MARCHELLI, 2016, p. 35).A população da cidade, em 1900, era de aproximadamente 200 mil habitantes, que saltaram para dois milhões em 1950. Logo, acompanhar esse crescimento populacio-nal, devido as oportunidades oferecidas pela cidade e na região metropolitana, de-mandava uma capacidade operacional que o país não estava preparado. Não havia modelos a serem seguidos perante a nova realidade que se estabelecia.Os parâmetros acadêmicos aprendidos na disciplina urbana tradicional não eram ape-nas ideias fora do lugar, também não pos-suíam respaldo para esses desafios. Por décadas, a realização de planos urbanos era repetidamente promovida por ideias externas, como o Plano Urbanístico Básico (PUB) de 1967, e o Plano Diretor de Desen-volvimento Integrado (PDDI), de 1971. Os planos sucessores continuaram a tradição

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Fig. 18 - Rua São João, 1900.

Fonte: <https://br.pinterest.com/pin/327214729150766233/>

Fig. 19 - Av. São João, 1930. Fo

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Fig. 20 - Av. São João, 1950.Fonte:<https://br.pinterest.com/pin/374291419013669658/>

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de grandes diagnósticos teóricos, de cará-ter genérico, anulavam o território urbano (FRANÇA, 2012, p. 3).A atuação do Banco Nacional da habitação (BNH), durante as décadas de 1960 a 1980, fortalecia a política das ideias fora do lugar, com o intuito autoritário impunha à quais-quer cidades brasileiras a obrigatoriedade dos planos diretores. (FRANÇA ,2012, p. 3). Pelo contrário, se ausentava desse propó-sito. Tornando-se problemas maiores, vide a situação atual da cidade de São Paulo (2016).

“Esses planos, representantes da ausência do projeto e da intenção de se construir cidades, dis-tantes e desprovidos de infraestrutura e equipamen-tos urbanos, acabaram se transformando em partes problemáticas da cidade”.(FRANÇA, 2012, p. 3).

Um novo pensamento começava a eclodir, segundo Carlos Nelson e outros arquitetos. As cidades deveriam ser pensadas numa soma de fatores, conhecimento da popula-ção que vive e não só o território. Assim ini-cia o urbanismo das ideias no lugar.

“(...) A cidade deveria ser pensada a partir da

práxis transformadora, com elementos de inovação, polêmica e criatividade, o que só era possível a par-tor de um profundo conhecimento da realidade, não apenas do território, mas, sobretudo, da população que nele vivia. Era o início do reconhecimento das preexistências urbanas ou do urbanismo das ideias no lugar.” (FRANÇA, 2012, p. 3)

Era o começo de um pensamento, as pree-xitências das cidades brasileiras. Até então, a maneira superficial em que encaravam a realidade urbana, mostrava a carência de cultura urbanística no país. Para a inver-são deste quadro, os arquitetos iniciaram estudos de território, que entenderam a dinâmica urbana, e promoveram interven-ções urbanas condizentes à realidade bra-sileira. Apesar de não terem servido como exemplos no campo urbanístico tradicional (FRANÇA, 2012). FRANÇA (2012, p. 4) finaliza que o maior desafio é: “(...) entender que na cidade contemporânea o projeto não tem mais a dimensão da função, como aprendemos na escola, mas sim a dimensão da exis-tência daquelas que moram nos diferentes lugares. Para desenvolver os projetos é preciso reco-nhecer a pluralidade urbana e a existência de uma estrutura que tem signos próprios.”

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3. AS TRANSFORMAÇÕES URBANAS

3.1. No bairro da Lapa e Perdizes – distrito Vila Pompeia

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As origens da Lapa paulista remontam ao primeiro povoamento de São Paulo de Pi-ratininga. Em meados de 1561, a primeira notícia sobre a região foi quando os jesu-ítas receberam uma sesmaria junto ao rio Embiaçaba – depois chamado Pinheiros. Logo que adentraram chamaram a região de “Emboaçava” (lugar por onde se passa) (TORRES, 1988, p. 15). Em 1590, à pedido das autoridades da Vila de São Paulo, o povoado dos jesuítas cons-truíu na região uma “fortaleza” para cessa-rem os ataques de índios do interior a vila.

Durante o século XVII, os povoados se or-ganizaram em fazendas. Assim, no século XVIII, a fazendinha da Lapa, denominada pelos Padres Jesuítas, localizava-se próxi-ma aos sítios: Água Branca, Mandi e Taba-tinguá. A sede – o engenho da Lapa - lo-calizava-se a caminho de Jundiaí. Porém o terreno acidentado e longe da Vila de São Paulo implicava na falta de mão de obra. Por volta do ano 1743, os jesuítas decidiram de-sativar e transferir o engenho da Lapa para outra propriedade na baixada santista. (SE-CRETARIA DA CULTURA DE SP, 1988, p.9)

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Fig. 21 - Mapa onde aparece a demarcação da área do Emboaçava, que viria a ser o bairro da Lapa, no século XVII. Arquivo W. Luis

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No início do século XIX, a região voltou a ser caracterizado como passagem de co-mércio, seguindo por Santana de Parnaíba a caminho de Jundiaí e Campinas. Com o tempo esse caminho foi denominado de cor-redor da Lapa – hoje as ruas Carlos Vicari, Guaicurus, Nsa. Senhora da Lapa e Barão de Jundiaí.O eixo de ocupação da região foi por es-ses caminhos, devido à transição de tropas de comerciantes; também haviam as rotas de acúcar e animais. Assim foi necessário a instalação de pousadas, de olarias e de guaridas para abrigarem os viajantes (TOR-RES, 1988, p. 15).Por volta de 1850, a produção cafeeira che-gou ao estado de São Paulo na região de Campinas. Por conta do mercado externo era necessário o escoamento apropriado do café, que conectava o centro de produção ao porto de Santos. Assim construíram a estrada de ferro de Santos-Jundiaí. A antiga São Paulo Railway foi o elemento primordial para o progresso do lugar, quando inaugu-rada em 1867 possuía algumas estações simples, como a estação intermediária Água Branca que possibilitou a formação inicial

do bairro (TORRES, 1988, p.15).Com o tempo a estrada de ferro São Paulo Railway impôs o monopólio do escoamento do café com altíssimos impostos. Por esse motivo os cafeicultores locais procuraram alternativas para o escoamento do produto até Santos. Eis que, em 1871, o Governo Imperial deu aos cafeicultores paulistas o consentimento para a construção da Estra-da de Ferro Sorocabana, como segunda op-ção de escoamento do café até Santos.A rota original da estrada de ferro Soroca-bana era da região de Jundiaí até o porto de Santos. No entanto, sua execução foi até São Paulo - onde atualmente é a esta-ção Júlio Prestes da CPTM. O traçado até a Vila de São Paulo passavam pela várzea da Água Branca e a Lapa, ao invés de seguir o mesmo traçado da estrada de ferro San-tos-Jundiaí, que passava pelo povoado de Pinheiros e o espigão de Canguassú (atual Avenida Paulista). Como essas terras eram particulares, as duas companhias ferroviá-rias obtinham o consentimento de utilizarem as terras. Por esse motivo, a construção da estação intermediária da Lapa não ocorreu (TORRES, 1988, p. 48).

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Durante a década de 1870, aproximada-mente, diversas conjunturas ajudaram a al-terar extremamente a dinâmica de São Pau-lo: a expansão cafeeira, a instalação das ferrovias e a imigração europeia. Nas déca-das seguintes, entre 1880 - 1890, junto as estradas de ferro, ao longo das varzeas do Tietê e Pinheiros, instalavam-se as fábricas, os galpões e armazéns e a construção de vilas operárias ou cortiços para abrigarem a crescente população trabalhadora. Nes-ses aspectos, o bairro da Lapa nascia sobre os elementos que definirão sua conjectura urbana atual. Ou seja, como ressalta a SE-CRETARIA DA CULTURA DE SP (1988, p. 17) “a instalação das ferrovias trouxeram a perspectiva decisiva de progresso local”.Pouco a pouco a região da Lapa se transfor-mava mais e mais. Em 1888, os proprietários de fazendas viram a oportunidade de faze-rem dinheiro com a venda de lotes urbanos para os imigrantes que iam ao interior do es-tado. Assim surgia o primeiro loteamento, o da Vila Romana. Depois, em 1891, os outros loteamentos mudaram a configuração cen-tral do bairro, que antes era de chácaras. O bairro tomava sua forma proporcionalmen-te, sua paisagem sendo transformada e a

vida social e econômica em pleno desenvol-vimento (TORRES, 1988, p. 17).A expansão urbana do bairro ocorreu nas primeiras décadas do século XX, receben-do infraestrutura durante este período. De imediato a vida urbana do bairro iniciou com o comércio, as escolas, a iluminação pública. Após a I Guerra Mundial, novos lo-teamentos expandiram o limite do bairro, o da Vila Anastácio e a Vila Ipojuca, foram ur-banizados em 1919 e em 1921, respectiva-mente, por imigrantes do leste europeu. Na mesma época, a Companhia City realizou o loteamento do Alto da Lapa com os pla-nos urbanísticos britânicos, Dessa maneira, a estrutura básica do bairro estava definida (TORRES, 1988, p. 65 - p. 66).A Água Branca foi incorporada ao bairro em 1925 pela Prefeitura da cidade de São Pau-lo. Naquelas áreas livres se configuraram as ruas Guaicurus, Coriolano, Clélia e Fausto-lo. No prolongamento destas ruas, denomi-nou-se uma praça já existente de Cornélia, uma homenagem romana como em tantas ruas deste loteamento. Algum tempo de-pois, a vila Romana incorporou o loteamen-to da Água Branca.E somente no final do século XIX, a estação

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da Lapa foi construída pela linha ferroviária inglesa, devido ao crescimento do bairro por conta das fábricas instaladas, fluxos de tra-balhadores e moradores, também era rumo para o antigo caminho ao interior. Conforme o desenvolvimento urbano do bairro, em 1903, era a vez do Bonde da Água Branca se estender para a estação Lapa a pedido dos moradores do bairro, no qual sua utilização perdurou até meados da década de 1950, por conta da expansão das linhas de ônibus, o que provocou o desa-parecimento gradual do Bonde. (TORRES, 1988, p. 79).O bairro da Lapa crescia progressivamente para atender as duas vias férreas (Soroca-bana e São Paulo Railwail), que importavam mão de obra proveniente da imigração do país. Essa mão de obra se fixou no bairro por conta da grande quantidade de terras baratas e pelas oportunidades de trabalho. Já nas décadas de 1940 e 1950, a constru-ção das marginais dos rios Tietê e Pinheiros, e as rodovias rumo ao interior possibilitaram o crescimento maior do bairro (TORRES, 1988, p. 79).Nas décadas seguintes a 1950, o bairro da

Lapa passou por outras transformações ur-banas, principalmente, o distrito da Vila Ro-mana (será explicado adiante). Esse distrito faz limite com o bairro de Perdizes, no distri-to da Vila Pompeia. A divisa começa na nas-cente do córrego Água Preta (canalizado) que passa na ponte da Estrada de Ferro So-rocabana subindo até a Avenida Francisco Matarazzo, no largo da Pompeia, subindo até a Rua Venâncio Aires, que prossegue por esta até encontrar o córrego da Água Preta, no qual sobe até cruzar a segunda vez a Rua Miranda de Azevedo.

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O distrito da Vila Pompeia – no bairro de Perdizes - teve o surgimento na história ur-bana da cidade na última década do sécu-lo XIX entrando na planta ofi cial em 1897. Por volta de 1850, a região de Perdizes era uma chácara pertencente a Joaquim Alves, que em poucos anos dividiu a em lotes ur-banos para serem vendidos aos imigrantes europeus. Após isso, o crescimento do bair-ro iniciou efetivamente em 1905 com terre-

nos baratos próximos as fábricas da Lapa, a estação de Trem e as várzeas do rio Tietê. Em consequência disso, por volta de 1914, a Companhia Urbana Predial divulgava o lo-teamento que daria início à Vila Pompeia.O anúncio publicado com foto no jornal O Estado de SP (5/04/1914) relatava o empre-endimento de maneira totalmente urbaniza-da para época:

Fig. 22 – Mapa Digital da Cidade São Paulo - os limites entre os Bairros Lapa e Perdizes.

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“A companhia Urbana Predial adquiriu a fa-zenda Bananal, abriu ruas, lotou os terrenos e rasgou uma grande avenida de 25 metros até a linha de bon-des de Água Branca, através do Parque Antarctica. (...) o grande circuito de avenidas da nossa futura capi-tal será: Largo do Rosário, Avenida São João, Avenida Água Branca, Avenida Pompéia, Avenida Municipal, Avenida Paulista, Avenida Luiz Antonio, Terminando na Rua Direita. Terrenos a prazo largo, sem juros.”

O loteamento da Vila Pompeia foi feito por meio da venda de antigas chácaras da re-gião, para os imigrantes que vieram ao Brasil no início do século XX, sendo estes: italianos, portugueses, espanhóis, japoneses e ale-mães atraídos pelo trabalho assalariado nas indústrias da locais, como a Indústrias Mata-razzo – atualmente restam as chaminés - e a Companhia Santa Marina, entre outras. O córrego da Água Preta, no início do século XX, era um divisor de terras, pois (como já dito) separava a Vila Pompéia da Vila Roma-na, na Lapa, sendo limite entre os dois bair-ros. Por consequência da urbanização da re-gião. E na cidade, na década de 1950 houve a canalização do córrego pelo planejamento urbano municipal. Até os dias atuais, as chu-vas de verão, por ser várzea de rio provocam alagamentos frequentes nessa região, sem

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Fig. 23 – Anúncio do loteamento da Vila Pompéia, em 1914.

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que o poder público fizesse efetivamente obras urbanas de contenção ou melhora-mento no local implicando em sério proble-ma de infraestrutura na região.Em 1922, uma capela surge no alto da Ave-nida Pompeia que foi entregue aos padres camilianos, recém chegados ao Brasil. Mais tarde no lugar da capela, os padres constru-íram a nova igreja Nossa Senhora do Rosá-rio da Pompeia. E em pouco tempo depois, ao lado da igreja os padres construíram uma clínica médica, onde hoje é o Hospital São Camilo. Pela região de clima favorável, a Vila Pom-peia passou a ser o lugar de refúgio urbano. Assim iniciaram a construção de vilas de ca-sas de casas para os grupos de imigrantes, essas vilas perduram até os dias atuais com casas particulares. As vilas de casas tive-ram influência arquitetônica dos imigrantes, como os jardins de inverno, enfeites nas fa-chadas, portões de ferro, entre outros. Algu-mas destas casas ainda existem, dando a Pompeia um saudosista aos seus morado-res e visitantes. O comércio, os serviços e as escolas acom-panharam o crescimento do bairro. O bonde também circulou por um tempo pela área

até chegar a primeira companhia de ônibus, a Auto Ônibus Pompeia, por volta de 1940.Fundado em 1914, por um grupo de imigran-tes, a Sociedade Esportiva do Palmeiras, o Palestra Itália é o estádio e motivo de orgu-lho ao time Palmeiras e seus torcedores e moradores da Pompeia. Em 1982, o bairro ganha o SESC Fabrica Pompeia, projeto da arquiteta Lina Bombar-di, que transforma uma antiga fábrica local em espaço de lazer. Ele funciona como um centro cultural muito importante para a cida-de São Paulo, e principalmente para o en-torno, que acolhe todo o tipo de visitante em todas as atividades oferecidas, de lazer, as culturas e as esportivas.

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3.2. A relação entre passado e o presente na Vila Romana - Lapa e na Vila Pompeia - Perdizes

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A partir de meados de 1940, São Paulo so-fre a verticalização na região central, onde a terra urbana possuía um valor econômi-co. Essa valorização e o uso prioritário do automóvel provocaram uma procura por ter-ras mais baratas e próximas a região cen-tral. Assim, os bairros da Lapa e Perdizes se consolidaram plenamente para absorver a demanda dessa população. E a partir de 1960, nesses bairros também surgiram as transformações urbanas sob o ponto de vis-ta econômico so solo.No âmbito teórico histórico ROLNIK (2004, p. 37) explica como a organização do es-paço mudou extremamente o ambiente da cidade, no caso São Paulo:

“A transformação de vila medieval em cida-de-capital de um Estado moderno vai operar uma reorganização radical na forma de organização das cidades. O (...) elemento que entra em jogo é a ques-tão da mercantilização do espaço, ou seja, a terra urbana, que era comunalmente ocupada, passa a ser vendida como um lote de bois, um sapato, uma carroça ou um punhado de ouro.”

E para entender melhor a situação, em en-trevista para um artigo7 GLEZER (2013) re-7 CARLI apud autor GLEZER. Artigo: História de São

lata a transformação na cidade de São Pau-lo à época:

“A partir dos anos 1960 a transformação teve início: violenta exploração demográfica, adensamen-to vertical em todas as regiões criando um sky-line recortado e agressivo em toda a cidade e valoriza-ção das propriedades imobiliárias deslocando parte dos habitantes para novas áreas (...) a construção de grandes viadutos e avenidas de fundo de vale, acele-rando a destruição das áreas verdes; e a invasão das várzeas dos córregos, ribeirões e rios.”

Mesmo que a cidade de São Paulo esteja extremamente consolidada atualmente, os bairros da Lapa e de Perdizes – se expan-dem de maneira extraordinária, pela locali-zação próxima ao centro, e por possuírem espaço para crescer. Diante desses fatos, as construtoras encon-traram nesses lugares as oportunidades de suprirem a alta demanda por condomínios de alto padrão. Já que “o espaço nos bairros bem localizados da cidade, tais como Higie-nópolis e Santa Cecília, está definitivamente saturado.” (CARLI, 2013)Paulo: A convivência entre o passado e o presente no bairro de Perdizes. Realizado pela Aluna: Milena Aparecida Carli. Disciplina USP – Uma História para a Cidade de São Paulo: Um Desafio Pedagógico.

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Sob esses aspectos, atualmente ao cami-nhar pela na região do shopping Bourbon Pompeia, se observa a crescente presença de empreendimentos de estereótipos ar-quitetônicos8. Em valores altíssimos, desti-nados à classe média alta. Na verdade, é que as grandes construtoras adquirem os terrenos facilmente, através da compra de antigas construções locais, como casas tér-reas, sobrados e estabelecimentos comer-ciais desativados promovendo a demolição para se construírem novos empreendimen-tos, sobretudo, residenciais de alto padrão. (CARLI, 2013)No decorrer das décadas, fica mais eviden-te que nas regiões da Vila Romana - distrito da Lapa - e na Vila Pompeia - distrito de Per-dizes - acompanharam a verticalização de São Paulo. Apesar disso, conservam-se nas regiões os conjuntos de casas modestas, as vilas de casas, os sobrados e antigos pré-dios menores, que dá a região um aspecto de subúrbio urbano.Contudo, os condomínios de alto padrão al-teraram esses lugares nos últimos anos, no sentido de modificarem a paisagem, a dinâ-mica e os espaços nessas áreas urbanas. A 8 Explicado no capítulo 1 deste trabalho.

rapidez dessas mudanças estão voltadas a incentivos legislativos e construtivos provo-cados pela “dimensão política do processo” ( ROLNIK, 2004, P. 37).Os incentivos referenciados se tratam, de maneira geral, do Plano Diretor de São Paulo de 20029 e a Lei de Uso e Ocupação do Solo10 que com medidas como a Outor-ga Onerosa11 elevaram à potencialidade de construção destes bairros. A intenção era o investimento privado em adensamento populacional e construtivo, a construção de equipamentos cuturais priva-dos - como o shopping Bourbon Pompeia de 2008 - e a melhoria dos equipamentos existentes - como o antigo Palestra Itália, hoje é o Allianz Parque - para a diversifica-ção econômica local. Sendo que o poder público ampliaria a infraestrutura da região.Essas transformações urbanas estimularam uma espécie de segregação espacial e uma 9 Plano Diretor Estratégico da Prefeita Marta Suplicy - Lei 13.430_02 10 Lei de Uso e Ocupação da Prefeita Marta Suplicy – Lei 13.885_04 11 Estoque potencial construtivo que por meio finan-ceiro pode-ser pagar a mais para a construção no terreno, ainda prevalece nestes bairros com o Plano Diretor Estratégico atual (Lei 16050_14).

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mudança no perfil de morador na região da Vila Romana e da Vila Pompeia, que trans-formaram as relações cotidianas do espaço. Na verdade é que, ultimamente, a perda de vínculo com o território está cada vez maior (CARLI, 2013).Essa perda de território urbano é apresenta-da pela carência de áreas de convivência e a perda da função social da rua, serve ape-nas de passagem. Sob esses aspectos, não de desenvolvem mais relações de vizinhan-ça. Ao que tudo indica “a organização do espaço urbano não mais pretende viabilizar as práticas urbanas, (...), mas sim veicular a circulação mercadorias (...). O espaço urba-no perdeu (...) valor de uso e adquiriu valor de troca”(CARLI, 2013)12

A falta do uso do espaço urbano dificulta a relação do indivíduo com a cidade. Desse modo, não se cria mais laços de convivên-cia e não prevalece uma cultura de conser-vação do lugar. Esses fatos demonstram a real necessidade de se propor na cidade a diversidade de usos dos espaços urbanos, para a coexistência do passado e o novo, que também resultará na melhoria da dinâ-mica urbana (JACOBS, 1961).

12 CARLI ao autor MILTON SANTOS.

Esses resultados se encontram na com-paração dos Planos Diretores Estratégicos (PDE) da cidade de São Paulo, na gestão da Prefeita Marta Suplicy, ano de 200213, com o da gestão do Prefeito Fernando Had-dad, ano de 201414, – sem explorar o âmbito político. A comparação apresenta que o se-gundo PDE, de 2014, considerou o território urbano nos estudos das análises, de manei-ra minuciosa. Enquanto no primeiro PDE, de 2002, prevalecia o planejamento urbano do século XX.Apesar dos avanços do plano, os estudio-sos relatam a falta de visão sobre a cidade real. Ao que parece o Plano estratégico de 2014 está em um patamar acima, e pela vi-são acadêmica de CAMPOS FILHO (2015) ”o projeto é uma falsa solução para os gra-víssimos problemas reais da cidade”. Dessa forma, os problemas da cidade poderão se agravar com a recente Lei de Zoneamento15 aprovada em 2015. Apesar de a prefeitura insistir na participação expressiva da po-pulação nas consultas públicas, durante o 13 Lei: Lei 13.430_02.14 Lei: Lei 16050_14.15 Essa lei detalha as diretrizes urbanísticas da cidade de São Paulo criadas pelo Plano Diretor Estratégico de 2014 – Lei 16050_14.

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processo de aprovação, o plano foi pratica-mente realizado do alto escalão do poder ao baixo escalão, ou seja, do poder público para a população. Simultaneamente, é o Plano Diretor com maior participação po-pular frente aos anteriores, desde o come-ço da realização dos planos, no início do séc. XX. Dessa maneira, no contexto caótico atu-al da cidade o projeto é apresentado sem nenhum estudo prévio, como sendo a saída milagrosa de todos os males da ci-dade. Todavia, as mudanças aprovadas irão comprometer de maneira irreversível a qualidade de vida, a mobilidade, até o abastecimento de água, porque a infraes-trutura urbana não suportará tanta constru-ção nova (CAMPOS FILHO, 2015). Por outro lado, ao longo do século XX, a dimensão humana foi negligenciada no de-senvolvimento das cidades e nos dias atu-ais se percebe uma enorme reivindicação do resgate da dimensão de urbanidade. Ao que parece, no novo PDE esses parâme-tros são abordados de maneira mais con-creta, voltada ao cidadão. Porém há um longo caminho a se percorrer.

Fig. 24 - Entrada da Paróquia São João Vianey, Bairro Lapa.Autoria própria.

Fig. 25 - Esquina R. Barão de Bananal com R. Venancio Ai-res, distrito Vila Pompeia - Bairro.Perdizes. Autoria própria.As fotos acima mostram a coexistência entre o pas-sado e o novo nesses bairros.

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4. O TERRITÓRIO

4.1. O conhecimento da Vila Romana e da Vila Pompeia

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A partir do momento que se entende a questão do espaço urbano como forma de movimento e de transformação, estabele-ce uma relação além da funcional entre os indivíduos e o espaço. Neste caso, ao tra-zer esta afirmativa para a realidade, explica a relação entre as regiões Vila Romana e Vila Pompeia com seus moradores. A per-cepção que se pode ao menos caracterizar este ponto é a percepção de território ou de territorialidade (ROLNIK, 1990, p. 28).ROLNIK (1990, p. 28) explica que a percep-ção do território contraria a percepção do espaço, no sentido de existir uma relação externa do indivíduo com o espaço e um vínculo íntimo de subjetividade quando se trata do território. A percepção do território absorve a ideia de subjetividade.

“Contrapondo-se a noção de espaço à no-ção de território, há uma relação de exterioridade do sujeito em relação ao espaço e uma ligação intrín-seca com a subjetividade quando se fala em territó-rio. O território é uma noção que incorpora a ideia de subjetividade. Não existe um território sem um sujei-to, e pode existir um espaço independente do sujeito. O espaço do mapa dos urbanistas é um espaço, o espaço real vivido é o território.”

Essa percepção de território é evidente nas regiões da Vila Romana e na Vila Pompeia, pela característica de cultivar a relação de exterioridade com o espaço demonstrada pelos seus moradores, em especial os mais antigos. Por outro lado, mesmo que a confi-guração espacial se modifique ao longo do tempo, prevalece a noção de subjetividade no espaço urbano. Por isto, nessas regiões prevalece, até os dias atuais, a atração de se habitar ali.Logo, a arquitetura vinculada a uma ligação íntima com a subjetividade coletiva delimita-da, nega uma relação de exterioridade entre a produção coletiva e a materialidade, que é o espaço em si – a configuração espacial. Por certo a troca de relações que os indi-víduos demonstram entre si, desenham-se espacialmente. Tais interações são critérios de subjetivação coletiva e individual, e são contrárias às relações funcionais como o uso e as demarcações de ocupação do solo (ROLNIK, 1990, p. 28).Nesses aspectos, se entende que a cons-trução de estereótipos arquitetônicos no es-paço urbano, não contribuíram para a rela-ção do indivíduo com o espaço. Pois, como

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já dito, eles negam a configuração espacial e limitam a interação dos indivíduos entre si e com o espaço. Por esses motivos é impor-tante resgatar as relações cotidianas que existiam nas regiões estudadas.A cidade não se resume a essas relações funcionais, ou somente a isso. Além de-las, há uma referência de significação e de construção da territorialidade. Sendo assim a rua não é simplesmente o lugar de passa-gem, ali traz uma história, traz experiências que o sujeito teve, seu grupo teve e a histó-ria do seu grupo teve naquele espaço, pro-gressivamente (ROLNIK, 1990). Em outras palavras, a coexistência entre o passado e o novo de forma hamônica.Em suma, o pensamento colocado aqui, não é somente o espaço-função, onde com-patibiliza a percepção do externo com a pro-dução social e econômica em relação a esta configuração espacial, mas sim a concep-ção do espaço como marca, como cartogra-fia das relações sociais. É nesta marca que faz o território, por assim dizer, o território é fruto do processo social que o produziu. Na verdade, as duas partes formam o todo. Isso significa que o espa-

ço urbano é algo além da existência física e material – é um código. E quando se trata de territorialidade, simultaneamente, está tratando de realidade física e do código. Para ROLNIK (1990, p. 28) “é uma ideia de não-independência entre estas coisas.”Por outro lado, o autor CACCIARI (2010) expõe a noção de território de maneira mais ampla, no ponto de vista da cidade toda, ou seja, as cidades-território ou pós-metrópole. Como explicado anteriormente, as metrópo-les estruturavam o espaço como centro-pe-riferia, critérios atuantes da urbanística clás-sica dos séculos XIX e XX, mas atualmente esta possibilidade é obsoleta. A cidade-terri-tório barra qualquer forma de configuração desta categoria prevalecendo um espaço indefinido, homogêneo, onde os aconteci-mentos se baseiam em fundamentos con-trários aos que correspondiam a uma inten-ção unitária de conjunto. Esses acontecimentos transformam-se com uma velocidade incrível, conforme da cida-de de São Paulo, mesmo assim procuravam manter certa estabilidade. Agora, como é dito por CACCIARI (2010, p. 33) “a rapidez das transformações impede que no âmbito

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de uma geração se conservem memórias do passado”.Embora este processo tenha seu ponto ini-cial no ocidente, atinge a escala mundial. Segundo CACCIARI (2010, p.34) na década de 1950 as cidades mais populosas eram 83 em todo mundo com pouco mais de um milhão de habitantes, e mais da metade es-tavam em países industrializados. Em 2010, as cidades com mais de um milhão de habi-tantes eram 300 e a maioria delas estão nos países pobres. Em 2015, temos 33 cidades acima dos 20 milhões de habitantes e 27 delas pertencem a países pobres.Portanto, para CACCIARI (2010, p. 34) de maneira geral, a organização delas é seme-lhante:

“Extrapolando da situação atual, seria demasiado fácil prevê-lo: vastíssimas áreas indiferenciadas do ponto de vista arquitetônico, a regurgitarem de fun-ções de representação, financeiras, de governação, cercadas por áreas periféricas residenciais, ‹‹gueti-zadas›› umas em relação às outras, áreas comer-ciais de massa, ‹‹resquícios›› da produção manufa-tureira. O todo relacionado por ‹‹acontecimentos›› ocasionais, fora de qualquer lógica urbanística e ad-ministrativa.”

É indiscutível, o território em que se habita hoje em dia representa um tremendo desa-fio a todas as formas tradicionais de vida co-munitária. Na escala menor, a casa, para a grande parte da população das cidades, é o mini-apartamento padronizado e sua prolife-ração em diferentes regiões, cada vez mais longes.Desse ponto de vista, o desraizamento que produz é real. Todas as relações conecta-das ao território tendem a diluir-se nas rela-ções do tempo. No entanto, para isso há a necessidade de o espaço assumir um papel equivalente, homogêneo em todos os pon-tos, ou seja, o desaparecimento da dimen-são lugar, a possível definição de lugares dentro do espaço ou a caracterização dele de acordo com uma hierarquia de lugares simbolicamente significativos. (CACCIARI, 2010, p. 35)Pois bem, A vivência sem um território é re-almente possível? E o habitar será possível onde não existem territórios? O habitar não é puramente um alojamento, nele se esta-belece relações instintivas (comer, dormir, entre outras). É somente na cidade que se pode habitar, mas nada adiantará se ela não

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oferecer lugares. CACCIARI (2010, p. 35) faz uma analogia de que o lugar é a pausa – o silêncio de uma partitura. Não há música sem silêncio. O território pós-metrópole ig-nora o silencio numa partitura: não concede a parada, o recolhimento no habitar. Enfim, cada lugar encolherá até restar so-mente lugar de passagem. E viverá na ci-dade que é casa e não é casa. A esta con-tradição há as consequências em enfrentar o problema com a ideia de resgatar os lu-gares, no sentido tradicional do termo. Ou simplesmente acompanhar o processo de dissolução sem nada fazer. Exemplo de São Paulo, em que seus habi-tantes não sentem mais os lugares, a pausa da cidade, nem se quer é oferecido. Por isto, a importância desses resgate de lugares.Nesse aspecto, moldar esta contradição a fim de conseguir compreendê-la e vivê-la, e não apenas ser sua vítima, é um problema. É necessário enfrentá-lo se o indivíduo pos-sui lugar, como é possível não querer lugar? Apesar disso, CACCIARI (2010) conclui que o desejo do lugar já não é mais aquele das cidades antigas nem mesmo das cidades tradicionais.

“Continuando nós a ser lugares, como pode-mos não querer lugares? Porém, os lugares desejá-veis já não podem ser os da polis nem sequer os da metrópoles industriais. Tem que ser lugares onde as características da mobilização universal conseguem estar representadas.” (CACCIARI, 2010, p. 36)

A partir dessas duas visões em diferentes escalas demonstra que o território é impres-cindível para o lugar, o espaço urbano e a cidade. Isso é representado nas imagens a seguir nas análises do território a ser estu-dado para a implantação do projeto urbano na junção dos distritos de Vila Romana e de Vila Pompeia (será explicado mais à frente). O perímetro do lugar de estudo é nas ruas Clélia e Coriolano entre a Praça Cornélia e o SESC POMPEIA.Nas análises a seguir apresentam os pri-meiros estudos de terriório da área de inter-venção.

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Fig. 26 - Região entorno do SESC POMPEIA, Vila Pompeia - São Paulo. Visão geral da área. Em rosa o sítio de intervenção urbana. Fonte: Google mapas. Acessado: 23/05/2016.

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Na primeira imagem foram eleitas edifica-ções significativas (cor azul), vazios urbanos existentes (cor preta), e as edificações re-presentadas pelas alturas. A intenção dessa

análise foi o entendimento a partir da noção de território e a introdução dos estudos ur-banos para serem aplicados nessa região.

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Levantamento de dados do território. Autoria própria.

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Análise de intervenção do espaço urbano. Autoria própria.

Na segunda imagem as conexões feitas pe-las linhas auxiliam a análise no sentido de transformar o espaço para melhorar a qua-lidade do lugar. Como realizar um estudo urbano no lugar articulando os miolos das

quadras, com edificações novas dialogando com as edificações existentes tornando o espaço heterogêneo. As trocas de relações é nítida entre o espa-ço e o território. As análises acima auxilia-

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ram à transformação do espaço para melho-rar a relação de exterioridade do sujeito com o espaço, que resulta em melhor qualidade da relação íntima com a subjetividade, ou seja, o território (dito anteriormente - ROL-NIK, 1990, p. 28). Assim o estudo urbano mostrará que o espaço não é homogêneo nem equivalente e é possível o resgate de lugares – as pausas – em São Paulo. Não tornando-a uma cidade-território (CACCIA-RI, 2010, p. 34 – dito anteriormente).Em seguida, sobre os estudos do lugar apli-cou-se o conceito de percurso, que de acor-do com GEHL (1987, p. 11) a composição do dia a dia do cidadão é classificada por três atividades externas: as essenciais (trabalho e moradia), as opcionais (visitas, compras, parques, entre outras) e as sociais. A primeira atividade externa é o trajeto entre a casa e o trabalho, e vice-versa. Sua clas-sificação como essência é pelo fato de pre-meditadamente irá acontecer independente das condições adversas (GEHL, 1987, p. 11). Ao aplicar no lugar de estudo, percebe--se a movimentação do indivíduo para fora do perímetro, em direção ao centro da cida-de, e a área de estudo é na zona oeste. E

observa-se a movimentação dessa ativida-de ser feita pelo transporte particular, apesar de nesta área ter ampla rede de transporte público. Assim promover e desenvolver di-versidade econômica adequada, reduzirá esse deslocamento diário, movimentando a economia local também. Já a segunda atividade externa são as saí-das que o indivíduo realiza ao longo do dia. Por isso a denominação de opcionais, pois depende das condições externas, como o fator climático, ou até outras condições para acontecer (GEHL, 1987, p. 11). No percurso conhecido, observou as poucas opções de escolhas para essa atividade, como equipa-mentos de primeira necessidade, comercio local e poucas áreas de lazer e permeáveis, a Praça da Cornélia. Logo, o desenvolvi-mento deles trará maior diversidade para essa atividade.E por último a terceira atividade externa, a social. É a mais sugestiva ao improviso no cotidiano do indivíduo, justamente pela de-nominação. Essa atribui a interação social do indivíduo em seu percurso no território conhecido. Essas estão ligadas a quali-dade dos espaços que as proporcionam

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“Vida entre edifícios não é meramente o tráfico de pedestres ou recreação ou atividades so-ciais. Vida entre edifícios compreende o inteiro es-pectro das atividades, que combinadas faz espaços comuns nas cidades e áreas residenciais significati-vas e cheias de atração” (NOVAMENTE, pg. 16). 16

Dessa maneira é necessário a avaliação da qualidade dos espaços, para melhorá-los, para os cidadãos praticarem as atividades

16 Tradução livre: “Life between buildings is not me-rely pedestrian traffic or recreation or social activities. Life between buildings comprises the entire spec-trum of activities, which combine to make communal spaces in cities and residential areas meaning-ful attractive”

Fig. 27 - Vista da área urbana. Percebe-se a falta de opções de espaços adequados para atividades externas

(GEHL, 1987, p. 11).Ora, se há falta de lugares para se realizar as outras atividades, essa não terá nenhum estímulo. Dessa maneira, promover melhor as outras atividades, contribuirá para reali-zar a terceira atividade Além disso, há o crescimento delas de acor-do com o tempo de vivencia no território es-colhido. Essa percepção é observada pela faixa etária dos moradores da área estuda-da e as atividades que executam. Não há de fato uma classificação de quantas pessoas frequentam tais lugares, e sim uma presen-

ça predominante de idosos, jovens e adultos com filhos menores que usufruem mais o ambiente externo. Principalmente nos equi-pamentos marcados nas análises anterio-res, em atividades opcionais e sociais. GEHL expõe claramente que a vida cotidia-na não se resume ao tráfico de pedestres pelo espaço ou a recreação e as atividades sociais ali presentes. Ainda reitera a impor-tância da vida cotidiana em compreender a essência das atividades, que conectadas “faz os espaços comuns das cidades”, tor-nando as áreas mais atrativas.

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externas, ou seja, tornar os espaços favo-ráveis a receber as inúmeras atividades do cotidiano. Uma vez que todas as atividades estão su-jeitas a qualidade dos espaços, a melhoria deles também é fundamental para a ocor-rência da dinâmica urbana no perímetro de estudo – entre a Praça da Cornélia e o SESC POMPEIA. Pelo trajeto pedonal ob-serva-se más condições de calçadas e ruas, pouca iluminação pública e pouca diversifi-cação no uso de ocupação do solo.Logo, propor espaços qualificáveis valoriza-rá o trajeto (principalmente de pedestre) da Praça da Cornélia, a única área permeável em boas condições, e o SESC POMPEIA, equipamento cultural de excelente capaci-

dade. A partir disso viabilizará a proposta urbana (será explicado mais a frente), e a dinâmica urbana auxiliará no modo na vida ativa da área.Ao promover a diversidade na ocupação do solo, também promove a dinâmica urbana. Essa afirmação traz a comparação entre as cidades, onde há a predominância do carro e edificações, em que circule poucas pesso-as por conta das pobres condições das áre-as públicas, próximas as edificações, não haverá incentivo para a permanência nes-ses lugares, ou as conexões urbanas que proporcionem a diversificação destas áreas. Desse modo, se não estimular nos planos urbanos para essa prática, se quer existe a possibilidade da população se mostrar ativa

Fig. 28 - Vista do entorno, R. Barão de Bananal. Autoria própria Fig. 29 - Vista da Praça da Cornélia. Autoria própria.

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para manter os espaços, e não há compro-misso de responsabilidade com o patrimônio publico (GEHL, 1987, p. 33).

Por outro lado, ao promover a cidade com áreas públicas e permeáveis próximas as edificações, com condições favoráveis de calçadas para o tráfego de pedestres e áre-as de convivência para incentivar a interação social, como os miolos de quadra, proporcio-nará novas perspectivas e novas visões da paisagem urbana. Dessa forma, é possível a interação dos edifícios com a circulação de

Fonte: < http://blogs.atribuna.com.br/sansao/2014/07/viaje--na-programacao-e-no-visual-do-sesc-pompeia/>. Acessado 31/05/2016

Fig. 30 - Vista de dentro do SESC Pompeia.

pedestres em áreas convidativas as ao uso. GEHL explica que esse tipo de cidade é exe-cutável pelo fato de ser uma cidade viva.

“Essa cidade é uma cidade vida, uma em que os espaços dentro dos edifícios são suplementados com áreas externas utilizáveis, e onde espaços públi-cos são permitidos a funcionar.” (NOVAMENTE, pg. 33). 17

Em síntese, o propósito desse estudo do lu-gar é compreender o território para o pensa-mento do plano urbano e para se projetar a proposta arquitetônica. Os conceitos discu-tidos neste capítulo, auxiliam a escolha do local. E tanto o pensamento urbano como o objeto arquitetônico serão respostas alterna-tivas para as discussões realizadas nos capí-tulos anteriores.

17 Tradução livre: “This city is a living city, one in which spaces inside buildings are supplemented with usable outdoor areas, and where public spaces are allowed to function.”

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5. ENSAIO PROJETUAL

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72 Volumetria experimental de Lego. Autoria própria.

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5.1. ESTUDOS DE CASOS

- Habitação Híbrida - Emmen, Suíça

Escritório MVRDV Arquitetos

O vencedor da competição Feldbrite é um de-senvolvimento urbano híbrido em que com-bina características de habitação da cidade - localização central, privacidade, estacio-namento subterrâneo - junto à característi-cas da vida suburbana - jardins, convivência em multiníveis e uma comunidade de bairro. Esse projeto foi desenvolvido pelo escritório MVRDV em 2013 e as construções estavam previstas para o início de 2015.A proposta consiste em noventa e cinco (95) casas de dezesseis (16) diferentes tipologias. No programa era solicitado um bloco habita-cional, em vez disso, a equipe elaborou um bloco urbano misto com prédios de pequenos apartamentos nas bordas, sobrados ao de-correr das ruas junto à jardins, além de ca-sas-pátio dentro dos blocos. As habitações têm o tamanho de 30 a 130m² e de um a quatro pavimentos. Por essa diver-sidade a proposta convida diversos grupos de habitantes interessados a morarem no local. Fig. 31 - Casas-pátios e espaços de verdes.

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Fig. 33 - A fachada urbana exterior.

O que estimula o ambiente urbano a se man-ter ativo e vivo. O projeto dispõe com nove mil m² de habitações, 2.034 m² de serviços e 2.925m² de estacionamento subterrâneo - to-tal de 13.959m² de área construída.

Fig. 32 - Seção do corte demonstrando a rela-ção interior e exterior do bloco.

Fonte: MVRDV/ <www.mvrdv.nl/en/projects/urban-hybrid>Acessado: 17/04/2016.

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A mistura do bloco está entre o externo - a variação da fachada urbana – e o interno que oferece a peculiaridade de uma cida-de íntima. O interior se divide em espaços públicos e privados. E o mobiliário urbano - mesas, cadeiras, bancos - pode ser de-pendurado nas paredes divisórias, além de mesas serem partes rotacionadas das pa-redes. Já o paisagismo foi elaborado pelo escritório Fontana Landscape Architects na junção farta e diferente de árvores frutíferas nos quintais, nas áreas privadas e públicas.A privacidade prevalece em detalhes como o jardim e as casas-pátio no centro do quin-tal têm sua porta de entrada particular fora do perímetro do bloco. Já as coberturas se-rão utilizadas para espaços exteriores.O interessante desse projeto é a mescla entre a simplicidade da arquitetura na com-posição do espaço urbano. Conforme ilus-trado na imagem (Fig. 34) a composição do ambiente foi uma estratégia para o projeto de maneira geral, sem recorrer a mecanis-mos tradicionais de urbanismo. Uma vez que a elaboração do projeto remete vaga-mente ao conceito de quadra aberta, o fator alta densidade é camuflado no espraiamen-

to das edificações ao logo do bloco urbano, sem a necessidade de concentrá-las.

Fig. 34 - Vista aérea da maquete eletrônica do projeto.

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Fig. 35 - Diagrama conceitual das habitações.

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- Praça das Artes - São Paulo, SP

Brasil Arquitetura

O projeto da Praça das Artes foi elaborado pela equipe de arquitetos: Francisco Fannuc-ci e Marcelo Ferraz com Luciana Dornellas, e executado em 2012. Sua localização é na rua Conselheiro Crispiniano, no bairro República. O complexo é uma parceria pública privada no qual estudou profundamente a natureza do lugar, em uma área construída de 28.500m². E a percepção do espaço resultou de fatores sociais e conceituais, de diferentes épocas da cidade. Logo, a equipe analisou o ambiente na visão das características físicas e na per-cepção de apropriação do espaço. Exemplo de como a edificação privada pode ser de ca-ráter público. Uma vez que o projeto aplica a necessidade de um programa heterogêneo de novos usos relacionados às artes musicais e do corpo, aplica também o diálogo de maneira eviden-te e ousada a espacialidade preexistente, de vida intensa e a comunidade bastante pre-sente. Além do mais, elabora espaços de convivência a partir da geografia urbana, da

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Fig. 36 - Vista da subida do vale do Anhangabaú.Fonte: Nelson Kon/ <http://www.archdaily.com.br/br/626025/praca--das-artes-brasil-arquitetura> Acessado: 17/04/2016.

história local e sobre os princípios contempo-râneos da vida pública.O antigo Conservatório Dramático Musical de São Paulo (edificação branca na foto) encon-trado no coração de uma região central de-gradada da cidade, onde ele é um importante marco arquitetônico e histórico, que acolhe uma sala de recitais há décadas desativada. O projeto da Praça das Artes restaurou e re-cuperou esta edificação, abraçando-a a um conjunto de novas construções e espaços de circulação e estar. Também acolhe as insta-

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Fig. 37 - Diagrama dos usos e formas das edificações do complexo.

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lações para as atividades das Escolas e dos Corpos Artísticos do Teatro Municipal.O complexo incorpora as sedes das várias Orquestras como da Sinfônica Municipal e Experimental de Repertório, dos Corais Lírico e Paulistano, do Balé da Cidade e do Quar-teto de Cordas. Também integra as escolas municipais de Música e de Dança, o Museu do Teatro, e o centro de Documentação Artís-tica. Com uma infraestrutura de restaurantes, estacionamento subterrâneo e áreas de con-vivência - praça coberta.A inserção desse equipamento cultural foi além das expectativas de satisfazer a carên-cia de lugares para as atividades do Teatro. O papel estratégico ao iniciar uma requalifica-ção da área central da cidade é cumprido. E o múltiplo programa de uso concentrado nas funções profissionais e educacionais da mú-sica e dança, usufrui em extrema elegância atividades de caráter público, convivência e vida urbana - a característica de urbanidade.

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Fig. 38 - Implantação do térreo.

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O desenho da planta do térreo é o resul-tado verídico da discrição da intenção que esse complexo tem a oferecer a cidade. Ambientes livres e flexíveis, espaços de passagens e convivência; e o aproveita-mento total do lugar em proporcionar um

conjunto para a vida urbana. Inúmeros programas culturais e exposições são rea-lizados na praça coberta a fim de convidar o cidadão a apropriação do espaço priva-do de caráter público.

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80Fig. 39 - Vista aérea do edifício.

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- Complexo Residencial - Rue Suisse –Paris – França

Herzog & de Meuron O complexo Residencial realizado pelos Arquitetos Herzog & De Meuron foi o ven-cedor de uma competição a secretaria de

habitação da prefeitura de Paris. A data do projeto é de 1997–1998 e sua execução foi em 1999-2000. E o complexo localiza-se em Montparnasse – 14º distrito, centro histórico de Paris – nas ruas de Suisses e Jonquoy em um pátio interno na quadra, um miolo de quadra. Com uma área construída 2.734 m² e 57 unidades de apartamentos.

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Ao implantar o projeto os autores elegeram três pontos essenciais nas observações do lote. O primeiro ponto foi fazer as duas fa-chadas, uma para as Rue des Suisses e a Rue Jonquoy, e a outra para o bloco de centro do lote. O segundo ponto é o ritmo das fachadas voltadas para as ruas, no qual optaram a colocação de uma pele de metal que se articula com os edifícios adjacentes. E o terceiro ponto foi à proposta projetual em lâmina, no centro do terreno, que pro-porciona uma solução adversa nos distritos

centrais de habitação de Paris, onde atende a uma rua pedonal e espaço de contempla-ção. Os dois prédios de apartamentos com as persianas frontais dobráveis se ajustam perfeitamente à disposição vertical da fa-chada. As persianas dobráveis podem ser ajustadas pelos habitantes, para que, ape-sar da homogeneidade ser alvo das facha-das, a impressão geral de sua aparecia varia, além de preservar a horizontalidade contínua nas fachadas.

Fig. 40 e 41 - Esquemas de ritmo das fachadas. Fonte: Eduardo Sánchez e David Vasquez.

Fonte: <https://issuu.com/eduardosanchez63/docs/viviendas_de_la_rue_des_suisses>

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O desafi o do projeto foi implantar o acesso e o bloco no centro do lote. Sendo a situação do pátio totalmente diferente, pois não havia especifi cações urbanas anteriores para usar como base tipológica para o projeto. Dessa maneira, o modelo de vida realizado é apa-rentemente incomum no centro de Paris e atraiu um público diferente de proprietários e inquilinos do que nos demais prédios. O acesso pedonal é feito pela Rue des Suis-ses onde irá direcionar ao pátio interno e as

circulações verticais dos apartamentos. A horizontalidade se manteve também como estratégia projetual, isto é, se manteve os edifícios baixos para garantir o maior núme-ro de apartamentos possível.Os apartamentos variam em 14 tipologias. Cada bloco difere a área do apartamento, bem como a disposição espacial. Os blo-cos possuem uma circulação na tangencia do mesmo, que fazem papel de circulação comum e privada.

Fig. 42 - Implantação térrea do Complexo habitacional.

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Fig. 43 - Tipologia dos apartamentos - primeiro piso. Fonte: Eduardo Sánchez e David Vasquez.Fonte: <https://issuu.com/eduardosanchez63/docs/viviendas_de_la_rue_des_suisses>

Fig. 44 - Tipologia dos apartamentos - segundo piso. Fonte: Eduardo Sánchez e David Vasquez.Fonte: <https://issuu.com/eduardosanchez63/docs/viviendas_de_la_rue_des_suisses>

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Fig. 46 - Tipologia dos apartamentos - terceiro piso. Fonte: Eduardo Sánchez e David Vasquez.Fonte: <https://issuu.com/eduardosanchez63/docs/viviendas_de_la_rue_des_suisses>

O projeto demonstra a convicção de se exe-cutar algo tão diferente para uma cidade como Paris. Também mostra as possíveis direções para se manter o espaço de pedes-tre como a vitalidade do projeto, ao mesmo tempo um refúgio suburbano no centro his-tórico da cidade. O pátio interno simboliza

a troca de relações mais privativa, também possui um acesso restrito, porém não limita o diferente público que ali habita. Justamen-te pela variável de tipologias de apartamen-tos. O que auxilia no convívio cotidiano dos vizinhos.

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5.2. PARTIDO DO PROJETO

Dentro das questões abordadas no traba-lho do projeto desenvolvido para o TFG, permeou no início qual seria a escolha do tema. Com infinitos cenários (de sítios, de terrenos e usos), definir tornou-se o primeiro desafio desta etapa. Por experiência pesso-al, a região da Lapa sempre me instigou a querer saber de suas peculiaridades, suas potencialidades e resolver seus problemas, sendo uma região tão rica de história, e ao mesmo tempo, posta em segundo plano na cidade de São Paulo. Logo, a primeira deci-são projetual que se fez presente: gostaria de realizar meu projeto na região oeste, a Lapa, de São Paulo. A partir disto, outras questões me ocorre-ram:- Qual uso esse projeto poderia ter futura-mente? - Haveria a necessidade de realizar um pro-jeto urbano? A resposta para esses questionamentos era a triagem do sítio, e certamente a estratégia era um projeto que provocasse questões, que possibilitasse aberturas a alternativas

urbanas e projetuais, e que se integrasse a cidade. De alguma maneira, que favore-cesse o pedestre na apropriação melhor do espaço, em uma cidade tão reclusa como São Paulo. Assim, passei a observar as transforma-ções urbanas ocorridas na região da Lapa até pensar na ideia de uma requalificação urbana. Que traz consigo uma diversidade de usos, que tanto serviria a população local como a população geral, com novos equipa-mentos, conectar os vazios existentes, atrair comercio, ligar equipamentos locais para o público usufruir de maneira adequada; tam-bém criar áreas permeáveis e de convivên-cia, acima de tudo, trazer vida ativa e movi-mentada à área. A minha percepção, foi que a região do entorno do SESC POMPEIA, a junção das regiões da Vila Romana e Vila Pompeia, era o local apropriado. Por ser uma área densamente construída, apesar de a maioria ser de gabaritos baixos, considerei muito difícil encontrar terrenos livres de miolos de quadras, a menos que houvesse a demolição necessária para tal. Por isto foi realizada uma criteriosa avalia-ção das edificações e quais definitivamente

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seriam demolidas. Em suma, que trouxesse a fluidez ao estudo urbano e a implantação.No quarteirão seguinte ao SESC POMPEIA, o da Rua Barão de Bananal no meio das Ruas Clélia e Coriolano, para minha satisfação per-cebi seis quarteirões de casas, comercio local e terrenos vazios, que fazem uma conexão interessante até a Praça da Cornélia, no sen-tido da Vila Romana. Essas quadras formam um percurso bastante rico para explorar a topografia, a perspectiva da paisagem urba-na original do bairro, bem como suas edifica-ções estabelecendo de maneira natural, uma grande conectividade entre as quadras e seu entorno.O entorno é uma região urbanamente conso-lidada e de ampla infraestrutura. Apresenta uma arquitetura tão representativa para a ci-dade – o SESC POMPEIA – que dá suporte um cultural ao local. Isso intensifica minha in-tenção de oferecer uma arquitetura mais arti-culada com a cidade, que proporcione usos a fim de valorizar e de dinamizar mais o espaço urbano e o entorno. Outro assunto é a drástica transformação que a região sofre desde 1970, e que nos úl-timos anos está exagerada por conta da valo-rização especulativa do mercado imobiliário.

Fig. 47 - Fotos do entorno da área (dentro de uma vila de Casas). Autoria própria.

Fig. 48 - Fotos do entorno da área. Autoria própria.

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Fig. 49 - Vista aérea do entorno atual. Fonte: Google Mapas. Acessado: 18/05/2016

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88 Fig. 50 - Estudo urbano. Autoria própria.

Além do mais, a região apresenta poucos usos, a vida ativa – principalmente a notur-na. As habitações presentes possuem condi-ções variadas, o que remete a uma popu-lação de classe média e de média alta que deveria demonstrar maior preocupação em preservar o lugar de maneira geral. Porém uma deficiência da área e do entorno é a falta de áreas verdes. Apesar da presença da Praça da Cornélia na área, ela não supre todas as oportunidades de lazer e área per-

meável que conectada a outros espaços a população usufruiria melhor. Mais um moti-vo para a concepção de um projeto privado, de caráter público, que seja uma referencia para a população. A princípio, realizei análises urbanas identi-ficando as deficiências, as condicionantes e as potencialidades no local, para que exe-cutasse um pensamento de diretrizes urba-nas e implantações projetuais. O objetivo foi a articulação dos miolos das seis quadras em um percurso pedonal. Nesses miolos

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de quadras implantei volumetrias com no-vos usos propostos no plano urbano. Essas foram realizadas por meio de maquetes de

estudos, desenhos e mapas analíticos na composição de cheios e vazios dos espa-ços.

Fig. 51 - Estudo NOLI - Cheios e vazios do território. Autoria própria.

Esses estudos auxiliaram na execução da maquete urbana. Para entender a topo-grafia e os gabaritos das edificações exis-tentes. Com o estudo urbano e o NOLI foi possível a concepção das volumetrias (em rosa na Fig. 51). Também realizar a cone-xão dos miolos de quadras.

Na figura 52, a maquete é composta por:- Marrom couro são as edificações exis-tentes;- Branco Paraná são as volumetrias urba-nas (novos usos);- Cinza Roller são as propostas arquitetô-nicas.

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Fig. 52 - Maquete do Estudo urbano.Autoria própria.

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Em seguida, escolhi a quadra cercada pelas Ruas Clélia, Tibério, Coriolano e Crasso. Os critérios para a escolha da quadra, na implantação do projeto de quadra aberta, foram 4 pontos importantes:- O primeiro foi o tamanho do terreno;- O segundo foi os acessos pelas ruas que a cercam - O terceiro foi a incorporação de estabeleci-mentos comerciais existentes no local;- O quarto por apresentar uma coexistência entre o passado e o novo.Em primeiro lugar, o nível do térreo foi de-senvolvido com a acessibilidade universal e acesso as ruas que compõem seu períme-tro. Como há um desnível no terreno, houve a possibilidade de criação de dois pátios in-ternos ligados a uma circulação transitória. Os acessos aos edifícios comercial e resi-dencial estão voltados ao pátio esquerdo do terreno que dá acesso a Ruas Crasso e Clélia, respectivamente. Já os acessos aos edifícios corporativo e do hotel estão no pá-tio direito do terreno, que conectam as Ruas Tibério e Coriolano, respectivamente. Nes-se pavimento foram implantadas lojas, um bicicletário e incorporado o comercio local.

Junto com os pátios que servem ambientes de interação social e de lazer passivo com o mobiliário apropriado, e algumas áreas verdes. Concluindo, um térreo diversificado para intensificar a vida ativa do lugar.“O pátio concretiza um espaço de transição interiorizado e claramente definido.” (BAL-SINI, 2014, p. 59)18. A afirmação expressa a intenção da im-plantação dos pátios no projeto. Como for-ma de destaque o lugar é particularmente importante para a arquitetura em si e suas relações com a escala humana, que são estudadas em projeto. O projeto até pode criar espaços de dentro e de fora do lugar, porém o que intensificará a sua grandeza é o entre-lugar (BALSINI, 2014, p. 60).19 En-tendido no projeto como o miolo de quadra.O ambiente por si só é significativo, por isto a arquitetura é significativa de primeira ins-tancia, já que influencia as vivencias urba-nas nela compartilhada. Nesse aspecto, não somente o espaço ín-timo – privado – deve ser a identificação para com o indivíduo, todavia o espaço pú-blico deve cogitar “um sentido de habitar 18 NORBERG-SCHULZ 2006 apud BALSINI, 2014.19 Idem nota 17..

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92 Fig. 53 - Implantação térreo do projeto de Quadra aberta. Autoria própria.

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que possa ser apropriado pela sociedade.” (BALSINI, 2014).Enfim, o espaço intermediário é habitável no conceito equivalente ou superior ao espaço público, no qual é próximo. Em outro lado, também possui o grau habitável nos espa-ços privados adjuntos ou menor grau.Em resumo, a palavra habitar adota a refe-rencia das relações entre indivíduo e lugar (BALSINI, 2014, p. 61).20

O espaço de transição admite ter sua iden-tificação com o lugar, por sua vez, um lugar possui uma atmosfera misteriosa que este-ja vinculada a ele como o umbral. O umbral

20 Idem nota 17

para BALSINI (2014, p. 63) 21significa “a ombreira, o limiar, ou a entrada, (...) escla-rece a diferenciação entre limiar e limite (...), buscando precisar a percepção do lugar in-termediário”.A identificação com o ambiente é retratada sob a ótica de prioridade para a intervenção arquitetônica. A partir do desígnio que “o ato fundamental da arquitetura é compreender a ‘vocação do lugar22”. Dessa maneira, a in-tenção da construção é “fazer um sítio tor-nar-se um lugar”23. (BALSINI, 2014, p. 65).

21 J.L. BORGES 2007 apud BALSINI, 2014 22 Idem nota 17.23 Idem nota 17.

Fig. 54 - Entrada da Rua Crasso. Autoria própria.

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Em prosseguimento ao projeto, o edifício co-mercial, no centro do terreno, é dividido em con-juntos de 80m² a 180m². Optei por uma altura baixa, onde a composição é: do térreo, os qua-tro pavimentos de conjuntos comerciais e a co-bertura. A causa dessa escolha se remete a sua localização no terreno. E na intenção de utilizar de maneira adequada o espaço, a cobertura é uma área de convivência com o acesso público.O edifício residencial, na parte esquerda do terreno – voltado para a Rua Crasso – tem a configuração dos apartamentos na variação de

estúdio (30m²), um dormitório (40m²) e dois dor-mitórios (45m² a 60m²). Os equipamentos de in-fraestrutura no edifício foram a sala de reunião, o salão de festas, o parquinho e a cobertura serve como área de convivência. A ausência de subsolo implica na minha escolha de incentivar a prática do transporte público, ampla na região, e a prática de locomoção de bicicleta e a pé. O edifício conta com sete pavimentos ao todo para não ultrapassar um altura extravagante e agre-dir a paisagem urbana.

Fig. 55 - Corte AA. Edifício Residencial e Comercial. Autoria própria.

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Fig. 56 - Edifício Comercial - Plantas dos Pavimentos Superiores. Autoria própria.

Fig. 57 - Edifício Residencial - Plantas dos Pavimentos Superiores. Autoria própria.

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Na outra parte do lugar, o edifício corpora-tivo, voltado para a Rua Tibério – na par-te direita do terreno, tem lajes flexíveis de 400m² com infraestrutura hidráulica e pé di-reito favorável a futuras instalações. Como a sua volta as construções são baixas, na concepção do projeto optei por uma altura baixa, que equivale ao edifício comercial, onde conta com o térreo, quatro pavimentos de lajes corporativas e a cobertura. Essa é também utilizável como área de convivência com o acesso público.

Por último, o edifício hotel está localizado na parte baixa do terreno – voltado para a Rua Coriolano. No primeiro pavimento foi implan-tado o refeitório de uso público com planta flexível para se tornar um espaço de even-tos ou bar posteriormente. Nos pavimentos seguintes fica a disposição dos quartos que variam de 25m² a 35m² com ventilação cru-zada. Já cobertura possui a mesma con-cepção dos outros edifícios. Esse é o bloco mais alto atender a demanda de visitantes ao local.

Fig. 58 - Corte BB - Edifício de Hotel e Edifício Corporatico. Autoria própria.

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A materialidade da fachada é similar a todas as edificações. Elas são compostas de mó-dulos opacos de alumínio que configuram as medidas: 30x30cm, 60x60cm, 60x120cm, 120x120cm e 120x240cm. Cada edifício tem seus módulos em uma combinação de cor diferente para a identificação, que sa-lienta a linguagem arquitetônica. Os mes-mos se fixam na estrutura de aço de manei-ra leve e prática. Os caixilhos envidraçados têm as medidas de 60x60cm, 60x120cm e 60x120cm, onde trazem perspectivas inu-sitadas aos visitantes e aos usuários, bem como no lugar a sensação de acolhimento, bem estar e de urbanidade.O conceito de urbanidade na compreensão deste trabalho é a sua relação com a escala urbana. Para Aguiar (2012 apud Marchelli 2016)

“esse conceito (...) é efeito ao conjunto de qualidades que distinguem uma cidade, es-tando presente o “no modo como a relação espaço/corpo se materializa”. Assim a ur-banidade se constrói a partir da arquitetura que se relaciona com o entorno, o local, a cidade, a paisagem. (MARCHELLI, 2016, p.50)Essa é a abordagem apresentada no proje-to que é a construção da urbanidade para a cidade. É a busca de associação de ca-racterística e de caráter na vida urbana. Por meio da arquitetura e da noção do território constrói um espaço humanizado. Por sua vez, quando o espaço é de caráter público, é percebido como a articulação e a diversi-dade da cidade (MARCHELLI, 2016, p.50).Esse é o resultado almejado.

Fig. 59 - Edifício de Hotel e Edifício Corporativo - Planta dos Pavimentos Superiores. Autoria própria.

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98 Fig. 60 - Detalhe Arquitetônico dos módulos da fachada. Autoria própria.

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Fig. 61 - Visão do Edifício Corporativo (fachada turquesa) e Edifício do Hotel (Fachada azul). Autoria própria.

Fig. 62 - Visão do Edifício Comercial (fachada veme-lha) e Edifício Residencial (Fachada Lilás). Autoria própria.

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Fig. 63 - Maquete do ProjetoO Lego representa os edifícios existen-tes e os blocos em Roller representa o projeto desenvolvido. Autoria própria.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho foi à possibilidade de debater as questões importantes sobre o futuro da mega-lópole, de São Paulo. Tais questões refletiram a ocupação do solo, no sentido de, como as mudanças do presente ajudarão as novas gerações urbanas. Bem como trouxeram os fatores de que a atual configuração espacial foi decidida por medidas de curto prazo e de referencias externas. Sem ao menos se adaptar a geografia, ao espaço urbano, ao território.Por vezes se deparou que essas justificativas foram impulsionadas pelo poder público, na tentativa de se corrigir os problemas de maneira imediata. Porém não houve um planejamento adequado no auxílio dos planos urbanos de São Paulo. Desse modo, os problemas atuais da cidade afetam o âmbito econômico, a qualidade de vida e dos espaços, que estagna o cres-cimento. Esse trabalho é a abertura para o diálogo do repensar a ocupação do solo na cidade e como fazê-lo. Essa possibilidade não foi totalmente concluída, todavia é uma porta para trazer a discussão a fundo, no ambiente acadêmico e público.A escolha do lugar a ser explorado, o estudo urbano e do projeto arquitetônico, não foram por acaso. A área de intervenção localiza-se em um entorno que sofre transformações urbanas profundas. O aperfeiçoamento do estudo urbano e do projeto irão auxiliar no entendimento concreto de como se argumenta a teoria estudada.A solução projetual mostrou uma alternativa para a valorização da edificação sem limitar a propriedade, ao lote. Outro aspecto foi à criação de espaços de convivência com o incentivo a dinâmica urbana e o percurso. Trazer essas novas perspectivas resultará em melhores condi-ções de urbanidade para a área, sendo um exemplo para a cidade de São Paulo.Simultaneamente, o desenvolvimento deles poderá se aprofundar por ser um tema tão amplo. Alias, é um desejo meu que isso aconteça. Para isso, é necessário estudar outros fatores, como a nossa cultura urbana e a apropriação do espaço. Logo, buscar outras frentes de tra-balho e estudos estarão na minha visão de abordagem.

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