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29 Dezembro 2013 | 02h 07 - Atualizado: 29 Dezembro 2013 | 12h 39
Apesar das suposições, educação e saúde não tiveram forte visibilidade no elenco das demandas das manifestações de rua.
elegeram a elevação das tarifas de ônibus, a corrupção política evidenciada, sobretudo, no caso do mensalão, as despesas as
com a infraestrutura de eventos grandiosos como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 e a má qualidade dos
públicos. A educação e a saúde públicas entraram nesse último item, aparecendo em Brasília, mas não aparecendo no Rio.
Como é compreensível nos chamados movimentos coletivos, o comportamento de multidão tende a ser o das demandas dif
no acaso dos reclamos suscitados na ocasião, um assunto puxando outro. Mas tende a ser também o momento da síntese ex
tópicos de uma agenda de reclamações que todos carregam na memória à espera da oportunidade para torná-las visíveis e
Demandas sociais não explodem de repente.
A importância política dessas manifestações coletivas está no fato de que deram voz e visibilidade à maioria silenciosa, dife
ocorre nos chamados movimentos sociais. A quebra do silêncio se torna nessa hora um fato político, sobretudo porque con
dos cúmplices e bajuladores de voz programada para o amém que alegra os poderosos. Durante o regime militar um novo s
emergiu no cenário nacional, com demandas tópicas que incluíam reformas sociais. No decênio do petismo outro sujeito po
começou a germinar em silêncio, claramente antipartidário, o que bem indica a natureza da crise que protagoniza. Express
da política. Sendo os participantes desse novo movimento majoritariamente jovens, com acesso à internet e às redes sociais
evidente que se trate de manifestações da classe média que já não reclama educação, mas se motiva na educação para o pro
educação gerou os manifestantes de agora, em vários momentos de sua ação indicando o protagonismo do manifestante co
militante.
Nas manifestações coletivas deste ano, vimos a tensão se deslocando do centro das cidades para a periferia e retornando ao
os temas do protesto se modificando, acrescentados. Como se o deslocamento fosse uma caça de temas para enriquecer a in
manifestantes e dar durabilidade ao que tende naturalmente a esgotar-se. Mas indício, também, de que um invisível estoqu
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descontentamentos permanece à espera de novas manifestações. Não emergiram antes porque os mecanismos de controle
impediram. Alguns emergiram agora porque esses mecanismos perderam a eficácia.
Educação e saúde entraram mais no rol das respostas do governo ao protesto do que no próprio protesto. O programa Mais
acabou funcionando como tentativa de dar a volta por cima das inquietações de rua, para aplacar uma demanda permanen
pública de qualidade, uma verdadeira medicina social, como há em outros países. É uma tentativa do governo de administr
cujo acerto dependerá de tempo para que a clientela desse serviço possa experimentá-lo, testá-lo e avaliá-lo. Como técnica,
item do protesto e adia o seu desfecho. Resta saber por quanto tempo. Médico sem satisfatória infraestrutura de saúde púb
mais que um curandeiro.
Na área da educação a questão é mais complicada. Há uma crescente demanda de ensino superior, mas nenhuma explícita
melhora no ensino elementar e médio. É aí que se situa o cerne da crise da educação brasileira. As avaliações anuais das es
permitem otimismo. Por outro lado, no contraponto do crescimento numérico das escolas superiores, o próprio ministro d
vetou o vestibular em mais de 200 cursos superiores, dado que aquém da qualidade que superiores os tornaria. A falta de u
projeto nacional de educação se revela nessas incongruências. Mas se revela, também, num programa como o Ciência sem
envia alunos de graduação ao exterior para uma temporada, sem clareza quanto ao que isso acrescenta a sua formação.
Na sequência das manifestações, houve finalmente a invasão da Reitoria da Universidade de São Paulo, com a ocupação e d
cinco andares do prédio e prejuízos avaliados em R$ 2,4 milhões. O tema foi a questão do poder na universidade, não a eve
do ensino e da educação. A melhor universidade brasileira foi objeto de uma manifestação que, rigorosamente falando, nad
com demanda por educação ou melhora da educação superior. Foi um desdobramento residual e antagônico das manifesta
tentativa de implantar demanda ideológica e partidária no interior de um movimento justamente contrário a isso. Os mani
porém, que falaram pela maioria, já haviam deixado às ruas e se calaram diante do vandalismo antieducacional e antipolíti
militantes da minoria. Expuseram assim seus limites, insuficiências e contradições.
*É SOCIÓLOGO, PROFESSOR EMÉRITO DA FACULDADE DE FILOSOFIA DA USP, AUTOR, ENTRE OUTROS, DE COMO AVENTURA (CONTEXTO)
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