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Universidade Federal do Ceará Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação Mestrado Profissional em Avaliação de Políticas Públicas João Narclécio Fernandes de Oliveira A PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE NO PLANO PLURIANUAL (PPA) DO ESTADO DO CEARÁ: AVALIANDO O PLANEJAMENTO PÚBLICO PARTICIPATIVO NO VALE DO JAGUARIBE (2016-2019) Fortaleza 2019

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Universidade Federal do Ceará Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação

Mestrado Profissional em Avaliação de Políticas Públicas

João Narclécio Fernandes de Oliveira

A PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE NO PLANO PLURIANUAL (PPA) DO ESTADO DO CEARÁ: AVALIANDO O PLANEJAMENTO PÚBLICO

PARTICIPATIVO NO VALE DO JAGUARIBE (2016-2019)

Fortaleza 2019

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João Narclécio Fernandes de Oliveira

A PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE NO PLANO PLURIANUAL (PPA) DO ESTADO DO CEARÁ: AVALIANDO O PLANEJAMENTO PÚBLICO

PARTICIPATIVO NO VALE DO JAGUARIBE (2016-2019)

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Avaliação

de Políticas Públicas, da Universidade

Federal do Ceará, como requisito parcial

para obtenção do Título de Mestre em

Avaliação de Políticas Públicas. Área de

concentração Políticas Públicas e Mudanças

Sociais.

Orientador: Prof. Dr. Gil Célio de Castro

Cardoso.

Fortaleza

2019

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Universidade Federal do Ceará

Biblioteca Universitária

Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

O47p Oliveira, João Narclécio Fernandes de.

A participação da sociedade no plano plurianual (PPA) do Estado do Ceará : avaliando o

planejamento público participativo no Vale do Jaguaribe (2016-2019) / João Narclécio

Fernandes de Oliveira. – 2019.

128 f. : il. color.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Ciências Agrárias,

Mestrado Profissional em Avaliação de Políticas Públicas, Fortaleza, 2019.

Orientação: Prof. Dr. Gil Célio de Castro Cardoso.

1. Avaliação de Políticas Públicas. 2. Planejamento Público. 3. Participação Social. I.

Título.

CDD 320.6

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João Narclécio Fernandes de Oliveira

A PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE NO PLANO PLURIANUAL (PPA) DO ESTADO DO CEARÁ: AVALIANDO O PLANEJAMENTO PÚBLICO

PARTICIPATIVO NO VALE DO JAGUARIBE (2016-2019)

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Avaliação

de Políticas Públicas, da Universidade

Federal do Ceará, como requisito parcial

para obtenção do Título de Mestre em

Avaliação de Políticas Públicas. Área de

concentração Políticas Públicas e Mudanças

Sociais.

Aprovado em: 20/09/2019.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________ Profº Dr. Gil Célio de Castro Cardoso (Orientador)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________________

Profª Dra. Suely Salgueiro Chacon Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________________

Profª Dra. Victoria Régia Arrais de Paiva Universidade Federal do Cariri (UFCA)

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Ao meu amor, Monalisa, por ser

minha cúmplice e inspiração.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por tantas graças em minha vida.

À minha esposa, Monalisa, pelo companheirismo, pelos risos, pelos sonhos e pelo amor que nos une. Também pelo apoio e compreensão em minhas ausências durante as atividades do mestrado.

Aos meus avós, pais e irmãos, pelo carinho, pelas orações e por sempre acreditarem em mim.

Ao meu padrinho, Dom Jacinto Brito, pela amizade, carinho e presença em minha vida.

À Dra. Sorane Alcântara, pelo apoio e carinho maternal.

Ao Prof. Dr. Gil Célio de Castro Cardoso, pela disponibilidade, parceria, incentivo e confiança. Foi um prazer conhecê-lo e tê-lo como orientador. A você minha admiração e gratidão.

Aos colegas da turma do Mestrado em Avaliação em Políticas Públicas da UFC, pelas contribuições e pelo aprendizado, em especial aos queridos Carlos, Luiz, Eugênio e Renato pela amizade construída e pelo apoio durante as jornadas de viagens e aulas.

Ao IFCE por ter viabilizado esta oportunidade, em especial ao diretor geral do campus Tabuleiro do Norte, Francisco Sildemberny, pelo apoio e incentivo.

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“Mas eu não estou interessado

Em nenhuma teoria

Em nenhuma fantasia

Nem no algo mais

Longe o profeta do terror

Que a laranja mecânica anuncia

Amar e mudar as coisas

Me interessa mais”

Belchior, em Alucinação, 1976.

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RESUMO

No Brasil, há diversas experiências de participação social, algumas institucionalizadas e outras como políticas de gestão participativa de administrações locais. Na busca exploratória por conhecer e aprofundar temáticas relacionadas às políticas públicas, deparei-me com as experiências de participação social ligadas ao planejamento e orçamento público. Dado o histórico de instituições participativas em diversas regiões do país, o Estado do Ceará vem trabalhando a participação da sociedade em seus instrumentos legais de planejamento, principalmente no Plano Plurianual (PPA), chamado pelo governo de PPA Participativo e Regionalizado. Assim, o objetivo principal deste trabalho é avaliar a participação da sociedade no Plano Plurianual (PPA) do Estado do Ceará 2016-2019 na Região Vale do Jaguaribe. Em relação aos procedimentos metodológicos, adotou-se neste trabalho investigativo o modelo avaliativo proposto por Silva (2008): a pesquisa avaliativa. Neste modelo, a avaliação de políticas públicas é concebida por meio da relação dialética das dimensões técnica e política. A pesquisa conta com uma abordagem quantitativa e qualitativa. Realizou-se um estudo bibliográfico e documental, assim como a aplicação de questionários e entrevistas semiestruturadas. Para a análise dos dados foram utilizados softwares SPSS e Iramuteq. Os resultados demonstraram um consenso de que o PPA Participativo e Regionalizado é um espaço para que os seus participantes possam dialogar, demandar e avaliar o que foi planejado, com o intuito de contribuírem para políticas públicas mais efetivas e que levem ao desenvolvimento local e regional. A mobilização apresenta-se como o principal desafio para que haja uma maior representatividade da sociedade, participando das oficinas do PPA. Percebeu-se que nas oficinas há uma predominância de pessoas pertencentes a órgãos públicos (municipal/estadual) sobre os participantes da sociedade civil. Compreende-se que a presente experiência participativa, tendo como base o caso do Vale do Jaguaribe, ainda se mostra incipiente e simplificada em relação ao processo de participação da sociedade por esta limitar-se à definição de diretrizes estratégicas para a região.

Palavras-Chave: Avaliação de Políticas Públicas; Planejamento Público; Participação Social.

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ABSTRACT

In Brazil, there are several experiences of social participation, some institutionalized and others as participatory management policies of local administrations. In an exploratory search to know and deepen issues related to public policies, I came across experiences of social participation linked to public planning and budgeting. Given the history of participatory institutions in various regions of the country, the State of Ceará has been working on the participation of society in its legal planning instruments, especially in the Plurianual Plan (PPA), called by the government Participatory and Regionalized PPA. Thus, the main objective of this paper is to evaluate the participation of society in the Plurianual Plan (PPA) of the State of Ceará 2016-2019 in the Vale do Jaguaribe Region. Regarding the methodological procedures, this investigative work adopted the evaluative model proposed by Silva (2008): the evaluative research. In this model, the evaluation of public policies is conceived through the dialectical relationship of the technical and political dimensions. The research has a quantitative and qualitative approach. A bibliographic and documentary study was performed, as well as the application of questionnaires and semi-structured interviews. For data analysis, SPSS and Iramuteq software were used. The results showed a consensus that the Participatory and Regionalized PPA is a space for its participants to dialogue, demand and evaluate what was planned, in order to contribute to more effective public policies that lead to local and regional development. Mobilization presents itself as the main challenge for greater representation of society, participating in PPA workshops. It was noticed that in the workshops there is a predominance of people belonging to public agencies (municipal / state) over participants of civil society. It is understood that the present participatory experience, based on the case of Vale do Jaguaribe, is still incipient and simplified in relation to the process of participation of society because it is limited to the definition of strategic guidelines for the region.

Keywords: Public Policy Evaluation; Public Planning; Social Participation.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Região de Planejamento do Vale do Jaguaribe. ......................................... 21

Figura 2 - As 5 Áreas de Resultados e suas respectivas descrições. ......................... 70

Figura 3 - Diagrama do Sistema Cearense de Participação Cidadã ............................ 72

Figura 4 - As Regiões de Planejamento do Estado do Ceará. .................................... 74

Figura 5 - Estrutura do PPA 2016-2019. ..................................................................... 79

Figura 6 - Dendograma da Classificação Hierárquica Descendente (CHD). ............... 87

Figura 7 - Classificação Hierárquica Descendente (CHD) - Filograma de Palavras .... 88

Figura 8 - Análise Fatorial de Correspondência. ......................................................... 92

Figura 9 - Nuvem de Palavras – Motivação para participar das oficinas do PPA. ..... 101

Figura 10 - Nuvem de Palavras – Sugestões para um PPA mais participativo .......... 102

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Desenho institucional do Estado (Plano Diretor da Reforma - 1995). ........ 33

Quadro 2 - Ênfase temática dos planos estratégicos nacionais. ................................. 39

Quadro 3 - Valores estimados para o PPA 2016-2019 ................................................ 81

Quadro 4 - Grupos de trabalho do PPA. ..................................................................... 84

Quadro 5 - Construções Teóricas – Representantes do Governo ............................. 107

Quadro 6 - Consenso dos Representantes do Governo. ........................................... 107

Quadro 7 - Construções Teóricas – Participantes das Oficinas. ............................... 109

Quadro 8 - Consenso dos Participantes das Oficinas. .............................................. 109

Quadro 9 - Consenso entre governo e participantes do Vale do Jaguaribe. .............. 110

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Participantes por gênero e cor ................................................................... 94

Tabela 2 - Participantes por escolaridade e renda ...................................................... 96

Tabela 3 - Vínculos com entidades e preferência/filiação partidária por gênero .......... 96

Tabela 4 - Participação nas oficinas do PPA na Região Vale do Jaguaribe ................ 97

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Público participante das oficinas do PPA 2016-2019 ................................. 85

Gráfico 2 - Participantes por faixa etária ..................................................................... 95

Gráfico 3 - Percepção dos Participantes sobre o PPA na Região Vale do Jaguaribe .. 98

Gráfico 4 - Categoria do participante das oficinas do PPA 2016-2019 ...................... 105

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 14

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ...................................................... 18

2.1 Área de estudo ........................................................................................ 20

2.2 Delineamento da pesquisa ...................................................................... 22

2.3 Técnicas e instrumentos de coleta dos dados ........................................ 23

2.4 Técnicas e instrumentos de análise dos dados ...................................... 25

3 ESTADO, PLANEJAMENTO, DEMOCRACIA E PARTICIPAÇÃO ................ 27

3.1 Uma discussão sobre Estado ................................................................. 27

3.2 Planejamento como estratégia para a promoção do desenvolvimento ... 34

3.3 Democracia e participação no Brasil ....................................................... 45

4 O PLANEJAMENTO PÚBLICO E A GESTÃO PARTICIPATIVA NO ESTADO

DO CEARÁ ....................................................................................................... 58

4.1 Governos anteriores a 1987 .................................................................... 58

4.2 Tasso Jereissati (1987-1990) .................................................................. 59

4.3 Ciro Gomes (1991-1994) ........................................................................ 61

4.4 Tasso Jereissati (1995-1998 / 1999-2002) .............................................. 61

4.5 Lúcio Alcântara (2003-2006) ................................................................... 63

4.5.1 Gestão Pública por Resultados (GPR) ............................................. 63

4.6 Cid Ferreira Gomes (2007-2010 / 2011-2014) ........................................ 65

4.7 Camilo Santana (2015-Atual) .................................................................. 66

4.7.1 Os 7 Cearás ...................................................................................... 66

4.7.2 Ceará 2050 ....................................................................................... 68

4.7.3 Sistema Cearense de Participação Cidadã ...................................... 71

4.8 Regionalização do Planejamento no Ceará ............................................ 73

5 PPA PARTICIPATIVO E REGIONALIZADO DO ESTADO DO CEARÁ ....... 76

5.1 Contextualização da Participação no PPA .............................................. 76

5.2 O Processo do PPA 2016-2019 .............................................................. 77

5.3 Visão institucional do processo participativo do PPA .............................. 86

6 AVALIAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE NO PPA DA REGIÃO

VALE DO JAGUARIBE .................................................................................... 94

6.1 Visão da sociedade sobre o PPA no Vale do Jaguaribe ......................... 94

6.2 Avaliação da participação da sociedade no Vale do Jaguaribe ............ 106

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 112

REFERÊNCIAS .............................................................................................. 116

APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO .................................................................. 124

APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

(TCLE) ............................................................................................................ 126

APÊNDICE C – ROTEIRO DAS ENTREVISTAS ........................................... 128

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1 INTRODUÇÃO

Refletir sobre as políticas públicas em uma democracia, em um país como

o Brasil, definido pela Constituição Federal de 1988 como um Estado Democrático de

Direito, exige primeiramente pensar sobre participação, considerando que o Estado

deve atuar em prol da e com a sociedade. O Brasil é um país fortemente marcado

pela questão social, devido ao seu histórico de desigualdade social profunda, bem

como pela não garantia de atendimento aos direitos sociais básicos, como educação,

alimentação, moradia e saúde. Aliado a isso, ainda há a mazela dos preconceitos

relacionados à raça, à cor e ao sexo. Esta situação mostra o quanto é necessária a

formulação de políticas públicas que possam atender às demandas sociais.

A participação procede das lutas e dos movimentos por emancipação, em

um contexto de mudança de um Brasil pós-autoritário, principalmente no período da

redemocratização do país. A Carta Magna Brasileira de 1988 determina que todo o

poder provém do povo, que o exerce através de representantes eleitos ou

diretamente. Isso deixa claro o objetivo constitucional de incluir a participação popular

como mecanismo de poder. Não se prende à democracia representativa clássica, que

se limita à escolha de representantes da sociedade para exercer as funções públicas

e que devem lutar pelos direitos dos cidadãos. Assim, o Estado possui um papel

importante ao exercer as atividades de mediação, regulação e administração dos

interesses da sociedade por meio das políticas públicas. Nesse sentido, as políticas

públicas têm o objetivo de promover igualdade de oportunidades e condições para

todos.

A participação da população no planejamento das políticas públicas é um

dos principais meios de influir na definição das prioridades do governo, principalmente

nas decisões que envolvem o orçamento público. A sociedade precisa ser ouvida

durante o processo de elaboração do planejamento público, pois ela sabe bem os

problemas e carências que sofrem diariamente. Para isso, torna-se indispensável que

os gestores públicos desenvolvam mecanismos e estimulem a participação da

sociedade na gestão governamental.

No Brasil, há diversas experiências de participação social, algumas

institucionalizadas e outras como políticas de gestão participativa de administrações

locais. Em nível nacional, o Governo Federal instituiu no ano de 2014 a Política

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Nacional de Participação Social - PNPS e o Sistema Nacional de Participação Social

– SNPS. Na busca exploratória por conhecer e aprofundar as temáticas relacionadas

às políticas públicas, deparei-me com as experiências de participação social ligadas

ao orçamento público. Assim, temos como exemplo a implementação do Orçamento

Participativo (OP) ao final da década de 80, na cidade de Porto Alegre, que depois foi

expandindo-se para outros munícipios brasileiros. Muitas vezes a participação social

enfrenta barreiras a sua real efetivação. Isso reflete os embates pelo controle do poder

entre sociedade, mercado e Estado. A população, quando luta por espaços de

participação, depara-se, muitas vezes, com a própria resistência do Estado, bem

como as pressões do mercado contra as decisões de governo que possam contrariar

os interesses mercantis.

Dado o histórico de instituições participativas em diversas regiões do país,

o Estado do Ceará vem trabalhando a participação da sociedade em seus

instrumentos legais de planejamento, principalmente no Plano Plurianual (PPA),

chamado pelo governo de PPA Participativo e Regionalizado, cujo objetivo principal é

aprofundar a democracia participativa, estabelecendo uma nova dinâmica de relações

entre Estado e Sociedade.

Tomando a experiência do Estado do Ceará com o Plano Plurianual (PPA)

Participativo e Regionalizado, este pesquisador questiona-se sobre o sentido dado a

esta política de planejamento participativo: quais os objetivos, a base conceitual e os

paradigmas que são orientadores dessa política? Até que ponto há coerência entre o

que é estabelecido na política e o que é realmente efetivado? Será que os

mecanismos definidos na política são suficientes para promover a participação? Quem

é chamado a participar e quem realmente participa? Estas são algumas questões que

se colocam diante desta pesquisa, que instigam e levam o pesquisador a refletir no

trabalho sobre a temática da participação no planejamento público. Deste modo,

constitui-se uma questão fundante para este processo investigativo: como se efetiva

a participação da sociedade no Plano Plurianual (PPA) do Estado do Ceará 2016-

2019, na Região Vale do Jaguaribe?

Assim, no contexto da presente pesquisa, o objetivo geral deste trabalho é

avaliar a participação da sociedade no Plano Plurianual (PPA) do Estado do Ceará

2016-2019, na Região Vale do Jaguaribe. Para que seja possível um maior

aprofundamento sobre a referida temática, definem-se os seguintes objetivos

específicos:

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descrever as experiências de planejamento público e gestão

participativa nos governos do Estado do Ceará;

compreender os objetivos, base conceitual e premissas que são

orientadoras do PPA Participativo e Regionalizado do Estado do Ceará;

analisar a percepção dos sujeitos envolvidos (governo e sociedade) em

relação à participação social nas etapas de elaboração, monitoramento e avaliação

do PPA 2016-2019, na Região Vale do Jaguaribe;

A partir do ponto de vista político, administrativo e social, a temática que se

apresenta neste estudo possui relevância, tomando como base o desafio que é

discutir a participação da sociedade na gestão pública nos dias atuais. Por isso, os

objetivos apresentados demonstram o interesse do autor em contribuir para um

debate reflexivo que leve à compreensão e consecução de melhorias na prática de

políticas participativas no âmbito da gestão pública, bem como um aprofundamento

democrático que vá além da representação. Assim, os resultados do presente trabalho

poderão servir de subsídios tanto para os atores institucionais do Estado

(governantes/gestores/técnicos), quanto para os atores sociais (cidadãos/

organizações/movimentos).

Dessa forma, essa pesquisa pretende ater-se ao Plano Plurianual estadual

atual, que abrange o período de 2016 a 2019, dando enfoque aos processos

participativos nas etapas de elaboração, monitoramento e avaliação do referido

instrumento de planejamento, bem como refletir em que medida estes processos

configuram-se como mecanismos de democracia participativa.

Considerando as dimensões do Estado do Ceará e a inviabilidade de o

pesquisador conseguir abranger todas as 14 regiões de planejamento nessa proposta

dissertativa, esse trabalho irá ater-se à região Vale do Jaguaribe como local de

pesquisa, para um melhor aprofundamento sobre a política participativa expressa no

plano plurianual (PPA), do governo estadual.

Após apresentar o delineamento do objeto de pesquisa a ser investigado,

cabe ressaltar que esse trabalho integra a linha de pesquisa Políticas Públicas e

Mudanças Sociais, já que aborda, em seu teor, mecanismos de democratização e

participação, em meio às relações que se estabelecem entre Estado e sociedade.

Com intuito de atingir os objetivos propostos, esse trabalho encontra-se

estruturado em cinco seções, além desta introdução, que traz um delineamento do

objeto de estudo. O capítulo 2 contempla os procedimentos metodológicos,

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explicitando o desenho metodológico da avaliação investigativa, definindo e

justificando a perspectiva avaliativa da pesquisa adotada, a área de estudo, os tipos

de estudos, os métodos e as técnicas da pesquisa para a coleta e análise de dados.

No terceiro capítulo, são apresentadas as categorias teórico-analíticas que

envolvem e dão sustentação à política em estudo, a saber: Estado, planejamento,

democracia e participação. A discussão teórica apresenta uma contextualização

histórica do papel do Estado e a sua relação com a sociedade, um levantamento sobre

a função do planejamento como estratégia do Estado em busca do desenvolvimento

e, por fim, faz uma reflexão sobre as concepções de democracia e participação, bem

como as suas implicações nas tomadas de decisão do Estado.

No capítulo 4, expõe-se um levantamento sobre o planejamento público e

a gestão participativa, promovidos pelos governos do Estado do Ceará,

contextualizando um pouco do seu histórico, os projetos prioritários e outros aspectos

importantes que caracterizam a gestão pública estadual.

O quinto capítulo aborda o PPA Participativo e Regionalizado do Estado do

Ceará, com o intuito de compreender os seus objetivos, base conceitual e premissas

orientadoras. Apresenta uma visão institucional do planejamento participativo, a partir

da percepção de representantes da área de planejamento do governo estadual.

O capítulo 6 apresenta a percepção da sociedade sobre a participação no

PPA da região do Vale do Jaguaribe, bem como uma avaliação do referido processo

participativo, por meio do Círculo Hermenêutico-Dialético (CHD). Por fim, o capítulo 7

apresenta as considerações finais.

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2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Inicialmente, vale frisar que este Programa de Pós-Graduação em

Avaliação de Políticas Públicas objetiva a formação de profissionais capazes de

avaliar políticas públicas através de uma perspectiva interdisciplinar crítica e prática,

através de metodologias já existentes, ou por meio de novas propostas metodológicas

que possam contribuir com as ações do Estado. Por essa razão, vale frisar alguns

aspectos relevantes sobre o significado de avaliação, até se chegar, propriamente

dito, na avaliação de políticas públicas.

Conforme Silva (2013, p. 42) esclarece, avaliação, em seu sentido

etimológico, constitui a ação de atribuir valor, definindo algo como bom ou ruim,

positivo ou negativo. Trata-se de um julgamento valorativo, com base em

determinados critérios. A autora explica que a avaliação “não é um ato neutro nem

exterior às relações de poder, mas é um ato eminentemente político que integra o

contexto de um programa público”.

Ramos e Schabbach (2012, p. 1273) comentam que a avaliação de

políticas públicas deve ser constituída por um julgamento sistemático e o mais objetivo

possível, e que “ao incorporar elementos valorativos e de julgamento, a avaliação

contempla aspectos qualitativos, não se confundindo com o mero acompanhamento

das ações governamentais”.

Ao tratar da avaliação, Silva (2013, p. 38) faz alguns apontamentos sobre

a prática avaliativa no contexto da redemocratização brasileira:

Pode-se considerar que, no Brasil, a avaliação de políticas e programas sociais não se constituiu numa tradição sistemática. Foi muito mais motivada, primordialmente, pelo caráter fiscalizatório e policialesco, formal e burocrático. Todavia, verifica-se sua expansão a partir dos anos 80, impulsionada pela redemocratização brasileira, expressando a demanda de grupos sociais organizados pela ampliação da cidadania; demanda pela universalização das políticas sociais; por melhoria das condições de vida; e busca por práticas participativas descentralizadas nos processos das políticas sociais, transparência, controle social democrático e instrumentalização das lutas sociais (SILVA, 2013, p. 38).

De acordo com Rodrigues (2008, p. 8), a avaliação de políticas públicas

ganhou ênfase nas administrações públicas da América Latina, no contexto da

reforma do Estado, ao final dos anos 1980 e início da década de 1990. O interesse

acentuado dos governos nessa temática foi por conta das exigências de organismos

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internacionais de financiamento, que exigiram a formulação e implementação de

sistemas de acompanhamento e avaliação dos programas financiados por estes.

Destaca-se aí o caráter gerencialista da função de avaliar os projetos financiados,

baseado nos ideais neoliberais, que objetivam lograr êxito com a reforma estatal

(RODRIGUES, 2008, p. 8).

Com relação aos modelos de avaliação, Tinôco, Souza e Oliveira (2011, p.

308) destacam o modelo tradicional e o pluralista. A avaliação tradicional foca nos

efeitos da política através de um sistema causal, para tentar explicar o funcionamento

e os resultados. É caracterizado como um modelo mais técnico e baseado no

paradigma positivista, atendo-se, na maioria das vezes, à dimensão econômica para

demonstrar o sucesso ou o fracasso da política ou programa. Um exemplo desse

modelo é o método experimental, que utiliza grupo de controle, expondo uma amostra

da ação pública e outra não, com a intenção de medir os possíveis resultados da

implementação da política. Já a concepção pluralista de avaliação não se prende à

ação de verificar se os efeitos e impactos provocados pela ação pública conferem com

o que foi estabelecido na política. A avaliação pluralista defende a inserção dos

diversos atores envolvidos na política para avaliar a ação do governo, propiciando

uma construção coletiva. Esse tipo de avaliação parte do pressuposto que a verdade

é relativa e que uma política pública não pode ser estudada sem considerar os atores,

o ambiente e o contexto. Esse modelo está ligado ao paradigma construtivista, que se

opõe ao positivismo (TINÔCO; SOUZA; OLIVEIRA, 2011, p. 309).

O modelo tradicional de avaliação, do tipo gerencial, é amplamente adotado

pela administração pública, devido às características e à relação com os objetivos da

reforma do Estado. Entretanto, os mecanismos do modelo pluralista têm se destacado

e vêm sendo adotados por alguns governos, principalmente em municípios, por meio

de uma maior descentralização e abertura para participação da sociedade, nos

processos das políticas públicas (TINÔCO; SOUZA; OLIVEIRA, 2011, p. 311).

Considerando o objetivo geral de avaliar a participação da sociedade na

experiência do PPA no Estado do Ceará, esse trabalho investigativo adota o modelo

avaliativo proposto por Maria Ozanira da Silva e Silva (2008): a pesquisa avaliativa.

Em sua obra intitulada Pesquisa Avaliativa: aspectos teórico-

metodológicos, Silva (2008, p. 19) revela que a base teórico-metodológica da

avaliação de políticas públicas é concebida por meio da relação dialética das

dimensões técnica e política. A autora complementa que a avaliação de políticas

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públicas “é orientada por intencionalidades, sua dimensão política, e por um conjunto

de procedimentos científicos que a qualifica como geradora de conhecimento”.

Silva (2008, p. 44) destaca algumas características do seu modelo teórico-

metodológico de avaliação de políticas e programas sociais:

A pesquisa avaliativa assim percebida valoriza a análise crítica da política ou programa avaliado; busca os princípios e fundamentos teórico-conceituais da política ou programa; considera os sujeitos e interesses envolvidos no processo; fundamenta-se em valores e concepções sobre a realidade social partilhados pelos sujeitos da avaliação: demandantes, avaliadores, beneficiários e informantes; e contrapõe-se a ideia de neutralidade, não percorrendo um caminho único. Nesse sentido, os resultados de qualquer avaliação são considerados parciais e questionáveis, como toda teoria sobre o social o é. Não tem, por conseguinte, o poder de uma verdade inquestionável, até porque todo saber científico sobre a sociedade é uma interpretação histórica, parcial e relativa (SILVA, 2013, p. 44).

Segundo Silva (2013, p. 44) informa, a pesquisa avaliativa possui

fundamentalmente três funções:

- Função técnica, fornecendo subsídios para correção de desvios no decorrer do processo de implementação de um programa, indicando em que medida, objetivos e mudanças ocorreram e subsidiando a elaboração ou o redimensionamento de políticas e programas. - Função política, oferecendo informações para sujeitos sociais fundamentarem lutas sociais para o controle social das políticas públicas. - Função acadêmica, desvelando determinações e contradições contidas no processo e no conteúdo das políticas públicas, evidenciando os significados mais profundos dessas políticas (sua essência) para a construção do conhecimento (SILVA, 2013, p. 44).

Como bem esclarece Silva (2013, p. 70), as pesquisas avaliativas adotam

os métodos, técnicas e procedimentos utilizados pela pesquisa social. Demo (1995,

p. 134) enfatiza que a pesquisa social é voltada para a realidade concreta e histórica,

pois entende que esse tipo pesquisa tratará algo sobre a realidade, de outra maneira,

não poderia ser chamada de social.

2.1 Área de estudo

Como já informado no capítulo introdutório, esse trabalho irá ater-se à

região Vale do Jaguaribe como local de pesquisa, para um melhor aprofundamento

sobre a política participativa expressa no plano plurianual (PPA) do governo estadual.

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Figura 1 - Região de Planejamento do Vale do Jaguaribe.

Fonte: Ipece (CEARÁ, 2015f).

A região Vale do Jaguaribe, enquanto região de planejamento do Estado

do Ceará, é composta por 15 municípios, conforme listado a seguir: Alto Santo, Ererê,

Iracema, Jaguaretama, Jaguaribara, Jaguaribe, Limoeiro do Norte, Morada Nova,

Palhano, Pereiro, Potiretama, Quixeré, Russas, São João do Jaguaribe e Tabuleiro

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do Norte. Essa região possui uma área total de 15.006,77 km², representando 10,08%

da área do estado, e uma população estimada em 390.693 habitantes no ano de 2017,

equivalendo a 4,33% da população cearense (CEARÁ, 2018a).

A escolha da Região de Planejamento Vale do Jaguaribe como local de

estudo deve-se aos conflitos socioambientais, marcantes nessa região do Ceará.

Esses conflitos giram em torno, principalmente, do acesso/uso da terra e da água, em

áreas onde o Estado, por meio do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca

(DNOCS), implantou perímetros irrigados, a exemplo do Perímetro Irrigado Jaguaribe-

Apodi e Perímetro Irrigado Tabuleiros de Russas. Conforme Rigotto e Freitas (2012),

a implantação dos perímetros irrigados e a expansão do agronegócio nessas regiões,

com a promessa de desenvolvimento, acabaram trazendo problemas sociais: invasão

de terras, precarização do trabalho, contaminação por agrotóxico e violência no

campo.

Diante de uma região conflituosa nas relações entre

Estado/mercado/sociedade é que se adota o Vale do Jaguaribe como local de estudo

da política de planejamento participativo do Estado do Ceará, com o objetivo de avaliar

a participação da sociedade no Plano Plurianual.

2.2 Delineamento da pesquisa

Em relação à metodologia, Lakatos e Marconi (2003, p. 83) conceituam-na

como uma sequência de atividades sistemáticas e racionais, que permitem alcançar

o objetivo com maior segurança, determinando o caminho a ser percorrido, detectando

erros e auxiliando as decisões do pesquisador. Inicialmente, a pesquisa foi composta

por uma etapa exploratória. Cervo, Bervian e Silva (2007) citam que a pesquisa

exploratória tem como principal intuito familiarizar-se com o objeto de estudo ou

adquirir uma nova percepção sobre ele e encontrar novas ideias.

Dessa forma, os estudos exploratórios sobre a temática do objeto de estudo

foram realizados tomando como base as pesquisas bibliográfica e documental. A

pesquisa bibliográfica serviu de subsídio para fundamentar as discussões teóricas

relacionadas ao objeto de estudo. Para tanto, foram adotadas as seguintes categorias

teóricas, como orientadoras desse trabalho: Estado, planejamento e democracia e

participação. As fontes de dados utilizadas para a pesquisa bibliográfica foram livros

e artigos científicos. Gil (2008, p. 50) destaca que “a principal vantagem da pesquisa

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bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de

fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente”.

A pesquisa documental foi fundamental para levantar informações a

respeito dos objetivos, base conceitual e paradigmas orientadores do PPA

participativo e regionalizado do Estado do Ceará. Nessa pesquisa foram exploradas

as seguintes fontes de dados: leis, decretos, portarias, documentos internos, projetos,

relatórios, atas de reuniões, dados estatísticos, artigos, jornais, sites oficiais do

governo estadual e suas secretarias, entre outros.

2.3 Técnicas e instrumentos de coleta dos dados

Com o intuito de levantar informações relacionadas à percepção dos

sujeitos envolvidos com as etapas de elaboração, monitoramento e a avaliação do

PPA do Estado do Ceará, realizou-se uma pesquisa empírica. Dentre as técnicas da

pesquisa para a coleta de dados necessários a essa etapa, foram aplicados

questionários e entrevistas.

Os questionários foram estruturados com perguntas fechadas e abertas,

construídos com base nos conceitos teóricos, sendo aplicados junto aos sujeitos que

participaram das oficinas de elaboração, monitoramento ou avaliação do PPA 2016-

2019, na região de planejamento do Vale do Jaguaribe. Com relação à amostra,

adotou-se a amostragem aleatória simples, na qual todos os que integram a

população pesquisada têm a mesma probabilidade de pertencer à amostra, já que os

questionários foram aplicados durante uma oficina regional do PPA e também por

meio de formulário eletrônico, via e-mail. O tamanho da amostra foi calculado com

base em uma população finita, composta por 184 pessoas que participaram das três

oficinas do PPA no Vale do Jaguaribe. O nível de confiança admitido foi de 90% e a

margem de erro de 10%, chegando-se a uma amostra de 39 participantes. Segue

abaixo a fórmula utilizada para o cálculo da amostra:

Assim, foram aplicados 40 questionários. Para definir quem integraria a

amostra, adotou-se o seguinte critério de inclusão: ter participado de no mínimo um

encontro do PPA 2016-2019, na Região Vale do Jaguaribe, levando-se em

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consideração que, ao todo, foram realizados três encontros na região. No questionário

foi adotada a Escala de Likert em uma das questões, onde o respondente pôde atribuir

um valor para cada uma das afirmativas apresentadas, em um intervalo de 1 (discordo

totalmente) a 7 (concordo totalmente).

Em relação às entrevistas, foram realizadas com quatro representantes da

área de planejamento do governo estadual, sendo três membros da Secretaria do

Planejamento e Gestão do Estado do Ceará (SEPLAG), que tem a responsabilidade

de coordenar todo o processo de planejamento estadual, e um membro da Unidade

Setorial de Planejamento, ligada à Secretaria de Saúde (SESA). A escolha dos

sujeitos a serem entrevistados foi realizada com base no envolvimento e

conhecimento dos mesmos em relação aos processos de elaboração, monitoramento,

avaliação e revisão do PPA 2016-2019. Para tanto, foram definidos alguns critérios de

inclusão: 1) ter participado de encontros regionais do PPA 2016-2019, portanto ser

conhecedor da dinâmica do objeto em estudo e 2) ter experiência e atuar na área de

planejamento do governo estadual há no mínimo 8 anos, para que fosse possível fazer

comparações do planejamento atual (PPA 2016-2019) com o anterior (2011-2015). A

amostra de quatro participantes foi definida durante o processo das entrevistas e

mostrou-se suficiente, ao observar que havia certa homogeneidade entre os discursos

dos entrevistados e que a coleta de novos dados não traria mais explicações para o

presente estudo. As entrevistas foram semiestruturadas, compostas por um roteiro de

perguntas previamente definidas, bem como por outras questões que pudessem surgir

durante as entrevistas com o intuito de obter melhores esclarecimentos. Para a

referida coleta de dados, o pesquisador valeu-se de uma abordagem qualitativa.

Também foram realizados estudos empíricos, mediante observação

simples de um encontro regional para avaliação do PPA no Vale do Jaguaribe.

Conforme Silva (2013, p. 95), a observação científica “é um instrumento relevante para

o desenvolvimento de pesquisas qualitativas, via de regra, utilizado concomitante ou

articuladamente com outros procedimentos”. A referida autora explica que, entre os

tipos de observação científica, há a observação participante, quando o avaliador faz

parte do grupo pesquisado (observação natural) ou mesmo quando não integra a

população investigada (participação artificial), realizando as tarefas que são de sua

responsabilidade e coletando as informações sobre o grupo estudado. A observação

aqui proposta segue o entendimento adotado por Gil (2008), que descreve a

observação simples como “aquela em que o pesquisador, permanecendo alheio à

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comunidade, grupo ou situação que pretende estudar, observa de maneira

espontânea os fatos que aí ocorrem”. Apesar de não haver regras sobre o que deve

ser observado, o pesquisador pretende considerar os seguintes fatores durante a

observação: os sujeitos (quem participa, sexo, faixa etária, quem representam etc.) e

o comportamento social (o que ocorre durante o encontro de avaliação, como se dão

as relações entre os sujeitos, os discursos e a linguagem utilizada etc.).

2.4 Técnicas e instrumentos de análise dos dados

Para analisar os dados coletados, fez-se necessário organizá-los de forma

que fosse possível a obtenção de informações capazes de atender aos objetivos que

foram propostos nesse estudo. Em relação à análise dos questionários, inicialmente

foi realizada a codificação e tabulação dos dados brutos. Para análise, foi utilizado o

software estatístico SPSS. Por meio desse sistema, foi realizada a análise descritiva

dos dados, por meio de medidas de tendência central, bem como de dispersão. Foram

construídos gráficos e tabelas para facilitar a análise dos resultados.

Já para análise e interpretação dos dados obtidos por meio das entrevistas,

adotou-se a análise de conteúdo. Bardin (2016, p. 48) conceitua a análise de conteúdo

como:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens (BARDIN, 2016, p. 48).

A análise de conteúdo é formada pelas seguintes etapas: pré-análise,

exploração do material e o tratamento dos resultados/inferência/interpretação

(BARDIN, 2016, p. 125). Através dessa trajetória de análise sobre o conteúdo das

entrevistas, pretendeu-se compreender, criticamente, as falas dos sujeitos

entrevistados, a partir de uma interpretação dos resultados encontrados com o apoio

da fundamentação teórica adotada nesse trabalho investigativo.

Em se tratando de abordagem qualitativa, adota-se, nessa pesquisa

avaliativa, o Círculo Hermenêutico Dialético (CHD), que é uma técnica que pode ser

utilizada por meio de entrevistas e questionários. Conforme Oliveira (2011, p. 236),

esse modelo adota os pressupostos teóricos do método pluralista construtivista de

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Guba e Lincoln (1989), no método de análise de conteúdo de Bardin (1977) e no

método hermenêutico-dialético de Minayo (2004).

Oliveira (2011, p. 237) destaca que:

O CHD se configura como um processo dialético, em que são realizados constantes diálogos, críticas, análises, construções e reconstruções, durante o processo da coleta de dados. Por meio desta dinâmica, é que se pode chegar o mais próximo possível da compreensão da realidade (OLIVEIRA, 2011, p. 237).

Conforme relata Minayo (2004, p. 231),

O método hermenêutico-dialético é o mais capaz de dar conta de uma interpretação aproximada da realidade. Essa metodologia coloca a fala em seu contexto para entendê-la a partir do seu interior e no campo da especificidade histórica e totalizante, em que é produzida. (MINAYO, 2004, p. 231).

Para análise das entrevistas e das questões abertas dos questionários, foi

utilizado o software Iramuteq. Conforme Camargo e Justo (2013, p. 515), trata-se de

um software livre, desenvolvido com base no software R, e que permite fazer análises

estatísticas sobre corpus textuais.

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3 ESTADO, PLANEJAMENTO, DEMOCRACIA E PARTICIPAÇÃO

Aqui são apresentadas as categorias teórico-analíticas que dão suporte à

política em estudo: Estado, planejamento, democracia e participação. Essa discussão

teórica proporciona uma contextualização histórica do papel do Estado e a sua relação

com a sociedade, um levantamento sobre a função do planejamento como estratégia

do Estado em busca do desenvolvimento e, por fim, faz uma reflexão sobre as

concepções de democracia e participação, bem como as suas implicações nas

tomadas de decisão do Estado.

3.1 Uma discussão sobre o Estado

Ao tratar de planejamento público e política pública de participação, faz-se

necessário incialmente uma discussão sobre Estado, explorando e contextualizando

historicamente a evolução da sua função e objetivos, para que se tenha uma

compreensão das relações hoje existentes entre Estado e Sociedade.

Para um melhor entendimento, Matias-Pereira (2014, p. 20) apresenta uma

síntese sobre as principais teorias da origem do Estado, conforme as explicações a

seguir:

A primeira está relacionada às teorias naturalistas ou da origem natural do Estado – Aristóteles, Cícero, Santo Tomás de Aquino. O homem enquanto ser social, por sua própria natureza, necessita, para se realizar, viver em sociedade. Assim, o Estado aparece como uma necessidade humana fundamental. A segunda explicação está vinculada às terias voluntaristas, contratualistas ou da origem voluntária do Estado. O Estado não se forma de uma maneira natural, mas porque os indivíduos voluntariamente o desejam. É, portanto, produto de um acordo de vontades entre os indivíduos. (MATIAS-PEREIRA, 2014, p. 20).

Para Santos (2014, p. 21), “o Estado é a entidade político-social

juridicamente organizada para executar os objetivos da soberania nacional”. Na

conceituação de Matias-Pereira (2014, p. 1), o Estado tem a função precípua de

promover o bem comum. Destaca ainda que o conceito de Estado deve ser

considerado por meio de três aspectos distintos e que se complementam: o

sociológico, o político e o constitucional. Por meio de um Estado organizado, com

território geográfico demarcado, estruturado político, social e juridicamente, o cidadão

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é possibilitado para exercer a sua cidadania. O autor apresenta a visão de teóricos

sobre o Estado:

Os teóricos que cuidam da análise desta finalidade do Estado desdobram-na em três vertentes: o bem-estar, a segurança e a justiça. A interdependência dos fins do Estado assume particular importância em relação à grande e última finalidade do Estado: a promoção do bem comum. O Estado, nesse sentido, enquanto forma de organização política por excelência da sociedade, pode ser aceito como o espaço natural de desenvolvimento do poder político. (MATIAS-PEREIRA, 2014, p. 1).

Diversos conceitos e entendimentos sobre o Estado são encontrados na

literatura, podendo ser distintos ou complementares, a depender da perspectiva e do

contexto histórico. Maquiavel, que é considerado o pai da Ciência Política moderna,

define o Estado como sociedade política organizada, constituída de autoridade própria

e de um conjunto de regras que possibilitem o convívio social (MATIAS-PEREIRA,

2014, p. 19).

Para Hobbes, o Estado apresenta-se como ordem absoluta e controladora,

com o intuito de evitar que os homens vivessem em constante guerra, cabendo aos

cidadãos obedecer, sem questionar, as regras e limites impostos pelo Estado. Esse

poder regulador e soberano era compreendido como necessário para a preservação

da vida humana (MATIAS-PEREIRA, 2014, p. 25).

Marx entendia que o Estado não representava necessariamente o bem

comum, já que apresentava uma visão política da classe dominante ligada à produção,

a burguesia. Assim, o Estado é caracterizado como instrumento político dessa

dominação. Somente um Estado democrático seria capaz de expressar o interesse

comum (CARNOY, 1988, p. 66).

Engels, ao tratar das origens do Estado, diz que este surge da necessidade

de ter controle sobre os conflitos sociais causados por interesses econômicos distintos

e que a classe com poder dominante realizava esse controle do Estado. O intuito é

manter a “ordem”, expressando o interesse de domínio econômico exercido pela

burguesia (CARNOY, 1988, p. 69).

A respeito do papel do Estado na sociedade e na economia, Adam Smith,

em seu livro A Riqueza das Nações (1776), apresenta uma visão clássica do

pensamento liberal em que defende uma atuação limitada do Estado às seguintes

funções: garantir segurança, zelar pelo cumprimento de contratos e realizar serviços

essenciais de utilidade pública. Essa atuação limitada do Estado estende-se à

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Economia, quando os liberais defendem o laissez-faire (não intervenção estatal), na

ideia de que o mercado tem as virtudes necessárias para promover a eficiência, a

justiça e a riqueza (PAULA, 2005, p. 28).

Com as fortes crises econômicas nas primeiras décadas do século XX,

John Maynard Keynes apresenta alternativas para atuação do Estado frente ao

modelo econômico liberal até então vigentes. Defendia que era necessário o Estado

intervir na economia, ampliando os gastos do governo para estimular a economia,

gerando empregos e possibilitando o bem estar social. É a chamada doutrina

keynesiana (PAULA, 2005, p. 29).

Na visão de Bresser-Pereira (2010, p. 113), o Estado destaca-se

historicamente como instituição responsável pelas ações sociais e econômicas de

uma nação, buscando alcançar seus objetivos políticos: segurança, liberdade, bem-

estar econômico, justiça social e proteção da natureza. O referido autor apresenta a

sua concepção sobre o papel do Estado:

O Estado, na área econômica e social, não é, como supõem os neoliberais, apenas uma espécie de mal necessário em contraposição a um bem em si mesmo que é o mercado. Historicamente, é o instrumento por excelência de ação coletiva da nação. É o instrumento que cada sociedade nacional usa para alcançar seus cinco objetivos políticos. É a instituição maior de qualquer sociedade. É a instituição cujo papel é regular e coordenar com autoridade as ações sociais de todos os tipos. É a instituição que, no plano econômico, regula uma outra instituição-mecanismo de concorrência – o mercado – na coordenação da produção e da distribuição de renda. As sociedades continuam a contar fundamentalmente com o Estado para alcançar seus objetivos políticos, enquanto contam com o mercado para promover a alocação eficiente dos recursos de forma a lograr o desenvolvimento econômico, mas, mesmo para isso, sabem que precisam do Estado para corrigir as falhas do mercado e promover a acumulação de capital e o progresso técnico e científico. (BRESSER-PEREIRA, 2010, p. 113 e 114).

Duarte Jr (2011, p. 137) comenta que o Estado Social, Wefare State, foi

constituído para garantir os direitos sociais, atendendo ao interesse público. Por isso,

o Estado exerce o seu papel de defensor do interesse público ao intervir na economia,

sendo chamado de Estado Providência e/ou de Bem-Estar Social. O autor explica que

esse modelo de Estado surgiu devido à desigualdade social provocada pelas crises

econômicas após a Primeira Guerra Mundial, por isso havia a necessidade de

proteger a sociedade, por meio de serviços públicos e de prestações sociais.

O neoliberalismo surge como uma reação ao Estado Social, tendo como

objetivo o enfraquecimento do Estado, tentando diminuir o seu tamanho e as suas

funções sociais. Era uma tentativa de regresso ao Estado Liberal (século XIX), não

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democrático, onde se tinham garantidos os direitos civis, mas eram negados os

direitos sociais e políticos, já que não havia o sufrágio universal (BRESSER-

PEREIRA, 2010, p. 113).

Segundo Matias-Pereira (2014, p. 59), o Estado brasileiro teve uma lenta

ampliação das políticas sociais entre os anos 1930 e a década de 80, quando passou

abranger a população de uma forma mais ampla, com direitos que antes eram

privilégio de algumas categorias de trabalhadores. A Constituição Federal de 1988 foi

um marco na área social, já que aumentou, consideravelmente, os direitos de

cidadania, passando a ser universais. Mesmo assim, na visão do supracitado autor, o

Brasil não chegou a ter um Estado de Bem Estar, como o que havia em muitos países

europeus, de caráter universalista.

Carvalho (2010, p. 245) chama a atenção sobre duas configurações que

são contraditórias e marcantes nos Estados latino-americanos contemporâneos:

O Estado Democrático, ampliado pela via da política, a privilegiar a dimensão do público, encarnando a perspectiva da ampliação dos direitos. Estado Ajustador, regido pela lógica da mercantilização, a destituir a política, ajustando-se aos ditâmes da ordem do capital (CARVALHO, 2010, p. 245).

Assim, percebe-se a coexistência de um Estado marcado pelo modelo

democrático, Estado Democrático, apresentando os interesses sociais de uma classe

social que luta por cidadania, bem como marcado pelo modelo neoliberal, Estado

Ajustador, que representa os interesses de uma classe dominante, que defende uma

ampliação do mercado e uma redução do Estado.

Conforme a visão de Carvalho (2010, p. 244), o Estado Ajustador “ajusta e

ajusta-se ao padrão de acumulação e formas de valorização do capital”. Esse modelo

mostra-se dominante na América Latina, mesmo em governos tidos como

progressistas, a exemplo do Brasil, quando teve governos considerados de esquerda.

Em meio aos ajustes das configurações de Estado, Marques (2015, p. 183)

destaca a agenda promovida por organizações multilaterais, a partir do final dos anos

80, como Banco Mundial e OCDE, para que os países do sul centrassem na

redefinição das funções do Estado, principalmente as funções voltadas à regulação.

O autor explica que havia uma visão negativa do Estado e que era preciso priorizar

uma eficiência maior na área pública, inserindo a concorrência com o setor privado e

introduzindo ferramentas de gestão privada no setor público. Isso incluía ainda a

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criação órgãos reguladores e o incentivo para que empresas privadas produzissem

bens e serviços públicos.

Bacelar (2003, p. 2) apresenta algumas características do Estado brasileiro

no período compreendido entre 1920 e 1980, bem como trata da herança das políticas

públicas no Brasil:

O Estado brasileiro é, tradicionalmente, centralizador. A pouca ênfase no bem-estar, ou seja, a tradição de assumir muito mais o objetivo do crescimento econômico e muito menos o objetivo de proteção social ao conjunto da sociedade, fez com que o Estado adquirisse uma postura de fazedor e não de regulador. Nós não temos tradição de Estado regulador, mas de Estado fazedor, protetor; não temos tradição de Estado que regule, que negocie com a sociedade os espaços políticos, o que só hoje estamos aprendendo a fazer. O Estado regulador requer o diálogo entre governo e sociedade civil, e nós não temos tradição de fazer isso. O Estado centralizador, em muitos momentos da nossa vida recente, junta-se ao autoritário: tivemos uma longa ditadura no período Vargas e, depois, uma longa ditadura nos governos militares pós-64. Então, o viés autoritário é muito forte nas políticas públicas do país (BACELAR, 2003, p. 2).

Durante esse período, políticas públicas sociais eram tratadas de forma

secundária, já que o perfil desenvolvimentista do país, naquele tempo, fazia com que

políticas públicas de cunho econômico e industrial fossem tratadas como prioritárias.

Isso levou o país a avançar economicamente, alcançando o posto de oitava economia

do mundo. Por outro lado, a riqueza do país ficou concentrada e gerou graves

problemas sociais de desigualdade (BACELAR, 2003, p. 2).

Durante os anos 90, o Estado brasileiro foi marcado pela reforma estatal,

tendo como objetivo a melhoria na eficiência do Estado na prestação de serviços, bem

como assumir o modelo econômico neoliberal. Ao tratar da reforma, Silva (2013, p.

39) comenta que o formato do Estado é reformulado, “que, de interventor (executor),

passa a assumir funções mantenedoras (financiador) e reguladoras (elaboração de

normas e controles)”.

Ao tratar da transição de Estado interventor para regulador no Brasil,

Duarte Jr (2011, p. 139) relata que “o Estado Social começou a ruir em decorrência

de fatores endógenos: crise fiscal, crise da forma de intervenção no domínio

econômico e no social e crise na forma burocrática de administrá-lo”. Além disso, o

autor acrescenta fatores internacionais que pressionaram o país a realizar uma

reforma estatal: “a globalização, a era da informatização e o fim da guerra fria”.

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Dentre as reformas do Estado ocorridas no Brasil, Bresser-Pereira (2010,

p. 172) dá destaque a duas. O referido autor cita, incialmente, a reforma burocrática

brasileira, que teve inicio em 1937, no primeiro governo de Getúlio Vargas,

responsável por transformar o Estado patrimonial em burocrático, baseando-se no

Estado de direito e na competência técnica. A outra reforma brasileira destacada pelo

autor foi a que transformou o Estado burocrático em gerencial, a reforma da gestão

pública, tendo sido iniciada em 1995 no governo de Fernando Henrique Cardoso e

que buscou fazer com que o Estado fosse “capaz de prestar ou financiar serviços

sociais, culturais e científicos com baixo custo e boa qualidade” (BRESSER-

PEREIRA, 2010, p. 174).

Segundo Bresser-Pereira (2010, p. 112), a reforma gerencial do Estado

ocorreu para atender a demanda de serviços públicos dotados de maior eficiência. O

autor destaca o papel e os desafios que se impõem, para que se possa governar o

Estado:

No mundo contemporâneo, o Estado como regime político assumiu a forma de Estado Democrático Social, e como organização, a de Estado Gerencial. Governar é fazer os compromissos para alcançar a maioria, é definir as leis e políticas públicas, é tomar decisões estratégicas voltadas para o interesse público nacional – é aperfeiçoar e garantir o Estado enquanto regime político. Mas governar é também administrar a organização do Estado, é escolher os principais responsáveis por sua implantação, é detalhar e colocar em prática as leis e políticas, é aperfeiçoar constantemente o aparelho do Estado de forma a operar os serviços públicos com qualidade e eficiência – é tornar o Estado, Estado Gerencial. (BRESSER-PEREIRA, 2010, p. 112)

Matias-Pereira (2012, p. 117) comenta que a reforma do Estado foi além

de uma reestruturação administrativa e busca por equilíbrio fiscal e econômico. Teve

como propósito principal o reforço do processo de democratização, a estabilidade na

economia e o desenvolvimento do país de forma sustentável. Exige que o Estado

atenda as demandas da sociedade por meio da prestação de serviços públicos

essenciais, dotados de qualidade e de baixos custos para a sociedade.

Silva (2013, p. 39), comenta sobre o papel da avaliação de políticas de

públicas no âmbito do plano de reforma do Estado brasileiro:

Nesse contexto, a avaliação passa a ser utilizada principalmente como mecanismo de controle social das políticas públicas, pelo Estado, com intensa participação de avaliadores externos, na busca da eficiência dos gastos públicos e da eficácia dos programas sociais, com focalização nos grupos mais pobres e vulneráveis. Visa superar restrições financeiras do

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Estado, com redução e controle sobre os gastos públicos (SILVA, 2013, p. 39).

Com base no Plano Diretor da Reforma do Estado que foi difundida pelo

Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado (Mare) em 1995, Cardoso

Júnior, Pinto e Linhares (2010, p. 220) apresentam um esboço com o desenho

institucional geral de Estado proposto pela reforma, conforme consta no Quadro 1.

Quadro 1 - Desenho institucional do Estado (Plano Diretor da Reforma - 1995).

Formas de propriedade Formas de administração

Estatal Público

não estatal Privada Burocrática Gerencial Tipo de entidade

Núcleo estratégico de governo

Presidência da República Legislativo Judiciário Ministério Público e Cúpula Ministerial

- -

Administração pública burocrático-gerencial: valores racionais, burocráticos e weberianos

Administração pública burocrático-gerencial: valores gerenciais

Secretarias formuladoras de políticas públicas/ contratos de gestão

Unidades descentralizadas de governo

Regulamentação, fiscalização, fomento, segurança pública e seguridade social

- - -

Administração pública gerencial: racionalidade privada na administração pública

Agências executivas e agências reguladoras

Serviços não exclusivos do Estado

-

Universidades, escolas, hospitais e centros de pesquisa

- -

Administração pública gerencial: racionalidade privada na administração pública

Organizações sociais

Produção pelo mercado

- - Empresas estatais

- - Empresas privadas

Fonte: Cardoso Júnior, Pinto e Linhares (2010, p. 220).

Com uma visão geral sobre essa reforma gerencialista do Estado, Cardoso

Júnior, Pinto e Linhares (2010, p. 220) fazem alguns elogios e críticas à configuração

do Estado proposta pela reforma. Em relação aos pontos positivos, os autores

destacam: valorização de aspectos e procedimentos relacionados ao mérito como

base para a seleção e progressão funcional na administração pública; organização e

fortalecimento das carreiras tidas como exclusivas de Estado; modernização dos

órgãos públicos, com a inserção da informatização e melhoria do gerenciamento de

informações para fortalecer a tomada de decisões; institucionalização de entes

públicos não estatais (organizações sem fins lucrativos) para atuarem em atividades

e ações governamentais. Os referidos autores destacam alguns pontos que

consideram menos consensuais: o foco sobredimensionado em um modelo de gestão

pautada no desempenho e resultados individuais, sem dar uma atenção necessária

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aos processos cotidianos das organizações; a adoção de reformas aplicadas em

outros países sem as devidas adequações ao contexto local, sem uma análise crítica

de ações, já se mostravam inadequadas ao setor público; a ênfase no alcance de

resultados quantitativos maiores, com a mesma ou menor quantidade de recursos

humanos e financeiros.

As críticas à reforma do aparelho estatal, apresentadas por Cardoso Júnior,

Pinto e Linhares (2010, p. 220), estão relacionadas aos seguintes aspectos:

- A reforma gerencial brasileira foi incompleta e acabou gerando maior fragmentação dos aparelhos de Estado, com reforço do hibridismo institucional presente em toda a máquina pública brasileira. - A reforma não democratizou o funcionamento dos aparelhos de Estado, imprimindo na verdade um caráter manipulador à gestão participativa que se considerava em curso. - Os controles sociais da gestão pública ou não existiam de fato, ou eram ainda basicamente formais, bastante precários e limitados. - A suposta “orientação para o serviço público” não desprivatizou o Estado e seu funcionamento orientado para o (e pelo) mercado (CARDOSO JÚNIOR; PINTO; LINHARES, 2010, p. 220).

Depois dessa discussão sobre Estado e a sua contextualização histórica

no Brasil, discute-se, a seguir, sobre o planejamento e a sua importância estratégica

para o desenvolvimento do Estado.

3.2 Planejamento como estratégia para a promoção do desenvolvimento

Em um mundo contemporâneo com tantas mudanças provocadas por

revoluções tecnológicas, crises políticas e econômicas, administrar uma empresa ou

organização pública torna-se um grande desafio para qualquer gestor. A tomada de

decisões não deve ocorrer de forma improvisada, pressionada pelas necessidades e

mudanças repentinas. Enfrentar esses desafios requer a utilização de uma ferramenta

essencial para o desenvolvimento de qualquer instituição: o planejamento.

Na área de administração e em suas teorias, podem ser encontradas

diversas e diferentes definições para descrever o planejamento. Na visão de Santos

(2014, p. 62), o planejamento é um processo que tem como propósito a definição de

objetivos futuros e os meios para que esses sejam alcançados. Oliveira (2013, p. 73)

considera o planejamento como uma metodologia de administração que leva a

empresa ou organização pública a definir uma direção a ser seguida, permitindo uma

maior interação com o ambiente em que se encontra inserida.

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Matus (1993, p. 16) apresenta uma visão filosófica sobre a necessidade de

o homem ser um planejador:

O planejamento é uma necessidade do homem e da sociedade. Cada homem é um governante de seus atos e aí constrói e defende sua liberdade. Porém, cada homem decide também, por ação ou omissão, consciente ou inconscientemente, para que o governo do sistema em que vive lute por ganhar liberdade de opções ou se entregue às circunstâncias. Não sabemos se podemos conduzir o mundo para onde queremos, mas não podemos renunciar a tentá-lo. E esta tentativa pode ser beneficiada pelo planejamento (MATUS, 1993, p. 16).

É muito comum ver autores utilizando o termo planejamento estratégico.

Matias-Pereira (2012, p. 125) comenta que planejamento estratégico é o mesmo que

planejamento, mas se distingue deste pelo enfoque em uma visão global do cenário

da organização, bem como pelos objetivos projetados para serem alcançados no

longo prazo.

Maximiano (2011, p. 62) diz que “estratégico significa tudo o que é mais

importante para a realização dos objetivos de mais alto nível da empresa – ou seja,

sua missão, sua sobrevivência, sua competitividade...”. Assim, o autor relaciona o

planejamento estratégico com decisões que afetam o futuro da empresa.

Por falar em nível estratégico de planejamento, Santos (2014, p. 84)

complementa o assunto apresentando três níveis distintos de planejamento, a saber:

o estratégico, o tático e o operacional. O autor esclarece sobre cada um dos níveis de

planejamento:

O planejamento no nível estratégico, por ser genérico e abrangente, deve ser dividido em planos táticos, desenvolvidos no nível intermediário da organização, cada qual voltado para seu departamento. É preciso considerar que cada plano tático precisa ser desdobrado em vários planos operacionais, desenvolvidos no nível operacional da organização, detalhando minuciosamente cada tarefa ou atividade a ser executada. O planejamento no nível tático é realizado no âmbito departamental ou setorial, tendo como principal característica ser projetado para o médio prazo, geralmente um ano, procurando atingir os objetivos departamentais ou setoriais e seus recursos específicos. O planejamento no nível operacional é realizado para cada tarefa ou atividade e preocupa-se em ser projetado para o curto prazo, utilizando-se de metas específicas, programas, procedimentos, métodos ou normas. (SANTOS, 2014, p. 84).

Segundo Matias-Pereira (2012, p. 123) informa, o planejamento é

fundamental e traz benefícios e efetividade para as organizações, pois colabora para

tomada de decisões de forma racionalizada e, consequentemente, contribui para

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redução dos riscos e favorece o alcance de objetivos traçados pela organização.

Matus (1993, p. 14) chama atenção sobre o risco que se impõe quando não se planeja:

“Ou planejamos ou somos escravos da circunstância. Negar o planejamento é negar

a possibilidade de escolher o futuro, é aceitá-lo seja ele qual for”.

O processo de planejamento estratégico possui algumas etapas essenciais

que propiciam um escopo de informações mais aprofundadas para a tomada de

decisões dos gestores. Trata-se de um processo cíclico e as etapas não são taxativas,

podendo a ordem e as suas etapas serem revistas sempre, para uma melhoria do

processo como um todo.

As etapas típicas são as seguintes: i) análise do ambiente externo, isso

significa o trabalho de identificar e avaliar as oportunidades e ameaças que

influenciam, de alguma maneira, a organização, podendo deparar-se com forças

ambientais favoráveis (oportunidades) ou desfavoráveis (ameaças); ii) avaliação

interna, que compreende a realização de uma avaliação das forças e fraquezas nas

diversas áreas da organização, como gestão, infraestrutura, recursos humanos,

finanças etc.; iii) identificação e definição da missão e visão, isto é, definir a razão de

ser da organização, seus objetivos, valores e princípios para que alcance a visão de

futuro de longo prazo; iv) delineamento de estratégias, que consiste em identificar as

estratégias possíveis para realização dos objetivos propostos; v) avaliação

comparativa das estratégias é escolher, dentre as alternativas, a estratégia que mais

se adequa aos objetivos, devendo levar em consideração os recursos que a

organização dispõe; vi) execução, avaliação e controle - significa desmembrar o

planejamento estratégico em planos táticos e operacionais para as diversas áreas da

organização, monitorando a execução dos planos e realizando as revisões devidas,

quando necessárias (SANTOS, 2014, p. 74; MATIAS-PEREIRA, 2012, p. 152).

Na área de administração, são muitas a ferramentas que podem ser

encontradas para trabalhar na definição da estratégia de uma empresa ou

organização pública. Dentre essas ferramentas, Matias-Pereira (2012, p. 154) destaca

que uma das mais disseminadas é o balanced scorecard (BSC), que foi idealizado por

Norton e Kaplan, com o intuito de servir como base para definição da estratégia

organizacional que pudesse gerar valor futuro.

O BSC tem como base quatro distintas perspectivas, que são consideradas

essenciais para o alcance de objetivos de longo prazo: financeira, que está

relacionada à estratégia de crescimento e rentabilidade; cliente, que envolve a

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estratégia de criação de valor para o cliente; processos internos, que visa a excelência

nos processos de negócios estratégicos e geram satisfação para os clientes;

aprendizagem e crescimento, que foca no desenvolvimento das pessoas

(empregados), para que a organização disponha de um ambiente favorável à inovação

e ao crescimento (MATIAS-PEREIRA, 2012, p. 154).

Apesar de o Balanced Scorecard ser inicialmente idealizado com a intenção

de ser aplicado nas organizações da área privada (com fins lucrativos), a sua

utilização por instituições públicas tem se demonstrado fundamental para o

alinhamento de planos e objetivos estratégicos.

Matias-Pereira (2012, p. 155) comenta sobre o uso do BSC na

administração pública:

No que se refere a utilização do balanced scoredcard em organizações do setor público, exige-se que sejam observadas algumas premissas como: o foco do esforço deve estar nos conceitos de planejamento, de controle e de estratégia; observar as diretrizes institucionais já existentes (crítica e adaptação) e as interações entre as ações; as dimensões gerenciais propostas no BSC tradicional devem ser tomadas como orientação básica para composição de um modelo (também geral) para a administração pública, incorporando os devidos desdobramentos e transformações das dimensões estratégicas originais; e cada organização deve transformar o modelo e traduzi-lo em sistemas corporativos aderentes à sua realidade e necessidades gerenciais (MATIAS-PEREIRA, 2012, p. 155).

Na aplicação do BSC na administração pública, a perspectiva do cliente

possui uma grande relevância e compreende a busca pela satisfação do

cidadão/sociedade com as atividades e os serviços que são prestados pelos órgãos

públicos. Já a perspectiva financeira ou orçamentária, que no setor privado está ligada

ao lucro para os acionistas, nas organizações públicas está relacionada à boa

alocação dos recursos (responsabilidade orçamentária), para atender as demandas

da coletividade.

O planejamento nas organizações públicas é fundamental para que se

atenda com qualidade os mais diferentes anseios apresentados pela sociedade. Não

é uma tarefa fácil e mostra-se como um desafio complexo. Seguindo por esta óptica,

Cardoso Júnior, Pinto e Linhares (2010, p. 43) apresentam algumas dimensões que

dão complexidade ao planejamento governamental:

A complexifcação da sociedade brasileira – e seus rebatimentos sobre o planejamento governamental – é originária de duas dimensões articuladas entre si, a saber: i) o novo padrão tecnológico-produtivo e molecular-digital,

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com seus efeitos sobre a percepção de tempo histórico e as formas de sociabilidade; e ii) a configuração de uma rede de interesses extremamente complexa e interdependente, que dificulta sua distinção por segmentos da sociedade e, consequentemente, a tarefa do planejamento. (CARDOSO JÚNIOR; PINTO; LINHARES, 2010, p. 43).

Arrais (2008, p. 27) destaca que, inicialmente, o processo de planejamento

na administração pública brasileira foi criticado. Isso ocorreu devido a uma visão do

planejamento como monopólio do Estado, seja por ter sido considerado

antidemocrático (corrente da esquerda), seja pela compreensão de interferência

excessiva do Estado na economia (corrente da direita). Assim, complementa o

supracitado autor:

Primeiro, compreendeu-se planejamento como sinônimo de planejamento estatal. Depois, compreendeu-se planejamento estatal como sinônimo de planejamento autoritário, centralizador e vertical. Assim, tomou-se o texto (planejamento) pelo contexto (momento político), como se não pudéssemos pensar em escalas de intervenção mais horizontais, ou mesmo em outros atores na cena política (ARRAIS, 2008, p. 27).

Matias-Pereira (2012, p. 120) enfatiza que cabe ao Estado o papel de

“definir rumos sustentáveis, a médio e longo prazo, para atender às necessidades

coletivas, buscando caminhos e oportunidades, aglutinando e coordenando atores”.

Ao tratar desse importante papel do Estado, Cardoso Jr. (2015a, p. 19) ressalta que o

planejamento público não é apenas um plano, mas um processo tecnopolítico:

Planejamento é processo cotidiano e dinâmico de condução do governo. Não se confunde com documentos, livros e planos, ainda que estes, se bem elaborados, ajudem como parte necessária ao registro documental, bem como na gestão e comunicação interna e externa ao governo etc. Mas que fique claro: planejamento é antes de tudo a arte da boa política. Logo, planejamento é processo tecnopolítico – contínuo, coletivo e cumulativo –, por meio do qual se dá concretude a projetos oriundos da própria sociedade, canalizados por grupos que disputam de forma legítima e democrática a condução das ações de governo. Por isso, tanto melhor quanto mais republicanos e democráticos forem os critérios de organização institucional do Estado e os valores e as normas de funcionamento das instituições e das próprias políticas públicas (CARDOSO JR., 2015a, p. 19).

Sobre o planejamento público no Brasil, Pagnussat (2015, p. 186) conta

que teve início a partir dos anos 1930, com a fundação do “Estado

desenvolvimentista”. A seguir, o autor descreve algumas características que foram

marcantes para esse período:

Na “era desenvolvimentista”, que se estende entre 1930 e 1980, há forte expansão da macroestrutura do Estado e da sua atuação no campo empresarial. O Estado, altamente intervencionista na área econômica,

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consolidou uma estrutura de planejamento voltada para o desenvolvimento econômico, mas também se caracterizou pela construção e consolidação de estruturas e competências nas áreas setoriais, direcionadas ao planejamento e à implementação das políticas e dos projetos públicos (PAGNUSSAT, 2015, p. 186).

Vale frisar que, a partir da década de 1930, o Estado brasileiro passou a ter

um papel mais atuante na promoção do desenvolvimento nacional, sendo marcado

pela transição de uma sociedade fortemente agrícola para uma sociedade urbana e

industrial. Nesse período Vargas (1933-1954), configurou-se um novo aparato do

Estado brasileiro que, aos poucos, foi abandonando os particularismos e imediatismos

da República Velha. Esse governo teve como marco histórico a forte intervenção do

Estado no âmbito econômico, com o objetivo de promover seu desenvolvimento

(CARDOSO JÚNIOR, PINTO E LINHARES, 2010, p. 22).

Quadro 2 - Ênfase temática dos planos estratégicos nacionais.

Salte 1948-1951

JK 1956-1960

Trienal 1962-1964

Paeg 1964-1967

PED 1966-1970

Metas e Bases

1970-1973

PNDs 1972-1979

PPAs 1991-2015

Saúde

Agricultura e Alimentação

Transportes

Energia

Educação

Saneamento

Ciência e Tecnologia

Desequilíbrio Regional

Competitividade Industrial

Estabilização Econômica

Exportações

Meio ambiente

Pobreza e Miséria

Fonte: Candeas (2015, p. 33). Candeas (2015, p. 33), faz um levantamento histórico sobre os principais

programas e planos estratégicos de desenvolvimento do Brasil, formulados durante o

século XX e início do século XXI. No Quadro 2 é possível visualizar alguns desses

planos estratégicos, bem como os respectivos temas que foram priorizados.

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Com base no Quadro 2, é possível destacar que energia e transportes são

os temas mais recorrentes nos planos nacionais de desenvolvimento. Já as temáticas

como meio ambiente e pobreza e miséria só passaram a receber ênfase

recentemente, com o advento dos planos plurianuais (PPAs).

Nessa perspectiva de planejamento e desenvolvimento, Cardoso Júnior,

Pinto e Linhares (2010, p. 122) destacam a criação de um dos primeiros órgãos de

planejamento governamental:

A criação do Conselho Federal de Comércio Exterior (CFCE), em 1934, que abrigava a competência técnica existente para estudar os problemas e propor soluções, tinha como atribuição principal formular políticas econômicas voltadas para a redução da dependência externa; este conselho pode, portanto, ser considerado como o primeiro organismo governamental com funções típicas de um órgão de planejamento. Sua composição reunia funcionários públicos, empresários e técnicos que, familiarizados com as técnicas de planejamento aplicadas durante a guerra, contribuíam para introduzir um novo caráter às decisões governamentais (CARDOSO JÚNIOR, PINTO E LINHARES, 2010, p. 122).

Entre os órgãos criados neste período desenvolvimentista, destaca-se o

Departamento Administrativo do Serviço Público (Dasp), em 1938, por seu pioneirismo

na tentativa de formalizar o processo de planejamento público no Brasil. Era de sua

responsabilidade a elaboração dos orçamentos anuais e formulou os primeiros planos

desenvolvimentistas, como o Plano Especial de Obras Públicas e Aparelhamento da

Defesa Nacional (1939), Plano de Obras e Equipamentos (1943) e o Plano Salte

(1948), no qual o significado da sigla já apresenta as suas prioridades: saúde,

alimentação, transportes e energia. Consistiam-se planos voltados para infraestrutura

física e humana (CANDEAS, 2015, p. 36).

Na opinião de Cardoso Júnior, Pinto e Linhares (2010, p. 212), “os anos

1950 podem ser vistos, no Brasil, como o momento áureo do planejamento

governamental”. Os referidos autores relatam que, nesse período, o peso Estado e do

planejamento passam a ter um caráter mais presente e permanente, ganhando

visibilidade com a difusão da ideologia desenvolvimentista que era propagada pela

Cepal - Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe.

Esse modelo desenvolvimentista materializa-se através do Plano de Metas

(1956-1960), durante o governo de Juscelino Kubitschek, que foi um plano nacional

estratégico e abrangente. Tinha como objetivo principal acelerar o crescimento do país

com a interiorização do desenvolvimento e a estimulação de setores da economia,

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ficando marcado pela expressão 50 anos em 5. As metas abrangiam cinco setores:

energia, transportes, alimentação, indústria e educação (CANDEAS, 2015, p. 37).

De acordo com Monteiro Neto et al. (2017, p. 38), havia, nesse período,

uma grande preocupação com o Nordeste e, por isso, Juscelino Kubitschek criou o

Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN), tendo à frente o

economista Celso Furtado. Essa experiência foi um marco para as políticas de

desenvolvimento regional e levou o governo federal a criar a Superintendência do

Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), a Superintendência do Desenvolvimento da

Amazônia (Sudam) e da Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste

(Sudeco). Monteiro Neto et al. (2017, p. 38) ressaltam os objetivos da criação dessas

superintendências regionais:

Deu o tom ao funcionamento destas superintendências regionais o objetivo de conduzir processos de industrialização nas chamadas periferias nacionais, com vistas a fazer, principalmente, as regiões Nordeste e Norte alcançarem níveis de produto por habitante mais elevados, por meio da atração e da implantação de setores industriais novos nos decadentes tecidos produtivos regionais preexistentes. Os instrumentos e os recursos da política regional federal explícita destinaram-se, majoritariamente, para a atração de empreendimentos privados externos às regiões-alvo, sendo os mecanismos de isenção fiscal e financeira intensamente utilizados para permitir a redução do custo de instalação do capital produtivo (MONTEIRO NETO ET AL., 2017, p. 38).

Com o golpe militar de 1964, as políticas de desenvolvimento regional

sofrem impactos e o planejamento governamental no Brasil adquire novos contornos,

conforme Cardoso Júnior, Pinto e Linhares (2010, p. 212) relatam:

Com o golpe militar de 1964 e o pacote de reformas deflagradas por meio do PAEG em 1967, entre as quais se destaca a reforma administrativa e a promulgação do famoso Decreto-Lei nº 200, que visava (re)ordenar o funcionamento da administração e da própria máquina pública brasileira, abre-se um período que tem no planejamento autoritário-tecnocrático sua principal característica (CARDOSO JÚNIOR, PINTO E LINHARES, 2010, p. 212).

Os primeiros anos do governo militar buscaram aliar a estabilização

macroeconômica com a manutenção do crescimento, conforme as diretrizes do plano

do novo governo: Plano de Ação e Bases do Governo (PAEG). Para sua

implementação, o governo deu início a um conjunto de reformas, que tinham como

objetivo a modernização do Estado (CARDOSO JÚNIOR, PINTO E LINHARES, 2010,

p. 124).

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Em 1964, foi criado o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com

o propósito de formular, pela primeira vez, um plano de longo de prazo no país,

ultrapassando um ciclo governamental: o Plano Decenal de Desenvolvimento

Econômico e Social. Esse plano não chegou a ser implementado, mas uma boa parte

de suas propostas foi inserida no Programa Estratégico de Desenvolvimento (PED),

no período de 1968-1970. O Ipea passou a ser a entidade competente pelos grandes

projetos e pelo planejamento estratégico governamental (PAGNUSSAT, 2015, p. 190).

Candeas (2015, p. 38) comenta que o primeiro e o segundo Plano Nacional

de Desenvolvimento (PND) foram projetos de planejamento ambiciosos e

abrangentes, sendo suas formulações marcadas por um modelo característico do

período militar: burocrático e tecnocrático autoritário. O I PND (1972-1974) priorizou

grandes projetos nas áreas de transportes e energia. No II PND (1974-1979) as ações

voltaram-se para o desenvolvimento das indústrias de base e das infraestruturas

energéticas. Nesse plano, ciência e tecnologia ganham espaço estratégico, com

intuito de formar profissionais para serem absorvidos pelos setores da economia.

Questões sociais e distributivas eram ausentes nesses primeiros PNDs.

A década de 1980 foi um período de muitas crises econômicas, puxadas

pela dívida externa e pela estagflação, sendo considerada a década perdida. Essa

situação inviabilizou a continuidade dos planejamentos criados anteriormente. Assim,

os planos estratégicos de desenvolvimento foram substituídos por projetos de

estabilização macroenconômica (CANDEAS, 2015, p. 39).

Segundo Pagnussat (2015, p. 198), houve um desmonte do planejamento

público no Brasil entre os anos 1980 e os anos 1990:

O período foi marcado pela “operação desmonte”, por privatizações e extinção de órgãos e entidades de planejamento que haviam se consolidado nos cinquenta anos da era desenvolvimentista. Foi marcado também pelos sucessivos planos de estabilização, que com seus fracassos geraram descrédito na tecnocracia e na capacidade do Estado de resolver os problemas públicos e atender às demandas da sociedade (PAGNUSSAT, 2015, p. 198).

Esse contexto é fortemente marcado pela pressão internacional, para que

o país implemente as recomendações oriundas do Consenso de Washington, como a

agenda de reforma do Estado. Com isso, as ações de planejamento governamental

vão perdendo força como estratégias de desenvolvimento nacional. Na ideia de

Estado mínimo (visão neoliberal), o planejamento estratégico de longo prazo,

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promovido pelo Estado, passa a ser desnecessário, já que se pensa no

desenvolvimento como resultante de um país movido por suas forças sociais e de

mercado, reguladas pelo setor privado. O planejamento passa a ser entendido,

simplesmente, como processo de compatibilização dos projetos a serem realizados

com os limites previstos no orçamento (CARDOSO JR., 2015b, p. 143).

O processo de redemocratização do Brasil despertou o desejo da

população por um projeto de futuro para o país. Com a intenção de formalizar e

institucionalizar o planejamento governamental, os constituintes introduziram na

Constituição Federal de 1988, em seu art. 165, os três instrumentos que integram o

ciclo de planejamento e orçamento público brasileiro: “Leis de iniciativa do Poder

Executivo estabelecerão: I - o plano plurianual; II - as diretrizes orçamentárias; III - os

orçamentos anuais.”

O § 1º do artigo 165 da Constituição assinala que o Plano Plurianual (PPA)

“...estabelecerá, de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas para

administração pública federal para as despesas de capital e outras delas decorrentes

e para as relativas aos programas de duração continuada.” Trata-se de um

planejamento de médio prazo, vigorando pelo período de 4 anos. A Lei de Diretrizes

Orçamentárias (LDO) é realizada anualmente, estabelecendo as metas e prioridades

para o orçamento do ano seguinte, além de guiar a elaboração da Lei Orçamentária

Anual (§ 2º, art. 165, CF/88). Já a Lei Orçamentária Anual (LOA) segue os parâmetros

determinados pela LDO e pelo PPA, estimando as receitas e fixando as despesas da

administração, sendo composta pelos orçamentos fiscal, de investimento nas

empresas estatais e da seguridade social (§ 5º, art. 165, CF/88).

Para Arrais (2008, p. 26), há dois pontos importantes a serem considerados

em relação ao planejamento durante o período da redemocratização, fortemente

marcado pela Constituição Federal de 1988 e por seu caráter descentralizador:

O primeiro foi o reconhecimento da necessidade de combater as chamadas desigualdades regionais, perspectiva presente tanto nas Constituição Federal quanto nas constituições estaduais. O segundo foi a exigência do Plano Plurianual (PPA) como instrumento de planejamento governamental e a indicação, de forma regionalizada, das metas da administração pública (ARRAIS, 2008, p. 26).

Candeas (2015, p. 39) enfatiza que somente no contexto da formulação

dos planos plurianuais (PPAs), a partir de 1996 em diante, o planejamento volta a

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ganhar destaque e relevo. Com isso, o PPA passou a ser o principal instrumento de

planejamento governamental. Cabe destacar alguns elementos de diferenciação

entre os PPAs e os planos anteriores, conforme o relato de Candeas (2015, p. 40):

Diferentemente dos planos anteriores, os PPAs são objeto de apreciação parlamentar, como decorrência do processo democratizador. O crescimento das demandas sociais passa a refletir-se no campo do planejamento estratégico, mediante a canalização de planos, programas e orçamentos para o crivo do Congresso Nacional. A prática anterior de planejamento normativo lidava com uma sociedade submetida ao autoritarismo político militar, que implementou um projeto de modernização conservadora da economia, tendo como efeitos negativos a concentração de renda, o endividamento externo e o descontrole fiscal, que gerou forte inflação. O viés dos planos anteriores era economicista, com pouca (ou nenhuma) atenção a questões sociopolíticas e ambientais. A sequência dos PPAs e os programas estratégicos da primeira década deste século conduziram a uma gradual superação do enfoque exclusivamente economicista e normativo, em benefício da incorporação de condicionantes e objetivos socioeconômicos, políticos, culturais e ambientais (CANDEAS, 2015, p. 40).

Cardoso Júnior, Pinto e Linhares (2010, p. 145) destacam que

diferentemente do planejamento que foi praticado nos governos militares, fortemente

marcado por aspectos impositivos e autoritários, o planejamento nos dias atuais deve

considerar a pluralidade da representação política, bem como a participação da

sociedade brasileira, que visa promover e defender os seus interesses.

Nos anos 2000, em termos de planejamento governamental, vale destacar

um plano voltado para o desenvolvimento de forma regionalizada: a Política Nacional

de Desenvolvimento Regional (PNDR). Conforme destaca Coêlho (2017, p. 65), a

origem do PNDR remonta aos anos 90, quando, em 1999, a economista Tânia Bacelar

de Araújo enfatizou sobre a necessidade de construir um plano de desenvolvimento

regional em escala nacional, no Brasil. Isso veio acontecer no primeiro ano do

Governo Lula, em 2003, quando a proposta da PNDR foi lançada e fez com que a

territorialidade das políticas públicas passasse a ser tema de discussão em âmbito

nacional. Conforme Resende et al. (2015, p. 30), “a formulação da PNDR é parte do

esforço de retomada, no Brasil, do planejamento em geral e de políticas regionais em

particular, desde a segunda metade dos anos 1990”.

Resende et al. (2015, p. 30) enfatizam alguns aspectos relacionados à

proposta inicial da PNDR, bem como sua estrutura de articulação:

Inicialmente, a PNDR teve dois objetivos principais: i) reduzir as desigualdades regionais; e ii) ativar as potencialidades de desenvolvimento

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das regiões brasileiras, atuando nos territórios que interessam menos aos agentes do mercado, valorizando as diversidades locais. Ou seja, objetiva-se reverter a trajetória das desigualdades regionais e explorar os potenciais endógenos da diversa base regional brasileira. O arranjo de articulação institucional, criado em 2003 para a implementação da PNDR, propôs três escalas de coordenação, em nível federal, macrorregional e sub-regional. Esse reconhecimento de coordenação é digno de nota, visto que a maioria das intervenções no território exige uma complexa combinação de ações e de articulações entre os diferentes níveis de governo (federal, estaduais, locais ou outro ente público regional) e os demais entes privados que perpassam, muitas vezes, os limites administrativos.

No ano de 2013, tendo como base a I Conferência Nacional de

Desenvolvimento Regional (I CNDR), foi lançada a PNDR II, com o intuito de tornar-

se uma política de Estado, feito que a PNDR I não alcançou. A nova PNDR possui

quatro objetivos: i) convergência; ii) construção de uma rede de cidades policêntrica;

iii) agregação de valor e diversificação econômica; e iv) competitividade regional e

geração de emprego e renda. Um ponto de destaque da PNDR II é uma maior

proximidade com as universidades e centros de pesquisa. Para atender os objetivos

da PNDR II, desenvolveram-se as Rotas de Integração Nacional, que são redes de

arranjos produtivos locais com a intenção de promover a inclusão produtiva. Essa

iniciativa estratégica de desenvolvimento regional foi inserida no PPA 2016-2019, do

Governo Federal (COÊLHO, 2017, p. 92).

A temática de planejamento voltará a ser abordada no quarto capítulo

desse trabalho, ao tratar das experiências de planejamento público no âmbito do

Estado do Ceará. Depois de tratar sobre o planejamento governamental neste tópico,

será discutido, a seguir, sobre a democracia brasileira e a abertura do Estado à

participação da sociedade civil.

3.3 Democracia e participação no Brasil

Ao se discutir uma política participativa em um Estado democrático de

direito, como preceitua a Constituição Federal de 1988, torna-se necessário um

levantamento exploratório sobre o que os autores tratam sobre democracia e

participação. Consequentemente, cabe contextualizar as relações de forças que há

entre Estado e Sociedade, principalmente em um país como o Brasil, que possui um

pouco mais de 30 anos de redemocratização e que pode ser chamado de uma jovem

democracia.

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Atualmente, conforme a visão apresentada por Silva (2013, p. 210), “a

democracia comporta adjetivações: substantiva, participativa, formal, representativa,

etc., conforme as vinculações que se estabelecem com as teorias socialista, liberal ou

elitista”.

Ao se falar em democracia, há uma concepção dominante sobre o seu

significado e que é originada pelo senso comum, até mesmo na área acadêmica. Essa

concepção é apresentada por dois aspectos. O primeiro está ligado à própria definição

etimológica de democracia e que foi herdada dos gregos: “governo do povo”. Um

segundo aspecto é o de relacionar a democracia com o processo eleitoral, como meio

de escolha dos governantes, ocorrendo de forma periódica e livre, para os que

pretendem se candidatar ao governo (MIGUEL, 2014, p. 28).

O segundo aspecto que foi apresentado traz a ideia de democracia

representativa, um modelo amplamente disseminado pelos países que se dizem

democráticos. Conforme aponta Bobbio (2017, p. 73), a democracia representativa

significa que “as deliberações coletivas, isto é, as deliberações que dizem respeito à

coletividade inteira, são tomadas não diretamente por aqueles que dela fazem parte,

mas por pessoas eleitas para esta finalidade”.

Na percepção apresentada por Gadotti (2014, p. 7), “cada vez mais

cidadãos e cidadãs não se sentem representados no Parlamento e acabam por se

desinteressar da política, ausentando-se não só nas eleições e votações, mas da vida

cívica e dos espaços de participação e formação política”. Segundo o referido autor,

esse fato deve-se à composição social, que é bem diversificada nas sociedades

contemporâneas, fazendo com que a democracia representativa demonstre seus

limites e que não seja, por si só, suficiente para atender às demandas tão distintas.

Bobbio (2017, p. 84), ao tratar sobre a representação de interesses dos

mais diversos âmbitos da sociedade, desde pequenos grupos específicos a uma

população de uma cidade, faz o seguinte destaque:

Nada a objetar quanto ao fato de que na escola os estudantes sejam representados por estudantes e na fábrica os operários sejam representados por operários. Mas quando se passa ao bairro, onde os interesses em questão são os interesses dos cidadãos e não desta ou daquela categoria, os cidadãos devem ser representados por cidadãos, que se distinguirão entre si não à base das categorias que representam mas das diversas visões globalizantes dos problemas que conseguiram formar - visões globalizantes estas que cada um possui por pertencer não a esta ou àquela categoria mas a este ou àquele movimento político (BOBBIO, 2017, p. 84).

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Essa situação trazida por Bobbio revela uma grande discussão que é

debatida ao se falar de modelo democrático: os desafios da democracia

representativa. O Estado brasileiro é uma democracia representativa, na qual a

população escolhe os seus representantes por meio do voto, em um processo

eleitoral. Miguel (2014, p. 13) chama a atenção para uma contradição que a

democracia representativa apresenta, já que “trata-se de um governo do povo no qual

o povo não está presente no processo de tomada de decisões”.

Diante das críticas às limitações do modelo representativo e aos

consequentes processos decisórios, cabe um olhar amplo sobre a democracia. Santos

e Avritzer (2002, p. 77) criticam a concepção de um modelo único de democracia e

defendem uma articulação entre diferentes modelos e práticas democráticas. É o que

os autores conceituam como demodiversidade:

Implica reconhecer que não existe nenhum motivo para a democracia assumir uma só forma. Pelo contrário, o multiculturalismo e as experiências recentes de participação apontam no sentido da deliberação pública ampliada e do adensamento da participação. O primeiro elemento importante da democracia participativa seria aprofundamento dos casos nos quais o sistema político abre mão de prerrogativas de decisão em favor de instâncias participativas (SANTOS E AVRITZER, 2002, p. 77).

Concordando com a concepção apresentada por Santos e Avritzer (2002,

p. 77), Silva, Lopez e Pires (2010, p. 33) destacam que é necessário analisar a

institucionalidade que serve de referência para a experiência da democracia no Brasil,

sob uma perspectiva de multidimensionalidade. Conforme os autores, essa análise

deve considerar três dimensões.

Como primeira dimensão, há o sistema representativo, que reúne as

instituições que conduzem os procedimentos eleitorais, as atuações políticas dos

partidos e os resultados para formação de governos. Nessa dimensão, são realizadas

as integrações dos interesses individuais e coletivos dos eleitores, através dos

representantes, e encaminhados para o governo para que as demandas sejam

transformadas em ações, por meio das políticas públicas. A segunda dimensão

envolve o sistema participativo, que concentra as instituições participativas, a exemplo

dos conselhos gestores de políticas públicas, conferências e orçamentos

participativos. Essas instituições são integrantes das etapas de elaboração, execução

e controle das mais diversas políticas públicas nas áreas de saúde, educação,

assistência social, entre outras. A terceira e última dimensão institucional da

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democracia no Brasil seria o sistema de controles da burocracia. Isso envolve os

mecanismos de controles administrativos, jurídico e social sobre a atuação da

administração pública, como as medidas de responsabilização, transparência e

prestação de contas. O objetivo é a efetivação dos direitos através de políticas

públicas e evitar os desvios por meio de atos de corrupção (SILVA; LOPEZ; PIRES,

2010, p. 33-34).

O período anterior à democratização, ocorrida na década de 80, foi

marcado pela não participação da sociedade. Foram inúmeras as liberdades

cerceadas pela ditadura militar brasileira, de 1964 a 1985. Conforme Carvalho (2002,

p. 160), os Atos Institucionais (AI) decretados naquele período eram marcados pela

suspensão de direitos civis e políticos. O Ato Institucional nº 1, decretado em 1964,

cassou os direitos políticos de líderes políticos, sindicais e intelectuais, pelo período

de 10 anos, além da intervenção ou fechamento de sindicatos. Em 1965, o AI-2 aboliu

a eleição direta para presidente, aumentou os poderes do presidente, dissolveu

partidos políticos, estabelecendo o sistema bipartidário, além de restringir o direito de

opinião. No ano de 1968, foi decretado o AI-5, considerado o mais radical e repressor

de todos, conforme o relato de Carvalho (2002, p. 161-162):

O Congresso foi fechado, passando o presidente, general Costa e Silva, a governar ditatorialmente. Foi suspenso o habeas corpus para crimes contra a segurança nacional, e todos os atos decorrentes do AI-5 foram colocados fora da apreciação judicial. Paralelamente, recomeçaram as cassações de mandatos, suspensão de direitos políticos de deputados e vereadores, demissão sumária de funcionários públicos (CARVALHO, 2002, p. 161-162).

Na década de 80, a sociedade promoveu um forte movimento pelo fim da

ditadura militar e o restabelecimento de uma democracia. O processo de

democratização, vivido no país nesse período, é constituído por diferentes aspectos.

Um deles é a revitalização da sociedade civil, que ocorre por meio da organização da

sociedade em movimentos sociais, associações, partidos etc. O outro aspecto é a

própria democratização do Estado, que restabelece diversos procedimentos

democráticos formais. (DAGNINO, 2002, p. 13). Nogueira (2011, p. 142) coaduna com

o pensamento de Dagnino (2002, p. 13) e acrescenta que esse movimento de

democratização nos países que passaram por períodos ditatoriais, principalmente

durante os anos 80, serviu de incentivo à participação. Destaca ainda o autor que “a

democratização foi bastante marcada pela negociação e por um expressivo

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protagonismo eleitoral, fatores que, em boa medida, viabilizaram a ruptura com o

autoritarismo” (NOGUEIRA, 2011, p. 142).

Avritzer (2016, p. 49) ressalta que a participação social vem sendo um

elemento chave para a democratização brasileira e aponta a Constituição Federal de

1988 como responsável pelo seu avanço, dada a orientação participativa da então

Assembleia Nacional Constituinte (ANC):

A Constituinte permitiu a elaboração de emendas populares, e movimentos sociais desencadearam uma campanha visando obter assinaturas para muitas propostas ligadas às políticas públicas. Alguns entre os mais importantes movimentos da sociedade cível, tais como os da saúde e reforma urbana, da mesma forma que outros importantes atores sociais, como a Central Única de Trabalhadores (CUT) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), também se juntaram à campanha para aprovação de emendas populares. Este foi um primeiro momento importante de um processo de aprofundamento democrático que criou instituições participativas nas áreas de saúde, planejamento urbano, meio ambiente e assistência social, entre outras. Ao final, a Constituinte gerou uma institucionalidade participativa que levou a existirem mais de vinte mil conselhos no Brasil (AVRITZER, 2016, p. 49).

Ressaltam-se os instrumentos e mecanismos institucionalizados de

participação inseridos na Carta Magna de 1988, como o referendo, o plebiscito e a

iniciativa popular, bem como a participação da população na gestão das políticas do

estado, conforme alguns dispositivos previstos nos capítulos voltados aos Direitos e a

Ordem Sociais, por exemplo.

O referendo, o plebiscito e a iniciativa popular, apesar de estarem previstos

nos incisos I, II e III do artigo 14 da Constituição Federal de 1988, só foram

regulamentados 10 anos depois, por meio da lei nº 9.709/98. Essa lei estabeleceu

que:

Art. 2o Plebiscito e referendo são consultas formuladas ao povo para que delibere sobre matéria de acentuada relevância, de natureza constitucional, legislativa ou administrativa. § 1o O plebiscito é convocado com anterioridade a ato legislativo ou administrativo, cabendo ao povo, pelo voto, aprovar ou denegar o que lhe tenha sido submetido. § 2o O referendo é convocado com posterioridade a ato legislativo ou administrativo, cumprindo ao povo a respectiva ratificação ou rejeição.

Já a iniciativa popular, como mecanismo constitucional de participação,

permite que a população, de forma conjunta, possa propor a elaboração de leis,

enviando o projeto à Câmara dos Deputados (art. 13, lei 9.709/98).

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Conforme Andrade (2002, p. 55), o processo de democratização da

sociedade “levou a multiplicidade de movimentos associativos a reivindicarem a

abertura de canais de participação no processo de decisão relativo à produção de

bens e serviços de natureza social”. A autora informa que o intuito era o de que a

participação da sociedade nas decisões governamentais pudesse garantir uma maior

eficiência das ações públicas com um menor custo para a produção de bens e

prestação de serviços.

Ao se discutir sobre participação, torna-se necessário destacar as

diferenças entre Participação Social e Participação Popular. Por essa razão, Gadotti

(2014, p. 2) esclarece que a Participação Social ocorre nos espaços que são abertos

para que a sociedade possa exercer o controle social sobre o Estado. Conselhos,

conferências e ouvidorias são alguns exemplos desses espaços institucionalizados de

participação e que possuem papel importante no acompanhamento e implementação

de políticas públicas. Já a Participação Popular, conforme Gadotti (2014, p. 3), é

constituída por organizações independentes e autônomas em relação ao Estado,

sendo formada por movimentos sociais, sindicatos, associações etc.

Conforme destaca Teixeira (2001, p. 27), a participação apresenta formas

variadas, a depender do contexto em que as relações sociopolíticas ocorrem, mas o

interessante é “considerá-las quanto à sua possibilidade de fortalecer e aprofundar a

democracia, e às suas limitações para efetivá-la”. O referido autor continua sua

análise e destaca o significado da participação:

Independentemente das formas de que se pode revestir, a participação significa “fazer parte”, “tomar parte”, “ser parte” de um ato ou processo, de uma atividade pública, de ações coletivas. Referir “a parte” implica pensar o todo, a sociedade, o Estado, a relação das partes entre si e destas com o todo e, como este não é homogêneo, diferenciam-se os interesses, aspirações, valores e recursos de poder. Apresenta-se assim o problema de como responder aos interesses gerais em face do particularismo e do corporativismo dos atores, exigindo-se condições objetivas e subjetivas e espaços públicos onde possam ocorrer negociações e compromissos para que as argumentações, livremente expostas, permitam chegar-se a um consenso traduzível em decisões no sistema político (TEIXEIRA, 2001, p. 27).

Nogueira (2011, p. 146) enfatiza que a instituição de espaços de

participação ajuda a “ampliar a comunicação entre governantes e governados,

fornecer melhores parâmetros para a tomada de decisões e, nessa medida, fortalecer

a gestão pública e promover a expansão da cidadania ativa”. É importante destacar

que é necessário ter atenção ao funcionamento dos espaços que são abertos à

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participação, pois é comum também a ocorrência da “administração da participação”,

para que as pessoas não cheguem a interferir em decisões essenciais, mediante

articulações e manobras políticas realizadas nos bastidores. Conforme bem destaca

Nogueira (2011, p. 147), esse tipo de situação pode ocorrer “em nome da necessidade

que se teria de obter suportes técnicos-científicos para decidir ou de concentrar certas

decisões eminentemente política”.

A cultura política do país é um aspecto primordial e decisivo para

concretização ou não de uma democracia, conforme a avaliação de Andrade (2002,

p. 56). Para tanto, a autora enfatiza sobre a questão da consciência cívica:

A soberania popular garante a igualdade política. Esta, por sua vez, para existir em sua plenitude, supõe igualdade distributiva. Estas são condições para a existência de uma consciência cívica. Por outro lado, a transformação dessa consciência em ação solidária dependa da existência de Estado eficiente no qual a sociedade confie, assim como de uma razoável performance econômica que possa viabilizar as demandas da sociedade organizada. Isso porque a participação supõe: mobilização, discussão e resultados. Sem resultados, é improvável a manutenção de qualquer padrão de participação (ANDRADE, 2002, p. 57).

Essa questão da consciência cívica apresentada por Andrade (2002, p. 57),

coaduna com o significado dado ao cidadão pelos atenienses, Segundo Medeiros

(2016, p. 37) informa, “para os atenienses, ser cidadão – ou seja, participar ativamente

dos assuntos da cidade – era sinônimo de ser humano, assim como viver era sinônimo

de participar”.

Demo (2009) expressa, já no título de sua obra, que “participação é

conquista”. Importante destacar o conceito de participação delineado por este autor,

no qual diz que:

Participação é conquista para significar que é processo, no sentido legítimo do termo: infindável, em constante vir-a-ser, sempre se fazendo. Assim, participação é essencial autopromoção e existe enquanto conquista processual. Não existe participação suficiente, nem acabada. Participação que se imagina completa, nisto mesmo começa a regredir (Demo, 2009, p.18).

No entendimento do referido autor, o termo participação não pode ser

compreendido como dádiva, pois assim não se trataria de conquista, mas apenas uma

participação com limites bem definidos por quem exerce o poder; não é concessão,

por não ser um elemento subsidiário da política, pois se trata de um componente

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essencial para o processo de conquista; por fim, não se trata de algo preexistente, já

que não há participação antes da conquista. Dessa forma, a participação é uma forma

de poder, pois gera o compromisso de exercer o controle social através da fiscalização

das ações e atos implementados pelo governo e seus representantes. O planejamento

realizado de modo participativo é uma maneira de intervir na realidade, perpassando

pela análise crítica de seu processo e pelo diálogo aberto com os envolvidos (DEMO,

2009, p. 18).

Havia uma predominância de pensamento sobre os processos

participativos como um obstáculo que atrapalharia o crescimento econômico, ao

passo que retardariam a tomada de decisões, fazendo com que levasse um tempo

maior para formular e implementar políticas públicas. Com o tempo, foram sendo

admitidos os processos participativos como elemento estratégico para o

desenvolvimento sustentável e para elaboração e implementação de políticas

públicas. A inserção da participação aos processos de gestão governamental e a

formulação de políticas públicas materializa-se através do orçamento participativo,

uma forte experiência de processo participativo que ganhou notoriedade por todos no

Brasil, principalmente nas gestões municipais ocupadas pelo Partido dos

Trabalhadores – PT (NOGUEIRA, 2011, p. 121).

Demo (2009, p. 66) diz que “participação é metodologia, algo comum a

todas as políticas sociais redistributivas, porque é o caminho fundamental de todas”.

Dessa forma, compreende-se a participação como um caminho para chegar a

objetivos claros e bem definidos. O referido autor cita alguns exemplos de objetivos

da participação, como autopromoção, realização da cidadania, implementação de

regras democráticas de jogo, controle do poder, negociação e cultura democrática

(DEMO, 2009, p. 67).

Nogueira (2011, p. 134) relata que, com base no mundo moderno, é

possível classificar a participação em quatro modalidades distintas que têm se

relacionado entre si de formas diversas, de acordo com os momentos histórico-

sociais.

A primeira é a participação assistencialista, que apresenta características

de filantropia e solidariedade, sendo bem visível entre as categorias sociais mais

carentes e marginalizadas, como forma de sobrevivência contra a miséria e a falta de

proteção. Por isso, essa modalidade de participação foi dominante nos momentos que

antecederam à afirmação de direitos de cidadania (NOGUEIRA, 2011, p. 134).

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A segunda modalidade é intitulada de participação corporativista e está

relacionada a interesses particulares de grupos específicos, sejam sociais ou

profissionais, a exemplo de sindicatos, associações e conselhos profissionais. Os

benefícios e conquistas, na maioria das vezes de fundo econômico, restringem-se aos

que integram o grupo (NOGUEIRA, 2011, p. 135).

A terceira modalidade é a participação eleitoral, que está ligada diretamente

à dimensão política e defende, além dos interesses específicos, os direitos que

beneficiam a coletividade, visando o interesse público. Esse tipo de participação é

importante por seu caráter de exercício de direitos (individuais, civis e políticos),

todavia, acaba limitando o envolvimento do sujeito ao ato de votar (NOGUEIRA, 2011,

p. 135).

A participação política, como quarta forma participativa, consegue englobar

e ir além das últimas duas modalidades de participação (corporativa e eleitoral), tendo

em vista o conjunto da sociedade como um todo e o arranjo de sua vida social.

Cidadãos e grupos mobilizam-se através da participação política, com o intuito de ter

acesso a um espaço comum democrático em que possam expor, discutir e decidir

sobre os seus interesses, gerando partilha de poder (NOGUEIRA, 2011, p. 136).

Na concepção de Nogueira (2011, p. 149), a gestão participativa propicia

uma nova forma de relacionamento entre Estado e sociedade, tendo o gestor

governamental o importante papel de trazer a sociedade para debater os temas de

interesse público. Além disso, a gestão participativa promove meios para que a

sociedade exerça o controle social sobre as atividades do governo:

Ela é, em boa medida, uma aposta democrática e republicana: o governar deve visar o povo, fazer-se em seu nome e ser por ele avaliado e controlado, funcionando segundo regras, critérios e procedimentos que privilegiam aquilo que é público, o bem comum e os interesses de todos. Dessa maneira ela prevê a existência de um cidadão ativo, qualificado não apenas para controlar de modo passivo a gestão, mas também para interferir nela, direcioná-la, submetê-la a sua vontade. A gestão assim configurada mostra-se capacitada para se responsabilizar por seu atos e decisões, ao mesmo tempo que admite ser responsabilizada pela população e a responsabilizar o conjunto do aparelho de Estado. Combina responsabilização do gestor perante a sociedade (accountability) com a responsabilidade do gestor por seus atos, facilitando a transferência de poder decisório para coletivos ou assembleia de cidadãos. Com isso promove um novo vínculo entre o representante e o representado, tanto no sentido de que alarga e reformula a representação quanto no sentido de que dá novo valor e novo espaço à democracia participativa. (NOGUEIRA, 2011, p. 150).

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Dagnino (2004, p. 152) chama a atenção para as limitações que, por muitas

vezes, são impostas aos espaços abertos para o exercício da participação social:

Em grande parte dos espaços abertos à participação de setores da sociedade civil na discussão e na formulação das políticas públicas com respeito a essas questões, estes se defrontam com situações nas quais o que se espera deles é muito mais assumir funções e responsabilidades restritas à implementação e a execução de políticas públicas, provendo serviços antes considerados como deveres do Estado, do que compartilhar o poder de decisão quanto à formulação dessas políticas.

Vale destacar que a gestão participativa tem os seus obstáculos, que

podem ser um desafio ao gestor público no papel de gerenciar os diversos interesses

que se encontram em disputa, principalmente daqueles que se sentem ameaçados de

alguma forma, diante de processos democráticos que trazem abertura à participação.

O ato de participar não é algo tão simples, já que, por muitas vezes, o interessado em

participar depara-se com alguns desafios que lhe exigem renúncias. Nogueira (2011,

p. 158) corrobora este entendimento ao confidenciar que, nos dias de hoje, “a

participação resulta de uma complicada operação pedagógica, política e ideológica.

Aquele que participa não o faz sem ônus, sem algum “sacrifício”. Quando esse ônus

cresce demais, a participação reflui”.

Vale destacar dois momentos apontados por Avritzer (2016, p. 50) como

importantes para o avanço da participação social. Um foi a forte ligação entre o Partido

dos Trabalhadores e os processos de conquista dos espaços de participação social,

principalmente com a chegada do partido ao poder em alguns municípios, durante a

década de 90. O Orçamento Participativo (OP) foi uma política de participação que

passou a ser uma marca forte das gestões petistas, expandindo-se para diversos

municípios brasileiros. O outro destaque para o avanço da participação social no país,

foi a chegada do PT ao poder em âmbito nacional, no ano de 2003. A partir daí, houve

uma orientação participativa no governo federal, o que levou à ampliação dos espaços

de participação, como os conselhos e conferências nacionais.

Voltando ao Orçamento Participativo, Fedozzi (2014, p.50) destaca que

essa política participativa, desde o seu surgimento durante a década de 80 no Brasil,

mostra-se um marco histórico ao constituir-se como “um novo paradigma das formas

de democracia participativa contemporâneas, especialmente em nível local”. O autor

apresenta algumas características que possibilitam uma definição mínima de

Orçamento Participativo:

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1) a vertente orçamentária e/ou financeira (do Estado) é discutida de forma pública – o Orçamento Participativo lida com recursos escassos; 2) o envolvimento social no processo se dá no âmbito da cidade (ou de uma região ou estado), o nível de bairro não é suficiente; 3) o processo tem momentos repetidos por meio de instâncias, regras e critérios de participação e de escolha de prioridades orçamentárias; um encontro ou um referendo sobre questões financeiras não são exemplos de um Orçamento Participativo; 4) o processo inclui alguma forma de deliberação pública, no âmbito de encontros específicos ou fóruns; a abertura aos cidadãos das reuniões dos corpos administrativos ou políticos não é um Orçamento Participativo; 5) a prestação de contas sobre as decisões adotadas é essencial (FEDOZZI, 2014, p.50).

Em complemento aos atributos citados acima e que caracterizam o OP,

Avritzer (2003, p. 576) destaca a ampliação da participação da sociedade e a definição

de critérios de justiça no processo deliberativo:

O orçamento participativo é uma política participativa em nível local que responde a demandas de setores desfavorecidos por uma distribuição mais justa dos bens nas cidades brasileiras. Ela inclui atores sociais, membros de associações de bairro e cidadãos comuns em um processo de negociação e deliberação dividido em duas etapas: uma primeira etapa na qual a participação dos interessados é direta e uma segunda na qual a participação corre através da constituição de um conselho de delegados (AVRITZER, 2003, p. 576).

Na visão de Avritzer (2003, p. 592), a inovação de poder negociar

amplamente com o estado o acesso a bens públicos gera um “desenho participativo

institucionalizado”. O autor continua enfatizando que esse desenho é “capaz de

substituir práticas das elites e o particularismo delas decorrente por formas ampliadas

de discussão e tomada de decisão”.

De acordo com Santos (2003, p. 465), a experiência inovadora do

Orçamento Participativo em Porto Alegre foi uma das mais bem sucedidas e recebeu

grande reconhecimento pelo seu êxito. O supracitado autor relata que esse fato

ocorreu quando o Partido dos Trabalhadores (PT) assumiu a gestão da capital

gaúcha, em 1989: visando garantir a participação popular, foi criado um novo estilo de

gestão municipal, conhecido como “administração popular”. Conforme Santos (2003,

p. 467), o orçamento participativo, além de estar baseado em instituições que

funcionam como meios de participação popular, fundamenta-se em três grandes

princípios que norteiam a tomada de decisões da gestão municipal:

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a) todos os cidadãos têm o direito de participar, sendo que as organizações comunitárias não detêm, a este respeito, pelo menos formalmente, status ou prerrogativas especiais; b) a participação é dirigida por uma combinação de regras de democracia direta e de democracia representativa, e realiza-se através de instituições de funcionamento regular cujo regimento interno é determinado pelos participantes; c) os recursos de investimento são distribuídos de acordo com um método objetivo baseado em uma combinação de “critérios gerais” – critérios substantivos, estabelecidos pelas instituições participativas com vista a definir prioridades – e de “critérios técnicos” – critérios de viabilidade técnica ou econômica, definidos pelo Executivo, e normas jurídicas federais, estaduais ou da própria cidade, cuja implementação cabe ao executivo (SANTOS, 2003, p. 467).

O processo do orçamento participativo em Porto Alegre envolve dois

momentos de assembleias regionais intercalados por uma rodada de assembleias

locais. Em um segundo momento há a criação do Conselho do Orçamento

Participativo, uma unidade composta por conselheiros que representam as prioridades

orçamentárias definidas nas assembleias regionais e locais (AVRITZER, 2003, p.

577).

Santos (2003, p. 480) explica que o Conselho do Orçamento Participativo

possui um papel importante nessa experiência participativa. Os membros eleitos para

integrar esse conselho apropriam-se de informações relacionadas às finanças do

município, analisam e definem os critérios gerais que serão adotados para distribuição

dos recursos, conforme as áreas temáticas de aplicação e as regiões.

Conforme destacam Lopez e Pires (2010, p. 566), houve uma grande

expansão das instituições participativas no governo federal entre 1988 e 2009, a

exemplo de conferências, conselhos, comissões, consultas e audiências públicas. Os

referidos enfatizam que essa expansão foi mais marcante durante os mandatos do

governo Lula:

Nos 8 anos do governo Lula houve um movimento de reformulação de conselhos de políticas públicas já existentes, criação de novos conselhos em áreas de menor tradição de participação, realização de um expressivo conjunto de conferências – que têm sido peça fundamental para ordenar políticas prioritárias para os ministérios e informar a agenda decisória do Congresso Nacional –, além da expansão e experimentação de outras formas de participação, como ouvidorias, mesas de negociação, fóruns de debate e o plano plurianual participativo (LOPEZ E PIRES, 2010, p. 566).

Avritzer (2010, p. 171) comenta que “o governo Lula adotou uma orientação

genericamente participativa desde o início do seu primeiro mandato. Essa propensão

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a incrementar as políticas participativas se traduziu em diversos tipos de políticas”. O

referido autor relata que, no primeiro mandato do governo Lula, houve um aumento

no número de conselhos nacionais, bem como reforçou os já existentes. Esses

conselhos são ligados às políticas públicas e contam com a participação da sociedade

civil.

Outro canal de participação social são as conferências nacionais. Segundo

Lopez e Pires (2010, p. 568), foram realizadas 80 conferências nacionais, no período

compreendido entre 1988 e 2009, englobando diversas áreas de políticas públicas, a

exemplo de saúde, educação, meio ambiente, cultura, entre outras. A maior parte

dessas conferências ocorreu no período do governo Lula, significando

aproximadamente 68% do total.

De acordo com Avritzer (2010, p. 176), as conferências nacionais

adquiriram papéis relevantes durante o governo Lula:

As conferências nacionais iniciaram o projeto de consolidação de uma agenda nacional da sociedade civil em áreas como, meio ambiente, saúde, segurança pública, entre outras. As conferências cumpriram também o papel de estabelecer uma agenda mínima de negociação entre o Estado e a sociedade civil em áreas relevantes das políticas públicas (AVRITZER, 2010, p. 176).

Por fim, a compreensão sobre os processos participativos e os debates

sobre as experiências da democracia brasileira precisam ser inseridos em um

contexto social amplo e atual, nunca podendo ser considerados como temas já

construídos e acabados. É preciso dar atenção aos espaços públicos abertos à

participação e ao aperfeiçoamento das instituições participativas e democráticas.

Dessa forma, depois de explorar as temáticas que tratam de Estado,

planejamento, democracia e participação, ou seja, o referencial teórico que dá a base

de sustentação ao presente estudo, o quarto capítulo abordará as experiências de

planejamento e de participação social que marcam o contexto da gestão

governamental do Estado do Ceará.

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4 O PLANEJAMENTO PÚBLICO E A GESTÃO PARTICIPATIVA NO ESTADO DO

CEARÁ

Neste capítulo será realizado um levantamento sobre as experiências de

planejamento público e de gestão participativa, promovidas pelos governos do Estado

do Ceará, contextualizando um pouco do seu histórico, os projetos prioritários e outros

aspectos importantes que caracterizam a gestão pública estadual e que possibilitam

um melhor entendimento do momento atual.

4.1 Governos anteriores a 1987

O planejamento foi institucionalizado no Estado do Ceará como atividade

básica de gestão pública, por meio da Constituição Estadual de 1947. Mas, ocorre que

a estruturação das bases necessárias para o planejamento formal do Estado só foi

iniciada na gestão do governador Parsifal Barroso (1958-1962), quando foram criadas

a SUDEC - Superintendência do Desenvolvimento Econômico e Cultural, a CODEC -

Companhia de Desenvolvimento do Ceará e o BEC - Banco do Estado do Ceará

(BARBOSA, 1986, P. 105).

Inicialmente, destaca-se o Plano de Metas Governamentais (Plameg),

instituído em 1963, no governo de Virgílio Távora, e que foi um marco inicial para o

planejamento governamental no Estado do Ceará. O Plameg continha políticas

direcionadas ao desenvolvimento econômico do estado, priorizando obras de

infraestrutura, a exemplo do Porto do Mucuripe e a distribuição de energia elétrica.

(NOGUEIRA e PONTES, 2015, p. 123).

Leão (2012, p. 29) destaca as diretrizes que embasaram o Plameg:

“formação de pessoal qualificado; construção de infraestrutura; identificação e

divulgação de oportunidades industriais; apoio à elaboração/execução de projetos

industriais; estruturação dos incentivos fiscais; e criação de distritos industriais”. Essas

diretrizes deixam bem claro o foco do governo: fomentar a industrialização cearense.

Para que fosse possível executar os investimentos necessários, o governador Virgílio

Távola fez diversas articulações para conseguir recursos externos ao Estado, junto ao

Governo Federal, bem como às instituições internacionais de desenvolvimento, a

exemplo do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID. Importante destacar a

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criação da Secretaria do Planejamento, sendo o órgão responsável pela

sistematização do planejamento e controle do Estado do Ceará (LEÃO, 2012, p. 30).

Em 1979, quando Virgílio Távora retorna ao governo do Estado do Ceará

para o seu segundo mandato (até 1983), surge outro plano de desenvolvimento

econômico, o II Plameg. Esse plano teve o intuito de promover a industrialização do

estado cearense, tendo como uma das principais metas, a consolidação do III Polo

Industrial do Nordeste (NOGUEIRA e PONTES, 2015, p. 123).

Conforme Leão (2012, p. 31), outros planos destacaram-se, com a intenção

de transformar e consolidar a economia cearense: Plano de Ação Integrada do

Governo – PLAIG, Plácido Castelo (1967-1970); Plano de Governo do Estado do

Ceará – PLAGECE, César Cals (1971-1974); Plano Quinquenal de Desenvolvimento

do Estado do Ceará – PLANDECE, Adauto Bezerra (1975-1979); e o Plano Estadual

de Desenvolvimento – PLANED, Gonzaga Mota (1984-1987).

Os governos do Estado do Ceará, desde Virgílio Távora (1963) até

Gonzaga Mota (1987), tiveram um aspecto em comum: seguiram as políticas

desenvolvimentistas, alinhadas aos planos nacional e regional de desenvolvimento

daquela época. Assim, as estruturas institucionais desses governos objetivavam a

implementação de projetos industriais estruturantes, capazes de promover o

desenvolvimento. Ocorre que, apesar da racionalidade, esses planos de gestão e

desenvolvimento possuíam grandes fragilidades, pela falta governança e a ausência

de agenda social, bem como desgastaram-se em meio à crise econômica que afetou

o setor público no Brasil nos 1980 e o Estado do Ceará também acabou sendo afetado

(CEARÁ, 2018e, p. 17).

4.2 Tasso Jereissati (1987-1990)

No ano de 1987, inicia-se um novo modelo político-administrativo no Estado

do Ceará com a eleição do empresário Tasso Jereissati ao governo, que se

autodenominou “Governo das Mudanças”. Foi instituído o Plano de Governo,

chamado de “Plano de Mudanças”, tendo como base um projeto de modernização do

Estado do Ceará, focando no “combate ao clientelismo e ao empreguismo na máquina

estatal, na moralização da política governamental e num intenso programa de atração

de investimentos via industrialização” (LEÃO, 2012, p. 37).

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Sousa (2007, p. 607) faz uma análise sobre a chegada de um grupo

empresarial ao comando do Estado, tendo à frente o governador Tasso Jereissati:

A diferença marcante do “Governo das Mudanças” residiu na forma de apropriação do Estado como instrumento de promoção das transformações pretendidas. A razão empresarial na condução da coisa pública era o pressuposto para imprimir racionalidade e agilidade no processo da gestão, como também parcimônia com relação ao erário, necessária para produzir superávits para financiar investimentos. Essa lógica certamente não condizia com a concepção até então em voga de “Estado Desenvolvimentista”, cuja função alocativa do Estado (como empregador e produtor de bens e serviços) tinha atingido proporções consideradas inadequadas e inaceitáveis, frente a sua capacidade de manutenção dos gastos correntes e dos compromissos financeiros assumidos. Agora, uma mudança de concepção passaria necessariamente pela minimização de tal função – através do “enxugamento” da máquina administrativa e de privatizações de empresas, ou seja, da redução da intervenção direta do Estado na economia, segundo os preceitos neoliberais – e na maximização do Estado como promotor do desenvolvimento econômico (SOUSA, 2007, p. 607).

Uma das medidas do Governo Tasso foi a realização da reforma

administrativa, que teve como base a redução dos gastos de custeio e a

racionalização da gestão pública, por meio da modernização e da eficiência

administrativa. Para tanto, implementou-se: um controle na gestão de pessoal,

passando pelo recadastramento dos servidores públicos e anulação de nomeações e

contratações realizadas no final da gestão anterior; a obrigatoriedade do concurso

para ingresso de pessoal no serviço público, como forma de moralização e eliminação

do empreguismo e nepotismo, práticas muito utilizadas nas administrações anteriores;

redução da estrutura administrativa do Estado por meio da eliminação e fusão de

órgãos/empresas estatais, direcionando a atuação estatal para a prestação de

serviços essenciais (SOUSA, 2007, p. 607).

Mesmo dando seguimento ao histórico projeto de industrialização que havia

se iniciado nos governos anteriores, o Governo Tasso trouxe inovações na oferta de

serviços públicos, principalmente nas políticas voltadas para áreas sociais, como

saúde e educação:

O governo de Tasso Jereissati priorizou a descentralização e a universalização na educação e na saúde. Para a primeira área, combate-se o analfabetismo, a ausência de crianças em idade escolar fora do processo educacional e a evasão escolar, além de atacar a ausência ou a baixa credibilidade na escola pública. Na saúde, procurou-se a descentralização com vistas a “levar o serviço mais perto do povo”, ao mesmo tempo em que se estimulou a participação da sociedade na estruturação do sistema. O governo trabalhou duas linhas de ação, quais sejam, unificação e expansão

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dos serviços e construção e reformas de estruturas físicas além da compra de equipamentos. Implantou-se o sistema de saúde, o SUDS, ampliou-se o quadro de agentes de saúde, promoveram-se campanhas de vacinação, promoveu-se assistência à maternidade e à infância. Neste campo, a redução do índice de mortalidade infantil tornou-se política de Estado (CEARÁ, 2018, p. 20).

Leão (2012, p. 38), ao comentar sobre o primeiro mandato do governador

Tasso, avalia que “as reformas instituídas tiveram forte impacto no fortalecimento de

seu grupo político, tendo influência direta nas eleições subsequentes com a eleição

dos próximos cinco governadores ligados ao Governo das Mudanças”.

4.3 Ciro Gomes (1991-1994)

No período de 1991 a 1994, o Estado do Ceará teve Ciro Ferreira Gomes

como governador, que era aliado de Tasso Jereissati e, portanto, deu continuidade às

políticas de gestão do seu antecessor. Na gestão de Ciro Gomes, a Secretaria do

Planejamento - SEPLAN passou a ter uma função estratégica na estrutura do governo

estadual, com o papel de definição das prioridades e investimentos. Com o intuito de

aprimorar a governança, foram instituídos o Sistema de Acompanhamento de Metas

- SAM e a Coordenação de Projetos Especiais – CPE (CEARÁ, 2018e, p. 21).

A estratégia de desenvolvimento no governo Ciro continuou sendo a

industrialização, por meio da atração de investimentos e incentivos fiscais. O

diferencial, em relação aos governos anteriores, foi a orientação para que as indústrias

se instalassem nas cidades do interior, aumentando o número de empregos e

colaborando com a renda dos municípios do interior. Para isso, o governo investiu na

área de infraestrutura, a exemplo de transporte e energia (CEARÁ, 2018e, p. 22).

4.4 Tasso Jereissati (1995-1998 / 1999-2002)

Em 1995, Tasso Jereissati volta a assumir o governo estadual, ficando por

dois mandatos consecutivos, até o ano de 2002. O novo governo assume com o

discurso de desenvolvimento e sustentabilidade, como foi definido no plano de

governo intitulado de “Plano de Desenvolvimento Sustentável: Avançando nas

Mudanças”. O referido plano continha um conjunto de programas relacionados à

geração de emprego, desenvolvimento sustentável da economia, proteção do meio

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ambiente, capacitação da população, desenvolvimento da ciência e tecnologia, entre

outros (LEÃO, 2012, p. 40).

A interiorização continuou como um dos focos de desenvolvimento, criando

polos industriais em algumas regiões, a exemplo dos segmentos de calçados,

confecção e metal-mecânico. Destacam-se a criação do porto do Pecém, a construção

do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, a conclusão do Aeroporto Internacional

Pinto Martins, a criação dos Centros Vocacionais Tecnológicos – CVT’s e dos Centros

de Ensino Tecnológicos - CENTEC’s (LEÃO, 2012, p. 41).

O Plano de Desenvolvimento Sustentável do governo Tasso trouxe consigo

um Modelo de Gestão Participativa. Conforme Amaral Filho (1999, p. 136), esse

modelo “privilegia as soluções de baixo para cima, procura desmobilizar o clientelismo

político e ajuda a promover o consenso, a integração e a sinergia dos agentes público

e privado, aumentando, assim, a eficácia e eficiência no uso dos recursos”. Isso

significou um grande avanço para a gestão estadual, ao romper com o modelo de

planejamento tradicional e incorporar estruturas que propiciassem a participação.

Amaral Filho (2003, p. 35) apresenta a estrutura e a sistemática de

funcionamento do Modelo de Gestão Participativa adotado pelo governo Tasso:

Dentro do novo modelo de Gestão o poder da “superestrutura” ocupada pelo Poder Executivo passou a ser dividido com estruturas intermediárias representadas pela “mediação”, “integração interna” e “articulação externa” que receberam, por sua vez, a emissão de sinais dada pela sociedade através do “acompanhamento e avaliação”. O aspecto interessante é que o modelo não se propôs a ser um sistema fechado, porque ao considerar a “articulação externa” estava levando em conta não só os constrangimentos externos, mas também as janelas de oportunidades abertas pelo ambiente externo. O modelo de Gestão Participativa era composto pelos Conselho de Participação da Sociedade (CPS), Conselhos Regionais de Desenvolvimento Sustentável (CRDS) e Conselhos de Descentralização (CDs), onde se encontravam o Conselho Municipal de Desenvolvimento e os Conselhos Comunitários. Além dos Conselhos haviam os GTIs, Grupos de Trabalho Internos responsáveis pela integração e a Articulação Externa, responsável pela avaliação estratégica de oportunidades e ameaças (AMARAL FILHO, 2003, p. 35).

Além do Modelo de Gestão Participativa, outras instâncias específicas de

participação surgiram com o advento de grandes projetos estruturantes na era Tasso

Jereissati. Alguns desses canais de participação da sociedade foram criados por

exigência do Banco Mundial, como condicionante para o financiamento dos projetos,

e outros por decisão própria do governo de descentralizar. Alguns desses espaços

participativos foram: 1) Grupo de Trabalho Multiparticipativo do Projeto Castanhão; 2)

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Grupo de Trabalho Participativo do Complexo Industrial-Portuário do Pecém; 3)

Colegiados do programa de Açudagem e Interligação de Bacias; 4) Instituição Sócio-

Comunitária de Agrovilas; 5) Fórum Participativo para Elaboração dos Planos

Municipais do Programa de Apoio às Reformas Sociais (AMARAL FILHO, 2003, p.

134).

4.5 Lúcio Alcântara (2003-2006)

No ano de 2003, Lúcio Alcântara assume o governo do Estado do Ceará,

dando seguimento às diretrizes econômicas e políticas de seu antecessor e aliado,

Tasso Jereissati. Seu plano de governo destaca a necessidade de aliar políticas de

desenvolvimento econômico ao estabelecimento de estratégias, para promover a

inclusão social, com a redução da pobreza e da desigualdade. O governo dá destaque

aos aspectos de descentralização e participação, como uma forma de recuperar

elementos do modelo de gestão participativa do governo Tasso, estabelecendo um

compromisso com a participação social. Para tanto, o governo reestruturou-se e criou

a Secretária Extraordinária de Inclusão e Mobilização Social e a Secretaria de

Desenvolvimento Local e Regional (CEARÁ, 2018e, p. 27).

Seguindo o Plano de Governo de Lúcio Alcântara, o planejamento estadual

foi estabelecido, considerando quatro eixos para atuação governamental: (1) Ceará

Empreendedor; (2) Ceará vida melhor; (3) Ceará Integração e (4) Estado a Serviço do

Cidadão. Com base nestes eixos, “o governo deveria estimular tanto o fortalecimento

da competitividade da economia como a equidade na distribuição dos resultados do

crescimento econômico” (CEARÁ, 2018e, p. 28).

4.5.1 Gestão Pública por Resultados (GPR)

O Estado do Ceará instituiu, em 2004, durante o governo de Lúcio

Alcântara, um modelo de gestão tomando como base uma orientação para os

resultados, sendo intitulado de Gestão Pública por Resultados (GPR), e que passou

a influenciar diretamente o planejamento governamental cearense. A experiência e o

sucesso da aplicação desse modelo no Canadá chamaram a atenção do governo

cearense. Por essa razão, com o intuito de conhecer a GPR canadense, realizou-se

uma missão, com autoridades do Governo do Ceará, integrantes da Secretaria de

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Planejamento, da Secretaria de Controladoria, do Instituto de Pesquisas e Estratégias

do Estado do Ceará (IPECE) e do Tribunal de Contas do Estado (MEDEIROS, 2010,

p. 14).

Sobre a GPR implementada no Canadá, Medeiros (2010, p. 12) avalia

algumas características deste modelo:

Dentro de suas peculiaridades, história e cultura, o "modelo canadense" procura o equilíbrio entre as virtudes da tradicional burocracia, por um lado, e o espírito empresarial e da inovação, por outro. Este modelo de administração pública tem reputação invejável em todo o mundo pela sua qualidade, competência e autonomia. A cultura do serviço público canadense é pragmática e os níveis de corrupção muito baixos. Os gestores são interessados em participar na governança e aceitam os riscos de responder por ela. Alguns elementos característicos do modelo canadense, que torna original, são o serviço voltado para o cliente, uso de governo eletrônico, a aprendizagem continua, o sistema de mérito, o profissionalismo, o bom relacionamento com o Governo, accountability e um bom sistema de informação (MEDEIROS, 2010, p. 12).

No mesmo ano de 2004, foi criado o Comitê de Gestão por Resultados e

Gestão Fiscal (Cogerf), com a responsabilidade de consolidar a gestão por resultados

no Ceará, estabelecer medidas econômicas a serem seguidas pelo governo estadual,

que pudessem garantir o equilíbrio financeiro e, consequentemente, atender a Lei de

Responsabilidade Fiscal (MEDEIROS, 2010, p. 14; NOGUEIRA e PONTES, 2015, p.

124).

De acordo com Medeiros (2010, p. 14), o modelo de gestão por resultados

(GPR) implantado no Ceará tomou como base as boas experiências internacionais de

gestão pública, a exemplo do modelo implementado no Canadá, e era composto por

três etapas: i) planejamento, ii) implementação e iii) monitoramento e avaliação.

A fase de planejamento foi dividida em duas instâncias. Na primeira foram

estabelecidos os Resultados Estratégicos de Governo, com a definição de metas e

indicadores para cada um dos quatro eixos de atuação do governo: i) Ceará

Empreendedor; ii) Ceará Vida melhor; iii) Ceará Integração; e iv) Ceará a Serviço do

Cidadão. Na segunda instância, ocorrida a partir de 2005, foram elaborados os planos

estratégicos para as secretarias de estado (setoriais), dentro de uma “Matriz de GPR”,

para que cada uma das secretarias pudesse colaborar para o alcance dos objetivos

estratégicos de governo (MEDEIROS, 2010, p. 14).

A etapa de implantação do modelo de GPR foi desafiante, já que

representava uma mudança de cultura gerencial, ainda com fortes traços de gestão

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burocrática. Para que fosse possível a quebra desses paradigmas, os servidores que

atuassem nas áreas de planejamento das secretarias e órgãos estaduais foram

capacitados para que os conceitos e a linguagem de GPR fossem nivelados entre

todos que integravam o governo. Aliado a isso, houve um aprimoramento dos

sistemas de informação, para que fosse possível o acesso a ela de forma eficiente,

sobre o desempenho das ações relacionadas aos resultados estratégicos de governo

(MEDEIROS, 2010, p. 15).

Conforme aponta Medeiros (2010, p. 16), a terceira e última fase referiu-se

ao Monitoramento e Avaliação, que são atividades distintas e interligadas. A

supracitada autora explica que a “razão destas atividades é o acompanhamento, pelo

gestor, das metas, resultados e impactos alcançados e aferição dos resultados e

impactos decorrentes da implementação dos programas e projetos”.

4.6 Cid Ferreira Gomes (2007-2010 / 2011-2014)

Cid Ferreira Gomes chegou para assumir o governo cearense em 2007.

Logo no início de seu governo, realiza uma reforma administrativa, por meio da Lei Nº

13.875, de 07 de fevereiro de 2007. O modelo de gestão estabelece, como premissas

do novo governo, a interiorização, a participação, a transparência, a ética, a

otimização dos recursos e a gestão por resultados. As Secretarias da Administração

e a do Planejamento e Coordenação são fundidas, transformando-se na Secretaria do

Planejamento e Gestão (SEPLAG), que passou a exercer uma função nuclear no

governo (CEARÁ, 2007).

A área de planejamento teve um papel de destaque nesse novo governo

cearense. Em 2007 ainda, foi instituído o Sistema Estadual de Planejamento – SEP

(Lei Nº 13.875/2007). Com o Decreto Nº 29.917/2009, o SEP passou por uma

redefinição, na qual foram estabelecidas as suas funções:

Art. 1º Fica redefinido o Sistema Estadual de Planejamento – SEP, que será constituído pelos sistemas de atividades corporativas da Administração Estadual - planejamento, orçamento, acompanhamento físico-financeiro e de gestão pública por resultados, tendo a Secretaria do Planejamento e Gestão como órgão central do Sistema. § 1º São de responsabilidade do SEP as seguintes funções: 1. Formulação das diretrizes estratégicas 2. Formulação do Plano Plurianual - PPA 3. Implementação do Modelo de Gestão Pública por Resultados (GPR) 4. Elaboração da Lei de Diretrizes Orçamentárias - LDO

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5. Elaboração da Lei Orçamentária Anual - LOA 6. Elaboração da Programação Operativa Anual 7. Monitoramento da Execução das Ações, Programas e Projetos de Governo 8. Avaliação de Resultados e Programas de Governo (CEARÁ, 2009).

O art. 2º do referido Decreto instituiu a Rede Estadual de Planejamento,

que tem o papel de conduzir os processos relacionados ao planejamento, orçamento

e gestão pública por resultados do governo estadual. A sua coordenação ficou a cargo

da SEPLAG (CEARÁ, 2009).

Durante seus dois mandatos consecutivos, o governo Cid Gomes adotou

as mesmas diretrizes nos respectivos planos de governo: 1) Sociedade Justa e

Solidária; 2) Economia para uma Vida Melhor; e 3) Governo Participativo, Ético e

Competente (CEARÁ, 2018e, p. 33).

Essa terceira diretriz do plano de governo de Cid Gomes (Governo

Participativo), levou a uma considerável mudança no planejamento governamental

cearense, quando se adotou uma metodologia participativa para elaborar o Plano

Plurianual – PPA. Esse assunto é retomado e aprofundado no capítulo 5 – PPA

Participativo e Regionalizado do Estado do Ceará.

4.7 Camilo Santana (2015-Atual)

Em 2015, Camilo Santana tomou posse como governador do Estado do

Ceará, com o apoio do seu antecessor, Cid Gomes. Aqui se pretende abordar três

pontos que se destacam nesse governo, em relação ao planejamento e à participação:

o plano de governo intitulado de 7 Cearás, a plataforma Ceará 2050 e o projeto do

Sistema Cearense de Participação Cidadã.

4.7.1 Os 7 Cearás

Tratando do planejamento estadual na atualidade, é importante abordar o

plano intitulado “Os 7 Cearás”. Refere-se ao Plano de Governo (2015-2018) do

governador Camilo Santana. O documento teve como base as propostas

apresentadas durante a campanha eleitoral para governador, de 2014. Em dezembro

de 2014 foi realizada a consolidação e validação do plano em um seminário, que

contou com a participação de integrantes do governo e da sociedade. Um dos

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propósitos do plano 7 Cearás foi o de sugerir ações para integrar o Plano Plurianual

2016-2019, que foi elaborado durante o ano de 2015 (CEARÁ, 2014, p. 6).

Os 7 Cearás representam sete perspectivas que organizam a atuação do

atual Governo do Estado do Ceará, conforme a seguir: Ceará da Gestão Democrática

por Resultados; Ceará Acolhedor; Ceará de Oportunidades; Ceará Sustentável; Ceará

do Conhecimento; Ceará Saudável; e Ceará Pacífico (CEARÁ, 2014, p. 7). A seguir,

apresenta-se cada um dos eixos do plano 7 Cearás.

O Ceará da Gestão Democrática por Resultados propõe ações que gerem

crescimento constante, equilíbrio financeiro fiscal e redução considerável das

desigualdades. Esse eixo assenta-se na ideia de que é necessário haver um

planejamento estratégico democrático, inclusivo e participativo, bem como existir um

acordo de resultados que seja claro, objetivo, mensurável e transparente. O que se

pretende por meio dessa perspectiva é “unir eficiência administrativa – através da

coordenação intragovernamental – e participação democrática na tomada de decisão,

maximizando, assim, os resultados e os benefícios públicos” (CEARÁ, 2014, p. 11).

O eixo Ceará Acolhedor integra as diversas Políticas Públicas nas áreas

de Assistência Social, Habitação, Inclusão, Direitos Humanos e Segurança Alimentar.

Ou seja, está ligado às políticas garantidoras de direitos sociais. Baseia-se na inclusão

social de pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade, no respeito à

diversidade e na garantia aos direitos humanos. Para esse plano, “acolher é um ato

de respeito, diálogo e compartilhamento que se transforma no compromisso de dar

respostas às necessidades e garantir os direitos dos cearenses” (CEARÁ, 2014, p.

21).

Ceará de Oportunidades é a terceira perspectiva do plano e trata da base

econômica que dá impulso e sustentação ao desenvolvimento do Estado do Ceará. A

proposta desse eixo está vinculada a duas estratégias. A primeira é criar um ambiente

propício para o crescimento econômico, com foco no desenvolvimento territorial. A

segunda é promover a geração de novos empregos formais, com carteira assinada,

trabalho emancipado baseado na economia solidária e a geração de renda como

forma de desconcentrar a riqueza (CEARÁ, 2014, p. 55).

O quarto eixo apresenta o Ceará Sustentável. As características do

território cearense são um desafio para esse eixo, já que a maior parte de sua área

geográfica está encravada na região do semiárido. Por essa razão, a proposta é

investir em tecnologias e estratégias que propiciem a convivência com o semiárido,

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buscando melhorias e qualidade de vida para as populações que enfrentam os

desafios característicos da seca. Nesse sentido, busca-se, nesse eixo, fortalecer

políticas públicas relacionadas a recursos hídricos, meio ambiente e energias. Esses

três fatores demandantes de políticas públicas são fundamentais para a vida da

população e para o desenvolvimento de atividades produtivas (CEARÁ, 2014, p. 103).

Seguindo com os eixos dos 7 Cearás, tem-se o Ceará do Conhecimento.

Nessa perspectiva, há as políticas relacionadas à Educação Básica, à Ciência,

Tecnologia e Inovação, ao Ensino Superior, à Educação Técnica e Profissional e à

Cultura. Por meio dessas políticas, busca-se o desenvolvimento econômico que gere

o crescimento da riqueza, atrelado à diminuição da desigualdade, tendo o Estado

como propulsor de serviços de qualidade nas respectivas áreas, que beneficiem a

sociedade como um todo (CEARÁ, 2014, p. 127).

A sexta perspectiva apresenta o Ceará Saudável. As políticas públicas

ligadas a esse eixo objetivam favorecer a melhoria da qualidade de vida da população,

por meio da saúde, esporte, saneamento e habitação. Esse eixo do plano adota como

pressupostos “a garantia de direitos, a promoção da saúde, o fortalecimento das

ações comunitárias, a criação de ambientes favoráveis, o desenvolvimento de

habilidades pessoais e mudança de estilos de vida” (CEARÁ, 2014, p. 153).

O Ceará Pacífico é o sétimo e último eixo a compor o Plano de Governo

(2015-2018) do governador Camilo Santana. Essa perspectiva do plano está baseada

no entendimento de que “todos, sem distinção, têm direito à proteção, amparo, defesa

e justiça e que, cabe ao Estado, como condutor deste processo, garantir esses

direitos”, contemplando fatores relacionados à segurança pública, à justiça e

cidadania, à política sobre drogas e ao desenvolvimento urbano (CEARÁ, 2014, p.

183).

4.7.2 Ceará 2050

O Governo do Estado do Ceará deu início, no ano de 2017, a uma

plataforma de planejamento estratégico de desenvolvimento de longo prazo, o Ceará

2050. Esse plano é acompanhado pela Secretaria do Planejamento e Gestão (Seplag)

e coordenado pela Universidade Federal do Ceará, por meio da Fundação de Apoio a

Serviços Técnicos, Ensino e Fomento a Pesquisas – Fundação Astef. O Ceará 2050

tem como principal objetivo definir “estratégias para acelerar o crescimento econômico

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estadual nas próximas três décadas e atender, de forma mais eficiente, às

expectativas da sociedade pela oferta de serviços essenciais” (CEARÁ, p. 6, 2018b).

O processo de elaboração do Ceará 2050 está definido em 5 etapas:

1. Diagnóstico - Identificação das problemáticas e dos pontos fortes nos últimos 30 anos que influenciam no desenvolvimento do Estado. 2. Análise Externa e Construção de Cenários - Mapeamento de algumas soluções testadas em outros Estados e países para saber quais são aplicáveis no Ceará. 3. Elaboração da Visão de Futuro e Objetivos Estratégicos - Através de encontros e pesquisas nas 14 regiões do Ceará, a população e os setores serão consultados para determinar qual o futuro desejado para todos. 4. Concepção de Projetos Estratégicos - Como vamos chegar lá? Apoiados nas etapas anteriores, é possível responder a essa pergunta com a elaboração de um portfólio com projetos estratégicos. 5. Consolidação e Lançamento do Plano Estratégico de Desenvolvimento de Longo Prazo - Por último, é traçado um modelo de gestão e governança do Plano e, logo após, será realizado o seu lançamento em evento público (CEARÁ, p. 7, 2018b).

Para a Coordenação da Plataforma Ceará 2050, um dos principais desafios

é o de que a construção de um planejamento de desenvolvimento, a longo prazo, seja

participativo, pois há o entendimento de que “a representatividade social e territorial é

o que fará com que os esforços empregados na construção de um futuro melhor para

o Ceará saiam do papel e se efetivem ao longo dos próximos 32 anos” (CEARÁ, p. 1,

2018c).

Com esse intuito de promover um planejamento participativo, durante os

encontros realizados nas 14 Regiões de Planejamento do Estado do Ceará, no ano

de 2018, foram realizadas mobilizações para que, em cada uma das regiões, se

formassem núcleos de discussões sobre o desenvolvimento estadual para as

próximas três décadas. Assim, foi criada a Rede de Mobilização do Ceará 2050, “uma

reunião de pessoas dispostas a discutir as teorias e compartilhar as práticas dessa

Plataforma que se propõe a transformar a realidade do nosso estado” (CEARÁ, p. 1,

2018c).

Após a conclusão dos eventos regionais, a realização de consulta pública

online e um trabalho da equipe de comunicação do Ceará 2050, chegou-se à definição

da visão de futuro (2050): “Mosaico de oportunidades, riqueza de detalhes, mistura de

sorrisos: um estado que brilha para todos que desejam crescer, reinventar percursos,

escrever novas histórias, encontrar a felicidade” (CEARÁ, p. 38, 2018d).

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Em complemento e em desdobramento da visão de futuro, têm-se os

objetivos organizados em áreas de resultados, que formam um mapa estratégico e

que possui “um papel orientador para os demais componentes do modelo de gestão,

funcionando como um guia referencial para a promoção do alinhamento dos diversos

temas que compõem a estrutura de produção de resultados do estado” (CEARÁ, p.

39, 2018d).

Figura 2 - As 5 Áreas de Resultados e suas respectivas descrições.

Fonte: Ceará (p. 40, 2018d).

Na Figura 02, acima, é possível ver as áreas de resultados, bem como suas

descrições, quem compõe o mapa estratégico do Ceará 2050. A estrutura gráfica

desse apresenta uma relação de causa e efeito dos objetivos que se inserem em cada

uma das áreas de resultados. Na base encontra-se a Governança, que tem o papel

de dar apoio às transformações pretendidas. Logo acima, há três áreas intermediárias

que são condicionantes para o plano estratégico: Cadeias Produtivas (busca a

reinvenção e melhor aproveitamento das vantagens competitivas dos setores

econômicos), Serviços ao Cidadão (destaca inovações em serviços que promovam o

bem-estar da população) e Capital Humano (pessoas preparadas e equipes

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inovadoras capazes de liderar e conduzir o desenvolvimento da sociedade). No topo

do mapa estratégico está a área de resultados, que representa a finalidade maior do

plano: Valor para a Sociedade (CEARÁ, p. 40, 2018d).

4.7.3 Sistema Cearense de Participação Cidadã

O Governo do Estado do Ceará vem trabalhando, desde o ano de 2016, na

construção de um Modelo de Gestão Participativa. Esse projeto conta com o apoio de

consultores do consórcio IADH-DELOS.

A proposta é de criação do SISTEMA CEARENSE DE PARTICIPAÇÃO CIDADÃ, de caráter estadual, o qual tem como objetivo dar atuação sistêmica aos processos participativos existentes e aos novos processos criados para uma maior efetividade nas políticas públicas, programas e projetos no âmbito do Governo do Ceará. A implementação do modelo enquanto sistema propiciará a integração de diversos processos e ferramentas participativos e orientará a aprendizagem e a gestão desses processos com uma visão sistêmica. (CEARÁ, 2017e, p. 36).

Para tanto, foram estabelecidos alguns princípios para orientar o modelo

de gestão participativa, a ser adotado pelo Governo do Estado do Ceará, e nortear a

sua implementação: Território como Lócus - local de protagonismo da participação

cidadã e transformação das regiões de planejamento em territórios de

desenvolvimento sustentável; Gestão para Resultados (GPR) - o modelo de GPR

inclui a participação e o controle social em sua operacionalização; Descentralização

Administrativa - o compartilhamento de poder é um condicionante para modernização

da gestão e valoriza os potenciais locais; Planejamento Público Participativo - refere-

se à abertura do Estado em promover iniciativas que favoreçam os processos

participativos no estabelecimento de prioridades e alocação de recursos, favorecendo

a corresponsabilização no planejamento; Governança Colaborativa - trata de

reconhecer os potenciais colaborativos presentes nas organizações da sociedade civil

e suas capacidades, para contribuir com a implementação e o gerenciamento das

políticas públicas; Capital Social e Capacitação - educação política e qualificação

profissional dos representantes do governo, para que sejam capazes de elaborar

metodologias pedagógicas que facilitem à sociedade compreender os elementos

técnicos da gestão pública; Tecnologia da Informação e Comunicação - adoção de

novas tecnologias e ferramentas unidas às estratégias de comunicação, que

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possibilitem uma maior participação dos cidadãos nos processos de planejamento e

acompanhamento das políticas públicas; Institucionalização - o estabelecimento de

um sistema participativo nos âmbitos administrativos e legais favorecem a viabilização

e a continuidade de processos compartilhados de tomada de decisões, bem como

fortalece os seus impactos (CEARÁ, 2017e, p. 24).

Figura 3 - Diagrama do Sistema Cearense de Participação Cidadã

Fonte: Ceará (2017e, p. 37).

O Sistema Cearense de Participação Cidadã define seis dimensões que

aliam a participação cidadã ao planejamento e monitoramento das políticas e projetos

do Governo do Estado do Ceará, conforme consta na Figura 3. A primeira e a segunda

dimensão estão relacionadas à inclusão da participação nas diversas etapas dos

processos de planejamento já existentes, a exemplo do PPA e das Políticas Setoriais.

A terceira dimensão insere o aspecto territorial nos instrumentos de planejamento e

estimula o planejamento territorial participativo. A quarta dimensão apresenta a

Ouvidoria como canal de relacionamento com a população. A quinta dimensão

engloba a participação da sociedade nos planejamentos de longo prazo, a exemplo

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de planos como o “7 Cearás” e “Ceará 2050”. Já a sexta e última dimensão refere-se

às tecnologias e ferramentas de suporte à participação da população, incluindo as

estratégias de comunicação, capacitação e ferramentas digitais (CEARÁ, 2017e, p.

36).

4.8 Regionalização do Planejamento no Ceará

A Constituição do Estado do Ceará de 1989 estabelece, em seu Art. 203,

§1°, que o Plano Plurianual, entre outras exigências, deverá ser expresso em forma

regionalizada, tendo como base a região metropolitana e as microrregiões (CEARÁ,

1989). Na década de 1990, o Estado do Ceará, por meio da sua Secretaria de

Planejamento – SEPLAN (atual SEPLAG), regionalizou os municípios cearenses em

oito macrorregiões de planejamento, para definição de suas ações de governo:

Baturité, Cariri-Centro Sul, Litoral Leste-Jaguaribe, Litoral Oeste, Região

Metropolitana de Fortaleza, Sertão Central, Sertão dos Inhamuns e Sobral-Ibiapaba.

Essas macrorregiões de planejamento resultaram das combinações das 20

microrregiões administrativas. Ocorre que as macrorregiões de planejamento, na

forma em que se encontram divididas, apresentam aspectos socioeconômicos e

geoambientais heterogêneos, dificultando a implementação de ações de

planejamento propícias ao desenvolvimento regional (CEARÁ, 2015f, p. 9).

Em 2015, o Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará

(IPECE) realizou um estudo com o objetivo de definir novas regiões de planejamento.

A instituição das novas regiões levou em conta pontos de semelhanças que há em

comum entre as mesmas, considerando os aspectos relacionados às condições

geográficas, socioeconômicas, culturais e de rede de fluxos. O estudo tomou como

base outras regionalizações já adotadas no Ceará, como as microrregiões geográficas

do IBGE, as microrregiões administrativas, os territórios de identidade, as bacias

hidrográficas, entre outros (CEARÁ, 2015f, p. 14).

O IPECE também utilizou o critério de polaridade para delimitação das

regiões (CEARÁ, 2015f, p. 15). Com base em um modelo gravitacional, calculou-se a

massa de cada munícipio cearense, sendo determinada pela população ponderada

pelo índice de Desenvolvimento Municipal:

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Vale aqui salientar que o modelo gravitacional admite a existência de uma força de interação entre duas cidades. Na realidade, este modelo baseia-se na equação da lei da gravitação de Isaac Newton. O objetivo é calcular a interação entre dois núcleos (cidades), como uma função direta da massa (tamanho da população) e inversa da distância entre elas. O pressuposto é que um polo (sede de uma região) deve ser um município expressivo, que exerça influência sobre os municípios vizinhos. Tratam-se, portanto, de cidades mais desenvolvidas, com maior população, maiores níveis de renda, que são capazes de provocar externalidades positivas sobre outros municípios (CEARÁ, 2015f, p. 16).

Assim, foram ampliadas as regiões de planejamento do Estado do Ceará

para 14 áreas, sendo as mesmas: Cariri, Centro Sul, Grande Fortaleza, Litoral Leste,

Litoral Norte, Litoral Oeste/Vale do Curu, Maciço de Baturité, Serra da Ibiapaba,

Sertão Central, Sertão de Canindé, Sertão dos Crateús, Sertão dos Inhamuns, Sertão

de Sobral e Vale do Jaguaribe (CEARÁ, 2015f, p. 21). Na Figura 4, é possível ver o

mapa das regiões de planejamento, como era e como ficou a partir de 2015.

Figura 4 – As Regiões de Planejamento do Estado do Ceará.

Fonte: O Povo Online

Conforme Ceará (2015f, p. 14), essas regiões de planejamento foram

definidas com o intuito de aprimorar as atividades de planejamento, monitoramento e

implementação de políticas públicas de forma regionalizada, além da utilização destes

novos recortes regionais para formulação dos instrumentos de planejamento exigidos

por lei, como o PPA e a LOA:

Menciona-se que uma das principais motivações neste trabalho de revisão das regionalizações adotadas pela SEPLAG é inserir atualizações nas mesmas contemplando a experiência adquirida pela equipe da secretaria na

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elaboração de planos plurianuais (PPA) anteriores, uma vez que o mesmo é construído de forma participativa, ou seja, levou-se em consideração no processo de revisão o sentimento de pertencimento da população dos municípios pronunciado quando das diversas reuniões regionais coordenadas pela secretaria (CEARÁ, 2015f, p. 16).

Um dos grandes desafios para o Estado do Ceará são as desigualdades

socioeconômicas presentes nas diversas regiões do Ceará e o planejamento é uma

peça chave para enfrentamento desses desafios, que seja estratégico e propício à

“sustentação e dinamização das regiões com bom desempenho econômico e social,

bem como permita o desenvolvimento das regiões com maiores carências

socioeconômicas, almejando a melhora das condições de vida da população”

(CEARÁ, 2015f, p. 20).

Depois de descrever e contextualizar as experiências de planejamento

público e de gestão participativa promovidas pelos governos do Estado do Ceará,

percebe-se que planejamento e participação vão se alinhando com o passar dos

governos, principalmente depois do período da redemocratização. Dessa forma, será

discutido no capitulo a seguir o PPA Participativo e Regionalizado do Estado do Ceará.

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5 PPA PARTICIPATIVO E REGIONALIZADO DO ESTADO DO CEARÁ

Neste capítulo pretende-se compreender os objetivos, base conceitual e

premissas que são orientadores do Plano Plurianual (PPA) Participativo e

Regionalizado do Estado do Ceará. Também será apresentada uma visão institucional

do planejamento participativo a partir da percepção de sujeitos representantes da área

de planejamento do governo estadual, com base nos dados coletados em entrevistas

semiestruturadas.

5.1 Contextualização da Participação no PPA

Seguindo a Constituição Federal de 1988 como modelo, a Constituição do

Estado do Ceará de 1989 adota o plano plurianual (PPA), a lei de diretrizes

orçamentárias (LDO) e a lei orçamentária anual (LOA) como instrumentos de

planejamento. Sobre o PPA, a constituição cearense apresenta uma definição em seu

Art. 203, § 1º, trazendo, em boa parte do seu texto, similaridade com o que está

disposto na Constituição Federal, acrescentando-se no âmbito estadual que o PPA

terá “como elementos dimensionadores a região metropolitana e as microrregiões,

objetivando reduzir as desigualdades internas, tomando por critério, para maior

alocação de recursos, as carências populacionais” (CEARÁ, 1989). É possível

perceber que o legislador estadual acrescentou esses últimos elementos para

adequar a definição de Plano Plurianual às realidades do Estado do Ceará.

Durante o governo Lúcio Alcântara, houve uma tentativa de construir o PPA

de uma forma participativa, quando abriu-se espaço de discussão às necessidades e

às potencialidades regionais, com as lideranças de diferentes regiões. Isso fez com

que a alocação dos recursos orçamentários passasse a ocorrer de forma

regionalizada (CEARÁ, 2018e, p. 31).

Ao assumir o governo do estado do Ceará, em 2007, Cid Gomes lançou

um novo modelo para elaboração do PPA 2008-2011, chamado de PPA Participativo

e Regionalizado. O modelo participativo é alinhado às medidas adotadas pelo governo

federal, que se encontrava em um contexto de grande expansão e alargamento de

espaços públicos para participação da sociedade, a exemplo de conselhos, fóruns e

conferências. Dessa forma, o novo modelo de PPA estadual englobava as sugestões

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das lideranças políticas e empresariais das regiões e era restrito as oito macrorregiões

de planejamento da época:

Nesse estágio, eram elaborados, portanto, os resultados e indicadores setoriais e montadas as matrizes de GPR de todas as secretarias, constando programas, ações e metas; processo de elaboração, no qual constavam sensibilização dos atores regionais, diálogo com a sociedade, eleição de propostas prioritárias e apresentação da versão preliminar, seguindo a orientação do sistema de gestão participativa com enfoque regional; análise de viabilidade financeira entre as secretarias do governo e priorização das propostas seguida pela eleição dos delegados que participariam do Fórum Estadual; após realização de oito oficinas regionais nas macrorregiões foi realizado o Fórum Estadual do PPA participativo e Regionalizado (CEARÁ, 2018e, p. 32).

Para a formulação do PPA 2008-2011, os objetivos estratégicos do governo

foram estruturados considerando eixos de atuação da gestão diferentes do PPA

anterior: “sociedade justa e solidária; economia para uma vida melhor; e governo

participativo, ético e competente” (CEARÁ, 2018e, p. 32).

Para o PPA 2012-2015, foram mantidos o mesmo modelo e o processo de

elaboração adotados no PPA anterior, considerando o plano de governo, realizando

as oficinas de discussão com as lideranças regionais, políticas e empresariais, e

fechando com o Fórum Estadual para discussão de sintetização do plano. O destaque

se dá para um PPA com uma estrutura mais transparente e acessível para a

sociedade, introduzindo novos instrumentos de organização, a exemplo dos

Programas Temáticos, que apresentam as ações do governo organizadas em políticas

públicas. As inovações tiveram como origem as recomendações do Banco Mundial,

como uma das contrapartidas exigidas ao governo cearense em relação aos

empréstimos que foram realizados com a citada instituição financeira (CEARÁ, 2018e,

p. 34).

Importante esclarecer que esse plano sempre é elaborado durante o

primeiro ano do mandato, tendo como início da sua vigência o segundo ano da gestão

e vai até o primeiro ano do mandato seguinte, alcançado o período de 4 anos.

Tomando como base o objeto de estudo desse trabalho, o foco maior será dado ao

PPA que abrange o período 2016-2019.

5.2 O Processo do PPA 2016-2019

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O atual Plano Plurianual (PPA) foi elaborado durante o ano de 2015, o

primeiro de gestão do governador Camilo Sobreira Santana. O PPA 2016-2019 foi

instituído pela Lei Nº 15.929, de 29 de dezembro de 2015 (CEARÁ, 2015a). Antes de

adentrar a esse marco regulatório do referido plano, torna-se necessário um olhar

especial sobre como ocorreu o processo da sua elaboração.

A Secretaria de Planejamento e Gestão do Estado do Ceará - Seplag,

responsável pela coordenação de todo o processo de formulação, monitoramento e

avaliação do PPA, criou um manual que orienta sobre cada uma das etapas para

elaboração do PPA 2016-2019, bem como a base estratégica do plano, com suas

premissas, objetivos, conceitos e a metodologia para formulação dos programas de

governo (CEARÁ, 2015c, p. 7). Inicialmente, o manual da Seplag apresenta as

premissas pelas quais o governo deve se guiar:

• Gestão Pública por Resultados: executando políticas e programas, privilegiando o foco em resultados, em detrimento da ótica centrada exclusivamente no gasto, priorizando ações e contemplando o senso distributivo na alocação dos recursos; • Participação cidadã: promovendo a interação entre o Estado e o cidadão, com vistas à efetividade das políticas públicas, em um processo de planejamento participativo que extrapola as propostas de campanha; • Promoção do desenvolvimento territorial: equilibrando a dimensão territorial, superando os desafios e potencializando oportunidades regionais; e • Intersetorialidade: implementando políticas setoriais articuladas, centradas em territórios, trazendo ganhos para a população, para a organização logística das ações definidas, superando a fragmentação das políticas públicas (CEARÁ, 2015c, p. 10).

Essas premissas também são encontradas no Art. 2º da Lei Nº

15.929/2015, que institui o PPA 2016-2019 (CEARÁ, 2015a). Chama a atenção a

primeira premissa, gestão pública por resultados, que também se encontra no Manual

como um dos objetivos a serem alcançados pelo plano: “melhorar o desempenho

gerencial da administração pública, tendo como elemento básico uma gestão pública

baseada em resultados”. Isso mostra o modelo de gestão adotado pelo governo

estadual atual, bem como as administrações anteriores. É um reflexo do paradigma

gerencial, ao inserir mecanismos gerenciais na gestão pública. Nogueira (2011, p. 45),

ao tratar da reforma administrativa na década de 90, diz que a administração gerencial

era entendida como um caminho para superar a burocracia estatal: preocupação

maior com os resultados do que os procedimentos, descentralização de atividades,

flexibilização de procedimentos, entre outros.

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A estrutura do Plano Plurianual está baseada nas dimensões estratégica,

tática e operacional, conforme disposto na figura abaixo:

Figura 5 – Estrutura do PPA 2016-2019.

Fonte: Ceará (2015c).

Os eixos governamentais que compõem o PPA 2016-2019, estão divididos

em sete perspectivas, que são os mesmos do plano intitulado de “7 Cearás”: Ceará

da Gestão Democrática por Resultados; Ceará Acolhedor; Ceará de Oportunidades;

Ceará Sustentável; Ceará do Conhecimento; Ceará Saudável; e Ceará Pacífico. A

intenção é que estes eixos levem o Estado do Ceará a alcançar a sua visão de futuro

para 2027: “Ceará, um Estado com Desenvolvimento Sustentável” (CEARÁ, 2015c, p.

13).

Considerando que o Estado do Ceará definiu a “participação cidadã” como

uma das premissas do Plano Plurianual 2016-2019 (II, art. 2º, Lei Nº 15.929/2015),

deu-se continuidade ao PPA Participativo e Regionalizado que já era realizado no

governo anterior. Conforme informa Ceará (2015d) em seu sítio eletrônico:

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O Planejamento e o Monitoramento do Plano Plurianual realizados de forma participativa e regionalizada, nas 14 regiões de planejamento do Estado do Ceará, faz parte do compromisso assumido pelo Governo do Estado do Ceará nas etapas de formulação, implementação, controle e avaliação de suas políticas públicas. O objetivo maior é aprofundar a democracia participativa, constituindo uma nova dinâmica entre Estado e Sociedade. Nesse sentido, a Secretaria do Planejamento e Gestão (Seplag) coordenaram a realização de encontros regionais, tanto no processo de formulação do PPA, como no de monitoramento e avaliação do plano, nos quais são travados diálogos com representações da sociedade, do poder local e do setor produtivo dos 184 municípios cearenses organizados em espaços regionais (CEARÁ, 2015d).

Durante a etapa de elaboração do PPA, foram realizadas 14 oficinas

perpassando todas as regiões de planejamento do Estado do Ceará, no período de

18 de junho a 10 de julho de 2015. Conforme Ceará (2015e, p. 41), o intuito das

oficinas de elaboração do PPA era refletir “acerca da realidade local/regional sobre

múltiplos desafios da superação das desigualdades e elaborar diretrizes e estratégias

a partir das vocações regionais que possam alavancar o desenvolvimento das

regiões”. A programação da oficina era composta pela apresentação da visão

estratégica do Ceará, apresentação do perfil da região, trabalhos de grupo e, por fim,

a realização de uma plenária. Na visão estratégica, eram apresentados os eixos que

compõem “Os 7 Cearás” como uma forma de alcançar a visão. Ressaltam-se dois

desafios para o Estado do Ceará naquele momento de formulação do PPA 2016-2019:

“Reduzir as desigualdades regionais e sociais; e Reduzir a pobreza”. Durante a

oficina, era apresentado o perfil da respectiva região, informando dados sobre sua

população, educação, saúde, saneamento e economia (CEARÁ, 2015e, p. 48).

As atividades nas oficinas incluíam o trabalho de grupo, que era composto

por três etapas distintas. Primeiramente, o grupo devia realizar um diagnóstico para

identificar os problemas que dificultam o desenvolvimento da região: “Quais os

principais entraves que estão impedindo ou dificultando que esta Região alcance um

novo patamar de Desenvolvimento”. No segundo momento, o grupo precisava definir

três objetivos estratégicos que se pretende alcançar para que aquela Região consiga

atingir novo grau de desenvolvimento: “A partir dos entraves identificados, onde

queremos chegar para atingir um novo patamar de desenvolvimento?”. Na terceira

etapa do trabalho de grupo, os membros eram convidados a apresentar estratégias

para alcançar cada um dos objetivos definidos na etapa anterior: “Que caminhos

deveremos percorrer para atingir os objetivos desejados?”. Ao final da oficina, era

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realizada a plenária, na qual cada grupo apresentava os resultados dos seus trabalhos

(CEARÁ, 2015e, p. 48).

Em 2015, na Mensagem do Governo que encaminha o Projeto de Lei do

Plano Plurianual 2016-2019 à Assembleia Legislativa, o governador do Estado,

Camilo Sobreira de Santana, comentou sobre a realização das oficinas de

planejamento participativo:

Esse processo de concepção do planejamento participativo possibilitou uma reflexão estruturada e descentralizada da realidade cearense, desvelando um quadro de enormes desafios a serem enfrentados, tendo em vista o grande déficit de políticas ativas de promoção do desenvolvimento, garantia do bem estar e provisão de bens públicos. Assim, um dos pressupostos para elaboração desse Plano foi que o Estado ainda tem dívidas a saldar enquanto provedor de bens públicos, avalista da proteção social e promotor da produtividade e do emprego (CEARÁ, 2015b, p. 17).

As oficinas realizadas durante o ano de 2015 para elaboração do PPA

2016-2019 Participativo e Regionalizado contaram com a presença de quase 1.085

pessoas, sendo que, desse total, 77% eram integrantes do poder público e 23% da

sociedade civil. A Mensagem do Governo destacou ainda que a metodologia utilizada

para elaboração do PPA permitiu “a superação da visão segmentada da totalidade à

luz de uma reflexão mais ampla sobre a dimensão regional/territorial”, bem como

propiciou o “compartilhamento das atribuições e responsabilidades entre os diversos

protagonistas no enfrentamento às desigualdades sociais e regionais e suas

sequelas” (CEARÁ, 2015b, p. 132).

Quadro 3 - Valores estimados para o PPA 2016-2019

Eixo/Tema Estratégico 2016-2019 % CEARÁ DA GESTÃO DEMOCRÁTICA POR RESULTADOS 1.388.532.672

4,0% GESTÃO FISCAL 222.546.053 PLANEJAMENTO E GESTÃO 770.005.209 TRANSPARÊNCIA, CONTROLE E PARTICIPAÇÃO SOCIAL 395.981.410 CEARÁ ACOLHEDOR 1.757.941.163

5,0% ASSISTÊNCIA SOCIAL 428.464.777 HABITAÇÃO 196.477.773 INCLUSÃO SOCIAL E DIREITOS HUMANOS 613.795.926 SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL 519.202.687 CEARÁ DE OPORTUNIDADES 9.588.323.883

27,4%

AGRICULTURA FAMILIAR E AGRONEGÓCIO 438.760.487 INDÚSTRIA 213.243.416 SERVIÇOS 235.000 INFRAESTRUTURA E MOBILIDADE 7.181.012.973 TURISMO 940.190.473 TRABALHO E RENDA 633.856.679 EMPREENDEDORISMO 22.349.324

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PESCA E AQUICULTURA 3.011.203 REQUALIFICAÇÃO URBANA 155.664.328 CEARÁ SUSTENTÁVEL 2.960.080.342

8,5% RECURSOS HÍDRICOS 2.159.101.774 MEIO AMBIENTE 653.267.535 ENERGIAS 147.711.033 CEARÁ DO CONHECIMENTO 5.320.106.218

15,2%

EDUCAÇÃO BÁSICA 2.024.095.035 EDUCAÇÃO PROFISSIONAL 1.486.308.262 ENSINO SUPERIOR 606.738.126 CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO 719.523.920 CULTURA 483.440.875 CEARÁ SAUDÁVEL 11.939.077.047

34,2% SAÚDE 9.993.070.561 ESPORTE E LAZER 192.042.972 SANEAMENTO BÁSICO 1.753.963.514 CEARÁ PACÍFICO 2.002.934.553

5,7% SEGURANÇA PÚBLICA 1.125.623.093 JUSTIÇA E CIDADANIA 851.029.962 POLÍTICA SOBRE DROGAS 26.281.498 Total Geral 34.956.995.878 100,0%

Fonte: Seplag (CEARÁ, 2015b, p. 164).

O Quadro 3 apresenta os valores estimados para o PPA 2016-2019,

distribuídos pelos eixos e temas estratégicos do referido plano. Como se pode

perceber, os eixos que concentram a maior parte do orçamento são o Ceará Saudável,

que representa 34,2% e engloba a área de saúde, e o Ceará de Oportunidades, com

27,4% e que inclui áreas como infraestrutura e trabalho.

Em relação ao monitoramento e avaliação, a Lei Nº 15.929/2015, que

institui o PPA 2016-2019, determina que:

Art. 12 O Plano Plurianual será acompanhado e monitorado sistematicamente para averiguação de seu desempenho ao longo de sua vigência, considerando as variações no comportamento dos indicadores dos eixos e temas e as realizações dos principais programas finalísticos. § 1º Caberá à Secretaria do Planejamento e Gestão do Estado do Ceará, como coordenadora do planejamento estadual, definir prazos, diretrizes, abrangência e orientações técnicas para o monitoramento da dimensão estratégica do Plano e dos programas especificados no caput junto aos órgãos e entidades do governo estadual. § 2º O Poder Executivo promoverá a realização de eventos, com a participação de representantes das Regiões de Planejamento do Estado, de modo a subsidiar a avaliação do Plano, de que trata o artigo 13 desta Lei, especialmente do disposto em seu inciso V (CEARÁ, 2015a).

Dessa forma, no ano de 2017 foram realizadas as oficinas de

monitoramento do PPA nas 14 regiões de planejamento. As oficinas, conforme o que

aponta o Relatório de Monitoramento do PPA, tinham como principal intuito promover

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uma reflexão sobre as ações realizadas pelo Governo Estadual nas 14 regiões,

objetivando a efetividade na implementação das políticas públicas, além de servir

como subsídio para o processo de Revisão do PPA para os anos 2018 e 2019

(CEARÁ, 2017c, p. 13).

As oficinas de monitoramento foram realizadas utilizando uma metodologia

participativa coordenada por técnicos da SEPLAG e estruturada em quatro momentos.

No primeiro momento, os participantes eram convidados a escolher um dos grupos de

trabalho, conforme os seus interesses e afinidades, sendo os grupos divididos por

eixos governamentais e respectivos temas estratégicos, conforme pode ser observado

no Quadro 4. Em seguida, o grupo era direcionado para uma das salas específicas

para a discussão do tema selecionado (CEARÁ, 2017c, p. 13).

No segundo momento, cada grupo realizava uma sequência de atividades,

a saber: a) inicialmente, o facilitador do grupo (técnico do governo) explicava as

atividades a serem realizadas, bem como o tempo para a realização das mesmas. O

grupo definia, entre os participantes, um para exercer a função de relator e um

correlator para, juntos, registrarem as informações resultantes das discussões do

grupo; b) trabalho individual onde cada participante analisava um relatório sobre os

objetivos regionais e as realizações do governo, respondendo, em seguida, um

questionário sobre sua percepção em relação às ações do governo; c) discussão com

todos os participantes do grupo sobre as diretrizes planejadas e as ações que foram

realizadas pelo governo em 2016, primeiro ano do PPA; d) em seguida foram

registrados os principais problemas, sugestões e demandas da região, no intuito de

reorientar as ações do governo para os anos de 2018 e 2019; e) por fim, a escolha,

através de votação, dos representantes da região para compor a Comissão Regional

de Interlocução do PPA (CEARÁ, 2017c, p. 13).

No terceiro momento, realizava-se a plenária com todos os grupos para

apresentação dos resultados dos trabalhos de cada grupo. No quarto e último

momento da oficina, definiam-se quais as estratégias regionais que deveriam ser

priorizadas e os devidos encaminhamentos. Também eram apresentados os

representantes regionais para atuarem em articulação com a Seplag (CEARÁ, 2017c,

p. 14).

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Quadro 4 - Grupos de trabalho do PPA. GRUPO / EIXO ESTRATÉGICO TEMAS DISCUTIDOS

CEARÁ ACOLHEDOR

Assistência Social Habitação Inclusão Social e Direitos Humanos Segurança Alimentar e Nutricional

CEARÁ DE OPORTUNIDADES

Agricultura Familiar e Agronegócio Trabalho e Renda Empreendedorismo Pesca e Aquicultura Indústria Serviços Infraestrutura e Mobilidade Turismo Requalificação Urbana

CEARÁ SUSTENTÁVEL Recursos Hídricos Meio Ambiente Energias

CEARÁ DO CONHECIMENTO

Educação Básica Educação Profissional Ensino Superior Ciência, Tecnologia e Inovação Cultura

CEARÁ SAUDÁVEL Saúde Esporte e Lazer Saneamento Básico

CEARÁ PACÍFICO Segurança Pública Justiça e Cidadania Política sobre Drogas

Fonte: Ceará (2017d, p. 29).

Em 2018, após dois anos de execução do PPA 2016-2019, foi realizada a

avaliação do biênio 2016-2017 desse planejamento governamental do Estado do

Ceará, com o intuito de atender o que está previsto na lei 15.929/2015:

Art. 13 O Poder Executivo realizará avaliações sistemáticas do Plano, com a utilização de sistemas informatizados, disponibilizando seus resultados para consulta ampla dos órgãos de controle e da sociedade. Parágrafo único. O Relatório de Avaliação de que trata o caput consistirá: I – de avaliação do comportamento e evolução das variáveis macroeconômicas que fundamentaram a elaboração do Plano; II – de avaliação do desempenho dos eixos e temas estratégicos, tendo como base seus resultados e indicadores; III – da avaliação dos principais programas finalísticos, considerando o cumprimento das metas dos produtos das iniciativas que contribuíram para o alcance dos resultados alcançados; IV – de demonstrativo da execução orçamentária acumulada, conforme os períodos de que trata o caput deste artigo, de forma regionalizada, por Eixo, Tema Estratégico e Programas Finalísticos; e V – de avaliação da sociedade acerca da ação do Governo expressa no Plano (CEARÁ, 2015a).

Para tanto, dentre as diversas atividades realizaram-se novas oficinas

participativas e regionalizadas para avaliar o PPA e verificar a percepção da

sociedade em relação ao desempenho da gestão pública estadual na execução das

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ações planejadas. Para essa avaliação participativa, a SEPLAG utilizou uma

metodologia semelhante a que foi aplicada para o monitoramento participativo

realizado no ano anterior, conforme relato a seguir.

Em síntese, em cada uma das oficinas regionais realizadas, foi feita pela equipe técnica da Secretaria do Planejamento e Gestão (Seplag) uma exposição em plenária da análise do desempenho dos Eixos Governamentais de Articulação Intersetorial (Os 7 Cearás) e, em seguida, os participantes foram divididos em grupos de trabalho, onde fizeram uma leitura e análise de desempenho dos temas a partir dos Cadernos Regionais e convidados a preencher um formulário de avaliação individual. Esse formulário continha duas seções de avaliação, com base nas diretrizes anteriores e nos resultados apresentados. Em seguida, era aberto um momento de discussão e esclarecimento com os agentes das equipes técnico-setoriais do Governo que estiveram presentes. No momento seguinte, passava-se para uma discussão em grupo e para votação da satisfação das diretrizes apresentadas, indicando o grau de satisfação em relação às diretrizes regionais. Nesse momento, os integrantes podiam compartilhar seus conhecimentos e experiências sobre o tema, inclusive entre grupos. Ao final, era realizada a apresentação da consolidação dos trabalhos dos grupos em plenária aberta (CEARÁ, 2018f, p. 564).

Apresentam-se, a seguir, algumas informações referentes ao público

participante das oficinas de monitoramento e à avaliação do PPA 2016-2019, que

ocorreram nas regiões de planejamento em 2017 e 2018, respectivamente.

Gráfico 1 - Público participante das oficinas do PPA 2016-2019

Fonte: Elaborado pelo autor, com base em: Ceará, 2017d, p. 15; Ceará, 2018f, p. 564.

179167

244

101

7763

150

51

183

50

67

147

40

112

184

107

36

254

97

76

219

53

70 64

193

78

233

84

0

50

100

150

200

250

300Monitoramento 2017 Avaliação 2018

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No ano de 2017, as 14 oficinas regionais para monitoramento do PPA

contaram com um público total de 1631 participantes. Destacam-se, com os maiores

números de participantes, a Grande Fortaleza, com 244 (14,96%) participantes, e

Sertão Central, com 183 (11,22%). As regiões que apresentaram baixa participação

foram Sertão dos Inhamuns, com 40 (2,45%), e Sertão de Canindé, com 50 (3,07%)

participantes (CEARÁ, 2017d, p. 15).

Já em relação às oficinas regionais realizadas em 2018 para avaliação do

PPA, registrou-se um público total de 1748 participantes. As regiões que registraram

as maiores participações foram Litoral Leste (254), com 14,53% do total, e Sertão dos

Inhamuns (233), com 13,33%. As baixas participações ocorreram nas regiões Grande

Fortaleza (36), representando 2,06%, e Serra da Ibiapaba (53), com 3,03% (CEARÁ,

2018f, p. 564). Vale salientar que em 2018 houve apenas 13 oficinas, pois, conforme

Ceará (2018f, p. 563), “a Oficina Regional da Grande Fortaleza foi cancelada devido

a uma mudança logística que ocasionou um baixo quantitativo de cidadãos

participantes e não foi possível remarcá-la, por conta das restrições do período

eleitoral”.

Percebe-se que há uma inversão na região que mais houve participação

quando se compara o ano de 2017 com 2018. A região Grande Fortaleza sai de uma

maior participação em 2017 para a não realização da oficina de avaliação em 2018.

Alega-se que a oficina não ocorreu devido às restrições do período eleitoral, mas na

verdade se percebe o quanto é forte o período eleitoral no Estado do Ceará e o quanto

isso se sobrepõe a outros interesses e demandas de interesse público dentro da

atuação governamental.

5.3 Visão institucional do processo participativo do PPA

A pesquisa avaliativa, postulada por Silva (2008, p.44), considera os

sujeitos envolvidos nas políticas, bem como os seus interesses, tendo como

fundamento os seus valores e concepções em relação à realidade social. Por essa

razão, com o intuito de aprofundar-se na temática do planejamento participativo

estadual, em específico o processo do PPA, realizaram-se entrevistas

semiestruturadas com quatro técnicos do governo estadual, que trabalham na

condução dos processos de planejamento. Para as análises das entrevistas, foi

utilizado o software Iramuteq.

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Como foram realizadas quatro entrevistas, o corpus total foi constituído por

quatro textos. Esses foram divididos em 247 segmentos de textos (ST), que se referem

a pequenos recortes realizados pelo software para consecução das análises. O

material processado contou com o aproveitamento de 78,14% (193 STs). Surgiram

8.761 ocorrências, ou seja, palavras, formas ou vocábulos. Dessas ocorrências, 1.049

são palavras diferentes e 458 aparecem uma única vez.

Conforme Camargo e Justo (2013, p. 516), a Classificação Hierárquica

Descendente (CHD), através do Método de Reinert, “classifica os segmentos de texto

em função dos seus respectivos vocabulários, e o conjunto deles é repartido com base

na frequência das formas reduzidas (palavras já lematizadas)”.

Figura 6 - Dendograma da Classificação Hierárquica Descendente (CHD).

Fonte: Elaborada pelo autor - software Iramuteq.

Depois de realizar a CHD no software Iramuteq, o conteúdo do corpus

textual foi categorizado em três classes, conforme se pode perceber no dendograma

que também apresenta a relação entre as classes (Figura 6). A classe 1 (vermelho)

conta com 35,2% dos segmentos de textos. A classe 2 (verde), com 26,9%. A classe

3 (azul), com 37,8%. É possível perceber no dendograma que há duas ramificações.

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A primeira ramificação apresenta a classe 1, que se encontra isolada. A segunda

ramificação é composta pelas classes 2 e 3, de forma associada.

A Figura 07 apresenta a CHD com o filograma de palavras relacionadas a

cada classe. Quanto mais a palavra estiver próxima ao topo, maior é a sua

representatividade e importância para a respectiva classe lexical. Analisando as

palavras que representam cada uma das classes, é possível compreender a

percepção dos sujeitos entrevistados sobre a temática em estudo, bem como

relacionar com o referencial teórico.

Figura 7 - Classificação Hierárquica Descendente (CHD) - Filograma de Palavras

Fonte: Elaborada pelo autor - software Iramuteq.

A classe 1 (vermelho) está relacionada ao planejamento público do governo

estadual, tendo se destacado palavras como planejamento, instrumento,

competência, órgão, metodologia, coordenar, entre outras. Destacam-se, a seguir,

alguns trechos de textos típicos dessa classe:

Compreender que nos níveis estratégico, temático e programático, a gente tem os indicadores que são elementos, parâmetros para avaliar os objetivos

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de cada programa. Programa é o elemento maior de planejamento, orçamento e gestão que vem para responder e resolver os problemas. É muito importante compreender isso. E ele faz essa correlação com a lei orçamentária anual, que é a viabilidade econômica para ver até que ponto isso acontece. [...] No processo de articulação tem a função da Seplag de coordenação estadual do processo. Essa coordenação estadual tem uma relação com que cada setorial vai trabalhar dentro de cada tema por eixo da estrutura do planejamento. As áreas de planejamento de todos os órgãos são articuladas ao processo de construção do planejamento, na competência de coordenar a elaboração, monitoramento, avaliação e revisão dos instrumentos de planejamento e gestão está o instrumento de PPA, Plano Plurianual, com todas suas etapas, metodologias e processos (ENTREVISTADO D, 2019).

O Entrevistado D (2019) destaca ainda o modelo de gestão para resultados,

que é uma das premissas do PPA:

O PPA ele tem algumas orientações maiores e dentre as cinco premissas do PPA, que são orientações, diretrizes orientadoras, a primeira delas é a gestão pública para resultados que é a gente sai de um planejamento por competência e por órgão, mas por tema e por razão diante da identificação. Isso significa que é um planejamento levado na dimensão por impacto e por resultado (ENTREVISTADO D, 2019).

É possível perceber que a classe 1 alinha-se com a ideia de que o

planejamento público é um instrumento de gestão que perpassa as diversas áreas

dos órgãos do governo, utilizando-se de estruturas metodológicas que orientam as

ações para o alcance dos resultados.

Na segunda ramificação há a classe 2 (verde), que foi categorizada como

participação social. Sobressaem, nessa classe, palavras como pessoa, participar,

discussão, base, político, além de outras. Apresentam-se, a seguir, alguns trechos

típicos da segunda classe:

Costumo dizer que é o exercício da cidadania na formulação de políticas. É você proporcionar que todo e qualquer cidadão nesse território cearense tenha a oportunidade de ser ouvido na formulação, na implementação, na execução, na avaliação, no monitoramento, em todas as fases da política pública. Porque a gente trabalha, o governo trabalha para a sociedade. Então você tem que proporcionar essa participação, de modo que saiba se a política está sendo de forma efetiva, está tendo a resposta adequada por parte do principal cliente que a população, beneficiária das políticas. [...] Eu não consigo ver uma política pública, um planejamento, um governo que não ouviu o seu beneficiário. Não consigo observar uma gestão pública que não seja baseada na escuta, baseado no diálogo, baseada no ouvir o cliente. (ENTREVISTADO C, 2019). Para quê que o governo serve? Ele funciona para atender a sociedade. Se a sociedade não está ali participando, não está dizendo o que é que realmente é uma política pública importante para ela, não faz sentido.

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[...] E na metodologia a gente sempre fica buscando inovações para fazer com que tanto a gente tenha uma participação maior e que também a participação seja efetiva, tenha um significado bom e tenha um resultado muito bom tanto para o governo como para a sociedade (ENTREVISTADO A, 2019).

Em relação aos meios disponíveis para o exercício da participação, o

Entrevistado C (2019) destaca mudanças e ampliação dos canais participativos, com

o intuito de obter um maior número de cidadãos participantes:

Eu acho que nos próximos anos a gente vai intensificar mais o processo de participação virtual. Continuar com o momento presente que é importante, só que não exclusivo como vinha sendo feito há 10 anos. E a diversificação dos mecanismos de mobilização, chamada pelo WhatsApp que isso é mais efetivo que às vezes passar um e-mail. Passar e-mail é importante, mandar mensagens no WhatsApp e colocar nas mídias sociais, que hoje todo mundo tem acesso à internet, a Facebook, Instagram, rádio, enfim, multicanais. Governos mais modernos são mais transparentes, são mais abertos, as pessoas se sentem mais livres para interagir (ENTREVISTADO C, 2019).

Fechando a segunda ramificação do dendograma, há a classe 3 (azul), que

se encontra associada à classe 2. Essa categoria está relacionada às necessidades

dos cidadãos e aos desafios da participação. Entre as palavras que apresentam maior

relevância para essa classe, estão: precisar, necessidade, querer, mobilização, ouvir,

cidadão, além de outras. Algumas partes dos textos destacam-se pela relação com

essa classe:

A participação social é quando a população tem a oportunidade de se manifestar, de avaliar o trabalho que é feito pelo governo e também dizer as necessidades que ela tem, que ela precisa, que a região precisa, dentro da situação em que ela se encontra, como a gente recebe as políticas do governo, ter a possibilidade de tanto demandar, como avaliar se a demanda dela foi atendida (ENTREVISTADO A, 2019). A gente quer o governo para ouvir, a gente quer o governo para assimilar junto com o cidadão qual é a real necessidade dele. Para gente o foco mesmo é o cidadão, é aonde chega o serviço, é lá na ponta. É lá onde o cidadão vai dizer se está sendo bem atendido na educação, se o filho tá na escola, se tem menos fila para ele ser atendido no posto médico ou no hospital regional (ENTREVISTADO B, 2019).

O Entrevistado B (2019) comenta que o governo estadual espelhou-se na

política participativa do governo federal e que houve recurso do Banco Mundial para

financiar o PPA Participativo e Regionalizado:

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Aí foi que no governo seguinte assumiu uma secretária que tinha essa visão da participação, já tinha trabalhado nessa questão da participação, inclusive fora do país. O governo federal começou também e a gente copiou muita coisa do governo federal. Nós fomos em temos de Ceará o pioneiro. Era uma equipe reduzida, a gente contou com a ajuda do recurso do Banco Mundial, onde a gente começou a viajar pelos municípios com uma equipe reduzida. Mas, assim, o resultado foi tão bom, no final o produto ficou tão afiado, era a linguagem comum do cidadão (ENTREVISTADO B, 2019).

Nessa classe 3, há um elemento que foi muito utilizado pelos entrevistados,

como uma questão desafiante para a efetividade do processo de planejamento

participativo: mobilização. É a articulação para fazer a sociedade despertar e

interessar-se pela participação no planejamento governamental. Vejamos algumas

falas ligadas a esse desafio:

Eu não diria retrocesso, mas uma coisa que a gente tem que focar, a gente vem sentindo isso, é a mobilização. A gente contratou uma consultoria na época e de antemão, nos primeiros trabalhos, a gente já notou que existia uma fragilidade na mobilização (ENTREVISTADO B, 2019). Agora a mobilização é o nosso principal ponto nevrálgico, o nosso principal calcanhar de Aquiles. É fazer com que as pessoas certas estejam no momento certo para discussão. Mas então esse é o desafio, porque quem a gente quer ouvir, às vezes ele não pode estar presente, porque está trabalhando, porque está em casa arrumando as coisas, porque tá fora da cidade (ENTREVISTADO C, 2019). A gente até trabalha muito mobilização. Trabalha mobilização com as lideranças locais, com as prefeituras e tudo. Mas a gente entende que tem algumas dificuldades, questão de deslocamento para o município, às vezes não tem essa facilidade (ENTREVISTADO A, 2019).

O Entrevistado C (2019) relata que até 2014 a articulação e mobilização

dos Encontros Regionais do PPA eram de responsabilidade da Vice-Governadoria do

Estado e que sempre havia a presença de autoridades políticas, que participavam

somente do momento de abertura e, quando saiam do encontro, metade do público

saía junto. E complementa:

Perdemos um pouco a questão da mobilização política, mas em compensação a gente tentou intensificar a questão da mobilização da sociedade, o que se mostrou um pouco difícil. Porque às vezes tá casada, às vezes parte da sociedade vem quando o político vem, principalmente. Isso acontece muito no interior do Estado. Quando o político está presente, pode ter certeza, tem um bocado de gente lá. Quando não está político, vem pouquíssimas pessoas. Mas vem aqueles que têm mais vontade de discutir, porque ele vem pela discussão, não vem pela parte política (ENTREVISTADO C, 2019).

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Tomando por base a CHD, o software Iramuteq disponibiliza outra opção

de visualização dos resultados, que ocorre através Análise Fatorial de

Correspondência (AFC). Na AFC é possível analisar as relações entre as classes que

estão dispostas em um plano cartesiano, bem como as palavras e termos que

possuem maior associação com cada uma das classes, conforme Figura 8.

O fator 1, que corresponde à linha horizontal, ilustra 62,26% da variância

total de respostas. Já o fator 2, que corresponde à linha vertical, explica 37,74% da

variância total de respostas. Percebe-se na Figura 8, que há uma proximidade entre

as classes 2 (verde) e 3 (azul), bem como um distanciamento da classe 1 (vermelho)

em relação às classes 2 (verde) e 3 (azul). Cada uma das três classes está em

quadrantes diferentes, demonstrando que cada classe apresenta contextos

semânticos distintos.

Figura 8 - Análise Fatorial de Correspondência.

Fonte: Elaborada pelo autor - software Iramuteq.

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Depois de apresentar toda a contextualização das experiências de

planejamento e participação nos governos do Estado do Ceará nesse capítulo 4, é

possível perceber que o governo vem tentando aprimorar e modernizar as suas

práticas de gestão, para promoção de um planejamento participativo que leve a um

desenvolvimento socioeconômico.

No capítulo 6, a seguir, será apresentada e discutida uma análise sobre a

percepção da sociedade em relação a participação social nas etapas de elaboração,

monitoramento e avaliação do PPA 2016-2019 na Região Vale do Jaguaribe, bem

como uma avaliação da participação da sociedade na referida política de

planejamento participativo.

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6 AVALIAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE NO PPA DA REGIÃO VALE

DO JAGUARIBE

Depois de apresentar a estruturação e base conceitual dos processos

inerentes ao PPA do Estado do Ceará, bem como a visão institucional do governo

sobre o processo participativo do PPA, apresenta-se a percepção da sociedade sobre

a participação no PPA da região Vale do Jaguaribe e uma avaliação dessa

participação.

6.1 Visão da sociedade sobre o PPA no Vale do Jaguaribe

Para obter a visão da sociedade, realizou-se uma pesquisa empírica por

meio da aplicação de questionários junto aos participantes das oficinas do PPA 2016-

2019, na Região Vale do Jaguaribe. Essa etapa da pesquisa contou com a

participação de 40 pessoas, presentes em, pelo menos uma das três oficinas regionais

do PPA 2016-2019, realizadas no Vale do Jaguaribe.

Inicialmente, serão apresentadas algumas informações relacionadas ao

perfil dos respondentes. Entre os participantes da pesquisa, a maioria identificou-se

como do gênero masculino, o que representou 57% da amostra, enquanto 43% são

do gênero feminino. Em relação à cor, 90% do total de respondentes declararam-se

pardos ou brancos. Entre o público masculino, a maior parte identificou-se como pardo

(60,9%). Em relação ao público feminino, uma leve maioria declarou-se como branco

(52,9%). Apenas uma pessoa declarou-se como negro (2,5%). As demais relações

entre gênero e cor podem ser observadas na Tabela 1 abaixo:

Tabela 1 – Participantes, por gênero e cor

Gênero Cor

Total Branco Negro Amarelo Pardo Prefiro não

declarar

Feminino 9 52,9%

0 0,0%

1 5,9%

7 41,2%

0 0,0%

17 100,0%

Masculino 6 26,1%

1 4,3%

0 0,0%

14 60,9%

2 8,7%

23 100,0%

Total 15 37,5%

1 2,5%

1 2,5%

21 52,5%

2 5,0%

40 100,0%

Fonte: Elaborado pelo autor, software SPSS.

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95

Conforme se percebe no Gráfico 2, acima, a maior parte do público

respondente encontra-se nas faixas etárias que vão de 30 a 49 anos, o que representa

67,5% do total de participantes. Não houve respondente na faixa etária de 16 a 19

anos.

Gráfico 2 – Participantes, por faixa etária

Fonte: Elaborado pelo autor, software SPSS.

Em relação à escolaridade dos participantes da pesquisa, 50% afirmaram

ter pós-graduação e 27,5%, superior completo. Esse resultado significa que 77,5%

dos respondentes possuem, no mínimo, o ensino superior, ou seja, a maior parte do

público possui um nível alto de escolaridade. Em se tratando de renda, 32,5%

declararam ter renda entre três e cinco salários mínimos, sendo que 75,5% desses

possuem, no mínimo, nível superior. Os que ganham entre cinco e 10 salários,

representam 30% do total, e 67,7% dos que se encontram nessa faixa de renda, têm,

no mínimo, superior completo. As relações entre escolaridade e renda podem ser

conferidas na Tabela 2, a seguir:

4; 10%

11; 27%

9; 23%

16; 40%

20 a 29 anos 30 a 39 anos 40 a 49 anos Mais de 50 anos

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Tabela 2 – Participantes, por escolaridade e renda

Escolaridade

Renda

Total

Até

1 S

M

Ent

re 1

a 3

SM

Ent

re 3

e 5

SM

Ent

re 5

e 1

0 S

M

Aci

ma

de 1

0 S

M

Ensino fundamental 0 0,0%

0 0,0%

1 100,0%

0 0,0%

0 0,0%

1 100,0%

Ensino médio 2 25,0%

3 37,5%

1 12,5%

1 12,5%

1 12,5%

8 100,0%

Superior completo 1 9,1%

2 18,2%

5 45,5%

2 27,3%

0 0,0%

11 100,0%

Pós-graduação 0 0,0%

6 30,0%

6 30,0%

8 40,0%

0 0,0%

20 100,0%

Total 3 7,5%

11 27,5%

13 32,5%

12 30,0%

1 12,5%

40 100,0%

Fonte: Elaborado pelo autor, software SPSS.

Do total de respondentes, 57,5% informaram que têm algum vínculo com

alguma entidade da sociedade civil. Entre os que responderam “sim”, há uma

predominância do público masculino, já que representam 69,6%. Entre as entidades

com as quais os respondentes afirmaram ter vínculos, foram citadas a Associação

Mulheres Empreendedoras do Ceará, a Associação Projeto Paz e União, o Movimento

Acredito, a Pastoral da Criança, a Maçonaria, o Sindicato dos Trabalhadores, entre

outras.

Tabela 3 - Vínculos com entidades e preferência/filiação partidária por gênero

Questões Gênero

Total Feminino Masculino

Você tem algum vínculo com alguma entidade da sociedade civil?

Sim 7 30,4%

16 69,6%

23 100,0%

Não 10 58,8%

7 41,2%

17 100,0%

Você possui preferência ou filiação partidária?

Sim 7 29,2%

17 70,8%

24 100,0%

Não 10 62,5%

6 37,5%

16 100,0%

Total 17

42,5% 23

57,5% 40

100,0% Fonte: Elaborado pelo autor, software SPSS.

Quando foi perguntado se o participante possui alguma preferência ou

filiação partidária, 60% responderam “sim”. Aqui também houve uma predominância

masculina, já que representam 70,8% dos que confirmaram. Mais detalhes sobre os

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97

vínculos com entidades da sociedade civil e preferência/filiação partidária por gênero

podem ser observados na Tabela 3. Esses resultados mostram, de uma forma geral,

que mais da metade dos respondentes já possui alguma experiência participativa, seja

social, por meio das entidades, seja política, por meio dos partidos.

Foi questionado também sobre quais as oficinas do PPA 2016-2019 na

Região Vale do Jaguaribe o respondente participou, conforme Tabela 4. Nessa

questão, era possível marcar mais de uma opção, já que uma mesma pessoa poderia

ter participado de mais de uma oficina. Do total de respondentes da pesquisa, 37,5%

participaram da oficina regional de elaboração do PPA, que ocorreu em 2015. Em

relação à oficina de monitoramento, ocorrida em 2017, 40% dos respondentes

afirmaram ter participado. E, por último, 77,5% participaram da oficina de avaliação

do PPA realizada em 2018. Esses dados são importantes para mostrar que essa

pesquisa conta com a participação de pessoas que fizeram parte de uma ou mais das

3 oficinas realizadas na região Vale do Jaguaribe.

Tabela 4 - Participação nas oficinas do PPA, na Região Vale do Jaguaribe

Oficinas do PPA Nº Respostas Percentual de Casos

Elaboração (2015) 15 24,2% 37,5%

Monitoramento (2017) 16 25,8% 40%

Avaliação (2018) 31 50% 77,5%

Total 62 100% 155%

Fonte: Elaborado pelo autor, software SPSS.

Com o intuito de coletar informações sobre a percepção dos participantes

da sociedade em relação ao processo participativo do PPA 2016-2019 na região Vale

do Jaguaribe, foram apresentadas algumas afirmações para que os respondentes

atribuíssem um grau de concordância com cada uma delas, respondendo numa

escala de 1 (discordo totalmente) a 7 (concordo totalmente).

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Gráfico 3 - Percepção dos Participantes sobre o PPA na Região Vale do Jaguaribe

Fonte: Elaborado pelo autor, software SPSS.

No Gráfico 3, é possível verificar os resultados da avaliação dos

participantes em relação ao PPA. Percebe-se que sentiram abertura para participar

das oficinas do PPA (60%) e que os mesmos participaram ativamente das discussões

do PPA (72,5%), já que a maioria dos respondentes apresentou um bom grau de

concordância ao marcar 6 ou 7 para as afirmativas X1 e X2. Isso alinha-se à

metodologia adotada pela SEPLAG para realização das oficinas, quando se

estabelecem momentos de discussão em grupos, por áreas temáticas, e o momento

final da oficina, quando se realiza a plenária geral para mostrar os resultados das

discussões de cada um dos eixos do PPA.

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99

Algumas afirmativas tiveram níveis de concordância menores, com

tendência à neutralidade, a exemplo das afirmativas relacionadas à definição de

prioridades para a região: X3. A população decidiu realmente sobre as ações

prioritárias do PPA, em que a avaliação média ficou em 4,55 e desvio padrão de 1,484;

X7. Eu percebi que o governo realizou obras e projetos que foram discutidos e

definidos no PPA como prioritários para a região, com média de 4,53 e desvio padrão

de 1,358; e X8. Eu percebo que o PPA implantado pelo governo tem resultado positivo

e atende as necessidades da região, que teve média de 4,68 e um desvio padrão de

1,289. Esses resultados não chegam a ser algo negativo, pois ainda demonstram uma

concordância parcial, mas são aspectos que podem e devem ser melhorados. Isso

mostra um pouco da percepção que o participante tem em relação aos resultados

concretos da sua participação, sobre a entrega dos resultados traçados, que refletem

em equipamentos e serviços à sociedade. Uma das questões é que na metodologia

do PPA Participativo e Regionalizado discutem-se os problemas e as possíveis

soluções que são convertidas em diretrizes para a atuação do governo estadual. O

governo é quem analisa e estabelece as soluções adequadas para atender as

diretrizes regionais, dentro de suas condições técnicas e orçamentárias. Durante as

entrevistas realizadas com representantes da área de planejamento do governo

estadual, o Entrevistado C chegou a comentar sobre essa questão metodológica:

Até 2014, para o PPA anterior a esse que nós estamos, o método era mais levantamento de demandas. E aí surgia muitas coisas do tipo: aí eu quero Hospital, eu quero uma policlínica, eu quero uma calçada, eu quero uma ponte, eu quero eu quero ter as coisas. E quando foi no processo de 2015, houve uma grande ruptura do modelo anterior e as pessoas se sentiram até naquele momento incomodadas quem estava na participação. [...] Então a gente mudou a metodologia para que ela não tenha a percepção de que ela diria o objeto que tem que ser feito, mas o caminho que deve ser seguido. Antes se a gente saia com o material da oficina que iria construir um hospital regional, por exemplo, nessa metodologia estaria assim: ampliar o acesso de cirurgias. O governo aqui diz: para ampliar o acesso a cirurgias e consultas especializadas eu vou construir um hospital porque eu tenho condições? Perfeito! Eu vou conveniar com hospitais já existentes? Outra estratégia (ENTREVISTADO C, 2019).

Outro aspecto avaliado pelos participantes foi se O PPA trouxe mudanças

na relação governo-sociedade, conforme consta na afirmativa X5. A avaliação dessa

afirmativa apresentou uma média de 4,53, com desvio padrão de 1,519, e ficou em

uma faixa entre neutralidade (4) e concordância parcial (5), que representa 55% das

respostas. A afirmativa X4, A maneira como as oficinas do PPA foram organizadas na

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100

região propiciou uma ampla participação da população, apresentou uma concordância

parcial, ficando com média de 4,78 e desvio padrão de 1,641. Os próprios

entrevistados que representam o governo destacaram alguns aspectos que são

desafiantes e que dificultam uma ampla participação da população, entre eles está a

questão da mobilização.

Destacam-se aqui algumas variáveis que tratam da percepção dos

participantes sobre democracia e processos participativos. A afirmativa X6, A união

dos cidadãos com o governo promove mudanças para o desenvolvimento e a melhoria

da qualidade de vida no local onde vivem, obteve um alto grau de concordância, já

que os níveis 6 e 7 representaram 67,5% das respostas. A variável que apresentou a

maior média (6,00) e o menor desvio padrão (1,062) foi a X10, Eu considero o PPA

como instrumento de democratização das políticas públicas para o Ceará. Isso

demonstra um alto nível de concordância e expressa um consenso entre os

respondentes, mostrando que o planejamento participativo é essencial para as

políticas públicas.

Por fim, na afirmativa X11, Participar do PPA me levou a acreditar mais em

processos participativos, 72,5% das respostas ficaram nas faixas 6 e 7, demonstrando

um alto nível de concordância. Quando se acredita em processos participativos, há

uma propensão maior para continuar participando deste ou de outros espaços

públicos abertos à participação da sociedade. Não por acaso, alinhando-se à

afirmativa X11, 40% do total de respondentes participaram de, pelo menos, duas

oficinas do PPA e 15% participaram das três oficinas do PPA, que foram realizadas

na região Vale do Jaguaribe.

Ao final do questionário aplicado junto aos participantes da sociedade,

foram apresentadas duas questões abertas, com o intuito de captar mais informações

sobre a percepção dos respondentes em relação ao PPA 2016-2019 da região Vale

do Jaguaribe. Para analisar essas questões abertas, utilizou-se o software Iramuteq

para realizar uma análise lexical por meio de nuvem de palavras, onde as palavras

são organizadas conforme a sua frequência.

Assim, questionou-se: Por que você decidiu participar das oficinas do PPA?

As palavras que tiveram as maiores frequências nas respostas dos participantes

podem ser observadas na Figura 9, destacando-se as palavras desenvolvimento,

região, importante, contribuir, participar, melhoria, entre outras.

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101

Figura 9 - Nuvem de Palavras – Motivação para participar das oficinas do PPA.

Fonte: Elaborada pelo autor - software Iramuteq.

Considerando o questionamento que foi realizado, seguem algumas

respostas apresentadas pelos respondentes sobre as razões que os levaram a

participar das oficinas do PPA:

“Porque achei importante para o desenvolvimento do Estado”;

“Contribuir com o desenvolvimento do estado e da microrregião”;

“Desde 1998 participo de colegiados espontâneos ou institucionais para debate e desenvolvimento da região do Vale do Jaguaribe”;

“Porque considero importante a participação do cidadão no planejamento de melhorias para a sociedade”;

“Acho que tem uma importância muito grande para o acesso às políticas públicas e desenvolvimento da população”;

“Pela necessidade de buscar informações e um aprendizado entre governo e a população, na certeza de que unidos podemos atingir os nossos objetivos”;

“Conhecer melhor as questões da região onde trabalho e buscar contribuir com as discussões”;

“Porque acho importante a sociedade participar do planejamento de políticas públicas”;

“Para reivindicar recursos para cultura na região. Apresentar propostas a favor da cultura”;

“Devido a metodologia aplicada pela coordenação do PPA, pois faz com que os diversos segmentos da sociedade sintam-se inseridos nas discussões em prol do desenvolvimento social, político, econômico de toda região”.

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“Tendo em vista ser uma forma democrática da sociedade opinar nas decisões para melhorias de seus munícipes”;

“Porque acho que é um momento importante para interagir com a sociedade e chegar a um consenso do que é melhor para a sociedade regionalizada”;

“Para participar ativamente do planejamento de ações e políticas públicas, ações essa que vão influenciar diretamente na vida da população, que podem ajudar a trazer desenvolvimento local e melhorias na qualidade de vida dos municípios”;

Percebe-se, na maioria das respostas que foram expostas acima, o

interesse em participar e contribuir para a construção de políticas públicas que

promovam o desenvolvimento da região. Isso demonstra que há um alinhamento do

conteúdo das respostas dos participantes com o que foi abordado nas discussões

teóricas em que se debateu sobre as relações entre Estado e sociedade, sobre o

planejamento como estratégia para a promoção do desenvolvimento, bem como sobre

a democracia e a participação no Brasil.

Por fim, foi perguntado: O que você mudaria para que esta participação

social na política de planejamento estadual acontecesse de forma mais efetiva? A

Figura 10 apresenta as palavras que se destacaram nas respostas dos participantes,

a exemplo de: participação, município, discussão, população, maior, divulgação, entre

outras.

Figura 10 - Nuvem de Palavras – Sugestões para um PPA mais participativo

Fonte: Elaborada pelo autor - software Iramuteq.

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103

Assim, aqui se expõe e se discute algumas das respostas que foram

elencadas com sugestões e que podem servir para uma melhoria nas metodologias

de planejamento participativo:

“Ausência de participantes dos distritos na reunião ampliada. Para debate

mais acurado, é insuficiente o tempo de execução das oficinas. Se o governo estadual entende que os habitantes da região conhecem-na melhor que os técnicos de birô, faz-se necessário o alinhamento de conceitos (lei orçamentária, políticas públicas, governança, etc.) entre os participantes e os técnicos, para eliminação de conflitos e estabelecimentos de responsabilidades”;

“Planejar com a quantidade de recurso de possível aplicação, não sendo muito amplo e mais específico”;

“Que realmente fosse posto em prática as decisões, levando em conta as necessidades regionais”;

Alguns participantes chamaram a atenção para a necessidade de uma

melhor mobilização e divulgação das oficinas na região:

“Enviaria uma equipe de divulgação do evento aos municípios com bastante antecedência para ir até as várias instituições (Sindicatos, Emissoras de Rádio, Escolas, IES, Câmara de Vereadores, Igrejas, etc.) e assim fazer a sensibilização da comunidade para importância de sua plena participação”;

“Melhoraria a divulgação de forma mais popular em diferentes níveis sociais e incentivaria os jovens a participar”;

“Mobilizar os atores sociais com antecedência; muitos foram contatados ontem para o evento hoje. Realizar visitas as câmaras municipais e prefeituras da região, como também as organizações da sociedade civil para uma maior participação”;

Houve sugestões para que haja um rodízio entre os municípios da região

que receberão as oficinas:

“Mudaria de cidade a cada oficina”;

“Que os encontros regionais (oficinas) fossem realizados de forma mais descentralizada entre os municípios da região, podendo assim oportunizar mais acesso a sociedade de uma forma geral”;

Alguns respondentes demonstraram a necessidade de realizar uma

ampliação do processo do PPA, para que ocorram etapas de discussão em cada

município e que os resultados dessas discussões sejam levados para a oficina

regional:

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104

“Criar pré-encontros em pequenas comunidades nos municípios e agregar as discussões menores no PPA geral da região. Acredito que a população, principalmente de baixo renda, não tem condições efetivas de participação. Nesses pré-encontros deveriam ser pensadas metodologias que permitissem a participação de qualquer pessoa, mesmo que ela fosse analfabeta”.

“Acredito que teríamos que ter momentos preparativos com as localidades e depois faríamos uma assembleia deliberativa”;

“Entendo que deveria ocorrer discussões prévias em cada município, antes do encontro regional. Nos encontros municipais utilizar estratégias para a efetiva participação de todos os munícipes”

“Há elementos, não totalmente explicados, que dificultam uma maior participação popular. Seriam os modelos das oficinas que dificultam maior participação? Penso que deveria haver uma etapa (etapas) anterior em que comunidades, associações, instituições participassem e as oficinas fossem a culminância desses processos”.

Surgiram sugestões para que sejam criados conselhos ou comissões que

possam representar os municípios e/ou as regiões:

“Criaria um conselho de monitoramento e com poder de definição das prioridades que definirmos”;

“Que após essas discussões, a tomada de decisões fosse através de uma comissão com os municípios”;

Vale salientar que no ano de 2017, durante as oficinas regionais de

monitoramento do PPA, foi criada, em cada uma das regiões de planejamento, uma

Comissão Regional de Interlocução do PPA, formada por representantes regionais e

com o objetivo principal de servir de ponto focal de interlocução, comunicação e

diálogo com o Governo do Estado, nas etapas que compõem o processo do PPA.

Ocorre que as comissões só foram criadas, não havendo continuidade nos trabalhos

relacionados ao PPA, conforme foi informado pelo Entrevistado B, que é integrante da

área de planejamento do governo estadual: “A gente não conseguiu dar voz a essa

comissão, a gente não conseguiu alavancar este processo por conta mesmo de

pessoal, por conta de tempo, por conta de outras demandas que já vinham e

engarguelou, e você não conseguiu”.

Alguns respondentes sugeriram, além de uma maior divulgação,

participação maior de representantes da sociedade civil:

“Ouvir mais os segmentos da sociedade civil”;

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105

“Que houvesse uma maior divulgação de modo que a sociedade pudesse participar mais ativamente. Durante os momentos que participei percebi que o público maior é de servidores municipais das secretarias, a população não tem muita participação no processo”;

Essa questão, percebida pelo respondente, de uma quantidade maior de

participante ligados às áreas governamentais do que da sociedade civil, não se

restringe à região Vale do Jaguaribe. Analisando os relatórios das oficinas de

avaliação (2017) e de monitoramento (2018), foi possível perceber que isso ocorre de

uma forma geral nas regiões (CEARÁ, 2017d, p. 17; CEARÁ, 2018f, p. 568).

Observa-se, no Gráfico 4, que, nas oficinas regionais para monitoramento

do PPA (2018), houve uma predominância de participantes do governo ou entidades

governamentais, representando 70% do total. A sociedade civil significou 26% e o

segmento produtivo/empresarial foi de 2%.

Gráfico 4 - Categoria do participante das oficinas do PPA 2016-2019

Fonte: Elaborado pelo autor, com base em Ceará, 2017d, p. 17; Ceará, 2018f, p. 568.

Em 2018, para as oficinas de avaliação do PPA, houve também uma

predominância de participantes do governo (49,72%) sobre os representantes da

sociedade civil (43%), mas é possível perceber que houve uma melhora nessa

relação, crescimento da porcentagem da sociedade civil, quando comparado às

oficinas de 2017.

26%

70%

2% 2%

43%

49,72%

2,24%5,04%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

Sociedade Civil Governo/Entidade

Governamental

Segmento

Produtivo/Empresarial

Não responderam

Monitoramento 2017 Avaliação 2018

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106

6.2 Avaliação da participação da sociedade no Vale do Jaguaribe

O planejamento participativo do governo estadual, materializado no PPA

Participativo e Regionalizado, é um canal propício para promover um maior

estreitamento na relação entre Estado e sociedade, que, por muitas vezes, é marcada

pelo conflito de interesses. É por essa razão que a pesquisa avaliativa, conforme Silva

(2008, p. 44), além de avaliar os marcos regulatórios e documentais da formulação

dos programas e políticas públicas, considera também a percepção dos sujeitos

envolvidos nos processos, por conta da realidade social que cada um compartilha. E

assim, durante a etapa da pesquisa empírica desse trabalho, houve coleta de

informações diretamente com os sujeitos envolvidos e que representam Estado e

sociedade.

Considerando a pesquisa empírica que foi realizada nesse trabalho e

tendo como base o referencial teórico que foi adotado, avaliam-se alguns pontos

relacionados à participação da sociedade e apresentam-se sugestões para a melhoria

dessa política participativa, levando em conta as funções técnica e política que a

pesquisa avaliativa desempenha.

Com relação ao perfil dos participantes das oficinas do PPA no Vale do

Jaguaribe, tendo como base os questionários que foram aplicados, é possível dizer

de forma resumida que: mais da metade são homens (57%); declaram-se pardos ou

brancos (90%); há uma predominância de pessoas com faixa etária entre 30 a 49 anos

(67%); possuem uma escolaridade alta, de, no mínimo, superior completo (77,5%); e

a maior parte declara ter uma renda entre 3 e 10 salários mínimos (62,5%). É um

público com escolaridade e renda acima da média da população cearense,

constatando a ausência de representantes de segmentos mais vulneráveis da

sociedade e que são, por muitas vezes, os usuários finais das políticas sociais.

Considerando os dados coletados junto aos representantes do governo

(entrevistas) e aos participantes dos encontros regionais (questionários), avalia-se

aqui a presente política de planejamento participativo, por meio do Círculo

Hermenêutico-Dialético (CHD).

Assim, apresentam-se, no quadro 5, as construções teóricas iniciais, com

base na visão dos representantes do governo, sobre a importância do processo

participativo, bem como os seus desafios.

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107

Quadro 5 - Construções Teóricas – Representantes do Governo

GOVERNO CONSTRUÇÕES

Entrevistado A

A população que é a razão de existir do Estado tem que estar informando e dizendo o que é que realmente ela precisa. (...) ...ter a possibilidade de tanto demandar, como avaliar se a demanda dela foi atendida. (...) A mobilização talvez ser trabalhada. A gente até trabalha muito mobilização. Trabalha mobilização com as lideranças locais, com as prefeituras e tudo. Mas a gente entende que tem algumas dificuldades, questão de deslocamento para o município, às vezes não tem essa facilidade.

Entrevistado B

A gente quer o governo para ouvir, a gente quer o governo para assimilar junto com o cidadão qual é a real necessidade dele. Para gente o foco mesmo é o cidadão, é aonde chega o serviço, é lá na ponta. (...) Hoje existe uma fragilidade muito grande envolvendo a mobilização. Você tem que focar na mobilização.

Entrevistado C

Eu não consigo ver uma política pública, um planejamento, um governo que não ouviu o seu beneficiário. Não consigo observar uma gestão pública que não seja baseada na escuta, baseado no diálogo, baseada no ouvir o cliente. (...) Agora a mobilização é o nosso principal ponto nevrálgico, o nosso principal calcanhar de Aquiles. É fazer com que as pessoas certas estejam no momento certo para discussão.

Entrevistado D

A questão do envolver o cidadão a gente corresponde com a premissa da participação numa corresponsabilização, mas, acima de tudo, por a sociedade ser canal de nos trazer a realidade por conviver com aquele território, para o processo de planejamento ser mais coerente.

Fonte: Elaborado pelo autor, com base nas entrevistas.

Considerando a percepção individualizada dos sujeitos representantes do

governo, expõe-se o consenso que há entre os mesmos, conforme consta no quadro

6, a seguir:

Quadro 6 - Consenso dos Representantes do Governo.

CONSENSO DOS REPRESENTANTES DO GOVERNO Entendem que a participação do cidadão é fundamental nas etapas que compõem o planejamento público, nos processos de dialogar, demandar e avaliar o que foi planejado. E veem como principal desafio do PPA Participativo e Regionalizado a mobilização para que haja uma maior representatividade da sociedade

Fonte: Elaborado pelo autor.

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108

Durante a análise documental referente ao PPA Participativo e

Regionalizado, foi possível perceber o destaque e a ênfase que se dá à participação

do cidadão, sendo que essa foi definida com uma das premissas que orientam as

ações do PPA 2016-2019.

O consenso em relação à mobilização deve-se à necessidade de uma

maior participação da sociedade. Conforme consta nos relatórios de monitoramento

(2017) e avaliação (2018) do PPA, entre os participantes das oficinas, existe uma

predominância de um público ligado ao governo ou entidades governamentais. Os

dados detalhados foram apresentados no Gráfico 04 deste trabalho.

Há de se valorizar a participação de pessoas que integram o governo ou

entidades governamentais na região, independentemente da esfera governamental,

já que os mesmos detêm alguma expertise na sua área de atuação profissional e estão

ali participando para colaborar com a construção de um planejamento que norteará

diretamente a implementação de políticas públicas para a região.

Mas também há de se compreender que é fundamental contar com uma

boa representatividade dos diversos segmentos que compõem a sociedade civil, seja

ela organizada ou não. Ela é composta por usuários beneficiários das políticas

públicas, que serão orientadas pelo plano plurianual. Daí a necessidade de trabalhar

estratégias de sensibilização e mobilização para que esses sujeitos possam integrar

os processos participativos.

Destacam-se, a seguir, no quadro 7, as principais construções teóricas

baseadas nas percepções dos participantes das oficinas regionais do PPA, na região

Vale do Jaguaribe, sobre o que o levou a participar e o que mudaria para que o

planejamento participativo fosse mais efetivo.

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Quadro 7 - Construções Teóricas – Participantes das Oficinas.

PARTICIPANTES CONSTRUÇÕES

Participante A

Porque considero importante a participação do cidadão no planejamento de melhorias para a sociedade. (...) Mobilizar os atores sociais com antecedência; muitos foram contatados ontem para o evento hoje.

Participante B

Acho que tem uma importância muito grande para o acesso às políticas públicas e desenvolvimento da população. (...) Melhoraria a divulgação de forma mais popular em diferentes níveis sociais e incentivaria os jovens a participar.

Participante C Para sugerir melhorias a partir das necessidades que eu percebo e sinto no dia a dia. (...) Fazer a sensibilização da comunidade para importância de sua plena participação.

Participante D

Devido a metodologia aplicada pela coordenação do PPA, pois faz com que os diversos segmentos da sociedade sintam-se inseridos nas discussões em prol do desenvolvimento social, político, econômico de toda região. (...) Criaria um conselho de monitoramento e com poder de definição das prioridades que definirmos.

Participante E

Para participar ativamente do planejamento de ações e políticas públicas, ações essa que vão influenciar diretamente na vida da população, que podem ajudar a trazer desenvolvimento local e melhorias na qualidade de vida dos municípios. (...) Acredito que teríamos que ter momentos preparativos com as localidades e depois faríamos uma assembleia deliberativa.

Participante F

Para contribuir com o desenvolvimento da região. (...) Penso que deveria haver uma etapa (etapas) anterior em que comunidades, associações, instituições participassem e as oficinas fossem a culminância desses processos.

Fonte: Elaborado pelo autor, com base nos questionários.

Com base na visão dos sujeitos participantes das oficinas no Vale do

Jaguaribe, expõe-se, no quadro 8, o consenso que há entre os mesmos sobre o PPA

Participativo e Regionalizado.

Quadro 8 - Consenso dos Participantes das Oficinas.

CONSENSO DOS PARTICIPANTES DAS OFICINAS A participação é motivada pelo interesse em contribuir com melhorias para as políticas públicas e que promovam o desenvolvimento regional. Destacam a necessidade de uma maior mobilização e sensibilização para uma maior representação da sociedade. Ampliação do processo participativo com etapas anteriores à oficina regional, bem como a criação de uma comissão regional que possa acompanhar as etapas posteriores.

Fonte: Elaborado pelo autor.

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Entre as sugestões que foram apresentadas pelos participantes dessa

pesquisa, há a de realizar uma etapa em cada município da região de planejamento,

que englobe a participação das diversas instâncias que compõem o respectivo

município. Assim, a oficina regional seria um ponto culminante para reunir e debater

caminhos para os problemas e anseios que foram levantados em cada município.

Vale ressaltar a importância de se efetivar a implementação e a

continuidade de uma Comissão Regional de Interlocução do PPA, uma para cada

região, formada por representantes regionais, e que seria um canal de comunicação

direto com a Coordenadoria de Planejamento, Orçamento e Gestão, ligada à

SEPLAG, e que tem a responsabilidade de conduzir o processo do PPA. Como já foi

informado aqui, essa comissão foi criada em 2017, mas não chegou qualquer tipo

atuação no processo do PPA em estudo. Com o suporte e orientação da SEPLAG,

essa comissão poderia atuar junto aos municípios, em uma etapa anterior à oficina

regional, como foi sugerido no parágrafo anterior, bem como poderia trabalhar

estratégias de mobilizar os atores sociais da região para integrarem o planejamento

participativo do governo estadual.

Destaca-se a necessidade de haver uma instância superior às oficinas

regionais e que possam contar com a participação de representantes da sociedade, a

exemplo de uma Conferência ou Fórum Estadual do Plano Plurianual, que poderia ser

composto pelos próprios membros das Comissões Regionais de Interlocução do PPA,

com a função de dialogar com o governo e de deliberar sobre as alternativas de

iniciativas que são economicamente viáveis para a respectiva região.

Considerando as percepções e os consensos que foram apresentados

pelos representantes do governo e pelos participantes das oficinas do PPA no Vale

do Jaguaribe, expõe-se, no quadro 9, o consenso que foi identificado entre ambos.

Quadro 9 - Consenso entre governo e participantes do Vale do Jaguaribe.

CONSENSO A experiência do PPA Participativo e Regionalizado é um espaço para que os seus participantes possam dialogar, demandar e avaliar o que foi planejado, com o intuito de contribuírem para políticas públicas mais efetivas e que levem ao desenvolvimento local e regional. A mobilização apresenta-se como o principal desafio para que se tenha uma maior representatividade da sociedade participando das oficinas do PPA.

Fonte: Elaborado pelo autor.

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Além dos consensos que foram apresentados, percebe-se que a estrutura

do processo de participação da sociedade no PPA 2016-2019 apresenta-se muito

simplificada, de uma forma incipiente, já que essa participação limita-se a uma única

instância, que são as oficinas regionais. Assim, a atuação da sociedade do Vale do

Jaguaribe, no referido ciclo do PPA, resumiu-se a participar de três momentos ao todo,

que foram as oficinas de elaboração (2015), monitoramento (2017) e avaliação do

PPA (2018). Trata-se da falta de uma estrutura processual que considere uma

participação mais ampla e em instâncias distintas, durante as etapas do PPA. Não por

acaso, esse foi um ponto que recebeu críticas e sugestões da sociedade para que a

participação social torne-se mais efetiva.

A realização de um planejamento participativo pressupõe uma tomada de

decisões de forma compartilhada, por meio de uma corresponsabilização entre Estado

e sociedade. Na metodologia do PPA Participativo e Regionalizado, o momento de

deliberação materializa a tomada de decisão pelos participantes. O produto final

dessas deliberações é a definição das diretrizes regionais prioritárias, que são as

estratégias que o governo deverá adotar para a região. Ou seja, os participantes da

região definem as estratégias, que acabam sendo amplas e genéricas, e o governo é

quem decide os programas (políticas públicas) e as iniciativas (bens e serviços) que

serão implementados para atender as respectivas estratégias. Observa-se aí um limite

imposto ao poder de deliberação dos participantes, já que os mesmos não fazem parte

da etapa de definição das iniciativas, que é o produto final do planejamento, a entrega

de um bem ou serviço à sociedade.

Não é possível determinar qual a razão fundante dessa limitação da

participação da sociedade à etapa de definição de estratégias do PPA. Uma

possibilidade é a questão da estrutura organizacional e administrativa do governo, que

não seja suficiente e torne inviável a ampliação do processo participativo. Outra

possibilidade é a de que a metodologia adotada é intencional, para que o governo não

reduza a sua “autonomia” na tomada de decisões, relativas aos bens e serviços que

serão entregues e que, no fundo, a sociedade participa de um processo de validação

de um plano já definido.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho buscou avaliar a participação da sociedade no PPA

2016-2019 do Estado do Ceará, adotando o Vale do Jaguaribe como lócus de estudo.

Para isso, utilizou-se a abordagem da pesquisa avaliativa, por meio da avaliação

técnica e política, com a intenção de avaliar e oferecer subsídios, tanto para os

representantes do governo que coordenam o processo (função técnica), quanto para

os atores sociais que desempenham o papel de controle social sobre as políticas

públicas (função política). E que, por consequência, levem à melhoria da referida

política participativa do governo estadual.

Considerando os objetivos geral e específicos que foram traçados no início

dessa jornada avaliativa, cabe aqui apresentar algumas considerações sobre o

presente estudo. Inicialmente, levando em conta o primeiro objetivo específico, foi

possível descrever e contextualizar as experiências de planejamento público e gestão

participativa nos governos do Estado do Ceará. O planejamento passou a ser

implementado na gestão pública, nacionalmente, com o advento do Estado

desenvolvimentista. No Estado do Ceará, foi possível perceber que o planejamento

teve seu marco inicial na década de 60, seguindo a tendência nacional com vários

planos de desenvolvimento, focados, em sua maioria, na área de infraestrutura, em

prol da industrialização. A inclusão de aspectos sociais nos planos de governo só

passou a ser considerada no final da década de 80 e nos anos 1990, quando se

começa a falar em desenvolvimento sustentável no Ceará. Identificou-se que, em

meio às reformas administrativas que levaram de um modelo burocrático para um

modelo gerencial, o planejamento passa a ser adotado com uma maior ênfase no

Ceará, aliado a modelos de gestão pautados em medidas de eficiência e eficácia, bem

como à gestão pública por resultado.

O segundo objetivo específico buscou compreender os objetivos e

premissas do PPA Participativo e Regionalizado do Estado do Ceará. A adoção de

um PPA com uma metodologia considerada participativa e regionalizada remonta ao

primeiro governo de Cid Gomes, no ano de 2007, quando da elaboração do PPA 2008-

2011. Compreende-se que dois aspectos são marcantes para a implementação desse

processo naquele momento. O primeiro é que havia no país, principalmente no âmbito

federal, um movimento de expansão dos canais de participação da sociedade na

gestão pública. O segundo aspecto trata do atendimento às exigências do Banco

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Mundial para concessão de empréstimos, já que o mesmo exigia processos

participativos, com a presença de representações da sociedade, a fim de realizar um

controle social sobre o orçamento público.

Os dois aspectos que foram citados acima também fizeram parte do

contexto de elaboração do PPA 2016-2019. Além disso, há o fato de o governador

Camilo Santana ser do Partido dos Trabalhadores – PT, um partido que

historicamente tem implementado espaços participativos em suas administrações,

principalmente as experiências de orçamento participativo.

O PPA Participativo e Regionalizado do Estado do Ceará é pautado, entre

outras premissas, pela participação cidadã e pela promoção do desenvolvimento

territorial. Esses aspectos são percebidos nas entrevistas com os representantes do

governo, ao tratarem da importância da participação na realização do planejamento

público. Bem como na fala dos participantes das oficinas realizadas no Vale do

Jaguaribe, quando esses, em sua maioria, justificam participar do PPA com a intenção

de colaborar para o desenvolvimento da região. É expressiva a ideia de

pertencimento, não a um município, mas a uma região.

No PPA 2016-2019, o governo passou a adotar uma nova regionalização

para implementar as ações de planejamento, saindo de oito macrorregiões para 14

regiões de planejamento. Um fator positivo e que contribui para uma melhor definição

de políticas públicas, adequadas para a realidade específica de cada uma das regiões.

Em relação ao terceiro objetivo específico, buscou-se analisar a percepção

dos sujeitos envolvidos (governo e sociedade) em relação à participação social nas

etapas de elaboração, monitoramento e avaliação do PPA 2016-2019, na Região Vale

do Jaguaribe.

Constatou-se que, na visão dos representantes do governo que conduzem

o PPA Participativo e Regionalizado, a participação da sociedade é fundamental para

a gestão pública e para o sucesso de um planejamento que considera os aspectos

regionais. Mas reconhecem a dificuldade de contar com a presença de representantes

da sociedade civil e do segmento empresarial nos encontros regionais. Entendem que

a mobilização desses atores sociais é um grande desafio. Por essa razão,

compreendem que os processos participativos estão passando por mudanças e que

é preciso pensar em novos canais de participação.

Foi possível evidenciar que a maior parte dos participantes é composta por

homens de meia idade, que se declaram pardos ou brancos, com no mínimo nível

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superior e com renda acima de R$ 3.000,00. Esta representatividade que se apresenta

restrita a um perfil bem definido reflete bem as mazelas da sociedade brasileira, um

país fortemente marcado pela desigualdade racial e de gênero. Entre os participantes

das oficinas regionais do PPA há uma predominância de pessoas pertencentes a

órgãos públicos (municipal/estadual) sobre os participantes da sociedade civil,

organizada ou não. A não participação da juventude nas oficinas do PPA é uma

questão que chama a atenção e que abre caminhos para que seja tratada e

aprofundada em pesquisas futuras.

Os participantes dos encontros regionais ocorridos no Vale do Jaguaribe

também apresentaram suas percepções sobre o processo participativo. Constatou-se

que os participantes sentiram abertura para participar e discutir nos encontros

regionais realizados no Vale do Jaguaribe, bem como consideram o PPA como um

meio de democratização das políticas públicas no Ceará. Esse é um aspecto

importante para que as pessoas continuem participando de processos participativos.

Por outro lado, os participantes demonstraram neutralidade/indiferença

quando questionados em relação ao seu poder de decisão sobre as ações prioritárias,

da mesma forma sobre o governo realizar o que foi definido como prioridade para a

região. Não são situações negativas, mas importa trabalhar as metodologias para que

se perceba uma efetividade no ato de participar.

Pode-se dizer que a experiência do PPA Participativo e Regionalizado,

tendo como base o caso do Vale do Jaguaribe, ainda se mostra incipiente e

simplificada em relação ao processo de participação da sociedade, necessitando que

se considere a representação da sociedade em um processo mais abrangente, que

vá além da participação nas oficinas regionais.

É perceptível que o Governo do Estado do Ceará vem trabalhando para

ampliar a participação da sociedade na gestão pública. Uma consequência disso é

que o governo está desenvolvendo um modelo de gestão participativa no

planejamento e monitoramento das suas políticas e planos, incluindo o PPA. Por

enquanto, ainda é um projeto e é intitulado de Sistema Cearense de Participação

Cidadã. O Governo Federal chegou a instituir a Política Nacional de Participação

Social - PNPS e o Sistema Nacional de Participação Social – SNPS por meio do

Decreto nº 8.243/2014. Com a mudança de governo no ano de 2016, depois do

impeachment da presidente Dilma Roussef, não se deu continuidade a referida

política. E no ano de 2019, o Decreto nº 8.243/2014 foi revogado por meio do Decreto

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nº 9.759/2019, bem como diversos colegiados, conselhos e fóruns de políticas

públicas foram extintos.

A institucionalização dessa política participativa é fundamental para que

sejam fortalecidas as instâncias de gestão participativa e de integração entre Estado

e sociedade. Mais do que uma política de governo, é necessário que a sua

implementação seja como uma política de Estado, para que não ocorra no Estado do

Ceará o mesmo que ocorro no Governo Federal.

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APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO

QUESTIONÁRIO

O presente questionário faz parte do processo de construção de minha

dissertação de conclusão do curso de Mestrado Profissional em Avaliação de Políticas Públicas pela Universidade Federal do Ceará. A sua contribuição, respondendo às questões abaixo, é de fundamental importância. Gentileza responder de forma reflexiva, para que os resultados espelhem a realidade pesquisada. 1. Gênero: ( ) feminino ( ) masculino 2. Faixa Etária:

a. ( ) 16 a 19 anos b. ( ) 20 a 29 anos c. ( ) 30 a 39 anos d. ( ) 40 a 49 anos e. ( ) Mais de 50 anos

3. Nível de Escolaridade:

a. ( ) Alfabetização b. ( ) Ensino fundamental c. ( ) Ensino médio d. ( ) Superior completo e. ( ) Pós graduação

4. Profissão/ocupação:____________________________________ 5. Renda Mensal:

a. ( ) Até 1 salário mínimo b. ( ) Entre 1 e 3 salários mínimos c. ( ) Entre 3 e 5 salários mínimos d. ( ) Entre 5 e 10 salários mínimos e. ( ) Acima de 10 salários mínimos

6. Cor:

a. ( ) Branco b. ( ) Negro c. ( ) Indígena d. ( ) Amarelo e. ( ) Pardo f. ( ) Prefiro não declarar

7. Você tem algum vínculo com alguma entidade da sociedade civil?

a. ( ) Não b. ( ) Sim. Qual?_______________________________________

8. Você possui preferência ou filiação partidária?

a. ( ) Sim b. ( ) Não

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9. De quais oficinas do PPA 2016-2019 na Região Vale do Jaguaribe você participou?

a) ( ) Elaboração do PPA (2015) b) ( ) Monitoramento / Revisão do PPA (2017) c) ( ) Avaliação do PPA (2018) d) ( ) Nenhuma

10. Responda numa escala de 1 (discordo totalmente) a 7 (concordo totalmente), qual o seu grau de concordância com cada uma das afirmações seguintes sobre o PPA 2016-2019 na região Vale do Jaguaribe:

10.1 Eu senti abertura para participar das discussões do PPA. 1 2 3 4 5 6 7 10.2 Eu participei ativamente das discussões do PPA. 1 2 3 4 5 6 7 10.3 A população decidiu realmente sobre as ações prioritárias do PPA. 1 2 3 4 5 6 7

10.4 A maneira como as oficinas do PPA foram organizadas na região propiciou uma ampla participação da população. 1 2 3 4 5 6 7

10.5 O PPA trouxe mudanças na relação governo-sociedade. 1 2 3 4 5 6 7 10.6 A união dos cidadãos com o governo promove mudanças para o desenvolvimento e a melhoria da qualidade de vida no local onde vivem.

1 2 3 4 5 6 7

10.7 Eu percebi que o governo realizou obras e projetos que foram discutidos e definidos no PPA como prioritários para a região.

1 2 3 4 5 6 7

10.8 Eu percebo que o PPA implantado pelo governo tem resultado positivo e atende as necessidades da região.

1 2 3 4 5 6 7

10.9 Eu acredito que o governo realmente está interessado em atender as necessidades da região.

1 2 3 4 5 6 7

10.10 Eu considero o PPA como instrumento de democratização das políticas públicas para o Ceará. 1 2 3 4 5 6 7

10.11 Participar do PPA me levou a acreditar mais em processos participativos. 1 2 3 4 5 6 7

11. Por que você decidiu participar das oficinas do PPA? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 20. O que você mudaria para que esta participação social na política de planejamento estadual acontecesse de forma mais efetiva? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Obrigado pela sua colaboração!

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APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)

Você está sendo convidado(a) para participar do estudo: “A

PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE NO PLANO PLURIANUAL (PPA) DO ESTADO DO

CEARÁ: AVALIANDO O PLANEJAMENTO PÚBLICO PARTICIPATIVO NO VALE DO

JAGUARIBE (2016-2019)” realizado por João Narclécio Fernandes de Oliveira. Nesse

estudo pretendemos avaliar a participação da sociedade na experiência do Plano

Plurianual (PPA) 2016-2019 Participativo e Regionalizado do Estado do Ceará. Essa

pesquisa pretende se ater ao Plano Plurianual estadual atual que abrange o período

de 2016 a 2019, dando enfoque aos processos participativos nas etapas de

elaboração, monitoramento e avaliação do referido instrumento de planejamento, e

refletir em que medida estes processos se configuram como mecanismos de

democracia participativa.

Sua participação consistirá em responder algumas perguntas, por meio de

uma entrevista, sobre a temática em estudo.

Você será esclarecido(a) em qualquer aspecto que desejar e estará livre

para participar ou recusar-se. A sua participação é voluntária e a recusa em participar

não acarretará qualquer penalidade ou modificação na forma em que será por mim

atendido(a).

Este estudo apresenta risco mínimo (tais como algum constrangimento ao

responder sobre sua participação no PPA, no período acima mencionado). Mas, se

manterá todo o cuidado para evitar e/ou reduzir efeitos e condições adversas que

possam causar qualquer desconforto. Sua participação trará como benefícios mais

conhecimento sobre a temática abordada.

Serão garantidos o sigilo do seu nome e a privacidade dos dados coletados

durante todas as fases da pesquisa. Você não terá nenhum custo, nem receberá

qualquer vantagem financeira. Apesar disso, você tem assegurado o direito de deixar

de participar caso aconteçam quaisquer danos eventualmente produzidos pela

pesquisa.

Os resultados da pesquisa estarão à sua disposição quando finalizada. Seu

nome ou o material que indique sua participação não será liberado sem a sua

permissão. Os dados e instrumentos utilizados na pesquisa ficarão arquivados

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comigo, como o pesquisador responsável por um período de 5 anos e, após esse

tempo, serão destruídos.

Este Termo de Consentimento encontra-se impresso em duas vias, sendo

que uma via será arquivada por mim como pesquisador responsável, e a outra

fornecida a você.

Se você tiver alguma consideração ou dúvida, sobre a sua participação na

pesquisa, entre em contato com o pesquisador orientador, Prof. Dr. Gil Célio de Castro

Cardoso, fone: 3366 9663, Universidade Federal do Ceará localizado no Campus do

Pici (Horário: 08:00-12:00 horas de segunda a sexta-feira).

Eu, __________________________________________________, portador(a) do

documento de Identidade ____________________ fui informado(a) dos objetivos do

presente estudo de maneira clara e detalhada e esclareci minhas dúvidas. Sei que a

qualquer momento poderei solicitar novas informações e modificar a decisão de

participar, se assim o desejar. Recebi uma via deste Termo de Consentimento e me

foi dada a oportunidade de ler e esclarecer as minhas dúvidas.

Fortaleza, ____ de ______________ de 20____.

_____________________________________

Assinatura do(a) participante

_____________________________________

Assinatura do(a) pesquisador(a)

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APÊNDICE C – ROTEIRO DAS ENTREVISTAS

1 – O que você entende por participação social?

2 – Como ocorreu o processo de formulação do PPA 2016-2019?

3 – Qual a sua participação na política do PPA Participativo e Regionalizado?

4 – Como você compreende o processo de participação no PPA tanto dos agentes

institucionais (governo), como da sociedade civil?

5 – É possível falar de avanços e/ou retrocessos desta política participativa nos últimos

anos? Quais foram esses avanços e quais retrocessos?

6 – O que você mudaria para que esta participação social na política de planejamento

estadual acontecesse de forma mais efetiva?