a participação do enfermeiro no trabalho educativo em saude coletiva

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  • RICA GOMES PEREIRA

    A PARTICIPAO DA ENFERMAGEM NO

    TRABALHO EDUCATIVO EM SADE COLETIVA: UM

    ESTUDO DOS RELATOS DE EXPERINCIA

    PRODUZIDOS POR ENFERMEIROS BRASILEIROS NO

    PERODO 1988-2003

    So Paulo

    2005

  • UNIVERSIDADE DE SO PAULO

    ESCOLA DE ENFERMAGEM

    A PARTICIPAO DA ENFERMAGEM NO

    TRABALHO EDUCATIVO EM SADE COLETIVA: UM

    ESTUDO DOS RELATOS DE EXPERINCIA

    PRODUZIDOS POR ENFERMEIROS BRASILEIROS NO

    PERODO 1988-2003

    rica Gomes Pereira

    Dissertao apresentada Escola de

    Enfermagem da Universidade de So Paulo,

    para obteno do ttulo Mestre em

    Enfermagem.

    rea de concentrao: Enfermagem em Sade

    Coletiva.

    Orientadora: Prof Dr Cssia Baldini Soares

    So Paulo

    2005

  • Catalogao na publicao (CIP)

    Biblioteca Wanda de Aguiar Horta da EEUSP

    Pereira, rica Gomes A participao da enfermagem no trabalho educativo em sade coletiva: um estudo dos relatos de experincia produzidos por enfermeiros brasileiros no perodo 1988-2003 / rica Gomes Pereira. - So Paulo: E. G. Pereira; 2005. 122 p. Dissertao (Mestrado) - Escola de Enfermagem da Universidade de So Paulo.

    Orientadora: Profa. Dra. Cssia Baldini Soares

    1. Educao em sade 2. Trabalho 3. Enfermagem em sade pblica I. Ttulo.

  • i

    Dedicatria

    Aos agentes e sujeitos dos processos educativos

  • ii

    Agradecimento Especial

    Para a professora doutora Cssia Baldini Soares, orientadora desta pesquisa, que

    apoiou com grande pacincia, perspiccia e empenho o desenvolvimento das minhas

    potencialidades me fazendo acreditar que o equilbrio entre teoria e prtica pode ser

    possvel.

  • iii

    Agradecimentos

    Aos Professores Doutores Antonio Chizzotti, Anna Maria Chiesa, Eliete Maria

    Silva e Marina Peduzzi pela valiosa contribuio na banca examinadora.

    s Professoras Doutoras Clia Maria Sivalli Campos e Maria Josefina (Susy)

    Leuba Salum, pelos ensinamentos na fase de elaborao da dissertao.

    A chefia da Professora Doutora Renata Ferreira Takahashi

    e a todos os trabalhadores do Departamento de Enfermagem em Sade Coletiva da

    Escola de Enfermagem da Universidade de So Paulo

    Aos professores, estudantes de graduao, ps-graduao, trabalhadores da rede

    bsica de servios de sade e as populaes das reas adscritas das unidades

    bsicas de sade pelo desafio reflexo diria acerca do processo de trabalho

    educativo em sade.

    Carla Andrea Trap, por tudo.

    Aos meus pais, Jairo e Balbina, e minha irm, Elen, pelo apoio irrestrito em todos

    os momentos da minha vida.

    E a todas as pessoas que, direta ou indiretamente, contriburam para a realizao

    deste trabalho.

  • iv

    Pereira EG. A participao da enfermagem no trabalho educativo em sade coletiva:

    um estudo dos relatos de experincia produzidos por enfermeiros brasileiros no

    perodo 1988-2003. So Paulo, 2005. 122p. Dissertao (Mestrado) Escola de

    Enfermagem. Universidade de So Paulo.

    RESUMO: O presente trabalho constituiu-se como um estudo exploratrio, valendo-se dos relatos de experincia educativa, de enfermeiros brasileiros,

    publicados entre 1988 e 2003. A partir das concepes nucleares do campo da sade

    coletiva e da educao equacionou um mtodo de identificao dos elementos

    constituintes do processo de trabalho educativo em sade. Utilizou como parmetros

    na seleo das publicaes: trabalhos escritos por enfermeiros, docentes ou no; a

    descrio de prticas educativas voltadas para uma dada populao, realizadas em

    unidades bsicas de sade ou em instituies sociais do territrio adscrito. O material

    foi identificado a partir dos bancos de dados LILACS e PERIENF. Os resultados

    mostraram que a produo foi assinada especialmente por docentes, do eixo sul-

    sudeste, com a identificao do contexto dos sujeitos fragilmente caracterizada. A

    responsabilidade pelo saber fazer ficou a cargo do docente e dos alunos de ps-

    graduao e na maioria das vezes o saber operante foi assumido pelo aluno de

    graduao, de ps-graduao ou pelos trabalhadores da rede bsica de servios de

    sade. Muitas vezes, as publicaes explicitaram as concepes de educao e os

    instrumentos utilizados no trabalho educativo, mas no os articularam concepo

    de sade norteadora de sua prtica social. No entanto, os saberes instrumentais que

    conformam a concepo de educao em sade esto na dependncia do que os

    mltiplos agentes do processo de trabalho educativo reconhecem como objeto das

    prticas sociais em sade. Assim, imprescindvel empreender esforos para o

    aprimoramento do processo de elaborao dos relatos identificando o contexto

    instaurador das necessidades educativas e os elementos terico-metodolgicos que

    fundamentam as prticas educativas em sade. Para que o processo de trabalho

    educativo em sade instrumentalize as classes/grupos sociais no processo de

  • v

    transformao do objeto da sade coletiva, os perfis epidemiolgicos, necessrio

    mais que clareza e habilidade no uso de recursos pedaggicos. preciso que a

    enfermagem como uma das distintas prticas sociais em sade domine a concepo

    de sade e de educao que objetualiza o recorte do objeto do processo de trabalho

    educativo e a concepo de educao em sade que aprimora o saber instrumental

    para a transformao desse mesmo objeto.

    Palavras chave: Educao em sade; Trabalho; Enfermagem em sade pblica.

  • vi

    Pereira EG. The participation of the nursing in the work of the collective health

    education: A study of the experience reports produced by brazilian nurses in the

    period 1988-2003. So Paulo, 2005. 122p. Dissertation (Masters) - School of

    Nursing. University of So Paulo.

    SUMMARY: The present work is constituted as an exploratory study, using itself

    the stories of the educative experience, of the Brazilian nurses, published between

    1988 and 2003. From the nuclear conceptions of the field of collective health and the

    education a method of identification of the constituent elements of the process of

    educative work in health was developed. The parameters used in the selection of

    publications were: works written by nurses, educators or not; the description of the

    educative practices overturned for a certain population, made in basic units of health

    or social institutions of the assigned territory. The material was identified from the

    data banks LILACS and PERIENF. The results show that the production was signed

    specially by educators, of the axis south-Southeast, with the identification of the

    context of the subjects fragilely characterized. The responsibility by the "knowledge

    to do" was responsibility of the professor and of the students of post-graduation and

    in most of the times the "operating knowledge" was assumed by undergraduate and

    post-graduation students or by the workers of the basic network of health service.

    Often, the publications specified the conceptions of education and the instruments

    used in the educative work, but they did not articulate them to the conception of

    health that orients its social practice. however, the instrumental knowledge that

    conform the conception of education in health depends on what the multiple agents

    of the process of educative work recognize like the object of the social practices in

    health. Thus, it is essential to undertake efforts for the improvement of the process of

    elaboration of the reports, identifying the constitutive context of the educative

    necessities and the theoretical-methodological elements that serve as basis for the

    educative practices on health. In order to the process of educative work in health

  • vii

    instrumentalize the classes/social groups in the process of transformation of the

    object of the collective health, the epidemiologic profiles, it is necessary more than

    clarity and ability in the use of pedagogical resources. It is necessary that the nursing

    as one of the distinct social practices in health dominates the conception of health

    and education that it has as an object crosses the object of the process of educative

    work and the conception of education in health that perfects the instrumental

    knowledge for the transformation of that same object.

    Keywords: Education in health; Work; Nursing in public health.

  • viii

    Pereira EG. La participacin de la enfermera en el trabajo de la salud colectiva: Un

    estudio de los relatos de las experiencias producidas por enfermeros brasileros en el

    perodo 1988-2003. So Paulo, 2005. 122p. Disertacin (Maestra) Escuela de

    Enfermera Universidad de So Paulo.

    RESUMEN: El presente trabajo se constituye como un estudio exploratorio,

    valindose de los relatos de la experiencia educativa, de los enfermeros brasileros,

    publicados entre 1988 y 2003. A partir de las concepciones nucleares del campo de la

    salud colectiva y de la educacin se desarrollo un mtodo de identificacin de los

    elementos constituyentes del proceso de trabajo educativo en salud. Se utiliz como

    parmetros en la seleccin de las publicaciones: trabajos escritos por enfermeros,

    docentes o no; la descripcin de las prcticas educativas volcadas para una dada

    poblacin, realizadas en unidades bsicas de salud o en instituciones sociales del

    territorio adscrito. El material fue identificado a partir de los bancos de datos

    LILACS e PERIENF. Los resultados mostraron que la produccin fue firmada

    especialmente por docentes, del eje sur-sudeste, con la identificacin del contexto de

    los sujetos frgilmente caracterizada. La responsabilidad por el saber hacer quedo

    a cargo del docente y de los alumnos de pos-graduacin y en la mayora de las veces

    el saber operante fue asumido por el alumno de pregrado, de pos-graduacin o

    por los trabajadores de la red bsica de servicios de salud. Muchas veces, las

    publicaciones explicitaron las concepciones de educacin y los instrumentos

    utilizados en el trabajo educativo, pero no los articularon a la concepcin de salud

    que norteaba su prctica social. Aunque, los conocimientos instrumentales que

    conforman la concepcin de educacin en salud dependen de lo que los mltiples

    agentes del proceso de trabajo educativo reconocen como objeto de las prcticas

    sociales en salud. As, es imprescindible emprender esfuerzos para el mejoramiento

    del proceso de elaboracin de los relatos identificando el contexto instaurador de las

    necesidades educativas y de los elementos terico-metodolgicos que fundamentan

    las prcticas educativas en salud. Para que el proceso de trabajo educativo en salud

  • ix

    instrumentalice las clases / grupos sociales en el proceso de transformacin del

    objeto de la salud colectiva y los perfiles epidemiolgicos, es necesario mas que

    claridad y habilidad en el uso de recursos pedaggicos. Es necesario que la

    enfermera como una de las distintas prcticas sociales en salud domine la

    concepcin de salud y de educacin que tiene como objeto el recorte del objeto del

    proceso de trabajo educativo y la concepcin de educacin en salud que perfecciona

    el saber instrumental para la transformacin de ese mismo objeto.

    Palabras clave: Educacin en salud; Trabajo; Enfermera en salud pblica.

  • x

    LISTA DE FIGURAS

    Figura I Categorias empricas e indicadores que compem a descrio geral dos

    relatos de experincia educativa dos enfermeiros brasileiros ....................................47

    Figura II Componentes da categoria analtica do processo de trabalho, categorias

    empricas e indicadores para captura do processo de trabalho educativo em sade ...48

    Figura III Agentes da rede bsica de servios de sade ou relacionadas educao

    bsica que participaram do planejamento dos temas e/ou da execuo do trabalho

    educativo em sade ..................................................................................................58

    Figura IV Agentes das universidades que participaram do planejamento dos temas

    e/ou da execuo do trabalho educativo em sade ....................................................59

    Figura V Adolescentes, pais e professores: temas e mbito de atuao grupal .......63

    Figura VI Pais, alunos, professores e funcionrios: temas e mbito de atuao

    grupal ......................................................................................................................64

    Figura VII Crianas, familiares e comunidade escolar: temas e mbito de atuao

    grupal ......................................................................................................................64

    Figura VIII Mulheres e mes: temas e mbito de atuao grupal ...........................65

    Figura IX Adultos: temas e mbito de atuao grupal............................................65

    Figura X Populao em geral, transeuntes e ouvintes de rdio: temas e mbito de

    atuao grupal..........................................................................................................65

    Figura XI Trabalhadores: temas e mbito de atuao grupal..................................67

    Figura XII Elementos constituintes do objeto do processo de trabalho educativo em

    sade .......................................................................................................................85

    Figura XIII Elementos constituintes dos meios/instrumentos do processo de

    trabalho educativo em sade ....................................................................................89

    Figura XIV Elementos constituintes da finalidade do processo de trabalho

    educativo em sade ..................................................................................................93

  • xi

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Relatos de experincia educativa dos enfermeiros brasileiros, no perodo

    1988-2003 ...............................................................................................................52

    Tabela 2 Relatos de experincia educativa dos enfermeiros brasileiros quanto

    regio de procedncia da atividade educativa, segundo o perodo 1988-2003 ..........53

    Tabela 3 Relatos de experincia educativa dos enfermeiros brasileiros quanto

    informao sobre o municpio em que ocorreu a atividade educativa, segundo o

    perodo 1988-2003 ..................................................................................................53

    Tabela 4 Relatos de experincia educativa dos enfermeiros brasileiros quanto

    informao sobre o bairro em que ocorreu a atividade educativa, segundo o perodo

    1988-2003 ...............................................................................................................54

    Tabela 5 Relatos de experincia educativa dos enfermeiros brasileiros quanto

    informao sobre a comunidade em que se dirigiu a atividade educativa, segundo o

    perodo 1988-2003 ..................................................................................................54

    Tabela 6 Relatos de experincia educativa dos enfermeiros brasileiros quanto ao

    tipo de revista em que foi publicada a atividade educativa, segundo o perodo 1988-

    2003.........................................................................................................................55

    Tabela 7 Relatos de experincia educativa dos enfermeiros brasileiros quanto ao

    local de vnculo e participao dos autores nas publicaes, segundo o perodo 1988-

    2003.........................................................................................................................56

    Tabela 8 Relatos de experincia educativa dos enfermeiros brasileiros quanto ao

    carter da instituio vinculada aos autores das publicaes, segundo o perodo 1988-

    2003 ........................................................................................................................57

    Tabela 9 Relatos de experincia educativa dos enfermeiros brasileiros quanto as

    necessidades geradoras do trabalho educativo, segundo o perodo 1988-2003 .........60

    Tabela 10 Relatos de experincia educativa dos enfermeiros brasileiros quanto a

    presena das concepes de educao e de sade constituintes do saber fazer do

    trabalho educativo, segundo o perodo 1988-2003 ...................................................60

  • xii

    Tabela 11 Relatos de experincia educativa dos enfermeiros brasileiros quanto a

    participao dos sujeitos no planejamento dos temas dos trabalhos educativos,

    segundo o perodo 1988-2003 .................................................................................62

    Tabela 12 Relatos de experincia educativa dos enfermeiros brasileiros quanto a

    identificao do espao fsico em que foi realizado o trabalho educativo, segundo o

    perodo 1988-2003 ..................................................................................................68

    Tabela 13 Relatos de experincia educativa dos enfermeiros brasileiros quanto ao

    carter do local em que foi realizado o trabalho educativo, segundo o perodo 1988-

    2003.........................................................................................................................68

    Tabela 14 Relatos de experincia educativa dos enfermeiros brasileiros quanto a

    freqncia dos encontros do trabalho educativo, segundo o perodo 1988-2003 .......69

    Tabela 15 Relatos de experincia educativa dos enfermeiros brasileiros quanto a

    presena da concepo de educao em sade constituinte do saber operante dos

    trabalhos educativos, segundo o perodo 1988-2003 ................................................69

    Tabela 16 Relatos de experincia educativa dos enfermeiros brasileiros quanto ao

    tipo de recursos didticos utilizados nos trabalhos educativos, segundo o perodo

    1988-2003 ...............................................................................................................70

    Tabela 17 Relatos de experincia educativa dos enfermeiros brasileiros quanto a

    freqncia dos encontros do trabalho educativo, segundo o perodo 1988-2003 .......70

    Tabela 18 Relatos de experincia educativa dos enfermeiros brasileiros quanto a

    meta a ser alcanada nos trabalhos educativos, segundo o perodo 1988-2003 .........71

    Tabela 19 Relatos de experincia educativa dos enfermeiros brasileiros quanto a

    presena da articulao entre as concepes constituintes do saber fazer e do

    saber operante dos trabalhos educativos, segundo o perodo 1988-2003 ...............72

    Tabela 20 Relatos de experincia educativa dos enfermeiros brasileiros quanto a

    identificao dos avaliados dos trabalhos educativos, segundo o perodo 1988-2003

    ...............................................................................................................................72

  • SUMRIO

    Dedicatria .................................................................................................................i

    Agradecimento Especial............................................................................................ ii

    Agradecimentos ....................................................................................................... iii

    Resumo.....................................................................................................................iv

    Abstract ....................................................................................................................vi

    Resumen ................................................................................................................ viii

    Lista de figuras ..........................................................................................................x

    Lista de tabelas .........................................................................................................xi

    1 INTRODUO: O OBJETO E O PROBLEMA DE ESTUDO.............................15

    2 OBJETIVOS.........................................................................................................20

    2.1. Objetivo geral ...................................................................................................20

    2.2. Objetivos especficos.........................................................................................20

    3 CONSIDERAES TERICAS..........................................................................21

    3.1 A categoria trabalho ...........................................................................................21

    3.2 O processo de trabalho em sade........................................................................27

    3.3 O trabalho da enfermagem em sade coletiva.....................................................31

    3.4 O processo de trabalho educativo em sade........................................................34

    3.4.1 O objeto do processo de trabalho educativo em sade .............................................................. 38

    3.4.2 Os meios e instrumentos do processo de trabalho educativo em sade ...................................... 41

    3.4.3 A finalidade do processo de trabalho educativo em sade......................................................... 42

    4 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS...........................................................45

    4.1 O instrumento de coleta de dados e as categorias empricas................................46

    5 RESULTADOS E ANLISE................................................................................52

    5.1 Caracterizao dos relatos de experincia educativa dos enfermeiros brasileiros

    na rede bsica de servios de sade ..........................................................................52

    5.2 Descrio dos elementos constituintes do trabalho educativo em sade a partir

    dos relatos de experincia educativa dos enfermeiros brasileiros na rede bsica de

    servios em sade ....................................................................................................57

    5.2.1 O objeto do trabalho educativo em sade................................................................................. 57

  • 5.2.2 Os meios e instrumentos do trabalho educativo em sade......................................................... 67

    5.2.3 A finalidade do trabalho educativo em sade ........................................................................... 70

    6 DISCUSSO........................................................................................................73

    6.1 Caracterizao geral dos relatos de experincia educativa dos enfermeiros

    brasileiros no perodo 1988-2003 .............................................................................73

    6.2 Elementos constituintes do processo de trabalho educativo em sade .................74

    7 CONSIDERAES FINAIS ................................................................................96

    8 REFERNCIAS ...................................................................................................98

    ANEXOS...............................................................................................................106

    Anexo I. Material emprico ....................................................................................106

    Anexo II. Instrumento de coleta de dados...............................................................112

    Anexo III. Objeto, sujeito, tema, mbito de atuao grupal e meta a ser

    alcanada/finalidade dos relatos de experincia educativa produzidos por enfermeiros

    brasileiros no perodo 1988-2003 ...........................................................................114

    Anexo IV. Meta a ser alcanada/finalidade apreendida a partir do material emprico

    ..............................................................................................................................121

  • 1 INTRODUO: O OBJETO E O PROBLEMA DE ESTUDO

    O objeto de estudo deste trabalho o processo educativo em sade

    conformado como uma das atividades inscritas na prtica social da enfermagem ao

    integrar o processo de trabalho em sade.

    As pesquisas que tomam como objeto a educao em sade tm

    predominantemente procurado compreender a tarefa educativa como parte da

    superestrutura jurdico-poltica e ideolgica que sustenta o trabalho em sade, mas

    poucos (Gonzaga, 1992a; Gonzaga, 1992b; Silva, Gonzaga e Verdi, 1992)

    relacionam trabalho em sade e processo de trabalho educativo em sade.

    Quando a tarefa educativa tomada como um processo especfico do trabalho

    em sade, a partir da prtica social da enfermagem, de acordo com Gonzaga (1992a),

    necessria a incorporao de elementos que constituiro o objeto, os instrumentos,

    as necessidades geradoras para o trabalho e as finalidades de trabalho.

    A autora salienta que, no cotidiano das prticas educativas em sade, se

    explicita um objeto que tomado sob o olhar da clnica ou da epidemiologia.

    Valendo-se de saberes e instrumentos reproduzidos e incorporados atividade de

    modo alienado, ou seja, desintegrados da reflexo sobre sua potencialidade para a

    transformao do objeto. Caminhando nessa direo, a aplicao do instrumento se

    torna a finalidade do trabalho e o trabalhador se torna um mero aplicador do mtodo;

    este, por sua vez tem uma existncia per si, sem que sejam explicitadas as vises de

    mundo que esto embutidas no objeto (Gonzaga, 1992a).

    Na avaliao de Lobo (1987), que ao relatar uma experincia educativa

    comunitria, chama a ateno para prticas de pesquisa que se instituem sob o manto

    de uma concepo que serve ao propsito de bloquear a participao popular nas

    decises fundamentais da sociedade, ainda que tal ao viesse escondida sob a forma

    de temor do povo, fazer pelo povo que ainda no est preparado para dirigir-se por

    si mesmo. Na esfera educativa, do mesmo modo, vem acontecendo diante dessa

    prtica instaurada a partir do modelo biomdico hegemnico que a populao tem

    corrido o risco de ficar apenas na constatao dos problemas e os trabalhadores da

    sade tm se limitado a uma pedagogia de doao de si mesmos e de seu tempo

    disponvel, omitindo-se da interveno e troca de conhecimento. Por exemplo, no

  • h incentivo s aes dos moradores em busca de solues para seus problemas.

    Dessa forma, fica-se apenas na aparncia, no ocorrendo incurso s causas e, sem

    que se procure, portanto sua essncia.

    E assim que Queiroz e Salum (2000:27), consideram que a enfermagem tem

    servido majoritariamente ao projeto de

    educao para a sade, [que no discurso se diz] (...) potencialmente

    transformador da realidade de sade, mas que na verdade percorre

    um trajeto em que, sob uma tica, veicula um receiturio universal

    para se adquirir sade; sob outra tica transfere um saber tcnico, a

    ttulo de compartilha, mas que de fato responsabiliza o usurio dos

    servios pelo auto-cuidado e, simultaneamente, desresponsabiliza o

    servio de sade pela sade de quem educado.

    E pelo que at aqui foi considerado, reafirma-se a concepo de que a

    Enfermagem, bem como as outras prticas sociais em sade com que estabelece

    relaes, evidencia sua subordinao ao projeto poltico que suporta o modo de

    produo vigente na constituio de seus trabalhadores, nos contedos tcnico-

    cientficos, nos processos de trabalho que realiza e, particularmente, no objeto para o

    qual se dirige (Salum, Bertolozzi e Oliveira, 1999).

    Neste trabalho, parte-se do entendimento ento de que, sendo o processo

    educativo em sade um dos instrumentos da prtica social da enfermagem, a

    fundamentao terica da assistncia de enfermagem que recupera a articulao

    educao-cidadania deveria incluir os conceitos de homem, sociedade, processo

    sade-doena, sistemas de sade, enfermagem, educao, participao, prxis e

    cidadania (Silva et al, 1992). Nesse sentido, a mediao, a redescoberta do sujeito e o

    resgate da prxis como objeto e finalidade das aes educativas tornam-se

    fundamentais para a construo de um referencial que supere seus esteretipos e suas

    contradies (Gonzaga, 1992b).

    Os passos para a implementao do processo educativo em sade a fim de

    potencializar a conquista da cidadania dos grupos sociais, compreendero (Gonzaga,

    1992b):

    1) O conhecimento da realidade concreta que traz em si a prxis cotidiana da

    comunidade,

  • 2) O planejamento grupal das aes educativas sem a centralidade de poder

    decisrio do educativa e com a participao da populao,

    3) A ao no plano imediato, seja individual, familiar, grupal ou coletivo,

    articulado a um processo crtico de percepo da realidade para a

    mobilizao da ao,

    4) O questionamento crtico da realidade acerca dos seus determinantes e das

    estratgias para sua superao,

    5) A sntese dos conhecimentos e experincias vivenciadas para uma prxis

    crtica e criativa que supera a viso fragmentria da realidade.

    Dada a complexidade do objeto ao qual se dirige o processo educativo em

    sade preciso reconhecer que

    a Enfermagem s se defrontou com a noo de coletivo no incio do

    sculo XX, quando a prtica mdica tomou para si o discurso da

    promoo e da recuperao da sade, configurado no modelo de

    educao sanitria. Isso decorreu da necessidade de ampliar as

    margens de consenso entre as classes frente s presses dos

    movimentos reivindicatrios dos trabalhadores, conseqncia das

    crises geradas pela Primeira Grande Guerra (Salum, Bertolozzi e

    Oliveira, 1999:108)

    Foi somente, porm, com o movimento da Reforma Sanitria dos anos 70 e

    com a constituio do campo da Sade Coletiva, que a Educao em Sade passou a

    sofrer influncia de autores, como Paulo Freire, que preconizaram o carter

    emancipatrio da educao. De fato, as experincias na sade em geral (Merhy,

    1987) e na enfermagem em particular (Germano, 1983; Melo, 1986; Silva, 1986)

    testemunham o desenvolvimento de prticas educativas populares consideradas

    progressistas e potencialmente transformadoras da situao de sade.

    Nesse sentido, UIPES1 (1998), ao relatar o contedo discutido num seminrio

    nacional sobre a formao de recursos humanos para a rea da educao em sade,

    1 A Unio Internacional de Promoo da Sade e Educao Para a Sade uma associao criada em 1951 que congrega uma rede mundial de pessoas e instituies para promover o avano do conhecimento e melhorar a efetividade da Promoo da Sade e da Educao para a Sade em estreita cooperao com a OMS, UNESCO e UNICEF. A Representao da Sub-regio Brasil constituda em 1993, esfora-se para se tornar um plo receptor e irradiador da Promoo da Sade/Educao em

  • chama a ateno para aquilo que o Conselho Nacional de Sade (CNS), em sua

    resoluo n 41 de 03/03/93 reafirma

    deve ser a educao para a sade considerada estratgia

    imprescindvel para a promoo da sade, preveno das doenas e

    para a consolidao do SUS, nos nveis federal, estadual e municipal.

    Esta resoluo do CNS referendada pelo Ministrio da Sade, no

    Documento Final da Proposta de Reforma Administrativa (Grupo

    Executivo para a Reforma Administrativa GERAS, 1993), que

    considera a Educao em Sade como um dos espaos de interveno

    estratgica para a poltica de sade. ainda, considerada como rea

    que perpassa toda a estrutura organizacional dos servios,

    articulando-se com a informao, a comunicao, e a epidemiologia,

    corroborando-se em estratgia bsica para a consolidao do

    sistema.

    O pressuposto deste trabalho o de que, aps a promulgao da Constituio

    Federal que legitimou a sade como direito de todos e dever do Estado, - com a

    conseqente regulamentao do Sistema nico de Sade (SUS), das mudanas nos

    modelos assistenciais e a recente constituio do campo da Sade Coletiva -, a

    educao em sade tenha se transformado, sob a influncia dos marcos terico-

    metodolgicos e operacionais que fundamentaram a constituio do SUS, passando

    pelas bases da rede bsica de servios de sade e do campo da Sade Coletiva. Ou

    seja, a suposio a de que a ao educativa caminhou rumo a uma transformao

    do olhar sobre o objeto, valendo-se de instrumentos que possibilitaram o

    redimensionamento de sua finalidade, a partir de perspectivas terico-metodolgicas

    que promoveram rupturas com aquelas que sustentavam as prticas at ento

    reiterativas do modelo mdico hegemnico.

    O conjunto problematizador deste estudo pode ser sintetizado atravs das

    seguintes perguntas: A enfermagem est realizando prticas educativas na rede

    bsica de servios em sade? Quais os processos de trabalho do processo de

    Sade no Brasil e na Amrica Latina. So membros latino-americanos do Conselho de Administrao da UIPES: Mrcia Faria Westphal (Brasil), Helena Restrepo (Colmbia), Dora Cardaci (Mxico), Juan Manuel Castro (Mxico) e Hiran Arroyo Acezedo (Puerto Rico).

  • produo de servios de sade, cujos agentes envolvem a enfermagem, que utilizam

    o instrumento educativo? O SUS estaria alicerando o desenvolvimento de prticas

    em educao em sade? Quais so as caractersticas dos elementos do processo

    educativo na rede bsica de servios em sade? Quais so as implicaes para o

    campo da Sade Coletiva?

  • 2 OBJETIVOS

    2.1 Objetivo geral

    Investigar a produo cientfica expressa nos relatos de experincia da

    enfermagem sobre a prtica de educao em sade na rede bsica de servios em

    sade.

    2.2 Objetivos especficos

    Caracterizar a contribuio da produo cientfica expressa nos relatos de

    experincia educativa da enfermagem na rede bsica de servios em sade para a

    consolidao da prtica de educao em sade no SUS;

    Reconhecer na produo cientfica expressa nos relatos de experincia educativa

    da enfermagem os elementos do processo de trabalho educativo realizado na rede

    bsica de servios em sade;

    Identificar na produo cientfica expressa nos relatos de experincia educativa

    da enfermagem o tipo de saber implicado na educao em sade praticada na

    rede bsica de servios em sade.

  • 3 CONSIDERAES TERICAS

    3.1 A categoria trabalho

    O desenvolvimento da vida social, poltica e intelectual condicionado pelo

    modo de produo da vida material (Marx, 1977). Nesse sentido, a compreenso da

    prtica social da enfermagem enquanto trabalho tende a possibilitar a proposio de

    estudos e aes de interveno na utilizao de ferramentas que potencializam o

    trabalho vivo em ato, a fim de propiciar satisfao, autonomia e emancipao dos

    trabalhadores e dos usurios para uma assistncia qualificada de sade (Almeida,

    Mishima e Peduzzi, 1999).

    Como profisso, de acordo com Castellanos (1988), a enfermagem responde a

    especficos valores sociais e sua capacidade de intervir na situao de assistncia

    sade estar na dependncia direta do grau de conhecimento que ela tem desta

    situao, a par de sua competncia tcnico-cientfica.

    Os distintos processos de trabalho em sade subordinam-se ao processo de

    produo dos servios de sade. A especificidade da enfermagem, enquanto prtica

    social na rea da sade d-se, portanto, pelos saberes e tecnologias que lhe so

    prprios (Queiroz e Salum, 1996).

    No h como negar a qualificao das prticas sociais em sade, e

    especificamente a de enfermagem, como trabalho. Desde a publicao do ensaio

    pioneiro de Garca (1983), passando pela contribuio inegvel de Mendes

    Gonalves (1979, 1992, 1994), um conjunto de pesquisadores em enfermagem

    ocupou-se de examin-la sob a perspectiva marxista, fosse analisando o cuidado

    como sua especificidade (Nakamae 1987; Almeida e Rocha 1997), fosse buscando

    reconhecer os elementos fundamentais do processo de trabalho na prtica do

    enfermeiro e dos demais trabalhadores que compem a fora de trabalho na

    enfermagem (Castellanos, 1989; Queiroz e Salum, 1997; entre outros).

    Assim sendo, o presente estudo considera o trabalho como a categoria central

    de anlise para a compreenso das relaes sociais de produo contraditrias e, ao

    mesmo tempo potencialmente transformadoras, ocorridas, especificamente, no

    desenvolvimento dos processos de trabalho educativos em sade.

  • Nessa perspectiva, o trabalho entendido como uma relao entre o

    homem e a natureza,

    em que o ser humano com sua prpria ao, impulsiona, regula e

    controla seu intercmbio material. Pe em movimento as foras

    naturais de seu corpo, braos e pernas, cabea e mos, a fim de

    apropriar-se dos recursos da natureza, imprimindo-lhes forma til

    vida humana. Atuando assim sobre a natureza externa e modificando-

    a, ao mesmo tempo modifica sua prpria natureza. Desenvolve as

    potencialidades nela adormecidas e submete ao seu domnio o jogo

    das foras naturais (Marx, 1968:202).

    Dessa maneira, quando o homem esquadrinha na sua mente a transformao

    de um ponto especfico da natureza para satisfazer suas necessidades, o faz por meio

    de um processo de objetivao, a transposio para o mundo concreto de uma idia

    previamente estabelecida subjetiva - sobre o que espera transformar na prpria

    natureza a fim de satisfazer essas necessidades (Mendes Gonalves, 1992; Lessa,

    1996).

    Por isso, o processo de objetivao do homem em relao com a natureza

    transforma a prvia ideao, isto , a finalidade previamente construda na

    conscincia do homem, em um produto objetivo, concreto. A partir da ontologia

    lukacsiana se reitera a mxima marxista de que, ao transformar a natureza, o ser

    humano tambm se transforma porque desenvolve novas habilidades e, para poder

    vencer a resistncia que se ope sua transformao em objetos construdos pelos

    homens, torna-se necessrio o conhecimento dos nexos causais e das determinaes

    do setor da natureza que deseja transformar. Assim, sempre resultar em novos

    conhecimentos e habilidades e, portanto, ao transformar a natureza o indivduo

    tambm se transforma (Lessa, 1996).

    O fato que se parte do pressuposto de que o trabalho uma caracterstica

    essencialmente humana e que marca sua distino com as demais espcies. A

    alegoria de Marx traduz essa concepo quando o autor considera que:

    o que distingue o pior arquiteto da melhor abelha que ele figura na

    mente sua construo antes de transform-la em realidade. No fim do

  • processo do trabalho aparece um resultado que j existia antes

    idealmente na imaginao do trabalhador. Ele no transforma apenas

    o material sobre o qual opera; ele imprime ao material o projeto que

    tinha conscientemente em mira, o qual constitui a lei determinante do

    seu modo de operar e ao qual tem de subordinar sua vontade. E essa

    subordinao no um ato fortuito. Alm do esforo dos rgos que

    trabalham, mister a vontade adequada que se manifesta atravs da

    ateno durante todo o curso do trabalho Marx (1968:202).

    Ao tomar a teoria marxista como ponto de partida, Althusser (1999:45),

    relaciona como elemento constitutivo do trabalho humano:

    uma seqncia de operaes sistematicamente reguladas, efetuadas

    pelos agentes do processo de trabalho que trabalham um objeto de

    trabalho (matria bruta, matria prima, animais domsticos, etc),

    empregando para tal fim instrumentos de trabalho (ferramentas mais

    ou menos elaboradas, em seguida, mquinas, etc) de maneira a

    transformar o objeto de trabalho, por um lado, em produtos

    prprios a satisfazerem as necessidades humanas diretas

    (alimentao, vesturio, moradia, etc) e, por outro, em instrumentos

    de trabalho destinados a garantir a prossecuo ulterior do processo

    de trabalho.

    As consideraes de Althusser traduzem aquilo que se reconhece como

    mediaes de primeira ordem na relao homem-natureza e que, segundo Antunes

    (2000), fundamentado na estruturao terica de Istvn Mszros, dota o trabalho da

    finalidade de preservar as funes vitais da reproduo individual e social na

    satisfao das necessidades humanas.

    Para Marx (1968), a mercadoria, isoladamente considerada, a clula

    elementar da riqueza nas sociedades regidas pelo modo de produo capitalista e o

    objeto externo o que satisfar as necessidades humanas, seja como meio de

    subsistncia ou, meio de produo.

  • Ainda para o autor, qualquer coisa til pode ser caracterizada sob duplo

    aspecto, conforme sua qualidade e quantidade. Por exemplo, a utilidade da borracha

    faz dela um valor de uso. Ao ser considerado valor de uso, sempre implicar uma

    quantidade definida, por exemplo, dez borrachas, cem borrachas, etc. O valor de uso

    da borracha s se realizar com o seu consumo e/ou utilizao.

    O valor de troca passar a existir na relao entre valores-de-uso de espcies

    diferentes, na proporo em que se trocam e mudam constantemente no tempo e no

    espao. As mercadorias, como valores de uso so heterogneas na

    qualidade/utilidade, mas como valores-de-troca s podem diferir na quantidade

    (Marx, 1968).

    Por exemplo, a borracha se troca por outras mercadorias, nas mais diversas

    propores, dez borrachas por um lpis, ou por trs apontadores ou por uma caneta,

    etc. Todavia, como cada uma das mercadorias separadamente o valor de troca das

    dez borrachas, devem X lpis, Y apontadores ou W canetas serem permutveis e

    iguais entre si. Por isso, os valores de troca de uma mesma mercadoria expressam

    todos uma conformao igualitria e a maneira como se expressam revela um

    contedo que por meio deles se pode distinguir (Marx, 1968).

    Ao trocar a borracha por outra mercadoria de qualidade/utilidade diferente,

    como por exemplo, a caneta, ficam de lado seus valores de uso quando esto na

    proporo adequada para a troca; prescindindo seu valor de uso s lhes restar uma

    propriedade, a de serem produtos do trabalho. Ao prescindir do carter til dos

    produtos do trabalho, tambm desaparecer o carter til dos trabalhos neles

    corporificados e as diferentes formas de trabalho concreto sero reduzidas a uma

    nica espcie de trabalho, o trabalho humano abstrato (Marx, 1968:44).

    Dessa maneira, o valor de uma mercadoria s pode ser quantificado por meio

    da quantidade da substncia criadora de valor que o trabalho humano abstrato, o

    que faz com que a grandeza do valor seja determinada pela quantidade de trabalho

    socialmente necessrio para a produo de um valor de uso. Assim, por exemplo, o

    ar pode ser valor de uso sem ser valor porque sua utilidade para o ser humano no

    decorre de um trabalho. Uma coisa para se tornar mercadoria precisa no apenas

    produzir um valor de uso, mas produzir valor de uso para outros dando origem ao

    valor de uso social que variar na razo direta da quantidade e na inversa da

    produtividade do trabalho aplicado (Marx, 1968).

  • Segundo Rubin (1987), o valor uma relao homem-homem que assume

    uma forma material - a mercadoria - e est relacionado ao processo de produo -

    tempo de trabalho socialmente necessrio para produzir o produto.

    Para o autor, na teoria de Marx sobre o valor, a transformao do trabalho

    privado em trabalho social s pode realizar-se por meio da transformao do trabalho

    concreto em trabalho abstrato. Para tanto, essa transformao no uma categoria

    fisiolgica, mas uma categoria social e histrica. A expresso terica desse fato

    social, qual seja, a igualao social das diferentes formas de trabalho - e no sua

    igualdade fisiolgica - que constitui a categoria trabalho abstrato.

    Os economistas clssicos, de acordo com Rubin (1987), ao sustentarem que o

    trabalho a medida real do valor de troca de todas as classes de bens, esto

    afirmando que o trabalho , na verdade, o contedo natural das relaes sociais

    fundadas na troca. Marx, ao contrrio dos clssicos, no toma o valor como a

    essncia da naturalidade da sociedade, mas sim como a expresso de uma sociedade

    em que o indivduo s existe enquanto produtor de valor de troca, o que implica a

    negao absoluta de sua existncia natural. Assim, a produo de valor de troca j

    inclui em si um ato coercitivo. A atividade particular de cada produtor s adquire

    sentido quando sancionada pela forma geral do valor de troca, isto , pelo dinheiro. A

    mercadoria s se confirma como valor no momento em que se transforma em

    mercadoria geral, em dinheiro, e o trabalho concreto (tcnico-material) de cada ser

    humano s validado como trabalho social quando seu produto acolhido pelo

    dinheiro como representante do trabalho em geral.

    Por isso, Antunes (2000) afirma que a completa subordinao das

    necessidades humanas reproduo do valor de troca no interesse da auto-

    realizao expansiva do capital constituiu a emergncia de mediaes de segunda

    ordem com a natureza. Uma vez que, para converter a produo do capital em

    propsito da humanidade, ocorreu a separao entre seu valor de uso e valor de troca,

    subordinando o primeiro ao segundo, a relao do homem com a natureza ficou

    subordinada relao homem-homem para a satisfao das necessidades humanas.

    Na sociedade mercantil-capitalista,

    o capitalista, o trabalhador assalariado e o proprietrio de terra so

    possuidores de mercadorias, formalmente independentes um do outro.

    O capitalista tem de comprar do trabalhador o direito de utilizar sua

  • fora de trabalho, e, do proprietrio de terra, o direito de utilizar sua

    terra. Para faz-lo, tem de possuir capital suficiente (Rubin, 1987).

    Nesse sentido, a subsuno formal existir na medida em que a forma social

    determinante na produo da vida material/concreta a venda pelo trabalhador da

    propriedade de sua capacidade e/ou fora para o trabalho a fim de comprar os meios

    necessrios para a subsistncia. Assim, a propriedade da fora de trabalho passar a

    pertencer ao capitalista - proprietrio dos meios de produo que a consumir,

    fazendo o vendedor dela trabalhar. O trabalhador ir incorporar trabalho humano ao

    transformar a matria, objeto do seu trabalho, e valor alm do necessrio para sua

    reproduo social. O produto do seu trabalho ser, portanto, alienado porque no

    pertencer ao trabalhador, mas sim ao capitalista que prolongar o tempo de trabalho

    para produzir valor alm do necessrio, a fim de extrair a mais valia (Marx, 1968;

    Rubin, 1987).

    O desenvolvimento da tecnologia no decorrer do sculo XX possibilitou a

    diviso pormenorizada do trabalho, ou seja, o trabalhador tornou-se especialista

    numa pequena parte do seu processo de trabalho e nesse momento que aparece a

    subsuno real (Antunes, 2000).

    O trabalhador, detentor do trabalho vivo - que acrescenta valor

    mercadoria -, se torna mediador da tecnologia do trabalho morto - que j possui

    armazenado em si mesmo o trabalho humano. As relaes de produo se coisificam

    j que a relao homem-homem estabelecida na mediao de segunda ordem

    subordina a relao ontolgica com a natureza para a satisfao de suas necessidades.

    Assim, s h relao entre os produtores de mercadorias para sua troca material e as

    mercadorias, por sua vez, se personificam tomando emprestadas caractersticas

    humanas j que se trocam mutuamente e a relao homem-homem contida no valor

    de troca fica subsumida nesse processo de fetichizao (Marx, 1968; Rubin, 1987).

    Nesse sentido, o trabalhador, que diretamente produzir mais valia, gerar por

    meio da venda do seu trabalho produtivo a valorizao do processo capitalista de

    produo. Para Marx (1978:75),

    o que constitui o valor de uso especfico [do trabalho produtivo] para

    o capital no seu carter til determinado, como tampouco as

  • qualidades teis peculiares ao produto no qual se objetiva, mas seu

    carter de elemento criador de valor de troca (mais-valia).

    Por isso, um trabalho de contedo semelhante pode ser produtivo ou

    improdutivo e a diferena estar no fato de o trabalho trocar-se por dinheiro como

    dinheiro ou por dinheiro como capital (Marx, 1978).

    3.2 O processo de trabalho em sade

    O trabalho em sade se localiza no setor tercirio da produo capitalista o

    campo do trabalho em servios e se diferencia da produo material industrial e do

    trabalho no setor primrio da economia, desde a emergncia do modo de produo

    capitalista (Pires, 1998).

    Sob a anlise marxista, o trabalho em sade se define como um conjunto de

    prticas sociais e saberes especficos que se realizam em sua relao com a totalidade

    social e com cada uma das instncias que a integram e que consistem em uma infra-

    estrutura econmica composta de foras produtivas e relaes de produo, e uma

    superestrutura que compreende as instncias jurdicas, polticas e ideolgicas

    (Garca, 1983).

    Os elementos constitutivos do processo de trabalho em sade foram

    inicialmente apontados por Mendes Gonalves (1979, 1992, 1994), que se valeu da

    produo terica de Marx para decodificar os elementos do processo de trabalho em

    sade, estudando primeiramente o trabalho mdico em sua dissertao de mestrado e,

    em seguida, quando apresentou sua tese de doutoramento sobre a avaliao da

    organizao tecnolgica das prticas sociais em sade.

    Segundo Mendes Gonalves (1992), na sociedade comunitria primitiva o

    principal agente do processo de trabalho em sade era o xam. Sua concepo de

    doena e, conseqentemente, seu objeto de trabalho uma entidade que se apossa

    de um indivduo, ou que se agrega a ele, fazendo-o sofrer seriam responsveis pela

    realizao de rituais religiosos com a finalidade de atingir e expulsar a entidade-

    doena. Assim, boa parte dos seus instrumentos de trabalho teriam qualidades

    imediatamente rituais; porm, ao se valer de uma planta como parte de seu trabalho,

    no seria de se supor que estaria fazendo uso das propriedades farmacolgicas da

  • mesma. Perceba-se que das propriedades rituais de que ele teria se valido, pois so

    as nicas que fazem sentido. Eventualmente, uma importncia apenas secundria

    seria atribuda ao fato de que esse doente se curasse, conforme os padres

    contemporneos de julgamento sobre o que curar-se.

    Na avaliao do autor, durante toda a histria das sociedades ocidentais, at

    h cerca de dois sculos, os objetos dos processos de trabalho em sade sempre

    foram ento representados por entidades. Um nico perodo importante constituiu-

    se exceo, e por isso, quando a medicina moderna se descortinou como prtica

    social, a partir do fim do sculo XVIII, tendeu a buscar na Grcia clssica seus

    smbolos (Mendes Gonalves, 1992).

    Assim, foi que a medicina hipocrtica empreendeu uma classificao, pela

    observao do rol de alteraes naturais que fazem o homem sofrer, chamando a esse

    processo clnica. A finalidade do trabalho mdico passou a ser o de imitar e

    favorecer a natureza a encontrar o caminho do esforo bem sucedido, ou mesmo,

    evitar seus fracassos, transformando um esforo mal-sucedido em seu oposto. O ato

    de reconhecer o tipo de desequilbrio presente passou a chamar-se diagnstico e o

    de saber para onde o conjunto de processos de reequilbrio se encaminhava designou-

    se como prognstico (Mendes Gonalves, 1992).

    Essa estrutura, assim reconhecida, legitimou da por diante o trabalho mdico

    e, por conseguinte, a produo de servios de sade, nele centralizada. Tomando

    como foco a doena e a doena do indivduo preencheu a literatura especializada e,

    por conseqncia, as prticas de interveno em sade.

    Recuperando os autores que se confrontaram com essa concepo Laurell e

    Noriega (1989) trazem baila a articulao entre o processo social e o processo de

    sade e doena que, para os autores, assume caractersticas heterogneas conforme o

    modo como cada grupo social se insere na produo da vida material e se relaciona

    com os outros grupos sociais constitutivos da sociedade.

    Desse modo, o carter social do processo sade-doena advogado pela

    medicina social se manifestar empiricamente com mais clareza na coletividade do

    que no indivduo. Assim, ao reconhecer o processo sade-doena coletivo interessa

    saber como o processo biolgico ocorre socialmente readquirindo ento a unidade

    entre a doena e a sade, dicotomizada no pensamento mdico clnico. Isso

    ocorre porque, visto como processo da coletividade, o preponderante o modo

  • biolgico de viver em sociedade, que expressar, por sua vez, os transtornos

    biolgicos caractersticos, isto , a doena que no aparecer separada daquele:

    ambos ocorrem como momentos de um mesmo processo, porm, diferenciveis

    (Laurell, 1983).

    A unidade bsica de sade, de acordo com Schraiber e Mendes Gonalves

    (2000), destinada para uma estratificao especial de usurios, isto , para as

    pessoas que se dirigem aos servios pela primeira vez. No se trata de uma primeira

    vez na vida pessoal, mas na ocorrncia mrbida por algum tipo de sofrimento. Por

    isso, os autores definem como uma ateno primeira e bsica, simultaneamente, j

    que por ser o primeiro atendimento, servir obrigatoriamente como porta de entrada

    para o sistema de assistncia sade. No sistema, desencadear um nvel especfico

    de atendimento que resolver uma srie de necessidades que extrapolam a

    interveno curativa individual.

    Nesse sentido, de acordo com os autores, caber educao em sade a

    transformao das necessidades no sentidas, definidas como necessidades

    potenciais na linguagem sistmica dos sistemas de sade, em necessidades

    reconhecidas como pertinentes a um cuidado bsico e inicial, isto , necessidades

    sentidas pela populao e tecnologicamente apropriadas para uma ateno

    primria.

    Na Amrica Latina, a reforma do setor sade, empreendida a partir do incio

    da dcada de 1980, tenta incorporar na rede bsica de servios de sade, as

    conquistas democrticas alcanadas pelos povos latino-americanos e caribenhos

    como resposta crise da sade pblica tradicional provocada pela centralidade do

    trabalho mdico na produo de servios de sade, todavia como muitas das

    reformas so apoiadas por organismos financeiros internacionais, h muita

    divergncia em relao aos projetos originais da reforma sanitria. E assim que, a

    democratizao da rede bsica de servios de sade ainda no proporciona a

    publicizao (isto : controle pblico das polticas e prticas institucionais dos

    respectivos Estados) dos seus aparelhos e mesmo de suas burocracias (Paim e

    Almeida Filho, 1998:306).

    Para Breilh (1995:29),

    la salud pblica convencional conceptualiza la salud-enfermedad

    empricamente, reducindola al plano fenomnico e individualizado

  • de la causalidad etiolgica, la salud colectiva plante ala

    determinacin histrica del proceso colectivo de produccin de

    estados de salud-enfermedad. Mientras la salud pblica acoge los

    mtodos emprico-analtico (estructural funcionalista), popperiano o

    fenomenolgico, la salud colectiva incorpora el mtodo materialista

    dialctico. Mientras la salud pblica centra su accin desde la ptica

    del Estado com los intereses que este representa em la sociedades

    capitalistas, la salud colectiva se enfoca como recurso de la lucha

    popular y la crtica-renovacin estratgica del quehacer estatal.

    Mientras la salud pblica assume la actitud posibilista del logro de

    mejoras puntuales y graduales, la salud colectiva plante ala

    necesidad de uma accin para el cambio radical.

    Do mesmo modo, o modelo da determinao social do processo sade doena

    para Victora, Facchini, Barros e Lombardi (1990:303),

    prope que, dado um determinado modo de produo, situa-se um

    processo de reproduo social que se concretiza em uma dada

    formao social. Essa formao determina a existncia de uma

    estrutura de classes sociais e suas relaes. A dinmica de classe

    implica em uma relao unitria entre produo e consumo; nesta

    dialtica, a produo no ocorre na ausncia do consumo, e o

    consumo depende da produo. A determinao do processo

    biopsicossocial coletivo nas diferentes classes sociais mediado,

    assim, pelos processos de produo e de consumo. No tocante

    produo, a insero dos agentes sociais em processos concretos de

    trabalho determina no somente sua prpria exposio a riscos

    ocupacionais especficos como tambm seu acesso riqueza ali

    produzida, atravs de seus rendimentos. Esses rendimentos, por sua

    vez, determinam os nveis de consumo e, portanto, o acesso a bens

    materiais de vida que incluem, entre outros, alimentao, moradia,

    saneamento, assistncia mdica, escolaridade, etc. Assim, atravs da

    dialtica produo-consumo, possvel entender os diferenciais de

    sade entre os grupos sociais e dentro de cada grupo.

  • Assim sendo, o marco conceitual da sade coletiva permite uma delimitao

    compreensivelmente provisria desse campo cientfico, enquanto campo de

    conhecimento e mbito de prticas (Paim e Almeida Filho,1998:309).

    Para Paim e Almeida Filho (1998:309), como campo de conhecimento a

    sade coletiva prope

    o estudo do fenmeno sade/doena em populaes enquanto

    processo social; investiga a produo e a distribuio das doenas na

    sociedade como processos de produo e reproduo social; analisa

    as prticas de sade (processo de trabalho) na sua articulao com

    as demais prticas sociais; procura compreender, enfim, as formas

    com que a sociedade identifica suas necessidades e problemas de

    sade, busca sua explicao e se organiza para enfrent-los.

    E ainda como mbito de prticas, a sade coletiva

    envolve determinadas prticas que tomam como objeto as

    necessidades sociais de sade, como instrumentos de trabalho

    distintos saberes, disciplinas, tecnologias materiais e no materiais, e

    como atividades intervenes centradas nos grupos sociais e no

    ambiente, independentemente do tipo de profissional e do modelo de

    institucionalizao (Paim e Almeida Filho, 1998:309).

    3.3 O trabalho da enfermagem em sade coletiva

    Peduzzi (2001), ao sintetizar as diferentes abordagens sobre o trabalho da

    enfermagem, aponta a existncia de duas correntes distintas: uma que percebe os

    processos de trabalho da enfermagem como referidos ao processo de produo em

    sade, tendo portanto a enfermagem o mesmo objeto das outras prticas sociais em

    sade e instrumentos especficos; e outra que considera as especificidades dos

    elementos que compem o processo de trabalho de enfermagem, tendo, portanto, no

    s instrumentos prprios, mas tambm objeto e finalidade especficos.

  • A anlise macro-estrutural das determinaes sociais de produo ressaltada

    na vertente terica do materialismo histrico e na matriz metodolgica da dialtica.

    Os estudos acerca do processo de produo em sade e do trabalho da enfermagem

    proporcionaram micro-anlises da enfermagem na formao social capitalista,

    particularmente de sua constituio e evoluo histrica na sociedade brasileira,

    delineando uma compreenso dessa prtica na sua dimenso histrica e social

    (Almeida, Mishima e Peduzzi, 1999).

    Ainda segundo as autoras, a produo da enfermagem nessa vertente

    representada por estudos iniciais desenvolvidos entre a segunda metade de 1970 e a

    primeira metade de 1980, quais sejam: Contribuio ao estudo da prtica de

    enfermagem Brasil (Almeida et al, 1981), Educao e ideologia da enfermagem no

    Brasil (Germano, 1983), Introduo anlise das transformaes da prtica de

    enfermagem no Brasil no perodo de 1920-1978 (Silva et al, 1984) e Enfermagem

    profissional: anlise crtica (Silva, 1986).

    Segundo Almeida e Rocha (1997) a organizao tecnolgica da prtica de

    enfermagem pode ser apreendida na sua relao com os outros trabalhos da sade na

    sociedade capitalista e, nessa articulao, reconhecida a complementaridade desse

    trabalho com os outros, bem como o espao institucional e social em que se realiza.

    Ao analisar os processos de trabalho em sade e, mais especificamente, os processos

    de trabalho da Enfermagem, possvel a apreenso das contradies e das dinmicas

    da prtica como parte do conjunto de estratgias de mudana da realidade.

    Este trabalho toma ento como referncia a abordagem de Queiroz e Salum

    (1996, 2000), para quem o coletivo em sua dupla face corpo individual e coletivo

    no o objeto especfico da Enfermagem, mas , por excelncia, objeto do processo

    de produo dos servios de sade2. Os trabalhadores coletivos da rea da sade, por

    sua vez, so os executores da poltica social pblica de sade, quer na estrutura

    central, regional ou local.

    Para as autoras, esse processo de produo agrega distintos processos de

    trabalho - assistncia, gerncia, ensino e pesquisa nos quais se integram as prticas

    sociais que a ele se subordinam. A prtica social da Enfermagem, portanto, ser

    apenas um dos instrumentos da engrenagem que sustenta o processo de produo dos 2 Para Queiroz e Salum (1996), fundamentadas na produo de Breilh e Granda (1986), os perfis de reproduo social e de sade-doena dos grupos sociais homogneos compem perfis epidemiolgicos que constituem o objeto do processo de produo de servios de sade agregando potenciais de desgaste e de fortalecimento nas diferentes formas de trabalhar e de viver.

  • servios de sade. Nessa perspectiva, os trabalhadores de sade em geral, e os da

    enfermagem, em particular, so os sujeitos sociais que desempenham o trabalho em

    si nos distintos processos de trabalho das suas prticas sociais no cotidiano do

    servio.

    O processo de trabalho da assistncia tem por objeto os perfis de reproduo

    social e de sade-doena do indivduo/famlia, grupos ou classes sociais e a

    totalidade, como finalidade a transformao desses perfis, visando o aperfeioamento

    dos processos sade-doena do coletivo, agregando para meios e instrumentos os

    recursos materiais, os trabalhadores em sade e saberes como a epidemiologia, a

    clnica, a educao em sade entre outros (Queiroz e Salum, 1996).

    Para a prtica social da Enfermagem so especficos os meios e instrumentos

    de trabalho do processo de trabalho da assistncia como, por exemplo, na dimenso

    indivduo/famlia a consulta de enfermagem, a visita domiciliria e a prescrio de

    enfermagem e, na dimenso dos grupos ou classes sociais, por meio da articulao

    com as instituies do territrio podem-se realizar atividades que a realidade

    epidemiolgica e sanitria exige como, por exemplo, a vacinao, as atividades

    educativas, entre outras (Queiroz e Salum, 1996).

    J

    o objeto do processo de trabalho de gerenciamento da produo da

    assistncia no recorte da enfermagem a dinmica de como se

    processa a assistncia de enfermagem privilegiando aes sobre os

    perfis epidemiolgicos do coletivo (que integra as metodologias de

    assistncia sob a perspectiva da complementaridade da prtica de

    enfermagem com as demais prticas sociais) e a finalidade especfica

    a de compatibilizar essa dinmica s necessidades de transformao

    dos perfis epidemiolgicos. Dentre os instrumentos de trabalho,

    podemos destacar, entre outros, os modelos e os mtodos gerenciais, o

    processo de educao continuada; o trabalho em si se d sob a

    orientao do plano diretor para a sade do municpio e pelo plano

    diretor para a assistncia de enfermagem a ele subordinado (Queiroz,

    Salum, 2000).

  • Por sua vez, o processo de trabalho do ensino tem por objeto o conhecimento

    prvio do aluno acerca do trabalho em sade e como finalidade o aprimoramento da

    sua capacidade para o trabalho em sade em consonncia com a finalidade do

    trabalho que o aperfeioamento dos perfis epidemiolgicos. Para que ocorra de fato

    a transformao dos perfis, faz-se necessrio que os alunos dominem seu processo de

    trabalho e os instrumentos utilizados para seu aprimoramento so os mtodos

    pedaggicos (Queiroz e Salum, 1996).

    Neste caso, a Enfermagem agregar especificamente o treinamento, avaliao

    e aprimoramento dos trabalhadores de enfermagem, a participao em bancas

    examinadoras para provimento de cargos da enfermagem e as atualizaes do

    trabalho da enfermagem (Queiroz e Salum, 1996).

    Finalmente, o processo de trabalho da pesquisa tem por objeto o estado da

    arte que caracteriza o saber/saber fazer da enfermagem. A finalidade diz respeito ao

    aperfeioamento desse saber, aproximando-se do objeto e da finalidade do processo

    de produo de servios de sade. Os instrumentos se referem aos referenciais

    terico-metodolgicos e ao conjunto de mtodos e tcnicas necessrios

    investigao cientfica (Queiroz e Salum, 2000).

    Nos diferentes processos de trabalho - da assistncia, gerncia, ensino e

    pesquisa das prticas sociais em sade que so os instrumentos da produo de

    servios de sade, os trabalhadores em sade e, particularmente, os trabalhadores da

    enfermagem, so os instrumentos que realizam o prprio trabalho ou o trabalho em si

    (Queiroz e Salum, 1996).

    3.4 O processo de trabalho educativo em sade

    O presente estudo enfatiza a discusso acerca da educao como parte

    indissocivel das relaes de produo, j que perpassa a atividade do trabalhador

    quando ele de algum modo se vale de seus conhecimentos tcnicos especficos ao

    interferir no mundo, transformando a natureza e se transformando nesse processo.

    A transformao da natureza teleologicamente alcanada por meio da

    construo prvia da subjetividade sob a forma de uma finalidade que orientar todas

    as aes que viro a seguir. A prvia ideao portadora de uma finalidade para a

  • produo do objeto de trabalho no apenas um processo de objetivao, mas

    tambm a exteriorizao de um sujeito. A exteriorizao da individualidade

    tambm uma exteriorizao historicamente determinada de desenvolvimento social;

    por isso, ao objetivar o objeto de trabalho, o indivduo adquire novos conhecimentos,

    tanto da realidade exterior, como da sua prpria individualidade (Lessa, 1996).

    Conforme visto anteriormente, ainda que o trabalho em sade seja

    fragmentado em mltiplos atos componentes das chamadas prticas sociais em

    sade -, a produo de servios de sade e, mais especificamente, a prtica da

    enfermagem em sade coletiva integra quatro grandes processos de trabalho

    (Queiroz, Salum, 1996):

    1- o trabalho de assistncia sade,

    2- o de gerenciamento da assistncia sade,

    3- o de ensino para a qualificao dos trabalhadores em sade e

    4- o de investigao em sade.

    Os conhecimentos advindos da epidemiologia, da clnica e da educao em

    sade, por exemplo, apoiaro esses distintos processos de trabalho, constituindo-se

    como instrumentos do processo de produo dos servios em sade e da prtica da

    enfermagem em sade coletiva.

    Embora o processo educativo possa constituir em si um processo de trabalho,

    a educao aplicada sade pode ser vista pelo seu carter instrumental nos

    diferentes processos de trabalho em sade. Nesse sentido, um dos instrumentos de

    trabalho mais familiares prtica social da enfermagem no trabalho de assistncia e

    de ensino sade so as atividades educativas (Soares, Salum, 1999).

    Segundo Paro (2001), a educao, enquanto relao homem-homem, pode ser

    compreendida como a apropriao do saber historicamente produzido e o recurso

    de que as sociedades dispem para que a produo cultural da humanidade no se

    perca, passando de gerao a gerao. Desse modo, o autor acredita que a educao

    constitui a mediao pela qual os seres humanos garantem a perpetuao do seu

    carter histrico. Isto , se o homem se faz histrico porque o construtor de sua

    prpria humanidade, e se essa criao s se d pela mediao dos conhecimentos,

    tcnicas, valores, instrumentos - tudo enfim o que consubstancia a cultura construda

    pelos prprios homens - ento a educao, ao propiciar a apropriao dessa cultura,

    imprescindvel para o desenvolvimento histrico.

  • Entendida a educao como a apropriao de um saber (conhecimentos,

    valores, atitudes, comportamentos, etc) historicamente produzido, a considerao de

    seu produto no pode restringir-se ao ato de consumo imediato e completo, sem

    deixar nenhum vestgio. Nesse ato, o educando apropria-se de um saber que a ele

    incorporado e se prolonga para alm do ato de produo, por toda a vida do

    indivduo. H, portanto, algo que permanece para alm do ato de aprender. Nesse

    sentido, o educando no se apresenta unicamente como consumidor do produto, mas

    tambm como objeto de trabalho da prtica da atividade educativa. O educando o

    verdadeiro objeto sobre o qual se processa o trabalho pedaggico e que com o

    agente do trabalho se transforma nesse processo, permanecendo para alm dele

    (Paro, 2002b).

    Por conseguinte, inspirando-se nas proposies de Paro (2002a) para a rea

    da educao e transportando-as para a educao em sade, pode-se afirmar que os

    usurios dos servios de sade no so apenas consumidores, por exemplo, da

    orientao individual ou do grupo educativo, alm disso, agem no processo educativo

    em curso com vistas consecuo de um fim educativo, revelando sua dimenso de

    co-produo juntamente com as outras pessoas envolvidas tambm ativamente no

    processo pedaggico. Ao sustentar a dupla dimenso, como objeto de trabalho do

    agente educativo e de produtor, ou seja, de realizador de sua prpria educao,

    configura-se a participao dos usurios dos servios de sade na atividade educativa

    no s como objeto, mas igualmente enquanto sujeito da educao.

    Segundo Freire (2002), na prtica problematizadora da realidade, os sujeitos

    desenvolvem o poder de captao e de compreenso do mundo que lhes aparece, em

    suas relaes com ele, no mais como uma realidade esttica, mas como uma

    realidade em transformao, em processo. Dessa forma, aprofundando a tomada de

    conscincia da situao, os homens se apropriam dela como realidade histrica,

    por isso mesmo, capaz de ser transformada por eles.

    A subjetividade do indivduo, ao adquirir novas habilidades e conhecimentos,

    espontaneamente os generaliza de modo que sejam teis no apenas para a

    singularidade da situao em que surgiram, mas para a maior parte dos momentos

    futuros, por mais diferenciados que sejam (Lessa, 1996).

    Para tanto, o ponto de partida da educao para a compreenso dessa

    realidade a contextualizao da prtica social que comum, tanto para o agente,

  • como para o sujeito da atividade educativa. Enquanto o agente da atividade educativa

    tem uma compreenso sinttica, mas ainda precria da realidade, a compreenso dos

    sujeitos inicialmente confusa e fragmentada - sincrtica (Saviani, 2003).

    Segundo o autor,

    a compreenso dos agentes sinttica porque implica uma certa

    articulao dos conhecimentos e das experincias que detm

    relativamente prtica social. Todavia precria uma vez que, por

    mais articulados que sejam os conhecimentos e as experincias, a

    insero de sua prpria prtica pedaggica como uma dimenso da

    prtica social envolve uma antecipao do que lhe ser possvel fazer

    com alunos cujos nveis de compreenso ele no pode conhecer, no

    ponto de partida, seno de forma precria. Por seu lado, a

    compreenso dos alunos sincrtica uma vez que, por mais

    conhecimentos e experincias que detenham, sua prpria condio de

    alunos implica uma impossibilidade, no ponto de partida, de

    articulao da experincia pedaggica na prtica social de que

    participam (Saviani, 2003:70).

    O segundo passo na educao a problematizao e identificao dos temas

    centrais que precisam ser resolvidos no mbito da prtica social e, em conseqncia,

    a determinao de qual conhecimento necessrio dominar. Por sua vez, o terceiro

    passo a instrumentalizao terica e prtica necessria aos sujeitos da atividade

    educativa para a apropriao e equacionamento dos problemas detectados na prtica

    social por meio das ferramentas culturais necessrias luta social para a libertao

    das condies de explorao. O quarto passo ser a catarse, entendida como a

    expresso elaborada da nova forma de entendimento da prtica social a que se

    ascendeu na incorporao dos instrumentos culturais, transformados agora em

    elementos ativos de transformao social. E, finalmente, o quinto passo ser a

    prpria prtica social, compreendida no mais em termos sincrticos pelos sujeitos

    (Saviani, 2003).

    Partindo ento do pressuposto que o objeto da produo de servios em sade

    so os perfis de reproduo social e de sade-doena evidenciados no territrio e a

    finalidade a sua transformao, visando o aperfeioamento dos processos sade-

  • doena de todos os habitantes, o trabalho em si das distintas prticas sociais

    corresponder aos processos de trabalho (da assistncia, gerncia, ensino e

    investigao) necessrios para tal produo e a educao em sade estar inserida

    como instrumento, por exemplo, do processo de trabalho da assistncia sade, a

    fim de criar possibilidades concretas para que a populao participe como sujeito

    histrico co-produtor ativo da transformao de seus perfis.

    De acordo com Paro (2002a), Merhy (1987), Gonzaga (1992a), Alves (1993),

    Cezar Vaz, Sena, Martins, Rubira, Santos, Cabreira et al (2003), entre outros autores,

    a educao uma prtica social, histrica e poltica que se articula com as outras

    prticas sociais, por isso, a ao educativa em sade possui uma interdependncia

    com a formao acadmica de cada trabalhador, com o contexto histrico vivenciado

    e com a instituio em que essa prtica se concretiza.

    A ontologia lukacsiana reitera que a essncia humana historicamente

    determinada pela reproduo social: so os homens que fazem a prpria histria

    ainda que em circunstncias que no escolheram, portanto, no h uma essncia

    humana a-histrica que no possa ser subvertida pelos atos humanos (Lessa, 1996).

    3.4.1 O objeto do processo de trabalho educativo em sade

    Mendes Gonalves (1992) ressalta que o objeto de trabalho no se delimita

    por si mesmo, mas delimitado pelo olhar de um sujeito que antev em um certo

    fragmento da natureza um certo resultado potencial esboado num projeto subjetivo.

    Toda objetualidade da natureza decorre da presena de um sujeito, para o qual ela

    objeto, articulando subjetividade e objetividade. Se o sujeito transformar a si prprio

    enquanto se reproduz s custas da transformao da natureza, ambos se tornaro

    histricos.

    Nesse sentido, entre a prvia ideao e o objeto de trabalho dela resultante

    reside a objetivao-exteriorizao que o construto humano ontolgico do ser

    social que jamais coincidir completamente com a finalidade que est na sua origem

    (Lessa, 1996).

    Ainda segundo o autor, o resultado no corresponder completamente

    finalidade por que (Lessa, 1996:27):

    1)existe o acaso presente nas objetivaes,

  • 2)o fato do novo objeto desencadear nexos causais que jamais

    poderiam ser previstos em sua totalidade,

    3)a individualidade que iniciou o processo de objetivao no o

    mesmo daquela que o termina novas habilidades e conhecimentos

    foram adquiridos enquanto o processo era efetivado e essas novas

    habilidades e conhecimentos so espontaneamente incorporados

    prvia ideao adaptando-se s novas circunstncias.

    De acordo com Gonzaga (1992a), o trabalho da educao em sade ter como

    objeto a prxis humana, entendida como articulao pensamento-ao e possibilidade

    de transposio do cotidiano a partir dele prprio.

    Assim, o trabalho educativo em si, que pode ser planejado e executado

    pelo conjunto de trabalhadores da sade orientados por um projeto

    que articula clnica e epidemiologia, sob a perspectiva do pensamento

    social em sade, na sua articulao, produzem a transformao no

    objeto (Queiroz e Salum, 1996).

    Para Bernardo (1991:17) a prtica a inter-relao sujeito-sujeito [...] e a

    relao sujeito-objeto [...], cujos produtos so relativamente exteriorizados nessa

    prtica.

    Assim, pode-se empreender que o objeto do trabalho educativo da

    enfermagem em sade coletiva, parte integrante do processo de construo do objeto

    da produo dos servios de sade e da prpria prtica de enfermagem em sade

    coletiva ser, portanto, a prxis humana, isto , a articulao entre a ao sobre a vida

    material e a reflexo sobre a prtica no cotidiano do trabalho.

    Para Vzquez (1986), existem diferentes nveis de prxis, que variam de

    acordo com o grau de penetrao da conscincia do sujeito ativo no processo prtico

    e com o grau de criao ou humanizao da matria transformada evidenciado no

    produto de sua atividade prtica.

    Os trabalhadores coletivos em sade e, particularmente os trabalhadores da

    Enfermagem, tm na expresso do objeto do seu trabalho educativo o conhecimento

  • acerca de algum aspecto da realidade social e de sade a ser transformado que se

    exterioriza nos usurios dos servios de sade.

    Todavia, enquanto o objeto de trabalho material impe oposio sua

    transformao passiva, a resposta do usurio de acordo com Paro (2002b:32),

    se d de acordo com sua especificidade humana, que ao mesmo

    tempo natural e transcendncia do natural. , pois, uma participao

    ativa, enquanto ser histrico.

    Por isso, conclui-se que o objeto do trabalho educativo da enfermagem em

    sade coletiva somente atingir a prxis humana quando o trabalhador assumir o

    usurio como objeto e co-produtor do seu trabalho, uma vez que,

    num processo pedaggico legtimo, o educando no apenas est

    presente, mas tambm participa das atividades que a se desenvolvem.

    A prpria necessidade da participao ativa do aluno s se faz

    presente porque a educao supe uma modificao na natureza do

    seu objeto (Paro, 2002a:144).

    A especificidade do trabalho pedaggico pressupe que o saber envolvido no

    processo educativo no pode ser expropriado do agente da atividade educativa sob

    pena de descaracterizar-se o prprio processo pedaggico, j que o trabalhador que

    realiza o trabalho em si (Paro, 2002a).

    Caso o trabalhador acredite que o usurio apenas o objeto do seu trabalho, a

    atividade no potencializar sua participao ativa como sujeito co-produtor da

    atividade pedaggica. Enquanto objeto, ser consumidor do produto no momento da

    sua produo e como sujeito, portador de um saber matria prima do processo, que

    dar substncia e contedo a prpria relao educador-educando (Paro, 2002a).

    Por isso, o conhecimento do trabalhador coletivo de sade e, mais

    especificamente, dos trabalhadores de enfermagem acerca do objeto de trabalho

    educativo ser esquadrinhado por sua concepo de sade e de educao. Esse

  • conhecimento, que captura a partir da natureza aquilo que ser objeto de trabalho

    educativo, subordina os saberes operantes/instrumentais3, por exemplo, a concepo

    de educao em sade nos prximos passos constitutivos do processo de trabalho

    educativo em sade.

    3.4.2 Os meios e instrumentos do processo de trabalho educativo em sade

    A apreenso do objeto consiste basicamente na identificao de suas

    caractersticas que permitem a visualizao do produto final, antevisto nas

    finalidades do trabalho (Mendes Gonalves, 1994:61-62). Como esses produtos,

    enquanto expresses de necessidades so demarcados por caractersticas concretas de

    historicidade - e, nesse sentido, variam, - devem tambm variar os vieses dos

    procedimentos que, ao apreenderem o objeto, executam projees do produto. Porm

    rigorosamente, os procedimentos em questo no apreendem o objeto, que nesse caso

    deveria ser suposto como existindo enquanto tal antes de sua apreenso que

    varivel; medida que no existem objetos do trabalho seno no trabalho, tais

    procedimentos apreendem os objetos possveis de trabalho (Mendes Gonalves,

    1994).

    Para Marx (1968:205) a atividade do homem opera uma transformao,

    subordinada a um determinado fim, no objeto sobre que atua por meio do

    instrumental de trabalho.

    Nesse sentido, os instrumentos de trabalho correspondem maneira como os

    saberes operantes/instrumentais, recursos materiais e a fora de trabalho constitutivos

    do trabalho concreto - que s transformar-se em trabalho abstrato por intermdio da

    troca como forma social de produo - se incorporam no processo de trabalho e

    sintetizam num produto um valor de uso, um material da natureza adaptado s

    necessidades humanas por meio da mudana de forma (Marx, 1968:205).

    J os meios de trabalho, dirigem a sntese da qualidade/utilidade do objeto e o

    projeto da finalidade, no sentido de que

    3 Segundo Paro (2002a) o saber fazer o conhecimento que articula todos os elementos constitutivos do trabalho pedaggico e o saber que se passa aquele que instrumentaliza a transformao do tema

  • so uma coisa ou um complexo de coisas que o trabalhador insere

    entre si mesmo e o objeto de trabalho e lhe serve para dirigir sua

    atividade sobre esse objeto. Alm disso, medem o desenvolvimento da

    fora humana de trabalho e indicam as condies sociais em que se

    realiza o trabalho (Marx, 1968:203).

    Ao integrar o processo de trabalho educativo, de que se vale a prtica social

    da enfermagem, os instrumentos de trabalho correspondem ao trabalho morto

    incorporado ao objeto para atingir a finalidade - produto do processo de trabalho. E

    preciso lembrar que, desse modo, os instrumentos de trabalho, por si s no

    garantiro o bom encaminhamento do processo de trabalho. A continuidade do

    processo de consumo dos instrumentos para a transformao do objeto depender da

    maneira como recortado esse mesmo objeto, j que ser o trabalho vivo do

    trabalhador de sade dirigido ao recorte da natureza em que visualiza o objeto de

    trabalho que dar as diretrizes para uso dos instrumentos de trabalho (Marx, 1968 e

    Mendes Gonalves, 1992).

    Segundo Mendes Gonalves (1992), algo s se tornar instrumento de

    trabalho quando o sujeito dotado de um projeto o utilizar, mas apenas enquanto se

    usar dele, se valer de suas qualidades, ou seja, de seu valor de uso.

    Quando o trabalhador assume indiscriminadamente os instrumentos de

    trabalho e apia todo seu processo de trabalho na sua reproduo sem considerar o

    recorte da natureza a ser transformada - objeto de trabalho -, os instrumentos no so

    utilizados em toda sua potencialidade. Como afirma Marx (1968:229), os

    trabalhadores se tornaro complementos vivos de um mecanismo morto que existir

    independente deles.

    3.4.3 A finalidade do processo de trabalho educativo em sade

    Para Mendes Gonalves (1992), a atividade do trabalho humano est

    vinculada a uma finalidade sempre presente antes e durante o processo de trabalho.

    para os sujeitos do processo de trabalho pedaggico.

  • No fim do processo de trabalho aparece um resultado que j existia antes

    subjetivamente na imaginao do trabalhador.

    Ele no transforma apenas o material sobre o qual opera; ele imprime

    ao material o projeto que tinha conscientemente em mira, o qual

    constitui a lei determinante do seu modo de operar e ao qual tem de

    subordinar sua vontade (Marx, 1968:202).

    Dessa maneira, a individualidade e a prpria finalidade so transformadas ao

    longo do processo de objetivao-exteriorizao. Todo processo de objetivao

    resulta necessariamente num processo objetivo de generalizao dos resultados

    alcanados e a cada nova objetivao, a totalidade do ambiente no qual est inserido

    o indivduo tambm se altera. Os atos singulares agem sobre os outros indivduos

    que esto sua volta fazendo com que todos os que vivem naquele ambiente estejam

    expostos s conseqncias e respondam s novas necessidades na explorao das

    novas possibilidades dispostas nas novas situaes que surgem incessantemente

    (Lessa, 1996).

    A finalidade do trabalho educativo da enfermagem em sade coletiva ser

    determinada pela transformao do objeto co-produtor a fim de alcanar a

    apropriao do que foi produzido historicamente para monitorar os perfis de

    reproduo social e de sade-doena. Conseqentemente, ser a concretizao do

    que foi antevisto antes de iniciado o processo educativo, ou seja, ser a

    materializao da transformao do objeto co-produtor.

    Para Cezar Vaz, Sena, Martins, Rubira, Santos, Cabreira et al (2003), se o que

    se quer nas atividades educativas alcanar a dimenso social do usurio em suas

    determinaes sociais e histricas, torna-se necessrio assumir essas determinaes

    como finalidade do trabalho e apropriar-se de instrumentos para sua transformao.

    Como Queiroz e Salum (1996) consideram, a finalidade do processo de

    produo dos servios de sade ser a transformao dos perfis de reproduo social

    e perfis sade-doena nos grupos sociais homogneos (objeto de trabalho) visando o

    aperfeioamento dos processos sade-doena do coletivo.

  • Se assim , para o aperfeioamento dos perfis epidemiolgicos do coletivo

    torna-se necessria a participao dos usurios no reconhecimento de suas formas de

    reproduo social, dos potenciais de desgaste e fortalecimento a que esto expostos e

    ainda das manifestaes de desgaste e de fortalecimento que vo se evidenciando ao

    longo de suas vidas. Essa participao se dar na medida em que os trabalhos

    educativos com os usurios f