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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS DEPARTAMENTO CIÊNCIAS CONTÁBEIS ANOILSON NUNES AMARAL JOSÉ DOS SANTOS LADEIRA A ORIENTAÇÃO DOS CONTABILISTAS ÀS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS QUANTO A NECESSIDADE DE CAPITAL DE GIRO: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO NOS ESCRITÓRIOS DE CONTABILIDADE DO MUNICÍPIO DE VITÓRIA VITÓRIA 2004

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS

DEPARTAMENTO CIÊNCIAS CONTÁBEIS

ANOILSON NUNES AMARAL

JOSÉ DOS SANTOS LADEIRA

A ORIENTAÇÃO DOS CONTABILISTAS

ÀS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS QUANTO

A NECESSIDADE DE CAPITAL DE GIRO:

UM ESTUDO EXPLORATÓRIO NOS ESCRITÓRIOS

DE CONTABILIDADE DO MUNICÍPIO DE VITÓRIA

VITÓRIA 2004

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ANOILSON NUNES AMARAL

JOSÉ DOS SANTOS LADEIRA

A ORIENTAÇÃO DOS CONTABILISTAS

ÀS PEQUENAS E MEIAS EMPRESAS QUANTO

A NECESSIDADE DE CAPITAL DE GIRO:

UM ESTUDO EXPLORATÓRIO NOS ESCRITÓRIOS

DE CONTABILIDADE DO MUNICÍPIO DE VITÓRIA

Monografia apresentada ao Departamento de Contabilidade da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do titulo de bacharel em Ciências Contábeis. Orientador: Prof. Dr. Valcemiro Nossa.

VITÓRIA 2004

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ANOILSON NUNES AMARAL

JOSÉ DOS SANTOS LADEIRA

A ORIENTAÇÃO DOS CONTABILISTAS ÀS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS

QUANTO A NECESSIDADE DE CAPITAL DE GIRO:

UM ESTUDO EXPLORATÓRIO NOS ESCRITÓRIOS DE CONTABILI DADE DO

MUNICÍPIO DE VITÓRIA

Monografia apresentada ao Departamento de Contabilidade da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do titulo de bacharel em Ciências Contábeis.

Aprovado em 07 de abril de 2004.

COMISSÃO EXAMINADORA

Prof. Dr. Valcemiro Nossa

Universidade Federal do Espírito Santo

Orientador

Prof. Leonardo Resende Dutra

Universidade Federal do Espírito Santo

Prof. MSc Gabriel Moreira Campos

Universidade Federal do Espírito Santo

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RESUMO

Sabe-se que é função da contabilidade gerar informações úteis ao processo de

tomada de decisão. Este trabalho busca identificar como está sendo realizada na

prática, a análise contábil da necessidade de capital de giro - NCG. Integra esse

trabalho o estudo do referencial teórico, bem como pesquisa realizada junto aos

contabilistas sediados no município de Vitória acerca da análise contábil da NCG e

disponibilidade dessas informações aos gestores das pequenas e médias empresas

para as quais prestam serviços contábeis. Também faz parte dos objetivos estudar

as diversas formas de avaliar a necessidade de capital de giro, verificar as principais

dificuldades para geração dessas informações, avaliar o conhecimento dos

contabilistas acerca do assunto, além de averiguar o interesse dos pequenos e

médios empresários no que se refere a esta informação. Para tanto se realizou

pesquisa bibliográfica evidenciando os principais conceitos propostos por estudiosos

do assunto, e em seguida um estudo exploratório junto aos contabilistas, elaborado

com base em um questionário no qual diversos quesitos relacionados ao tema

foram apreciados. A partir das informações coletadas percebeu-se que a análise da

NCG não é realizada pela grande maioria dos profissionais pesquisados, e que as

principais razões que inviabilizam sua realização são a falta de informações mais

precisas da realidade operacional das empresas as quais prestam serviço, a

ausência de conhecimento da realidade interna dessas empresas por parte dos

contabilistas e o desinteresse por parte dos gestores das empresas por essas

informações.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Fluxo do ativo circulante ...........................................................................23

Figura 2 - Capital de giro permanente e sazonal ..................................................... 24

Figura 3 - Aplicação da técnica agressiva às necessidades de recursos ............... 29

Figura 4 - Aplicação da técnica conservadora às necessidades de recursos .......... 31

Figura 5 - Aplicação da técnica mista às necessidades de recursos ...................... 32

Figura 6 – Ciclo operacional .................................................................................... 42

Figura 7 – Financiamento dos estoques pelos fornecedores ................................... 43

Figura 8 – Financiamento de parte dos estoques pelos fornecedores ..................... 44

Figura 9 - “Efeito tesoura” ......................................................................................... 56

Figura 10 – Composição do financiamento da necessidade de capital de giro ....... 70

Figura 11 - Adequação entre usos e fontes de recursos .......................................... 72

Figura 12 - Localização da necessidade de capital de giro no balanço ................... 74

Figura 13 - Financiamento da necessidade de capital de giro ................................. 79

Figura 14 - Esquema orçamentário global ............................................................... 83

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Seleção da amostra objeto da pesquisa ................................................ 20

Tabela 2 – Orçamento de vendas ............................................................................ 84

Tabela 3 – Orçamento de produção ......................................................................... 86

Tabela 4 – Orçamento de compras de material direto ............................................. 86

Tabela 5 – Orçamento de mão-de-obra direta ......................................................... 87

Tabela 6 – Orçamento dos custos indiretos de fabricação ...................................... 87

Tabela 7 – Orçamento de despesas de vendas e administrativas ........................... 88

Tabela 8 – Orçamento de caixa ............................................................................... 89

Tabela 9 – Demonstração de resultado projetada ................................................... 90

Tabela 10 – Balanço patrimonial atual ..................................................................... 91

Tabela 11 – Balanço patrimonial projetado .............................................................. 92

Tabela 12 – Classificação de empresas em razão do número de empregados ...... 95

Tabela 13 – Número de estabelecimentos por porte das empresas ....................... 97

Tabela 14 – Número de empregados por porte das empresas ................................ 97

Tabela 15 – Percentual de firmas sobreviventes em 2000 entre as nascidas em 1996 ............................................................................................... 97

Tabela 16 – Visão dos pequenos e médios empresários quanto a utilidade da análise da NCG segundo os contabilistas ...........................................101

Tabela 17 – A importância da documentação apresentada pelas pequenas e médias empresas para mensuração da NCG ....................................103

Tabela 18 – Implicações da qualidade da documentação repassadas pelas

empresas na análise da NCG .............................................................103

Tabela 19 – Razões apontadas como justificativa(s) para não realização da análise contábil da NCG ......................................................................104

Tabela 20 – Itens apontadas como necessários para realização da análise contábil da NCG ..................................................................................105

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Porte dos estabelecimentos x pessoal ocupado (2001) em %............... 96

Gráfico 2 – Domínio sobre o assunto análise contábil da NCG em escala de 0 a 10 ..................................................................................... 99

Gráfico 3 – Visão dos pequenos e médios empresários quanto a utilidade da análise da NCG segundo contabilistas ........................................... 101

Gráfico 4 – A mensuração da real capacidade financeira das empresas com

base na documentação apresentada aos contabilistas .........................102

Gráfico 5 – Implicações da qualidade da documentação na análise da NCG ........104

Gráfico 6 – A realização da análise contábil da NCG pelos contabilistas .............106

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9

1.1 ANTECEDENTES DO TEMA ............................................................................................ 9

1.2 SITUAÇÃO PROBLEMA ................................................................................................12

1.3 OBJETIVO .................................................................................................................12

1.3.1 Objetivo geral .......................................................................................................12 1.3.1 Objetivos específicos............................................................................................13

1.4 JUSTIFICATIVA ...........................................................................................................13

1.5 METODOLOGIA...........................................................................................................16

1.5.1 Tipologia da pesquisa ..........................................................................................16 1.5.2 Critério de seleção da amostra ...........................................................................18 1.5.3 Coleta de dados ..................................................................................................21 1.5.4 Processo de análise dos dados ...........................................................................21

2 REFERENCIAL TEÓRICO ......................................................................................22

2.1 CAPITAL DE GIRO ......................................................................................................22

2.1.1 Conceituação ......................................................................................................22 2.1.2 Terminologias de capital de giro ..........................................................................25 2.1.3 Capital de giro ideal .............................................................................................26

2.2 EQUILÍBRIO FINANCEIRO .............................................................................................27

2.3 DILEMA RISCO-RETORNO ...........................................................................................28

2.4 DETERMINAÇÃO DA NECESSIDADE DE CAPITAL DE GIRO................................................33

2.5 AVALIAÇÃO ESTÁTICA POR ÍNDICES DE LIQUIDEZ ..........................................................36

2.5.1 Liquidez corrente .................................................................................................37 2.5.2 Liquidez seca ......................................................................................................38 2.5.3 Liquidez imediata ................................................................................................38

2.6 ÍNDICES DE PRAZOS MÉDIOS ......................................................................................39

2.7 ABORDAGEM DO MODELO FLEURIET ............................................................................46

2.7.1 Necessidade de capital de giro ...........................................................................52 2.7.2 Capital de giro .....................................................................................................53 2.7.3 Saldo de tesouraria .............................................................................................53 2.7.4 Autofinanciamento ...............................................................................................54 2.7.5 Efeito tesoura ......................................................................................................56 2.7.6 Dimensionamento da necessidade de capital de giro .........................................58 2.7.7 Cálculo da necessidade de capital de giro média ...............................................60

2.8 FLUXOS DE CAIXA .....................................................................................................62

2.9 FONTES DE FINANCIAMENTO .......................................................................................69

2.9.1 Financiamento com capital próprio.......................................................................72 2.9.2 Financiamento com capital de terceiros ..............................................................73

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2.10 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS PROJETADAS .............................................................80

2.10.1 Orçamento de vendas .......................................................................................84 2.10.2 Orçamento de produção.....................................................................................85 2.10.3 Orçamento de despesas gerais e administrativas .............................................88 2.10.4 Orçamento de caixa ou projeção de caixa ........................................................89 2.10.5 Demonstração do resultado do exercício projetada ..........................................90 2.10.6 Balanço patrimonial projetado ............................................................................91

2.11 As PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS .......................................................................93

2.11.1 Importância das pequenas e médias empresas .................................................95

3 ORGANIZAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ...........................................................99

3.1 NECESSIDADE DE CAPITAL DE GIRO – CONHECIMENTO DOS CONTABILISTAS ..................99

3.2 O INTERESSE E UTILIDADE DA ANÁLISE CONTÁBIL DA NECESSIDADE DE CAPITAL DE GIRO POR PARTE DOS GESTORES DAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS .................100

3.3 A VISÃO DOS CONTABILISTAS ACERCA DA DOCUMENTAÇÃO APRESENTADA PELAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS .....................................................................102

3.4 DIFICULDADES NA GERAÇÃO E DISPONIBILIDADE DE INFORMAÇÕES DA NECESSIDADE DE CAPITAL DE GIRO POR PARTE DOS CONTABILISTAS ............................104

3.5 ITENS APONTADOS COMO NECESSÁRIOS PARA REALIZAÇÃO DA MENSURAÇÃO CONTÁBIL DA NECESSIDADE DE CAPITAL DE GIRO ........................................................105

3.6 REALIZAÇÃO DA ANÁLISE CONTÁBIL DA NECESSIDADE DE CAPITAL DE GIRO ..................106

4 CONCLUSÕES ......................................................................................................108

REFERÊNCIAS ......................................................................................................113

APÊNDICE .............................................................................................................116

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1 INTRODUÇÃO

1.1 ANTECEDENTES DO TEMA

Os dados mais recentes indicam que mais da metade das pequenas empresas

fecham suas portas em menos de dois anos de existência (SEBRAE/ES, 2003). Os

fatores que levam a tais números são diversos e bastante complexa é a elucidação

do problema, que vai desde o despreparo dos administradores até a conjunturas

econômicas adversas.

Sabe-se também que boa parte dessas pequenas empresas interrompem suas

atividades por não conseguirem honrar seus compromissos, o que remete a uma

situação de falta de fluxos de caixa, ou de financiamentos suficientes para tal.

Para que uma entidade possa saldar seus compromissos, representados pela saída

de recursos financeiros, necessita de entrada compatível de recursos em dinheiro.

Essa inserção de recursos se dá basicamente de duas formas: pelos fluxos normais

de caixa oriundos das atividades operacionais das entidades ou de empréstimos e

financiamentos obtidos junto ao mercado. Em geral as pequenas entidades recorrem

aos bancos para obterem tais recursos. Segundo Gitman (1987, p. 279):

De forma geral, quanto maior a margem pela qual os ativos circulantes de uma empresa cobrem suas obrigações a curto prazo (passivos circulantes), tanto mais apta ela estará para pagar suas contas nos vencimentos. Essa relação resulta do fato de que a conversão de ativos circulantes. De estoques para duplicatas e desta para caixa, provê os recursos necessários para pagamento das obrigações correntes, as quais representam uso de caixa. Tais saídas de caixa são relativamente previsíveis. Quando uma obrigação é assumida, a empresa geralmente sabe a data de seu vencimento. Por exemplo, quando se adquire mercadoria a prazo, as

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condições estabelecidas pelo fornecedor, incluem o pagamento de uma dada fatura em data futura. De outro lado é difícil prever as entradas de caixa – isto é, a conversão de ativos circulantes para formas mais líquidas. Quanto mais previsíveis forem as entradas de caixa, menores as necessidades de CCL por parte das empresas. Como a maioria das empresas não consegue conciliar com precisão as entradas e as saídas de caixa, os ativos circulantes precisão exceder os passivos circulantes. Dito de outra forma, uma parcela dos ativos circulantes é freqüentemente financiada com fundos de longo prazo.

Em decorrência de políticas macro-econômicas adotadas no Brasil, nos últimos anos

tem-se observado taxas de juros muito altas, tornando onerosas as fontes externas

não decorrentes das atividades normais, em especial as taxas praticadas pelo

sistema bancário brasileiro.

Aliada ao elevado custo, existe ainda a incerteza de se obterem esses

financiamentos, deixando ainda mais vulnerável as entidades que dependem em

grande escala desses recursos.

Depender de recursos que não façam parte das atividades normais é uma realidade

presente em quase todas as empresas, em decorrência da falta de sincronização

temporal equilibrada em seus níveis de atividade. Ocorre também que buscar

recursos provenientes do mercado financeiro pode significar a alavancagem e o

incremento das atividades das entidades.

Logo, o que se almeja não é eliminar a procura de recursos no mercado, mas, se for

conveniente, que estas possam fazê-lo da maneira mais racional possível. Tais

financiamentos devem ser apenas o estritamente necessário, de forma planejada, e,

após uma análise criteriosa das melhores alternativas.

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Os recursos disponíveis no mercado financeiro têm custos e prazos diferenciados

dependendo da sua utilização. Geralmente aqueles destinados à financiamentos de

bens de capital têm em geral custos menores e prazos maiores, enquanto os

recursos disponíveis para uso sem finalidade específica tem prazos menores e

custos maiores. Assim é fácil deduzir que aqueles destinados a cobrir eventuais

desequilíbrios no chamado capital de giro, possuem custos mais elevados, haja

vista, não terem uma destinação específica.

A acirrada concorrência a que estão submetidas quase todas as empresas, inclusive

as de menor porte, principalmente em decorrência da globalização ocorrida a partir

dos anos 90, deixou muito estreita a margem de manobra das empresas quando do

aumento de algum custo.

Manter os seus níveis de vendas também não tem sido uma tarefa fácil, sobretudo

considerando o aumento registrado nas importações de mercadorias de países cuja

realidade macro-econômica pode ser completamente diferente da brasileira.

Portanto manter os custos nos níveis atuais ou reduzi-los tem sido a saída mais

viável para as empresas.

As pequenas e médias empresas também concorrem com as grandes, que, via de

regra, tem mais possibilidade de investir em setores específicos e especializados.

Assim o cenário no qual as pequenas e médias empresas estão inseridas requer

cada vez mais a utilização do conhecimento de profissionais especializados.

Nessa situação em particular a contabilidade se mostra na maioria das vezes como

a única fonte de conhecimento científico a que essas empresas tem acesso.

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Diante desse contexto, a utilização da análise contábil da necessidade de capital de

giro, mostrando as melhores alternativas, nas quais estas entidades poderão

concentrar esforços para minimizar a dependência de recursos não provenientes de

suas atividades normais, muito poderá contribuir para a prosperidade e até significar

a condição para que estas possam continuar a existir.

1.2 SITUAÇÃO PROBLEMA

Diante do exposto surge a seguinte questão de pesquisa:

Qual o nível de utilização da análise contábil da necessidade de capital de giro pelos

contabilistas sediados no município de Vitória?

1.3 OBJETIVO

1.3.1 Objetivo geral

O objetivo geral deste projeto é investigar a utilização da análise contábil da

necessidade de capital de giro por parte dos contabilistas sediados no município de

Vitória, bem como a disponibilidade dessas análises às pequenas e médias

empresas.

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1.3.2 Objetivos específicos

Para o atendimento ao objetivo geral deste estudo são delineados os seguintes

objetivos específicos:

� Estudar as diversas formas de avaliar a necessidade de capital de giro;

� Verificar a percepção dos contabilistas das pequenas e médias empresas quanto

ao interesse e utilidade das informações decorrentes da análise da necessidade

de capital de giro por parte dos gestores das entidades, as quais prestam serviço;

� Investigar as principais dificuldades apontadas pelos contabilistas para a análise

da necessidade de capital de giro e a disponibilidade dessas informações às

pequenas e médias empresas;

� Verificar o nível de conhecimento dos contabilistas quanto a análise contábil da

necessidade de capital de giro.

1.4 JUSTIFICATIVA

A disponibilidade de informações aos seus usuários é uma das funções da ciência

contábil. Cada um desses usuários procura extrair dessas informações algo que lhes

seja útil. Desse modo, é natural que os interesses dos administradores das

entidades estejam voltados para aquelas informações cujo conteúdo, de alguma

forma, os auxiliem na tomada das melhores decisões, que podem afetar a vida das

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entidades das mais diversas formas, podendo inclusive significar a sua continuidade

ou não. Para Marion (1998, p. 128):

O objetivo principal da contabilidade [...] é o de permitir a cada grupo principal de usuários a avaliação da situação econômico e financeira da entidade, num sentido estático, bem como fazer inferências sobre as tendências futuras.

A eficácia dessas decisões depende, em maior ou menor grau, da qualidade e

precisão das informações contidas nos relatórios dos contabilistas. Assim, é de vital

importância que as análises contábeis, recebam atenção especial por parte dos

profissionais de contabilidade.

As pequenas e médias empresas não têm a sua disposição, em sua maioria, setores

específicos para o tratamento de informações que dêem aos seus gestores

subsídios para a tomada de decisões. No entanto, essas empresas contam com a

assessoria de um profissional contábil, dentro da entidade ou de forma terceirizada.

Dentre as numerosas informações que pode fornecer a contabilidade, a análise

contábil da necessidade de capital de giro - NCG é uma delas. Para a tomada de

decisões a análise da NCG se mostra relevante, pois, com esses dados é possível

que os gestores tomem suas decisões quanto às questões financeiras no que se

refere à necessidade de capital de giro tanto atuais como para um período futuro

calculados por meio de projeções.

Segundo Gitman (1987, p. 281) os “ativos circulantes, comumente chamados de

capital giro ou capital circulante, representam a porção de investimento que circula

de uma forma para outra na condução normal dos negócios”.

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A relevância desta informação toma ainda uma importância maior no cenário atual

macro-econômico, haja vista o alto custo de se obter recursos no mercado

financeiro, por conta principalmente das altas taxas de juros praticadas, além da

escassez de valores disponíveis para essa modalidade de empréstimo. Descreve

Marion (1998, p. 27):

Que observa com certa freqüência que várias empresas, principalmente as pequenas, têm falido ou enfrentam sérios problemas de sobrevivência. Ouvimos empresários que criticam a carga tributária, os encargos sociais, a falta de recursos, os juros altos etc., fatores esses que, sem dúvida, contribuem para debilitar a empresa. Entretanto, descendo fundo em nossas investigações, constatamos que muitas vezes a ’célula cancerosa’ não repousa nessas críticas, mas na má gerência, nas decisões tomadas sem respaldo, sem dados confiáveis. Por fim observamos nesses casos uma contabilidade irreal, distorcida, em conseqüência de ter sido elaborada única e exclusivamente para atender a exigências fiscais.

Para que as entidades possam minimizar a sua necessidade de financiamento

externo de capital de giro, é essencial que comecem com dados concisos da sua

real necessidade, para a partir de então tomarem as decisões que seus gestores

julgarem mais convenientes.

Matarazzo (1998, p. 344) descreve que “nenhuma análise econômico-financeira de

empresa produtiva (excluem-se portanto, empresas financeiras e securitárias) pode

prescindir de abordar a necessidade de capital de giro, tamanha a sua importância”.

Não obstante a importância da análise contábil da necessidade de capital de giro, e

o rico acervo acumulado por parte dos pesquisadores, a sua aplicação prática ainda

carece de dados concretos quanto a utilização, tanto quantitativa, quanto qualitativa,

principalmente em se tratando de pequenas e médias empresas.

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Dessa forma, através desta pesquisa, tem-se o objetivo de não só avaliar em

números percentuais, mas também de enumerar as principais dificuldades por parte

daqueles que lidam com tais informações, suas experiências e expectativas quanto

ao assunto. Bortoli (apud MENEZES, 1999, p. 12) destaca que:

Todo e qualquer trabalho embasado numa pesquisa, que tenha como objetivo conhecer melhor a realidade das pequenas e médias empresas (PMEs), justifica-se por si só, pois a carência de informações nesta área é inversamente proporcional à sua importância na economia nacional e regional.

Analisar empiricamente a aplicação de conhecimentos científicos, sobretudo onde as

carências de infra-estrutura, como também de pessoal são mais evidentes, como

pressupõe esta pesquisa, significa em tese, avaliar a aplicação prática de um

conhecimento científico em seu terreno mais adverso. Logo, a observação de suas

conclusões pode ser de fundamental importância para que outros pesquisadores se

apropriem desses dados e desenvolvam outros trabalhos.

Para que se possa estudar e propor melhorias nas análises contábeis da

necessidade de capital de giro das pequenas e médias empresas, é preciso que

antes se tenha um diagnóstico mais detalhado de como isso está sendo realizado,

ou até mesmo se está sendo realizado. Neste sentido, o primeiro passo a ser dado

passa por uma avaliação da situação atual, suas dificuldades, suas experiências

bem sucedidas, dos fracassos, e outros detalhes que de alguma forma possam ser

analisados no futuro originando novas propostas mais eficazes.

Compilar em uma pesquisa as experiências daqueles profissionais que convivem no

dia-a-dia com gestores de entidades dos mais diversos ramos de atividade,

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certamente proporcionará um enriquecimento do conhecimento dos entraves e das

facilidades da aplicação de um conhecimento científico no campo prático de maneira

bastante transparente e realista.

Para Iudícibus (2000, p. 23), “o objetivo básico da contabilidade [...] pode ser

resumido no fornecimento de informações econômicas para os vários usuários, de

forma que propiciem decisões racionais”.

Avaliar a aplicação da análise contábil da necessidade de capital de giro por parte

dos prestadores do serviço contábil às pequenas e médias empresas, justifica-se,

também, por destacar o papel que deve desempenhar o profissional dessa ciência

nos nossos dias, haja vista, a necessidade de produzir informações relevantes que

agreguem maior valor ao trabalho realizado pelo profissional contábil.

1.5 METODOLOGIA

1.5.1 Tipologia da pesquisa

O desenvolvimento deste trabalho está baseado em dois tipos de pesquisa:

Inicialmente utilizamos a modalidade de pesquisa bibliográfica, investigando o

assunto em livros, teses, revistas, internet etc. Gil (1991, p. 48) descreve que "a

pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído

principalmente de artigos científicos".

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A Segunda parte do trabalho consta de uma pesquisa de campo de natureza

exploratória, com a investigação da realidade nos escritórios de contabilidade do

município de Vitória. Para Gil (1991, p. 45):

A pesquisa exploratória tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. Pode-se dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de idéias ou a descoberta de instituições.

Nessa fase da pesquisa foi aplicado um questionário a fim de a elucidar os objetivos

propostos por este trabalho.

1.5.2 Critério de seleção da amostra

Objetivando uma informação mais próxima possível da realidade, e considerando a

viabilidade da pesquisa, buscou-se primeiramente um elenco de todos os

profissionais, cadastrados para o exercício profissional junto ao Conselho Regional

de Contabilidade radicados no município de Vitória. A partir dessa relação,

classificada como população, para efeito de pesquisa, foi retirada uma amostra para

a qual foram aplicados questionários, dos quais, foram coletados os dados objeto

desta pesquisa.

Em razão do tamanho da população ser considerado pequeno para fins do cálculo

de uma amostra que fosse representativa, com uma margem de erro satisfatória, em

princípio, a sondagem se deu com todo o elenco dos profissionais cadastrados, na

seqüência eles foram submetidos a uma triagem, a fim de se obter uma amostra

para a qual fosse possível a aplicação da pesquisa.

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Essa triagem inicial foi realizada por telefone para esclarecer os seguintes temas

junto aos pesquisados:

� Prestam regularmente serviços contábeis às pequenas e médias empresas?

� Estão dispostos a responder a pesquisa?

As respostas positivas passaram a integrar o elenco dos profissionais, para os quais,

foi aplicado o questionário integrante dessa pesquisa. Caso pelo menos uma das

respostas fosse negativa estariam automaticamente desabilitados a responder ao

questionário.

A seleção da amostra se deu da seguinte forma:

� A quantidade de escritórios inscritos no cadastro do Conselho Regional de

Contabilidade classificados como população era de 238;

� Do total de inscritos 61 escritórios não possuíam telefone para contato;

� 177 escritórios possuíam telefone para contato;

� Desse total de 177 escritórios não conseguimos ser atendidos por 114

contabilistas;

� Dos 63 contabilistas contatados 08 não prestavam serviço às pequenas e médias

empresas, logo foram desabilitados a responder o questionário;

� Dos 55 restantes 13 contabilistas não quiseram responder a pesquisa, alegando

entre outros motivos falta de tempo e não estarem interessados em pesquisas;

� Finalmente a pesquisa foi realizada por meio de um questionário respondido por

um total de 42 profissionais de contabilidade conforme demonstrado na Tabela 1.

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20

TABELA 1 SELEÇÃO DA AMOSTRA OBJETO DA PESQUISA

Seleção da amostra objeto da pesquisa Quantidade

Total dos escritórios inscritos no Conselho Regional de Contabilidade 238 Escritórios que não possuíam telefone para contato ( 61)

Escritórios que possuíam telefone para contato 177 Escritórios que não se conseguiu contatar ( 114 )

Escritórios que se conseguiu contatar 63 Escritórios que não prestavam serviços às pequenas e médias empresas ( 8 ) Escritórios que não quiseram responder a pesquisa ( 13 )

Escritórios que se dispuseram a responder a pesquisa 42

A escolha do município de Vitória se deu de forma espontânea, embora, seja um dos

municípios mais desenvolvidos do Estado, com grande número de profissionais, o

que proporciona uma população suficiente para a realização da pesquisa e a

inferência sobre o tema pesquisado.

Embora a pesquisa se realize junto aos profissionais sediados no município de

Vitória, eventualmente as entidades as quais prestam serviços poderão estar

localizadas em outros municípios.

Não houve de nenhuma forma identificação individual dos profissionais pesquisados,

e as informações somente serão divulgadas de forma condensada, sem identificação

dos mesmos.

1.5.3 Coleta de dados

A efetivação da pesquisa foi feita por entrevistas direta e via correio eletrônico. A

escolha de qualquer um desses meios esteve condicionada a disponibilidade do

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21

entrevistado.

Sempre que foi possível realizar a coleta de dados direta, esse meio foi priorizado

objetivando maior interatividade com os profissionais.

Do total de respostas com sucesso, 35 foram realizadas de forma direta nos

escritórios de contabilidade, as demais 07 foram recebidas via correio eletrônico. A

pesquisa foi realizada entre os dias 10/02/2004 e 12/03/2004.

As questões objetivas têm o intuito de facilitar e condensar as informações, visando

uma conclusão mais clara e concisa da questão. Também foi motivo de preocupação

evitar o direcionamento em demasia, para tanto foram disponibilizadas aos

pesquisados várias alternativas sobre um mesmo assunto.

1.5.4 Processo de análise de dados

O resultado da pesquisa está exposto na conclusão do trabalho. Os temas objetivos

que puderam ser apresentados em forma de gráficos ou tabelas, assim foram

elaborados, e de forma clara e concisa às conclusões e observações relevantes

sobre o tema.

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22

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 CAPITAL DE GIRO

2.1.1 Conceituação

Inicialmente é interessante o delineamento do que venha a ser a atividade

operacional de uma empresa, uma vez que o capital de giro são aplicações em itens

que compõe essa atividade.

A atividade operacional corresponde a todas as atividades relacionadas com a

produção e entrega de bens e serviços.

Muito importante é para as empresas o conhecimento da sua real necessidade de

capital de giro, pois, é a parte do patrimônio mais sensível à oscilação monetária,

uma vez que dele fazem parte os itens que estão em constante giro e os ativos

monetários. Segundo Assaf Neto e Silva (1995, p. 15):

O capital de giro circulante é representado pelo ativo circulante, isto é, pelas aplicações correntes, identificadas geralmente pelas disponibilidades, valores a receber e estoques. Num sentido mais amplo, o capital de giro representa os recursos demandados por uma empresa para financiar suas necessidades operacionais identificadas desde a aquisição de matérias-primas (ou mercadorias) até o recebimento pela venda do produto acabado.

O capital de giro pode ser definido como recursos que circulam várias vezes em

determinado período. Ou seja, corresponde a uma parcela de capital aplicada pela

empresa em seu ciclo operacional, caracteristicamente de curto prazo, que assume

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diferentes formas ao longo de seu processo produtivo e de venda. Por exemplo, um

capital alocado no disponível pode ser aplicado inicialmente em estoque, assumindo

posteriormente à venda realizada a forma de realizável (crédito, se a venda for a

prazo) ou novamente disponível (se a venda for efetuada a vista).

Esse processo ininterrupto constitui-se, basicamente, no ciclo operacional (aquisição

e venda) de uma empresa.

Utilizando-se da ilustração desenvolvida por Assaf Neto (1983, p. 116), a Figura 1

retrata o fluxo do capital de giro de acordo com o ciclo de produção e venda

(operacional) de uma empresa industrial.

Figura 1 - Fluxo do ativo circulante Fonte: Assaf Neto (1983).

O capital de giro pode ser classificado em fixo e variável. A parte fixa é definida de

acordo com o nível de atividade normal da entidade e a variável pelas variações

Recursos Aplicados no Ativo

Circulante

Disponível Estoque

de Materiais

Vendas a Vista

Vendas a Prazo

Realizável

Estoques de Produtos Acabados

Produção

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24

temporárias nos níveis de atividade da empresa como grandes aquisições de

estoques antes de períodos de entressafra, A Figura 2 ilustra esta variação.

Segundo Martins e Assaf Neto (1985, p. 292):

O capital de giro pode ainda ser classificado em permanente (ou fixo) ou sazonal (variável). A parte fixa do capital de giro é determinada pela atividade normal da empresa, e seu montante é definido pelo nível mínimo de necessidades de recursos em determinado período. O capital de giro sazonal, por sua vez, é determinado pelas variações temporárias que ocorrem normalmente nos negócios da empresa. Por exemplo: maiores vendas em determinados meses do ano ou grandes aquisições de estoques antes de períodos entressafra produzem variações temporárias no ativo circulante, e são, por isso, denominadas sazonais e variáveis.

-

-

-

-

Tempo

Figura 2 - Capital de giro permanente e sazonal Fonte: Martins e Assaf Neto (1985).

A análise da sazonalidade aplicada ao contexto operacional de uma entidade deve

ser efetuada de forma particular considerando a característica interna de cada uma e

sua forma de se relacionar com o mercado.

Investimentos Necessários $

Capital de Giro sazonal (variável)

Capital de Giro Permanente (fixo)

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25

2.1.2 Terminologias de capital de giro

O termo capital de giro é encontrado na literatura com várias terminologias

dependendo do contexto empregado. A seguir estão relacionadas algumas delas

Segundo (BRIGHAM, GAPENSKI e EHRHARDT, 2001):

� Capital de giro, as vezes chamado de capital de giro bruto, ou capital em giro,

simplesmente refere-se aos ativos circulantes utilizados nas operações;

� O capital de giro líquido é definido como os ativos circulantes menos os passivos

circulantes.

� O capital de giro operacional líquido é definido como os ativos circulantes que

não rendem juros, menos os passivos circulantes que não pagam juros.

Geralmente o capital de giro operacional líquido é igual ao caixa, contas a

receber, e estoques menos contas a pagar e despesas a pagar;

A política de capital de giro refere-se as políticas da empresa com relação a níveis-

meta para cada categoria de ativos circulantes e como os ativos circulantes serão

financiados.

O gerenciamento do capital de giro envolve tanto o estabelecimento da política de

capital de giro quanto a aplicação dessa política no dia-a-dia.

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2.1.3 Capital de giro ideal

Sabe-se que a definição do capital de giro ideal depende das características de cada

entidade quanto a seu nível operacional, sendo necessário um estudo aprofundado

das atividades desenvolvidas por cada uma, suas estratégias e as peculiaridades do

mercado em que estão inseridas. Logo, não é possível definir valores de capital de

giro que tenham validade para diversas entidades. Segundo Di Augustini (1999,

p.54):

Dado o dinamismo das mutações do capital de giro, adequá-lo às necessidades quantitativas e qualitativas poderá representar a diferença entre a liquidez e a insolvência, crucial na gestão do dia-a-dia da empresa, ou ainda, entre o lucro e o prejuízo, essencial para a manutenção dos negócios.

Entretanto, de maneira geral o mais rentável para qualquer empresa seria manter

em seus ativos circulantes valores mínimos, iguais às suas necessidades

operacionais. Um exemplo seria esse: os valores disponíveis poderiam ser sempre

iguais aos desembolsos de caixa efetuados em diferentes momentos. Da mesma

forma, o valor investido no realizável em curto prazo seria o reflexo do volume e

prazo ideais de vendas a crédito, e os estoques deveriam conter a quantidade

necessária para a consecução da meta de produção e venda estabelecida pela

empresa. Segundo Martins e Assaf Neto (1985, p. 287):

É sabido que o ativo circulante se constitui, para diversos segmentos empresariais, no grupo patrimonial menos rentável, e os investimentos em capital de giro não geram diretamente unidades físicas de produção e vendas, meta final do processo empresarial de obtenção de lucros. A manutenção de determinado volume de recursos aplicados no capital de giro, visa fundamentalmente, à sustentação da atividade operacional da empresa. O capital de giro é constituído, em grande parte, por ativos monetários, ou seja, por valores depreciáveis. Tipicamente, investimentos em disponível e créditos realizáveis de curto prazo produzem perdas inflacionárias à

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empresa, as quais são determinadas em função do tempo em que os recursos ficam expostos à inflação.

Determinar o capital de giro mínimo necessário à manutenção das atividades da

entidade, considerando a necessidade de uma margem suficiente de recursos que

garanta suas operações é o ideal a ser atingido pelos gestores de qualquer

entidade.

2.2 EQUILÍBRIO FINANCEIRO

Toda e qualquer empresa busca o equilíbrio financeiro, para isto é preciso conhecer

a sua estrutura de realização de ativos e vencimentos de passivos adequando as

saídas às entradas de caixa. Assaf Neto e Silva (1995, p. 24) ponderam acerca do

equilíbrio financeiro que:

O entendimento de capital de giro insere-se no contexto das decisões financeiras de curto prazo, envolvendo a administração de ativos e passivos circulantes. Toda empresa precisa buscar um nível satisfatório de capital de giro para garantir a sustentação de sua atividade operacional. O conceito de equilíbrio financeiro de uma empresa é verificado quando suas obrigações financeiras se encontram lastreadas em ativos com prazos de conversão em caixa similares aos dos passivos. Em outras palavras, o equilíbrio financeiro exige vinculação entre a liquidez dos ativos e os desembolsos demandados pelos passivos. Segundo este conceito, somente a presença de um CCL positivo não se torna indicador seguro de equilíbrio financeiro. É necessário que se identifiquem nos ativos circulantes as contas de longo prazo (permanentes) e as variáveis (sazonais). Os ativos totais necessários compõem-se, para cada período de planejamento, dos recursos sazonais e fixos do capital de giro e do capital permanente aplicado. Para se manter em equilíbrio financeiro, uma alternativa da empresa é financiar suas necessidades variáveis com dívidas de curto prazo, utilizando os recursos de longo prazo para financiar suas necessidades financeiras permanentes.

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O equilíbrio financeiro é a obtenção de um nível de capital de giro satisfatório e

compatível para a satisfação das obrigações decorrentes da atividade operacional

de uma empresa. Isto significa que suas obrigações financeiras estão lastreadas em

ativos com prazos de conversão compatíveis com seus respectivos vencimentos.

Para Brigham, Gapenski e Ehrhardt (2001 p. 766):

A política de administração de capital de giro envolve duas questões básicas: (1) Qual é a quantidade de ativos circulantes que uma empresa deve manter, tanto no total quanto para cada conta específica, e (2) como devem ser financiados os ativos circulantes?

Para a obtenção do equilíbrio financeiro é necessário que haja vinculação adequada

entre a liquidez dos seus ativos e as obrigações decorrentes da estrutura dos

passivos.

2.3 DILEMA RISCO-RETORNO

Segundo Gitman (1987, p. 283) “a relação entre capital circulante líquido, liquidez e

risco é tal que se o capital circulante liquido ou a liquidez aumentarem, o risco da

empresa diminuirá, e vice-versa”.

Gitman (1987, p.289) assinala ainda a “existência de três técnicas para se obter uma

composição adequada de financiamento dos recursos totais demandados por uma

empresa: a técnica agressiva, a conservadora e a mista”.

A técnica agressiva requer o financiamento de necessidades imediatas com recursos

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de curto prazo e as necessidades permanentes de capital de giro, com recursos de

longo prazo. As sazonalidades também são financiadas com recursos de curto prazo

por essa técnica. Sob o ponto de vista de custo, essa opção implica em ganhos, pois

em se tratando de economias estáveis ou mesmo em épocas de normalidade em

economias instáveis, as taxas de juros de curto prazo são menores que as de longo

prazo. Para Gitman (1987, p. 293):

O objetivo da administração financeira a curto prazo é gerir cada um dos ativos circulantes (caixa, títulos negociáveis, duplicatas a receber e estoques) e passivos circulantes (duplicatas a pagar, títulos a pagar e contas a pagar) a fim de alcançar um equilíbrio entre lucratividade e risco que contribua positivamente para o valor da empresa.

A Figura 3 ilustra a técnica agressiva.

Ativos Circulantes 20.000 - Ativos Permanentes

19.000 - CCL

18.000 -

17.000 -

16.000 -

15.000 -

14.000 -

13.000 -

12.000 -

11.000 -

Tempo (meses)

Figura 3 - Aplicação da técnica agressiva às necessidades de recursos Fonte: Gitman (1987).

Deixando-se bem clara a existência de exceções conjunturais quanto ao grau de

Recursos à Longo Prazo

Recursos à Longo Prazo

Jan.

Fev

.

Mar

.

Jun.

Abr

.

Mai

.

Jul.

Ago

Set

.

Out

.

Nov

.

Dez

.

Necessidades de Recursos Totais

CCL ( 900 )

Recursos à Curto Prazo

Recursos à Curto Prazo

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30

risco, essa opção submete a empresa a um grau de risco maior, pois os recursos

que se podem obter no curto prazo, têm clara limitação, e, no caso de

imprevisibilidades, poderá incorrer em riscos de insolvência.

A técnica conservadora consiste em financiar as necessidades totais de recursos

demandados por uma empresa com operações de longo prazo, utilizando-se,

excepcionalmente, recursos de curto prazo (GITMAN, 1987).

Efetivamente, é uma opção de aplicação discutível, vez que, em países como o

Brasil, há uma escassez crônica de recursos de longo prazo, e em países de

estabilidade monetária, as taxas de juros de longo prazo são mais elevadas que as

de curto prazo. Nesse sentido essa técnica acarretaria custos financeiros mais

elevados para a empresa.

Também deve-se ressaltar o fato de que certas operações realmente não teriam

sentido em serem financiadas a longo prazo, como por exemplo a compra de

matérias-primas para a produção corrente, que são tradicionalmente financiadas por

fornecedores e estão inseridas e ajustadas dentro da previsibilidade do ciclo

operacional. As necessidades sazonais também não teriam sentido em serem

financiadas a longo prazo pelo seu caráter transitório (GITMAN, 1987).

A técnica conservadora, embora possa garantir um nível de liquidez bastante

seguro, implica claramente em custos maiores e, portanto, em menor rentabilidade.

A Figura 4 ilustra bem as características da técnica conservadora na composição do

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31

financiamento das necessidades de recursos.

Ativos Circulantes

20.000 - Ativos Permanentes

19.000 - CCL

18.000 -

17.000 -

16.000 -

15.000 -

14.000 -

13.000 -

12.000 -

11.000 -

Tempo (meses)

Figura 4 - Aplicação da técnica conservadora às necessidades de recursos Fonte: Gitman (1987).

Na realidade, embora seja bastante discutível, a técnica mista é a mais factível, pois,

situada num plano intermediário entre a técnica agressiva e a técnica conservadora,

não está nem para a folgada liquidez e baixa rentabilidade da conservadora, e muito

menos para o alto risco e maior rentabilidade da agressiva. É uma combinação que

procura compatibilizar um nível de liquidez necessário, sem, no entanto, sacrificar a

rentabilidade. É uma técnica bastante flexível e extremamente variável em relação à

conjuntura, e seu custo é em função da dinâmica evolutiva das taxas de curto e

longo prazo (GITMAN, 1987).

Quanto ao nível de risco, é evidentemente menor que o da técnica agressiva, porém

muito maior que o da técnica conservadora. A Figura 5 ilustra bem a aplicação da

técnica mista na composição do financiamento das necessidades de recursos.

Recursos à Longo Prazo

Jan.

Fev

.

Mar

.

Jun.

Abr

.

Mai

.

Jul.

Ago

Set

.

Out

.

Nov

.

Dez

.

Necessidades de Recursos Totais

CCL ( 4.000)

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32

Ativos Circulantes

20.000 - Ativos Permanentes

19.000 - CCL

18.000 -

17.000 -

16.000 -

15.000 -

14.000 -

13.000 -

12.000 -

11.000 -

Tempo (meses)

Explicação:

Linha 01 – Técnica Agressiva Linha 02 – Técnica Conservadora Linha 03 – Técnica Intermediária

Figura 5 - Aplicação da técnica mista às necessidades de recursos Fonte: Gitman (1987).

A utilização das técnicas mais adequadas estará condicionada à especificidade de

cada empresa. Devem ser consideradas as seguintes questões Segundo Gitman

(1987, p. 294):

Porte da empresa, volume de recursos manipulado, poder de barganha junto às instituições financeiras, perfil e comportamento dos administradores financeiros e expectativas da diretoria e dos acionistas como fatores condicionantes internos.

Como fatores condicionantes externos pode-se citar a conjuntura econômica e as

condições gerais e expectativas dos agentes econômicos com relação à economia.

Os fatores exógenos e endógenos em sua interação podem condicionar, por sua

vez, as condições e a qualidade do crédito oferecido à empresa (GITMAN, 1987).

Recursos à Longo Prazo

Recursos à Longo Prazo

Jan.

Fev

Mar

.

Jun.

Abr

.

Mai

.

Jul.

Ago

Set

.

Out

.

Nov

.

Dez

.

Necessidades de Recursos Totais

CCL ( $ 2.400 )

2

3

1

Recursos à Curto Prazo

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33

Outro fator de suma importância que pode condicionar o emprego de uma ou mais

técnicas é um fenômeno atípico, que por vezes ocorre na economia brasileira: o fato

de em certas conjunturas inflacionárias as taxas de juros de curto prazo estarem

mais elevadas que as de longo prazo. Nessa hipótese é evidente que a utilização da

técnica conservadora é mais factível e racional. Como esse fenômeno tem caráter

atípico e duração transitória, é prudente estar atento para não se fixar

demasiadamente na utilização da técnica conservadora, evitando-se assim, uma

situação de inércia (MARTINS E ASSAF NETO, 1985).

É necessário, na realidade, um acompanhamento estratégico sobre qual a melhor

técnica a ser utilizada, durante qual período, e em que condições. É interessante

não ser mecanicista, e estar sempre atento para dar curso a mudanças de técnica,

empregando cada uma, de forma bastante flexível, utilizando-se mais da técnica

mista, mas sendo sempre oportunista para tirar proveito da conjuntura.

2.4 DETERMINAÇÃO DA NECESSIDADE DE CAPITAL DE GIRO

Determina-se a necessidade de capital de giro de uma entidade pela diferença entre

o investimento do passivo circulante operacional e os valores constantes do Ativo

circulante operacional.

Segundo Matarazzo (1998, p. 348) “a necessidade de capital de giro reflete o

montante de que a empresa necessita tomar para financiar o seu ativo circulante em

decorrência das atividades de comprar, produzir e vender”.

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34

Assim:

PCOACONCG −= ;

NCG - Necessidade de Capital de Giro;

ACO - Ativo Circulante Operacional;

PCO - Passivo Circulante Operacional.

O ativo circulante operacional trata-se dos investimentos operacionais que decorrem

das necessidades das atividades normais das entidades: compras de mercadorias e

matérias primas, estocagem e outras (MATARAZZO, 1998).

O passivo circulante operacional refere-se a valores inerentes aos itens operacionais

constantes no passivo circulante, normais das atividades empresariais, cujos valores

são empregados como parte dos recursos que irão cobrir os gastos do ativo

circulante operacional (MATARAZZO, 1998).

A necessidade de capital de giro compõe-se da diferença entre os valores do ativo

circulante operacional e o passivo circulante operacional, constituindo-se de

recursos dos quais a entidade deve buscar no seu capital próprio ou de terceiros.

Quando PCOACO > , há NCG positiva, significando que a empresa deve buscar

fontes de financiamentos (MATARAZZO, 1998).

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35

Quando ACO = PCO a empresa não têm necessidade de buscar financiamentos

(MATARAZZO, 1998).

Quando ACO < PCO a empresa têm recursos do seu financiamento operacional

maiores que do seus investimentos operacionais, sobrando lhe recursos a serem

aplicados em outros setores (MATARAZZO, 1998).

Considerando-se que os passivos circulantes operacionais financiam os ativos

circulantes operacionais, totais ou parcialmente, é possível deduzir que os valores

da necessidade de capital giro de uma entidade não são constantes e variam em

decorrência de suas atividade normais do dia-a-dia (Matarazzo, 1998).

PCO

NCG

ACO

PCO ACO

ACO PCO

Valor do PCO,

Excedente ao

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36

Assim, as alterações nos volumes de vendas das entidades implicarão em novos

valores para financiar a necessidade de capital de giro, bem como a variação dos

demais itens patrimoniais como duplicatas à pagar, duplicatas à receber, estoque e

outros.

Para viabilizar as análises, trabalha-se com os chamados prazos médios, em que se

procura refletir por meio dessas informações os valores médios, ou seja, aqueles

que se repetem de forma mais constante nas operações de determinada entidade.

2.5 AVALIAÇÃO ESTÁTICA POR ÍNDICES DE LIQUIDEZ

Para Di Agustini (1999, p. 39) capital de giro e liquidez, “possuem estreita ligação, à

medida que ambos relacionam itens circulantes do balanço patrimonial. Além dessa

ligação, o capital de giro depende ainda do comportamento de alguns indicadores

operacionais”.

A avaliação estática é realizada por meio dos indicadores econômicos e financeiros

de análise de liquidez e tem por objetivo dimensionar a capacidade de pagamento

de uma empresa, ou seja, demonstrar suas possibilidades de cumprir suas

obrigações.

Em relação a essa situação estática dos indicadores de liquidez, pondera Assaf Neto

(2003, p. 107):

Uma grande restrição que se atribui a esses indicadores é a posição de

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37

liquidez estática que revelam, isto é, não refletem a magnitude e a época em que ocorrerão as diversas entradas e saídas. Por exemplo: uma empresa poderá apresentar excelente nível de liquidez, medido formalmente através desses indicadores, e não manter, desde que os seus direitos venham a se realizar somente após um trimestre, recursos circulantes suficientes para fazer frente às suas necessidades de caixa nos próximos três meses. Na realidade os indicadores tradicionais de liquidez exprimem uma posição financeira de um dado momento de tempo e os diversos valores considerados são continuamente alterados em função da dinamicidade natural dos negócios da empresa.

A seguir são descritos de forma breve os principais índices de liquidez, segundo

Martins e Assaf Neto (1985, p. 245 e 246).

2.5.1 Liquidez corrente

É a relação entre o ativo circulante, representado por disponíveis, valores a receber,

estoques e despesas antecipadas, e passivo circulante representado por

fornecedores, empréstimos, dividendos, contribuições sociais e demais obrigações

de curto prazo.

O cálculo da liquidez corrente é obtido por intermédio da seguinte fórmula:

circulantePassivo

circulanteAtivocorrenteLiquidez =

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38

2.5.2 Liquidez seca

Este índice revela o percentual de obrigações de curto prazo que podem ser

resgatados mediante a utilização dos ativos circulantes de maior liquidez,

demonstrando a relação existente entre os ativos circulantes (basicamente os

disponíveis, valores a receber e aplicações financeiras de curto prazo) e as

obrigações registradas no passivo circulante. Pode ser obtido por meio da fórmula:

( ) ( )circulantePassivo

sAntecipadaDespesasEstoquescirculanteAtivoaLiquidez

−−=sec

Os estoques não são considerados neste indicador haja vista a necessidade de

etapas a serem cumpridas nas transformações dos recursos até o recebimento, ou

entrada de caixa, em decorrência da sua comercialização. Da mesma forma as

despesas antecipadas são desconsideradas, em função de não proporcionarem

entradas de caixa.

2.5.3 Liquidez imediata

Este índice tem pouca importância no dia-a-dia, sendo interpretado de forma crítica e

obtido por meio da relação existente entre disponibilidades (caixa e bancos e

aplicações financeiras de curto prazo) e as obrigações registradas no passivo

circulante, demonstrando a parcela das dívidas que poderiam ser honradas

imediatamente pela empresa.

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39

É obtida pela seguinte equação:

circulantePassivo

DisponivelimediataLiquidez =

O Capital circulante líquido reflete a visualização econômico-financeira da empresa

segundo a diferença matemática entre os ativos circulantes e passivos circulantes,

denominada capital circulante líquido.

( ) circulantePassivocirculanteAtivoliquidocirculanteCapital −=

Apesar da forma prática e objetiva dos indicadores de liquidez e do capital circulante

líquido, precisam ser analisados em conjunto com outros indicadores, por limitações

já comentadas e principalmente por refletirem uma posição estática da entidade.

2.6 ÍNDICES DE PRAZOS MÉDIOS

São vários os livros que tratam sobre os índices de prazos médios. Neste estudo

tomou-se como base a obra de Matarazzo (1998).

Os prazos médios possibilitam, por meio de sua análise, a mensuração de quantos

dias em média a empresa espera receber suas duplicatas ou terá que saldar seus

compromissos junto aos seus fornecedores, bem como os prazos médios em que

seus estoques são renovados.

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40

Por intermédio da definição desses prazos é possível estabelecer os ciclos

operacionais e financeiros da entidade. A partir desses ciclos determinar

quantitativamente o valor do ativo circulante operacional que vem sendo financiado

pelo passivo circulante operacional, bem como as implicações caso haja mudanças

nesses prazos.

Fórmula do prazo médio de recebimento de vendas:

V

DRPMRV

×= 360

Ressalta-se que o prazo médio de recebimentos das vendas não afeta o fluxo de

caixa, mas apenas os investimentos. Portanto, se uma empresa têm seu prazo

médio de recebimento de vendas alterado de trinta para quarenta e cinco dias, não

significa que esta receberá diariamente um fluxo de caixa alterado, mas sim terá que

investir mais recursos para cobrir os quinze dias adicionais que o novo prazo de

recebimento das vendas exige.

O cálculo do prazo médio de pagamento das compras se dá pela seguinte fórmula:

C

FPMPC =

Onde,

PMPC = Prazo Médio de Pagamento das Compras;

F = Saldo de Fornecedores do Balanço;

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41

C = Compras.

As alterações nos prazos médios de pagamentos das compras, de modo análogo ao

prazo de recebimento das vendas, também não altera o fluxo de caixa, mas apenas

exige uma alteração no investimento nesse item.

No prazo médio de renovação dos estoques o enfoque muda para o valor a preço de

custo das vendas futuras, entretanto, como no balanço não se conhece as vendas

dos meses posteriores, trabalha-se com as próprias vendas passadas, a preço de

custo, dadas pelo custo das mercadorias vendidas.

CMV

EPMRE

×= 360

Onde,

PMRE = Prazo Médio de Renovação dos Estoques;

E = Estoques;

CMV = Custo das Mercadorias Vendidas.

Para que se possa tirar conclusões mais proveitosas destes índices é necessário

que se faça a análise de forma inter-relacionada. Tornando-se possível a verificação

de como cada índice pode contribuir para a formação dos ciclos operacionais e

financeiros das entidades.

Para Matarazzo (1998, p. 324) “a análise dos prazos médios só é útil quando os três

prazos são analisados conjuntamente”.

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O Quadro 1 resume as fórmulas de cálculo dos prazos médios.

PMRV = Prazo Médio de Recebimento das Vendas = 360 x Duplicatas a receber Vendas

PMRE = Prazo Médio de Renovação dos Estoques = 360 x Estoques CMV

PMPC = Prazo Médio de Pagamento das compras = 360 x Fornecedores Compras QUADRO 1 – FÓRMULAS DE CÁLCULO DOS PRAZOS MÉDIOS Fonte: Matarazzo (1998)

O ciclo operacional demonstra as fases de todo o processo de produção. Na

indústria, inicia-se com a aquisição de matéria prima, sua estocagem, o processo de

transformação industrial, estocagem e venda dos produtos acabados, concluindo

com o recebimento.

São fases que ocorrem de forma natural e repetitiva e que identificam o ciclo das

operações e os fluxos dos custos de produção da empresa. Em outras palavras, os

ciclos operacionais são definidos como o período de tempo decorrido entre o ponto

inicial da produção de um determinado bem ou serviço, até o momento do efetivo

recebimento pelo produto ou serviço prestado.

Ciclo Operacional

Compra Venda Recebimento

PMRE PMRV

Figura 6 – Ciclo operacional Fonte: Matarazzo (1998).

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43

Paralelamente ao ciclo operacional ocorre o financiamento concedido pelos

fornecedores, a partir do momento da compra. Isso significa que até o pagamento

das compras a empresa não precisa se preocupar pois este é automático e fornecido

sem custos pelos fornecedores. Quando o prazo médio de pagamento das compras

– (PMPC) for superior ao prazo médio de renovação dos estoques – (PMRE), os

fornecedores também financiarão uma parte das vendas das empresas.

O ciclo de caixa compreende o período entre o pagamento efetuado aos

fornecedores e o momento em que esta recebe suas vendas. Neste período a

empresa terá de buscar financiamento. Este Ciclo também é denominado de ciclo

financeiro. A empresa pode alterar seus ciclos financeiros, com redução ou

expansão, através de ajustes de tempo nos processos de produção e prazos de

fornecedores e vendas.

Os fornecedores financiam totalmente os estoques a uma parte das vendas,

conforme ilustra a Figura 7.

Ciclo Operacional

Compra Venda Pagamento Recebimento

PMRE PMRV

Ciclo de Caixa

Figura 7 – Financiamento dos estoques pelos fornecedores Fonte: Matarazzo (1998).

O ciclo econômico contempla o processo de produção, desde a entrada de matéria-

PMPC

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44

prima até a saída dos produtos acabados, ou seja, a realização das vendas. Para se

montar o ciclo econômico da empresa basta apenas verificar o início do processo de

produção com a aquisição de matéria-prima e a venda do produto acabado.

No caso do exemplo da Figura 08, a empresa deve buscar financiamento para suas

vendas e parte do seu estoque, quanto maior o ciclo financeiro, maiores serão os

recursos que a empresa deverá obter para se financiar.

Os fornecedores financiam apenas parte dos estoques, como ilustrado na figura 8.

Ciclo Operacional

Compra Pagamento Venda Recebimento

PMRE PMRV Ciclo de Caixa

PMPC

Figura 8 – Financiamento de parte dos estoques pelos fornecedores Fonte: Matarazzo (1998).

A sazonalidade a que estão sujeitas as atividades empresariais, bem como os

efeitos da inflação podem distorcer os índices de prazos médios, logo, se uma

entidade tiver suas atividades concentradas em determinada época do ano, ou

exposta a taxas relevantes de inflação, poderá ter seus índices de prazos médios

completamente distorcidos.

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45

Isso pode ser ilustrado por meio do seguinte exemplo: suponha que uma

determinada empresa tenha vendas anuais de R$100.000 dos quais R$50.000

foram realizadas no mês de dezembro e R$ 12.000 no mês de novembro. O seu

prazo de recebimento é de 60 dias, logo, nada recebeu desses dois meses, e terá

um saldo de duplicatas a receber de R$ 62.000.

Aplicando-se a fórmula de prazo médio de recebimento das vendas, tem-se:

diasvendas

receberaduplicatasPMRV 223

000.100

000.62360360 =×=×=

Percebe-se claramente que variações expressivas nas vendas durante o ano

provocam distorções acentuadas nos prazos médios, portanto, para que os índices

de prazos médios possam ser utilizados de forma correta faz-se necessário que os

profissionais que os analisam tenham conhecimento das particularidades inerentes a

cada entidade, leve em consideração tais peculiaridades e avaliem a época em que

as coletas dos dados foram realizadas.

Outro fator que também provoca inevitáveis distorções é a inflação, assim as vendas

mesmo que se mantenham uniformemente estáveis sofrerão acréscimos quando

expostas a inflação.

É possível trabalhar utilizando o valor médio de duplicatas a receber, estoques, e

fornecedores. Ao utilizar-se o valor médio para obtenção dos prazos médios

minimiza-se as distorções provocadas tanto pela inflação quanto pela sazonalidade.

Essa fórmula, no entanto, traz desvantagens em relação a fórmula do prazo final ao

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não permitir que se conheça os prazos de recebimento quando da publicação dos

balanços. Logo, se uma empresa atua por diversos anos com determinado prazo de

recebimento das vendas e altera o prazo durante um período, pela aplicação dessa

fórmula será obtido um prazo que nunca existiu de fato.

Outro argumento para a não utilização dos saldos médios, e sim dos saldos finais é

que a análise dos prazos médios, como já mencionado, deve ser feita em conjunto

com os três prazos (recebimento, rotação dos estoques, e pagamento das compras),

e isso só poderá ser feito com a utilização dos saldos finais (MATARAZZO, 1998).

2.7 ABORDAGEM DO MODELO FLEURIET

Durante as atividades de uma empresa é possível identificar dois ciclos o econômico

e o ciclo financeiro. O primeiro caracteriza-se pelo prazo decorrido entre as entradas

de matérias primas e as saídas de produtos elaborados, enquanto o segundo

caracteriza-se pelo prazo decorrido entre a saída de caixa e as entradas de caixa.

Segundo Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003, p. 6):

Os ciclos econômicos e financeiros, relacionam-se aproximadamente, através da seguinte expressão: ciclo financeiro = ciclo econômico + prazo médio das contas a receber – prazo médio das contas a pagar. Considerando-se que o prazo médio de rotação de estoques fornece, para uma empresa em funcionamento, uma medida aproximada do seu ciclo econômico, a expressão acima pode ser descrita do seguinte modo: ciclo financeiro = prazo médio de rotação dos estoques (PME) – prazo médio das contas a receber (PMR) – prazo médio das contas a pagar (PMP).

No modelo de análise proposto classificam-se as contas do balanço patrimonial, não

pela sua forma de disposição (pela ordem decrescente de liquidez) e sim pelas suas

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características de rotação (ciclo), bem como a forma que se relacionam com as

atividades operacionais.

Para o desenvolvimento e aplicação das idéias do francês Fleuriet, é necessário

fazer uma reclassificação das contas para que possam ser percebidos os efeitos dos

ciclos das atividades na estrutura patrimonial da empresa, representada pêlos

demonstrativos financeiros do balanço patrimonial tradicional.

Com esse propósito, sugere em seu trabalho, uma reclassificação onde os recursos

e valores circulantes venham a ser considerados em dois grupos distintos de contas:

cíclicas e erráticas.

As aplicações de longo prazo e permanentes e as fontes de recursos são tratadas

como ativos e passivos permanentes, estando especificamente em seus grupos de

realizável a longo prazo e permanente, e exigível a longo prazo e patrimônio líquido.

Suas contas são consideradas como erráticas ou não cíclicas. Assim para Fleuriet,

Kehdy e Blanc (2003, p. 7):

Certas contas apresentam uma movimentação lenta, quando analisadas isoladamente em relação ao conjunto de outras contas, que, em uma análise de curto prazo, podem ser consideradas como permanentes ou não cíclicas (realizável à longo prazo; investimentos; reservas de lucro etc.) Outras contas estão relacionadas com o ciclo operacional do negócio e apresentam um movimento contínuo e cíclico (estoques; fornecedores etc.). Finalmente existem as contas que não estão diretamente relacionadas com a operação apresentando movimento descontínuo e errático (disponível; títulos negociáveis; duplicatas descontadas etc.).

As contas do ativo são reclassificadas, conforme suas condições de velocidade de

renovação, e se estão ligadas ou não ao desenvolvimento das atividades

operacionais da empresa, com os seguintes agrupamentos:

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Ativo circulante:

� Contas erráticas ou ativo financeiro

� Contas cíclicas ou ativo operacional

Contas não cíclicas do ativo:

� Realizável a longo prazo

� Ativo Permanente

As contas do ativo circulante ficam distribuídas em dois grupos, quais sejam,

aquelas que guardam relação direta com a atividade operacional, e as demais

contas que são denominadas contas erráticas ou ativo financeiro.

No grupamento de contas erráticas do ativo ou ativo financeiro estão relacionadas

as contas não ligadas as atividades operacionais da empresa, compreendendo:

aplicação de recursos classificáveis a curto prazo, que podem ser utilizados

livremente na movimentação dos negócios, aplicações financeiras com o objetivo de

absorver excesso de caixa e obter certa rentabilidade; créditos a terceiros em

transações alheias aos objetivos sociais da empresa.

Essas contas compõem os seguintes grupos: disponível, títulos negociáveis, e

outros ativos de curto prazo.

Contas cíclicas dos ativo ou ativo operacional.

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49

As chamadas contas cíclicas do ativo estão ligadas diretamente as atividades

operacionais da empresa, renováveis e realizadas a curto prazo.

Estão baseadas a partir dos créditos a receber, originários das vendas de produtos

ou serviços, objeto da atividade operacional, a valores líquidos de provisões.

Estoques em seus diversos estágios de produção, importações em andamento,

adiantamento a fornecedores, materiais em almoxarifado, destinado ao

funcionamento técnico e de administração, e despesas operacionais pagas

antecipadamente.

Estas contas podem ser apresentadas nos seguintes grupos: clientes, estoques,

despesas pagas antecipadamente, outros ativo operacionais de curto prazo.

Por sua vez, as contas do passivo também são reclassificadas, de acordo com suas

condições e velocidade de renovação, e se estão ligadas ou não ao

desenvolvimento das atividades operacionais da empresa, com os seguintes

agrupamentos:

Passivo circulante:

� Contas erráticas ou passivo financeiro

� Contas cíclicas ou passivo operacional

Contas não cíclicas do passivo:

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50

� Exigível a longo prazo

� Patrimônio líquido

De forma idêntica ao ativo circulante, as contas do passivo circulante também ficam

identificadas em dois grupos, quais sejam, aquelas que guardam relação direta com

a atividade operacional, denominadas contas cíclicas ou passivo operacional, e as

demais contas que são denominadas contas erráticas ou passivo oneroso ou

financeiro.

Contas erráticas do passivo ou passivo oneroso ou financeiro:

Neste grupamento estão reunidas as contas não ligadas as atividades operacionais

da empresa, tais como: recursos financeiros de terceiros, classificáveis a curto prazo

que foram utilizadas na movimentação dos negócios, tais como empréstimos,

financiamentos, títulos e valores descontados e outras contas que representam

compromissos financeiros vencíveis a curto prazo.

Contas cíclicas do passivo ou passivo operacional:

As chamadas contas cíclicas do passivo estão ligadas diretamente as atividades

operacionais da empresa, são renováveis e realizadas em curto prazo, e estão

baseadas nos recursos de terceiros à disposição da empresa com origem em

fornecedores, ou outros compromissos vinculados ao fornecimento de produtos ou

serviços objetos da atividade operacional.

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De acordo com as características acima, podemos agrupar essas contas da seguinte

forma: fornecedores, adiantamento de clientes, encargos sociais e trabalhistas, ACC

por exportação de produtos, outros passivos operacionais de curto prazo.

O Quadro 2 mostra um resumo da classificação das contas proposta por Fleuriet.

ATIVO PASSIVO Ativo circulante Passivo circulante

Contas erráticas Contas erráticas

Circulante Circulante Numerário em caixa Duplicatas descontadas Bancos conta movimento Emprést. bancários - curto prazo Títulos e valores mobiliários Imposto de renda e CSSL Outras de natureza financeira Contas a pagar - curto prazo

Contas cíclicas Contas cíclicas

Duplicatas a receber Fornecedores de Mat. Prima Estoque de prod. Acabados Adiant. De contrato de câmbio Estoques em produção Encargos tributários s. produção Estoque de matéria prima Encargos trib. Sobre vendas Despesas antecipadas Obrigações sociais Outras contas operacionais Salários a pagar Obrigações trabalhistas

Ativo permanente Passivo permanente

Contas não cíclicas Contas não cíclicas

Realizável a longo prazo Exigível a longo prazo Empréstimos a terceiros Empréstimos bancários Títulos a receber Financiamentos Outras contas de longo prazo Outras contas de longo prazo

Permanente Patrimônio líquido

Investimento Capital social Imobilizado reservas Diferido Lucros Acumulados

QUADRO 2 – CLASSIFICAÇÃO DAS CONTAS DO BALANÇO PROPOSTA POR FLEURIET Fonte: Adaptado de Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003).

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52

2.7.1 Necessidade de capital de giro

Dentro do grupo de contas que compõe o ativo circulante e o passivo circulante é

possível identificar dentro das premissas estabelecidas nesse modelo de análise

financeira o chamado ativo cíclico, representado pela soma das contas cíclicas do

ativo e o passivo cíclico representado pela soma das contas cíclicas que o compõe.

A diferença positiva entre a soma do ativo cíclico menos a soma do passivo cíclico

denomina-se necessidade de capital de giro.

ativo cíclico – passivo cíclico = necessidade de capital de giro (NCG)

Segundo Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003, p. 8 e 9):

A necessidade de capital de giro é um conceito financeiro e não uma definição legal. Refere-se ao saldo de contas cíclicas ligadas às operações da empresa. A classificação contábil, muitas vezes, não permite identificar com clareza as contas do ativo e passivo cíclicos. Assim a medida da necessidade de capital de giro, pode variar de acordo com as informações de que os analistas financeiros dispõem sobre os ciclos econômicos e financeiros das empresas. A necessidade de capital de giro é muito sensível às modificações que ocorrem no ambiente econômico em que a empresa opera. Assim modificações como redução de crédito de fornecedores, aumento de estoques etc., alteram, à curto prazo, a necessidade de capital de giro, que depende, basicamente, da natureza e do nível de atividades dos negócios da empresa. A natureza dos negócios da empresa determina seu ciclo financeiro, enquanto o nível de atividade é função das vendas. O nível de atividade afeta mais acentuadamente a necessidade de capital de giro das empresas de ciclo financeiro de longa duração do que a das de ciclo financeiro de curta duração.

A necessidade de capital de giro correlaciona-se com fatores internos e externos da

entidade, logo, conhecer a necessidade de capital de giro implica conhecer o ciclo

operacional da entidade como um todo.

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53

2.7.2 Capital de giro

O capital de giro CDG, pode ser obtido pela diferença entre o passivo permanente e

o ativo permanente, logo:

CDG = Passivo permanente - Ativo permanente

Para Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003, p. 13):

O capital de giro apresenta-se razoavelmente estável ao longo do tempo. Diminui quando a empresa realiza novos investimentos em bens do ativo permanente (aumento do ativo permanente). Todavia, esses investimentos são, em geral realizados por meio de autofinanciamento, empréstimos de longo prazo e aumento de capital (em dinheiro), que, por sua vez, aumentam o capital de giro, (aumento do passivo permanente), compensando aproximadamente a diminuição provocada pelos novos investimentos. O capital de giro pode ser negativo. Nesse caso o ativo permanente é maior do que o passivo permanente, significando que a empresa financia parte de seu permanente com curto prazo.

Essa dedução permite afirmar que de modo geral parte dos recursos oriundos de

fundos fixos são utilizados para financiar a necessidade de capital de giro, enquanto

que a maioria dos recursos é utilizada para financiar aplicações permanentes.

2.7.3 Saldo de tesouraria

O saldo de tesouraria corresponde a um valor residual pela diferença entre o capital

de giro e a necessidade de capital de giro. Este valor pode ser negativo se o capital

de giro for insuficiente para financiar a necessidade de capital de giro, e positivo se o

capital de giro for suficiente para financiar a necessidade de capital de giro.

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54

Segundo Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003, p.13):

Denomina-se ativo errático e passivo errático as contas circulantes que não estão diretamente ligadas à operação e cujos valores se alteram de forma aleatória. O saldo de tesouraria (T) define-se como a diferença entre o ativo e o passivo erráticos.

Saldo de tesouraria (T) = ativo errático – passivo errático

Quanto maior o saldo de tesouraria maior será a margem de segurança financeira

que disporá a empresa para saldar seus compromissos. Entretanto um valor alto no

saldo de tesouraria poderá significar que a empresa não está aproveitando as

oportunidades de investimento.

2.7.4 Autofinanciamento

Todas as operações realizadas por uma empresa podem ser reagrupadas em quatro

categorias sendo que cada uma corresponde a uma função econômica:

� Operações de produção e venda, que são ligadas diretamente a atividade cíclica

da firma e que determinam seu resultado econômico.

� As operações de repartição que compreendem essencialmente a distribuição e o

recebimento de rendas independentes do ciclo de produção e venda (imposto de

renda, dividendos, despesas e receitas financeiras, etc.).

� Operações de investimento e desinvestimento, ou seja, as aquisições, criações e

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cessões de elementos do ativo imobilizado.

� As operações financeiras, que tem por objeto a reunião de meios de

financiamento necessários a vida e ao desenvolvimento da empresa (FLEURIET,

KEHDY e BLANC, 2003).

As operações correntes dão origem a uma necessidade de financiamento

permanente, a saber, NCG. O crescimento aumenta essa necessidade de fundos.

Por sua vez as operações geram o autofinanciamento, que representa um recurso

permanente, logo, para que haja equilíbrio, é necessário que as necessidades sejam

contrabalançadas pela geração de recursos.

O capital de giro deve acompanhar sempre a evolução das necessidades de capital

de giro para que a empresa não se deteriore. No caso específico das pequenas e

médias empresas em que o poder de barganha com os bancos é menor, esse

cuidado deve ser redobrado, em razão de não haver garantias de renovação de

empréstimos ou de aumentos quando necessários por tempo indeterminado, e

principalmente quando há uma retração econômica.

Para os bancos, os investimentos industriais ou financeiros são mais atraentes do

que aplicação de seus recursos no financiamento dos aumentos da necessidade de

capital de giro das empresas, por que os primeiros oferecem melhores garantias

para contrabalançar os riscos.

Se a empresa financia o aumento da necessidade de capital de giro por meio de

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endividamento ou aporte de capital ela diminui suas chances de financiar as

necessidades de capital futuras mediante o autofinanciamento.

O aumento do capital leva a posterior pagamento de dividendos, e, portanto, à

diminuição da reserva de lucros. Já o aumento do endividamento leva a despesas

financeiras suplementares que irão diminuir os resultados futuros da organização,

logo, a busca pelo autofinanciamento será sempre a melhor opção.

A prudência aconselha, pois, a autofinanciar as necessidades suplementares de

capital de giro, caso contrário a empresa, vai sofrer as agruras do efeito tesoura

(FLEURIET, KEHDY E BLANC, 2003).

2.7.5 Efeito tesoura

O efeito tesoura se continuamente observado em uma entidade traz conseqüências

maléficas, uma vez que as mesmas não conseguirão honrar os compromissos

assumidos em conseqüência do aumento de sua atividade operacional.

Segundo Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003, p. 38):

De modo geral o “efeito tesoura” ocorre quando estão presentes as seguintes situações: 1. as vendas da empresa crescem a taxas anuais elevadas. 2 a relação

vendas

NCG∆ mantém-se, substancialmente mais elevada do que a

relação vendas

iamntoautofinanc durante o período de crescimento das vendas.

Considera-se que ambas sejam positivas. 3. durante o período de crescimento das vendas, as fontes externas que aumentam o capital de giro são utilizadas somente para novos investimentos em bens do ativo permanente que, por sua vez, diminuem o capital de giro.

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$1.000.000

5-

4 -

3 -

2 -

1 -

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Anos

Investimentos Investimentos

Figura 9 - “efeito tesoura” Fonte: Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003).

Segundo Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003, p. 44):

Para determinar se sua empresa corre o risco de entrar no “efeito tesoura” é preciso conhecer: � Seu ciclo financeiro. � Sua taxa de autofinanciamento corrente em porcentagem do

faturamento.

Para evitar o efeito tesoura as empresas devem avaliar a tendência das suas vendas

e de outras decisões estratégicas que impliquem em aumento do saldo negativo de

tesouraria. Por conseguinte todas as decisões que envolvam a evolução da

necessidade de capital de giro devem ser acompanhadas de fontes compatíveis

para seu financiamento.

NCG

Vendas

CDG

.T

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58

2.7.6 Dimensionamento da necessidade de capital de giro

O modelo Fleuriet permite que através dos índices de prazo médio se obtenha a

necessidade de capital de giro, e, demonstrando que esta é proporcional às vendas

da empresa, desde que os prazos médios se mantenham constantes.

NCG = ativo cíclico – passivo cíclico (1)

Admitindo que as únicas contas que compõe o ativo cíclico sejam estoques e contas

a receber, e que o passivo cíclico seja constituído somente por contas a pagar, a

igualdade (1) pode ser escrita da seguinte maneira:

NCG = estoques + contas a receber – contas a pagar (2)

Dividindo-se ambos os membros da igualdade (2) pelas vendas, obtém-se:

vendas

pagaracontas

vendas

receberacontas

vendas

estoques

vendas

NCG −+= (3)

Finalmente multiplicando-se todos os membros da igualdade (3) por 365, tem-se:

365365365365 ×−×+×=×vendas

pagaracontas

vendas

receberacontas

vendas

estoques

vendas

NCG (4)

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59

Os quocientes da igualdade (4) podem ser desdobrados do seguinte modo:

vendas

compras

compras

pagaracontasvendas

receberacontas

vendas

CPV

CPV

estoques

vendas

NCG

××−

−×+××=×

365

365365365

(5)

Os cinco quocientes que compõem o lado direito da igualdade (5) podem ser

interpretados do seguinte modo:

1 - O quociente vendas

pagaracontas 365× representa o prazo médio de

pagamento das contas a pagar. Esse quociente relaciona-se diretamente com as

vendas da empresa.

2 – O quociente CPV

Estoques 365× representa o prazo médio de rotação dos estoques

da empresa. Este quociente relaciona-se diretamente com as vendas, se as vendas

e, conseqüentemente, as compras aumentarem, os estoques e os custos dos

produtos vendidos também aumentarão, aproximadamente na mesma proporção.

A conclusão é igualmente válida quando se consideram as três contas usuais de

estoques; matérias primas; produção em andamento e produtos acabados.

3 – O quociente vendas

receberacontas 365× representa o prazo médio de recebimento

as vendas. Este quociente relaciona-se diretamente com as vendas.

4 – Os quocientes vendas

CPV e

vendas

compras permitem exprimir o valor dos estoques e

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60

contas a pagar em dias de vendas. Na prática, estes quocientes da rentabilidade

apresentam-se relativamente estáveis ao longo do tempo e dependem basicamente

da natureza do processo de produção da empresa e de seus custos.

conclui-se portanto, que a necessidade de capital de giro depende do ciclo financeiro

e do nível de atividades da empresa. O ciclo financeiro e as vendas determinam, em

última análise, os prazos de rotação e valores das contas dos ativos e passivos

cíclicos da empresa (FLEURIET, KEHDY E BLANC, 2003).

2.7.7 Cálculo da necessidade de capital de giro média

Após a definição dos prazos médios propostos pelo modelo Fleuriet, das contas do

ativo cíclico e do passivo cíclico é possível se determinar a relaçãovendas

NCG média de

uma empresa conforme Quadro 3.

Ativo Cíclico Prazos médios

(em dias)

Estoque de matérias primas 36

Estoque de produção em andamento 10

Estoque de produtos acabados 10

Contas a receber 90

Passivo Cíclico

Fornecedores 90

Impostos a pagar 60

QUADRO 3 – PRAZOS MÉDIOS Fonte: Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003).

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61

Quocientes:

60,0=vendas

compras, 15,0=

vendas

impostos

66,0=vendas

primasmateriasdascusto

70,0=+vendas

custosoutrosprimamateriadacusto

80,0=vendas

produçãodecusto

Os quocientes acima multiplicados pelos respectivos prazos médios permitem

exprimir aproximadamente os valores das contas do ativo e passivo cíclicos em dias

de vendas conforme exposto no quadro 4.

Ativo Cíclico Dias de Vendas

Estoque de matérias primas 36 x 0,66 = 24

Estoque de produção em andamento 10 x 0,70 = 7

Estoque de produtos acabados 10 x 0,80 = 8

Contas a receber 90 = 90

Passivo Cíclico

Fornecedores 90 x 0,60 = 54

Impostos a pagar 60 x 0,15 = 9

QUADRO 4 – VALOR DAS CONTAS DO BALANÇO EM DIAS DE VENDAS Fonte: Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003).

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62

Portanto,

diasNCG 66)954(908724365 =+−+++=×

Admitindo se que o valor médio das vendas seja igual a 2.500 por dia, temos:

2500

NCG = 66 ou

Média

NCG = 165.000

2.8 FLUXOS DE CAIXA

Analisar a capacidade das empresas gerarem fluxos de caixa é de fundamental

importância para que se possa avaliar a capacidade que estas terão para honrar

seus compromissos. A correlação fluxo de caixa, projeção de crescimento das

vendas, alavancagem do crescimento devem ser analisadas em conjunto, quando se

traçam os planos do futuro das organizações. Martins e Assaf Neto (1985, p. 417)

destacam que:

O conceito de fluxo de caixa, conforme é conhecido, não coincide normalmente com o resultado contábil da empresa. Enquanto o fluxo de caixa é mensurado de acordo com as efetivas movimentações de todas as entradas e saídas de fundos da empresa, o lucro contábil é medido pelo regime de competência e não incorpora, em seu cômputo, determinados dispêndios não desembolsáveis (depreciação, por exemplo) e algumas saídas que não se constituem rigorosamente em despesas (amortização de dívidas, por exemplo).

A necessidade de disponibilidade líquida em caixa ocorre tanto em função de

transações comerciais que exigem troco, como para atender ocorrências de

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pagamentos emergenciais. Esses recursos devem seguir uma orientação de caixa

mínimo, segundo as peculiaridades de cada empresa.

Essa necessidade deve ser adequadamente estudada uma vez que os valores

podem ser corroídos por efeitos inflacionários, e a empresa pode deixar de obter

ganhos com a aplicação de recursos excedentes, entretanto se a empresa sub-

dimensionar o seu caixa mínimo terá problemas em saldar seus compromissos que

necessitem de disponibilidade líquida.

A demonstração dos fluxos de caixa - DFC, cujo objetivo primário, é prover

informações relevantes sobre os pagamentos e recebimentos, em dinheiro, de uma

empresa, ocorridos num determinado período, ainda não é apresentada entre as

demonstrações contábeis obrigatórias no Brasil. Espera-se, entretanto, que na

próxima reformulação da legislação, acompanhando a tendência internacional que a

DFC venha a se tornar obrigatória também no Brasil (FIPECAFI, 2000).

As principais informações contidas na DFC, principalmente quando analisadas em

conjunto com outras demonstrações contábeis, são (FIPECAFI, 2000):

� A capacidade de a empresa gerar futuros fluxos líquidos positivos de caixa;

� A capacidade de a empresa honrar seus compromissos, pagar dividendos e

retornar empréstimos obtidos;

� A liquidez, solvência, e flexibilidade financeira da empresa;

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� A taxa de conversão de lucro em caixa;

� A performance operacional de diferentes empresas, por eliminar os efeitos de

distintos tratamentos contábeis para as mesmas transações e eventos;

� O grau de precisão das estimativas passadas de fluxos futuros de caixa;

� Os efeitos, sobre a posição financeira da empresa, das transações de

investimentos e de financiamentos.

O modelo de DFC adotado para o cumprimento de sua finalidade, deve atender os

seguintes requisitos (FIPECAFI, 2000):

� Evidenciar o efeito periódico das transações de caixa, segregadas por atividades

operacionais, atividades de investimentos, e atividades de financiamentos, nesta

ordem;

� Evidenciar separadamente em notas explicativas que façam referência à DFC, as

transações de investimentos e financiamentos que afetam a posição patrimonial

da empresa, mas não impactam diretamente os fluxos de caixa do periódico;

� Reconciliar o resultado líquido (Lucro/prejuízo) com o caixa líquido gerado ou

consumido nas atividades operacionais.

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As disponibilidades compreendem o caixa puro (dinheiro à mão ou em conta

corrente em banco) e as aplicações em equivalente-caixa.

O conceito de caixa deve contemplar também os investimentos qualificados como

equivalentes-caixa.

Equivalente-caixa segundo o IASC (apud FIPECAFI, 2000, p. 352) “são

investimentos de altíssima liquidez, prontamente conversíveis em uma quantia

conhecida de dinheiro e que apresentam risco insignificante de alteração de valor”.

São exemplos de equivalente-caixa aplicações em caderneta de poupança,

CDB/RDB pr fixados, títulos públicos de alta liquidez.

Dois aspectos devem ser considerados na definição de equivalente caixa, ainda de

acordo com manual de contabilidade das sociedades por ações (FIPECAFI, 2000):

� Não devem ter caráter especulativo com o intuito de obtenção de lucros

anormais, mas apenas assegurar as sobras temporárias a remuneração

correspondente ao preço do dinheiro no mercado;

� O segundo se refere ao prazo, pois deve se observar que apenas aqueles

investimentos que tiverem seu prazo de resgate de até três meses em relação a

sua aquisição devem ser considerados equivalentes-caixa.

O formato adotado pela DFC deve levar em consideração as movimentações de

caixa por atividades: atividades operacionais, atividades de investimentos, e

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atividades de financiamentos. Nessa classificação um aspecto relevante diz respeito

a intenção subjacente do gestor quanto a destinação do bem adquirido.

Atividades operacionais: envolvem todas as atividades relacionadas com a produção

e venda de produtos e serviços e todas outras não incluídas nas atividades de

investimentos e financiamentos, normalmente, relacionam-se com as transações que

aparecem nas demonstrações de resultados.

Atividades de Investimentos: relacionam-se com o aumento e diminuição dos ativos

de longo prazo que a entidade utiliza para produzir bens e serviços, além dos

recebimentos e concessões de empréstimos, aquisição e venda de instrumentos

financeiros e patrimoniais de outras entidades.

Atividades de Financiamento: relacionam se com os empréstimos de credores e

investidores à entidade, onde se incluem a obtenção de recursos dos donos e o

pagamento a estes do retorno sobre seus investimentos ou do próprio reembolso

dos investimentos. Além destes incluem-se também a obtenção de empréstimos

junto a credores e a amortização ou liquidação destes; e também a obtenção e

pagamento de recursos a credores de longo prazo.

As transações sem efeito de caixa que afetam ativos e passivos devem ser

evidenciados em notas explicativas. São exemplos (FIPECAFI, 2000):

� Dívidas convertidas em aumento de capital;

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� Aquisição de imobilizado via assunção de passivo específico (letra hipotecária,

alienação fiduciária e outros);

� Aquisição de imobilizado via contrato de arrendamento mercantil;

� Bem obtido por doação (que não seja dinheiro);

� Troca de ativos e passivos não-caixa por outros ativos e passivos não-caixa.

Algumas das classificações do FASB e IASC (apud FIPECAFI, 2000, p. 354)

relativas a alguns itens ainda geram controvérsia, abaixo descreveremos alguns

deles:

� Juros e dividendos pagos: os juros são classificados pela premissa básica

adotada pelo FASB de manter no grupo das atividades operacionais os

elementos que transitam pela demonstração de resultados. Contudo os

dividendos pagos são classificados como atividades de financiamentos, logo

entendendo que ambos são oriundos de encargos por obtenção de recursos,

faculta o IASC que estes sejam classificados como atividades operacionais ou

de financiamentos.

� Duplicatas descontadas: Em razão do FASB não fazer referência quanto a este

item e o IASC também mencioná-lo de forma indireta há interpretações diferentes

sobre a classificação das movimentações relativas desconto de duplicatas. Estão

envolvidas duas operações de natureza diferente, a venda a prazo e o desconto

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de duplicatas realizado no banco, o primeiro tipicamente uma atividade

operacional e o segundo uma atividade com característica de financiamento. Vale

ressaltar que o parecer do IASC, embora de forma indireta, considera tal

atividade como operacional por ser oriunda de transações que envolvem o

negócio principal da entidade.

� Pagamento de investimento adquirido a prazo: Em razão das saídas de recursos

para obtenção desses investimentos figurarem como atividades de

financiamentos, faz se necessário que estas transações sejam descritas em

notas explicativas.

São dois os métodos de elaboração, direto e indireto. Em ambos busca-se

evidenciar as entradas e saídas de recursos decorrentes das atividades

operacionais, de investimento e de financiamento.

O método direto apura e informa as entradas e saídas de caixa das atividades

operacionais por seus volumes brutos. E de fácil entendimento, pois as

movimentações de dinheiro seguem uma ordem direta, como se faz com a

administração do caixa pessoal.

O modelo direto parte dos componentes da demonstração de resultados e os ajusta

pelas variações nas contas circulantes do balanço vinculado às operações.

O método indireto faz conciliação entre o lucro líquido e o caixa gerado pelas

operações (FIPECAFI, 2000):

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� Ligação entre o lucro líquido e o caixa gerado pelas atividades;

� Permite que o usuário avalie quanto do lucro está-se transformando em caixa em

cada período;

� Continuação seqüência utilizada na DOAR para se obter o CCL;

� Maior facilidade de ser automatizado e informatizado;

� Capacidade de deixar claro que certas variações no caixa se dão por alterações

nos prazos de recebimentos e de pagamentos ou por incrementos de estoques;

2.9 FONTES DE FINANCIAMENTO

As entidades necessitam de recursos para exercerem suas atividades, a obtenção

desses recursos a custos compatíveis com a rentabilidade operacional de cada uma

é fator indispensável para a sobrevivência dessas entidades.

Segundo Braga (1989, p. 311):

O financiamento das atividades empresariais é realizado mediante o emprego de diferentes tipos de fundos obtidos externamente ou gerados no curso normal das operações. Uma classificação mais ampla divide esses fundos em duas categorias: capital próprio e capital de terceiros.

O capital próprio é representado pelas contas que compõe o patrimônio líquido

enquanto o capital de terceiros é representado pelas contas do passivo circulante e

do exigível a longo prazo.

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Em geral a principal fonte externa de recursos próprios está na subscrição e

integralização de capital enquanto os fundos próprios se originam da retenção do

lucro líquido registrado nas contas de reserva de lucro e reserva de lucros

acumulados.

Para financiar as necessidades de capital de giro, a empresa pode contar

normalmente com três tipos de financiamentos (MATARAZZO, 1998):

� Capital circulante próprio;

� Empréstimos e financiamentos bancários de longo prazo;

� Empréstimos bancários de curto prazo e duplicatas descontadas.

A venda de ativos e redução nos níveis de estoques ou de outros ativos quaisquer,

embora, representem disponibilidade de recursos não significam novas fontes de

financiamento, e sim realocação na aplicação dos recursos.

A Figura 10 mostra uma configuração de como pode se dar o financiamento da

necessidade de capital de giro.

menos

mais

mais

Figura 10 – Composição do financiamento da necessidade de capital de giro Fonte: Matarazzo (1998).

NCG

EBCP

CCL

ELP

CCP

RLP + AP

PL

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Simbologia:

NCG - Necessidade de Capital de Giro;

CCL - Capital /Circulante Líquido;

EBCP - Empréstimos Bancários de Curto Prazo;

CCP - Capital Circulante Próprio;

ELP - Exigível de Longo Prazo;

PL - Patrimônio Líquido;

AP - Ativo Permanente;

RLP - Realizável de Longo Prazo.

As fontes internas de recursos de terceiros correspondem a obrigações decorrentes

das atividades operacionais das empresas, enquanto as fontes externas podem ser

geradas tanto com recursos espontâneos como por passivos onerosos.

Para Di Augustini (1999, p.54):

Certamente a fonte de recursos mais saudável de capital de giro para a empresa deve ser oriunda das suas atividades operacionais, principalmente quando o fluxo operacional e financeiro permite formação de capital de giro próprio.

A determinação do melhor conjunto de fundos a serem utilizados no financiamento

das atividades empresariais varia em função das condições econômicas do ramo de

negócio da situação especifica da empresa, etc.

Em geral as empresas devem procurar maximizar a utilização dos financiamentos

provenientes das suas atividades operacionais, em razão dos custos, e minimizar a

dependência de recursos onerosos. Segundo Braga (1989, p. 314):

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Necessidades temporárias de recursos devem ser financiadas com passivos circulantes e necessidades permanentes devem ser atendidas com recursos próprios e dívidas de longo prazo. Utilizar fundos temporários para investimentos permanentes implicará comprometer a liquidez da empresa. Financiar os ativos sazonais com recursos permanentes envolverá a manutenção de recursos ociosos durante certa parte do ano, comprometendo a rentabilidade.

1º ano 2º ano

Figura 11 - Adequação entre usos e fontes de recursos Fonte: Braga (1989).

A natureza das sociedades tem influência sobre a forma com as quais estas

instituições procuram se financiar. Sociedades de capital aberto buscam obter

recursos através da vendas de suas ações e debêntures ofertadas no mercado de

capitais. Via de regra esses recursos tem um custo menor do que os obtidos com

empréstimos de terceiros.

2.9.1 Financiamento com capital próprio

Segundo Braga (1989, p. 322) “o capital próprio constitui a fonte de recursos mais

adequada para investimentos de maior risco ou de maturação prolongada”.

$

Realizável a Longo Prazo

+ Ativo

Permanente

Ativo

Circulante

Fundos Temporários

Fundos Permanentes

Passivo Circulante

Exigível a Longo Prazo

+ Patrimônio

Liquido

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Os lucros retidos (autofinanciamento) constituem uma parcela significativa de

financiamento da necessidade de capital de giro nas pequenas e médias empresas,

uma vez que os seus proprietários decidem em investir na manutenção e

crescimento das mesmas. A integralização de novas ações nas empresas de capital

aberto representam para essas empresas uma importante fonte de obtenção de

recursos próprios observando-se a política de dividendos aprovada pelos acionistas.

Segundo Assaf Neto (2003, p.388):

O custo do capital próprio [...] de uma empresa é definido pelo retorno requerido pelos seus acionistas ao investirem seus recursos no empreendimento. Ao levantar recursos no mercado acionário, ou mesmo, ao reter parte de seus lucros, a empresa deverá aplicá-los em projetos (ativos) rentáveis, de modo que o retorno produzido possa remunerar seus acionistas em nível equivalente a suas expectativas. Dessa forma, a remuneração mínima exigida pelos acionistas constitui, em última análise, o custo do capital próprio da empresa.

A composição das melhores alternativas de financiamentos a serem adotadas por

cada entidade depende de uma avaliação individualizada, efetuada por profissionais

que conheçam bem essa entidade, o mercado em que ela está inserida, seus planos

e projetos, e sobretudo suas metas a curto, médio e longo prazo.

2.9.2 Financiamento com capital de terceiros

Segundo Braga (1989, p. 329) “o capital de terceiros pode ser gerado

espontaneamente no curso normal das atividades operacionais e também ser obtido

mediante a contratação de empréstimos e financiamentos”.

As fontes espontâneas são constituídas por exigibilidades diversas, adiantamentos

de clientes, e obrigações com fornecedores. Tais como: salários e encargos a pagar,

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impostos e contribuições, imposto de renda a pagar, contas a pagar, férias e décimo

terceiro salário a pagar, adiantamentos de clientes, etc.

Figura 12 - Localização da necessidade de capital de giro no balanço Fonte: Matarazzo (1998).

Segundo Braga (1989, p. 329) “embora muitos desses passivos não onerosos sejam

de curtíssimo prazo, sua constante renovação permite à empresa dispor

constantemente de uma soma de recursos que integra seu capital de giro”.

As fontes não espontâneas, constituídas por empréstimos e financiamentos de

diversas modalidades representam ingresso de recursos onerosos. Os mais comuns

são aqueles ofertados pelo Sistema Financeiro Nacional, dentre os quais

destacamos: desconto de títulos; empréstimos em conta corrente; financiamentos de

tributos e contribuições previdenciárias; empréstimos à micro, à pequena e a média

empresa; financiamentos com recursos do PIS, leasing operacional e leasing

financeiro, etc.

Constituem modalidades de assistência financeira a curto prazo, segundo Gitman

(1987), Sanvicente (1997), Martins e Assaf Neto (1985) as seguintes:

Receber

Outros ativos circulantes

Financiamento auto- mático que a empre- sa pode contar.

Este vazio mostra os financiamentos que a empresa precisa obter para financiar a correspondente área do Ativo Circulante é a NCG.

ESTOQUES

FORNECEDORES

DUPLICATAS

A

Valor total do ativo circulante. Represen- ta o investimento total em giro. Para efeito de análise do capital de giro devem ser expurgados eventuais ativos circulantes não operacionais (como empréstimos a contro- ladas e títulos a receber de venda de Ativo Permanente.

OUTROS ATIVOS CIRCULANTES

RECEBER

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� Desconto de duplicatas

Operações com desconto de duplicatas é quando um banco compra a vista

duplicatas a receber das empresas, descontando no ato as despesas bancárias e os

juros a que tem direito pelo período a transcorrer entre a data do desconto e a data

do vencimento das duplicatas.

As condições dessa operação definem a responsabilidade da empresa que efetuou

o desconto pelo pagamento das duplicatas ao banco, caso seu cliente falte ao

pagamento no vencimento.

Duplicatas são títulos exatamente iguais em valor e outras características, às faturas

emitidas pela empresa.

Os juros são pagos antecipadamente no desconto de duplicatas. Há também o

aspecto do desconto por fora (ou desconto bancário ou comercial).

As vantagens desta modalidade para a empresa são:

• Evitar incorrer em despesas de cobrança;

• Obter recursos necessários com relativa rapidez;

• Não há necessidade de demonstrações mais elaboradas de liquidez e da

capacidade de pagamento da empresa;

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• O banco também adota medidas de precaução podendo selecionar os clientes

idôneos e não idôneos (os quais podem ser rejeitados). Uma vez que, a

empresa também assume a responsabilidade pelo pagamento da duplicata,

indiretamente não evita o risco da perda de devedores duvidosos.

� Empréstimos bancários em conta corrente

Empréstimos bancários em conta corrente - Linha de crédito ou adiantamento em

conta corrente ocorre quando um banco comercial se compromete a conceder a uma

empresa um crédito numa conta que pode ser movimentada à vista. Como garantia

da devolução do valor principal na data do vencimento da operação, o banco exige a

entrega, em caução, de títulos, além da taxa de juros e do saldo médio.

� Crédito direto ao consumidor

Crédito direto ao consumidor não é necessariamente uma fonte de recursos para as

empresas, e sim para os compradores finais de seus produtos. Ocorre da seguinte

maneira: O comprador do produto assina junto a uma financeira (por exemplo), um

contrato de financiamento, sendo o valor da compra entregue à empresa vendedora,

com a alienação fiduciária do produto à financeira até o pagamento da última

prestação do financiamento pelo comprador.

� Crédito mercantil

Esta fonte de recursos se destaca das anteriores (apresentadas por modalidades

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institucionais), trata-se de uma fonte espontânea de recursos financeiros. É

representado pela possibilidade que a empresa tem de adquirir o uso de fatores de

produção sem o pagamento instantâneo.

� Operações de fomento comercial - Factoring

No Brasil, o factoring é denominado atividade de fomento comercial. Destina-se a

negociar valores a receber de curto prazo das empresas produtoras. Segundo

Martins e Assaf Neto (1985 p. 406):

O Factoring constitui basicamente uma modalidade de assistência financeira a curto prazo, cujos benefícios concentram-se potencialmente nas micro, pequena e média empresa, notadamente por não apresentarem uma cobertura satisfatória na oferta de recursos de giro pelo mercado.

Ressalta ainda Martins e Assaf Neto (1985, p. 407) que:

A operação de factoring não constitui uma operação de crédito, consiste na transferência plena de valores a receber, inclusive, riscos de pagamentos desses ativos realizáveis para o factor.

Em uma definição simples e direta Segundo Gitman (1987, p. 393) “um factor é uma

instituição financeira que compra duplicatas de empresas”.

Para obter financiamento a curto prazo, o factoring, envolve duplicatas a receber. O

factoring de duplicatas é uma das técnicas mais utilizadas pelas empresas, pois,

envolve a venda direta de duplicatas a um banco comercial, a uma financeira ou um

factor (instituição básica de factoring).

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Os contratos de factoring são bastante semelhantes entre as instituições financeiras.

Envolvem as seguintes operações: processos de seleção, notificação, cláusula de

impossibilidade de recurso, reserva do factor, datas de pagamento, adiantamento de

excedentes e custos de factoring (GITMAN, 1987).

Comissões de factoring, Juros por antecipações e Juros sobre excedentes são os

principais custos que envolvem uma operação de factoring, conforme Gitman (1987)

e Martins e Assaf Neto (1985).

Gitman (1987), apresenta vantagens e desvantagens do factoring para a empresa,

que são:

Vantagens:

• Oportunidade de converter duplicatas em caixa sem preocupação com o

reembolso;

• Assegura um padrão conhecido de fluxos de caixa;

• A eliminação do departamento de crédito e de cobrança da empresa, isto é, se

o factoring for empreendido continuamente.

Desvantagens:

• Sacrifício potencial da liquidez;

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• Implantação de má situação financeira.

As empresas pequenas muitas vezes consideram o factoring bastante viável, pois

em geral não podem incluir em sua folha de pagamento pessoal para os

departamentos de crédito e cobrança.

Segundo Martins e Assaf Neto (1985, p.409) “em suma, são as características da

empresa, das condições de mercado, dos custos e as vantagens envolvidas que irão

determinar o grau de atratividade da operação de factoring”.

Geralmente, as pequenas e médias empresas, costumam considerar o factoring

como uma operação mais atrativa. Segundo Di Augustini (1999, p. 44):

As empresas brasileiras que recorrem a capital de terceiros, ou a fontes de financiamentos precisam analisar cuidadosamente a relação existente entre o custo do capital de giro e a rentabilidade proporcionada em sua operação: atividade operacional.

Figura 13 - Financiamento da necessidade de capital de giro Fonte: Matarazzo (1998).

Fontes de

Financiamento da

Necessidade de

Capital de Giro

Dupl. Descontada. Empr. Bancários

Financiamentos Banc. De L. Prazo

PATRIMÔNIO LIQUIDO ATIVO

PERMANENTE

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Existem outras fontes de recursos de terceiros cuja utilização não está disponível a

todas as modalidades de entidades como a emissão de debêntures, que é uma

operação restrita as empresas de capital aberto.

Nunca é demais ressaltar que devido a conjuntura econômica enfrentada no Brasil,

com a prática de altas taxas de juros, e política de crédito restrita, é necessária uma

análise criteriosa antes de se recorrer a qualquer destas fontes onerosas de

financiamentos.

2.10 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS PROJETADAS

A importância de uma informação gerencial se relaciona, dentre outros requisitos, na

questão temporal de sua disponibilidade aos usuários. Na mensuração do capital de

giro essa questão ganha relevância, por se tratar de recursos financeiros, que serão

ou não utilizados em razão de eventos futuros.

A utilização das demonstrações contábeis projetadas possibilita aos profissionais

contábeis, dentre outras projeções, a mensuração da necessidade de capital de giro

futura de uma entidade.

Para se projetar as demonstrações contábeis é preciso antes de tudo da elaboração

do orçamento empresarial. A elaboração do orçamento empresarial depende de

várias premissas, e em geral, quando realizada envolve os diversos segmentos da

empresa. Segundo Braga (1989, p.231):

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A definição do cenário econômico, político e social esperado para o período futuro deve preceder à elaboração dos orçamentos. Essa decisão envolve previsões sobre o mercado (clientes, concorrentes, fornecedores), que demandam a formulação de hipóteses sobre possíveis alterações nas políticas monetárias, tributária, e em outras diretrizes governamentais. Também devem ser consideradas as expectativas sobre o mercado de mão de obra, movimentos sindicais, convulsões sociais etc. As mudanças no cenário internacional poderão afetar as importações e exportações da empresa, os fluxos de capital estrangeiro para o país e ritmo dos ajustes das taxas cambiais. A essas previsões adicionam-se aquelas relativas ao comportamento da inflação e as variações nos custos dos insumos, impostos, e nos preços de vendas dos produtos. O grau de incerteza dessas previsões é muito grande em economias instáveis como a nossa e aumenta significativamente a dilatação do horizonte de tempo. Apesar disso, deve-se equacionar os dados de maneira mais acurada possível dentro das premissas fixadas. É melhor dispor de um orçamento que necessita reformulações freqüentes do que caminhar completamente as cegas.

As empresas mais bem organizadas, e que se utilizam sistematicamente dos

orçamentos, possuem um comitê de orçamento organizado. Em geral as pequenas e

médias empresas não dispõem dessa estrutura. Esse fator, entretanto, não significa

que estas empresas não ofereçam condições de elaborar orçamentos com a

observância dos requisitos necessários.

Além de fatores externos como os acima descritos, é necessário também que sejam

analisados os diversos fatores internos de cada empresa, pois, a síntese de fatores

externos e internos da entidade se complementam para elaboração de um

orçamento de melhor qualidade.

Após definidos os cenário externo e as condições internas de cada empresa, o seu

orçamento deve permitir (BRAGA, 1989):

� Definir claramente as metas específicas de cada unidade operacional ou órgão

administrativo e os responsáveis pelo seu cumprimento;

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� Equacionar as múltiplas atividades envolvidas em um plano global;

� Conciliar as atividades e as metas de todas as áreas com os objetivos globais da

empresa;

� Controlar desempenhos;

� Fortalecer o hábito de estudar todos os aspectos envolvidos antes de serem

tomadas as decisões,

� Estimular a participação de todos os responsáveis envolvidos no plano;

� Fortalecer os critérios para a alocação de recursos escassos,

� Coordenar e correlacionar os esforços;

� Revelar os pontos de eficiência e de ineficiência, obrigando a avaliar os

resultados reais em face dos orçados;

� Gerar eficácia em cada área e na empresa como um todo.

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A Figura 14 ilustra os passos a serem seguidos na elaboração do orçamento global

de uma entidade.

Figura 14 - Esquema orçamentário global Fonte: Sanvicente (1997).

Plano Anual

Especificando

Objetivo de Resultado

Orçamento de vendas (por

região, produto, serviço, período

ou cliente)

Orçamento de outras receitas (juros, ganhos eventuais etc.)

Menos custos e despesas, detalhadas em:

Orçamento de produção (unidades)

Orçamento de despesas

de venda

Orçamento de despesas

de administração

Orçamento de outras despesas

(juros, perdas eventuais etc.)

Orçamento de compras (materiais)

Orçamento de mão-de- obra direta

Orçamento de custos

indiretos de produção

Projeção da Demonstração de Resultados

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84

2.10.1 Orçamento de vendas

Em geral deve ser o primeiro orçamento a ser realizado. Sua previsão depende de

vários segmentos, envolvendo as áreas de marketing de vendas, dos profissionais

de vendas em geral, levando em conta, dentre outros fatores, a capacidade

produtiva, as perspectivas mercadológicas do setor, e a conjuntura econômica

prevista Hoji (2001, p. 374) destaca que:

A finalidade do orçamento de vendas é determinar a quantidade e o valor total dos produtos a vender, bem como calcular os impostos, a partir de projeções de vendas elaboradas pelas unidades de vendas e/ou executivos e especialistas em marketing”.

A Tabela 21 sintetiza o orçamento de vendas para o ano findo em 31/dezembro/2003

considerando todos os fatores conforme comentados anteriormente necessários

para a elaboração do orçamento de vendas.

TABELA 2 ORÇAMENTO DE VENDAS

Eventos 1º Trimestre

2º Trimestre

3º Trimestre

4º Trimestre

Anual

Vendas ano anterior em

unidades

17.500

20.833

19.167

18.333

75.833

Vendas projetadas 20%

maior que ano anterior

21.000

25.000

23.000

22.000

91.000

Preço venda por unidade 45 45 45 45 45

Receita de Vendas Orçadas 945.000 1.125.000 1.035.000 990.000 4.095.000

Vendas a vista 60% 567.000 675.000 621.000 594.000 2.457.000

Vendas a prazo 40% 378.000 450.000 414.000 396.000 1.638.000

1 Os valores constantes das tabelas 2 a 11 referem-se a um exemplo fictício desenvolvido pelos autores deste trabalho.

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A determinação do montante de vendas projetada para determinado período deve

ser estabelecida segundo os objetivos propostos pela administração da entidade

com metas que reflitam a realidade do mercado.

2.10.2 Orçamento de produção

Após a elaboração do orçamento de vendas elabora-se o orçamento de produção,

ou orçamento das unidades físicas de cada produto. Este deve ser elaborado

levando em consideração o volume de vendas projetado, a política de estocagem,

os insumos necessários, a mão de obra indireta, os custos indiretos de fabricação,

dentre outros.

Para Hoji (2001, p.376) “o orçamento de produção tem como finalidade determinar a

quantidade de produtos que devem ser produzidos em função das vendas

planejadas, considerando-se as políticas de estoques de produtos acabados”.

Devem estar inseridos no orçamento de produção o orçamento de compras, o

orçamento de mão-de-obra direta e o orçamento dos custos indiretos de produção.

A Tabela 3 sintetiza o orçamento de produção tendo como finalidade informar as

unidades a serem produzidas no período em análise, neste caso para o ano findo

em 31/dezembro/2003.

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TABELA 3 ORÇAMENTO DE PRODUÇÃO

Eventos 1º Trimestre

2º Trimestre

3º Trimestre

4º Trimestre

Anual

Vendas em Unidades (1) 21.000 25.000 23.000 22.000 91.000

(+) Estoque final desejado

de produtos acabados (2)

2.500

2.300

2.200

2.400(3)

2.400

Total de unidades

necessárias

23.500

27.300

25.200

24.400

93.400

(-) Estoque inicial produto

acabados

2.100

2.500

2.300

2.200

2.100

Unidades a serem

produzidas

21.400

24.800

22.900

22.200

91.300

1 informações do orçamento de vendas 2 igual a 10% da vendas previstas para o trimestre seguinte 3 com base na estimativa vendas do primeiro trimestre do ano seguinte

A Tabela 4 sintetiza o orçamento compras de material direto para o ano findo em

31/dezembro/2003.

TABELA 4 ORÇAMENTO DE COMPRAS DE MATERIAL DIRETO

Eventos 1º Trimestre

2° Trimestre

3º Trimestre

4º Trimestre

Anual

Unidades a serem produzidas(1) 21.400 24.800 22.900 22.200 91.300

Custo matéria prima p/unidade 6 6 6 6 6

Custo necessário p/ produção 128.400 148.800 137.400 133.200 547.800

(+) Estoque final peças desejado(2) 14.880 13.740 13.320 14.700(3) 14.700

Total de peças necessárias 143.280 162.540 150.720 147.900 562.500

(-) Estoque inicial de peças 12.840 14.880 13.740 13.320 12.840

Custo das compras 130.440 147.660 136.980 134.580 549.660

Pagamento a vista 40% 52.176 59.064 54.792 53.832 219.864

Pagamento a prazo 60% 78.264 88.596 82.188 80.748 131.918

1 informações obtidas do orçamento de produção 2 igual a 10% das peças necessárias para a produção prevista do trimestre seguinte 3 com base em estimativa de peças necessárias para a produção do primeiro trimestre do ano seguinte

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A Tabela 5 sintetiza o orçamento de mão-de-obra direta para o ano findo em

31/dezembro/2003.

TABELA 5

ORÇAMENTO DE MÃO-DE-OBRA DIRETA

Eventos 1º Trimestre

2° Trimestre

3º Trimestre

4º Trimestre

Anual

Horas de mão-de-obra direta 1 1 1 1 1 Taxa por hora de mão-de-obra direta 15 15 15 15 15

Custo de mão-de-obra direta por unidade 15 15 15 15 15

Unidades a serem produzidas(1) 21.400 24.800 22.900 22.200 91.300 Custo da mão-de-obra direta 321.000 372.000 343.500 333.000 1.369.500 Total de horas 21.400 24.800 22.900 22.200 Média de horas por trimestre por funcionário 480 480 480 480

Numero aproximado de funcionários

45 52 48 46

1 informações obtida do orçamento de produção

A Tabela 6 sintetiza o orçamento dos custos indiretos de fabricação (CIF) para o ano

findo em 31/dezembro/2003:

TABELA 6

ORÇAMENTO DOS CUSTOS INDIRETOS DE FABRICAÇÃO

Eventos 1º Trimestre

2º Trimestre

3º Trimestre

4º Trimestre

Anual

Unidades a serem produzidas(1)

21.400

24.800

22.900

22.200

91.300

Custos variáveis: Materiais indiretos 2,00 unid. Mão-de-obra ind. 1,50 unid. Outros custos var. 1.00 unid.

42.800 32.100 21.400

49.600 37.200 24.800

45.800 34.350 22.900

44.400 33.300 22.200

182.600 136.950 91.300

Total dos custos indiretos variáveis 96.300 111.600 103.050 99.900 410.850

Custos fixos: Salário da supervisão Depreciação fábrica e equip.(2)

Outros custos fixos

90.000 20.000 5.000

90.000 20.000 5.000

90.000 26.000 5.000

90.000 28.000 5.000

360.000 94.000 5.000

Total dos custos indiretos fixos 115.000 115.000 121.000 123.000 474.000

Total dos custos indiretos 211.300 226.600 224.050 222.900 884.850

1 informação do orçamento de produção 2 aumento no terceiro e quarto trimestre em função da aquisição de equipamentos

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88

2.10.3 Orçamento de despesas gerais e administrativas

Tem a finalidade de determinar os recursos que serão despendidos com a gestão da

empresa. Envolve o quadro de pessoal, programação de férias, folha de pagamento

e outras despesas com pessoal, comissões sobre vendas, depreciações e todas as

demais despesas operacionais por departamento e por conta.

O orçamento de despesas de vendas visa dimensionar os recursos necessários para

dar suporte as vendas orçadas, em geral varia de acordo com o volume de vendas.

O orçamento de despesas de administração envolve aquelas despesas necessárias

à condução da empresa do ponto de vista administrativo, em geral são despesas

fixas.

O orçamento de outras despesas envolve gastos com juros, perdas eventuais, e

outras despesas esporádicas.

A Tabela 7 sintetiza o orçamento de despesas de vendas e administrativas para o

ano findo em 31/dezembro/2003.

TABELA 7

ORÇAMENTO DE DESPESAS DE VENDAS E ADMINISTRATIVAS

Eventos 1º Trimestre

2° Trimestre

3º Trimestre

4º Trimestre

Anual

Salários 160.000 160.000 160.000 160.000 640.000

Propaganda 70.000 70.000 70.000 70.000 70.000

Depreciação equip. escritório 5.000 5.000 5.000 5.000 20.000

Outros 15.000 15.000 15.000 15.000 60.000

Total despesas 250.000 250.000 250.000 250.000 1.000.000

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2.10.4 Orçamento de caixa ou projeção de caixa

A Tabela 8 sintetiza o orçamento de caixa para o ano findo em 31/dezembro/2003,

considerando todos os orçamentos já elaborados que possibilitam entradas e

demandam desembolsos de numerários para a sua execução, ferramenta relevante

para a tomada de decisões.

TABELA 8 ORÇAMENTO DE CAIXA

Eventos 1º Trimestre

2º Trimestre

3º Trimestre

4º Trimestre

Saldo de caixa inicial desejado

15.000

15.000

15.000

15.000

(+) Recebimento de vendas a vista

567.000

675.000

621.000

594.000

(+) Recebimento de vendas a prazo do trimestre

252.000

300.000

276.000

264.000

(+) Recebimento de vendas a prazo do trimestre anterior

110.000

126.000

150.000

138.000

(=) Total de recebimentos de vendas (+) saldo inicial de caixa

944.000

1.116.000

1.062.000

1.011.000

(-) Pagamento de compras a vista do trimestre

52.176

59.064

54.792

53.832

(-) Pagamento de compras a prazo do trimestre anterior

25.000

26.088

29.532

27.396

(-) Pagamento de compras a prazo do Trimestre

52.176

59.064

54.792

53.832

(=) Total pagamentos de compras do trimestre

(129.352)

(144.216)

(139.116)

(135.060)

(-) Pagamento de despesas diversas (116.000) (126.498) (125.899) (120.949) (-) Pagamento de salários no Trimestre (492.667) (605.000) (603.000) (586.500) (-) Pagamento de propaganda (70.000) (70.000) (70.000) (70.000) (-) Pagamento de impostos (100.000) (60.000) (132.000) (98.000) (=) Saldo final de caixa 50.981 125.286 6.985 15.491 (-) Saldo inicial de caixa desejado 15.000 15.000 15.000 15.000 (=) Excedente de caixa 35.981 110.286 (8.015) 491 Resgate de aplicações - - 8.015 - Saldo de aplicações financeiras 75.981 186.267 178.252 178.743

O orçamento de caixa deverá ser elaborado com prévio conhecimento do saldo de

caixa desejado e a projeção das faltas e sobras de recursos, permitindo que em

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90

tempo hábil sejam tomadas as decisões necessárias para acertar os descompassos

previstos para saída de numerários.

Para um acompanhamento mais preciso do orçamento de caixa é necessário que

essas projeções sejam elaboradas segundo valores a receber e a pagar já

conhecidos e as estimativas das vendas a vista e a prazo. É importante que nas

projeções de curtíssimo prazo contemple valores diários e que esses valores sejam

continuamente revisados.

2.10.5 Demonstração do resultado do exercício projetada

A Tabela 9 sintetiza a demonstração de resultado do exercício projetada do exercício

de 2003.

TABELA 9

DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADO PROJETADA

Eventos 1º Trimestre

2° Trimestre

3º Trimestre

4º Trimestre

Anual

Receita de Vendas 945.000 1.125.000 1.035.000 990.000 4.095.000

Custo dos produtos vendidos 662.740 746.260 704.530 690.480 2.804.010

Lucro bruto 282.260 378.740 330.470 299.520 1.290.990

Despesas Vendas e adm. 250.000 250.000 250.000 250.000 1.000.000

Lucro Antes IR 32.260 128.740 80.470 49.520 290.990

IR projetado 12.341 45.059 28.164 17.332 102.896

Lucro liquido projetado 22.919 83.681 52.305 32.188 191.093

A demonstração do resultado do exercício - DRE é fundamental para que se possa

preparar outras demonstrações e realizar as análises propostas. A preparação da

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91

DRE projetada requer a projeção de diversos itens de receitas e despesas. Para

HOJI (2001, p. 425):

A demonstração de resultado é uma das peças mais importantes do orçamento, pois é nessa demonstração que se reflete o resultado final das operações. As atividades de operações são conduzidas em função da ‘última linha’ da Demonstração do resultado, que indica o lucro líquido (ou prejuízo) do período.

2.10.6 Balanço patrimonial projetado

A elaboração do balanço patrimonial projetado é importante para que se tenha uma

visão da composição patrimonial antes de serem tomadas as decisões de

investimento, podendo calcular índices de análises de liquidez e rentabilidade

previstos para o futuro deixando o gestor informado dos impactos que sua decisão

poderá causar na entidade. A Tabela 10 apresenta o balanço patrimonial do

exercício atual.

TABELA 10 BALANÇO PATRIMONIAL ATUAL

Ativo

Circulante Caixa 15.000 Aplicações financeiras 43.000 Duplicatas a receber 110.000 Estoques 143.314

Permanente Imobilizado 1.200.000 Depreciação acumulada (228.000) Total do ativo 1.298.314

Passivo

Circulante Duplicatas a pagar 25.000 Salários a pagar 112.000 Contas a pagar 50.500 Impostos a pagar 80.800 Exigível a longo prazo Financiamentos 170.000 Patrimônio liquido Capital próprio 800.000 Lucros Acumulados 59.914 Total do passivo 1.298.314

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De posse do balanço patrimonial atual, dos orçamentos elaborados e dos dados da

demonstração de resultado projetada é possível a elaboração do balanço patrimonial

projetado do próximo exercício.

A Tabela 11 sintetiza o balanço patrimonial projetado para o ano 2003.

TABELA 11

BALANÇO PATRIMONIAL PROJETADO

Ativo

Contas 1º Trimestre

2° Trimestre

3º Trimestre

4º Trimestre

Caixa 15.000 15.000 15.000 15.000 Aplicações financeiras 75.981 186.267 178.252 178.743 Duplicatas a receber 126.000 150.000 138.000 132.000 Estoques 167.377 154.340 147.128 169.733

Total do ativo circulante 355.158 407.362 405.561 419.268

Permanente 1.200.000 1.200.000 1.320.000 1.360.000 Depreciação Acumulada 253.000 278.000 309.000 342.000 Total do ativo permanente

947.000

922.000

1.011.000

1.018.000

Total do ativo

1.331.353

1.427.245

1.489.064

1.506.555

Passivo

Contas 1º Trimestre

2° Trimestre

3º Trimestre

4º Trimestre

Duplicatas a pagar 26.088 29.532 27.396 26.916 Salários a pagar 190.333 207.333 197.833 194.333 Contas a pagar 33.766 38.866 36.016 34.966 Impostos a pagar 28333 15.000 39000 29333

Total do passivo circulante 288.520 312.397 292.911 284.548 Financiamentos 170.000 170.000 170.000 170.000

Total exigível a longo prazo

170.000

170.000

170.000

170.000 Capital próprio

800.000

800.000

800.000

800.000

Lucros acumulados 82833 166.514 218.819 251.007 Total patrimônio liquido

882.833

966.514

1.018.819

1.051.007

Total passivo + PL 1.331.353 1.427.245 1.489.064 1.506.555

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93

2.11 AS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS

Na análise do conceito de pequenas e médias empresas, são dois os critérios

principais: o qualitativo e o quantitativo. Enquanto o primeiro se baseia em

características de cunho gerencial, e social, não tão mensuráveis, o segundo se

baseia em informações como número de empregados, volume de imobilização do

ativo, valor do faturamento, receita anual, capital social, entre outros.

Não existe consenso quanto ao conceito de pequenas ou médias empresas, tanto

no Brasil, quanto em outros países, o que se têm é uma série de classificações, em

geral utilizando critérios quantitativos, em razão de uma série de vantagens que

apresentam, tais como: permitem a determinação do porte da empresa, são mais

fáceis de serem coletados, permitem o emprego de medidas no tempo, possibilitam

análises comparativas.

Segundo Menezes (1999, p. 09):

A associação dos critérios quantitativos e qualitativos, combinando fatores econômicos com características políticas e sociais, aliadas a critérios de atribuição de pesos diferentes para cada um deles de acordo com as peculiaridades da atividade exercida e da estrutura econômica da região ou do país, permite uma análise mais precisa e adequada quanto a categorização das empresas.

Na prática tem se observado entre os estudiosos uma grande dificuldade em definir

empresas por categorias de uma maneira generalizada para diferentes regiões,

tendo em vista realidades sociais e econômicas diversas.

Outro dificultador encontrado quando se observa os parâmetros para

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94

enquadramento em micros, pequenas, médias ou grandes empresas está no fato

dos vários órgãos públicos adotarem critérios quantitativos diversos nessa

classificação. Entretanto, observa Pinheiro (apud MENEZES, 1999, p. 8) que:

Os critérios qualitativos, de cunho mais gerencial e social, embora não tão mensuráveis como os quantitativos e de maior complexidade na sua identificação, apresentam uma visão mais real, mais íntima da empresa.

Dentre os critérios quantitativos predomina “número de empregados” e

“movimentação de vendas” e, as vezes, a combinação de ambos. Também se faz

distinção quanto ao ramo de atividade das empresas em algumas classificações.

Assim duas empresas que tenham o mesmo número de empregados, ou

faturamento iguais, mas atuam em ramos diferentes podem ter classificações

diversas.

A classificação quantitativa obedece a critérios distintos, dependendo da fonte

utilizada. Dentre estas destacam-se, o critério de arrecadação de imposto de

circulação de mercadorias e serviços (ICMS) pela fazenda estadual, o padrão

utilizado para preenchimento da relação anual de informações sociais (RAIS) é o

critério de classificação utilizado pelo serviço brasileiro de apoio as micro e pequena

empresa (SEBRAE) que é o número de empregados.

Os dados relativos a RAIS levam em consideração exclusivamente empresas que

possuem inscrições no cadastro especial de (CEI) e cadastro nacional de pessoa

jurídica (CNPJ). Mesmo não levando em conta números da economia informal, trata-

se de um cadastro com elevado nível de confiança, sendo um dos mais importante

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95

quando se trata de estudos de caráter acadêmico ou mercadológico.

Em virtude do grande número de classificações categóricas verificadas, de não

haver consenso quanto ao melhor método para avaliação do porte das empresas,

para o alcance dos objetivos dessa pesquisa, utilizaremos a classificação ilustrada

na Tabela 12, conforme praxe utilizada por instituições governamentais brasileiras.

TABELA 12 CLASSIFICAÇÃO DE EMPRESAS EM RAZÃO DO NÚMERO DE EMPREGADOS

Setor Número de empregados Tamanho Até 19 Micro De 20 a 99 Pequena Indústria De 100 a 499 Média Acima de 100 Grande Até 09 Micro De 10 a 49 Pequena Comércio/Serviços De 50 a 99 Média Acima de 100 Grande Fonte: SEBRAE (2003).

2.11.1 Importância das pequenas e médias empresas .

A importância das pequenas e médias empresas na economia brasileira não pode

ser medida apenas por critérios econômicos, pois os aspectos sociais, culturais

dentre outros também possuem uma relevância no cenário brasileiro as quais não se

pode ignorar. Pinheiro (apud MENEZES, 1999, p. 11) destaca:

Que a importância das micro, pequenas e médias empresas está baseada em premissas: oportunidade de emprego, utilização de trabalho intensivo,

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96

crescimento econômico com base em iniciativas de negócio de pequena escala, formação de uma base econômica para expansão dos negócios, desenvolvimento de estratégias que ajudam a passar as iniciativas econômicas do setor informal para o setor formal, oportunidade de desenvolvimento econômico para as populações locais, além de gerar desenvolvimento de talento e de habilidades empresariais.

Embora não se possa fazer uma análise da importância das pequenas e médias

empresas brasileiras apenas pelos aspectos econômicos, os números da sua

participação na economia nacional são relevantes e expressivos.

Segundo Gimenes (apud MENEZES, 1999, p. 12) “em 1980 somente as micro e

pequenas empresas foram responsáveis por 65,5% dos empregos no país e

geraram 57,6% do seu faturamento global”.

Ressalta-se a constatação de que os investimentos realizados em pequenas e

médias empresas geram mais empregos que aqueles realizados em empresas de

grande porte ao se aplicarem recursos similares.

Gráfico 1 – Porte dos estabelecimentos x pessoal ocupado (2001) em % Fonte: SEBRAE (2003).

Também em número de estabelecimentos e pessoal empregado o desempenho das

2 4 , 5 1 %

9 4 , 3 0 %

2 3 , 0 6 %

4 , 8 0 %1 1 , 3 6 %

0 , 5 3 %

4 1 , 0 7 %

0 , 3 8 %

M i c r o P e q u e n a M é d i a G r a n d e

P e s s o a l N º e m p r e s a s

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97

empresas de pequeno e médio porte são preponderantes para economia capixaba e

nacional, conforme pode ser constatado pelos números fornecidos pelo SEBRAE

(2003), tabela 13 e 14, com base em dados coletados na Relação Anual de

Informações Sociais (RAIS).

TABELA 13

NUMERO DE ESTABELECIMENTOS POR PORTE DAS EMPRESAS

Estabelecimentos (Geral)

Micro Pequena Média Grande Total Unidade

Abs % Abs % Abs % Abs % Abs Brasil 5.267.682 94,49 253.860 4,55 30.010 0,54 23.227 0,42 5.574.879

Sudeste 2.684.900 94,031 141.432 4,953 16.963 0,594 12.033 0,421 2.855.328

ES 102.158 94,30 5.200 4,80 570 0,53 408 0,38 108.336 Fonte: SEBRAE (2003).

TABELA 14 NUMERO DE EMPREGADOS POR PORTE DAS EMPRESAS

Nº de empregos (Geral)

Micro Pequena Média Grande Total Unidade

Abs % Abs % Abs % Abs % Abs Brasil 5.443.872 20,02 5.729.373 21,07 3.276.147 12,05 12.740.222 46,86 27.189.667

Sudeste 2.950.164 20,434 3.190.772 22,100 1.845.544 12,783 6.451.136 44,683 14.437.616

ES 122.803 23,84 120.407 23,37 57.160 11,10 214.783 41,69 515.153

Fonte: SEBRAE (2003).

TABELA 15 PERCENTUAL DE FIRMAS SOBREVIVENTES EM 2000 ENTRE AS NASCIDAS EM 1996

Setores

Indústria Construção Comércio Serviço Porte

(por nº trabalhadores) Nº nasc. Sobrev*.

% Nº nasc. Sobrev. % Nº nasc. Sobrev.

% Nº nasc. Sobrev. %

0 a 4 24.496 48,2 15.057 22,8 108.666 47,9 98.395 53,7 5 a 19 5.935 60,4 3.366 33,4 13.469 60,1 16.321 67,9 20 a 99 1.537 59,6 873 41,8 1.945 59,2 3.630 68,6 100 a 499 392 63,3 127 44,1 163 58,3 549 69,8 500 + 40 75 17 64,7 7 85,7 117 87,2

Total 32.400 51,2 20.440 26,1 124.250 49,4 119.012 56,2 *Sobreviventes Fonte: SEBRAE (2003).

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98

Embora tenham uma representatividade importante em todos os setores da

economia nacional, constituindo se num elemento importante para o

desenvolvimento econômico e social, as pequenas e médias empresas têm uma

taxa de sobrevida baixa quando comparadas com as de maior porte.

Constatada a importância das pequenas e médias empresas no cenário econômico

e social, a sua alta taxa de mortalidade nos primeiros anos de existência pode se

traduzir em um entrave ao desenvolvimento social e econômico. Entende-se que a

superação de boa parte desse problema só será possível quando parte dos

problemas gerenciais presentes nessas entidades forem sanados.

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99

3 ORGANIZAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

3.1 NECESSIDADE DE CAPITAL DE GIRO – CONHECIMENTO DOS CONTABILISTAS

Para a maioria dos profissionais pesquisados o seu domínio sobre o assunto análise

contábil da necessidade de capital de giro, em uma escala de zero a dez, situa-se

entre sete e dez, conforme Gráfico 2.

Esse resultado embora seja positivo, de maneira isolada não é suficiente para

geração da análise da NCG, pois embora os contabilistas demonstrem conhecer o

tema não possuem conhecimento a respeito da realidade interna das empresas as

quais prestam serviço.

0% 0% 0% 2% 2% 2% 0%

21%24%

33%

14%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Domínio sobre o assunto análise contábil da NCG em escala de 0 a 10

Gráfico 2 - Domínio sobre o assunto análise contábil da NCG em escala de 0 a 10

Se por um lado os pesquisados responderam ter um bom conhecimento a respeito

da análise contábil da necessidade de capital de giro, foram bastante enfáticos em

ressaltar que os gestores das pequenas e médias empresas não possuem

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100

conhecimento para aplicar essas informações nas tomadas de decisão.

Sabe-se que a aplicação da contabilidade com finalidades gerenciais, como

pressupõe ser a análise contábil da necessidade de capital de giro, requer um

conhecimento da realidade interna de cada entidade em particular. Embora

demonstrem conhecimento do tema abordado quanto aos aspectos teóricos, tais

profissionais carecem de uma visão mais abrangente das pequenas e médias

empresas as quais prestam serviço.

3.2 O INTERESSE E UTILIDADE DA ANÁLISE CONTÁBIL DA NECESSIDADE DE CAPITAL DE

GIRO POR PARTE DAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS

A visão dos gestores das pequenas e médias empresas quanto ao custo/benefício

dessas informações, segundo os contabilistas pesquisados, é que em sua grande

maioria esses empresários não conseguem vislumbrar os benefícios da análise

contábil da necessidade do capital de giro, nem tampouco estão dispostos a pagar

adequadamente para receberem essas informações. Declaram também que

algumas vezes esses empresários demonstram interesse nessas informações.

Percebe-se que algumas dessas razões podem estar ligadas a aspectos culturais,

aos costumes ou a outros aspectos subjetivos, exigindo outros estudos mais

apropriados para seu esclarecimento.

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101

TABELA 16 VISÃO DOS PEQUENOS E MÉDIOS EMPRESÁRIOS QUANTO A UTILIDADE DA ANÁLISE DA

NGG SEGUNDO OS CONTABILISTAS

Visão dos pequenos e médios empresários quanto a ut ilidade da análise da NCG segundo os contabilistas Sim Não Algumas

vezes

Tem interesse pelas informações acerca da análise da NCG 7% 33% 60% Dispostos a pagar pela elaboração da análise da NCG 14% 86% 0%

De certo modo é esperado que os gestores não estejam dispostos a pagar por algo

que não conhecem, por outro lado grande parte das demonstrações contábeis

disponibilizadas pelos contabilistas talvez não seja de domínio desses empresários,

mas mesmo assim são repassadas a eles, sendo assim, parece oportuno que uma

maior interação por iniciativa dos profissionais contábeis possa contribuir para um

início de mudança de postura por parte dos empresários.

7%14%

33%

86%

60%

0%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

SIM NÃO ALGUMAS VEZES

Tem interesse pelas informações da análise da NCGDispostos a pagar pela elaboração da análise da NCG

Gráfico 3 - Visão dos pequenos e médios empresários quanto a utilidade da análise NCG segundo contabilistas

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102

3.3 A VISÃO DOS CONTABILISTAS ACERCA DA DOCUMENTAÇÃO APRESENTADA PELAS

PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS

De acordo com o Gráfico 4 para a maioria dos contabilistas pesquisados (67%), a

documentação encaminhada pelas pequenas e médias empresas aos seus

escritórios é insuficiente para realizar a análise contábil da necessidade de capital de

giro dessas empresas.

67%

33%

É possivel inferir sobre a real capacidade financeira das em presas

Não é possivel inferir sobre a real capacidade financeira da s empresas

Gráfico 4 – A mensuração da real capacidade financeira das empresas com base na documentação apresentada aos contabilistas

Um dos maiores dificultadores apontados pela pesquisa para análise e

disponibilidade de informações relativas a análise da NCG se refere a qualidade das

informações constante na documentação encaminhada pelas empresas aos

escritórios.

A falta de informações que traduzam a realidade das pequenas e médias empresas

é apontada como a principal barreira para que se faça inferência sobre a realidade

econômico-financeira dessas empresas.

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103

Essa constatação do estudo permite-nos especular que as demonstrações contábeis

oriundas dessa documentação possam também não refletir a real situação dessas

entidades, considerando a influência no resultado de dados imprecisos sobre as

informações nas demonstrações geradas pela contabilidade.

TABELA 17 A IMPORTÂNCIA DA DOCUMENTAÇÃO APRESENTADA PELAS PEQUENAS E MÉDIAS

EMPRESAS PARA MENSURAÇÃO DA NCG

A importância da documentação apresentada pelas peq uenas e médias empresas para mensuração da NCG %

Os dados não refletem a realidade das atividades das entidades ou não são suficientes 64 Dados mais precisos da realidade operacional das empresas 74

Outra constatação importante é que se a análise contábil da necessidade de capital

de giro fosse realizada com os dados atualmente repassados pelas pequenas e

médias empresas, a qualidade das informações disponibilizadas aos usuários seria

para a maioria dos pesquisados regular, conforme Tabela 18 e Gráfico 5.

TABELA 18 IMPLICAÇÕES DA QUALIDADE DA DOCUMENTAÇÃO REPASSADAS PELAS EMPRESAS NA

ANÁLISE DA NCG

Implicações da qualidade da documentação repassadas

pelas empresas na análise da NCG Péssima Regular Boa Ótima

Qualidade das informações geradas pelos contabilistas acerca da NCG com os dados repassados pelas empresas atualmente

14% 48% 33% 5%

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104

14%

48%

33%

5%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

Pessima Regular Boa Ótima

Qualidade das informações geradas pelos contabilist as acerca da NCG com os dadosrepassados pelas empresas atualmente

Gráfico 5 - Implicações da qualidade da documentação na análise da NCG

3.4 DIFICULDADES NA GERAÇÃO E DISPONIBILIDADE DE INFORMAÇÕES DA NECESSIDADE

DE CAPITAL DE GIRO POR PARTE DOS CONTABILISTAS

A falta de uma documentação que retrate fielmente a realidade econômico-financeira

das pequenas e médias empresas, é apontado como fator preponderante para a não

realização da análise contábil da necessidade de capital de giro. Também aqueles

que a realizam apontam o aprimoramento dessas informações como o principal fator

para melhorar a qualidade da análise da NCG.

TABELA 19 RAZÕES APONTADAS COMO JUSTIFICATIVA(S) PARA NÃO REALIZAÇÃO DA ANÁLISE

CONTÁBIL DA NCG

Razões apontadas como justificativa(s) para não rea lização da análise contábil da NCG %

Os dados repassados pelas empresas não retratam a realidade 64 Não é solicitado a prestar tal informação por parte dos gestores 40 Não é remunerado suficientemente para prestar essas informações 33 Os usuários aos quais presta serviço não estão preparados para tomar decisões com base nessas informações

19

Não vê relevância em disponibilizar informações que seus clientes não solicitem 5

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105

Outro fator que se destaca como dificultador para realização da análise da NCG,

está relacionado com o fato dos pequenos e médios empresários não solicitarem tais

informações.

Também é relevante destacar que para grande parte dos pesquisados o fato de não

serem remunerados para prestar tal informação é fator impeditivo para sua análise e

disponibilidade.

3.5 ITENS APONTADOS COMO NECESSÁRIOS PARA REALIZAÇÃO DA MENSURAÇÃO

CONTÁBIL DA NECESSIDADE DE CAPITAL DE GIRO.

Novamente quando solicitados a apontar os principais itens necessários para

realização da NCG, destacaram o repasse de informações mais precisas da

realidade operacional das pequenas e médias empresas.

É importante ressaltar que a melhoria do nível de conhecimento dos gestores das

pequenas e médias empresas também é apontada como fator primordial para

realização da mensuração da NCG.

TABELA 20 ITENS APONTADOS COMO NECESSÁRIOS PARA REALIZAÇÃO DA ANÁLISE CONTÁBIL DA NCG

Itens apontados como necessários para realização da mensuração da análise contábil da NCG %

Dados mais precisos da realidade operacional das empresas 74 Melhoria no nível de conhecimento dos administradores das pequenas e médias empresas, quanto a estas ferramentas

62

Interesse daqueles que utilizam tais informações 50 Maior valorização do trabalho realizado 33 Maior conhecimento da realidade interna de cada entidade 26 Programas que permitam o tratamento eletrônico desses dados 7

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106

Alguns fatores considerados necessários para realização da análise da NCG,

também são aqui elencados como a falta de interesse dos empresários, falta de

valorização do trabalho realizado e maior conhecimento por parte dos contabilistas

acerca da realidade operacional das empresas as quais prestam serviço.

3.6 REALIZAÇÃO DA ANÁLISE CONTÁBIL DA NECESSIDADE DE CAPITAL DE GIRO

A maioria dos pesquisados não realiza nem disponibiliza a análise contábil da

necessidade de capital de giro.

Entende-se que os fatores que levam um número tão expressivo de profissionais a

não disponibilizarem uma informação de relevante importância para administração

dessas entidades não se restringe a uma razão única ou de fácil constatação.

24%

76%

Realizam a análise contábil da NCGNão realizam a análise contábil da NCG

Gráfico 6 - A realização da análise contábil da NCG pelos contabilistas

Vale lembrar que muitas dessas razões têm raízes muito fortes em fatores que em

geral não dependem apenas de atitudes dos contabilistas, pois algumas delas para

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107

serem implementadas dependem do próprio desenvolvimento sócio cultural da

sociedade na qual essas entidades estão inseridas.

Verifica-se também que a maioria dos profissionais sequer comenta com seus

clientes acerca dessa análise, demonstrando um conformismo com a realidade atual

da prestação desse serviço às pequenas e médias empresas.

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108

4 CONCLUSÕES

Em virtude de que para muitas das pequenas e médias empresas o contador é um

dos poucos profissionais capazes de gerar informações com qualidade para a

tomada de decisão e considerando que a administração do capital de giro é

importante para a continuidade de uma entidade, este trabalho se propôs a

esclarecer alguns aspectos relacionados à análise e disponibilidade dessas

informações aos pequenos e médios empresários.

Por meio de pesquisa bibliográfica e estudo exploratório com aplicação de

questionário buscou-se algumas conclusões acerca do tema pesquisado.

Analisando os dados coletados constata-se que a grande maioria dos contabilistas

sediados no município de Vitória não realiza a análise contábil da necessidade de

capital de giro – NCG e que são muitas as razões pelas quais esses profissionais

não realizam essas análises.

A melhoria dos dados repassados pelas empresas pode ser apontada como um dos

principais obstáculos para realização da análise da NCG das pequenas e médias

empresas, uma vez que por mais qualificado que seja o profissional contábil

dispondo da melhor tecnologia disponível, este não poderá interferir diretamente em

todos os procedimentos da rotina das pequenas e médias empresas.

A conscientização dos empresários se torna imprescindível ao se considerar que a

origem dos dados está sob responsabilidade desses gestores, que os repassam aos

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109

contabilistas, os quais, com base nesses dados, geram as informações.

Posteriormente repassam a estes mesmos gestores para que possam finalmente

decidir.

Considerando que a qualidade das informações geradas pela documentação

repassada das pequenas e médias empresas não pode ser muito diferente dos

dados constantes nessa documentação, em termos de qualidade, é oportuno

questionar até que ponto essas informações ajudariam ou dificultariam a tomada de

decisão por parte desses empresários, caso assim o fizessem os contabilistas.

Quanto ao conhecimento do tema, demonstrado por dados da pesquisa respondida

pelos contabilistas, a maioria dos profissionais contábeis entrevistados respondeu ter

um bom domínio do assunto, não caracterizando, segundo estes dados impedimento

à realização da análise da NCG e sua disponibilidade.

Conclui-se também que outro dificultador apontado pelos contabilistas é a falta de

um conhecimento mais aprofundado da realidade interna das empresas as quais

prestam serviço.

Outra razão apontada pelos contabilistas para a não realização da análise contábil

da NCG é o fato de que essa análise não é solicitada por esses empresários, o que

de certo modo reflete o pouco conhecimento dos gestores dessas entidades no que

diz respeito à administração do capital de giro e ao hábito de não utilizarem essas

informações para seus negócios.

Além de não possuírem, segundo os contabilistas, conhecimento sobre o tema, os

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110

gestores destas entidades não tem interesse em sua utilização e não estão

dispostos a remunera-los suficientemente para que estas informações sejam

disponibilizadas.

Isso denota que os empresários não conseguem vislumbrar o custo/benefício que

essas informações trariam à gestão de seus negócios.

A maioria dos pesquisados respondeu que os gestores das entidades não estão

preparados para tomar decisões a partir de informações dessa natureza. Entende-se

que a melhoria no nível de conhecimento dos pequenos e médios empresários é de

fundamental importância para uma mudança de postura de ambas as partes no que

se refere a realização de análises contábeis dessa natureza.

O estudo sugere que algumas atitudes por parte dos profissionais como uma maior

interação entre os contabilistas e os gestores das entidades, visando diminuir a

deficiência dos profissionais da área contábil quanto a aspectos da realidade interna

das entidades, as quais prestam serviço, se apresentam como um bom começo para

um relacionamento mais proveitoso e a busca de melhoria do contexto atual.

Sabe-se também que a transformação da mentalidade da classe empresarial quanto

à utilidade das informações contábeis na tomada de decisão não irá ocorrer apenas

com a mudança de postura dos contabilistas, pois outros aspectos, como nível

cultural, costumes, modelo de gestão, dentre outros também contribuem para a

realidade atual.

Todavia, a postura de passividade dos profissionais, observada quando

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111

questionados sobre a apresentação de análises como esta aos gestores das

entidades, demonstra que tais profissionais fornecem as informações que

demandam os empresários, contudo, sequer comentam com seus clientes que a

contabilidade pode fornecer outras informações, tais como a análise da NCG.

Não são poucas, nem simples. Não é o objetivo desse estudo esgotar o assunto a

respeito das razões que levam a maioria dos profissionais a não realizarem a análise

da NCG.

A leitura proporcionada pelas respostas dos profissionais contábeis permite, dentro

dos objetivos propostos por esse estudo, visualizar que a maioria dos profissionais

não realiza a análise da NCG. Aqueles que a realizam a usam dados imprecisos da

realidade interna das entidades, uma vez que o estudo aponta que os dados

constantes na documentação repassada pelas empresas não refletem a realidade

interna dessas entidades.

Nota-se talvez que este seja o mais complexo dos problemas apresentados, já que

sua resolução passa por uma mudança em parte da estrutura de geração de

informações da entidade geradora. Há sem dúvida a necessidade de uma

reformulação expressiva nos mecanismos internos de controle e da política de

gestão destas empresas.

A imprecisão dos dados repassados pelas entidades aos contabilistas, a falta de

interesse dos gestores por essas informações, o baixo conhecimento dos gestores

dessas entidades, a pouca valorização pela realização desse tipo de análise, aliada

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112

ao desconhecimento dos profissionais acerca da realidade interna dessas entidades,

podem ser apontados como os principais fatores que inviabilizam a realização da

análise da NCG por parte dos contabilistas do município de Vitória.

O estudo também permite concluir que a aplicação da análise contábil da NCG pelos

contabilistas demorará algum tempo e necessitará de mudanças tanto estruturais

quanto culturais, que resultem num modelo de prestação de serviço contábil capaz

de fornecer aos gestores das pequenas e médias empresas informações úteis ao

processo de tomada de decisão, melhorando a qualidade dessas decisões e

contribuindo para a continuidade de mais empresas. Conseqüentemente acarretará

o desenvolvimento e bem-estar da sociedade.

Ressalta-se que os resultados e conclusões expostos referem-se à amostra

pesquisada, não podendo assim ser generalizada.

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113

REFERENCIAS

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Atlas. 1993.

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2º ed. São Paulo: Atlas, 1983.

3 ______. Finanças corporativas e valor . São Paulo: Atlas, 2003.

4 ASSAF NETO, A.; SILVA, C. A. T. Administração de capital de giro . São Paulo:

Atlas, 1995.

5 BRAGA, Roberto. Fundamentos e técnicas da administração financeira . São

Paulo: Atlas, 1989.

6 BRIGHAM, Eugene F., GABESNKI, Louis C., EHRHARDT, Michael C.

Administração financeira: teoria e prática. São Paulo: Atlas, 2001.

7 DI AGUSTINI, Carlos Alberto, Capital de giro: Análise das alternativas de fontes

de financiamento. 2º ed. São Paulo: Atlas, 1999.

8 FIPECAFI – Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras.

Manual de contabilidade das sociedades por ações . IUDÍCIBUS, S.;

MARTINS, E.; GELBCKE, E. R. (FIPECAFI). 5º ed. São Paulo: Atlas, 2000.

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9 FLEURIET, M.; KEHDY, R.; BLANC, G. O modelo fleuriet : a dinâmica financeira

das empresas Brasileiras: um novo método de análise, orçamento e

planejamento financeiro. Rio de Janeiro: Campus, 2003.

10 GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa . 3. ed. São Paulo:

Atlas, 1991.

11 GITMAN, Laurence J. Princípios da administração financeira . 3. ed. São

Paulo: Harbra, 1987.

12 HOJI, Masakazu. Administração financeira : uma abordagem prática:

matemática financeira aplicada, estratégias financeiras, análise, planejamento e

controle financeiro. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2001.

13 IUDÍCIBUS, Sérgio de. Teoria da contabilidade . 6. ed. São Paulo: Atlas, 2000.

14 MARION, José Carlos. Contabilidade empresarial . 8. ed. São Paulo: Atlas,

1998.

15 MARTINS, Eliseu, ASSAF NETO, Alexandre. Administração financeira : As

Finanças das Empresas sob Condições Inflacionárias. São Paulo: Atlas, 1985.

16 MATARAZZO, Dante Carmine. Análise financeira de balanços . 5. ed. São

Paulo: Atlas, 1998.

Page 116: A ORIENTAÇÃO DOS CONTABILISTAS ÀS PEQUENAS E … · 3 RESUMO Sabe-se que é função da contabilidade gerar informações úteis ao processo de tomada de decisão. Este trabalho

115

17 MENEZES, Edgard José Carbonell, Avaliação da utilização e importância de

Instrumentos de diagnósticos e prognósticos em pequ enas empresas . São

Paulo 1999. Tese (Doutorado). Departamento de Administração da Faculdade de

Economia, Administração, e Contabilidade da Universidade de São Paulo.

18 SILVA, Jose Pereira da. Análise financeira das empresas . 3. ed. São Paulo:

Atlas, 1995.

19 SANVICENTE, Antonio Zoratto. Administração financeira . 3. ed. São Paulo:

Atlas, 1997.

20 SEBRAE/ES (SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO A MICRO E PEQUENAS

EMPRESAS DO ESPÍRITO SANTO). As micro e pequenas empresas no

Espírito Santo : Vitória, 2003.

21 UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO. Biblioteca Central. Guia

para normalização de referências : NBR 6023:2002. 2. ed. Vitória, 2002.

22 UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO. Biblioteca Central.

Normalização e apresentação de trabalhos científico s e acadêmicos : Guia

para alunos, professores e pesquisadores da ufes. 6. ed. Vitória, 2002.

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116

APÊNDICE : Questionário aplicado na pesquisa.

Sabe-se que as informações emanadas da contabilidade são de fundamental

importância para a tomada de decisão nas entidades. Sabe-se também que a gestão

do capital de giro é fator de suma importância para que as empresas possam manter

sua solvência e ao mesmo tempo manter índices de lucratividade satisfatórios.

Dentre as informações que a contabilidade pode disponibilizar está a análise contábil

da necessidade de capital de giro, ou capital em giro, que proporciona aos gestores

das entidades as informações relevantes quanto aos valores do capital de giro que a

entidade gera em decorrência de suas atividades normais e daqueles que a

empresa precisa buscar junto a terceiros para suprir suas necessidades de capital

de giro.

Dada a relevância do conhecimento desse item na administração das empresas,

sobretudo das pequenas e médias, essa pesquisa visa esclarecer como os

prestadores do serviço contábil do município de Vitória abordam esse tema, para

tanto seguem abaixo algumas questões as quais solicitamos a gentileza de nos

responder.

QUESTÃO 1 - Nos contatos realizados com seus clientes, usuários das informações

contábeis, já foi mencionado a eles que a contabilidade pode disponibilizar

informações acerca da necessidade de capital de giro?

( ) Sim ( ) Não ( ) Algumas vezes

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117

QUESTÃO 2 – Na sua visão é possível a partir da documentação apresentada pelos

empresários (clientes) inferir sobre a real capacidade financeira das pequenas e

médias empresas?

( ) Sim ( ) Não

QUESTÃO 3 - Os programas (sistemas) utilizados no tratamento das informações

contábeis, permitem que a análise de tais informações seja feita de forma

eletrônica?

( ) Sim ( ) Não

QUESTÃO 4 - Na sua opinião os pequenos e médios empresários tem interesse nas

informações que a contabilidade pode fornecer sobre a real capacidade financeira

da sua empresa?

( ) Sim ( ) Não ( ) As vezes

QUESTÃO 5 - Se fosse elaborada a análise contábil da necessidade de capital de

giro, com os dados emanados das entidades as quais presta serviço atualmente,

como seria a qualidade dessas informações?

( ) péssima ( ) regular ( ) boa ( ) ótima.

QUESTÃO 6 - Na sua opinião os pequenos e médios empresários conseguem

vislumbrar o custo x beneficio e estariam dispostos a pagar por informações mais

detalhadas sobre o seu patrimônio?

( ) Sim ( ) Não

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QUESTÃO 7 - O Sr. faz a análise contábil da necessidade de capital de giro e

disponibiliza essas informações às pequenas e médias empresas as quais presta

serviço?

( ) Sim ( ) Não

QUESTÃO 8 - Se negativo, aponte uma (s) das razões a seguir como a (s) que não

justifica (m) a utilização desta análise e disponibilidade de tais informações:

( ) Não é solicitado por parte dos gestores das empresas (clientes).

( ) Não vê relevância em disponibilizar informações contábeis, que seus

usuários não lhe solicitem.

( ) Entende que os usuários aos quais disponibiliza essas informações não

estariam preparados para tomar decisões com base nelas.

( ) Não é remunerado suficientemente para prestar informações gerenciais.

( ) Entende que a análise contábil da necessidade de capital de giro não é

um instrumento importante para o gestor das entidades, as quais presta serviço

contábil.

( ) Os dados repassados pelas entidades não retratam a realidade de suas

atividades, ou não são suficientes para realizar a análise contábil da

necessidade de capital de giro.

QUESTÃO 9 - Para que seja possível efetuar a mensuração da necessidade de

capital de giro, e disponibilizar tais informações às pequenas e médias empresas as

quais presta serviço, o que seria necessário?

( ) Dados mais precisos da realidade operacional destas empresas.

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( ) Programas que permitam o tratamento eletrônico desses dados, gerando tais

informações.

( ) Interesse daqueles que utilizam tais informações.

( ) Maior conhecimento da realidade interna de cada entidade.

( ) Maior valorização do trabalho realizado.

( ) Melhoria no nível de conhecimento dos administradores das pequenas e médias

empresas, quanto a estas ferramentas.

QUESTÃO 10 – Em uma escala de 0 a 10, marque aquela que represente o seu

domínio sobre o assunto "análise contábil da necessidade de capital de giro".

( ) 0 ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( ) 5 ( ) 6 ( ) 7 ( ) 8 ( ) 9 ( ) 10