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UNIVERSID ADE CÂNDIDO MENDES A ORGANIZAÇÃO ESCOLAR NO BRASIL: DA COLÔNIA A REPÚBLICA ANNECELI ALVES DE SOUZA PROFESSORA ORIENTADORA:ANA CRISTINA GUIMARÃES RIO DE JANEIRO 2006

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Page 1: A ORGANIZAÇÃO ESCOLAR NO BRASIL: DA COLÔNIA A … ALVES DE SOUZA.pdf · II-EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL Nesta primeira parte deste desenvolvimento será abordado

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

A ORGANIZAÇÃO ESCOLAR NO BRASIL:

DA COLÔNIA A REPÚBLICA

ANNECELI ALVES DE SOUZA

PROFESSORA ORIENTADORA: ANA CRISTINA GUIMARÃES

RIO DE JANEIRO

2006

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PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

A ORGANIZAÇÃO ESCOLAR NO BRASIL:

DA COLÔNIA A REPÚBLICA

OBJETIVOS:

TRABALHO APRESENTADO À UCAM, COMO REQUISITO

FINAL PARA A CONCLUSÃO DO CURSO DE DOCÊNCIA DO

ENSINO SUPERIOR BASEADO NO PROJETO “A VEZ DO

MESTRE”.

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AGRADECIMENTO

À PROFESSORA ANA CRISTINA GUIMARÃES PELO CARINHO E

DEDICAÇÃO.

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DEDICATÓRIA

À MEU PAI ALLAN PELO ESTÍMULO, À MINHA MÃE YOLANDA PELO

ENTUSIASMO E CONFIANÇA.

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SUMÁRIO

I. INTRODUÇÃO..............................................................................06

II. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL.............08

2.1. A EDUCAÇÃO NO BRASIL COLONIAL.............................................08

2.2.A EDUCAÇÃO NO BRASIL IMPERIAL...............................................10

2.3.A EDUCAÇÃO NO BRASIL REPUBLICANO......................................11

2.3.1. PRIMEIRA REPÚBLICA..................................................11

2.3.2. NOVA REPÚBLICA.........................................................12

2.3.3. ÉPOCA PÓS-1964..........................................................13

2.3.4. A LEI DE DIRETRIZES E BASES N. º 9394/96..............14

2.3.5. ENSINO SUPERIOR.......................................................14

III. CONCLUSÃO.............................................................................18

IV. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................19

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I-INTRODUÇÃO

A história da educação brasileira não é uma história difícil de ser

entendida e compreendida, ela evolui em rupturas marcantes e fáceis de serem

observadas. Com relação a esta, não se pode deixar de reconhecer que os

portugueses trouxeram um padrão de educação próprio da Europa, o que não

quer dizer que as populações que por aqui viviam já não possuíam

características próprias de se fazer educação. E convém ressaltar que a

educação que se praticava entre as populações indígenas não tinha as marcas

repressivas do modelo educacional europeu, implantado com a vinda dos

jesuítas para o Brasil.

Justifica-se a escolha do tema “Educação no Brasil”, como cerne

desta pesquisa, diante da importância de se poder compreender a dualidade

que gerou problemas sociais, no sistema educacional brasileiro, e que ainda

permanece no contexto atual, ainda não solucionados. O tema cuida da

retrospectiva de educação, com hipóteses relevantes.

No capítulo 1, o Brasil colonial incorporou idéias educacionais

externas, que tinham por objetivo atender às exigências e necessidades

econômicas da metrópole, ou seja, de Portugal. Por intermédio do jesuitismo

buscava-se formar a elite da colônia e, via catequese, a conversão dos índios à

fé católica e à submissão incondicional ao trabalho escravo. Aos filhos dos

colonos era reservada uma educação humanista centradas nos valores

espirituais e morais da civilização ocidental cristã. Em termos da educação

profissional, verifica-se que ela ocorria, assistematicamente, no próprio

ambiente de trabalho, tendo clientela os índios, negros e mestiços.

Mais tarde, sem a interferência direta dos jesuítas, o sentido da

escolarização no Brasil colônia deslocou-se para a formação da classe

burguesa, objetivando a continuidade dos estudos, em nível superior, na

metrópole. Não se tratava mais de se formar o homem para a vida religiosa e

sim para o Estado.

No capítulo 2, na era imperial, é incentivada a criação de cursos

superiores no Brasil, de modo que viessem a atender às necessidades sociais

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7da nação que caminhava para autonomia política em relação a Portugal. A

instrução elementar e secundária, entretanto, continuava sendo considerada

sem maior importância para a nação.

Viu-se que seja no período colonial, seja na era do império,

percebe-se que a lógica do sistema permanece a mesma: o acesso a

escolarização continuou a ser feito de acordo com a origem de classe -

educação até o nível universitário para a burguesia ascendente e trabalho para

o resto da população.

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8II-EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL

Nesta primeira parte deste desenvolvimento será abordado o

Brasil Colonial, como foi descrito durante muito tempo pela historiografia,

estudado como uma economia baseada no latifúndio, monocultura e

escravidão, onde a educação era monopólio dos jesuítas; na segunda parte

ver-se-á a tentativa de modernização da educação no império e por fim

estudaremos as alternativas atuais de democratização da educação.

Somente compreendendo o contexto histórico de cada fase de um

país é que se pode também compreender o processo educacional desse povo.

Tudo está interligado. Tudo faz parte de um processo político, social e cultural

que se forma de geração em geração.

2.1. A EDUCAÇÃO NO BRASIL COLONIAL

Ao se estudar a historiografia da Educação no Brasil, pode-se

notar que diversos autores, dentre eles, Padilha (2001)1 apontam para a

dualidade imposta pelos jesuítas que foram, por mais de duzentos anos, os

detentores do sistema educacional na então colônia portuguesa.

Quando os jesuítas chegaram por aqui eles não trouxeram

somente a moral, os costumes e a religiosidade européia; trouxeram também

os métodos pedagógicos. Este método funcionou absoluto durante 210 anos,

de 1549 a 1759, quando uma nova ruptura marca a História da Educação no

Brasil: a expulsão dos jesuítas por Marquês de Pombal.

A sociedade brasileira nesse instante é patriarcal, representada

pelo senhor de engenho, detentor da casa grande. Os jesuítas que chegam no

país vão desempenhar duplo papel, servindo de educadores para os nativos e

para os brancos. Nas palavras de Barboza2 (2001):

“O sistema jesuítico, em termos de sistema, tem dois planos. O

primeiro compreende a educação para o índio, com base na catequese. Já o 1 PADILHA, H. O Mundo da Educação. Brasília: MTE, 2001. p.252 BARBOZA, E.M.R. A educação brasileira no período colonial. Tese de Mestrado. Minas Gerais: UFJF, 2001

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9segundo para o branco, que começava a partir de uma educação secundária.

Era um ensino mais evoluído, preparatório”.

No Brasil os jesuítas se dedicaram a pregação da fé católica e ao

trabalho educativo. Perceberam que não seria possível converter os índios à fé

católica sem que soubessem ler e escrever. A intenção de se dar uma

formação católica aos indígenas resultou na criação de várias missões e

aldeias. Os nativos obedeciam a regras totalmente diferentes de seus hábitos

naturais, sendo obrigados a viver de acordo com a cultura européia, o que

incluía a monogamia e o uso de roupas. Para educar os índios, os padres

recorriam ao teatro e à música como recurso didático, abusando de temas

religiosos. Já a educação dos filhos do senhor de engenho visava o ingresso

nas faculdades. As aulas, todas ministradas em latim, incluíam o ensino de

lingüística e gramática. Aqui pode se ver claramente a formação da dualidade

que marcaria o ensino no país, criando distintamente duas classes de

educando: aquele que seria a elite e o outro o que se tornaria apenas o

receptor de idéias pré-concebidas tornando-o apenas um praticante do que era

considerado para a igreja como "uma provação divina" – o trabalho.3

As raças excluídas – mulheres e escravos –, não eram

merecedores de receberem educação formal, sendo que as primeiras (se

pertencentes a famílias burguesas), recebiam apenas boas maneiras e prendas

domésticas e aos escravos nada lhes cabia em termos educativos, já que a

escravidão era tida como a principal relação de trabalho da época.

Com relação a outros setores pode-se afirmar que a economia

brasileira no período colonial era reduzida aos ciclos ditados pela monocultura:

pau-brasil, açúcar, ouro, café. Como explica Oliveira (2001)4,

“Pensava-se numa colônia sem identidade, voltada apenas a

fornecer seus excedentes à metrópole. Hoje o Brasil não pode mais ser visto

assim. As relações econômicas eram muito mais complexas do que se

pensava. Não só a atividade agrária produzia acúmulo de riqueza, mas

também a mercantil”.

3 PADILHA, H. O Mundo da Educação. Brasília: MTE, 2001. p. 254 OLIVEIRA, M.R. A Outra História. Juiz de Fora: UFJF, 2001, p.15

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102.2. A EDUCAÇÃO NO BRASIL IMPERIAL

Na verdade, mesmo após a expulsão dos jesuítas, não se

conseguiu implantar um sistema educacional nas terras brasileiras, mas a

vinda da Família Real permitiu uma nova ruptura com a situação anterior. Para

preparar terreno para sua estada no Brasil, D. João VI abriu Academias

Militares, Escolas de Direito e Medicina, a Biblioteca Real, o Jardim Botânico e,

sua iniciativa mais marcante em termos de mudança, a Imprensa Régia.

Segundo alguns autores5 o Brasil foi finalmente "descoberto" e a nossa História

passou a ter uma complexidade maior.

A educação, no entanto, continuou a ter uma importância

secundária. Basta ver que enquanto nas colônias espanholas já existiam

muitas universidades, a nossa primeira Universidade só surgiu em 1934, em

São Paulo.

Em 1820 o povo português mostra-se descontente com a demora

do retorno da Família Real e inicia a Revolução Constitucionalista, na cidade

do Porto. Isto apressa a volta de D. João VI a Portugal em 18216. Em 1822, a 7

de setembro, seu filho D. Pedro I declara a Independência do Brasil; inspirada

na Constituição francesa, de cunho liberal, em 1824 é outorgada a primeira

Constituição brasileira. O Art. 179 desta Lei Magna dizia que a "instrução

primária e gratuita para todos os cidadãos". 7

Em 1823, na tentativa de se suprir a falta de professores institui-

se o Método Lancaster, ou do "ensino mútuo", onde um aluno treinado

(decurião) ensina um grupo de dez alunos (decúria) sob a rígida vigilância de

um inspetor.

Em 1826 um Decreto institui quatro graus de instrução:

Pedagogias (escolas primárias), Liceus, Ginásios e Academias. E, em 1827 um

projeto de lei propõe a criação de pedagogias em todas as cidades e vilas,

5 LIMA, L.O. A descoberta do Brasil. Petrópolis: Vozes, 1978, p.736 ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da educação no Brasil. 13. ed. Petrópolis: Vozes, 1991. P.10-247 Ibdem, p.25-38

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11além de prever o exame na seleção de professores, para nomeação. Propunha

ainda a abertura de escolas para meninas.

Em 1834 o Ato Adicional à Constituição dispõe que as províncias

passariam a ser responsáveis pela administração do ensino primário e

secundário. Graças a isso, em 1835, surge a primeira escola normal do país

em Niterói. Se houve intenção de bons resultados não foi o que aconteceu, já

que, pelas dimensões do país, a educação brasileira se perdeu mais uma vez,

obtendo resultados ordinários.

Em 1837, onde funcionava o Seminário de São Joaquim, na

cidade do Rio de Janeiro, é criado o Colégio Pedro II, com o objetivo de se

tornar um modelo pedagógico para o curso secundário. Efetivamente o Colégio

Pedro II não conseguiu se organizar até o fim do Império para atingir tal

objetivo.

Até a Proclamação da República, em 1889 praticamente nada se

fez de concreto pela educação brasileira. O Imperador D. Pedro II quando

perguntado que profissão escolheria não fosse Imperador, respondeu que

gostaria de ser "mestre-escola". Apesar de sua afeição pessoal pela tarefa

educativa, pouco foi feito, em sua gestão, para que se criasse, no Brasil, um

sistema educacional.

2.3. A EDUCAÇÃO NO BRASIL REPUBLICANO

2.3.1. PRIMEIRA REPÚBLICA

A República proclamada adota o modelo político americano

baseado no sistema presidencialista. Na organização escolar percebe-se

influência da filosofia positivista.

A reforma de Benjamin Constant tinha como princípios

orientadores a liberdade e laicidade do ensino, como também a gratuidade da

escola primária. Estes princípios seguiam a orientação do que estava

estipulado na Constituição brasileira.

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12Uma das intenções desta reforma era transformar o ensino em

formador de alunos para os cursos superiores e não apenas preparador. Outra

intenção era substituir a predominância literária pela científica.

Esta reforma foi bastante criticada: pelos positivistas, já que não respeitava os

princípios pedagógicos de Comte; pelos que defendiam a predominância

literária, já que o que ocorreu foi o acréscimo de matérias científicas às

tradicionais, tornando o ensino enciclopédico.

2.3.2. NOVA REPÚBLICA

O fim do Estado Novo consubstanciou-se na adoção de uma nova

Constituição de cunho liberal e democrático. Esta nova Constituição, na área

da Educação, determina a obrigatoriedade de se cumprir o ensino primário e dá

competência à União para legislar sobre diretrizes e bases da educação

nacional.

Ainda em 1946 o então Ministro Raul Leitão da Cunha

regulamenta o Ensino Primário e o Ensino Normal, além de criar o Serviço

Nacional de Aprendizagem Comercial - SENAC, atendendo as mudanças

exigidas pela sociedade após a Revolução de 1930.

Baseado nas doutrinas emanadas pela Carta Magna de 1946, o

Ministro Clemente Mariani, cria uma comissão com o objetivo de elaborar um

anteprojeto de reforma geral da educação nacional. Em novembro de 1948

este anteprojeto foi encaminhado a Câmara Federal, dando início a uma luta

ideológica em torno das propostas apresentadas. Num primeiro momento as

discussões estavam voltadas às interpretações contraditórias das propostas

constitucionais. Num momento posterior, após a apresentação de um

substitutivo do Deputado Carlos Lacerda, as discussões mais marcantes

relacionaram-se à questão da responsabilidade do Estado quanto à educação,

inspirados nos educadores da velha geração de 30, e a participação das

instituições privadas de ensino.

Depois de 13 anos de acirradas discussões foi promulgada a Lei

4.024, em 20 de dezembro de 1961, sem a pujança do anteprojeto original,

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13prevalecendo as reivindicações da Igreja Católica e dos donos de

estabelecimentos particulares de ensino no confronto com os que defendiam o

monopólio estatal para a oferta da educação aos brasileiros.

Se as discussões sobre a Lei de Diretrizes e Bases para a

Educação Nacional foi o fato marcante, por outro lado muitas iniciativas

marcaram este período como, talvez, o mais fértil da História da Educação no

Brasil. Neste período atuaram educadores que deixaram seus nomes na

história da educação por suas realizações, educadores do porte de Anísio

Teixeira, Fernando de Azevedo, Lourenço Filho, Carneiro Leão, Armando

Hildebrand, Pachoal Leme, Paulo Freire, Lauro de Oliveira Lima, Durmeval

Trigueiro, entre outros.

2.3.3. ÉPOCA PÓS-1964

Depois do golpe militar de 1964 muito educadores passaram a ser

perseguidos em função de posicionamentos ideológicos. Muito foram calados

para sempre, alguns outros se exilaram, outros se recolheram a vida privada e

outros, demitidos, trocaram de função.

Neste período deu-se a grande expansão das universidades no

Brasil. E, para acabar com os "excedentes" (aqueles que tiravam notas

suficientes para mas não conseguiam vaga para estudar), foi criado o

vestibular classificatório.

Para erradicar o analfabetismo foi criado o Movimento Brasileiro

de Alfabetização - MOBRAL. Aproveitando-se, em sua didática, no expurgado

Método Paulo Freire, o MOBRAL propunha erradicar o analfabetismo no Brasil,

o que não conseguiu, após denúncias de corrupção, foi extinto.

É no período mais enfático da ditadura militar, onde qualquer

expressão popular contrária aos interesses do governo era abafada, que é

instituída a Lei 4.024, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em

1971. A característica mais marcante desta Lei era tentar dar a formação

educacional um cunho profissionalizante.

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142.3.4. A LEI DE DIRETRIZES E BASES N. º 9394/96

Com o fim do Regime Militar, a eleição indireta de Tancredo

Neves, seu falecimento e a posse de José Sarney, pensou-se que se poderia

novamente discutir questões sobre educação de uma forma democrática e

aberta. A discussão sobre as questões educacionais já havia perdido o seu

sentido pedagógico e assumido um caráter político. Para isso contribuiu a

participação mais ativa de pensadores de outras áreas do conhecimento, que

passaram a falar de educação num sentido mais amplo do que as questões

pertinentes a escola, a sala de aula, a didática e a dinâmica escolar em si

mesma.

Impedidos de atuarem em suas funções, por questões políticas

durante o regime militar, profissionais da área de Sociologia, Filosofia,

Antropologia, História, Psicologia, entre outras, passaram a assumir postos na

área da Educação e a concretizar discursos em nome da educação.

O Projeto de Lei da nova LDB foi encaminhado à Câmara Federal,

pelo Deputado Octávio Elisio em 1988. No ano seguinte o Deputado Jorge

Hage envia a Câmara um substitutivo ao Projeto e, em 1992, o Senador Darcy

Ribeiro apresenta um novo Projeto que acaba por ser aprovado em dezembro

de 1996, oito anos após o encaminhamento do Deputado Octávio Elisio.

2.3.5. ENSINO SUPERIOR

Portugal tinha apenas dois grandes objetivos quando aportou em

terras brasileiras: a fiscalização e a defesa.

Durante trezentos anos, as únicas iniciativas na área da educação

vieram dos jesuítas. Os altos funcionários da igreja e da Coroa e os filhos dos

grandes latifundiários deslocavam-se à Europa para obter formação

universitária.

As iniciativas isoladas, como o curso superior de Engenharia

Militar do Rio de Janeiro,que surgiu no final do séc.XVII,não pôde ser

considerada como o ingresso do Brasil no ensino superior.

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15Depois de ter sido clerical, até a transferência para o Rio de

Janeiro da sede do reino português, o ensino superior tornou-se todo estatal

até a proclamação da República. Para os liberais, a criação de uma

universidade no país era vista como uma importante tarefa no campo

educativo. (TEIXEIRA, 1969)

Somente em 1808, com a vinda da Família Real, surgiu grande

interesse em criar escolas médicas na Bahia e no Rio de Janeiro.Em fevereiro

deste mesmo ano, surge o colégio Médico-cirúrgico da Bahia e em abril a

Academia de Anatomia do Rio de Janeiro.

Em 1810, o Príncipe Regente assinou a carta da Lei de 4 de

dezembro,criando a “Academia Real Militar da Corte”,que anos mais tarde se

converteria em “ Academia de Artes”.

Por esse passado, o ensino superior se firmou como um modelo

de institutos isolados e de natureza profissionalizante -permanecendo elitista, já

que só atendia aos filhos da aristocracia colonial, que não podiam estudar na

Europa, devido ao bloqueio de Napoleão. (RIBEIRO, 1996)

O fato do ensino ser ministrado em faculdades isoladas, marcou

de forma contundente o ensino superior e explica muitas das distorções que

estão impressas em nosso sistema.

No séc. XIX, à partir da Proclamação da Independência,há um

crescimento de escolas superiores no país,voltado para a formação

profissional.Surgem tentativas de se criar a primeira Universidade no Brasil,

porém nenhuma experiência saiu do papel.

A República chega ao Brasil e com ela, surge a Universidade de

Manaus e um pouco mais tarde a Universidade do Paraná. As condições do

meio não permitiram senão uma existência efêmera e fragilizada.

A influência dos positivistas ganha força e o combate tenaz do

projeto contribui para que a discussão fosse novamente protelada.

Frustradas várias tentativas de criação da Universidade Brasileira,

o movimento foi desarticulado da órbita do Governo Central. A tática acabou

dando certo, originando a criação de duas novas Instituições.

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16É criada pelo Governo Central a Universidade do Rio de Janeiro.

Na história da educação brasileira, a Universidade do Rio de Janeiro é

considerada a primeira instituição criada pelo Governo Central. (RIBEIRO,

1995). Esta foi a primeira instituição que assumiu duradouramente o status de

universidade.

A Instituição recém criada, passou a ter existência apenas

nominal.Sua criação ocorreu sem debates e maiores discussões.Foi saudada

por um grupo limitado de pessoas, sem nenhum interesse e entusiasmo.

Em 1921, o Dr. Benjamim Franklin Ramiz Galvão,então primeiro

reitor da Universidade do Rio de Janeiro,divulga o relatório que citaremos a

seguir:

“Não errarei afirmando, pois que, a Universidade do Rio de Janeiro está,

apenas criada in nomine, e, por esta circunstância, se acha, ainda, longe de

satisfazer desideratum do seu regimento: estimular a cultura das ciências;

estreitar, entre os professores os laços de solidariedade e intelectualidade

moral, e aperfeiçoar os métodos de ensino. Constituída pela agregação da três

faculdades preexistentes, de Engenharia, de Medicina e de Direito, do Rio de

Janeiro, nem ao menos têm elas a sua localização comum ou próxima; vivem

apartados e como alheios uns dos outros, os três institutos que a compõem,

sem laço de ligação além do conselho Universitário, cujos membros procedem

das três faculdades.” (GALVÃO, APUD NAGLE, 1974,P.129)

Apesar de toda as falhas apresentadas, de todas as

incongruências existentes na criação dessa instituição, a criação da

Universidade do Rio de Janeiro teve um mérito: o de provocar o debate, a

discussão em torno do problema universitário brasileiro.

Após algumas reformas, as finalidades são impostas e marcadas

com preocupações amplas voltadas para o meio social - não ser somente

didática,mas também cultural.

A Escola de nível superior era altamente hierarquizada, não muito

distante do ensino no Brasil colônia,rígida,elitista de pouca comunicação com a

sociedade de que era parte.

Em 1932, é lançado o Manifesto dos Pioneiros da Educação

Nova, assinado por educadores e escritores, interessados em análises,

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17discussões e criação de uma nova política para a reconstrução educacional do

país.

O “Manifesto da Educação Nova” (AZEVEDO, 1964), apresenta

uma análise do problema educacional sob vários aspectos: define-lhe

princípios e traça fins. Traz elementos de uma nova política que pudesse

exercer a tríplice função: elaborar ciência, transmiti-la e vulgarizá-la.À margem

da camada dominante tradicional forma-se paulatinamente uma consciência

educacional (AZEVEDO, 1964), cujo reconhecimento público aumenta a cada

dia.

Dirigido ao povo e à Nação, o Manifesto contém a nova teoria

pedagógica e as idéias políticas, através das quais se pretende renovar o

sistema educacional brasileiro.Os debates, que em parte se realizavam através

da imprensa, concentravam-se principalmente na laicidade do ensino,na co-

educação e no monopólio educacional do Estado (BERGER,1976).

Diante de todos os problemas, a universidade continua sendo um

espaço que tem contribuído para a produção e a socialização do conhecimento

no país.E mais, procurar conhecer a história da Universidade no Brasil, seu

processo de construção, de mudanças ocorridas durante a sua trajetória,

significa revisitar, não apenas a sua própria história, mas também a do

pensamento liberal e autoritário,marcando fundo a história das instituições

brasileiras,como parte de uma realidade concreta e permeada de contradições.

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III-CONCLUSÃO

Mesmo que não se possa concordar com a forma como vem

sendo executados alguns programas, reconhece-se que, em toda a história da

Educação no Brasil, contada a partir do descobrimento, jamais houve execução

de tantos projetos na área de educação num só período – final do século XX e

início do século XXI- que levassem o país a uma verdadeira abertura para a

educação onde a erradicação do dualismo: elitismo e preconceito estão sendo

finalmente banidos, e com eles suas vertentes: evasão e exclusão.

Se no Brasil Colonial, o monopólio da educação pertencente aos

jesuítas mostrava a sociedade como palco de contradições e conflitos, entre

brancos e índios, sabia-se que nela havia os germes do próprio

aniquilamento.À interferência de padrões europeus, em nossa cultura, opunha-

se uma sociedade rica de valores culturais, fruto de uma mistura de

raças,costumes e tradições.

Por todo Brasil Imperial, incluindo D.João VI, D.Pedro I e D. Pedro

II,pouco se fez pela educação brasileira e muitos reclamavam de sua qualidade

ruim.Com a proclamação da República tentou-se várias reformas que

pudessem dar uma nova guinada, mas se observarmos bem, a educação

brasileira não sofreu um processo de evolução que pudesse ser considerado

marcante ou significativo em termos de modelo,nesse período.

Assim com a chegada de uma nova era para a educação em

nosso país, finalmente brancos, negros, mulheres, ou quaisquer outros

excluídos terão chances iguais de aprendizado, e formarão uma nova elite: a

elite multirracial de um povo que se dobra, mas não se quebra e retorna, firme

para buscar aquilo que lhe pertence: ensino igualitário para todos.

Finaliza-se citando Minayo(2003):

“Por outro lado a nossa cultura só depende de nós,

não adianta por a culpa na família ou no

governo,reconheça o que você tem e lute pelo o que

você não tem.”

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da educação. São

Paulo: Moderna, 1989.

BARBOZA, E.M.R. A educação brasileira no período colonial.

Tese de Mestrado. Minas Gerais: UFJF, 2001

GERMANO, José Wellington. Estado militar e educação no

Brasil: (1964-1985). São Paulo: Cortez, 1993.

KRAMER, Sônia. A política do pré-escolar no Brasil: a arte do

disfarce. 4. ed. São Paulo: Cortez, 1992.

LIMA, L.O. A descoberta do Brasil. Petrópolis: Vozes, 1978

LIMA, Lauro de Oliveira. Estórias da educação no Brasil: de

Pombal a Passarinho. 3. ed. Rio de Janeiro: Brasília, 1969.

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Page 20: A ORGANIZAÇÃO ESCOLAR NO BRASIL: DA COLÔNIA A … ALVES DE SOUZA.pdf · II-EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL Nesta primeira parte deste desenvolvimento será abordado

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PROJETO A VEZ DO MESTRE

PÓS GRADUAÇÃO LATO SENSU

Título: A Organização Escolar no Brasil: dA COLÔNIA A REPÚBLICA

DATA DE ENTREGA:______________________________________________

AUTO AVALIAÇÃO:

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AVALIADO POR: __________________________________ GRAU:_________

RIO DE JANEIRO,________ DE _______________________ DE 2006