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A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

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Page 1: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

A Nova Geografia Econômica

Eduardo Amaral Haddad

Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

Page 2: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

Roteiro NGE: Afinal, de que se trata?

Objetivos, estratégias de modelagem O modelo básico

Condições para surgimento de aglomerações

Modificações e extensões A NGE em perspectiva O futuro da NGE Práticas operacionais

Page 3: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

Como explicar a formação de aglomerações (concentrações) econômicas no espaço geográfico?

Page 4: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

NGE: Afinal de que se trata? Concentração demográfica em áreas

urbanas 47.2% da população mundial (ONU) 75.4% da população de países desenvolvidos 81.2% (56.8%) da população brasileira

Concentração da atividade econômica Ellison e Glaeser (1997): EUA; Amitie (1999) e

Brulhart (2001): Europa; Maurel e Sédillot (1999): França; Alonso-Villar et al. (2004): Espanha

Azzoni (2003): Brasil 53.2% da produção industrial em São Paulo (1997)

Page 5: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

NGE: Afinal de que se trata? O que causa aglomerações?

Retornos crescentes (RC) de escala são cruciais para se explicar a distribuição geográfica das atividades produtivas (“folk theorem of spatial economics”)

Teorias alternativas Concorrência perfeita e externalidades Concorrência imperfeita

Oligopólio e concorrência monopolística

Page 6: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

NGE: Afinal de que se trata? Essência da NGE

Teoria da emergência de grandes aglomerações baseada na existência de retornos crescentes de escala e custos de transporte

Ênfase na interação entre firmas e fornecedores e entre firmas e consumidores

Processo de causação circular de ligações para frente e para trás gera forças centrípetas do sistema

Forças centrífugas

Page 7: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

NGE: Afinal de que se trata?

Mais firmas

Mais variedades

Maior renda real

Mais pessoas

Retornos crescentesRetornos crescentesConcorrência Concorrência monopolísticamonopolística

Custos de transporteCustos de transportePreferência por Preferência por

variedadevariedade

Mobilidade da Mobilidade da mão-de-obramão-de-obraDemandaDemanda

Page 8: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

NGE: Afinal de que se trata? Estratégias de modelagem (“The

Spatial Economy”, 1999) Dixit-Stiglitz Icebergs Evolução Computador

Page 9: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

Modelo básico Krugman (1991) Modelo centro-periferia

Mostra como aglomerações espaciais emergem a partir da interação entre RC e custos de transporte

Espaço unidimensional, 2 regiões Modelos da NGE baseiam-se em três

conjuntos de hipóteses básicas Variedades de produtos, produtividade do setor

industrial, custos de transporte

Page 10: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

Modelo básico 2 setores

Agricultura (A), retornos constantes, ligado à terra, produto homogêneo

Indústria (M), retornos crescentes, pode-se localizar nas duas regiões, continuum de variedades

Page 11: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

Modelo básico Indivíduos possuem as mesmas

preferências

M é um índice composto de manufaturas A é o consumo de bens agrícolas é a participação das manufaturas nos

gastos totais (!)

1AMU

Page 12: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

Modelo básico Demanda agregada por variedade

mi é o consumo de cada variedade de manufatura

é a elasticidade de substituição entre produtos (!)

1

0

1

n

ii dmM

1

Page 13: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

Modelo básico Custo de vida (IPC)

pi é o preço de mi

Se pi = pm para todo i

1

1

0

)1(n

iim dpC

1

1

npC mm Mais variedades,menor custo de vida

Page 14: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

Modelo básico Fatores de produção: fazendeiros e

trabalhadores Fazendeiros (fixos) distribuídos

uniformemente pelo espaço Trabalhadores podem migrar

Oferta de mão-de-obra exógena Requisito de mão-de-obra = 1

Participação de trabalhadores = Oferta de fazendeiros em cada região =

2/)1(

Page 15: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

Modelo básico Produção de manufaturas

Lmi são os trabalhadores empregados em cada firma i

xi é a produção da firma i Cada firma produz um único bem

imi bxaL

Page 16: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

Modelo básico Estrutura de custos de transporte

Transporte da produção agrícola não tem custo

Transporte da produção industrial assume a especificação de custos de transporte do tipo “iceberg”

é a fração da unidade transportada que não chega ao destino final (!)

1

diid pp exp

Page 17: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

Modelo básico Elasticidade de demanda percebida pelos

produtores monopolistas é Comportamento maximizador da firma

representativa na região 1 implica

Comparando preços de produtos representativos

11 1bwp

2

1

2

1

w

w

p

p

Page 18: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

Modelo básico Com livre entrada, em

concorrência monopolística lucros econômicos = 0

Produção por firma é a mesma em cada região, independente dos salários, demanda relativa, etc.

1111 )( awxbwp

b

axx

)1(21

Page 19: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

Modelo básico Número de manufaturas

produzidas em cada região é proporcional ao número de trabalhadores

2

1

2

1

L

L

n

n

Page 20: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

Modelo básico Não há dinâmica explícita Equilíbrio toma alocação inicial dos

trabalhadores como dada Marshalliano

Trabalhadores deslocam-se para regiões que oferecem maiores salários reais Igualdade da razão trabalhador/fazendeiro

ou divergência (concentração em uma região)

Page 21: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

Modelo básico Em equilíbrio, regiões oferecem mesmo

salário real ou trabalhadores encontram-se concentrados em uma região Sob quais condições concentração pode

ocorrer? Quais os efeitos de custos de transporte ( ),

do tamanho do setor industrial ( ) e das preferências dos consumidores por variedades ( ) sobre a robustez de aglomerações?

Page 22: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

Modelo básico

Parâmetro ValorCircularidade

opera?

BAIXO Sim

ALTO Não

BAIXO Não

ALTO Sim

BAIXO Sim

ALTO Não

Page 23: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

Modificações e extensões Modelo básico capta aspectos

relevantes da evolução dos padrões espaciais Relaxamento de hipóteses

Ausência de externalidades negativas entre firmas (poluição, congestionamento)

Ausência de mercado imobiliário Trabalhadores indiferentes entre regiões

oferecendo mesmo salário real (amenidades) Há apenas duas regiões ...

Page 24: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

A NGE em perspectiva Primeiras reações

Revisão insuficiente de trabalhos anteriores Von Thünen (1824), Marshall (1890)

Semântica Paraíso invadido

Artimanhas intelectuais Simplificações estratégicas Soluções metodológicas alternativas são

necessárias

Page 25: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

A NGE em perspectiva Visão superficial da realidade

Fontes de economias de aglomeração desprezadas

Caráter reduzido das possibilidades analíticas

Forças que afetam concentração e dispersão geográfica...

Page 26: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

A NGE em perspectiva

Forças centrípetas Forças centrífugas

LinkagesImobilidade de

fatores

Pool de trabalhadores Aluguel da terra

Spillovers de conhecimento e outras

economias externas puras

Congestionamento e outras deseconomias

externas puras

Page 27: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

A NGE em perspectiva Poucos trabalhos empíricos

Simulações Relevância para análise de política?

Perspectiva de desenvolvimento futuro Desenvolvimento dos fundamentos teóricos e

empíricos

Contribuições Ênfase em uma abordagem micro-

fundamentada para problemas econômicos espaciais baseada em ferramentas modernas da teoria econômica

Page 28: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

O futuro da NGE Extensão do menu teórico Estudos empíricos Implicações de bem-estar e de política Modelos quantificáveis

Modelos ajustados para economias hipotéticas (“not fitted to actual data” [?])

EGC espacial

Page 29: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

O futuro da NGE Teoria pura Teoria aplicada

Práticas operacionais Exemplo: NGE e Políticas de

Transporte

“Reaching the planner”: Práticas operacionais

?!

Page 30: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

Exemplo: análise de impacto Dois projetos do PAC associados a dois

eixos de integração espacial BR-262 (leste-oeste) BR-381 (norte-sul)

Modelo espacial de equilíbrio geral, com retornos não-constantes, integrado a um modelo de transporte georreferenciado Modelagem explícita de imperfeições de

mercado em uma economia espacial (Haddad e Hewings, 2005)

Page 31: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

Eixo Leste-Oeste Integração de espaços mais

especializados Menor grau de concorrência

espacial Espaços econômicos no Sudeste

como mercados naturais da produção agropecuária (e relacionada) do Centro-Oeste

Page 32: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

SojaProdução, Demanda e Comércio Inter-regional

Page 33: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

Carne bovinaProdução, Demanda e Comércio Inter-regional

Page 34: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

AlgodãoProdução, Demanda e Comércio Inter-regional

Page 35: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

Eixo Norte-Sul (litorâneo) Integração de espaços industrializados

mais complexos Maior grau de concorrência espacial Espaços econômicos mais densos no

Sudeste, com economias de aglomeração mais intensas

Infra-estrutura de transporte saturada, propensa a efeitos de congestionamento

Page 36: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

Produtos químicos (não-petroquímicos)Produção, Demanda e Comércio Inter-regional

Page 37: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

Produtos têxteis naturaisProdução, Demanda e Comércio Inter-regional

Page 38: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

Produtos de couro e calçadosProdução, Demanda e Comércio Inter-regional

Page 39: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

Volumes de tráfego multimodal, 2007

Fonte: PNLT

Page 40: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

Níveis de serviço – rede viária, 2007 (volume/capacidade)

Fonte: PNLT

Page 41: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

ProjetosBR-381BR-262

Total length: 441 km

Total costs: BRL 554 millions

Duplication of the existing road link between Betim and Nova Serrana, and the construction of climbing and passing lanes between Nova Serrana and Araxá

The BR-262 project constitutes a major improvement on the east-west integration of the country, linking the coast of the Southeast to the more agricultural areas of the Midwest

Total length: 304 km

Total costs: BRL 1,395 millions

Duplication of the track between Belo Horizonte and Governador Valadares

The BR-381 project has a strategic role in the integration of the Northeast with the Southeast and South of the country

Page 42: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

Análise macro (não-espacial) Elasticidade-renda dos gastos em

infra-estrutura

Impactos similares para os dois projetos Crescimento do PIB Magnitude proporcional ao tamanho do

investimento

tt GY lnln

Page 43: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

Efeitos espaciais (PIB) – BR-262 (leste-oeste)

Impactos positivos sobre o PIB das áreas de influência do projeto.

Impactos se espraiam no longo prazo.

Efeitos de re-localização tendem a se direcionar para regiões agrícolas bem como para áreas em Minas Gerais ligadas diretamente ao projeto.

Longo prazoCurto prazo

Page 44: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

Efeitos espaciais (PIB) – BR-381 (norte-sul)

A região Nordeste expande sua área de mercado em detrimento das regiões Sul e Sudeste, que sofrem com os efeitos de congestionamento na rede.

Resultado final: menor crescimento com redução da desigualdade regional [localized spillover models (Baldwin et al., 2003)]

Longo prazoCurto prazo

Page 45: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

Considerações finais O espaço é fundamental para a

análise econômica A NGE tem um papel importante

para chamar a atenção do mainstream

Campo fértil de pesquisa Teoria pura Teoria aplicada Práticas operacionais

Page 46: A Nova Geografia Econômica Eduardo Amaral Haddad Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

Referências Krugman, P. (1991). “Increasing Returns and

Economic Geography”. JPE: 99(3). Krugman, P. (1991). Geography and Trade.

MIT Press. Haddad, E. e Hewings, G. (2005). “Market

Imperfections in a Spatial Economy: Some Experimental Results”. QREF.

Fujita, M. et al. (1999). The Spatial Economy. MIT Press.

Fujita, M. e Thisse, J-F. (2002). Economics of Agglomeration. Cambridge University Press.

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Referências Fujita, M. e Krugman, P. (2004). “The New

Economic Geography: Past, present and the future”. PRS: 83(1).

Schmutzler, A. (1999). “The New Economic Geography”. Journal of Economic Surveys: 13(4).

Alonso-Villar, O. (2004). “The Effects of Transport Costs within the New Economic Geography”. Paper presented at the workshop The State of the Art in Regional and Urban Modelling, Seville.