analise exergética de um fea

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  • PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DO RIO GRANDE DO SUL

    FACULDADE DE ENGENHARIA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA ELTRICA

    MESTRADO EM ENGENHARIA ELTRICA

    ANLISE EXERGTICA DE UM FORNO ELTRICO A ARCO

    Autor: Ccero Zanoni

    Orientador: Prof. Dr.Jos Wagner Maciel Kaehler Co-orientador: Prof. Vilson Carlos da Silva Ferreira, PhD

    Porto Alegre, dezembro de 2004

  • Ccero Zanoni

    ANLISE EXERGTICA DE UM FORNO ELTRICO A ARCO

    Dissertao apresentada como requisito parcial para a obteno do Ttulo de Mestre em Engenharia Eltrica, pelo Programa de Ps-Graduao em Engenharia Eltrica da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul. rea de Concentrao: Sistemas de Energia Linha de Pesquisa: Planejamento e Gesto de Sistemas de Energia

    Porto Alegre, dezembro de 2004

  • Para a av Emlia (in memoriam) e Maria Ana (in

    memoriam), estejam aonde estiverem, obrigado

    pelo que foram.

  • 4

    Agradecimentos

    Ao concluir um trabalho de pesquisa como este muitas so as pessoas que, de

    forma voluntria ou no, direta ou indiretamente, contriburam para o seu final.

    Inicialmente agradeo a AES Sul por fomentar a bolsa que propiciou a realizao

    deste mestrado.

    A PUCRS e aos professores do PPGEE por propiciarem um ambiente de pesquisa e

    desenvolvimento adequado bem como as condies essenciais para a realizao

    deste trabalho.

    As meninas da secretaria Debi, Ndia, Edelvira e Rose pela presteza, ateno e

    colaborao ao longo de todo este tempo de convivncia e trabalho.

    Aos engenheiros Fbio Luis Heineck, Zilmar Pires Cardoso e Gustavo Buffleben da

    Aos Finos Piratini pela ateno e pacincia com que me atenderam e colaboraram

    com suas experincias e informaes valiosas para o desenvolvimento deste

    trabalho.

    Ao Prof. Dr. Peter Bent Hansen pela valiosa orientao prestada no incio deste

    trabalho.

    Aos colegas de mestrado, onde muitas demonstraes de amizades e

    companheirismo foram feitas. Aos amigos e colegas de jornada, Almiro, Daniel e

    Marco pela permanente colaborao. Um agradecimento especial ao amigo e

    colega, Eng. Adriano Gabiatti pela permanente colaborao e compreenso

    demonstrada.

    Ao professor e amigo Dr. Vilson Ferreira pela pacincia e ateno dada na co-

    orientao deste trabalho. Com certeza esta dissertao ganhou muito em qualidade

    graas a sua generosidade em dividir o seu conhecimento comigo.

  • 5

    Ao meu orientador Prof. Dr. Jos Wagner Kaehler, obrigado pela confiana e por

    compartilhar a sua experincia. A sua maior lio Dr. Wagner, no cabe

    simplesmente em uma sala de aula.

    Aos meus anjos e pais Paulo e Nelei pela eterna compreenso e dedicao

    dispensada, sem nunca pedirem nada em troca. A minha namorada Fabiana pelas

    interminveis demonstraes de amor, companheirismo e compreenso. Ao meu

    irmo Fbio, a Dani, e a toda minha famlia, obrigado por vocs existirem.

    Tenham certeza, existe um pouco de cada um de vocs neste trabalho.

    A todos, minha eterna gratido. Obrigado.

  • 6

    Resumo

    Resumo da Dissertao apresentada ao PPGEE/PUCRS como parte dos requisitos necessrios para

    a obteno do grau de Mestre em Engenharia Eltrica (M.E.E.)

    ANLISE EXERGTICA DE UM

    FORNO ELTRICO A ARCO

    Ccero Zanoni

    Dezembro/2004

    Orientador: Prof. Dr. Jos Wagner Maciel Kaehler

    Co-orientador: Prof. Vilson Carlos da Silva Ferreira, PhD

    Linha de Pesquisa: Planejamento e Gesto de Sistemas de Energia.

    Palavras-chave: Eficincia Energtica, Exergia, Fornos Eltricos a Arco.

    Nos ltimos anos o setor industrial brasileiro tem sofrido seguidos aumentos do

    preo da energia eltrica. Antes, um insumo que pouco se fazia sentir nas planilhas

    de custo, agora um importante item na composio do preo final dos produtos. A

    indstria siderrgica, em particular, aquelas que operam fornos eltricos a arco

    (FEA), se defrontam com um mercado cada vez mais competitivo, buscando

    incessantemente a reduo de custos. Neste sentido, a adoo de medidas de

    eficincia energtica que propiciem um aproveitamento mais racional dos insumos

    energticos para uma produtividade igual ou superior, vem ao encontro das

    estratgias de competitividade de qualquer empresa. A energia trmica utilizada em

    muitos processos industriais, como os siderrgicos, oferece um grande potencial de

    economia e reaproveitamento de rejeitos. Este trabalho apresenta uma anlise

    metodolgica estruturada para avaliar a disponibilidade de energia (exergia) de um

    FEA operando em uma aciaria. So desenvolvidos os balano de energia e exergia

    para o processo e comparadas as suas eficincias. Os fluxos de exergia do sistema

    so analisados com o objetivo de simular o pr-aquecimento da carga de sucata

    possibilitando a reduo de irreversibilidades para o meio ambiente e aumento da

    eficincia energtica do processo.

  • 7

    Abstract Abstract of Dissertation presented to PPGEE/PUCRS as a partial fulfillment of the requirements for the

    degree of Master of Engineer (M.E.E.)

    EXERGY ANALYSIS OF AN

    ELECTRIC ARC FURNACE

    Ccero Zanoni

    December/2004

    Advisor: Dr. Jos Wagner Maciel Kaehler

    Co-Advisor: Vilson Carlos da Silva Ferreira, PhD

    Research field: Planning and Management of Energy Systems

    Keywords: Energy efficiency, Exergy, Electric Arc Furnace.

    Brazilian industry has experienced a continuous increment in electricity costs. What

    had low impact in the planning costs becomes an important element for the final

    price, now days. The steel industry, in special the ones employing Electric Arc

    Furnace (FEA), faces a competitive market, each time more strong and promoting

    continuous search for costs reduction. In this context, the adoption of energy

    efficiency procedures, resulting more rational the use of energy resources and aiming

    equal or even better productivity levels, is the main purpose of any company strategy

    towards the competitiveness. The used thermal energy of several industrial

    processes, especially the ones in the steel industries, offers great opportunities of

    savings and reuse of waste materials. This work presents an analysis to evaluate the

    energy availability (exergy) of the FEA of a steel industry. The energy and exergy

    balance was developed and the efficiency for the whole process compared each

    other. The exergy flux for the system has been analysed in order to simulate the pre-

    heating scrap load, allowing to reduce the environment irreversibilities and to improve

    the energy efficiency of the process.

  • 8

    Sumrio

    Captulo I .................................................................................................................................15

    Introduo................................................................................................................................15

    1.1 Apresentao...........................................................................................................15

    1.2 Escopo da Pesquisa.................................................................................................22

    1.3 Justificativa .............................................................................................................23

    1.4 Objetivos..................................................................................................................27

    1.4.1 Objetivo Principal.............................................................................................27

    1.4.2 Objetivos Secundrios ......................................................................................28

    1.5 Metodologia.............................................................................................................28

    1.6 Limites do Escopo...................................................................................................30

    1.7 Estrutura da Dissertao .......................................................................................31

    Captulo II................................................................................................................................33

    Reviso bibliogrfica ...............................................................................................................33

    2.1 Apresentao...........................................................................................................33

    2.2 Breve histrico do FEA ..........................................................................................34

    2.3 Reviso bibliogrfica ..............................................................................................36

    Captulo III ..............................................................................................................................45

    Fundamentos de anlise exergtica........................................................................................45

    3.1 Apresentao...........................................................................................................45

    3.2 Primeira Lei da Termodinmica...........................................................................46

    3.2.1 Entalpia.............................................................................................................50

    3.3 Segunda Lei da Termodinmica ...........................................................................52

    3.3.1 Entropia ............................................................................................................53

    3.3.2 Irreversibilidades ..............................................................................................56

    3.4 Exergia.....................................................................................................................59

    3.5 Balano de exergia em sistemas abertos ...............................................................64

  • 9

    3.6 Eficincia energtica e exergtica..........................................................................66

    Captulo IV...............................................................................................................................69

    Balano de exergia de um forno eltrico a arco.....................................................................69

    4.1 Apresentao...........................................................................................................69

    4.2 Descrio do FEA e definio das fronteiras do sistema ....................................70

    4.3 Confiabilidade das medies .................................................................................71

    4.4 Balano de massa....................................................................................................73

    4.4.1 Elementos admitidos no processo ....................................................................74

    4.5 Balano de Energia.................................................................................................81

    4.5.1 Perdas de energia do FEA ................................................................................86

    4.6 Balano de disponibilidade de energia (Exergia) ................................................89

    Captulo V ................................................................................................................................98

    Anlise de resultados pr-aquecimento da sucata...............................................................98

    V.1 Apresentao...........................................................................................................98

    5.2 Anlise do rendimento ...........................................................................................99

    Captulo VI.............................................................................................................................105

    Concluses .............................................................................................................................105

    6.1 Sugestes para trabalhos futuros ........................................................................108

    Captulo VII ...........................................................................................................................110

    Referncias Bibliogrficas ....................................................................................................110

    Apndice I ..............................................................................................................................119

    Perdas de Energia do FEA....................................................................................................119

    I.1 Perdas por conduo da carcaa e abbada ......................................................120

    I.2 Perdas por conveco e radiao da carcaa e abbada...................................122

    I.3 Calor consumido pela gua de refrigerao ......................................................126

    I.4 Perdas pelos tempos mortos.................................................................................127

    I.5 Perdas eltricas .....................................................................................................128

  • 10

    Apndice II.............................................................................................................................129

    Metodologia para anlise de incertezas ................................................................................129

    II.1 Quantificao das incertezas Tipo A ..................................................................130

    II.2 Quantificao das incertezas do Tipo B .............................................................131

    Apndice III ...........................................................................................................................133

    Balano trmico dos gases de exausto ................................................................................133

    Apndice IV............................................................................................................................137

    Operao de Fornos Eltricos a Arco...................................................................................137

    IV.1 Elementos da carga do FEA ................................................................................138

    IV.2 Ciclo de operao..................................................................................................140

    IV.2.1 Preparao da carga ........................................................................................142

    IV.2.2 Carregamento do FEA....................................................................................144

    IV.2.3 Perfurao e fuso ..........................................................................................146

    IV.2.4 Refino oxidante ..............................................................................................149

    IV.2.5 Retirada da escria (Slag-off).........................................................................150

    IV.2.6 Refino redutor (adio de ligas e desoxidao)..............................................151

    IV.2.7 Tempo de operao.........................................................................................153

    IV.2.8 Reaes de oxidao e reduo ......................................................................155

    Apndice V .............................................................................................................................158

    Tabelas dos balanos de energia e exergia...........................................................................158

  • 11

    Lista de smbolos A rea [m2]

    cp calor especfico a presso constante [kJ/ mol.K]

    D dimetro [m]

    E espessura [m]

    KE condutibilidade trmica [kcal/m0C]

    N nmero de corridas do forno

    t variao de temperatura [K]

    V volume [m3];

    v volume especfico [m3/mol]

    p presso [atm]

    R constante universal dos gases perfeitos [0,082 atm.l/mol.K]

    n nmero de moles [massa/mol]

    m massa [kg]

    Q calor [ kJ/h]

    Ksb constante de Stefan-Boltzman [5,67 x 10-8 W/m2. K4]

    T temperatura [K]

    Ti temperatura irradiante [K]

    Tf temperatura final [K]

    I irreversibilidades [J]

    g constante de acelerao da gravidade [m/s2]

    vel velocidade escalar [m/s]

    z altura [m]

    S entropia [J/K]

    s entropia especfica molar [J/K-1.mol-1]

    i componente ou composto qumico [ ]

    G funo especfica molar de Gibbs [J/mol]

    W trabalho [J]

    T1..Tn termos das equaes

  • 12

    Letras gregas

    exergia [J]

    exergia especfica [J/mol]

    constante de emissividade

    taxa de gerao de entropia [J/K]

    0i potencial de exergia qumica para condies ambiente [J/mol] 00i potencial de exergia qumica para o estado morto [J/mol]

    eficincia energtica [ ] eficincia exergtica [ ]

    Sobrescrito

    - propriedade em unidade molar

    perdas somatrio das perdas trmicas do FEA

    s sistema

    Subescrito

    - propriedade em unidade molar

    entrada conjunto de compostos e substncias que entram no forno

    sada conjunto de compostos e substncias que saem do forno

    agua_refrig gua do sistema de refrigerao dos painis do forno (carcaa e abbada)

    Eletricidade Energia eltrica consumida pelo forno

    GN Gs natural consumido pelo forno

    0 propriedade em condies ambientais

    00 estado morto (ambiente)

    f estado final ou de sada do processo

    cond conduo

    conv conveco

  • 13

    Lista de Figuras

    Figura 1.1 Cadeia produtiva e eficincia energtica [26]........................................17

    Figura 1.2 Variao dos preos da energia eltrica perodo 1995 a 2003. .........27

    Figura 2.1 Evoluo tecnolgica do FEA ...............................................................36

    Figura 3.1 Ciclo para demonstrao da propriedade energia..................................47

    Figura 3.2 Ciclo trmico com dois estados.............................................................54

    Figura 3.3 Balano de entropia em sistemas abertos .............................................55

    Figura 3.4 Diviso da exergia.................................................................................60

    Figura 3.5 Trabalho reversvel e interao com o calor .........................................62

    Figura 3.6 Balano de exergia para um sistema aberto .........................................65

    Figura 4.1 Definio da fronteira do sistema..........................................................70

    Figura 4.2 Balano de energia do FEA (resumido) ................................................88

    Figura 4.3 - Fluxograma de anlise exergtica do forno eltrico a arco....................91

    Figura 4.4 Balano de exergia do FEA Calores entrada .....................................96

    Figura 4.5 - Balano de exergia do FEA Calores sada .........................................96

    Figura V.1 Diagrama do fluxo para pr-aquecimento da sucata ..........................100

    Figura V.2 - Balano de exergia do FEA com pr-aquecimento da sucata .............101

    Figura V.3 Incremento da eficincia exergtica com pr-aquecimento da sucata102

    Figura V.4 Relao entre consumo de energia eltrica e eficincia exergtica ...103

    Figura V.5 Reduo das irreversibilidades............................................................103

    Figura VI.1 Custos de produo da rota semi-integrada ......................................107

    Figura VI.2 Reduo dos custos de produo com o pr-aquecimento da carga 108

    Figura III.1 Volume de controle para balano de energia dos gases de exausto

    ................................................................................................................................134

    Figura IV.1 - Fabricao do ao via processo tradicional........................................141

    Figura IV.2 Fabricao do ao via processo com FEA mais forno panela ...........142

    Figura IV.3 - Estratificao dos padres de sucata .................................................144

    Figura IV.4 - Carregamento do FEA com cestes...................................................145

    Figura IV.5 - Ciclo de processo de operao com dois carregamentos de sucata..154

    Figura IV.6 - Relao entre C no banho e O2 inserido no processo........................156

  • 14

    Lista de Tabelas

    Tabela 1.1 Correlao entre consumo industrial e eletro-intensivos ......................19

    Tabela 1.2 Emisses de CO2 do setor siderrgico por grau de integrao 1990 a

    1998. .........................................................................................................................25

    Tabela 1.3 Consumo de energia eltrica por segmento industrial..........................26

    Tabela 4.1 Valores mximos e mnimos do ao-carbono........................................71

    Tabela 4.2 Composio qumica do ferro-gusa......................................................75

    Tabela 4.3 Composio qumica da cal (calctica e dolomtica) .............................75

    Tabela 4.4 Composio qumica do gs natural ....................................................75

    Tabela 4.5 Coeficientes de correo volumtrica para os gases de exausto.......78

    Tabela 4.6 Composio da carga fria.....................................................................78

    Tabela 4.7 Balano de massa do forno do FEA.....................................................79

    Tabela 4.8 Tabela resumo do balano de massa do FEA......................................81

    Tabela 4.9 Temperatura dos elementos que entram e saem do FEA....................83

    Tabela 4.10 Relao de elementos de entrada do forno (carga fria) .....................84

    Tabela 4.11 Elementos de sada do forno (produtos) ............................................85

    Tabela 4.12 Perdas trmicas e eltricas do FEA ...................................................87

    Tabela 4.13 - Valores de exergia na entrada do FEA ...............................................94

    Tabela 4.14 Valores de exergia na sada do FEA..................................................95

    Tabela I.1- Perdas trmicas pela carcaa e pela abbada .....................................126

    Tabela I.2 Calor absorvido pela gua de refrigerao...........................................127

    Tabela III.1 Valores de massa e nmero de moles do ar atmosfrico admitido no

    FEA .........................................................................................................................135

    Tabela III.2 Calores especficos ...........................................................................136

    Tabela III.3 Massas e volumes dos gases de exausto .......................................136

    Tabela IV.1 - Tempos tpicos de operao dos fornos eltricos a arco...................155

    Tabela V.1 Balano de energia do FEA ...............................................................159

    Tabela V.2 Balano de exergia do FEA ...............................................................160

    Tabela V.3 - Balano de exergia do FEA com pr-aquecimento da sucata ............161

  • Captulo I

    Introduo

    1 INTRODUO

    1.1 Apresentao

    Ao longo da histria da humanidade, o uso das diversas formas de energia tem sido

    um fator importante de desenvolvimento. Com o decorrer do tempo, a

    industrializao e o crescimento populacional criaram crescentes e novas demandas

    por servios e energia, exercendo forte presso sobre a utilizao de recursos

    energticos [14].

    Durante muito tempo, os recursos energticos usados foram considerados

    inesgotveis. No entanto, foi na dcada de 70, com a ocorrncia das duas crises dos

  • 16

    preos do petrleo (1973 e 1978) que o mundo tomou conscincia de que os

    recursos energticos so finitos [6].

    Como conseqncia dessas crises, foram criados vrios programas de

    racionalizao do uso da energia, para minimizar o impacto econmico que a alta do

    petrleo imps as economias de diversos pases.

    Desta forma, a idia inicial de racionalizao contribuiu para um conceito bastante

    limitado que se convencionou chamar de conservao de energia. Este conceito

    consistia basicamente, no perodo imediatamente ps-crise do petrleo, em

    conjuntos de prticas de alcance limitado destinadas a eliminar desperdcios

    flagrantes no consumo de energia [6].

    Atualmente, tendo em vista as necessidades produtivas requisitadas pela sociedade,

    o termo mais adequado gesto de energia, a inclusa a eficincia energtica.

    Segundo KAEHLER [26], o conceito de eficincia energtica est estreitamente

    vinculado ao servio energtico produzido e se refere cadeia energtica como um

    todo, isto , desde a sua extrao (ex. extrao de petrleo) ou transformao (ex.

    gerao1 hdrica) at o seu uso final (ex. iluminao). Este conceito, bem como as

    transformaes de energia e resduos produzidos ao longo da cadeia produtiva, so

    ilustradas na Figura 1.1.

    1 O emprego do termo gerao de energia, mesmo no sendo adequado, foi utilizado para evitar redundncia no texto. O correto transformao de energia, j que esta no gerada e sim transformada (Primeira Lei da Termodinmica)

  • 17

    FONTE: KAHELER [26]

    Figura 1.1 Cadeia produtiva e eficincia energtica [26]

    Como pode ser visto pela Figura 1.1 fica evidente a relao de eficincia energtica

    com as questes ambientais, tendo em vista que a energia obtida a partir do meio-

    ambiente e, aps ser transformada e utilizada rejeitada em sua quase totalidade

    de volta ao meio-ambiente sob diferentes formas de rejeitos [26].

    Assim, fica claro a importncia de se adotar medidas que, num sentido mais amplo,

    compreenda no s a diminuio da quantidade de energia primria necessria para

    propiciar o consumo de energia til, mas tambm a construo de uma filosofia que

    implique uma necessidade menor de consumo da energia til para um padro igual

    ou superior de servio [6].

    No s fatores ligados diretamente disponibilidade dos recursos energticos

    influenciaram mudanas nos setores de energia de diversos pases, principalmente

    na segunda metade da dcada de 1980 em diante. Particularizando para o contexto

    brasileiro, a condio do Estado de continuar sendo o grande financiador dos

    O Meio Ambiente NaturalO Meio Ambiente Natural

    Recursos PrimriosEnergiaEnergia MatriaMatria

    Transformaes Primrias

    Transporte

    Transformaes Secundrias

    Distribuio

    RequisitosUsos

    Bens e Servios

    Rej

    eito

    s T

    rmic

    os

    Perd

    as e

    Dej

    etos

    O Meio Ambiente NaturalO Meio Ambiente Natural

    Recursos PrimriosRecursos PrimriosEnergiaEnergiaEnergiaEnergia MatriaMatria

    Transformaes Primrias

    TransporteTransporte

    Transformaes Secundrias

    DistribuioDistribuio

    RequisitosUsos

    RequisitosUsos

    Bens e ServiosBens e Servios

    Rej

    eito

    s T

    rmic

    os

    Perd

    as e

    Dej

    etos

  • 18

    setores de infra-estrutura acabou por esgotar-se, por diversos fatores, sendo o

    principal deles a falta de condies de investimento para suprir a crescente demanda

    [51]. Assim, nas duas ltimas dcadas do sculo passado, vrios pases de todo o

    mundo, dentre eles o Brasil, iniciaram os processos de reestruturao e privatizao

    dos setores de petrleo e energia eltrica.

    Desta forma, o Brasil desenvolveu ao longo da dcada passada, uma ampla

    reestruturao do setor eltrico que se caracterizou principalmente pelas

    privatizaes das empresas de energia e desverticalizao das atividades de

    gerao, transmisso, distribuio e comercializao. Como resultados desta

    reestruturao, o governo pretendeu implantar um mercado competitivo no setor

    eltrico e garantir a continuidade do suprimento com aumento da oferta de energia,

    cujos investimentos devero vir do capital privado.

    Espera-se, a partir de ento, mesmo com a total liberalizao do mercado de

    eletricidade em 2005, que as tarifas de energia sofram significativos reajustes, j que

    as empresas do setor eltrico devero investir em novas unidades de gerao e

    ampliar os sistemas de transmisso e distribuio de energia. Tal situao tem

    impacto direto nos setores industriais, principalmente os chamados eletro-intensivos,

    como o caso da siderurgia.

    Outro fator que afetou as indstrias eletro-intensivas, foi a crise energtica que se

    abateu no Brasil em 2001. Esta crise veio reduzir a produo industrial como um

    todo, mas afetou principalmente os setores mais eletro-intensivos.

  • 19

    A chamada crise energtica suscitou discusses sobre a capacidade do atual

    parque gerador instalado em suprir as crescentes demandas dos setores mais

    intensivos de energia eltrica. Segundo ANDRADE [2], para atender as

    necessidades de crescimento dos consumidores eletro-intensivos, ser necessrio

    um aumento da oferta de energia em torno de 19,3 GWh/ano at 2010,

    considerando-se uma taxa de crescimento de 2,5% para os setores eletro-intensivos.

    Com relao ao setor industrial, existe uma forte correlao entre o consumo de

    eletricidade no setor secundrio brasileiro e indstrias eletro-intensivas, como pode

    ser visto na Tabela 1.1:

    De acordo com a Tabela 1.1, o crescimento do consumo de energia eltrica no setor

    industrial, entre 1996 e 2001 foi de 6,18%, enquanto que para o mesmo perodo, o

    aumento da demanda por eletricidade dos setores eletro-intensivo foi de 13,74%.

    Isso, considerando-se a retrao ocorrida em funo da crise energtica de 2001,

    onde, com relao a 2000, a indstria eletro-intensiva teve uma queda de 9,08% no

    seu consumo energtico, enquanto que o setor industrial como um todo teve um

    decrscimo de 5,84%.

    Tabela 1.1 Correlao entre consumo industrial e eletro-intensivos

    Unid.GWh/ano

    1996 1997 1998 1999 2000 2001

    Consumo Energtico Total 277.685 294.689 307.030 314.698 331.596 309.920

    Consumo Industrial 129.755 135.521 136.427 138.468 145.821 137.774

    % Ind./Energtico Total 53,27 54,01 55,57 56,00 56,02 55,55

    Cons. Eletro-intensivos 55.166 59.366 61.384 63.440 68.450 62.747

    % Eletro-intensivos/Ind. 57,48 56,19 55,01 54,18 53,06 54,46

    FONTE: BNDES e BEN 2001 Anlises do autor

  • 20

    Em particular, a indstria siderrgica foi responsvel em 2002 pelo consumo de

    10,7% da energia eltrica total no Brasil e 29,15 % considerando-se apenas o setor

    industrial [43].

    Quando se trata de siderrgicas operando fornos a arco (aciaria eltrica), estas

    respondem por 33,4% de todo o ao produzido no mundo [5]. No Brasil, que

    favorece a predominncia da rota integrada devido a grande oferta interna de

    minrio de ferro, a aciaria eltrica responsvel por 7,052 milhes de toneladas de

    ao bruto produzidos, de um total de 33,583 milhes de toneladas no ano 2000 [3],

    respondendo por aproximadamente 21% da produo nacional.

    Diante do cenrio que se apresenta com relao a custos e competio, torna-se de

    importncia estratgica para o setor siderrgico, presumivelmente uma das bases do

    desenvolvimento industrial [68], a adoo de medidas e polticas que possibilitem a

    reduo da demanda de energia e um aproveitamento mais eficiente dos recursos

    energticos que formam a matriz de insumos dos processos da indstria do ao,

    alm de buscar a mitigao dos impactos ambientais.

    Independente da rota tecnolgica considerada, a energia eltrica tem um peso

    expressivo dentro da matriz dos custos de produo de ao, o que justifica a

    importncia de operar processos mais eficientes energeticamente.

    Com relao s aciarias eltricas, ao se enfatizar a questo da eficincia energtica

    e reaproveitamento de subprodutos, surge a necessidade de anlise do rendimento

    das diversas etapas do processo de produo. Para tanto, deve-se considerar as

  • 21

    matrias-primas necessrias, as quantidades de energia e seus vetores envolvidos

    no processo bem como o montante de produto (ao) e subprodutos (gases e

    escria). Esta contabilizao, denominada de balano de massa e energia, constitui

    uma ferramenta para anlise do rendimento do processo industrial e instrumento

    essencial para quaisquer medidas de eficincia energtica que envolva processos

    de fuso.

    As anlises energticas, baseadas na Primeira Lei da Termodinmica, so uma das

    ferramentas mais utilizadas na avaliao da eficincia de processos e sistemas

    trmicos. No entanto este tipo de balano de energia no leva em considerao a

    qualidade da energia envolvida no processo, ou seja, a capacidade de realizar

    mudana, das diversas formas de energia [36], isto , a capacidade de realizar

    trabalho.

    Assim, a anlise de sistemas trmicos atravs da Primeira Lei da Termodinmica,

    apesar de simples e til, no permite avaliar racionalmente o uso da energia, pois de

    acordo com a Segunda Lei da Termodinmica, nem toda a energia de um sistema

    pode ser convertida em trabalho ou calor til [65] [13].

    Desta forma, com o intuito de suprir esta deficincia implcita nas anlises baseadas

    na Primeira Lei, surgiu na dcada de 1950 o conceito de exergia. Este conceito, que

    trata da disponibilidade de trabalho til de um sistema, incorpora na sua definio

    tanto o Primeiro como o Segundo Princpio da Termodinmica. A partir de ento e,

    principalmente aps a crise do petrleo da dcada de 1970 [64], as anlises

    exergticas tem sido amplamente utilizadas para calcular eficincias de processos

    industriais especficos. A maior parte destes estudos tem demonstrado grandes

  • 22

    oportunidades para o aumento da eficincia energtica nos processo industriais,

    alm de indicar medidas e setores econmicos prioritrios para a obteno de tais

    ganhos de eficincia [36].

    Sendo assim, o objeto de trabalho desta dissertao apresentar uma metodologia

    de balano exergtico para um forno eltrico a arco (FEA). Esta anlise tem por

    objetivo principal fornecer informaes do processo que possibilitem medidas de

    eficincia energtica no FEA.

    1.2 Escopo da Pesquisa

    O projeto de pesquisa proposto neste trabalho tem por escopo o desenvolvimento de

    uma metodologia para balano exergtico de Fornos Eltricos a Arco (FEA).

    Para tanto, a anlise e o entendimento dos processos de uma aciaria eltrica, desde

    a separao e preparao da sucata, passando pelo processo de fuso no FEA, at

    o lingotamento do ao de fundamental importncia para o desenvolvimento da

    metodologia destinada a determinar a eficincia energtica do FEA.

    O balano de exergia, como visto anteriormente, uma ferramenta importante para

    a otimizao dos parmetros operacionais quanto determinao da carga tima e

    seus componentes, observando tambm as relaes possveis com os insumos

    energticos disponveis e as operaes inerentes do forno [47]. Com esta

  • 23

    informao pode-se propor, com maior segurana, alteraes na operao do

    processo de tal maneira a propiciar um maior rendimento produtivo, com uma

    eficincia energtica maior, acarretando uma reduo dos custos de produo e

    minimizando os impactos ambientais.

    Para a elaborao de uma metodologia de contabilizao energtica do processo

    para produzir uma determinada quantidade de ao, so necessrias vrias

    informaes relativas s caractersticas termodinmicas e s quantidades das

    matrias-primas, como a sucata, os insumos energticos (energia eltrica, oxignio,

    gs natural, carbono) e dos produtos (ao) e subprodutos (escria e gases de

    exausto).

    1.3 Justificativa

    Pela importncia que a indstria siderrgica apresenta na balana comercial

    brasileira e por se tratar de um setor energo-intensivo, a oportunidade de trabalhos

    que visam a reduo de custos com energia e que proporcionem um nvel igual ou

    superior de produo com maior eficincia energtica, podem ser justificados por

    trs aspectos principais:

    9 Busca de maior competitividade internacional e importncia na balana

    comercial brasileira;

    9 Minimizao de impactos ao meio ambiente;

  • 24

    9 Impacto da disponibilidade e o aumento dos custos dos energticos na

    produo de ao.

    Fazendo frente ao cenrio mundial da indstria do ao e considerando a posio de

    destaque que a indstria siderrgica apresenta na economia brasileira, surge a

    necessidade de otimizao de custos de produo, para que o ao brasileiro

    continue tendo o seu destacado papel na balana comercial e no mercado mundial.

    Em termos econmicos, a indstria siderrgica brasileira ocupa a oitava posio

    entre os maiores produtores de ao bruto no mundo a liderana na Amrica Latina e

    a quinta colocao como exportador, representando 1,6% do PIB brasileiro no ano

    de 2000 [5].

    Com relao s questes ambientais, a indstria siderrgica, principalmente a rota

    integrada, caracteriza-se por ser uma grande emissora de CO2. O carbono

    utilizado para gerao de energia e, nas usinas integradas, como agente redutor do

    minrio de ferro. O processo de produo do ferro-gusa, que envolve a coqueria,

    sinterizao/pelotizao e alto-forno, consomem 60 a 70% do total da energia nas

    usinas integradas, principalmente devido ao uso do coque como redutor do minrio

    de ferro em ferro-gusa [35].

    As usinas semi-integradas, que operam FEAs, por no possurem a etapa de

    reduo, consomem o carbono basicamente para fins energticos. Estas usinas

    consomem cerca de 25% do carbono consumido nas usinas integradas [35]. No

  • 25

    entanto, tambm so responsveis pela emisso de CO2, mesmo que em menor

    volume, como pode ser visto na Tabela 1.2.

    Tabela 1.2 Emisses de CO2 do setor siderrgico por grau de integrao 1990 a 1998.

    Unidade: tonelada

    1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998

    Usinas Integradas 23.521 28.008 29.168 30.546 30.801 31.997 31.928 31.570 33.359

    Emisso Especfica (t CO2/tab) 1,4951 1,5161 1,502 1,5051 1,484 1,5309 1,5508 1,5393 1,5884

    Usinas Semi-integradas 632 581 602 650 680 616 677 744 702

    Emisso Especfica (t CO2/tab) 0,16 0,7774 0,7788 0,7778 0,7612 0,8851 0,8229 0,7161 0,7923

    Fonte: MCT [35]

    A crise energtica que se abateu sobre o Brasil em 2001, alertou a indstria

    brasileira no que diz respeito disponibilidade de energia eltrica. Este impacto foi

    sentido principalmente nos setores onde a energia eltrica representa o principal

    insumo energtico, como nas aciarias eltricas. Considerando-se o perodo de

    1985/2000, o consumo de energia eltrica do pas evoluiu a uma taxa mdia de

    4,4% ao ano enquanto que a gerao global de energia eltrica cresceu a uma

    mdia de 4,1% [2]. No entanto, em 2001 apresentou-se uma queda de 10% na

    oferta de energia, com relao a 2000, fundamentalmente por fora dos baixos

    nveis dos reservatrios hidreltricos [2].

    Neste contexto, a indstria siderrgica foi um dos setores mais prejudicados com

    essa crise apresentando uma reduo do consumo de 6,8% [2] (Tabela 1.3).

  • 26

    Tabela 1.3 Consumo de energia eltrica por segmento industrial

    Unidade: GWh/ano

    1985 1990 1995 1999 2000 2001 %Cresc. 00/01

    Industrial Total 96.253 112.339 127.171 138.468 145.825 136.346 (6,5)

    N/ Ferrosos e Outros

    N/ Metlicos 17.169 25.543 28.544 28.294 26.152 23.160 (11,4)

    Qumica/Petroq. 13.142 13.315 14.871 16.316 17.569 15.612 (1,1)

    Alimentos e bebidas 9.703 10.335 12.725 15.393 15.731 4.750 (6,2)

    Ferro-gusa e ao 12.349 12.775 14.360 14.272 15.541 14.472 (6,8)

    Papel e celulose 6.626 7.688 9.801 1.368 11.641 12.200 4,8

    Txtil 5.593 6.266 6.430 6.314 6.441 6.150 (4,5)

    Minerao e

    Pelotizao 5.467 5.955 6.311 6.723 7.576 6.618 (12,6)

    Ferroligas 4.165 6.211 6.296 5.190 6.393 4.858 (24)

    Cimento 2.455 2.938 3.264 4.514 4.324 4.237 (2,0)

    Outros 17.685 19.475 22.558 27.365 31.602 31.789 (0,5)

    FONTE:BNDES [2]

    Ainda com relao ao quesito de energia, no s os efeitos do racionamento devem

    ser considerados para justificar medidas de eficincia energtica na indstria

    siderrgica.

    Com as privatizaes, ocorridas no final da dcada passada, e tambm com a

    necessidade de novos investimentos em gerao, inevitavelmente os preos da

    energia eltrica tendero a aumentar. Desta forma, o item energia ir pesar cada vez

    mais nas planilhas de custos das indstrias como um todo. Desde 1995 as tarifas de

    energia eltrica para a indstria sofreram reajustes de quase 200% no perodo,

    conforme pode ser visto na Figura 1.2.

  • 27

    Variao do preos da Energia Eltrica para o setor Industrial (R$/Mwh)Ano: 1995 a 2003 - Mdia brasileira

    R$0,00

    R$20,00

    R$40,00

    R$60,00

    R$80,00

    R$100,00

    R$120,00

    1995

    1996

    1997

    1998

    1999

    2000

    2001

    2002

    2003

    FONTE: ANEEL

    Figura 1.2 Variao dos preos da energia eltrica perodo 1995 a 2003.

    Sendo assim, conforme o exposto anteriormente, torna-se oportuno e de

    importncia estratgica para o setor siderrgico, em particular s que operam FEAs,

    o desenvolvimento de projetos e metodologias que visem a utilizao de

    mecanismos que possibilitem eficincia energtica e reduo de custos e, por

    conseguinte ganho de competitividade.

    1.4 Objetivos

    1.4.1 Objetivo Principal

    Este trabalho tem como objetivo principal o desenvolvimento de uma metodologia de

    balano de exergia para um FEA operando em uma aciaria eltrica. Com isto

    pretende-se que a metodologia proposta fornea subsdios que possibilitem a

    operao otimizada de um FEA com vistas eficincia energtica.

  • 28

    1.4.2 Objetivos Secundrios

    Os sistemas trmicos, de qualquer natureza, podem apresentar ganhos expressivos

    em eficincia energtica nos setores industriais e comerciais. No entanto, medidas

    que visam uma racionalizao no uso energtico destes sistemas esbarram nas

    dificuldades de implementao principalmente por apresentarem custos mais

    elevados. Outro motivo que pode ser citado a falta de conhecimento de

    metodologias que possam validar anlises mais confiveis com relao a viabilidade

    tcnica e financeira de sistemas trmicos.

    Sendo assim, pretende-se como objetivo secundrio, criar subsdios prticos e

    tericos que possam ser utilizados em futuras anlises de eficincia energtica em

    diversos sistemas trmicos de uso industrial.

    1.5 Metodologia

    Este projeto de pesquisa caracteriza-se como um trabalho terico-prtico, pois

    envolve o desenvolvimento de uma anlise metodolgica estruturada do balano

    exergtico, tendo como base a pesquisa bibliogrfica. Tambm se faz necessrio a

    aplicao de uma pesquisa de campo especfica a fim de obter informaes que

    possam validar a metodologia proposta, atravs de um estudo de caso, alm de

    fornecer subsdios para o entendimento do ciclo de produo de ao em FEAs.

  • 29

    As fontes de dados primrias, que serviram de base para o desenvolvimento terico

    da metodologia de balano exergtico, foram as bibliografias pesquisadas. As fontes

    de dados secundrias foram basicamente constitudas pelas informaes obtidas na

    aciaria onde se realizou o estudo de caso, na forma de relatrios, anlise de

    documentos, entrevistas e visitas realizadas.

    A seqncia de desenvolvimento proposto para este trabalho consiste basicamente

    em 5 etapas distintas:

    9 Reviso Bibliogrfica;

    9 Pesquisa de campo: Nesta etapa foram levantados os dados necessrios

    para o desenvolvimento da metodologia. A principal fonte de informaes

    desta etapa foram visitas, entrevistas e relatrios obtidos na aciaria onde foi

    efetuado o estudo de caso.

    9 Desenvolvimento da metodologia de anlise estruturada terica

    proposta: Proposio de uma estrutura metodolgica de balano exergtico

    para um forno eltrico a arco que contemple as variveis de influncia no

    processo de produo de ao via FEA.

    9 Estudo de caso: nesta etapa foi testado a metodologia terica, a partir de um

    estudo de caso com dados reais das corridas realizadas no FEA, objeto de

    estudo, a fim de simular aes visando uma melhor eficincia do processo.

  • 30

    9 Concluses: Discusso dos resultados esperados e obtidos bem como

    proposio de temas correlatos para uma seqncia de trabalhos futuros.

    1.6 Limites do Escopo

    O desenvolvimento de projetos, bem como as anlises relativas a sua viabilidade

    tcnica e econmica, que se mostrem possveis de serem realizados com as

    informaes advindas do balano exergtico, foram citados como referncia a

    trabalhos futuros.

    Este trabalho no pretende discutir os processos siderrgicos, nem propor melhorias

    em tais modelos de produo. A anlise a ser realizada ter enfoque na obteno

    das informaes especficas necessrias para a elaborao da metodologia de

    anlise proposta.

    Anlises ambientais e sociais que, de forma direta ou indireta relacionam-se, com os

    processos de siderurgia, tambm fogem ao escopo deste trabalho.

    A anlise metalrgica dos materiais e compostos, bem como as suas relaes

    qumicas como estrutura cristalina, estabilidades do processo, no foram

    consideradas para a elaborao deste trabalho. As propriedades termodinmicas

    associadas s reaes qumicas envolvidas no processo de produo foram

  • 31

    consideradas apenas para anlise de energia e disponibilidade sem fazer relao

    com outros temas de interesse das Cincias de Materiais Metalrgicos.

    As informaes sobre as perdas de energia trmica relativa ao processo e a

    construo do forno foram baseadas em um trabalho realizado dentro da prpria

    empresa onde foi testada a metodologia. Este trabalho avaliou as perdas durante as

    corridas no forno com base em anlises estatsticas e de observao do processo.

    1.7 Estrutura da Dissertao

    Este trabalho de pesquisa est dividido em seis captulos e cinco apndices. A

    abordagem do cenrio que motivou o desenvolvimento do presente trabalho, bem

    como seus objetivos e limites de escopo foram abordados neste captulo de

    Introduo.

    O captulo dois tem como tema a evoluo dos fornos eltricos na indstria

    siderrgica e aborda a reviso bibliogrfica sobre o tema desta dissertao. Foram

    citados vrios trabalhos desenvolvidos sobre exergia e suas aplicaes tanto em

    anlises da eficincia de economias industriais, ciclo de vida de produtos e

    siderurgia.

    O captulo trs faz uma breve abordagem da Primeira e Segunda Lei da

    Termodinmica e trata dos princpios de anlise exergtica de sistemas trmicos.

  • 32

    O captulo quatro apresenta a aplicao da metodologia proposta para um FEA,

    usando para tal, os dados coletados na aciaria onde se desenvolveu a pesquisa

    prtica. A demonstrao dos resultados obtidos da anlise exergtica e a

    comparao destes com o balano de energia (Primeira Lei da Termodinmica)

    foram abordados neste captulo.

    O captulo cinco traz a anlise dos resultados obtidos e faz uma simulao para

    aumentar a eficincia do FEA utilizando-se os gases de exausto como elemento

    para pr-aquecimento da sucata.

    As concluses e recomendaes para trabalhos futuros so assuntos do captulo

    seis da presente dissertao.

    O primeiro apndice descreve os procedimentos e consideraes adotadas para

    calcular as perdas trmicas do FEA. O apndice dois apresenta a metodologia

    utilizada para avaliar as incertezas das medies e dados recebidos do FEA

    analisado. O apndice trs trata do balano trmico dos gases de exausto do FEA

    a fim de obter a temperatura final de mistura. O apndice quatro faz uma breve

    descrio do ciclo de operao do FEA, enquanto que o apndice cinco, apresenta

    as tabelas com os balanos de energia e exergia mais detalhados.

  • Captulo II

    Reviso bibliogrfica

    2 REVISO BIBLIOGRFICA

    2.1 Apresentao

    Este captulo possui duas partes distintas. A primeira parte faz uma breve descrio

    das rotas de fabricao de ao e um histrico resumido do FEA, bem como a sua

    evoluo tecnolgica ao longo de mais de um sculo desde a sua inveno. A

    primeira parte tambm fornece algumas informaes do uso desta tecnologia no

    Brasil e no mundo. A segunda parte deste captulo, finaliza com uma reviso

    bibliogrfica de alguns trabalhos desenvolvidos que utilizaram os fundamentos de

    anlise exergtica para anlise de diversos sistemas.

  • 34

    Esta reviso feita de maneira a abordar as diversas vertentes que a exergia foi

    tratada, tanto para sistemas econmicos, como para aplicaes industriais e

    ecolgicas, finalizando com trabalhos efetuados na rea siderrgica.

    2.2 Breve histrico do FEA

    O Brasil o maior produtor mundial de minrio de ferro e o segundo maior

    exportador, s ficando atrs da Austrlia. Por possuir a quarta maior reserva mundial

    de minrio de ferro, aproximadamente 6,1% das reservas mundiais (19 bilhes de

    toneladas) [4], a rota tecnolgica que prevalece no Brasil a integrada.

    A diferena fundamental entre as usinas integradas e as chamadas mini-mills (semi-

    integradas) consiste nas matrias-primas bsicas para a obteno do ao. Na rota

    integrada os minrios de ferro e o carvo mineral constituem os principais elementos

    para a produo do ao, enquanto que na rota semi-integrada as matrias-primas

    fundamentais so a sucata e a energia eltrica.

    O processo de obteno do ao via rota integrada decorre de uma srie de

    operaes de transformaes metalrgicas. Basicamente pode-se dividir em cinco

    etapas: o processo comea com a preparao das matrias-primas (minrio de ferro

    e carvo mineral) nas fases de sinterizao e coqueificao, logo a seguir, vem a

    produo do ferro-gusa e produo do ao (aciaria) e lingotamento [12].

  • 35

    O ferro-gusa, principal produto do alto-forno, obtido atravs da reduo do

    oxignio contido no minrio de ferro pela combinao do carbono contido no coque.

    Finalmente, na aciaria que se produz, refina e lingota o ao. Existem vrios

    processos para se produzir ao. Atualmente os FEAs e os conversores a oxignio

    so os mais utilizados [12] [33].

    No entanto, o uso dos FEAs tem sido mais utilizados na chamadas rotas semi-

    integradas. As usinas que operam este tipo de forno so chamadas de aciarias

    eltricas e se caracterizam por usarem ao invs do minrio de ferro como matria-

    prima, a sucata e o ferro-gusa como elementos principais para produo de ao.

    As aciarias eltricas, respondem por 33,4% de todo o ao produzido no mundo [5].

    No Brasil, estas usinas so responsveis por 7,052 milhes de toneladas de ao

    bruto produzidos, de um total de 33,583 milhes de toneladas no ano 2000 [3],

    respondendo por aproximadamente 21% da produo nacional.

    As origens do FEA remontam a 1878, quando W. Von Siemens patenteou um forno

    com dois eletrodos dispostos horizontalmente que criavam um arco indireto

    aquecendo a carga por irradiao. No entanto, esta inveno s comeou a trilhar

    uma trajetria ascendente na produo de ao no sculo XX, quando os custos com

    a energia eltrica comearam a viabilizar o uso desta tecnologia [48].

    Com a estabilizao da produo mundial de ao e a reduo da demanda, as

    dcadas de 80 e 90 caracterizaram-se pelo desenvolvimento de tcnicas que

    buscavam a reduo dos custos operacionais e aumento da qualidade do produto

    final. Neste sentido, a combinao de uso do forno como elemento fusor e do forno

  • 36

    panela, usado para o refino do ao, vem de encontro com a necessidade de

    aumento da qualidade do ao produzido [7].

    O processo de operao do FEA e do forno panela em aciarias eltricas abordado

    no Apndice IV desta dissertao. A evoluo tecnolgica do FEA ilustrada na

    Figura 2.1.

    Injeo de Oxignio

    Painis refrigerados a guaAlta potncia arcos mais longos

    Automao do processoEscria espumante

    Abbada refrigerada a gua queimadores de O2Vazamento pelo fundo

    Pr-aquecimento da sucata

    Agitao do banho metlicoEvoluo do pr-aquecimento da sucata

    Tempo de operao tap-to-tap

    Consumo especfico de energia eltrica

    Consumo especfico de eletrodos

    Injeo de Oxignio

    Painis refrigerados a guaAlta potncia arcos mais longos

    Automao do processoEscria espumante

    Abbada refrigerada a gua queimadores de O2Vazamento pelo fundo

    Pr-aquecimento da sucata

    Agitao do banho metlicoEvoluo do pr-aquecimento da sucata

    Tempo de operao tap-to-tap

    Consumo especfico de energia eltrica

    Consumo especfico de eletrodos

    FONTE: PFEIFER, H, KIRSCHEN, M. [44]

    Figura 2.1 Evoluo tecnolgica do FEA

    2.3 Reviso bibliogrfica

    Em meados da dcada de 1940, no Massachusetts Institute of Technology (MIT),

    comeou a ser utilizado o termo de disponibilidade de energia. Este termo se referia

    a real capacidade que um sistema tem de realizar trabalho. Na dcada de 1950

    introduzido na Europa por Rant o termo exergia2 [64] que foi definido como sendo a

    2 Do grego ex=para fora e ergon=trabalho

  • 37

    mxima quantidade de trabalho obtenvel por um sistema quando o fluxo de uma

    substncia conduzida de um estado inicial para um estado final [11]. Logo este

    termo rapidamente ganhou aceitabilidade global porque no exigia nenhuma

    adaptao ou traduo para outros idiomas [11].

    A exergia pode ser usada para contabilizar, com base em uma nica unidade de

    medida, os vetores energticos, insumos materiais, produtos e poluentes [60]. No

    conceito de exergia so incorporados os conceitos da Primeira e Segunda Leis da

    Termodinmica [36], [60], [29]. Alm das quantidades de energia, determinadas nos

    balanos energticos de cada processo, a qualidade da energia, isto , a

    disponibilidade de energia e as irreversibilidades geradas so consideradas na

    anlise exergtica [18].

    No entanto, apesar dos recentes desenvolvimentos, a anlise exergtica no

    usada largamente, como outros mtodos consagrados da anlise energtica. As

    razes so variadas e vo desde a desinformao geral sobre o mtodo at as

    dificuldades da obteno de dados apropriados, que de fato so bastante

    significativas [18]. Mesmo assim, muitos trabalhos tem sido desenvolvidos usando

    esta definio de potencial termodinmico em vrias aplicaes:

    9 Muitos autores aplicaram a anlise exergtica como metodologia de

    contabilizao dos fluxos energticos e de materiais das economias nacionais

    [52];

    9 A anlise de sistemas trmicos, sem dvida a grande utilizao da anlise

    exergtica para estudos e projetos, principalmente para equipamentos

    industriais e plantas de gerao trmica [36], [11], [29] e [23];

  • 38

    9 A exergia tambm foi utilizada para se desenvolver trabalhos que, a partir do

    mtodo do consumo exergtico cumulativo, realizam anlises de ciclo de vida

    com base na contabilidade exergtica dos fluxos de energia e materiais,

    incluindo poluentes [60] e [67];

    9 Aplicao em sistemas ecolgicos industriais [60], [22], [58] e [18] e sistemas

    agrcolas [42].

    Muitos autores afirmam que um processo econmico no est dirigido pela energia

    ou pelos montantes de massa utilizados mas sim pelo consumo de exergia destas

    economias [34]. Vrios autores [17] [25] [67] apontam que o desenvolvimento

    sustentvel est em comum acordo com a necessidade das economias em fornecer

    mais servios usando menos recursos. Reduzir o consumo de exergia de uma

    economia equivalente a reduzir o consumo de recursos naturais, objetivo principal

    do desenvolvimento sustentvel [34].

    A anlise de exergia aplicada a uma economia nacional como uma ferramenta

    para o planejamento energtico. Com relao economia brasileira, SCHAEFFER

    [52] desenvolveu uma anlise exergtica considerando desde a produo da energia

    at o seu uso final, tendo como ano base 1987. Este estudo revelou que existe uma

    desigualdade entre a qualidade da energia produzida e fornecida aos usurios finais

    e a qualidade requerida por estes a fim de executar os usos finais.

  • 39

    Esta desigualdade torna-se evidente quando se apresentado o indicador de 32,4%

    para a eficincia do sistema energtico brasileiro (Primeira Lei da Termodinmica) e

    de 22,8% quando se aplica a anlise de exergia sobre o mesmo sistema de

    produo. No entanto, segundo SCHAEFFER [52], estes indicadores apontam que a

    economia brasileira possui um significativo potencial para reduzir os impactos

    ambientais causados pelas ineficincias associadas a produo e uso final sem

    comprometer a qualidade dos servios exigidos.

    O grande nmero de trabalhos publicados sobre anlise exergtica referem-se a

    sistemas trmicos industriais especficos [36] [60] ou a anlise do ciclo de vida de

    uma cadeia produtiva [18]. Nesta linha de trabalhos, vrios autores tem publicado

    artigos apresentando metodologias de anlise energtica, embasados na Segunda

    Lei da Termodinmica, enfocando sistemas trmicos de gerao de energia e

    aplicaes industriais especficas, como siderurgia [34] e petroqumica [55].

    Para anlise de processos industrias, GOOL [23] prope uma metodologia que

    aplica uma srie de consideraes a serem definidas para o sucesso da anlise.

    Partindo-se dos conceitos e equaes bsicas da Termodinmica Clssica, o autor

    considera o processo operando em regime permanente, condio fundamental para

    o sucesso da anlise. Desta forma, os fluxos so considerados ou entrando no

    volume de controle ou saindo dele. Assim, a anlise termodinmica feita apenas

    usando as mudanas no volume de controle. Aps a modelagem dos fluxos de

    entrada e sada, so inseridas as irreversibilidades inerentes ao processo.

  • 40

    A modelagem de plantas trmicas baseada na anlise exergtica tambm foi

    discutida por KOTAS [29], [28] que aborda o assunto para sistema abertos e

    fechados. Neste trabalho, tambm so apresentados os conceitos da anlise de

    exergia para sistemas com reaes qumicas. Na segunda parte do trabalho, o

    conceito de exergia usado para definir os critrios de performance de uma planta

    trmica operando em estado contnuo e no-contnuo com reaes qumicas.

    Com relao a otimizao de plantas trmicas, CHEJNE et al. [15] apresenta uma

    metodologia para anlise termo-econmica, apresentando como estudo de caso

    uma planta de cogerao operando em ciclo combinado. O autor aplica algumas

    regras para definir o custo unitrio da exergia perdida devido s irreversibilidades de

    um sistema de cogerao. A otimizao termo-econmica da planta, realizada

    utilizando um conjunto de regras que buscam minimizar a funo objetivo custo,

    associada a regras ambientais e regulamentaes governamentais.

    Uma aplicao clssica da anlise exergtica tem sido as plantas de gerao

    trmica. Neste tipo de aplicao, diversos autores [31] [37] [32] exploraram os

    fundamentos de anlise exergtica para fundamentar avaliaes de viabilidade

    tcnica e econmica alm de determinar as perdas de exergia do processo [59].

    As anlises exergticas em plantas de co-gerao e gerao tambm foram

    utilizadas a fim de se obter ganhos maiores em eficincia no processos de

    combusto [62] [57] e reaproveitamento de rejeitos, como CO2, para sistemas de

    pr-combusto [19].

  • 41

    O uso da anlise exergtica para avaliar a eficincia de sistemas energo-intensivos

    tem mostrado ganhos favorveis no sentido de otimizao de plantas industriais.

    Muitas plantas trmicas e energeticamente intensivas, se caracterizam pela

    quantidade relativamente grande de transformaes de diferentes recursos

    energticos [39].

    Ao longo dos dois ltimos sculos, o adiantado desenvolvimento das sociedades

    industriais eram caracterizados por uma viso de que os recursos naturais (incluindo

    os energticos e de materiais dos mais diversos) seriam inesgotveis para uma

    populao (ou pelo menos para uma frao crescente dela). No entanto, a partir da

    segunda metade do sculo passado os pensamentos que serviram de base para as

    sociedades industriais esto sendo questionados se realmente estes recursos

    naturais iro suportar o contnuo crescimento de uma produo macia de bens de

    consumo em longo prazo.

    Este questionamento serve de base para outra vertente de estudos que utilizam a

    anlise exergtica como ferramenta de anlise: as questes ecolgicas [58] e

    desenvolvimento sustentvel [67] [22] e [17].

    Nesta linha de pensamento GORAN e GONG [67] [22] publicaram trabalhos onde

    defendem conceitos para um desenvolvimento sustentvel, traando condies, em

    termos de causa e efeito das emisses. As emisses e poluentes, so consideradas

    como fluxos com diferenas de potencial termodinmico dentro do meio ambiente

    [67] e assim, so feitas anlises de exergia para os processos industriais de

    produo at o seu consumo final [22].

  • 42

    Com relao indstria siderrgica, diversos trabalhos foram publicados utilizando a

    anlise exergtica sob diferentes enfoques: princpios de ecologia industrial [18] e

    anlise do ciclo de vida do ao [34], comparao das eficincias energticas das

    vrias tecnologias empregadas na fabricao do ao [8], e anlises de processos

    localizados da eficincia de fornos [10].

    Por possuir uma grande reserva de minrio de ferro, o Brasil privilegia a rota

    integrada para produo de ao. Sabe-se que os processos de produo integrados

    convencionais, que incluem coqueria, alto-forno e aciaria a oxignio, so mais

    poluentes que os processos semi-integrados que utilizam ferro-gusa e sucata em

    FEAs.

    Desta forma, COSTA [18] investiga os aspectos ambientais de diferentes rotas de

    produo de ao. Para isto, o autor optou por privilegiar as emisses atmosfricas

    em razo de sua importncia na caracterizao do perfil ambiental da indstria.

    Neste trabalho apresentada uma metodologia, baseada em lgebra matricial, para

    simular os fluxos de energia e materiais, com enfoque nos fatores de emisses

    atmosfricas, determinando quatro nveis de emisso para cada etapa de produo

    de ao, assim como a incluso das emisses de outras etapas que no se localizam

    nas plantas siderrgicas. Por intermdio do mtodo de Anlise de Ciclo de Vida,

    foram calculadas as emisses para cada um dos processos de produo.

    Seguindo a mesma linha, MICHAELIS et al. [34] comparam a eficincia exergtica

    com que as matrias-primas (minrio de ferro e energticos) so convertidas em

  • 43

    produtos com valor agregado (ao) em pases como Japo, Itlia e Brasil, alm das

    indstrias semi-integradas da Turquia. O referido trabalho tambm utiliza a exergia

    para fazer a anlise do ciclo de vida do ao oriundo das vrias tecnologias

    empregadas.

    BISIO [8] utiliza a anlise exergtica para explorar a eficincia energtica dentro da

    indstria do ao e fundio do ferro analisando as possibilidades de otimizao dos

    processos em basicamente trs pontos:

    9 Destacando o papel importante do uso da sucata ao invs de produzir ao

    novo (processo integrado de beneficiamento do minrio de ferro);

    9 Avaliao do alto potencial de recuperao da energia trmica descartada,

    principalmente nos fornos operando oxignio para pr-aquecimento de

    cargas;

    9 Avaliando a possibilidade de utilizao destes gases para cogerao de

    energia eltrica e trmica.

    A aplicao da anlise exergtica para estudos de FEAs, apesar das poucas

    referncias nessa aplicao, tem mostrado um grande potencial de eficincia

    energtica e recuperao de rejeitos como gases e poeiras de exausto [8] [11] e

    [9].

    Os balanos que procuram avaliar a disponibilidade de energia em uma aciaria

    eltrica, mostram os potenciais fluxos de energia que esto sendo desperdiados e

  • 44

    indicam alternativas para aumentar a eficincia do processo e reduzir o consumo de

    energia alm das emisses atmosfricas.

    Neste captulo foi apresentado um breve histrico do FEA e sua evoluo. Foram

    citados tambm, alguns trabalhos publicados que utilizaram o potencial

    termodinmico exergia para anlise de sistemas industriais e cadeias produtivas.

    O prximo captulo trata dos fundamentos de termodinmica e do conceito de

    exergia, em particular, a fim de possibilitar o entendimento da anlise proposta neste

    trabalho.

  • Captulo III

    Fundamentos de anlise exergtica

    3 FUNDAMENTOS DE ANLISE EXERGTICA

    3.1 Apresentao

    As anlises energticas, com base na aplicao da 1a Lei da Termodinmica, tm-se

    constitudo numa das ferramentas mais utilizadas para avaliao da eficincia de

    sistemas trmicos. No entanto, este tipo de anlise como no considera capacidade

    de realizar trabalho carece de uma avaliao da qualidade da energia envolvida no

    processo.

    Para melhor compreender esta anlise, os fundamentos da Primeira e da Segunda

    Lei da Termodinmica so apresentados neste captulo servindo como

    embasamento terico para as definies da propriedade termodinmica exergia, ou

  • 46

    disponibilidade de energia. Sero abordadas tambm as anlises de eficincia

    energtica e exergtica para sistemas abertos.

    3.2 Primeira Lei da Termodinmica

    A Primeira Lei da Termodinmica, tambm conhecida como Lei da Conservao de

    Energia, estabelece que durante um ciclo qualquer percorrido por um sistema, a

    integral cclica do calor proporcional a integral cclica do trabalho [65], conforme

    descrito pela seguinte expresso:

    WQ Equao 3.1

    Para muitos processos, o interesse maior pode estar nas mudanas de fase

    ocorridas, do que propriamente no ciclo. Para se analisar este processo deve-se

    considerar a propriedade energia E.

    Considerando o ciclo percorrido por um sistema qualquer, como mostrado no

    diagrama Presso x Volume da Figura 3.1, onde ocorre uma mudana do estado 1

    para o estado 2, descrito pelo processo A e uma mudana do estado 2 para o estado

    1, pelo processo B, tem-se que:

    +=+ 22

    2

    1

    2

    2

    2

    1BABA WWQQ Equao 3.2

  • 47

    Figura 3.1 Ciclo para demonstrao da propriedade energia

    Ainda com relao ao ciclo descrito na Figura 3.1, porm considerando o sistema

    mudando do estado 1 para o estado 2 pelo processo C e voltando ao estado 1 pelo

    processo B, a descrio da igualdade de calor e trabalho ser:

    +=+ 22

    2

    1

    2

    2

    2

    1BCBC WWQQ Equao 3.3

    Subtraindo-se as igualdades, tem-se que:

    = 21

    2

    1

    2

    1

    2

    1CACA WWQQ Equao 3.4

    ou

    ( ) ( ) =2

    1

    2

    1CA WQWQ Equao 3.5

    Sendo que A e C representam processos arbitrrios entre os estados 1 e 2, pode-se

    concluir que a quantidade ( )WQ a mesma para todos os processos entre estes estados [65].

    V

    P

    1

    2

    C

    B

    A

  • 48

    Disto, pode-se concluir que ( )WQ depende apenas do estado inicial e final do processo e no depende do caminho percorrido entre os dois estados. Assim

    ( )WQ uma diferencial total de uma funo de ponto e, portanto, uma diferencial de uma propriedade do sistema, que chamada de energia do sistema

    [65].

    dEWQ = Equao 3.6

    WdEQ += Equao 3.7

    Deve ficar claro que E, representa a energia no s do sistema, mas tambm de

    suas vizinhanas. A vantagem disto poder formular as equaes termodinmicas

    de estado referindo-se a um sistema perfeitamente definido. Este procedimento,

    possibilita focalizar a ateno sobre o processo em particular [56].

    Fisicamente a energia E de um sistema pode se apresentar sob mltiplas maneiras,

    como energia cintica e potencial, energia de movimento das molculas e energia

    associada estrutura dos tomos, conforme mostra a equao 3.8. Na prtica

    termodinmica, a energia cintica e potencial so consideradas separadamente,

    enquanto que as outras, so consideradas como energia interna do sistema (U)

    [65].

    )()( pc EdEddUdE ++= Equao 3.8

  • 49

    Particularmente, a energia interna de um sistema no inclui qualquer energia que ele

    possa ter em conseqncia da sua posio ou movimento e est associada somente

    ao estado termodinmico do sistema [65]. Ela se refere energia das molculas das

    substncias que constituem o sistema. Supe-se que as molculas de qualquer

    substncia esto em incessante movimento e possuem energia cintica de

    translao, rotao e de vibrao. A adio de calor substncia aumenta esta

    atividade molecular e com isso, provoca um aumento da sua energia interna [56]. As

    energias cintica e potencial esto associadas ao sistema de coordenadas alm de

    poderem ser determinadas pelos parmetros macroscpicos de massa, velocidade e

    acelerao [65].

    Assim, a primeira lei da termodinmica para mudana de estado de um sistema,

    pode ser escrita como:

    WEdEddUQ PC +++= )()( Equao 3.9 onde:

    )(

    2

    12

    2

    zzgmE

    velmE

    P

    C

    =

    = Equao 3.10

    Quando o sistema passa por uma mudana de estado, a energia pode cruzar a

    fronteira na forma de calor ou trabalho e cada uma destas formas de energia pode

    ser positiva ou negativa.

  • 50

    A variao lquida de energia de um sistema ser igual a transferncia lquida de

    energia que cruza a fronteira do sistemas [65]. Desta forma existem duas maneiras

    que a energia pode ser transferida na fronteira de um sistema, por calor ou trabalho.

    Com relao a transferncia de massa, quando a fronteira no permite a

    transferncia de matria entre o sistema e suas vizinhanas, este chamado de

    fechado, e a sua massa necessariamente constante [56].

    3.2.1 Entalpia

    Como visto anteriormente, quando um sistema sofre uma mudana de estado, este

    executa um trabalho e absorve uma certa quantidade de calor.

    Considerando o sistema mostrado na Figura 3.1, sofrendo uma mudana de estado

    1 para 2 e considerando que este processo fornea uma quantidade de calor ao

    sistema, enquanto este executa uma expanso de volume, a expresso que define o

    trabalho dada por:

    = 21

    .dvPW Equao 3.11

    De acordo com a Primeira Lei da termodinmica, possvel relacionar a energia

    interna do sistema U com os valores de Q e W: para um processo finito:

  • 51

    WQU = Equao 3.12

    Desta forma, para a mudana de estado considerada, tm-se que para o trabalho

    positivo realizado pelo sistema:

    VPQU = . Equao 3.13

    VPUQ += . Equao 3.14

    Onde, para a mudana de estado 1 para 2 tm-se:

    ( ) ( )1122 .. VPUVPUQ = Equao 3.15

    Como U, P e V so funes de estado, existe uma propriedade que satisfaz a

    relao:

    VPUh .+= Equao 3.16

    Esta propriedade, cuja variao depende somente do estado inicial e final da

    mudana de estado chamada de entalpia e mede o contedo calorfico do sistema

    ou de um elemento [53].

    Como nos processo metalrgicos a maior parte ocorre presso constante, a

    variao de calor pode ser simplificada conforme a seguinte expresso:

  • 52

    hhhQ == 12 Equao 3.17

    3.3 Segunda Lei da Termodinmica

    Enquanto que a Primeira Lei da Termodinmica trata da conservao de energia, a

    Segunda Lei da Termodinmica refere-se ao sentido direcional em que a energia

    calorfica flui em um sistema, isto , o calor no pode fluir espontaneamente de um

    corpo mais frio pra um corpo mais quente.

    Assim, a Segunda Lei afirma se um processo possvel ou no de acontecer na

    prtica. Alm disso, mostra que no h uma equivalncia total entre trabalho e calor

    e estabelece uma srie de relaes para os sistemas termodinmicos [64]. Algumas

    consideraes podem ser feitas para melhor entendimento da Segunda Lei:

    9 O fluxo de calor sempre ser de um corpo de temperatura mais alta para outro de temperatura inferior; isto quer dizer que se dois corpos de temperaturas diferentes forem colocados em contato, um esfria e o outro aquece, de tal forma que a energia total do sistema se conserva [64].

    9 Por outro lado, no possvel construir uma mquina ou um dispositivo

    trmico que opere continuamente, recebendo calor de uma nica fonte e produza uma quantidade equivalente de trabalho; essa condio mais abstrata que a primeira, mas pode ser testada na prtica [64].

    A essncia do segundo princpio o carter direcional da transferncia de calor e a

    qualidade da energia (capacidade de produzir trabalho), ou seja, medida que se

    transforma em outras formas existe uma degradao, no entanto, existe a

    conservao de energia, conforme a Primeira Lei da Termodinmica [64].

  • 53

    3.3.1 Entropia

    O conceito de entropia surge das condies restritivas s transferncias de calor de

    um sistema e permite prever a evoluo deste sistema de um estado para outro [64].

    De forma mais simples, a entropia uma medida da desordem termodinmica do

    sistema e para sistemas isolados a entropia nunca diminui, isto : 0S .

    No entanto, o conceito de entropia bem mais abrangente. Para sistemas trmicos

    operando de forma cclica, a entropia pode ser entendida como sendo uma restrio

    imposta pela natureza, isto , uma espcie de pedgio que a natureza cobra. Assim,

    para exemplificar, pode-se considerar a seguinte reao de combusto:

    OHCOOCH 2224 22 ++

    Esta reao exotrmica, isto , libera calor para o ambiente. Para que ela ocorra

    no sentido contrrio, de tal forma que os produtos sejam o 4CH e 2O , necessrio

    que seja adicionada uma quantidade bem maior de energia do que na combusto. A

    esta quantidade de energia, a cada unidade de massa por variao de temperatura,

    d-se o nome de entropia.

    Para melhor compreender este conceito, Clausius mostrou que num ciclo a razo

    entre a variao de calor pela temperatura sempre menor ou igual a zero, isto :

  • 54

    0 TdQ Equao 3.18

    Esta condio, conhecida como desigualdade de Clausius, para mquinas

    reversveis possui valor zero e para mquinas reais o valor sempre negativo.

    Desta forma, considerando a condio da desigualdade, para um dispositivo trmico

    operando de forma cclica entre dois estados termodinmicos diferentes, conforme

    ilustrado na Figura 3.2, a entropia dada por:

    TQSS x12 Equao 3.19

    Figura 3.2 Ciclo trmico com dois estados

    A igualdade vlida para processos reversveis ou ideais. A desigualdade vlida

    para os processo irreversveis ou reais.

    Reservatrio de alta temperatura

    Reservatrio de baixa temperatura

    Wtil

    Qx

    Qy

    Reservatrio de alta temperatura

    Reservatrio de baixa temperatura

    Wtil

    Qx

    Qy

  • 55

    Para sistemas onde existem entradas e sadas (sistemas abertos), como o ilustrado

    pela Figura 3.3, o aumento da entropia dado pela seguinte expresso:

    0.. += sada entradai i

    i smsmTQ

    dtdS Equao 3.20

    onde os termos T1 a T5, representam, respectivamente:

    9 T1 representa a taxa de gerao de entropia no volume de controle;

    9 T2, em regime permanente igual a zero, pois representa a variao de

    entropia ao longo de dt (estado estacionrio);

    9 T3 o aumento de entropia devido ao fluxo de calor que entra e sai do volume

    de controle;

    9 T4 representa o fluxo de entropia que na sada do volume de controle;

    9 T5 representa o fluxo de entropia que na entrada do volume de controle [64].

    T1 T2 T3 T4 T5

    Entrada de propriedades term mic entalpia,

    ntrop .

    Calor ou Trabalho de entrada

    Sada de propriedades termodinmicas: entalpia,

    entropia, ...Entrada de propriedades term mic entalpia,

    ntrop .

    Calor ou Trabalho de entrada

    Sada de propriedades termodinmicas: entalpia,

    entropia, ...odine

    odineFas: ia, ..as: ia, ..igura 3.3 Balano de entropia em sistemas abertos

    Calor ou Trabalho

    de sada

    Calor ou Trabalho

    de sada

  • 56

    3.3.2 Irreversibilidades

    Todos os processos encontrados na natureza tm algum grau de irreversibilidade.

    Os processos que no geram atrito e transferncias de calor so possveis somente

    no plano ideal [64]. Todos os processos irreversveis podem ser identificados por

    trs caractersticas bsicas:

    9 Acontecem espontaneamente e em um nico sentido;

    9 Durante a transformao h sempre dissipaes de energia;

    9 Para que a transformao ocorra no sentido inverso necessrio a introduo

    de energia.

    Para que um sistema esteja produzindo trabalho, o clculo das irreversibilidades

    pode ser realizado pelo balano exergtico.

    realrev WWI = Equao 3.21

    Na equao anterior, o trabalho reversvel deve ser entendido como o mximo

    trabalho que pode ser alcanado por um dispositivo que interage com o meio a T0.

    No entanto, deve-se ficar claro que para um sistema real, com as mesmas

    mudanas de estado ilustradas pela Figura 3.2, as taxas de transferncia de calor

    (Qx e Qy ) de cada reservatrio trmico, no produziro a mesma quantidade de

    trabalho pois o sistema real no reversvel. Assim, o trabalho Wrev, um limite

    terico superior, definido para uma situao ideal e serve como parmetro de

  • 57

    referncia para avaliar os sistemas reais. Para um volume de controle em regime

    permanente Wrev definido pela seguinte equao.

    ( ) ( ) ++++=entrada

    pcsada

    pcrev EEsThmEEsThmW .. 00 Equao 3.22

    onde:

    9 O termo T1 o somatrio do produto da massa de sada (ou vazo para caso

    de fluxo) do volume de controle pela energia calorfica disponvel (h) menos a

    poro de calor Q no disponvel pela interao como o ambiente (Tos) mais a

    energia cintica e potencial.

    9 O termo T2 representa o somatrio do produto da massa que entra no volume

    de controle (ou vazo de entrada para caso de fluxo) pela energia calorfica

    disponvel (h) menos a poro de calor Q no disponvel pela interao como

    o ambiente (Tos) mais a energia cintica e potencial.

    O significado da diferena entre o trabalho reversvel e o trabalho real a

    irreversibilidade. Como o tr lho reversvel pos o e sempre maior que o

    trabalho real, em mquinas p

    positiva.

    Pode-se calcular a irreversibi

    T1 T2 abarodutoras de potncia,

    lidade tambm pelo teoreitiva irreversibilidade ser sempre

    ma de Gouy/Stodola [64]:

  • 58

    .0

    TI = Equao 3.23

    onde a taxa de gerao de entropia, em KJ/mol-1 K-1 e T0 a temperatura

    ambiente.

    Com o aumento de entropia e a temperatura de referncia, pode-se calcular qual

    ser a dissipao ou a irreversibilidade gerada no processo. Se o sistema

    consumidor de trabalho, a diferena entre o trabalho real e o trabalho mximo

    tambm ser positiva. Portanto, a irreversibilidade ser sempre positiva para

    qualquer que seja o sistema trmico de gerao ou consumo de potncia, desde que

    a temperatura de operao seja maior que a ambiente.

    Segundo TORRES [64], a irreversibilidade pode ser dividida em duas parcelas

    principais:

    9 Evitvel;

    9 Intrnseca.

    aIntrnEvitvel III sec+= Equao 3.24

    As irreversibilidades evitveis podem ser minimizadas, mas para isso necessita-se

    fazer um estudo de otimizao do processo.

    As irreversibilidades intrnsecas so provenientes das reaes qumicas

    descontroladas e das trocas trmicas dos trocadores de calor, etc., mas dificilmente

    so convertidas em exergia.

  • 59

    3.4 Exergia

    Sendo a energia uma propriedade de um sistema de acordo com a Primeira Lei da

    Termodinmica, e esta no podendo ser destruda (conservao de energia), tem a

    cada transformao uma parte perdida, isto , uma parcela que no utilizada para

    trabalho. Desta forma, RANT [60] , props a palavra Anergia para denominar a parte

    da energia que no pode ser aproveitada. Assim, pode-se descrever que a energia

    a soma da parcela de tudo aquilo que pode ser aproveitado (exergia) mais a parcela

    que no pode ser utilizada (anergia), como resume a seguinte equao:

    Energia=Exergia+Anergia Equao 3.25

    Para RANT [60], a exergia a parte da energia que pode ser convertida em

    qualquer outra forma de energia, isto , a parcela que pode ser transformada em

    calor ou trabalho.

    Para calcular a exergia de um sistema, necessrio definir uma referncia para que

    se possa avaliar o mximo trabalho possvel de ser realizado por um sistema [36].

    Desta forma, pode-se tambm definir exergia como sendo uma medida do grau de

    afastamento entre o sistema e seu meio ambiente ou estado de referncia3. Esta

    medida significa o trabalho mximo que pode ser obtido do sistema em sua

    interao com o ambiente at o equilbrio [29].

    3 Conceito de meio ambiente usado em exergia necessita que este esteja em perfeito estado de equilbrio termodinmico, ou seja, no pode apresentar variaes de presso ou temperatura [36].

  • 60

    Segundo SZARGUT [60] e KOTAS [29] a exergia pode ser dividida em quatro partes,

    que so ilustradas na Figura 3.4

    9 Cintica;

    9 Potencial;

    9 Fsica ou Termomecnica;

    9 Qumica.

    Adaptado de Szargut [60] apud [64]

    Figura 3.4 Diviso da exergia

    Segundo KAEHLER [26], as exergias cintica e potencial, podem ser agregadas

    para conformar as exergias geofsicas e a exergia trmica (termomecnica e

    qumica), funo interna da matria, formando a exergia bio-fsico-qumica.

    Desta forma, ao se romper o equilbrio das exergias relativas matria (exergia

    qumica e termomecnica), est se produzindo, ou consumindo energia e gerando

    irreversibilidades para o meio ambiente.

    Conforme mostra a figura anterior, a exergia pode ser decomposta:

    Exergia Total Exergia

    Termomecnicaou Fsica

    Exergia Trmica

    Exergia Potencial

    Exergia Cintica

    Exergia Potencial

    Exergia Cintica

    Exergia Qumica

    TP

    QumicaReferencial

    Exergia Total Exergia

    Termomecnicaou Fsica

    Exergia Trmica

    Exergia Potencial

    Exergia Cintica

    Exergia Potencial

    Exergia Cintica

    Exergia Qumica

    TP

    Qumica

    Exergia Total Exergia

    Termomecnicaou Fsica

    Exergia Trmica

    Exergia Potencial

    Exergia Cintica

    Exergia Potencial

    Exergia Cintica

    Exergia Qumica

    TP

    QumicaReferencial

  • 61

    TrmicaPotencialCintica ++= Equao 3.26 onde:

    QumicaicaTermomecnTrmica += Equao 3.27 PTicaTermomecn += Equao 3.28

    Desta forma, a exergia pode ser escrita como:

    QumicaPTPotencialCintica ++++= Equao 3.29

    As exergias cintica e potencial equivalem s energias cintica e potencial, pois, a

    princpio, podem ser totalmente convertidas em trabalho [36]. Desta forma, as

    exergias potencial e cintica, em termos especficos so respectivamente,

    apresentadas pela Equao 3.30:

    zgm e velm PotencialCintica ..2

    .2

    == Equao 3.30

    Quando se trata de anlise de sistemas trmicos, estes componentes de exergia

    geralmente tm valor nulo, pois na maioria dos casos, o sistema est em repouso e

    as diferena de altura so desprezveis.

    A exergia fsica ou termomecnica definida como sendo a mxima quantidade de

    trabalho possvel de se obter quando um sistema ou fluxo de uma substncia passa

    de estado inicial (P e T) ao estado de referncia (Po e To). Segundo KOTAS [29], esta

  • 62

    disponibilidade de trabalho acontece por processos fsicos envolvendo somente

    interaes de presso e temperatura com o meio ambiente.

    Quando a presso e a temperatura do sistema se igualam com o meio ambiente,

    afirma-se que esse o Estado Inativo Restrito (Estado Morto), e, portanto, no tem

    mais capacidade de transformar trabalho ou calor [64].

    Desta forma a exergia fsica uma propriedade do sistema e tambm do meio

    ambiente. Quando se define um volume de controle, a exergia o mximo trabalho

    que se pode obter saindo das condies iniciais at a condio do estado morto, ou