a notícia como forma de conhecimento

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Trabalho para a disciplina de Sociedade e Comunicação sobre o livro de P. Esteves, abordando o tema da notícia como forma de conhecimento.

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Page 1: A notícia como forma de conhecimento

Universidade da Beira Interior

Ciências da Comunicação

Sociedade e Comunicação

Docente: José Geraldes

Trabalho Realizado por:

Mário Matos, nº18672

Page 2: A notícia como forma de conhecimento

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I. Introdução

Este trabalho, realizado no âmbito da disciplina de Sociedade e comunicação pretende aprofundar o

tema das notícias como forma de conhecimento, de que forma de constituem como tal, destacando a

crescente importância do papel das notícias na sociedade e como são encarados os factos e

acontecimentos dados a conhecer pela peça jornalística que é a notícia.

Parte deste trabalho teve como base o capítulo “As notícias como uma forma de conhecimento: um

capítulo na sociologia do conhecimento”, do livro “Sociedade e Comunicação” de João Pissarra Esteves.

II. Desenvolvimento

Dois tipos de conhecimento

Podem ser distinguidos dois tipos fundamentais de conhecimento: “familiaridade com” e

“conhecimento sobre”.

Estes dois tipos de conhecimento são relativos, da forma como utilizados pela mente humana.

Ambos podem ser considerados conhecimento sobre, quando comparados com uma ideia elementar,

ou familiaridade quando semelhante a um pensamento mais trabalhado, difícil.

“Conhecimento sobre” e “familiaridade com” são duas formas distintas de conhecimento, não o

mesmo tipo de saber com graus de dificuldade e precisão distintos.

“Familiaridade com”

“Familiaridade com” é a forma de conhecimento adquirida na vida quotidiana através do convívio

com familiares, amigos e todos aqueles com quem contactamos na sociedade da qual fazemos parte,

uma sabedoria retida dos costumes e não empiricamente verificada, uma espécie de senso comum. Este

conhecimento facilita a familiarização de cada indivíduo no mundo em que vive.

Além do senso comum se poder considerar outras três formas de “familiaridade com”:

conhecimento clínico (produto da experiência pessoal), conhecimento técnico e o conhecimento

proveniente da experimentação inconsciente e indirecta.

Neste último subgénero poderemos incluir o conhecimento sobre a natureza humana, isto porque

construímos um conjunto de ideias de forma intuitiva, na medida em que as próprias acções dos

indivíduos são muitas vezes controladas por mecanismos inconscientes que nem o sujeito autor de tais

actos controlou o que concretizou. Este conhecimento está associado a uma rotina e possivelmente a

instintos, como se de uma memória racial se tratasse. É neste sentido que podemos, se é que é correcto

fazê-lo, apelidar este conhecimento de segredo individual ou racial, conforme diga respeito a um só

elemento de uma comunidade ou a toda a humanidade. No entanto, este ponto é facilmente

contraposto, pois o que herdamos não pode ser considerado de conhecimento, mais adequado será

dizer hábito.

Page 3: A notícia como forma de conhecimento

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Esta forma de saber tem a sua base numa gradual e lenta acumulação de experiência, levando

cada indivíduo a uma progressiva, tornando-se, assim, um tipo de conhecimento semelhante à intuição.

“Conhecimento sobre”

Forma de saber racional, sistemático e racional, baseado na observação factual dos

acontecimentos aferidos e ordenados segundo o ângulo tomado pelo investigador. É um saber que

atingiu um grau de exactidão, pela substituição da realidade e das coisas por ideias e palavras. Ideias

que são a base de todo o conhecimento, parte integrante e o princípio dos assuntos sobre os quais a

ciência trabalha.

O conhecimento científico pode, aparentemente, ser dividido em três tipos principais: a filosofia e

lógica (respeitantes primeiramente às ideias), a história (reporta-se em primeiro lugar aos

acontecimentos) e as ciências naturais (respeitam primordialmente as coisas).

A diferença mais importante saber científico e o senso comum ou conhecimento baseado na

experiência é ser comunicável. Esta comunicabilidade deve-se ao facto de os seus problemas serem

enunciados sob formas que permitem a verificação e experiência. Para tornar isto possível é necessária

a descrição metódica de todos os passos que levaram a obtenção dos resultados. Desta forma, o

conhecimento científico integra a herança social1.

Ao contrário da “familiaridade com” este tipo de conhecimento não resulta da acumulação

gradual de experiência, mas de uma pesquisa constante. Falamos de um saber que exige esforço e

metodologias científicas. Apesar disto, não deixa de ser verdade que em alguns casos a base da

investigação científica provém de determinada ideia do senso comum. Para evitar influências, o cientista

recorre à metodologia mais adequada.

O lugar próprio das notícias

As notícias não são conhecimento científico puro, estão mais próximas da história por lidarem

com acontecimentos. Apesar disso, as notícias contam uma história, não são história porque, regra

geral, tratam de acontecimentos separados e não pretendem criar relações causais ou de qualquer

outro tipo entre os acontecimentos.

Na história procede-se à descrição e organização cronológica dos acontecimentos, numa tentativa

de perceber tendências em acontecimentos futuros. Desta forma, a história trabalha no âmbito do

passado (o que sucedeu e quando) e com o futuro (estabelecendo hipóteses gerais que possam prevenir

ou melhorar dada situação que posteriormente venha a acontecer).

Contrariamente à história, as notícias como forma de conhecimento têm sua actuação num

“presente ilusório”, expressão usada como sinónimo de perecibilidade, ou seja, as notícias são datadas e

há consciência disso, mas a sua proximidade com o sucedido permite-lhe esta designação de presente

noticioso. Após a sua publicação, as notícias deixam de o ser, “passam à história”.

1Conjunto de factos e teorias testadas em constante actualização, nas quais acreditamos.

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O carácter efémero das notícias é a sua essência, mas cada género de notícia tem a sua duração,

distinta das demais. De tal forma que temos as breves, notícia, entrevistas e reportagens, podendo este

último género ter resultado de uma notícia breve e ter evoluído para o género jornalístico com maior

“prazo de duração”, no sentido em que não tem um tempo determinado exclusivo para o seu

lançamento, podendo o trabalho ser publicado mais tarde.

A opinião pública tem muitas vezes a formação a partir de uma notícia. Após a leitura, de algo de

interesse e relevância para quem o lê, gera-se uma espiral que leva a notícia a ser transmitida de

indivíduo em indivíduo até culminar na produção de um consenso colectivo, a opinião pública. Esta

unanimidade de juízos poderá colocar em causa o poder político e outras forças sociais. Estando

intimamente ligada à política e história, não é nenhuma das duas. No entanto, serve de igual forma os

seus propósitos, com o seu material (a notícia, a informação) torna possível a actuação política e

histórica.

Valores notícia, autenticação da informação e o seu papel na sociedade

A escolha da notícia tem por base, acima de tudo, o imprevisto e o inesperado. Tudo aquilo que

represente uma fuga à rotina e quotidiano é susceptível de ser noticiado, assumindo assaz importância a

necessidade de o jornalista estar atento a sociedade que o rodeia, sob pena de deixar fugir um

acontecimento que se afigure como importante, excitante e entusiasmante para os seus leitores. A

importância da notícia dependerá, assim, não do valor intrínseco do acontecimento mas do valor notícia

atribuído pelo jornalista, tendo em conta as expectativas e tipo de leitores da sua publicação. A

confirmá-lo, o lugar-comum de que notícia é “o homem que mordeu o cão” e não o contrário, dado que

aquele é que foge à regra.

Na validação de veracidade, o facto de haver circulação espontânea da informação publicada é

uma das características que distingue de outro tipo de conhecimentos semelhantes, como o rumor. Esta

acumula-se com a publicação dos relatos numa publicação que valide a exposição das notícias à análise

crítica da opinião do público a quem se dirigem directa ou indirectamente os dados.

A utilização de fontes citadas é outro mecanismo de autenticação da notícia, bem como a citação

de locais, horas e nomes, que permitem ao leitor interessado deslocar-se ao local e verificar se os factos

transmitidos são os correctos, concretizando a verificação empírica.

A notícia é feita de valores distintos consoante a publicação e alvo desta. Neste sentido, cada

editor recorre a critérios distintos para escolher o que pode ser noticiado, concretizando o facto de os

valores notícia serem relativos. Aqui, adquirem maior importância acontecimentos que o público está

preparado para receber e o contrário, sendo a proximidade o mais respeitado pelos responsáveis, como

é o caso dos órgãos de imprensa regional que têm em conta assuntos nacionais adaptados às

repercussões que podem vir a gerar na comunidade local, ou a pequenos acontecimentos que não

seriam notícia, por exemplo, no âmbito nacional.

As notícias são, assim, num sentido limitado do conceito, limitadas a acontecimentos e

modificações fulminantes que acarretam consequências para alguns actores sociais, no sentido

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sociológico2 do termo. A morte de figuras públicas, terrorismo, decisões governamentais, desporto,

cultura e outros factos que foram veiculados pelos mass media e posteriormente entraram na esfera do

debate e reflexão dos leitores destes, passando a adquirir um novo significado, de acontecimento que

tende a ser recordado. Desta forma, deixa de existir como notícia a partir do momento que e publicado

e passa a constituir uma forma de conhecimento não só para base da sociologia, como da história e

visível em várias manifestações culturais, como a música, literatura ou cinema, contribuindo para as

ciências sociais e humanas, como é o caso do suposto “arrastão de Carcavelos”3, estudado

posteriormente e gerador de diversos documentos que analisam a actuação dos meios de comunicação

e a posição de diversas personalidades face ao que foi veiculado pelos media.

Validade e verdade do conhecimento

Teorias sobre o conhecimento há muito que existem, concretamente desde Parménides e talvez

antes. Apesar disso, estas centravam-se na verdade e validade do conhecimento enquanto ideal,

esquecendo o conhecimento em concreto, na verdadeira acepção da palavra. Actualmente, o que a

sociologia pretende é precisamente perceber quais as condições do aparecimento dos diferentes tipos

de conhecimento e as suas funções.

As ciências exactas surgiram após o Renascimento. Até essa data, havia somente o mito, lendas e

magia. Actualmente, a precisão científica é uma das características das ciências. As notícias, avaliadas

nestes parâmetros, como forma de conhecimento, podem analisar-se sob o ponto de vista limitado da

circulação das notícias., isto é, à medida que aumenta a tensão e não se mantém gradualmente a

imposição deste sentimento, os limites de interesse de cada indivíduo diminuem e a quantidade de

acontecimentos a que pode responder decresce. Sendo o despertar da atenção um dos papéis das

notícias, é o papel dos líderes dos media manterem o interesse pelos factos, não mastigando os

assuntos, massacrando os leitores.

Papel das notícias na economia

Referido que foi o papel das notícias na política e história, será agora relevante realçar a

importância destas no mundo económico. A sua função é sobretudo canalizada nas relações

económicas, dado que é com base nas notícias veiculadas nos mass media que títulos e dinheiro

adaptam os seus valores.

Os preços variam com os acontecimentos. No caso da flutuação constate do valor do petróleo nos

mercados mundiais, afectando a economia global da energia, é exemplo das catástrofes que assombram

as sociedades. Neste ambiente, o papel das notícias é orientar o indivíduo na sociedade, preservando a

sanidade deste e garantindo o funcionamento em pleno no mundo actual.

2 Neste sentido, pode designar todo aquele que faz parte e pode ou não participar na sociedade, sendo única

obrigatoriedade pertencer a uma dada comunidade, partilhando voluntaria ou involuntariamente valores, crenças e ideologias com legitimidade entre os seus pares, sgn. restantes elementos do seu espaço social. 3 Em www.eraumavezumarrastao.com podemos verificar que efectivamente não houve arrastão. Este facto é

posteriormente analisado por diversos autores, que defendem a teoria da manipulação e poder dos media como principais causadores da “bola de neve” gerada em torno do acontecimento, e as abordagem deformadas veiculadas pelos meios de comunicação.

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Desenvolvimento dos media e importância das notícias na sociedade

O crescimento e alargamento do espaço ocupado pelos meios de comunicação social contribui

diariamente para a acumulação de conhecimento, fornecendo bases e factos passíveis de serem

analisados sob diversos prismas, como é confirmado pelos mais distintos especialistas nas diferentes

áreas que comentam e dissertam sobre os acontecimentos e constroem conhecimento em torno de um

facto noticiado. A finalidade é a facilidade de compreensão e tornar o acontecimento mais familiar e

próximo do leitor.

A expansão dos media permite a qualquer pessoa, em qualquer lugar, tomar conhecimento, não é

ao acaso que utilizo esta expressão, e participar nos acontecimentos, quanto mais não seja ouvindo,

lendo ou mesmo visualizando o sucedido. Os discursos de políticos, mensagens de figuras públicas

proeminentes na sociedade perante o público são actos que transmitem uma certa proximidade ao

espectador, no caso da política, o facto de serem “publicitadas”4 as decisões revela a importância

adquirida pelas notícias numa sociedade que passou de industrial a sociedade de informação.

Nas sociedades actuais, as notícias assumem um papel de crescente importância em comparação

como outras formas de conhecimento como a história. As modificações ocorridas nos últimos anos são

tão fulminantes que o carácter histórico perdeu uma certa importância, ganha pela informação

noticiosa que veio concretizar o “presente ilusório”5.

As circunstâncias históricas parecem ter-se alterado e a rapidez não é acompanhada por esta

disciplina “em tempo útil”6, servindo o jornalismo em todos os seus géneros, mas nas notícias em

especial, como material de trabalho para as análises históricas, muito em parte pelo carácter

documental e explicativo com que a profissão de informar encara os acontecimento e a facilidade e

simplicidade com que transmite os factos, dado as suas comunicações terem o objectivo de serem

compreendidas por um público heterogéneo que tem o direito de ser bem informado seja qual for o

assunto ou carácter inerente subjectivo7.

III. Conclusão

De forma resumida, podemos afirmar que a notícia é, sem dúvida uma forma de conhecimento,

diferente do conhecimento histórico ou científico, mas um saber que descodifica, simplifica e apresenta

a um público heterogéneo, diversos acontecimentos com importância avaliada tendo em conta o perfil

de indivíduos a que se dirige e a sociedade em que está incluído. As notícias são uma forma de

conhecimento sim, mas um saber específico e característico do jornalismo.

4 O termo é aqui empregue no sentido de dar a conhecer a um público, mas da forma de espectáculo que rodeia o

panorama e actuação política actual levada a cabo como espectáculo onde o palco é a sociedade e os espectadores à espera do teatro são os eleitores. 5 Consultar o ponto “o lugar certo das notícias”.

6 Ao contrário das notícias em dão a conhecer o acontecimento no imediato e o tornam que deixa de ser notícia a

partir do momento em que é publicado, a história leva tempo a assimilar os acontecimentos e recorre muitas vezes ao carácter sintético e rápido, mas explicativos das notícias e do jornalismo para o estudo na sua disciplina. 7 Assume aqui assaz importância a máxima de simplicidade do jornalismo, que “traduz para português” as

linguagens complicadas e por vezes imperceptíveis de determinados assuntos, como a ciência em geral ou a medicina em particular. Para informar todos os públicos deve fazer-se compreender pelo mais iletrado e info-excluido dos indivíduos.