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Textos jornalísticos de Eça de Queirós: o jornalismo oitocentista olhado peloescritor/jornalista

Autor(es): Peixinho, Ana Teresa

Publicado por: Imprensa da Universidade de Coimbra

URLpersistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/36688

DOI: DOI:http://dx.doi.org/10.14195/1647-8622_7_1

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Textos JornaHsticos de E~a de Queir6s: o jornalismo oitocentista olhado pelo escritor/jornalista

Ana Teresa Peixinho

PEIXINHO, Ana Teresa - "TexlOsjornalfsticos a jomalismo oitocentista olhado pelo escritor/'iomalista."

In: Estudos do Seculo XX, n.0 7 (2007), p.

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Ana Teresa Peixinho. Mestre em Literatura Portuguesa Moderna, Assistente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, doutoranda em Ciencias da Comunicai,;ao (especialidade Hist6ria do Jomalismo), Colaboradora do Centro de Estudos Interdisciplinares do Seculo XX da Universidade de Coimbra - CEIS20.

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1. Considera~oes Previas

Reflectir sabre os tempos dos media implica, na nossa opinifo, nfo apenas pensar e aprofundar a complexidade das problematicas do jornalismo contemporaneo, mas tam­bem equaciona-las e perspectiva-las a luz da Hist6ria. Deste modo, e concordando com a maioria dos autores que identificam o seculo XIX coma a centuria que viu nascer o jornalismo moderno, ou a idade de ouro da imprensa, desenvolveremos uma reflexfo sabre alguns aspectos do jornalismo portugues oitocentista. Este olhar retrospectivo, que nos propomos ensaiar no presente artigo, ser:i desencadeado a partir de alguns textos de imprensa de E<_;:a de Queir6s que, de um modo muito peculiar, reflectem as inquieta<_;:6es do escritor face ao nova poder nascente da imprensa. Trata-se, portanto, de reler as opini6es que E<_;:a foi deixando em diversas cr6nicas jornalfsticas sabre a imprensa do seu tempo, a luz da evolu<_;:fo hist6rica do jornalismo portugues.

Para o efeito, recorreremos fundamentalmente a dais textos queirosianos: um publi­cado no fim da decada de sessenta, no jornal 0 Distrito de Evora, outro escrito em plena decada de noventa, publicado na Gazeta de Notfcias, jornal brasileiro com o qual E<_;:a colaborou durante muitos anos. 0 confronto entre estes textos permitir-nos-a perceber a evolu<_;:fo do pensamento do escritor I jornalista face a imprensa do seu tempo e, simultaneamente, captar as evolu<_;:6es a que se submeteram os jornais portugueses e europeus ao longo da segunda metade do seculo, no sentido de uma adapta<_;:ao a mode- . las importados do jornalismo anglo-americano, cujo desenvolvimento e pr:iticas se processaram desde cedo a margem do contexto europeu continental.

Sendo sobejamente conhecido o forte envolvimento do escritor com a imprensa oitocentista, esse olhar queirosiano, sempre crfrico e filtrado pela sua reconhecida ironia, permite-nos, par um lado, captar a gradual evolu<_;:ao do jornalismo portugues entre as decadas de sessenta e noventa do seculo XIX e, par outro lado, perceber as sensibilidades de um homem que, alem de grande romancista, foi tambem e de um modo muito empenhado "uma especie de jornalista", como o proprio se define'.

2. E~a de Queir6s escritor I jornalista: o destino de um homem de letras

De facto, para alem de grande romancista, E<_;:a experimentou tambem, com muita mestria, outros tipos de escrita nfo ficcional, podendo afirmar-se, com verdade, que foi igualmente um eminente jornalista do seu tempo

2• A liga<_;:ao de E<,;:a de Queir6s ao jorna-

1 Numa cr6nica publicada na Gazet.'l de 1Voticiar do Rio de Janeiro, na sec<;ao de «Ecos de Paris», entre 26

e 28 de Abril de 1894, E<;a afirma: "Nao posso por isso ser considerado suspeiro, no aprovar, como aprovo, codas as acusas:6es que, no seu discurso de receps:ao na Academia, ele desenrolou contra os jornais, contra os jornalisras, e, portanto, contra mim, que sou, a meu modo, e de um modo bem imperfeito, uma especie de

jornalisra." (In: QUEIR6S, E<;a de - Textos de Imprensa IV (da Gaz.eta de Notfcias). Edi~o Crfrica de Elza Mine e Neuma Cavalcante, Lisboa, INCM, 2002, p. 456).

2 Esta ea opiniao de muiros esrudiosos da sua obra que reservam sempre um olhar atento a faceta jornalls­tica da sua personalidade. Jaime Brasil, num anigo intitulado «E<;a de Queiroz, jornalista», considera E<;a um "jornalista de ras:a, isto e: de temperamenro, de voca<;:io, de arnor apaixonado pelo offcio; jornalisra profissional, pois durance certo periodo da sua vida s6 teve como unicos proventos os auferidos na imprensa; jornalista, vista ter exercido o mais nobre magisterio possfvel de exercer em jornais: o de crfcico; jornalista ate ao escrever

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lismo oitocentista e uma das marcas incontornaveis da sua vida e da sua obra, ja que, desde os longinquos tempos dos folhetins dominicais de Prosas Bdrbaral, publi­cados na Gazeta de Portugal entre 1866 e 1867, ate aos ultimas anos da sua vida, o escri­tor manteve uma relac_rao de grande proximidade com diversos jornais e revistas do seu tempo.

Essa relac;ao adquiriu, ao longo dos anos, perfis de diferente natureza: nuns casos, o jornal cedeu a Ec;a, como alias era comum no jornalismo da epoca4

, espac;o de publicac;ao e divulgac;fo de algumas das suas obras; noutros, serviu de suporte e de rnedium a afirma­c;ao publica de determinados posicionamentos politicos, ideologicos ou esteticos, como o prova o elenco de suas cartas publicas; finalmente, o jornalismo oitocentista enriqueceu­-se com uma vastissima colaborac;ao cronistica de Ec;a como correspondente exterior, como o demonstram as Cartas de Londres, publicadas no final da decada de setenta no jornal A Actualidade do Porto e o grande conj unto de textos com que o autor abrilhantou as paginas da Gazeta de Notfcias do Rio de Janeiro, entre 1880 e 1897.

Percorrendo transversalmente a obra de E91 de Queiros, encontramos uma frequente e assidua colabora<;io em diversos periodicos do seu tempo que nao se restringe a publica<;io, em folhetim, de romances ou cantos, uma vez que sao bastantes as pciginas de indole jornali'.stica, atraves das quais o autor trar;a o panorama critico da sociedade porruguesa, analisa friamente a situa<;ao poli'.rica do pals e do Mundo, descreve personalidades contempocineas, acompanha a evolu<;io de cenarios internacionais, trava polemicas com outros individuos, analisa a imprensa internacional, etc. Desde 1866, ano em que inicia a sua colabora<;ao semanal com a Gazeta de P01tugal ate ao final da sua vida, ~ nunca deixou de estar ligado ao jornalismo, donde retirava tambem algum proveito financeiro: a direcc;ao e edi<;ao do Disnito de Evora, em 1867; a publicac;ao em folhetins do romance epistolar 0 Mistilio da Estrada de Sintra, no Did1io de Noticias, em 1870; a redac<;io d'As Fmpas, projecto de indole reformista, partilhado com Ramalho Orrigao. Alem destas publicac;Oes e da cronistica acima referida, devemos tambem ter presente que Er;a foi o mentor e director da celebre Revista de P01tugal projecto editorial de altis.sima qualidade, com fins pedagogicos e patrioticos indiscutiveis; foi ainda colaborador da Revista Moderna, periodico publicado em Paris, entre Maio de 1897 e Abril de 1899, da responsabilidade do

os seus romances, os quais, sob a capa romanesca, sao ora panfleros de socio-critica, ora dourrinac;:ao e norma

de conduta." (BRASIL, Jaime - «Ec;:a de Queiroz, jornalista». In: PEREIRA, Lucia Miguel e REIS, Camara

(org.) - Livro do Centendrio de Efa de Queiroz. Lisboa, Livros do Brasil, 1945, p. 510). Tambem Jacinto Bap­tista afirma que "se o jornalismo foi privilegiado meio de expressao e de comunicac;:ao de ~ com os leitores,

nem por isso o episodico redactor do Distrito de Evora perdeu nunca, em relac;:ao aos jornais e a actividade dos jornalistas, o distanciamento crfrico e a abordagem percuciente, ironico quando caso disso, que foi a sua constante atitude perante outras manifesra¢es humanas." (BAPTISTA, Jacinto - «Ec;:a jornalistw>. In: !v1ATOS, A. Campos (org.) - Diciondrio de Efa de Queiroz. Lisboa, Caminho, 1993. 2a ed., p. 326).

3 A edic;:ao crftica destes textos redistribuiu-os e reeditou-os de outra forma, nomeadamente sob o titulo de Textos de Imprensa I (edic;:ao de Carlos Reis e Ana Teresa Peixinho). Apesar de tudo, utilizamos por

comodidade o titulo escolhido por Luis de Magalhaes, aquando da primeira edic;:ao em livro, em 1903. 4 Foi o celebre jornal La Presse de Emile de Girardin que iniciou a vaga da publicac;:ao de romances-folhe­

tim, utilizando a assinatura de nomes celebres da Literatura para angariar leitores; o primeiro romance do genera e o La Vieille Fi/le de Balzac, publicado neste periodico em 1836. A este obras: THERENTY, Marie-Eve e VAILLANT, Alain - 1836. L'An I de !ere !itteraire et historique de La Presse de Girardin. Paris, Nouveau-Monde Editions, 2001; THERENTY, Marie-Eve - Mosai"­ques. Etre ecrivain entre presse et roman (1829-1836). Paris, Honore Champion, 2003.

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brasileiro Marrinho Carlos de Arruda Botelho e onde Bj:a teci publicado A !lustre Casa de Ramires, algwis dos seus contos («A Perfei~o», «Jose Macias» e «Suave Milagre»), bem como algumas cr6nicas; e, mais ponrualmente, parricipou em diversos jornais da epoca, tais coma 0 At!antico, a Ilustrarao e 0 Tempi. Claro que, em muitos destes casos, a colabora.¢0 de com a imprensa permitia-lhe retirar dividendos extras que o ajudavam a suportar o estilo de vida para o qual o salario de diplomata era insuficiente. No entanto, apesar de o fuctor finanreiro ter tido um peso considercivel na carreira jornalistica de Es:a de Queir6s, acreditamos com Jacinto Baptista que "seria, porem, grave injusti91 e erro not6rio limitar a preocupa¢o lucrativa, de complemento a fonte de subsistencia regular, a actividade periodistica de ( ... )"6

Aquila que este elenco vem, indubitavelmente, confirmar e a forte liga<;iio de &;a de Queiros ao jornalismo do seu tempo, uma ligacrao persistente, heterogenea e multiface­tada. Como e, alias, caracterfstico da imprensa oitocentista portuguesa, muito par influencia francesa, o escritor e intelectual do seculo XIX ocupa um espa<;o relevante na dinamica do campo jornalfstico, quer coma colaborador externo, quer ainda como participante activo e dinamizador de novas publica<;5es.

Tendo em considerac;ao a contexto hist6rico-cultural em que se move Ec;a de Quei­r6s, convem referir que a acumula<;ao das func;5es de escritor e jornalista era uma marca distintiva do jornalismo oitocentista europeu, nomeadamente do jomalismo frances. Segundo Jean Chalaby, uma das especificidades da afirmacrao do jornalismo oitocentista frances e precisamente a sua estreita dependencia relativameme ao universo litedrio: "tradicionalmente, as figuras e celebridades literarias estiveram sempre muito envolvidas no jornalismo. Ate ao final do Segundo Imperio, ocuparam posicroes dominantes no mundo da imprensa. ( ... )Honore de Robert de Lamennais, Alphonse de Lamar­tine, Alexandre Dumas, Victor Hugo foram proprietarios e edirores de varios jornais durante as suas carreiras."7

T ambem Isabel Vargues explica que a profissao de homem de letras era a epoca, cumulativa com outras, nomeadamente com a de jornalista: «Tal coma em Fran<_;:a, Inglaterra e Espanha tambem em Portugal os profissionais do jornalismo mantinham la<_;:os com a politica e com a literatura, exercendo ja entiio uma influencia consideravel na sodedade atraves de uma imprensa de opiniao, que s6 mais tarde se tornaria nociciosa e informativa."8

• Na verdade, antes de se atingir a autonomia profissional, na viragem do seculo XIX para o seculo XX, ser jornalista era tambem uma ocupa<;ao reservada quer a literatos, quer a politicos, que entendiam os jornais e as revistas como espa<;os publicos de opiniao. Escrever nos jornais era uma forma de afirma<;ao de uma autoridade, um modo de publicitar ideias, de divulgar obras, de defender ideologias, de travar polemicas diversas, enfim, de participar activamente na constru~ao da esfera ptiblica. Desde o

~ Nestes jornais, publica E<;a de Queiros a celebre carta a Pinheiro Chagas «Brasil e Portug<tl», a carta sobre Victor Hugo ea cana «Tomas de Alencar, uma explica~on, respectivamenre.

6 BAPTISTA, Jacinto - «E<ja jornalista». In: l\1ATOS, A. Campos (org.) - Diciondrio de Era de Queiroz. Lisboa, Caminho, 1993, 2a ed, p. 326.

7 CHALABY, Jean «0 Jornalismo como invern;ao anglo-americana. Lo1mp,arair;ao entre o desenvolvi-mento do jomalismo frances e anglo-americano (1830-1920)». In: Media Nov. 2003, Vol. 1, n.0 3, p. 36. http://revcom.portcom.intercom.org.br

• VARGUES, Isabel - «A Afirma~o da Profisslio de Jornalista em Porrug<tl: um poder emre poderes?». Separata da Revista de Hist6ria das ldeias. Coimbra, Faculdade de Lecras, 2003. Vol. 24, p. 158-159.

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nosso primeiro Romantismo, ideologicamente iluminado pelo os nossos escritores movimenram-se simultaneamente no mundo da Literatura e no dos jornais: a dtulo de exemplo, lembremos que em 1846 surge a Promotora dos Melhoramentos da Imprensa, liderada por Almeida Garrett e que agrupou um conjunro de escritores e jornalistas, a fim de reflectirem sabre o desenvolvimento da imprensa nacional9

• N om es co mo Garrett, Herculano, Castilho, de Mendorn~a, Pinheiro Chagas e Camilo sao exemplos de coma, desde o inkio da centuria de oitocentos, o jornalista era tambem o homem de letras, imagem publica estava intimamente associada a Literarura. Alias, para Jose esta parnc1pac;ao dos nossos escritores no jornal foi determinante para o incremento da qualidade da escrita jornalfstica no seculo XIX, comparativamente ao que ocorrera nos seculos prece­dentesio.

Esta sobreposic;ao dos campos literario e jornallstico, ambos em processo de autonomizac;ao ao longo do seculo, foi, como ja uma marca caracterfstica do jornalismo frances, onde escritores como Victor Sue, Zola e tan-tos outros, abrilhantaram as paginas dos peri6dicos nao apenas atraves da publicac;ao de ficc;ao (recorde-se a importancia capital do romance a partir da decada de trinta), mas tambem pela publicac;ao de cr6nicas jornalfsticas, outro genera muito apre­ciado no jornalismo oitocentista e geralmente reservado as grandes penas. Alguns autores defendem mesrno que a especificidade do jornalismo frances, mais resistente a entrada da influencia anglo-saxonica, se ficou a clever a dupla origem do seu jornalisrno, sirnultaneamente politico e literario11

, origem essa nunca renegada12• Ora, na nossa opi­

niao, como em muitas outras areas s6cio-culrurais oitocenristas, tarnbern o jornalisrno portugues ostentou um ((afrancesarnento" indiscutivel, pois todo o seculo XIX e rnar­cado pela presenc;a constante do escritor-jornalista, nas paginas dos peri6dicos da alrura. Nao apenas os ja citados escritores romantico-liberais, mas tarnbern os elementos da farnosa Gerac;ao de 70, participaram activamente na elaborac;ao e direcs:ao de rnuitos periodicos. Assim, uma Hist6ria da imprensa peri6dica porruguesa passa obrigatoria­mente pela hist6ria da afirrnac;ao e consolida~o da elite intelecrual e cultural oitocentista.

9 A este respeito, veja-se: TENGARRINHA, Jose Histtiria da lmprensa Periodica Portuguesa. Lisboa,

Caminho, 1989. 2a ed., p. 191-192. "'Segundo o esmdioso, "( ... ) todos os no mes das nossas lerras e do nosso pensamenro colabora-

vam assiduamenre na imprensa ao conrrario do que acomecera, como vimos, nos seculos XVII e XVIII. Isso faz que o nfvel geral do jornalismo suba consideravelmenre e os peri6dicos, alem de melhor apresentai;-ao grafica, sejam redigidos correctamente e num esrilo cada Ve:T. mais individualizado." (TENGARRINHA, Jose -Histdria da lmpren.sa PeriOdica Portuguesa. Lisboa, Caminho, 1989. 2aed., p. 191 ).

11 A este respeito remetemos para: FERENCZI, Thomas - L 'invention en France. Naissance de la presse moderne a la fin du XIX siecle. Paris, Plon, 1993; CHALABY, Jean - «O Jornalismo como invern;:iio anglo-americana. Comparai;.lio entre o desenvolvimento do jomalismo £ranees e anglo-americano (1830-1920)». In; Media & foma!ismo, Nov. 2003, Vol. I, n.0 3, p. 29-50, hrrp://revcom.portcom.intercom.org.br

12 Nao nos cabe aqui desenvolver esta particularidade da hist6ria do jornalismo frances, mas basca observarmos os debates ocorreram no fim do seculo XIX sobre a forma de fuzer jornalismo em Francra, para percebermos as fric<;Qes provocadas pela entrada dos moddos americanos no universo frances. A este respeito veja-se o «Les enquetes de la Revue Bleue» da obra FERENCZ!, Thomas L 'Invention dujournalisme en France. Naissance de la presse modeme a la fin du XIX siecle. Paris, Pion, 1993, p. 213-237.

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0 jornalismo era tambem encarado pelos homens de letras e pelos politicos como um patamar de acesso a outras carreiras ou func;6es, uma passagem obrigat6ria para abrir portas e conseguir uma promoc;ao s6cio-profissiona1. Numa analise as nossas elites imelectuais da primeira metade de oitocentos, Maria de Lourdes Lima dos Santos cons­

tata precisamente este aspecto:

0 jomalismo, mais do que uma altemativa, aparecia coma um modelo relativamente

rapido e f:icil para fazer uma reputa<?o, valorizar-se e come~ar a escalada para a desejada

meta. Fazer jomalismo (e particularmente jomalismo polftico) significava enveredar par

uma via promocional que, nos novas tempos, exercia sabre os jovens desfavorecidos um

poder de atrac~io comparavel ao da carreira eclesi:istica no antigo regime13•

0 caracter provis6rio da actividade jornalistica e o facto de esta actividade funcionar em paralelo com outras carreiras sao sinais claros de que, ao longo de todo o seculo XIX, sobretudo ate a decada de 90, a profissao de jornalista teve de percorrer um lento cami­nho em direcc;ao a sua autonomizac;ao, que s6 se atinge quando comec;am a organizar-se as associac;6es profissionais e os congressos do fim de seculo

14• Este fen6meno verificado

na hist6ria do jornalismo portugues e comum a outros paises europeus, nomeadamente a Franc;a onde, ao longo de toda a centuria de oitocentos, o jornal ou a revista sao os espa­c;os de promoc;ao, publicidade e afirmac;ao publica dos homens de letras. Como explica Thomas Ferenczi, referindo-se a participac;5o dos homens de letras no campo jornalfstico, "le journalisme est une voie de passage, non un lieu d'arrivee. Il n'est pas recherche pour lui-meme, mais pour tout ce a quoi il mene ( ... )"

15; tambem para Christian Delporte

"la plupart des contemporains aient regarde le journalisme comme une experience, un passage,. une etape. ( ... ) la presse pouvait conduire a une celebrite rapide servant d'antichambre a la litterature, au pouvoir, a !'administration. La presse permettait de se faire des relations, de frequenter l'elite."

16 Outra motivac;ao que atraia os homens de

letras para o mundo da imprensa tinha que ver com os proveitos financeiros. Num pals marginal como o nosso, com publico restrito, poucos leitores e um fraco mercado livreiro, os dividendos adquiridos da escrita jornalistica representavam uma mais valia consideravel que compensava os parcos provemos da venda dos livros17

• 0 caso de Ec;a e exemplar no que a este aspecto diz respeito: a carreira de correspondente de imprensa

13 SANTOS, M. de Lourdes Lima - lnte!ectuais Portugueses na Primeira Metade de Oitocentos. Lisboa, Editorial Presern;a, 1985, p. 332.

14 Veja-se: FERENCZ!, Thomas - L1nvention dujoumalisme en France. N aisHmce de la presse modeme a

la fin du XIX siecle. Paris, Plon, 1993, p. 243-258 ; DELPORTE, Chriscian - Hutoire du ]01m1alisme et des

Joumalistes en France {du XVII siecle a nos jours). Paris, PUF, 1995; VARGUES. Isabel - c<A Afirmai;ao da Profissao de Jornalisrn em Pormgal: urn poder emre poderes?». In: Separa111 da &vista de Historia das Ideias. Coimbra, Faculdade de Letras, 2003. Vol. 24, p. 158-159.

15 FERENCZ!, Thomas - L 'invention du joumalisme en France. Naissance de la presse modeme a la fin du XIX siec!e. Paris, Plon, 1993, p. 29 .

. 16 DELPORTE, Christian - Histoire du Joumalisme et des journa!istes en France (du XVII siec!e a nos jours).

Paris, PUF, 1995, p. 17. 17 Remecemos para a anilise de Maria de Lourdes Lima dos Samos: S.Al\TTOS, M. Lourdes Lima dos - «As

penas de viver da pena (aspecros do mercado nacional do livro no seculo XIX)». In: Analise Social Revista do

lnstituto de Ciencias Sociais da Universitkde de Lisboa. 1985 n. 0 86, Vol. XXI, 2°, p. 187-227.

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permitia-lhe equilibrar melhor as suas complicadas finan~s 18• Como explica Elza Mine, "se, na segunda, metade do seculo XIX, colaborar em jornais e revistas acabou por constituir-se, para tantos escritores, alem de elo direto com seu publico, suplemento on;ament:irio indiscutivel, e se tambem nesse tempo a versatilidade era a qualidade que, por excelencia, caracterizava o jornalista completo, nao estranha que o jornal se consti­tufsse num laboratorio privilegiado da palavra e que a prodw;ao dessa .especie de jornalista que foi de Queir6s se inclua, de fato e de direito, no dominio do liter:irio." 19

Bastara para o comprovarmos lermos algumas das cartas que dirigiu aos amigos mais pr6ximos para nos apercebermos desta realidade. Em carta dirigida a Alberto de Oliveira, datada de 23 de Janeiro de 1896, :&;a diz, a prop6sito da sua colabora¢o na Gazeta de Noticias do Rio:

Ora o meu amigo sabe que eu sou, tenho sido nestes Ultimas anos, um redactor da

Gazeta de Noticias do Rio, recebendo um salario regular. Em mais de quatro meses, nao

mandei a Gazeta o valor, em prosa, de um bilhete-postal. Tambem por escrupulo, nao

tendo dado o trabalho, nao cobrei o salario. Mas esses salarios sao indispensaveis ao meu

orc;amemo - e para legitimamente os receber agora, tenho de mandar para o Rio o montao de

prosa a que des correspondem e que as justifica.

Esta carta e um dos muitos exemplos de coma era importante para o autor enviar com regularidade textos para os jornais: E~ necessitava, para viver de acordo com o nfvel de vida a que se habituara, de ganhar o dinheiro destas colaborair6es21

• Nao se pense, no entanto, que eram apenas as motivairoes financeiras que impeliam o escritor para as paginas dos jornais. Como comenta Filomena Monica, "E'Ta ted come<;ado a escrever artigos por dinheiro, mas fe-lo com um tal brio que e evidente que retirava prazer do exerdcio." 22

• A qualidade estetica dos seus textos deixa perceber, de facto, que

1" Depois de uma analise pormenorizada dos contraros entre ~ de Queir6s e os seus edirores, Fernando

Guedes condui que E<;a de Queiros, no final do seculo, era o escritor portugues mais bem pago da epoca: "Tambem os seus proventos de escritor se rornaram significativos: de Os Maias, em 1883 e 1888, recebeu um conto de reis; A em 1885, rendeu-lhe rambem um conto de reis; a Correspondencia de Fradiqtte lv!endes, em 1889, quatrocentos mil reis; A Cidade e as Serras, em 1895, rrezentos mil reis de adianta-mento; A I!ttStre Casa de Ramires, em 1899, outro adiantamento de trezentos mil reis. Em moeda de hoje sao cerca de 4.800.000$00 a que se deve acrescentar o que foi recebendo pelas novas edic;6es do Crime e do Primo Basilio( ... ): 180$000 ( ... ) pela 3a edicrao do Crime; 90$000 ( ... ) pela 3a edicrao do Primo Basilio e o que ha a acrescentar da colabora<;lio na imprensa brasileira e na portuguesa ( ... )" (GUEDES, Fernando - 0 Livro ea Leitura em Portugal Subsfdios para a sua Histtfria. Seculos XVIII-XIX Lisboa e Sao Paulo, Editorial Verbo, 1987, p. 230-231).

19 MINE, Elza Pdginas f<'!u.tuantes - Era de Queiros e o ]ornalismo do Seculo XIX S. Paulo, Atelie Editora, 2000, p. 49.

2" QUEIROS, Ec;a de Correspondencia. Coordenac;ao de Guilherme de Castilho, Lisboa, INCM, 1983.

2° Vol., p. 360. 21 Como explica Carlos Reis, referindo-se a correspondencia parisiense, "n'oublions pas que ces collabora­

tions journalistiques repondaient aussi a la necessite de gains supplemenraires, ressentie par un E<;a que harce­laient les difficultes financieres, aggravees par les exigences d'une famille deja relativemenr nombreuse, dans une ville chere comme Paris. " (REIS, Carlos - Era de Qtteiros Consul de Portugal a Paris 1888-1900. Paris, Centre Culrurel C. Gulbenkian, 1997, p. 110).

22 M6NICA, Filomena-Era de Queiros. Lisboa, Queczal, 2001, p. 177.

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Ec;a tambem escrevia por prazer e par desafio intelectual, como, ali:is, deixa bem expresso em carta dirigida a Ramalho Ortigao, a 10 de Julho de 1879, um ano antes, portanto, de iniciar a sua colaborac;ao com a Gazeta de Noticias do Rio de Janeiro:

Meu pai escreveu-me ha dias, falando-me do desejo que tinha Gom;alves Crespo ( ... ) em me

convidar para mandar correspondencias ao «Jamal do Comercio». Isto vem exactamente

combinar com o meu proprio desejo; eu necessito fazer correspondencias, por higiene imelec­

rual. T enho-me posto no mau hibito de ler todas as manhas mont6es de jornais: e esta grossa

massa de poHtica cai-me no cerebra, nao e digerida, e pela sua presenc;a impede o jogo regular das

faculdades artisticas. ( ... ) Preciso purgar a inteligencia destas fezes. Quero um vaso. 0 «Jornal do

Comercio» parece-me preencher esta func;ao util. 23

A escrita jornalistica constituia, entao, para Ec;a uma forma de catarse e de organiza­¢0 cerebral: a massa de informa¢o recebida e absorvida pela leitura de jornais era a materia­prima que as correspondencias do autor rrabalhavam, moldavam e reinterpretavam.

3. A defesa de um ideal de jornalismo

Apesar disso, cumpre-nos sublinhar que, no caso espedfico de E~a, mais:do que uma simples colaborac;:ao com a imprensa, habitual nos homens de letras do ~eu tempo, o escritor experimentou as func;:6es plenas de um jornalista, a dirigir.-e redigir totalmente sozinho um jornal regional. De facto, sete meses depois de ter conduido o cutso .na Universidade de Coimbra, Ec;a de Queiros parre para a·cidade de Evora, em Janeiro de 1867, para ai ocupar o seu primeiro emprego, dirigir um jornal.oposicionista chamado Distrito de Evora, actividade que o mantera nessa cidade apenas ate final de Julho desse mesmo ano

24• Trata-se da sua primeira experiencia laboral seria

25, dado o fracasso das

suas incurs6es pela advocacia, e tambem da sua estrei.':l como jornalista. De facto, embora tenha colaborado assiduamente com a Gazeta de Portttgal, de Marc;:o a Dezembro de 1866, atraves da publica¢o de uma serie de fantasticos e romanticos folhetins

'-' QUEIROS, E<;:a de - Comspondencia. Coordena~o de Guilherme de Castilho, Lisboa, INCM, 1983. 2° Vol., p. 180.

24 0 jornal Distrito de Evora ainda foi publicado, apos a saida de E<;:a de Queiros, are Setembro desse ano, rendo sido posreriormente subsrituido pelo jornal A Perseveranra. (PEREIRA, A. X. da Silva - Os jomais portugueses sua filiapio e metamorfoses. 1Voticia suplementar alfobirir11 de todos os periodicos mencionados na Resenha Crono!Ogica do fornalismo Portugues. Lisboa, Imprensa Libanio da Silva, 1897).

ZS Diz-nos Gaspar Simoes: "Enquanto praticara no carrorio do advogado amigo do seu pai nao revelara ponta de voca<;:io. Parece nao ter chegado sequer a subir a teia. 0 pai, melancolicamenre, nao via o filho tomar rumo que prestasse. ( ... ) E nesta altura que E<;:a de Queiros,:moc;:o de vinte e dois anos, resolve aceitar a pro­posta que lhe fazem amigos e parentes do pai, residences em Evora, para ali fundar um jornal politico da oposic;:ao." (SIMOES, Joao Gaspar- Vida e Obra de Era de Queiros. Amadora, Bertrand, 1980. 3a ed., p. 141). E Jaime Brasil comenta a chegada de Ec;:a ao jornalismo de provincia da seguinte forma: "Para !he dar emprego e abrir, possivelmente, uma carreira na polfrica, foi confiada a direcc;:ao da mesma folha ao jovem bacharel recem-sa!do de Coimbra, com o ordenado - nada mau para a epoca - de 100$000 reis por mes." (BRASIL, Jaime - «E<;:a de Queiroz, jornalista». In: PEREIRA, Lucia Miguel e REIS, Camara (org.}- Livro do Centendrio

de Era de Queiroz. Lisboa, Livros do Brasil, 1945, p. 511).

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dominicais26, a experiencia na capital alentejana revela-se muito mais sena e exigente,

obrigando-o a assumir as func;:6es de um verdadeiro jornalista, com a responsabilidade de dirigir e redigir, totalmente sozinho, uma folha bissemanal de quatro paginas. Como afirma Jacinto Baptista: "No Distrito de Evora o jovem Ec;:a assume-se de facto coma homem-orquestra em relas:ao a uma redacs:ao que requereria, normalmente, para as centenas de paginas produzidas, uma boa duzia de instrumentos ... "27

• Se, na Gazeta de Portugal, Es:a foi um mero colaborador, cujos textos preenchiam o espac;:o do folhetim aos domingos, no jornal eborense tinha grandes responsabilidades, pois via-se obrigado a produzir na integra todas as secs:6es do jornal. Alem do mais, aos romanticos e bcirbaros textos da Gazeta, onde Es:a podia escrever livremente sabre o que quisesse, sem constrangimentos de especie alguma, sucedem-se os textos do Distrito, mais serios e irremediavelmente presos ao compromisso jornalJ'.stico de reportar a realidade socio­poli'.tica do distrito e do pais: "A observas:ao atenta dos factos, das pessoas, das institui­<_;:6es, verdadeiramente iniciada com o seu trabalho de redactor do Distrito de Evora, vai permitir-lhe, acima de tudo, um conhecimento muito exacto da realidade social portu­guesa, ( ... )"

28, diz-nos Anibal Pinto de Castro. Se os textos da Gazeta de Portugal permitiram

a sua estreia na fics:ao portuguesa e assumem um importante papel para a compreensao do inicio da sua carreira literaria, as pciginas do Distrito de Evora assinalam indiscutivelmente a sua chegada ao universo do jornalismo portugues, donde nunca mais se afastara ate ao final da vida.

Para alem de tudo o mais, a participac;:ao de Ec;:a na imprensa do seculo XIX faz-se acompanhar por um conjunto de textos que transmitem um pensamento e uma reflexao critica sobre a prcitica do jornalismo e sobre o poder dos jornais na formas:ao de uma opiniao publica. Podemos mesmo afirmar que muitas dessas paginas dariam excelentes tratados de etica jornali'.stica, permitindo vislumbrar muitas das vicissitudes dessa pratica discursiva e profissional em pleno seculo XIX. Como afirma Elza Mine, "pensar o jorna­lismo de Es:a de Queir6s pode ainda sugerir-nos a busca de elementos em que se inscre­vem opini6es, pontos de vista sobre o papel do jornalista e os modos como se desenvol­vem, em seu tempo, as atividades da imprensa peri6dica, no ambito dos pr6prios textos de imprensa, por ele produzidos: Constituiriam o que poderJ'.amos chamar de sua 'teoria do jornalismo'" 29

• Na verdade, desde muito cedo o escritor revela uma particular sensibilidade pela nova fors:a social e cultural que a imprensa representou na centliria de oitocentos. Com a sua capacidade de observas:ao perspicaz, Ec;:a rapidamente compreen­deu o poder do jornalismo na transformas:ao social da epoca e, tal como sucede com ourras areas da sociedade, tambem a imprensa mereceu a sua aten¢o. Nao e por acaso que, no primeiro texto das suas Farpas, datado de J unho de 1871, ao trac;:ar o panorama

21' Estes folhetins publicados na Gazeta de Portugal, entre 1866 e 1867, foram postumamente cornpilados

por Luis de Magalhaes sob o titulo de Prosas Bdrharas. Actualrnente encontram-se reeditados em: QUEIROS, ~de - Textos de Imprensa I (da Gazeta de Portugal}. Edii;:5.o de Carlos Reise Ana Teresa Peixinho, Lisboa, INCM, 2004.

27 BAPTISTA, Jacinto - «E~ jornalista». In: MATOS, A. Campos (org.) - Diciondrio de Era de Q}teiroz.

Lisboa, Caminh~, 1993. 2a ed., p. 324. 2

" CASTRO, Anibal Pinto de - «Nora Introduroria». In: QUEIR6S, ~de - Pdginas de ]oma!ismo

«0 Distrito de Evora'> (1867). Porto, Lello & Irmao-Editores, 1981, p. xix.

Paulo, Atelie Editora, 2000, p. 16.

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do pais, o escritor reserva algumas paginas ao jornalismo que, a par com o teatro e a literatura, traduzia o estado de decadencia da na<;ao30

• Esta reflexao critica que estara presente nos seus textos ate ao final do seculo e que se projecta tambem em alguma da sua era, alias, uma marca comum aos seus hom6logos franceses, ja que, desde Balzac a Zola, passando por Stendhal ou Victor Hugo, todos viviam uma situa<_;:ao ambivalente em que experimentavam uma rela<_;:ao de amor I 6dio face a imprensa. Bas­tara recordarmos o celebre texto de Monographie de la Presse Parisienn/1

, de 1843, ou mesmo os arcigos de Stendhal publicados nas revistas inglesas, promovendo uma radioscopia da imprensa francesa32

A analise queirosiana nao revela a sistematicidade, nem mesmo a profundidade da dos escrirores franceses mas niio deixa de estar presenre, de um modo fragmentario e diletante, em muitas das suas cr6nicas de imprensa. Curiosamente, mesmo ja no Distrito de Evora, com 21 anos de idade apenas e acabado de sair dos bancos da U niversidade, E<;a reflecte sabre a importancia do jornalismo, seus deveres e finalidades. Quer isco dizer que, mesmo sendo um jovem com pouca experiencia de vida, encrega-se totalmente as novas fim<_;:6es e veste, de facto, a mascara de jornalista profissional, como se ja contasse com anos de experiencia. Alem do mais, o facto de sentir necessidade de reflectir criticamente sabre 0 jornalismo e surpreendence num jovem que pela primeira vez exerce semelhances fim<_;:6es: alem de reportar a realidade social e politica do Reino e do Mundo, senciu necessidade de trazer para as do seu jornal um conjunto de reflex6es dispersas que circunscrevem o seu modo de pensar a pratica do jornalismo e de o olhar sob um prisma cdtico. Tanto assim e que uma das sec<_;:6es do Distrito de Evora - a «Revista Critica dos J ornais» - e reservada a uma exaustiva revisao do que outros jornais locais iam produzindo, aproveitando o jovem jornalista para ir deixando marcas da sua opiniao sabre o que deveria ser o jornalismo em plel}o seculo XIX.

No primeiro numero do jornal, a 6 de Janeiro de 1867, reserva o texco inaugural desta sec<_;:ao, as fun<_;:6es e potencialidades da imprensa, como um meio de intervir activa­mente na vida polftica e social do pais. De forma entusiascica e num com apologetico, E<_;:a escreve:

E o grande clever do jornalismo fazer conhecer o estado das cousas publicas, ensinar ao

povo os seus direitos e as garantias da sua segurani;a, estar atento as atitudes que toma a

polfrica estrangeira, protestar com justa violencia contra os actos culposos, frouxos, nocivos,.

velar pelo poder interior da Patria, pela grandeza moral, intelectual e material em presenc;a

das outras nac;6es, pelo progresso que fazem os espfritos, conservac;ao da justic;a, pelo respeito do direito, da famflia, do trabalho, pelo melhoramento das classes infelizes.33

30 Veja-se: QUEIROS, Ei;:a de- Uma CampanhaAlegre. Lisboa, Livros do Brasil, s/d., p. 9-30. 31 Remetemos para a analise deste texto de Balzac feita por Jose-Luis Diaz: DIAZ, Jose-Luis «L'esprit

sous presse. Le journal et le journaliste selon la Litteramre Panoramique (1781-1843)». In: THERENTY, Marie-Eve e VAILLANT, Alain Presse et Plumes. joumalisme et Litthatttre au XIX siecle. Paris, Nouveau Monde Editions, 2004, p. 31-50.

n Sob re a rela~o de Stendhal com a imprensa &ancesa, veja-se o la presse de son temps». In: THERENTY, Marie-Eve e V AILlANT, Litterature au XIX siecle. Paris, Nouveau Monde Editions, 2004, 17-29.

DIAZ, Brigitte - «Stendhal face a - Presse et Plumes. ]ottmalisme et

33 QUEIROS, Ei;:a - Pdginas dejomalismo «0 Distrito de (1867). Porto, Lello & lrmao Editores, 1981. Vol. II, p. 299-300.

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A visao do jornalismo que transparece deste texto e uma visao utopica e romantica mas que, em nosso emender, vem ao encontro da pd.tica ensaiada par Es:a nas paginas do Distrito de Evora. 0 jornal e vista coma um meio civilizador, coma um servis:o publico, com demasiadas e elevadas responsabilidades em todos as sectores da vida social: fazer conhecer, ensinar, protestar, velar sfo verbos que veiculam um ideal de jornalismo de acs:ao, interventivo e politicamente empenhado, realizado em fun<fto do interesse publico. E sabre o jornalista, Es:a entende-o coma um construtor das consciencias atra­ves de uma "folha delgada e leve"' "sem esperans:as de vida de dura<fto, de imortalidade" (Vol. II, p. 301) que, par isso mesmo, nunca conhecera a gloria e a imortalidade das grandes obras. Portanto, para Es:a, o jornalismo, apesar da sua efemeridade, nfo se reduz a uma mera representas:ao da vida presente e da realidade, pois tern uma fun<fto mobilizadora e virada para o futuro:

0 jornalismo nao deve ser sempre a expressao mais ou menos real das ideias recebidas; ele

nfo e somente 0 arquivo da opiniao moderna: a repercussfo duma impressao geral; ele e 0

motor dos espfritos, descobre novas e fecundas relai;6es sociais enue os povos dum mesmo

continente; ele consagra e robustece a solidariedade moral que liga os homens, a

fraternidade que os rende; o jornalismo ensina, professa, alumia sobretudo; ele e o grande

construidor do futuro; nao e s6 0 facto de hoje que 0 prende - isso e 0 menos - e 0 facto

que o futuro contem ( ... )"(Vol. II, p. 302).

Como comenta Anibal Pinto de Castro: "Ao inaugurar, logo no primeiro numero, a «Revista Crftica dos J ornais», da Es:a de Queir6s uma definis:ao perfeita e completa de jornalismo, segundo a qual o indivfduo hoje pomposamente chamado "profissional da informas:ao" se ve investido de uma elevada missfo formativa e pedag6gica que, no piano dvico, social, econ6mico, cultural e religioso, e exercida atraves de cada leitor e mau grado a efemeridade caracterfstica do jornal, sabre toda uma sociedade."34

Noutros locais do jornal, Es:a vai deixando breves comentarios sabre o papel da imprensa, sempre tendo coma fio condutor o papel civilizadot e politicamente empe­nhado do qual fez a apologia. Numa das cr6nicas de polfrica nacional, do dia 4 de Abril, o autor, elogiando o progressivo empenhamento do povo na vida social e poHtica do reino, comenta o decisivo papel da imprensa na formas:ao dessa consciencia popular: "A imprensa se deve esse despertar fecundo e salutar. ( ... )Mais que nunca o seu direito e ser respeitada pelo governo, mais que nunca o seu clever e esclarecer o povo." (Vol. I, p. 306). T anto assim e que, em cronicas posteriores, ao comparar a imprensa da oposi<fto a imprensa do governo, tece duras crfticas a estrategia dos jornais pr6-governo que, par falta de imparcialidade, vivem de faz~r chacota em vez de traduzirem e lutarem par ideais: "as outros jornais ministeriais, jornais imperceptfveis e caducos, seguem o exem­plo profano dos profanos mestres, e derramam-se em violencias, em pequenas calunias, em desconsideras:oes, em motejos, em vituperios lamacentos, em raivas frias, cheios de desvario, magros, ambiciosos, ruidosos e alvoros:ados em redor do subsfdio, rofdos de inveja, amarelos de medo, curvados pela servilidade, numerosos e insignificantes." (Val. I, p.389).

'' CASTRO, Anibal Pinto de - «Noca Imroduc6ria». In: QUEIROS, Es:a de - Pdginas de ]ornalimw «O Distrito de Evora» (1867). Porco, Lello & Irmao - Edicores, 1981, p. xxvi.

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Es;a coloca-se aqui, claro esta, na posis;io de um redactor de um jornal assumidamente de oposis;ao, que tern corno principal objectivo criticar duramente a polftica governamental. de tudo, parece-nos irnportante no que a sua 'teoria do jomalismo' diz respeito, a defesa de urn jomalismo irnparcial, que lute pela justis;a, pela liberdade, em nome de ideais hem definidos. Assim se entende que, ao longo de toda a polemica que trava com a Folha do Sul, o mais irnportante peri6dico regional eborense35

,

Es;a constanternente critique a vacuidade de ideias dos jornais governamentais, a sua parcialidade e dependencia, a sua incapacidade de sustentar uma discussao em terrnos elevados: "Correm-se os jornais do ministerio, nem se encontram ideias, nern discuss6es, nem sistemas, nem entusiasmos, nern vida." (Vol. II, p.346).

Num texto escrito tres anos mais tarde, em 1870, publicado no jornal A Republica36,

Es;a reitera precisarnente os· mesmos prindpios defendidos no Distrito de Evora, relativa­mente a forma de fazer jomalismo. Trata-se do te.x:to intitulado «Palavras sobre o jornalismo constitucional))37

, onde Es;a critica, de forrna veernente, a pritica do jorna­lisrno contemporaneo, atacando a irnprensa em virias frentes: acusa-a de falta de prind­pios, de vacuidade de ideias, de falta de qualidade estetica, de abuso de uma ret6rica gasta, de enfeudamento aos poderes instituidos; critica a banalidade dos seus conteudos e a sua excessiva personalizas;io. Ou seja, a forma como Es;a, neste texto, aborda os aspec­tos mais negativos da imprensa constitucional reflecte, em certa rnedida, os prindpios sobre a pritica do jornalisrno defendidos na sua teoria fragrnentiria do Distrito de Evora. Aqui, como virnos, a visao de Es;a denuncia ainda urna dara influencia dos prindpios que regiarn a irnprensa romantica, nomeadarnente a liberal, em que 0 jomalista, a semelhans;a do escritor, era entendido como urn vate, condutor das rnassas que, de forma apaixonada e empenhada, defendia e lutava por ideais, educando e formando o leitor.

Ao percorrermos as paginas deste jornal eborense, verificamos que o escri­torljomalista foi coerente com os prindpios defendidos sobre a acs;io do jornalisrno e sobretudo tentou cumprir urn certo ideal de imprensa que estava ainda, a data, intima­mente ligado a imprensa de opiniao da prirneira metade do seculo. 0 Distrito de Evora

35 Sdbre a Folha do Sul, diz-nos Celestino David: "A Folha do Sul. jornal de born formato, era o outro jor­nal de Evora, semanirio, cominuador da Voz da e do qual era proprietario e editor Ant6nio Maria Batista Tavares; mas foi cedido depois ao Dr. Manuel da Rocha Viana, cujo nome passou a no alto da sua primeira pagina, como director, ao lado do nome do Dr. Augusro Felipe Simoes, que se indicava como redactor. Tinha a redac<;ao na Rua do Imaginario n. 0 4, ea sua atitude polftica era a de um 6rgao do governo, embora se considerasse independeme." (DAVID, Celescino - Efa de Q;teiros em Evora. Evora, A Celtica, 1945, p. 93). Segundo A. X. da Silva Pereira, A Folha do Sul fui fundado em 1864 e deu continuidade a Voz da Infancia. (PEREIRA, A. X. da Silva Os jomais portugueses sua filiafiiO e metamorfoses. Noticia suplementar alfabetica de todos os periodicos mencionados na Resenha Cronokfgica Portugttis. Lisboa, lmprensa Libanio da Silva, 1897).

3'' Este texto «Palavcas sobre o jornalismo constitucional» - foi publicado em 1870, no n.0 7 do jornal

A Repilblica, fundado e dirigido por Oliveira Marrins. 0 anigo nao esci assinado mas Lopes de Oliveira idemificou-o como pertencente a Elfa de Queiros. (GUERRA DA CAL, Ernesto - Lengua y Estilo de Eta de Queiroz Apendice Bibligrafia Queirociana sistemdtica y anotada e iconografia artistica del hombre y la obra. Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 1975. Torno 1.0

, p. 176). QUEIR6S, Elfa de - «Palavras sobre o jornalismo consticucional». In: Obras de Efa de Queiroz.

I ntrodu<;ao e fixa<yao dos textos por Anibal Pineo de Castro, Porto, Lella & Irmao - Editores, 1986. Vol. IV, p. 1001-1004.

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era um jornal bissemanal, com saida as quintas-feiras e domingos, de quatro pagmas formato in-folio, cuja Ultima pagina era preenchida com anuncios, e que estava organi­zado em secc;:6es: PoHtica Estrangeira, Correspondencia do Reino, Cr6nica, Leituras Modernas, Revista Crftica de Jornais, Interesse Provincial, Critica de Literatura e Arte, Agricultura, Comercio e Industria e, finalmente, os Anlincios

38• Todas estas secc;:6es eram

escritas par Ec;:a, a excepc;:ao de algum comunicado, manifesto ou carta recebida na redac­c;:ao 39. Como comenta Celestino David, "o Distrito de .Evora e, quase todo, redigido par ele. Quase tudo tern a marca acentuada do seu espfrito e da sua feic_;:ao literaria. Em tudo o escritor e o politico nos aparecem."

40• Nao estamos longe, portanto, do conceito do

"one-man newspaper" que, segundo Francis Balle caracterizava a imprensa dos seculos que precederam o nascimento da graride imprensa oitocentista: "Le one-man newspaper illustre bien cette epoque: le journal etait non seulement fabrique et finance, mais egale­ment conc;:u, ecrit et realise par un seul homme."41

No texto-programa com que Ec_;:a de Queir6s abre o primeiro numero do Dis­trito de Evora, pode ler-se o seguinte:

A empresa deste jornal rernete o seu primeiro nllinero a rodas as pessoas, a quern julgou nao ser

indiferenre um jornal, que indicasse as necessidades do Alentejo, pugnasse pelo seu direito e

acusasse energicamente os abusos que ele so&a: oferece assim o programa das suas ideias a todos os

que quiserern unir-se a elas, pela justic;:a e pela razao. Aqueles a quern o jornal for indiferenre

reenvia-lo-ao a sua adminisrrai;ao. (Distriro de Evora, n.0 I, 6 de Janeiro de 1867, p. I),

Antes de apresentar o seu programa, num breve parigrafo, Ec_;:a promete ja, nestas palavras introdut6rias, um certo tipo de jornalismo combativo que, para alem de tradu­zir as carencias da regiao, lute pelos seus direitos e acuse os seus males. Situando-se, portanto, numa esfera circunscrita, a regiao do Alentejo, coma alias o pr6prio name do jornal deixa subentender, o jornalista delimita claramente os objectivos do seu peri6dico a um dominio regional, embora transcendendo a 6ptica meramente informativa: o Dis­trito de Evora seri um jornal interventivo, acrivo e de compromisso. Quer isto dizer que, no sentido de fidelizar um certo tipo de leitores, ao construir uma especie de estatuto editorial do jornal, Ec_;:a promete apostar em conteudos que interessem ao publico: notf­cias sabre a sua regiao, luta pelos interesses locais, preservando sempre "o Direito, a Justic_;:a, a Razao, o Principia, a Consciencia moral" (Distrito de Evora, n.0 1, 6 de Janeiro de 1867, p. 1). Independentemente de cumprir ou nao esta promessa, estas palavras enunciam os prop6sitos de Ec_;:a, circunscrevendo o jornal a um imbito provincial, e mostram tambem coma o jovem jornalista, apesar de inexperiente, tinha consciencia das

JR Celestino David diz: "As secc;:6es que vem depois sao: - Revista Crftica de Jornais - Polftica Estrangeira­Leicuras Modernas, em rodape - Correspondencia do Reino (Lisboa) - Cronica - Interesse Provincial - Crftica de Liceratura e Arte -Agricultura, Comercio e Indllitria -Amincios, com a indica~ao do responsive!·

que e F. da Cunha Bravo, e mais a de que OS escritorios do jornal, que saici aos domingos e quinras-feiras, sao na Prac;:a de S. Pedro n.0 32 - A, a assinarura anual e de 400 reis e o prec;:o avulso e de 40 reis." (DAVID, Celestino - Era de Queiros em Evora. Evora, A Celtica, 1945, p. 94-95).

39 Eram muicas as correspondencias recebidas e publicadas pelo Distrito de Evora, sobretudo dando notf­cias sobre diversas cidades do pafs e da regiao.

40 DAVID, Celestino - Era de Queiros em Evora. Evora, A Celrica, 1945, p. 112. 41 BALLE, Francis - Medias et Societis. De Gutenberg a Internet. Paris, Momchretien, 1997. ga ed., p. 74.

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especificidades do jornalismo local e da necessidade de criar elos afectivos com os seus leitores. E de sublinhar, em nosso entender, que, apesar de o Distrito de Evora ser um jornal assurnidarnente criado para fazer oposicrao ao governo, confrontando e polerni­zando com o principal jornal regional pr6-governo, a FoLha do Sul, essa marca ideol6gica e politica nao esteja presente nestas palavras inaugurais. De facto, como veremos de seguida, o olhar de Ecra nao se restringe de modo algum a esfera dos problernas locais eborenses ou alentejanos, relegando-os ate, na nossa opiniao, para urn plano secundirio e dando protagonismo e relevo as noticias de politica nacional e internacional.

0 Distrito de Evora era urn jornal politico, corn um posicionarnento e objectivos bern definidos, que Ecra de Queir6s tentou curnprir escrupulosamente: funcionar corno 6rgao de oposicrao ao governo, nurn momenta em que o pais vivia sob pressao e em crise social, financeira e politica. 0 jovern jornalista assurniu, corn perfeicrao e fulgor, o papel de opositor e conseguiu transforrnar as paginas do seu jornal, sobretudo as reservadas a politica nacional, em autenticos panfletos de urn cornbate inflamado que ecoavam o torn do jornalisrno revolucionirio das prirneiras decadas do seculo. Jaime Brasil cornenta, a respeito desta primeira experiencia jornalistica do escritor: "Ora, o Distrito de Evora era contra o governo. Tratava-se, portanto, de bater no Governo, de apontar os maleflcios, a estupidez, o ridiculo dos homens do Governo. 0 jovern anarquizante estava, pois, nas

suas quintas. Podia dernolir a vontade - teoricamente, bern entendido - a velha carcacra do poder, apontar-lhe as podrid6es e, sobretudo, criva-la de ridiculo ( ... )"

42• Tarnbern

Anibal Pinto de Castro, na introducrao a Pdginas de ]ornalismo, sublinha precisamente esta atitude exaltada corn que o jovern Ecra abordou as quest6es politicas internacionais e nacionais e explica-as sobretudo por quest6es de clever profissional e de juventude: "( ... ) nao podera deixar-se de levar em linha de coma a situa<;fo em que entao se encontrava -profissionalmente tinha o clever de dar voz a urna oposiyao, cujos fundamentos e pressupostos politico-ideol6gicos erarn naturalrnente contrarios aos do Governo ( ... )"; e, rnais a frente, explica que "a cdtica serena que o tempo havia de trazer consigo, perrni­tindo-lhe ( ... ) urna anilise rnais objectiva dos factos, explica a duracrao efemera das suas afirrna<;6es rnais radicais."43 Longe estarnos ainda do jornalisrno irnparcial e inforrnativo

que progressivamente cornecrava a caracterizar a nova fase da imprensa nacional44

: as paginas do Distrito de Evora sao sobretudo paginas de denilncia, de cdtica acerrirna, de cornbate politico, de polemica. E<;a nao se poupou a esfor<;os para desrnascarar o estado da

42 BRASIL, Jaime - «Er;a de Queiroz, jornalista». In: PEREIRA, Lucia Miguel e REIS, Camara (org.) -Livro do Centendrio de Efa de Queiroz. Lisboa, Livros do Brasil, 1945, p. 512.

43 CASTRO, Anibal Pinto de - «Nota Imrodut6ria». In: QUEIROS, Er;a de - Pdginas de fomalismo

«0 Distrito de Evora» (1867). Porto, Lello & Irmao - Editores, 1981, p. >..'Vii. 44 Segundo Jose Tengarrinha, a partir de 1865, com a fundac;:ao do de Notfcias, desenvolve-se, no

nosso pals, "uma imprensa preponderantemente noticiosa, que se op6e a Imprensa preponderantemente de

opiniiio. Estava lansada a trave mestra do jornalismo contempocineo: a informac;:3.o, coma sua principal preocupac;:3.o e objectivo." (TENGARRINHA, Jose - Perirfdica Portuguesa. Lisboa, Caminho, 1989. 2a ed., p. 215). Ora, na nossa opiniao, o conteudo ea das paginas do Distrito de Evora, que, convem nao esquecermos, era um jornal regional, aproximam-se muiro mais da pratica jornalfstica romantica em que "os jornais, ardentes de paixiio partidaria, arrastavam consigo a opiniao publica, marcando inegavel influencia na marcha dos acomecimentos politicos!" (TENGARRI1'THA, Jose - Historia da Imprema PeriOdica Portuguesa. Lisboa, Caminho, 1989. 2a ed., p. 219).

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nai;:iio, denunciando todos os padres governamentais, desde as simples questitl.nculas de bastidores, ate a problemas de fundo: a amup¢o politica, a falencia das finani;:as ptiblicas, a polemica criac;iio do impasto de consumo, a decadencia da qualidade de vida do povo, o despesismo inutil, a 'polltica-espectaculo', o enfeudamento da imprensa, etc. Cumpre, portanto, de forma apaixonada, aquilo que afirma no texto da Secc;iio «Revista Critica dos Jornais», no mlmero I de 6 de Janeiro de 1867: "A actividade do jornalismo nunca deve abrandar, a sua consciencia deve ter sempre o mesmo vigor, a sua pena o mesmo colorido, o seu sentimento a mesma justa intensidade." (Vol.II, p.300).

4. A re::1cc:ao a massifica<;ao da imprensa na decada de 90

Dentre as varias experiencias jornalisticas do nosso autor, a colaborai;:iio com a Gazeta de Noticias do Rio de Janeiro 45 foi, sem dtivida, a mais duradoura e variada, nao so porque se prolongou, de um modo quase sistematico, durante dezassete anos, mas tambem porque ela se espraia em diversos tipos de compromisso: na alem de correspondente internacional, mantendo os leitores a par do que se passava em Ingla­terra, em Frani;a e um pouco por toda a Europa, foi mentor de um importante projecto cultural - a criai;:ao do «Suplemento Literario»46

- e tambem utilizou. as paginas da Gazeta para publicar, muitas vezes em primeira mao, alguma da sua melhor fic~o 47

• Ei;a, portanto, nao se limitou a ser um mero correspondente da Gazeta de Noticias, tendo-se

45 Ora, a preseni;a de Ei;a de Queiros nas paginas da Gazeta de Noticias do Rio de Janeiro vem, de algum modo, confirmar a que 0 jornalismo brasileiro comei;ou a dar, a partir de determinada epoca, a preseni;a do homem no seu campo. Como demonstra a analise de Lavinia Ribeiro, no caso especifico do Brasil, o jornalismo politico antecedeu o jornalismo licecirio que so comei;ou a afirmar-se com a progressiva heterogeneizai;iio do espai;o publico, no momenro em que os jornais, desvinculando-se do peso partidario, se diversificam, quer em termos de generos, quer ao nfvel dos conreudos (RIBEIRO, Lavinia e Espafo Pdblico. A lnstitucionalizafiio do ]omalismo no Brasil. Rio de Janeiro, e-papers, 2004, p. 118-122).

4" Segundo Elza Mine e Neuma Cavalcante, "Ei;a nao restringiu suas fumr:6es na Gazeta as de um

correspondence escrangeiro ou de um colaborador de alem-mar. A distancia geogcifica nao conscituiu obsci­culo para que se tornasse tambem o mentor, o responsavel pela criai;iio e o director de seu «Suplemento Lireci­ri0>;, que pode, sem duvida, ser encarado como um projecro queirosiano para o Brasil." (MINE, Elza "Ima­gens finisseculares do Novo Mundo no Jornalismo de Ei;a de Queir6s». In: Accas do IV Enconh·o Itzternadonal

de Queirosianos. Coimbra, Almedina, 2002, Vol. I, p. 21). 0 primeiro nt.lmero do Suplemento saiu a 18 de Janeiro de 1892, tendo sido publicados ao todo seis nt.lmeros, "sempre em duas paginas, oito colunas cada, numeradas em algarismos romanos" (MINE, Elza - Ptiginas - Efa de Queiros e o ]ornalimzo do Seculo XIX S. Paulo, Arelie Editora, 2000, p. 68); "a esuurura geral do Suplemento aparenta-o com o esquema basico de muitas das revistas ilustradas tao em voga no ultimo quarrel do seculo XIX, tanto em Portugal, como no Brasil, em que, de uma maneira leve, se ministrava ao leiror um pouco de "instrui;iio e recreio" (. .. )" (MINE, Elza - Pdginas Flutuantes- Efa de Queiros e o Jomalismo do Sicu!o XIX S. Paulo, Arelie Edirora, 2000, p. 71).

47 Manuel Bandeira, num artigo dedicado a colabora¢o queirosiana nesre jornal brasileiro, faz um elcnco

minucioso e datado da publicai;iio dos textos do escritor; esse esrudo permire-nos saber que, para alem das cartas que, como ja referimos, sao fruto da sua acrividade de correspondence, encontrando-se publicadas em seci;Qes como Cartas de Paris e de Landres, Cartas Ecos de Pmis, Cartas Famifiares de Paris e Bilhe­

tes de Paris, Ei;a publicou nas paginas da Gazeta de Nodcias alguma irnporrante fici;ao: A entre 24 de Abril e 10 de Junho de 1887; um capftulo d'Os Maias, em I de Julho de 1888; «Mem6rias e Notas» d'A Con·espondencia de Fradique Mendes, bem como cartas de Fradique; os conros «Civilizai;iio» em 1892, «Frei Genebro» em 1894 e «O Defunto», em 1895. (BANDEIRA, Manuel - «Correspondencia de &;:a de Queiroz para a imprensa brasileirai>. In: Livrodo Llvros do Brasil, s/d., p. 169 e ss}.

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envolvido de uma forma muito mais profunda com o peri6dico, a ponto de Elza Mine considerar Ec;a "estrela de primeirissima grandeza na . Podemos, assim, conduir que a passagem de Ec;a pela Gazeta de Noticias ultrapassa o ambito de uma simples colaborac;ao tal como a que tinha tido, no final da decada de setenta, para o jornal A Actualidade. Para alem de esta ser uma colaborac;ao continuada, como o confirmam as dezenas de cartas e cronicas que foram publicadas entre 1880 e 1897, envolveu-se na pr6pria organica da Gazeta, colaborando activamente na construcrao do seu «Suplemento Litenirio» e utilizou-a tambem como meio de angariar e fidelizar outros leitores da sua obra romanesca. E, portanto, possivel afirmar que a relac;ao de com este peri6dico brasileiro representa, de modo bastante nltido, o conjunto de todas as praticas jornalisti­cas da vida do escritor. Por outras palavras, as diversas func;oes que foi assumindo, ao longo da sua vida, na im prensa contemporanea encontram-se disseminadas nesta colabora<_;:ao com a Gazeta de Noticias. Afem do mais, esta colabora<;ao jornalistica tern lugar num tempo em que Ec:;a de Queir6s era ja um afamado escritor, conhecido e lido com grande interesse no Brasil49

• Nao se trata aqui ja do an6nimo escritor de uns folhe­tins do tempo do Distrito de .Evora, antes de uma personalidade ja bastante conhecida, polemica em alguns aspectos e suficientemente amadurecido, quer nos pressupostos ideol6gicos, quer em termos esteticos.

Vejamos, entao, de que forma esse amadurecimento e, concomitantemente, as evolu­operadas no universo da imprensa desde os anos sessenta se traduzem nas opinioes

sobre o jornalismo e a sua projecc;ao nas sociedades europeias, nesta decada de noventa. 0 escritor, dada a sua posi<_;:ao privilegiada no.centro da Europa civilizada, pode contactar de perto com os principais jornais ingleses e franceses, que lia em quantidade e variedade, como as suas correspondencias de imprensa deixam perceber. Quer isto dizer, portanto, que o olhar de Ec;a, neste fim de seculo, se ab re ao jornalismo como fen6meno europeu, permitindo-lhe uma perspectiva mais alargada e, sobretudo, mais globalizante.

Numa carta de Ecos de Paris, datada de 27 de Abril de 1894, dedicada ao perfil do novo director da Revista dos Dois Mundo/0

, o senhor Brunetiere, Ec;a de Queir6s empreende uma analise critica a pratica jornalfstica do seu tempo. Numa dara estrategia de autentificas:ao, faz preceder a sua analise de duas considerac;:oes fundamentais: a pri­meira diz respeito ao facto de ele pr6prio ser "a [seu] modo, e de um modo bem imper-

MINI!., Elza - Efa de Queiros e o ]ornalismo do Sfculo XIX. S. Paulo, Atelie Editora, 2000, p. 33.

49 A prop6sito da recep~ao da obra queirosiana no Brasil, diz Paulo Cavalcanri: "Ninguem demarcou,

ainda, no estudo de suas influencias, a que exerceu sobre a grande massa de leitores, nas camadas intermedia­rias da sociedade brasileira dos fins do seculo, que o tomava coma modelo de renov~o estetica, seguindo-lhe os gestos e as preferencias, retendo de memoria as situa<;Oes do romances, o nome das personagens, adaptando aos tipos humanos do mo men to ( ... ) as caracterlsticas que &;a de Queiroz animou no povoamento da sua obra." (CAVALCANTI, Paulo - «E<;a de Queiroz e o Brasil,,. In: Efa e Os lvfaias. Actas do 1° Encontro Internacional de Queirosianos, Faculdade de Lerras da Universidade do Porto, Porto, Edic;Oes Asa, 1990, p. 63).

'0 A Revue des Deux lV:londes era uma celebre publica<_;ao parisiense que ja exisria desde a decada de rrinta e

que, a par com a Revue de Paris, acolhia nas suas paginas apenas os grandes names da cultura e da literarura. Era, portanto, uma revista modelar e elitista. Sabre o importante papel desta revista na imprensa francesa, veja­se THERENTY, Marie-Eve e V AlLLANT, Alain - 1836. L ~n I de !ere Analyse !ittiraire et histori­que de La Presse de Girardin. Paris, Nouveau-Monde Editions, 2001, p. 31-32; THERENTY, Marie-Eve -Mosaiques. Etre ecrivain entre presse et roman (I 829-1836). Paris, Honore Champion, 2003, p. 92.

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feito, uma espec1e de jornalista"51; a segunda refere-se ao facto de a sua analise ir

corroborar as opini6es de Brunetiere sobre o assunto, sendo que este representa para Ec;a o academismo inflex.fvel, dogmatico e retr6grado, com o qual nao se identifica. Por outras palavras, o cronista alicerc;a a sua argumentac;ao em dois aspectos que promovem a autenticidade das suas opini6es: o facto de ele pr6prio pertencer, de certa forma, a classe dos jornalistas e, como tal, possuir um estatuto que lhe confere o direito a critica imparcial; e o facto de ir ao encontro de opini6es de uma personalidade em relac;ao a qual tern muitas reservas intelectuais.

Assim, os vicios representados pelo jornalismo sfo, segundo o cronista, a superficiali­dade, a ligeireza, o excessivo poder dos jornais na formac;ao da opiniao publica e, final­mente, o facto de os conceitos de fama e de heroismo estarem sujeitos ao filtro das pagi­

nas impressas. Na verdade, sfo muito interessantes e ainda de grande actualidade as paginas desta carta reservadas a analise do jornalismo. Os jornais sao acusados por Ec;a de deformarem 0 publico, incentivando-o a superficialidade e ligeireza de opini6es: "Incontestavelmente foi a imprensa, com a sua maneira superficial e leviana de tudo julgar e decidir, que mais concorreu para dar ao nosso tempo o funesto e ja irradicivel habito dos juizos ligeiros."52

• Mas Ec;a nao se restringe a expressao da sua opiniao, indo mais longe e enriquecendo o seu raciodnio com alguns exemplos retirados de jornais franceses de referencia como o Pays, o Temps, e o Figaro53

• 0 segundo grande defeito do jornalismo e, segundo o correspondente, fomentar na sociedade uma nova forma de vaidade: o "reclamo", como lhe chama Ec;a, tern um poder extremamente forte sobre todos os individuos cujo bem supremo seria "ter o seu nome impresso, citado no jor­nal!"54. 0 jornal aparece, entao, como um fim Ultimo a atingir, independentemente do tipo de acc;ao praticado: "E esta esperanc;a do «artigo do jornal», que, como outrora a esperanc;a do Ceu, governa a conduta e as ideias - e para «vir no jornal» e que os homens se arru!nam, e as mulheres se desonram, e os politicos desmancham a boa ordem do Estado, e os artistas se lanc;am na extravagancia estetica, e os sabios alardeiam teorias mirabolantes, e de todos os cantos, em todos os generos, surge a horda sofrega dos charlataes "55

51 QUEIR6S, £.ya de - Textos de lmprema IV (da Gazeta de Noticias). Edi~ Critica de Elza Mine e

Neuma Cavalcante. Lisboa, INCM, 2002, p. 456. 52 QUEIR6S, E<;:a de - Textos de lmprema IV (da Gazeta de Noticias). Edicfao Critica de Elza Mine e

Neuma Cavalcante. Lisboa, INCM, 2002, p. 458. 53 Relativamente a este ultimo, o mais prestigiado jornal frances, o cronista coma, citando, que uma nod­

cia sabre a economia portuguesa dava coma de que membros de ilustres fumilias aristocciticas nacionais arranjavam empregos coma carregadores na alfandega e Ec;a comenta: "Estes herdeiros das grandes casas de Portugal, carregando pipas de azeite e fudos de cafe no cais da alfandega, e conservando toda1:ia criados de farda para !hes ir receber o salario - formam um quadro simplesmente portentoso. Pois quern o tra<;:a e o Figaro, um dos mais considerados jornais de Paris, e um dos que tern um pessoal mais largo e mais remune­rado." (QUEIR6S, £.ya de - Textos de lmprensa IV (da Gazeta de Noticias). Edicfao Critica de Elza Mine e Neuma Cavalcante. Lisboa, INCM, 2002, p. 460).

51 QUEIR6S, E~a de - Textos de lmprensa IV (da Gazeta de Noticias). Edic;3.o Critica de Elza Mine e Neuma Cavalcante. Lisboa, INCM, 2002, p. 461.

55 QUEIR6S, E<;:a de - Textos de lmprensa IV (da Gazeta de Notfcias). Edicfao Critica de Elza Mine e Neuma Cavalcante. Lisboa, INCM, 2002, p. 462.

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Curiosamente, no final da carta, Es:a de Queir6s assume uma postura ir6nica e distanciada, confessando partilhar desses pecados ao jornalismo e termina declarando: "e eu tenho pressa de a findar, para ir ler os meus jornais com delicia!"56

Este final desconcertante traduz, na nossa opiniao, a posi~o ambivalente dos homens de letras face as grandes mudam;as operadas no universo jomalisrico no final do seculo: se, por um lado, perspectivam os jornais como um bem imprescindivel que ensina a ler o mundo e permite a vivencia democratica, por outro lado, tambem captam os seus aspec­tos mais disf6ricos, nomeadamente o enfeudamento do jomalista a nova fon;:a crescente da massa de leitores. Note-se que esta duplicidade nao e de todo espedfica de de Queiros, pois um escritor como Stendhal, decadas antes de Eya, tambem via o jornal como "une arme a double tranchant": se, por um lado, ea arma fundamental para 0 combate das tiranias, por outro lado, e profundamente nociva a arte, provocando a estandardiza<rao dos julgamentos esteticos ea decadencia da arre e da literamra. Tambem £<ra foi muito sensivel a este aspecto e, num interessante texro de Ecos de Paris, datado de 1 de Julho de 1894, intitulado «0 Salon», apresenta ao seu leitor um evento anual de grande projec~o cultural - o salao de belas artes - mas fii-lo em termos ir6nicos, transmitindo a impressao de que a exposi~o em causa decorre, nao tanto de uma verda­deira pelas Belas-Artes, mas antes de um calendario social que importava cumprir, tal coma em Landres se organiza anualmente a regata inter-universitaria ou em Lisboa as festas de Santo Antonio. No entanto, a analise queirosiana vai ainda mais longe e consi­dera a visita a exposi~o uma "peregrina~o instrutiva", sobretudo porque permitiu ao cronista materia de reflexao sobre uma questao muito mais alargada do que simples-. mente o aspecto artistico ou social do evento. Neste cenario, Eya apercebe-se da incapacidade inata do homem social, na epoca moderna, de pensar com a sua pr6pria cabe<ra, de ajuizar livremente, independentemente dos ditames proferidos pelos lideres de opiniao ou pelos jornais. Note-se como descreve o ptiblico do Salao: "Como uma fila submissa de hons cameiros, todos estes milhares de seres pensantes, e unicos donos do seu pensamento, marchavam arrebanhadamente para aquelas obras que, na vespera, o Escudo Crftico, ou antes o Guia Critico do «Salao», publicado pelo jornal, lhes indicava, ou melhor lhes impusera, como as tinicas diante das quais deviam parar, e fazer «ah!» e sentir uma emoc;ao, e depor um louvor." 57 A partir daqui, o autor considera<r6es, muitas delas ainda de actualidade, sobre o fracasso revolucionarios e da Democracia, pois que ja no final do seculo XIX, o publico leia-se o publico urbano burgues - se comporta como o habitante de Damasco ou de Bagdad que nao prescindia do seu "cadi" ou do seu "ulema" para poder ter uma opiniao que seguir; com uma diferern;a, imposta pelos tempos modernos: neste final de seculo, nenhum homem civilizado que se queira respeitado pode prescindir da Arte ou da Literatura, pois elas representam a "sobrecasaca da inteligencia", rapida e fugazmente consumidas nos jornais, afinal os grandes formadores (e deformadores) da opiniao publica. Neste ponto, E<ra consegue ser corrosivo: "O expediente natural portanto e

>ri QUEIR6S, ~a de - Textos de Imprensa JV (da Gazeta de Noticias). Edi¢o Cridca de Elza Mine e Neuma Cavalcanre. Lisboa, INCM, 2002, p. 462.

17 QUEIROS, %a de Textos de lmprensa JV (da Gazeta de Noticias). Edi<;ao Cririca de Elza Mine e Neuma Cavalcante. Lisboa, INCM, 2002, p. 477.

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recorrer aqueles que tern por profissao e especialidade fornecer, sobre coisas de arte, opinioes e frases. Estes sao os criticos e tern a sua loja de retalho no jornal. Nada mais c6modo, mais rapido, pois, do que comprar ao critico, pela toleravel soma de dez reis, tres ou quatro opini6es, como se compram no luveiro tres ou quatro pares de luvas, escuras e claras. Enverga-se a opiniao. como se cal~ a luva, e desde logo se fica apto a aparecer na sociedade com oar ea elegancia moral de um ser culto."58

Conclusao

Certo e que, dentre os variados temas que comp6em a correspondencia da Gazeta de Noticias da decada de noventa, o jornalismo ocupa um lugar central, embora discutido de uma forma fragmentaria59

, e e um dos aspectos do mundo moderno que comp6e a imagem pessimista e ceptica que E~ mostra ter da sobretudo da Europa civili­zada, aqui representada por Fran~ e Inglaterra. Ao contrario do que sucedera no Distrito de Evora, 0 escritor /jornalista, neste final de seculo, nao defende explicitamente nenhum ideal de jornalismo mas reline um conjunto de crfticas que ilustram bem as tens6es que marcam a evolus;ao do jornalismo europeu nestas ultimas decadas do sec'-!lo. Nao esquec;amos que, desde a decada de setenta, ~de Queir6s vive fora de Portugal, ocupando cargos consulares de algum relevo, como o de Bristol e o de Paris, o que lhe possibilitou um contacto directo com o funcionamento da mais prestigiada imprensa europeia. Ora, nestas ultimas decadas, o jornalismo frances comec;ou a modernizar-se, adaptando-se lentamente ao modelo anglo-americano que ditava, entre outras coisas, a primazia dos factos sobre as opinioes, a valoriza<;ao da objectividade, a promo<;ao do sensacionalismo, etc. Dissemos ja, no entanto, que dada a especificidade da imprensa francesa, sobretudo a sua intima relac;ao com a Literatura, essa industrializa<;ao da imprensa foi lenta e gerou grandes controversias.

Parece-nos, assim, relendo as opini6es plasmadas por nestas cr6nicas finissecula-res a luz da Hist6ria da imprensa europeia, que elas traduzem as grandes inquieta<;Oes do homem de letras oitocentista que se apercebia da gradual perda de imporrancia do lite­rato e do intelectual num mundo em transforma<;ao. Deste modo, entendemos as posi­c;6es de como mais uma forma de resistencia a industrializas;ao e a massifica<;ao do

>a QUEIROS, ~de - Textos de bnprensa IV (da Gazeta de Noticias). Edi~o Crfrica de Elza Mine e Neuma Cavalcante. Lisboa, INCM, 2002, p. 481.

1" A prop6sito da crfrica ao jornalismo, leia-se um outro 'eco', igualmente datado 4e 1894, em que E91 de

Queiros conta o facto inedito de o rei Humberto de Italia ter sido entrevisrado por um jornalista do Figaro. Aqui o cronista aproveita para desmascarar a inutilidade das entrevistas a figuras oficiais, que nada de novo, original ou espantoso poderao confessar; deste modo, o cronista ridiculariza a publicidade estridente feita pelo jornal frances perante o facto de ter conseguido este furo. Noutra cana de Ecos de Paris, datada de 10 de Agosto de 1894, a prop6sito da cobertura jornalistica da morte do Presidente Carnot, o cronista condena a linguagem sensacionalisra dos jornais que apenas serve para exaltar as emoc;oes, impedindo o fundamental distanciamento critico do leitor: "Os jornais concorreram para exaltar esta curiosidade, menos pelas cousas dolorosas que vinham contando, como maneira terrffica com que as anunciavam, em tipo disforme, letras de tres polegadas, de um negrume sinistro, enchendo coda uma folha, e na sua mudez mais estridemes que gritos!" (QUEIR6S, ~de - Textos de bnprensa IV (da Edi¢o Crlcica de Elza Mine e Neuma Cavalcante. Lisboa, INCM, 2002, p. 491).

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jornalismo, caracteristica de muitos intelectuais europeus. Inclusive, a leitura da sua vast{ssima colaborac;ao cron{stica e epistolar para a Gazeta de Noticias do Rio de Janeiro permite-nos verificar a persistencia de um conjunto de discursivas e narrativas mais pr6ximas do ideal jornalfstico pre-industrial do que propriamente a submissao aos novos padr6es de escrita: o persistente recurso a forma epistolar, a propensao narrativa dos textos, a persistencia do discurso descritivo, a literariedade de algumas cronicas, 0

diletantismo tematico e a forte presern;a da opiniao e da subjectividade discursiva sao estrategias tfpicas de um jornalismo literario que insiste em resistir a vaga do novo jorna­lismo de finais do seculo XIX.

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