a mtca no mundo o proc reg port a acupuntura
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AcupunturaTRANSCRIPT
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INSTITUTO PORTUGUS DE NATUROLOGIA
CURSO DE MEDICINA TRADICIONAL CHINESA
MEDICINA TRADICIONAL, COMPLEMENTAR E ALTERNATIVA NO MUNDO
O processo de regulamentao em Portugal o caso da Acupuntura
MONOGRAFIA DE CONCLUSO DO CURSO DE MEDICINA TRADICIONAL CHINESA 2006 2011
MARTA MOREIRA
RITA GONALVES
Orientao: Professora Doutora Manuela Maia
PORTO
Agosto 2011
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NDICE
I Introduo ....................................................................................................................... 4 II A Medicina Tradicional, Complementar e Alternativa....................................................... 6
II.1 Definies e Delimitao de Conceitos .................................................................... 6 II.2 Os Sistemas da Medicina Tradicional, Complementar e Alternativa ........................ 9
II.2.1 A Medicina Tradicional Chinesa........................................................................ 9 II.2.2 A Medicina Ayurveda ...................................................................................... 13 II.2.3 A Medicina Unani ........................................................................................... 14 II.2.4 A Medicina Tradicional Sul-Americana ........................................................... 15 II.2.5 A Fitoterapia ................................................................................................... 15 II.2.6 A Homeopatia ................................................................................................. 16 II.2.7 Naturopatia ..................................................................................................... 17 II.2.8 Osteopatia ...................................................................................................... 17 II.2.9 Quiropraxia ..................................................................................................... 18
III A MTCA no Mundo e o Papel da OMS .......................................................................... 20 III.1 O Crescimento e o Papel da MTCA no Mundo ...................................................... 20 III.2 As Distintas Abordagens dos Sistemas de Sade Mundiais .................................. 24 III.3 Constrangimentos e Desafios ................................................................................ 24 III.4 O Papel da Organizao Mundial de Sade .......................................................... 27
IV Breve Panormica da Medicina Complementar e Alternativa na Unio Europeia .......... 30 IV.1 Razes em Favor dos Processos de Regulamentao .......................................... 30 IV.2 Modelos de Proviso das MCA .............................................................................. 31 IV.3 Sistemas de Regulamentao ............................................................................... 32
IV.3.1 Acesso Profisso ......................................................................................... 33 IV.3.2 Formao e Investigao................................................................................ 34
IV.4 Estdios de Desenvolvimento na Europa .............................................................. 34 IV.4.1 Alemanha ....................................................................................................... 36 IV.4.2 ustria ............................................................................................................ 36 IV.4.3 Blgica............................................................................................................ 37 IV.4.4 Bulgria .......................................................................................................... 37 IV.4.5 Chipre ............................................................................................................. 38 IV.4.6 Dinamarca ...................................................................................................... 38 IV.4.7 Eslovquia ...................................................................................................... 38 IV.4.8 Eslovnia ........................................................................................................ 38 IV.4.9 Espanha ......................................................................................................... 39 IV.4.10 Estnia ........................................................................................................... 39 IV.4.11 Finlndia ......................................................................................................... 39 IV.4.12 Frana ............................................................................................................ 40 IV.4.13 Grcia ............................................................................................................. 40 IV.4.14 Holanda .......................................................................................................... 40 IV.4.15 Hungria ........................................................................................................... 40 IV.4.16 Islndia e Irlanda ............................................................................................ 41 IV.4.17 Itlia ................................................................................................................ 41 IV.4.18 Letnia............................................................................................................ 41 IV.4.19 Liechtenstein .................................................................................................. 42 IV.4.20 Litunia ........................................................................................................... 42 IV.4.21 Luxemburgo ................................................................................................... 42 IV.4.22 Malta .............................................................................................................. 43 IV.4.23 Noruega .......................................................................................................... 43 IV.4.24 Polnia ........................................................................................................... 43 IV.4.25 Reino Unido .................................................................................................... 43 IV.4.26 Repblica Checa ............................................................................................ 44
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IV.4.27 Romnia ......................................................................................................... 44 IV.4.28 Sucia ............................................................................................................ 45 IV.4.29 Sua .............................................................................................................. 45
V O Caso Portugus ......................................................................................................... 46 V.1 O Processo de Profissionalizao das TNC .......................................................... 46 V.2 A Lei 45/2003, de 22 de agosto ............................................................................. 49 V.3 As Propostas de Regulamentao......................................................................... 52
V.3.1 Formao e Investigao................................................................................ 54 V.3.2 A Integrao no Sistema Nacional de Sade .................................................. 57 V.3.3 Os Seguros de Sade .................................................................................... 61
VI O Caso Particular da Acupuntura .................................................................................. 66 VI.1 Caracterizao da Profisso e Perfil Profissional do Acupuntor ............................. 66 VI.2 Cdigo Deontolgico do Acupuntor ....................................................................... 69 VI.3 Cdigo de Prtica Segura de Acupuntura .............................................................. 69
VI.3.1 Licenciamento das Instalaes ....................................................................... 70 VI.3.2 Produtos Fitoteraputicos ............................................................................... 71
VI.4 Formao Profissional Bsica em Acupuntura....................................................... 73 VI.5 Certificao e Credenciao Profissional do Acupuntor ......................................... 76 VI.6 Regime Fiscal e Regime de Seguros para o Acupuntor ......................................... 78
VII Concluso ..................................................................................................................... 80 Referncias Bibliogrficas ................................................................................................... 87 Anexo .................................................................................................................................. 91
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I INTRODUO
A Medicina Tradicional Complementar e Alternativa (MTCA) tm-se afirmado nas prticas
mdicas a nvel mundial, integradas ou em cooperao, ou ainda em alternativa designada
medicina aloptica.
Enquanto finalistas do Curso de Medicina Tradicional Chinesa do Instituto de Naturologia do
Porto e, conscientes do papel que este conjunto de prticas tem vindo a assumir, das
preocupaes que as mesmas tm merecido e considerando a escassez de informao
sistematizada sobre estas temticas, achou-se til desenvolver um trabalho baseado em
busca documental sobre elas, focando vertentes como o futuro da proviso dos cuidados,
enquadramento no mercado de trabalho, acesso profisso e sua regulamentao,
formao contnua, licenciamento dos espaos, conhecimento dos limites da atividade,
competncias ticas e formativas, relao com a sociedade e sistema de prestao de
cuidados de sade e em particular o sistema nacional de sade e precaues a tomar no
exerccio profissional.
Tratou-se o que tem sido feito a nvel transnacional, de modo a obter-se o necessrio
enquadramento para a abordagem ao caso portugus e, em particular, acupuntura, central
na Medicina Tradicional Chinesa e uma das teraputicas no convencionais integradas na
Lei n. 45/2003, de 22 de agosto, que aprovou o Enquadramento Base das Teraputicas
No Convencionais (TNC).
A pesquisa documental acompanhada de anlise, cruzamento e relacionamento de
informao, envolvendo reas de saber distintas, desde a sociologia das profisses tica e
ao direito, passando pela educao e ensino, seguros e administrao.
Complementarmente, efetuou-se um pedido de informao Direo-Geral de Sade e foi
elaborado e aplicado um inqurito dirigido a companhias seguradoras no mercado
portugus.
Com vista a clarificar o lugar em que nos encontramos no processo de regulamentao e
avaliar o que que ainda possvel esperar em matria de consolidao/reconhecimento
desta prtica profissional e porque a MTCA inclui uma vastido de tcnicas e conceitos
no Captulo II, seco II.1, elucidam-se e balizam-se designaes. Na seco II.2
descrevem-se os principais sistemas mdicos e conjunto de prticas existentes, incluindo
os seus tipos de prtica e fundamentos.
No Captulo III, caracteriza-se o papel que a MTCA tem assumido na promoo da sade,
no esquecendo os desafios e constrangimentos subjacentes, destacando a importncia do
trabalho desenvolvido pela Organizao Mundial de Sade (OMS).
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No Captulo IV, apresenta-se uma caracterizao da situao em 29 pases que integram a
Unio Europeia / Espao Econmico Europeu. O Captulo V dedicado ao caso de
Portugal. Analisa-se o processo de profissionalizao das prticas teraputicas, cuja
primeira fase se materializou na aprovao da Lei n. 45/2003, de 22 de agosto, que
estabelece o enquadramento base das TNC, e as respetivas propostas de regulamentao,
focando a formao e investigao, a integrao no sistema nacional de sade e seguros de
sade.
Sendo este trabalho efetuado no mbito do curso de Medicina Tradicional Chinesa, na qual
desempenha papel central a Acupuntura, o Captulo VI a esta dedicado. Tratam-se temas
como o perfil profissional do acupuntor, o estabelecimento de um cdigo deontolgico e de
um cdigo de prtica segura, a formao bsica em acupuntura, a certificao e
credenciao dos profissionais e o regime fiscal e de seguros.
No Captulo VII, em sntese conclusiva, apresentam-se algumas preocupaes que se
julgam fundamentais para o bom despacho do processo de regulamentao da acupuntura
e demais TNC, ainda em curso, chamando a ateno de responsveis polticos e de
entidades reguladoras; de responsveis por rgos associativos das associaes
profissionais interessadas; de responsveis pelas escolas de TNC em Portugal e respetivos
colaboradores, docentes e no docentes; e de alunos.
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II A MEDICINA TRADICIONAL, COMPLEMENTAR E ALTERNATIVA
II.1 Definies e Delimitao de Conceitos
Falar de Medicina Tradicional, Complementar e Alternativa (MTCA) abordar um tema que
apresenta alguma dificuldade de delimitao. Trata-se de um conceito amplo e diferenciado
que suscita um vasto leque de reaes entre as pessoas, desde entusiasmo e abertura at
ceticismo e criticismo.
O uso da MTCA continua a ser generalizado nos pases em vias de desenvolvimento e est
a aumentar rapidamente nos pases desenvolvidos. Em muitos lugares do mundo, os
responsveis pelas polticas, os profissionais de sade e o pblico em geral debatem-se
com perguntas frequentes sobre a segurana, a eficcia, a qualidade, a disponibilidade, a
preservao e o desenvolvimento deste tipo de terapias.
A designao MTCA por vezes usada para referir cuidados de sade considerados
suplementares da Medicina Aloptica.1 Contudo, noutros pases, o estatuto legal da MTCA
equivalente ao da Medicina Aloptica, muitos profissionais so certificados em ambas, e os
cuidados primrios de sade para muitos pacientes referem-se a terapias da MTCA.
Para a Organizao Mundial de Sade (OMS), as terapias da MTCA podem classificar-se
como terapias de medicao se utilizarem medicamentos com base de ervas, partes de
animais e/ou minerais , ou terapias sem medicao se realizarem tratamentos
maioritariamente sem uso de medicao, como o caso da acupuntura, das terapias
manuais, do Qi Gong, do Tai Qi, da terapia termal, do Yoga e outras terapias fsicas,
mentais, espirituais e terapias de mente e corpo (WHO, 2002).
A Medicina Complementar e Alternativa (MCA) inclui, entre outras, terapias medicinais como
a Fitoterapia, a Homeopatia, a Acupuntura, a Medicina Antroposfica, a Naturopatia, a
Medicina Tradicional Chinesa e tratamentos corporais, incluindo a Osteopatia, a Quiropraxia
e o Shiatsu (EICCAM, 2008)
Influenciados por fatores como a histria, as atitudes pessoais, as crenas e a filosofia, a
prtica da Medicina Tradicional (MT) varia em grande medida de um pas para outro e de
uma regio para outra. Desnecessrio ser dizer que a sua teoria e aplicao diferem
bastante da teoria e aplicao da Medicina Aloptica.
A abrangncia do termo e a ampla gama de prticas que engloba torna difcil a sua definio
ou descrio, especialmente num contexto global, apresentando caractersticas e pontos de
vista diferentes e, por vezes, conflituosos.
1 Medicina Aloptica refere-se, neste trabalho, ampla categoria de prticas mdicas, por vezes tambm chamada de Medicina Ocidental, Biomedicina, Medicina Cientifica ou Medicina Moderna.
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Com efeito, a MT tanto pode ser codificada, regulamentada, abertamente ensinada e
praticada amplamente e de forma sistemtica, beneficiando de milhares de anos de
experincia, como, pelo contrrio, pode ser altamente reservada, mstica e extremamente
localizada, com conhecimentos e prticas difundidas oralmente. Pode ser baseada em
sintomas fsicos identificados ou foras sobrenaturais percecionadas. Sendo um
conhecimento passado de gerao em gerao, a sua prtica geograficamente restrita e
pode ser mesmo encontrada em diversas regies do mundo. Na maioria dos casos, esta
Medicina chamada Tradicional quando praticada dentro do pas de origem.
A OMS define MT como uma diversidade de prticas de sade, abordagens,
conhecimentos e crenas diversas sobre a sade, incorporando curas base de plantas,
animais, e/ou minerais; terapias espirituais ou energticas, tcnicas manuais e exerccios
aplicados isoladamente ou combinados para manter o bem-estar geral, bem como para
tratamento, diagnstico ou preveno de doenas. Esta ampla designao inclui a
Medicina Tradicional Chinesa, a Ayurveda Hindu e a Medicina Unani rabe, assim como as
diversas formas de Medicina indgena (WHO, 2002).2 .
Ainda segundo a OMS, habitualmente usam-se as designaes Complementar, Alternativa,
No Convencional e Paralela para referir um amplo grupo de prticas de sade que no
fazem parte da tradio de um pas ou comunidade ou no esto integradas no seu sistema
de sade prevalecente (WHO, 2002). Por exemplo, a Acupuntura e mesmo toda Medicina
Tradicional Chinesa so, em muitos pases europeus, designadas como MCA, por no
fazerem parte das suas prprias tradies. Da mesma forma, a Homeopatia e a Quiropraxia,
que s no sculo XVIII se desenvolveram na Europa e no se incorporam nos seus modos
dominantes de cuidados de sade, habitualmente so aqui classificadas, no como MT, mas
como MCA (WHO, 2002).
Permanece alguma confuso sobre o que a MCA e qual a relao entre as disciplinas nela
includas e a medicina convencional. Vejamos brevemente porqu.
Comeamos por reportar-nos a Zollman et al. (1999). Nas dcadas de 1970 e 1980, em
muitas regies do mundo, essas disciplinas eram fornecidas principalmente como uma
alternativa aos cuidados de sade convencionais e, portanto, tornaram-se conhecidas como
"medicina alternativa". O nome "medicina complementar" foi desenvolvido quando os dois
sistemas comearam a ser usados paralelamente, ou seja, como complementares um do
outro. Ao longo dos anos, o termo "complementar" passou de descrever esta relao entre
as disciplinas de sade no convencionais e os cuidados convencionais para passar a
definir o grupo de disciplinas em si. Acresce que algumas autoridades usam "no 2 Ao longo da histria, asiticos, africanos, rabes, nativos americanos, ocenicos, americanos do centro e sul, alm de outras culturas, desenvolveram uma grande variedade de sistemas de medicinas tradicionais indgenas.
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convencional" como termo sinnimo de complementar. Na Enciclopdia de Medicina
Complementar e Alternativa, a medicina alternativa definida como qualquer mtodo,
tcnica ou prtica que promove a restaurao da sade e o bem-estar e no est includo
na medicina convencional ou medicina ocidental; e a medicina complementar definida
como qualquer mtodo ou modalidade que pretende enriquecer ou complementar outros
tratamentos, incluindo os da medicina ocidental.
As formas de tratamento complementar podem ser igualmente categorizados como
medicina alternativa ou integrativa (Navarra, 2004).
Nos EUA, o termo Medicina Complementar e Alternativa tornou-se amplamente aceite para
incluir as duas vertentes referidas, particularmente desde que foi adotado pelo US Institute
of Health na criao, em 1998, do National Center for Complementary and Alternative
Medicine. A MCA foi ento definida como um grupo de sistemas de cuidados mdicos de
sade, prticas e produtos que no so considerados como fazendo parte da Medicina
Convencional (CAM, 2008).
O Institute of Medicine nos EUA adotou, em 2005, a definio da Cochrane Collaboration,
organizao no governamental criada em 1993 no Reino Unido, que refere a MCA como
um domnio amplo de recursos de cura que engloba todos os sistemas de sade,
modalidades, prticas e suas teorias e crenas, que no as intrnsecas aos sistemas de
sade politicamente dominantes numa determinada sociedade ou cultura, num determinado
perodo histrico, contribuindo para um propsito comum: o de satisfazerem uma procura
no satisfeita por prticas convencionais e diversificarem a estrutura conceptual da
medicina (CAM, 2008).
Segundo o Centro Europeu de Informao para a MCA, esta caracteriza-se por ter uma
abordagem individualizada e holstica do paciente; por promover a restaurao dos sistemas
naturais dos prprios pacientes para combater a doena; por assegurar a restaurao e
manuteno da sade com a ajuda de medicao, tratamentos corporais, modificao do
estilo de vida, mudana na dieta e com a abordagem psicolgica; e pela contraposio
salutognese versus patognese (EICCAM, 2008).
Em Portugal, a MCA foi alvo de ateno particularmente na Lei n. 45/2003, de 22 de
agosto, que utiliza a designao Teraputicas No Convencionais (TNC), reconhecendo
enquanto tal apenas a acupuntura, a homeopatia, a osteopatia, a naturopatia, a fitoterapia e
a quiropraxia. Este conceito, apelidado de scio-poltico, teve na sua gnese o abandono do
termo medicina, por influncia da Ordem dos Mdicos Portuguesa no processo legislativo
(Almeida, 2008).
Neste trabalho, tendo como referncia a distino efetuada pela OMS, utiliza-se a
designao Medicina Tradicional (MT), quando se fizer referncia s sub-regies frica,
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Amrica Latina, Sudeste Asitico ou Pacfico Ocidental, e a designao Medicina
Complementar e Alternativa (MCA), quando se fizer referncia Europa, Amrica do Norte
ou Austrlia. A designao Medicina Tradicional, Complementar e Alternativa (MTCA),
refere-se ao conjunto das duas anteriores. A designao Teraputicas No Convencionais
(TNC), fixada pela Lei 45/2003, utilizada nas partes que tratam do processo de
regulamentao em Portugal, designadamente do caso especfico da Acupuntura.
II.2 Os Sistemas da Medicina Tradicional, Complementar e Alternativa
Como interao humana, a teraputica excede muitas vezes o mbito das cincias
experimentais. O sistema da medicina ocidental ou aloptico, que procura fundamentar-se
na cincia e no mtodo cientfico, no assim nico, nem pode excluir outros grandes
sistemas, que, como estratgias de adaptao ao meio, comprovaram a sua eficcia em
diferentes culturas.
Alm do sistema ocidental, podemos falar de trs grandes sistemas mdicos que
sobreviveram passagem dos sculos e das culturas e que mantm hoje uma validade que,
no s no desapareceu com os progressos da medicina ocidental, como, em muitos casos,
foi reforada e confirmada pela investigao cientfica.
Referimo-nos Medicina Tradicional Chinesa, cujo ramo mais conhecido a acupuntura, ao
Ayurveda Hindu e ao Sistema de Medicina Unani dos muulmanos. Embora menos
conhecida, alguns autores referem tambm a Medicina Tradicional Sul-Americana como um
sistema mdico (WHO, 2001).
Para alm destes grandes sistemas mdicos, existe um conjunto de prticas que utilizam
mtodos mais ou menos elaborados para restabelecer a sade, entre elas a naturopatia, a
botnica mdica ou fitoterapia, as medicinas manuais, a homeopatia, a terapia neural, todas
as reflexoterapias, as modernas teraputicas psicofsicas e as prticas mdicas populares.
Apresentamos a seguir uma sntese dos principais sistemas e conjuntos de prticas
existentes, dando a conhecer um pouco do que a prtica de cada um e os fundamentos e
filosofia a eles subjacente.
II.2.1 A Medicina Tradicional Chinesa
Os primeiros registos sobre Medicina Tradicional Chinesa (MTC) remontam ao sculo VIII
a.C. O primeiro e mais importante texto clssico de medicina chinesa, que se considera ser
do sculo I d.C. (WHO, 2001), ficou conhecido como O Clssico da Medicina Interna do
Imperador Amarelo (Huang Ti Nei Ching).
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A MTC tem como base a existncia de uma estrutura energtica associada ao corpo fsico.
A abordagem chinesa do corpo humano nica e baseia-se numa compreenso holstica do
universo. Afirma que no corpo a energia, Qi,3 circula por canais designados de meridianos,4
os quais possuem na sua trajetria pontos especficos, denominados pontos de acupuntura
que, ao serem puncturados por finas agulhas, reorganizam a circulao energtica de todo o
corpo (Medicina Chinesa, 2011).
A MTC atua partindo do pressuposto de que a doena ocorre no corpo emocional e mental
da pessoa, constituindo uma desorganizao da energia funcional que controla e dinamiza
os rgos. Do ponto de vista filosfico, sustenta que a cura um processo que deve
envolver todo o corpo, isto , independentemente do ponto do corpo fsico em que a doena
se desenvolveu, deve entender-se que todo o corpo est doente (Williams, 1996).
A filosofia da medicina chinesa integra conceitos do taoismo, confucionismo e budismo.
Embora existam vrias escolas de pensamento entre os praticantes da MTC, existem cinco
axiomas taoistas que constituem a sua base: existem leis naturais que governam o
Universo, incluindo os seres humanos; a ordem natural do Universo , de forma inata,
harmoniosa e bem organizada; quando as pessoas atuam de acordo com as leis do
Universo, vivem em harmonia com ele; o Universo dinmico, e a mudana a sua nica
constante; a estagnao est em oposio lei do Universo e produz o que a medicina
ocidental denomina de doena; todos os elementos vivos esto ligados e so
interdependentes; os seres humanos esto intimamente relacionados com o seu meio e so
afetados por todas as aes que nele acontecem (Krapp & Longe, 2011).
A cultura chinesa assenta na teoria do yin - yang.5 Nela tambm importante a teoria dos
cinco elementos,6 madeira, fogo, terra, metal e gua , submetidos a dinmicas de
predominncia entre o yin e o yang, que tm aplicao direta no diagnstico e no tratamento
da doena (Medicina Chinesa, 2011).
Largamente estudada e reconhecida pela Organizao Mundial de Sade (OMS), a MTC
possui hoje, mesmo no mundo ocidental, um valor inegvel, de tal modo que a prpria OMS
emitiu uma lista de patologias em que reconhecida a sua eficcia tais como: bronquite,
pneumonia, asma, rinite, sinusite, hipertenso arterial, lcera pptica, disfuno biliar,
diabetes mellitus, acne, dermatite, reumatismo, m posio fetal, hemorridas, celulite,
3 Qi entendido como uma a fora / energia universal. A qualidade, a quantidade e o equilbrio do Qi
de uma pessoa determinam o seu estado de sade e a sua longevidade. 4 Meridianos so vias de energia subtil, que ligam ou regulam as diferentes estruturas, rgos ou substncias do corpo humano. Segundo a MTC, existem 12 meridianos principais e 8 meridianos secundrios ou extraordinrios.
5 No pensamento taoista, o yin e o yang so as duas foras csmicas interdependentes, primordialmente opostas, que se complementam e se influenciam.
6 So as cinco substncias bsicas que simbolizam as qualidades essenciais do Universo.
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obesidade, insnias, obstipao, alcoolismo, dores articulares, prostatite, incontinncia
urinria e fecal, enurese, sndrome de mnire, citica, nevralgia do trigmio, polinefrite,
cefaleia, depresso, neurose psquica, torcicolo, tenossinovite, tabagismo, gripe, tosse,
tonturas e vertigens, tinidos ou zumbidos, angina de peito, otite, impotncia sexual,
menopausa problemas menstruais, e patologias da mama (Medicina Chinesa, 2011).
A MTC engloba uma srie de prticas, incluindo a acupuntura, a moxibusto, a fitoterapia, a
regulao diettica, a massagem e o exerccio teraputico designado como Chi Kung. A
acupuntura a forma de medicina tradicional mais amplamente usada, sendo praticada em
todas as regies do mundo (WHO, 2001).
O primeiro registo conhecido acerca de acupuntura aparece no Huang Di Nei Ching. Baseia-
se na teoria dos meridianos que percorrem o corpo humano, tendo em conta as
caractersticas de cada um deles, a localizao exata dos 365 pontos principais (zonas
acessveis s agulhas) e o rgo ou vscera e outros meridianos a que cada um
corresponde (Williams, 1996).
A designao acupuntura tem origem na referncia efetuada por um clrigo europeu no
sculo XVII durante a sua estadia na China: acus de agulha e punctum de puno. O termo
chins zhenjiu: zhen de agulha e jiu de cauterizao/moxa (Medicina Chinesa, 2011).
Os pontos de acupuntura podem tambm ser estimulados atravs dos dedos, designando-
se de acupresso (caracterizando distintas variantes da tcnica de massagem chinesa, Tui-
Na); atravs de ventosas, que podem abranger diversos pontos em simultneo; por
estimulao com laser; e atravs do aquecimento, mediante utilizao da moxabusto
(aplicao de calor proveniente da combusto de moxa).
Segundo os dados histricos disponveis, as aplicaes de calor devem ter sido o primeiro
tratamento de MTC a ser desenvolvido. Com efeito, j existe referncia a ele no Tratado de
moxibusto dos onze vasos Yin Yang, mil anos antes do Nei Jing, o livro de acupuntura do
Imperador Amarelo, o livro mais antigo que se conhece sobre MTC (Williams, 1996). A moxa
feita base de artemsia (Artemisia vulgaris ou Artemisia arguyi). Esta planta tem
propriedades curativas: de natureza quente, com propriedades para combater quadros de
frio, desbloqueando a energia que circula nos meridianos e eliminando as dores. Pode
aplicar-se moxa em basto (o mais comum) ou em cone. Tambm possvel usar a moxa
conjugada com a acupuntura, aproveitando o facto de as agulhas de acupuntura serem
atualmente feitas de material no isolante, juntando-se a moxa agulha (Brito, 2008).
O uso de ventosas tambm uma tcnica bastante usada. As ventosas so feitas de bambu
ou vidro, este atualmente mais usado, por razes de higiene e segurana. Cria-se vcuo
(baixa presso) dentro da ventosa atravs de uma chama que se acende dentro dela,
colocando-a imediatamente sobre a rea selecionada. O efeito produzido o de promover o
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fluxo de energia e sangue na rea abrangida pela ventosa e de expulsar fatores patognicos
do organismo (Brito, 2008).
A electroacupunctura um recente desenvolvimento que combina a utilizao de agulhas
com o estmulo eltrico. A sua utilizao maximiza os efeitos teraputicos da acupuntura e
tambm aumenta o seu leque de indicaes. A sua primeira utilizao remonta a 1810,
quando um mdico francs, Couis Berlioz, props a aplicao de eletricidade num
tratamento de acupuntura. Quinze anos mais tarde, outro mdico, Sarlandiere efetivou esse
tratamento num paciente com nevralgia citica. O tratamento com electroacupunctura tem
sido aperfeioado e tem reunido largo consenso no que respeita aos seus resultados
teraputicos. Entre as principais indicaes da electroacupunctura encontra-se, entre outras,
o tratamento de doenas do foro neurolgico e psiquitrico, problemas gastrointestinais,
diversos tipos de dor, doenas de ouvidos, nariz e garganta e doenas de pele (Medicina
Chinesa, 2011).
A fitoterapia chinesa outra das terapias da MTC, caracterizando-se pelo uso de extratos de
plantas, animais e minerais. O seu papel to ou mais importante que a acupuntura. Os
fitoterapeutas chineses usam apenas fitoterapia para tratar os seus pacientes, mas a
maioria dos acupuntores usa-a combinada com a acupuntura. A fitoterapia chinesa recorre a
frmulas que utilizam vrias plantas associadas de acordo com as suas caractersticas
energticas para tratar uma ou vrias sndromes (Krapp e Longe, 2011). Um remdio
fitoteraputico chins tradicional contm pelo menos quatro tipos de ingredientes ordenados
hierarquicamente: um Imperador (ou chefe), que constitui o ingrediente principal, escolhido
para a doena especfica; um Ministro (ou suplente), usado para reforar a ao do
Imperador ou tratar uma perturbao coexistente; um Assessor (ou assistente), para
amenizar os efeitos secundrios dos dois primeiros ingredientes; e um Coordenador (ou
mensageiro, guia), para harmonizar todos os outros ingredientes e transmiti-los s partes do
corpo que devem tratar (Krapp & Longe, 2011; Veloso, 2008).
Na MTC, a diettica trabalha tambm o corpo energtico, a harmonia e o equilbrio deste
com o ambiente exterior. Os sabores de cada alimento tm a capacidade de estimular,
dispersar ou harmonizar a energia de rgos e meridianos. Apenas um especialista de MTC
com conhecimentos de diettica energtica pode prescrever os alimentos, adequando-os
com rigor a cada desequilbrio energtico (Caldevilla, 2009).
Outra das tcnicas utilizadas pela MTC a massagem chinesa, o Tui-Na. Tui significa
empurrar; Na, agarrar. Esta massagem dispersa, tonifica e harmoniza a energia e o sangue,
num meridiano, rgo ou regio. Promove a descontrao do indivduo e reorganiza as
energias yin e yang do corpo. H pacientes que aceitam melhor o Tui-Na do que a
acupuntura, por no serem usadas agulhas (Brito, 2008).
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O Chi Kung uma das reas que tem crescido muito no Ocidente. Na sua vertente
teraputica (no marcial), utiliza movimentos e posturas estticas em harmonia com
respirao e controlo mental para trabalhar o QI (ou Chi), exercitando e tratando esqueleto,
tendes, msculos, rgos e vsceras. Tem um amplo leque de utilizaes teraputicas.
Melhora a sade em geral, aumenta o nvel de energia, refora do sistema imunitrio e
favorece a autoconfiana e a estabilidade emocional. Tem muitos exerccios de fcil
aprendizagem, que por isso podem ser prescritos para serem realizados pelo prprio
paciente autonomamente (Maia, 2003).
II.2.2 A Medicina Ayurveda
A Medicina Ayurveda teve origem no Sculo X a.C., mas apenas tomou forma entre o
Sculo V a.C. e o Sculo V d.C. um dos mais antigos sistemas mdicos da humanidade.
usada tanto na preveno como no tratamento de doenas. Em Snscrito, Ayurveda
significa Cincia da Vida. A filosofia Ayurveda est ligada a textos sagrados, os Vedas,7 e
baseia-se na teoria de Panchamahabhutas, os cinco elementos bsicos de que todos os
objetos e matria viva so compostos: terra, gua, fogo, ar e ter. Quando algum dos cinco
elementos est em desequilbrio no corpo do indivduo, inicia-se o processo da doena.
A harmonia entre o ambiente e os indivduos entendida como uma relao entre o
macrocosmos e o microcosmos, um influenciando o outro. Continua a ser a medicina oficial
na ndia e tem-se difundido por todo o mundo. amplamente praticada no Sul da sia,
especialmente no Bangladesh, ndia, Nepal, Paquisto e Sri Lanka (WHO, 2001).
A Ayurveda considera que a doena se inicia muito antes da fase em que pode ser
percebida. Segundo a tradio Ayurveda, os seres humanos so influenciados pelos cinco
elementos atravs dos dosha: Vata, regido por ar e ter; Pitta, regido por fogo e gua; e
Kapha, regido por terra e gua. Todas as pessoas possuem os trs doshas, mas em
diferentes propores e quantidades, definidas no momento da conceo. Na altura do
nascimento, esto em equilbrio, mas com o tempo surgem desequilbrios em um ou mais
desses doshas, o que contribui para o surgimento e desenvolvimento de doenas (Gerson,
1995).
Para a Ayurveda, para ter o corpo saudvel necessrio manter os seus tecidos saudveis
e isso possvel por meio da alimentao, que deve ser feita de acordo com o estado atual
do paciente, ou seja, de acordo com seu dosha predominante e com os desequilbrios que
ele possa apresentar. A sade de uma pessoa medida pela fora do seu agni fogo
digestivo. Um bom agni capaz de extrair dos alimentos ingeridos os nutrientes necessrios
7 Antiga etnia indiana.
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para formar tecidos fortes; um agni diminudo ou irregular, traduz uma menor capacidade
digestiva e uma mais pobre nutrio dos tecidos, comprometendo a sade (Gerson, 1995).
A Ayurveda usa tambm a fitoterapia, o yoga, os banhos medicinais e a massagem.
A massagem uma das principais tcnicas ayurvdicas. Tem baixo custo e de fcil
aplicao. Reconhecida pela OMS, utilizada por quase toda a populao da ndia e est a
ser amplamente divulgada no mundo. Constituiu uma tcnica natural para restabelecer o
equilbrio fsico e psquico, mantendo a sade corporal, e restaurando o bem-estar fsico,
mental, energtico e emocional.
A massagem ayurvdica age nos sistemas linftico, desintoxicando o organismo;
circulatrio, aumentando a produo de glbulos brancos e a nutrio e oxigenao celular;
e energtico, reequilibrando os chacra,8 e desfazendo bloqueios emocionais e contribuindo,
dessa forma, para a cura das principais doenas.
A massagem ayurvdica, tem em considerao os doshas do paciente, seus desequilbrios
e suas caractersticas. especfica para cada tipo de pessoa. (Krapp e Longe, 2011).
II.2.3 A Medicina Unani
O Sistema Unani provm dos sistemas tradicionais da China, Egito, ndia, Iraque, Prsia e
Sria. Tambm chamado Medicina rabe (WHO, 2001). Tem razes na teoria de
Hipcrates (462-377 a.C.) dos quatro humores corpreos sangue, fleuma, blis amarela e
blis negra e nos contributos de Galen (131-210 d.C.), Rhazes (850-925 d.C.) e Avicenna
(980-1037 d.C.). Baseia-se nos quatro elementos: terra, ar, gua e fogo; nas quatro
naturezas: frio, quente, hmido e seco e nos quatro humores: sangue, fleuma, blis amarela
e blis negra (Krapp & Longe, 2011). Cada humor tem as suas caractersticas: o sangue
quente e hmido, a fleuma ou muco fria e hmida, a blis amarela quente e seca e a blis
negra fria e seca. Se os quatro humores e as suas principais qualidades primrias esto em
estado de equilbrio, a sade impera (Krapp & Longe, 2011). A influncia do ar, alimentos,
bebidas, movimento e repouso (fsicos e psquicos), sono e viglia, excreo e reteno, leva
a que exista dominncia de um dos quatro humores.
O diagnstico de doenas efetuado atravs do exame do pulso, da urina e das fezes.
A proporo dos humores nica em cada pessoa e configura o seu temperamento (Krapp
& Longe, 2011): otimista e alegre, se existir predominncia de sangue; frio, pouco emotivo,
se predominar a fleuma; muito suscetvel de raiva e ira, se predomina a blis amarela; e
melanclico e triste, se predomina a blis negra
8 Os chakra so canais existentes no corpo, por onde circula a energia vital que nutre rgos e
sistemas.
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No sistema Unani considera-se que todo o indivduo tem poderes inerentes de auto-
preservao, consistindo o trabalho do mdico em induzir as foras naturais do organismo a
promover a boa sade.
Este sistema faz parte integrante de alguns sistemas de sade indgenas, com os seus
profissionais, hospitais e instituies de ensino e pesquisa reconhecidos.
II.2.4 A Medicina Tradicional Sul-Americana
A Medicina Tradicional Sul-Americana (comparvel ao xamanismo dos nmadas asiticos)
um sistema indgena com saberes que englobam objetos, conceitos, modos de descrio,
teorias e construo de proposies, com fundamentos, simultaneamente, na experincia,
racionalidade, magia, mitos e religio, no qual o mdico indgena, designado por paj na
lngua dos Tupi (uma tribo indgena), tem muito poder e grande influncia social, sendo visto
como sacerdote, profeta, adivinho e conselheiro (Wikipdia, 2011 A).
Apesar da diversidade lingustica das Amricas, o conjunto de prticas teraputicas tem
caractersticas comuns a muitas das suas culturas. Inclui o uso do tabaco (Nicotina
tabacum); a aplicao de calor e defumao; massagens e frices; extrao da doena por
suco e vmito; escarificao do trax e locais inflamados; rituais com uso de plantas
psicoativas, como jurema (Mimosa nigra, M. hostilis), ayahuasca ou hoasca (Banisteria
caapi, Psichotria viridis), paric (Piptadenia peregrina, P. macrocarpa); utilizao de
produtos animais, como secrees de anuro (Phyllomedusa bicolor); e tcnicas semelhantes
sauna, designadas por suadouros (Wikipdia, 2011 A).
II.2.5 A Fitoterapia
A Fitoterapia, do grego therapeia = tratamento e phyton = vegetal, corresponde ao estudo de
plantas e suas aplicaes na cura das doenas.
conhecida desde tempos remotos. Era transmitida sobretudo oralmente, mas a
arqueologia trouxe recentemente luz textos escritos h mais de 4 000 anos descrevendo
propriedades das plantas medicinais (Krapp & Longe, 2011). Foi durante muito tempo o
nico tratamento disponvel para o homem. ainda muito utilizado e constitui uma das
principais tcnicas teraputicas da medicina tradicional chinesa.
As plantas podem classificar-se em muitas categorias diferentes. Entre as principais
categorias incluem-se as sedativas, as estimulantes, as laxantes e as febrfugas (Krapp e
Longe, 2011).
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No Ocidente o uso das plantas foi caindo em desuso, mas nos ltimos tempos tem sido
objeto de um crescente interesse, devido aos avanos na sua obteno e nos modos de
utilizao, cada vez mais baseados em critrios cientficos.
Os constituintes ativos das plantas podem encontrar-se em razes, caules, flores, frutos,
podendo ser utilizadas por infuso, decoco, tinturas, pomadas, emplastros e cataplasmas.
A fitoterapia prope tratamentos de preveno e tratamento de patologias que agem em
profundidade, sem agredir o organismo e estimulando as prprias defesas deste mais do
que substituindo-as. A sua eficcia assenta na escolha precisa, para cada finalidade
teraputica de cada planta, da parte ativa desta, que deve ser adequadamente extrada e
concentrada (Wikipdia, 2011 B).
II.2.6 A Homeopatia
A Homeopatia foi inicialmente mencionada por Hipcrates (462-377 a.C.), que introduziu a
avaliao metdica dos sinais e sintomas como base fundamental para o diagnstico e
advogou dois mtodos teraputicos que podiam ser utilizados com sucesso: a "cura pelos
contrrios, consolidada por Galeno (129-199 d.C.) e Avicena (980-1037 d.C) base da
medicina aloptica; e a "cura pelos semelhantes", reavivada no sculo XVI por Paracelso
(1493-1591 d.C) e consolidada pelo mdico alemo Samuel Hahnemann (1755-1843) a
base da medicina homeoptica (Wikipdia, 2011. C). A palavra homeopatia deriva do
grego: homs (semelhante) e pathos (doena).
Foi Hahnemann que, em 1976, estabeleceu os princpios bsicos da homeopatia: lei da
similaridade, direo da cura, princpio do remdio nico, teoria da dose mnima diluda, e
teoria da doena crnica. Em homeopatia, as doenas so tratadas com remdios que,
numa pessoa saudvel, iriam produzir sintomas similares aos das doenas. Em vez de lutar
contra a doena diretamente, a medicina homeoptica estimula o corpo a lutar contra a
doena (WHO, 2001).
O estmulo promovido pela medicao homeoptica percebido de maneira difusa, como
informao complexa, pela rede de sistemas orgnicos reguladores, e desencadeia uma
reao orgnica global ao padro doena. Nas doenas agudas, o medicamento, alm de
provocar reao local, redireciona as reaes sistmicas; nas doenas crnicas,
desbloqueia o foco dinmico patolgico e facilita a reorientao do sistema para um padro
de funcionamento mais saudvel (Maia, 2003).
Na segunda metade do sculo XIX, a homeopatia era j praticada em toda a Europa, assim
como na sia e na Amrica do Norte, tendo sido integrada nos sistemas nacionais de sade
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de muitos pases, incluindo a ndia, o Mxico, o Paquisto, o Sri Lanka, e o Reino Unido
(WHO, 2001).
II.2.7 Naturopatia
A Naturopatia uma terapia holstica com tratamentos naturais. O padre alemo Sebastien
Kneipp, que criou um centro de hidroterapia (tratamento pela gua), apontado como seu
pioneiro. Foi contudo o terapeuta alemo Benedict Lust, que afirmou ter sido curado por
Sebastien Kneipp, o responsvel pela difuso da Naturopatia no mundo ocidental, por volta
do ano 1892. Lust definiu a Naturopatia como sendo a Cincia, a Arte e a Filosofia do
recurso aos meios naturais A palavra naturopatia deriva do grego: pathos (doena) e
natura (natureza) (Wikipdia, 2011. D
A Naturopatia defende que o homem possui uma total capacidade de autocura: com a ajuda
de teraputicas naturais, o corpo reage graas aos seus prprios mecanismos de defesa e
de reequilbrio, desencadeando um processo que conduz cura (Maia, 2003).
A Naturopatia tem na gua e no ar dois pilares fundamentais para a preveno e o
tratamento: a gua, a hidroterapia, principalmente no tratamento de dores crnicas, artrite,
insnia, doenas de pele, circulao venosa e linftica; o ar, pelo oxignio purificante (Krapp
& Longe, 2011).
A Naturopatia defende que so os hbitos nocivos sono irregular, alimentao
desequilibrada, tabaco, excesso de lcool, uso de drogas que levam acumulao de
toxinas no corpo, ao seu deficiente funcionamento e, consequentemente, ao mal-estar e s
doenas. A adoo de um estilo de vida moderado, a diminuio dos nveis de stress e
ansiedade, o cultivar de uma atitude positiva e a observao de uma dieta equilibrada,
incluindo o recurso a jejuns espordicos, a prtica regular de exerccio fsico, saber respirar
e arranjar tempo para atividades recreativas e de lazer, constituem as principais ferramentas
teraputicas para a preveno da doena e a promoo da sade (Krapp & Longe, 2011).
II.2.8 Osteopatia
A Osteopatia um sistema mdico baseado em procedimentos que promovem o
funcionamento saudvel do organismo corrigindo os desequilbrios mecnicos das
estruturas do corpo e suas relaes. As estruturas referem-se aos msculos, ossos,
ligamentos, rgos e aponevroses. A correo dos desequilbrios feita pela restituio,
manuteno e aperfeioamento do funcionamento harmonioso dos sistemas nervoso e
msculo-esqueltico (Snedddon & Coseschi, 1997).
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Foi criada pelo mdico americano Andrew Taylor Still, por altura da guerra civil americana,
nos finais do sc. XIX, o qual, atravs da observao e investigao, estabeleceu uma
correlao entre as patologias e as suas manifestaes fsicas. O nome osteopatia deriva
das palavras gregas osteo (osso) e pathos (doena) (Maia, 2003).
A osteopatia trabalha em quatro vertentes: a estrutura, que inclui, grosso modo, ossos,
msculos e rgos e que est reciprocamente inter-relacionada com a funo, sendo o
sistema neuro-msculo-esqueltico regulador de todos os outros sistemas; o organismo,
que tem a capacidade de se autorregular e curar, uma vez eliminados os obstculos que
promovem a doena; o sangue, que transporta todos os nutrientes necessrios ao
funcionamento saudvel dos tecidos, pelo que uma boa circulao essencial para o bom
funcionamento do organismo; e o corpo, que constitui uma unidade em movimento, sendo o
fluxo nervoso, vascular e linftico crucial para a manuteno da sade (Snedddon &
Coseschi, 1997).
uma tcnica manual, que inclui conselhos sobre exerccios e nutrio; e no invasiva, no
sentido em que no envolve cirurgia nem prescrio de frmacos (Snedddon & Coseschi,
1997).
II.2.9 Quiroprxia
A Quiropraxia foi estabelecida no fim do sculo XIX por Daniel David Palmer, um praticante
de terapia magntica do Iowa, EUA. baseada numa associao entre a coluna e o
sistema nervoso e nas propriedades de autocura do corpo humano. praticada em todas as
regies do mundo (WHO, 2001). O termo Quiropraxia vem do grego: kheirs (mo) e
prxis (ao, prtica). A Federao Mundial de Quiropraxia define a quiropraxia quiropraxia
como uma profisso na rea da sade que se dedica ao diagnstico, tratamento e
preveno das disfunes mecnicas no sistema neuro-msculo-esqueltico e os efeitos
dessas disfunes na funo normal do sistema nervoso e na sade geral (Fonseca,
2011).
A primeira evidncia da Quiropraxia, remonta pr-histria, resultando da identificao em
cavernas de representaes da manipulao da coluna vertebral, descobertas em Frana, e
datadas de 1750 a.C. Noutras culturas, como a chinesa, a japonesa, a egpcia e a grega,
tambm existem evidncias da utilizao de tcnicas de manipulao da coluna vertebral
(Fonseca, 2011).
A Quiropraxia utiliza as mos para recuperar e manter a sade atravs da libertao dos
impulsos nervosos bloqueados nas articulaes com dificuldades de mobilizao. Considera
o funcionamento do sistema nervoso como base responsvel pelo controlo e coordenao
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de tecidos, rgos e sistemas, dando nfase a que as subluxaes vertebrais ocasionam
presses sobre os nervos sensoriais que conduzem os impulsos eltricos entre rgos e
crebro, prejudicando a sade (Krapp et Longe, 2011). Tem atuao direta no sistema
neuro-msculo-esqueltico, sendo indicada em tipologias como lombalgias, discopatias,
ciatalgias, cervicalgias e outras mialgias, tenso muscular, artropatias e subluxaes
(ombro, cotovelo, punho, joelho, tornozelo), falta de mobilidade articular e cefaleias.
A Quiropraxia reconhecida pela OMS, sendo a terceira maior profisso na rea da sade
no mundo. Est regulamentada e integrada nos sistemas de sade de vrios pases, entre
os quais os EUA, o Canad, a Austrlia, o Reino Unido e a Dinamarca (Fonseca, 2011).
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III A MTCA NO MUNDO E O PAPEL DA OMS
Influenciados por fatores como a histria, as atitudes pessoais, as crenas, a filosofia e os
estados de desenvolvimento econmico e social, a prtica da Medicina Tradicional
Complementar e Alternativa (MTCA) varia muito entre pases e regies. Neste captulo
caracterizamos diversos sistemas de proviso de MTCA no mundo e o papel que tem
desempenhado a Organizao Mundial de Sade (OMS).
III.1 O Crescimento e o Papel da MTCA no Mundo
A doena acompanhou o ser humano ao longo da histria, e os agentes da sade foram-se
alterando. Sacerdotes, mdicos, xams e praticantes empricos, fizeram dos sistemas de
sade conjuntos de aquisies culturais que excedem o mbito do que hoje no Ocidente
habitualmente se considera medicina. Noutros sculos, mesmo no Ocidente, certas prticas
hoje inerentes medicina aloptica no eram praticadas por aqueles que, data, eram
considerados mdicos, como era o caso dos barbeiros, que extraiam dentes e efetuavam
algumas prticas cirrgicas.
Desde o final do sculo XIX tem havido grandes avanos nas cincias da sade, tendo
aumentado as possibilidades de manter boa sade e qualidade de vida. Recorda-se que na
Idade Mdia a expectativa de vida era 30 anos, sendo considerado idoso um indivduo com
mais de 40 anos.
O aparecimento das vacinas, o combate s epidemias, as facilidades alcanadas na
realizao de diversas cirurgias, os transplantes, as inovaes tecnolgicas
(designadamente em meios de diagnstico, examinao e tratamento), a distribuio de
gua tratada e a drenagem de guas residuais, entre outros avanos e melhoramentos,
contriburam, de uma forma geral, para melhorar a qualidade da sade. Todavia, no mundo
contemporneo e mais desenvolvido vrios males se desenvolveram, como alergias,
distrbios alimentares, stress, dores crnicas, problemas respiratrios, doenas cardacas,
insnia. Alm disso, em muitos dos pases em vias de desenvolvimento os melhoramentos
antes referidos ocorreram em muito menor grau.
Em muitos pases em vias de desenvolvimento, a Medicina Tradicional (MT) est mais
disponvel que a medicina aloptica.
Na Tanznia, Uganda e Zmbia, a proporo entre praticantes de MT cerca de 1:300
habitantes, enquanto a da medicina aloptica cerca de 1:20 000. Em 1991, segundo dados
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da Agncia Americana para o Desenvolvimento Internacional relativos frica Subsariana,
os praticantes de MT superavam os de medicina aloptica na proporo de 100 para 1.
Acresce ao problema da distribuio quantitativa, a distribuio geogrfica: os prestadores
de cuidados de medicina aloptica esto localizados principalmente em reas urbanas, pelo
que para muitas populaes rurais a MT constitui o nico recurso de sade disponvel,
especialmente entre os mais pobres (WHO, 2002). Segundo um estudo (Roll Back Malria
Programme) realizado em 1998 pela OMS, no Ghana, Mali, Nigria e Zmbia mais de 60%
das crianas com febre eram tratadas em casa com medicinas base de ervas (WHO,
2002).9
No Gana, Qunia e Mali, outro estudo demonstrou que o tratamento antimalria com
pirimetamina/sulfadoxina tem um custo inacessvel maioria da populao.
A Resoluo sobre a Promoo do papel da Medicina Tradicional nos Sistemas de Sade:
Uma Estratgia para a Regio Africana, adotada em agosto de 2000 pelo 50. Comit
Regional da OMS para a Regio Africana, indica que cerca de 80% da populao dos
Estados Membros Africanos utilizam a MT para ajudar a satisfazer as suas necessidades de
sade, tendo diversos pases africanos iniciado programas de formao nesta rea (WHO,
2000).
A Repblica Popular do Laos incentiva o uso da MT, sensibilizando o pblico e difundindo o
uso de plantas medicinais para cuidados de sade primrios (WHO, 2002). Em muitos
pases asiticos a MT continua a utilizar-se largamente, mesmo quando a Medicina
Aloptica est disponvel. No Japo, 60 a 70% dos mdicos alopticos prescrevem
medicinas Kampo (nome dado no Japo s tcnicas medicinais de origem chinesa). Na
Malsia, utilizam-se amplamente as formas tradicionais da medicina Malaia, Chinesa e
Indiana. Na China, a MT contabiliza volta de 40% de toda a prestao de cuidados de
sade e usada para tratar 200 milhes de pacientes anualmente. Na Amrica Latina, 71%
da populao no Chile, e 40% da populao na Colmbia utilizam a MT (WHO, 2002).
Em muitos pases desenvolvidos, como a Austrlia, o Canad, os EUA e pases europeus, o
crescimento do uso da Medicina Complementar e Alternativa (MCA) e da sua importncia
econmica, indica que existem outros fatores de crescimento para alm da tradio, da
acessibilidade e do custo. A preocupao com os efeitos adversos dos frmacos qumicos,
as questes associadas com as abordagens da medicina aloptica, o maior acesso do
pblico a informao sobre sade e mudanas de valores constituem alguns desses fatores.
9 WHO a sigla em ingls da World Health Organization. Em portugus habitual usar a sigla OMS correspondente ao nome traduzido da organizao, Organizao Mundial de Sade.
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O aumento da esperana de vida traz consigo um maior risco de desenvolvimento de
doenas crnicas debilitantes, como doenas coronrias, cancro, diabetes e transtornos
mentais e os tratamentos e as tecnologias disponveis na medicina aloptica, embora
abundantes, parecem no fornecer uma soluo satisfatria para um nmero cada vez mais
significativo de pacientes. Muitas pessoas tm preferido as MCA por sentirem, entre outros
fatores, que elas podem proporcionar maior bem-estar e uma atuao mais holstica sobre o
corpo e a mente.
Perante a mudana de atitude da populao em relao medicina ocidental, alguns pases
desenvolvidos criaram instituies de pesquisa sobre MCA. O seu nmero cada vez maior
um sinal de crescente importncia (WHO, 2002).
- Nos Estados Unidos da Amrica foi criado o National Center for Complementary and
Alternative Medicine, sob a superviso do National Institutes of Health, e existe tambm um
grande nmero de unidades para o estudo da MCA, baseadas em instituies de
investigao como as Universidades de Maryland, Columbia e Harvard e o Memorial
Sloan-Kettering Cancer Centre;
- No Reino Unido, professores universitrios, mdicos de clnica geral e representantes de
terapias complementares elaboraram o relatrio Integrated Health Care: a way forward for
the next 5 years?", com o objetivo de elaborar um sistema para a integrao das medicinas
alternativas;
- Na Austrlia, foi criado o Office of Complementary Medicine, com a finalidade de financiar
pesquisas sobre a medicina complementar e tambm o Swinburne University Hospital de
Victoria, o primeiro a oferecer medicina convencional e medicina integrativa;
- No Sri Lanka, foi criada a Open International University for Complementary Medicines,
reconhecida pelas Naes Unidas e que tem como objetivo promover o estudo e o
desenvolvimento de terapias complementares (Huesa, 2011; Sutton, 2010; WHO, 2002).
- A Unio Europeia, por sua vez, completou recentemente o projeto Cooperao Europeia
no Campo da Investigao Cientifica e Tcnica sobre medicina no convencional; e a
Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, atravs da Resoluo 1206 (1999), com
o documento Uma abordagem europeia s medicinas no convencionais, pediu aos
Estados Membros que fomentassem o reconhecimento oficial da MCA nas faculdades de
medicina, a fim de encorajar o seu uso em hospitais e encorajar os mdicos alopticos a
estudar MCA no mbito universitrio; a Agencia Europeia para a Avaliao de
Medicamentos est a trabalhar na qualidade, segurana e eficcia de produtos mdicos
base de ervas, tendo sido junto dela criado o Comit dos Medicamentos Base de
Plantas, ao qual cabe desempenhar as funes relativas ao registo simplificado e
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autorizao de medicamentos base de ervas, assunto que ser novamente abordado no
Captulo VI (WHO, 2002).
Muitos pases esto a tratar da regulamentao das principais prticas da MCA, em matria
de formao, acesso profisso, integrao nos respetivos sistemas de sade tema
tratado no Captulo IV, relativo Europa assim como da regulamentao de
medicamentos, designadamente os produtos fitoteraputicos, a nvel de controlo de
qualidade e avaliao de segurana e eficcia (CAM, 2005). O nmero de Estados Membros
da OMS com normativas relacionadas com a medicina base de ervas aumentou de 52, em
1994, para 64, em 2000, passando a representar 33% do total de pases membros (193),
tendo a organizao fixado como objetivo uma percentagem de 40% (WHO, 2002).
Apesar de no ser possvel efetuar anlises comparativas, face diversidade de anlises e
tipos de dados (percentagens de utilizao nuns casos, nmero de utilizadores noutros, e
ainda dados relativamente a custos com a proviso), passamos a uma descrio de dados
estatsticos sobre MTCA, baseada em alguns estudos da OMS. Salvo outra indicao
explcita, tomam-se como referncia os estudos Traditional Medicine Strategy 2002
2005, National policy on traditional medicine and regulation of herbal medicines: Report of
a WHO global survey:
a percentagem de populao que utilizou a MTCA pelo menos uma vez 42% nos EUA,
48% na Austrlia, 70% no Canad, 31% na Blgica e 49% na Frana;
nos pases europeus, 20% a 70% da populao experimentou a MCA pelo menos uma
vez.
na Alemanha, 90% da populao usou um medicamento natural pelo menos uma vez;
mais de 2 milhes de pessoas recorrem regularmente em Portugal MCA;
nos EUA., 158 milhes de pessoas recorrem MCA, estimando-se que gastem 17
milhes de dlares por ano em remdios naturais;
nos EUA, 78% dos portadores de HIV/SIDA utilizam alguma forma de MCA;
no Reino Unido, a despesa anual com medicinas alternativas ronda os 230 milhes de
dlares;
o mercado global de plantas medicinais ronda os 60 mil milhes de dlares por ano e
continua em constante crescimento;
um inqurito realizado a 610 mdicos suos demonstrou que 46% havia utilizado alguma
forma de MCA, principalmente a homeopatia e a acupuntura.
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III.2 As Distintas Abordagens dos Sistemas de Sade Mundiais
A OMS define trs tipos de sistemas de sade para descrever at que ponto a MTCA est
ou no enquadrada nos diferentes Sistemas de Sade Nacionais: Sistema Integrado,
Sistema Inclusivo e Sistema Tolerante (WHO, 2002).
No Sistema Integrado, a MTCA est oficialmente reconhecida e incorporada no Sistema de
Sade. Isto significa que est includa na poltica farmacutica do pas; os prestadores de
cuidados e os produtos esto registados e regulados; as terapias da MTCA esto
disponveis em hospitais e clnicas, pblicos e privados; o tratamento reembolsado pelos
sistemas de proteo e pelos seguros de sade; realizam-se estudos e investigaes
relevantes; existe um sistema educativo estruturado e regulado nesta rea. Mundialmente,
s a China, a Repblica Popular Democrtica da Coreia, a Repblica da Coreia e o
Vietname tm sistemas integrados (WHO, 2002).
O Sistema Inclusivo reconhece a MTCA, mas esta no est completamente integrada nem
disponvel a todos os nveis de cuidados de sade. Os seguros de sade podem no cobrir
tratamentos pela MTCA, a educao, formao e investigao podem no ser de mbito
universitrio, e pode no existir, ou ser apenas parcial, a regulamentao dos prestadores
de cuidados e produtos. Entre os pases que tm em funcionamento um sistema deste tipo
incluem-se a ndia, o Sri Lanka, a Indonsia, o Japo, a Austrlia, os Emirados rabes
Unidos, a Alemanha, a Noruega; e pases em vias de desenvolvimento como a Guin
Equatorial, a Nigria e o Mali, que tm uma poltica de MTCA nacional, mas pouca ou
nenhuma regulamentao de produtos. Este sistema est igualmente presente em pases
desenvolvidos como o Canad e o Reino Unido, que no oferecem um nvel educativo
universitrio importante em MTCA, mas esto a fazer esforos por assegurar a qualidade e
segurana da MTCA. (WHO, 2002).
Em pases com um Sistema Tolerante, o seu sistema de sade nacional baseado
inteiramente na Medicina Aloptica, mas certas prticas de MTCA so toleradas pela lei.
(WHO, 2002).
III.3 Constrangimentos e Desafios
Enquanto sistemas alternativos e complementares em franco crescimento, quer nos pases
em vias de desenvolvimento, quer nas sociedades mais industrializadas, estes sistemas tm
pela frente desafios a atingir e constrangimentos a ultrapassar.
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Devido ao relativo desconhecimento das bases filosficas e cientficas deste tipo de prticas
por parte do pblico, surgem muitas vezes abusos e equvocos por parte de indivduos sem
a formao mdica humanstica adequada.
A MTCA possui muitas caractersticas positivas entre as quais se incluem: diversidade e
flexibilidade; disponibilidade e acessibilidade em muitas partes do mundo; ampla aceitao
entre muitas populaes de pases em vias de desenvolvimento; aumento da popularidade
em pases desenvolvidos; um custo comparativo relativamente baixo; um baixo nvel de
investimento tecnolgico; e uma crescente importncia econmica. Todos estes fatores
podem ser vistos como oportunidades de desenvolvimento (Heller, 2005).
Outras caractersticas podem considerar-se como desafios a superar, incluindo-se, entre
elas, os diferentes graus de reconhecimento dos governos; a falta de evidncia cientfica
respeitante eficcia de muitas dessas terapias; dificuldades relacionadas com a proteo
dos conhecimentos indgenas da MT; e problemas em assegurar o seu uso correto (WHO,
2002).
Embora a MTCA se utilize muito amplamente na preveno, diagnstico, tratamento e
gesto de doenas, poucos pases desenvolveram uma poltica nacional sobre MTCA,
ordenando e definindo o seu papel nos sistemas de sade nacionais, assegurando a
autenticidade, a segurana e a eficcia das terapias utilizadas, sem a qual no existem
garantias de efetiva proteo do paciente.
Alguns desafios so comuns a todas as regies. Por exemplo, os governos da China e da
ndia esto preocupados sobre como utilizar melhor a MT para reforar a ateno sanitria
primria em reas remotas. Em frica, muitos pases esto a procurar meios para fazer
melhor uso dos recursos da MT local e como fazer da MT um componente integrado de
pacotes de sade mnimos, a custos controlados, e prestados por pessoas credveis e
respeitadas (WHO, 2002).
Outra das preocupaes centra-se no tema da propriedade intelectual se o pas em questo
tem um conhecimento indgena de MTCA e/ou os recursos naturais so utilizados na
elaborao de produtos de MTCA, caso em que devem ser desenvolvidas politicas
nacionais que protejam essa patrimnio (WHO, 2002).
A avaliao dos produtos de MTCA, tais como as medicinas com base de ervas,
especialmente difcil, sendo essencial a preciso na identificao da planta, assim como dos
seus ingredientes ativos, sendo necessrio dispor urgentemente dos meios apropriados e
eficazes para desenvolver sistemas de vigilncia nacionais para controlar e avaliar estas
medicinas e a incidncia de acontecimentos adversos. (WHO. 2002)
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Para os pases europeus, a segurana e a qualidade, a credenciao dos prestadores de
MCA e os nveis de formao, as metodologias e as prioridades para a investigao, esto a
tornar-se rapidamente em temas de grande importncia. (WHO, 2002).
Na base est um longo perodo em que a investigao sobre este tipo de cuidados era
praticamente nula. A Cochrane Complementary Field constantou que os artigos publicados
na MEDLINE no perodo de 1996 referentes a medicina alternativa formavam apenas 0,4%
do nmero de artigos listados, situao que explica a inexistncia de anlises fiveis sobre
estes temas, tendo levado a OMS a destacar algumas reas prioritrias para a investigao:
eficcia, segurana e custo-efetividade de cada uma das terapias; estudo dos mecanismos
de ao de cada uma das terapias, incluindo padres de resposta ao tratamento; estudo do
tipo de MTCA, incluindo investigao social da motivao dos pacientes para recorrerem
MTCA; desenvolvimento de novas estratgias de investigao, sensveis ao paradigma da
MTCA; estudo da eficcia dos mtodos de diagnstico utilizados; estudo da implantao e
efeitos da MTCA nas instalaes de sade dos estados membros (WHO, 2002).
Outro dos grandes desafios prende-se com o uso racional, sendo necessrio aliar uma
maior qualificao e formao, quer dos prestadores de cuidados de sade (terapeutas da
MTCA e mdicos), assegurando que compreendam e apreciem a complementaridade dos
tipos de terapias que oferecem, quer da populao em geral, assegurando a sua crescente
informao sobre as vantagens e cuidados a ter com cada tipo de teraputica e para o uso
correto de produtos tais como as medicinas base de ervas (WHO, 2002).
Os consumidores podem no estar conscientes sobre os possveis efeitos adversos e sobre
como e quando se podem consumir estes produtos de forma segura, bem como das
possveis interaes destes produtos com os frmacos qumicos. Os pacientes podem no
informar os seus mdicos alopticos sobre os produtos da MTCA que esto a utilizar e estes
mdicos podem nem perguntar ou at podem no estar informados nem ter a capacidade de
responder s dvidas dos pacientes, bem como os enfermeiros ou farmacuticos, todos eles
amplamente utilizados como fontes de informao pelo pblico em geral.
Inverter esta situao necessitaria de um controle muito mais restrito dos produtos da MTCA
e maiores esforos para educar o pblico nesta rea. Como resultado desta falta de
informao, possvel que os consumidores no compreendam porque devem procurar um
tratamento com terapeutas adequadamente qualificados e formados.
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III.4 O Papel da Organizao Mundial de Sade
A Organizao Mundial de Sade (OMS ou WHO) a autoridade mundial em matria de
sade no seio da Organizao das Naes Unidas (ONU), qual cabe a responsabilidade
pela liderana, ao nvel mundial, dos assuntos de sade, cobrindo as agendas relacionadas
com o estabelecimento de normativos e padres internacionais, o desenvolvimento de
opes polticas ticas e cientficas, e a prestao de apoio tcnico aos diversos pases,
catalisando mudanas e capacitao institucional sustentvel e monitorizando a aplicao
de polticas de sade a nvel global (Wikipdia, 2011; WHO. 2011).
A experincia acumulada pela OMS em matria de MTCA assegura-lhe a melhor posio
para ajudar a ultrapassar muitos dos desafios que se colocam aos seus Estados Membros
que, cada vez mais, solicitam orientao sobre a temtica (WHO, 2002).
A OMS tem desenvolvido diversas funes-chave, articulando polticas e adotando posturas
defensoras, trabalhando em associao, elaborando guias e ferramentas prticas,
desenvolvendo normas, fomentando estudos e gerindo recursos e informao (WHO, 2002).
Ciente do seu papel na integrao de polticas e aes, a OMS elegeu como objetivos
estratgicos para a MTCA: o desenvolvimento de condies para que cada um dos estados
membros ficasse apto a empreender os seus processos autnomos de regulamentao e
integrao nos seus sistemas nacionais de sade; assegurar a segurana, eficcia e
qualidade na prestao deste tipo de cuidados; e a crescente utilizao destes pelos
estados membros, pela comunidade cientfica e pelo pblico em geral, com racionalizao
do seu uso pelos prestadores de cuidados e pelos pacientes.
Neste ponto abordam-se algumas das aes empreendidas no mbito dos trs objetivos
estratgicos apontados, e bem ainda a estratgia definida para anos recentes.
A OMS est especialmente interessada em apoiar o desenvolvimento da MTCA na frica,
no Sudeste Asitico e no Pacifico Ocidental, designadamente em polticas e
regulamentao, intercmbio de informao regional e reforo da segurana dos produtos e
da disponibilidade de recursos humanos qualificados (WHO. 2002).
O Comit Regional da OMS para a frica adotou em 2000 a medida Promoo do papel da
Medicina Tradicional nos sistemas de sade: uma estratgia para frica, que reala a
importncia e o potencial da MT na concretizao do objetivo Sade para Todos em
frica e recomenda o desenvolvimento local de medicinas tradicionais e alternativas, com
polticas de MT efetivas, reforadas por legislao, planos ajustados a intervenes de
mbito nacional e local, assim como avaliao. Os resultados comeam j a ter traduo: foi
j elaborada regulamentao em 16 pases africanos (WHO, 2002).
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No continente sul-americano, o trabalho concentrou-se em esforos com vista
investigao sobre a medicina indgena; em questes relacionadas com a poltica,
regulamentao e registo; e nas medicinas base de ervas, designadamente quanto a
segurana e eficcia e mercado dos respetivos produtos. Foram regulamentadas as
medicinas base de ervas na Bolvia, Chile, Colmbia, Costa Rica, Equador, Honduras,
Guatemala, Mxico, Peru e Venezuela (WHO, 2002).
O papel da OMS a nvel mundial na vertente das teraputicas baseadas em ervas tambm
ilustrado pelo documento Mtodos de Controlo de Qualidade para Produtos Base de
Plantas Medicinais (WHO, 2002), elaborado num contexto de preocupao das autoridades
de sade nacionais com a comercializao internacional de produtos e com questes de
segurana, relacionados com a falta de regulamentao adequada.
No Sudoeste Asitico, a OMS promoveu o desenvolvimento de polticas nacionais para a
MT e respetiva integrao nos sistemas de sade, destacando-se o apoio s atividades do
Departamento dos Sistemas Mdicos e Homeopatia da ndia, organismo integrado no
Ministrio da Sade e Bem-estar Familiar ndio, nos seus esforos para padronizar e
fomentar o controlo de qualidade das medicinas ayurveda e unani e da homeopatia, bem
como boas prticas na formao e prestao de cuidados de medicina ayurveda. (WHO.
2002)
Na zona do Pacifico Ocidental, que tem um patrimnio particularmente rico de MT que os
seus pases querem otimizar, destaca-se o apoio na regulamentao da formao
universitria; e na poltica de regulamentao e integrao nos sistemas de sade, que
resultou num total de 14 pases na regio a desenvolver documentos governamentais que
reconhecem a MT e a sua aplicao. Sublinha-se que h poucos anos apenas a China, o
Japo, a Republica da Coreia e o Vietname reconheciam oficialmente a MT nos seus
sistemas de sade.
A OMS intervm tambm nos pases europeus. mais uma voz a chamar a ateno para a
importncia da regulamentao da formao e da certificao dos prestadores de cuidados
de MCA. Destaca-se o trabalho relativo aos produtos base de plantas, que resultou na
Diretiva 2004/24/CE, de 31 de maro, para registo dos medicamentos base de plantas, a
qual segue as diretrizes da OMS para a valorizao de medicinas com base em ervas
(WHO, 2002).
A acupuntura constitui um dos bons exemplos do trabalho desenvolvido pela OMS nos
domnios da regulamentao da prtica, do estudo e da segurana e eficcia na prestao
de cuidados. Baseada na Medicina Tradicional Chinesa, a acupuntura hoje amplamente
aplicada em muitos pases com caractersticas culturais bem distintas da China. A OMS
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cooperou com especialistas no desenvolvimento de uma nomenclatura internacional e de
guias sobre formao e segurana na realizao de estudos clnicos.
Outra vertente da ao da OMS, foi o apoio na criao de instituies de investigao sobre
MTCA e no desenvolvimento da padronizao mnima em matria de metodologias de
investigao, avaliao e formao em MTCA, como ilustram os documentos WHO General
Guidelines for Methodologies on Research and Evaluation of Traditional Medicine ou ainda
as WHO Guidelines on Basic Training and Safety in Acupunture.
Face crescente utilizao da MTCA, a OMS deu ateno racionalizao do seu uso
pelos prestadores de cuidados e pelos pacientes, no sentido de assegurar decises bem
informadas sobre as teraputicas por que optam. Para tal, imprescindvel garantir
formao sobre MTCA a mdicos da medicina aloptica; formao sobre prestao de
cuidados de sade em geral a prestadores de cuidados da MTCA; e informao aos
pacientes sobre a medicina aloptica e a MTCA (WHO, 2002).
Com um trabalho to diversificado e considerado, a OMS est, sem dvida, na melhor
posio para assegurar o acesso a todo este manancial de informao e promover a troca
de experincias entre os diversos estados e regies, com o objetivo de reconhecer o papel
da MTCA e dos seus praticantes nos cuidados de sade, encorajando a interao e
integrao entre a MTCA e a medicina aloptica. Entre os objetivos esperados neste
domnio estavam a obteno de indicadores de medida da relao custo-eficcia e
sustentabilidade da prestao de cuidados de MTCA, o aumento da proviso destes
servios por parte dos sistemas de sade dos pases membros e o aumento do nmero de
associaes de prestadores de cuidados em MTCA (WHO, 2002).
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IV BREVE PANORMICA DA MEDICINA COMPLEMENTAR E ALTERNATIVA NA UNIO
EUROPEIA
A Medicina Complementar e Alternativa (MCA), semelhana do que acontece no resto do
mundo, tem vindo tambm a obter expresso na Unio Europeia, como demonstram dados
da CAMDOC Alliance sobre o recurso a estas formas teraputicas, que apontam para uma
percentagem de 65% da populao europeia ter j recorrido a este tipo de medicina
(CAMDOC, 2010).10 Segundo estes dados, na Unio Europeia as MCA mais comummente
utilizadas por mdicos so a acupuntura, a homeopatia, a fitoterapia, a medicina
antroposfica, a naturopatia, a medicina tradicional chinesa, a osteopatia e a quiroprxia.
Devido enorme variedade de culturas e tradies mdicas, a forma como estas MCA so
reconhecidas variam bastante, existindo inmeros modelos de proviso destes servios nos
diferentes estados membros, sendo possvel encontrar pases onde j foi definida uma base
regulamentar genrica, outros que possuem regulamentos especficos para determinados
tipos de MCA, outros ainda onde no existe qualquer regulamentao e situaes em que a
prtica apenas permitida a mdicos e no contexto do sistema nacional de sade ou outras
em que a prtica permitida tambm a outros profissionais, no mdicos, mas devidamente
qualificados e, maioritariamente, fora do sistema nacional de sade.
Em 18 dos 29 pases da Unio Europeia e do European Economic Area EEA (Espao
Econmico Europeu), existe regulamentao das MCA, embora com enorme variabilidade
relativamente aos tipos de MCA reguladas, facto que coloca algumas dificuldades no
processo de reconhecimento de diplomas entre os diferentes estados membros, situao
que traz inmeras questes no contexto do mercado nico europeu, onde existe subjacente
a ideia da liberdade de circulao de pessoas, bens e servios (Ersdal, 2005; CAMDOC,
2010).
IV.1 Razes em Favor dos Processos de Regulamentao
Na Europa tem existido preocupao em tratar os processos de regulamentao da MCA.
Ersdal identifica preocupaes dos governos e de associaes de prestadores de cuidados
das MCA. Entre as primeiras est, por um lado, a preocupao em proteger os pacientes
quanto qualidade dos produtos fitoteraputicos colocados no mercado e quanto
10
A CAMDOC Alliance constitui uma associao de quatro das maiores organizaes mdicas de medicinas complementares e alternativas, integrando a ECH European Committee for Homeopathy, a ECPM European Council of Doctors for Plurality in Medicine, a ICMART International Council of Medical Acupunture and Related Techniques e a IVAA International Federation of Anthroposophic Medical Associations.
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qualificao dos prestadores de cuidados e, por outro lado, a preocupao relativamente
liberdade de escolha dos pacientes quanto utilizao destes produtos e tcnicas, em
complemento ou em alternativa medicina aloptica. As associaes de prestadores de
cuidados, entendem que a regulamentao far aumentar o interesse nas MCA e
assegurar o seu reconhecimento (Ersdal, 2005).
Refiram-se tambm os trabalhos desenvolvidos ao nvel da Unio Europeia, preocupada,
em primeira linha, com o estabelecimento das bases para a efetivao do mercado nico,
mas que resultaram na resoluo adotada pelo Parlamento, em maio de 1997, que chamava
a Comisso Europeia a lanar um processo de reconhecimento das MCA, acompanhado de
estudos sobre a segurana e eficcia das diversas MCA, com vista sua regulamentao
legal (Ersdal, 2005).
Recordem-se ainda as recomendaes efetuadas pela Organizao Mundial de Sade
(OMS) na WHO Traditional Medicines Strategy 2002-2005, no mbito das quais assume
destaque, no domnio da poltica, a proposta de integrao da Medicina Tradicional
Complementar e Alternativa (MTCA) nos sistemas nacionais de prestao de cuidados de
sade; e, no domnio da segurana, eficcia e qualidade, a proposta de promoo das
mesmas atravs do desenvolvimento da base de conhecimento de suporte MTCA e da
promoo e regulamentao de padres de qualidade.
IV.2 Modelos de Proviso das MCA
Relativamente aos modelos de proviso das MCA, e tendo como base os j abordados no
Captulo III, opinio de Ersdal que na Europa apenas se encontram o sistema monopolista
e o sistema tolerante, podendo ainda identificar-se um terceiro sistema, designado por
sistema misto. Neste, apenas aos mdicos so permitidas prticas especficas para o
tratamento de algumas doenas, no existindo restries a pessoal no mdico para a
execuo de outras prticas. Ersdal admite a existncia deste novo sistema misto -, com
base na proposta efetuada por De Bijl and Nederveen-Van de Kragt em Legal safeguards
against medical practise by not suitable qualifies persons. European journal of health Law.
Na figura seguinte apresenta-se uma sntese relativamente distribuio dos sistemas de
proviso das MCA na Europa (CAMDOC, 2010).
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Profissionais que podem exercer MCA (CAMDOC, 2010). Laranja - Sistema Tolerante; Azul - Sistema Misto;
Verde Sistema Monopolista.
Na Europa central e do sul, apenas os mdicos esto autorizados a praticar MCA (Sistema
Monopolista). No norte da Europa, qualquer pessoa pode oferecer este tipo de servios,
com exceo de atos mdicos especficos, tais como tratamento de doenas infeciosas,
cirurgias, anestesia, prescrio de medicamentos, injees e raios x (Sistema Tolerante). Na
Hungria e Eslovnia, a lei admite que alguns tipos de MCA sejam praticados por pessoal
no mdico, mas outros podem s-lo apenas por mdicos (Sistema Misto).
IV.3 Sistemas de Regulamentao
Voltando aos processos de regulamentao na Europa, foram identificados trs principais
modelos para a regulamentao das MCA, designados de Sistema de Administrao
Governamental, Sistema de Regulao Governamental e Sistema de Autorregulao.
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O Sistema de Administrao Governamental o que predomina na maioria dos pases
europeus e consiste na ao direta do governo sobre o processo de autorizao, registo e
superviso dos profissionais de sade, cabendo ao governo, atravs de autoridades
especificamente criadas para o efeito, decidir sobre a extenso das atividades das MCA.
O Sistema de Regulao Governamental consiste na delegao das funes de
autorizao, registo e superviso dos profissionais de sade em associaes mdicas
nacionais, a quem cabe decidir sobre a extenso das atividades das MCA.
O Sistema de Autorregulao consiste na atividade desenvolvida pelas associaes ou
federaes de profissionais prestadores de MCA, as quais promovem os processos de
regulamentao, ao desenvolverem, eles prprios, os seus cdigos de tica, programas de
formao e investigao, padres de competncias, entre outros (Ersdal, 2005; CAMDOC,
2010).
IV.3.1 Acesso Profisso
Relativamente aos principais sistemas de proviso das MCA, pode considerar-se (Ersdal,
2005) o sistema totalmente regulado, onde se incluem os pases onde apenas permitida a
prtica a pessoal devidamente autorizado, com licena ou ttulo reconhecido;11 e o sistema
semirregulado, onde se incluem os pases onde qualquer pessoa pode praticar
procedimentos mdicos simples e tratar doenas no consideradas graves. 12
Nos pases com um sistema totalmente regulado, por norma as MCA so providas por
mdicos (tal no significa, porm, que no seja possvel recorrer a terapeutas sem
autorizao formal ou regulamentada para a prtica das MCA, desde que estes apenas se
definam como consultores de sade e bem-estar, correspondendo aos designados sistemas
tolerantes); nos pases com um sistema semirregulado, as MCA so providas quer por
mdicos, quer por no mdicos, desde que estes no pratiquem atos estritamente
reservados aos primeiros (correspondendo aos designados sistemas mistos) (Ersdal, 2005).
No caso do sistema totalmente regulado, a responsabilidade profissional e deontolgica
assegurada pela atividade reguladora e supervisora, realizada diretamente atravs do
Estado ou das entidades a quem este delegou, por exemplo, em Ordens Profissionais; no
caso do sistema semirregulado, assumem particular importncia as Associaes e
Federaes, que se desenvolvem, na maioria dos casos, espontaneamente, com o intuito de
salvaguardar a qualidade da proviso dos servios junto dos consumidores respetivos,
11
Austria, Blgica, Chipre, Repblica Checa, Estnia, Frana, Alemanha, Grcia, Hungria, Letnia, Litunica, Luxemburgo, Itlia, Polnia, Portugal, Espanha, Eslovnia, Eslovquia e Sua. 12
Dinamarca, Finlndia, Islndia, Liechtentein, Irlanda, malta, Holanda, Noruega, Sucia e Reino Unido.
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preocupando-se em aprovar bases sobre a qualificao mnima, regras ticas e
deontolgicas, cdigos de conduta responsvel e de prtica segura (Ersdal, 2005).
IV.3.2 Formao e Investigao
Como se depreende da parte final do ponto antecedente, outra das vertentes fundamentais
nos processos de regulamentao respeita aprovao de bases sobre a qualificao
mnima a exigir aos profissionais das MCA. A formao outro dos domnios onde as
diferenas entre os pases se fazem sentir. Em alguns pases, existem cursos de medicina
que, obrigatoriamente, integram nos seus currculos de formao mdica, disciplinas
relativas s MCA, as quais constituem partes de Curso de Medicina Complementar e
Alternativa, enquanto na maioria dos pases tais disciplinas so opcionais, e noutros nem
existem.
A formao em MCA disponibilizada em 42% das faculdades de medicina dos 15
primeiros estados membros da unio europeia e em 20% das faculdades dos novos estados
membros. Cursos autnomos de MCA so obrigatrios em 13% das faculdades de medicina
dos 15 primeiros estados membros, no existindo este tipo de situao em nenhuma das
faculdades de medicina dos novos estados membros.
Relativamente formao ps-graduada, existem na maioria dos estados membros cursos
universitrios de ps-graduao em MCA especficas para mdicos. Em algumas
universidades europeias ainda possvel encontrar ctedras de MCA, o que ocorre em 8
estados membros (CAMDOC, 2010).13
IV.4 Estdios de Desenvolvimento na Europa
Os estdios de desenvolvimento do processo de regulamentao nos diversos pases so
bastante dspares. Em janeiro de 2010, 10 pases possuam j legislao de enquadramento
das MCA (Blgica, Bulgria, Dinamarca, Alemanha, Hungria, Islndia, Noruega, Portugal,
Romnia e Eslovnia), 4 estavam a preparar a sua legislao (Irlanda, Luxemburgo, Polnia
e Sucia), 9 possuam legislao mas apenas para MCA especficas (Chipre, Finlndia,
Itlia, Litunia, Letnia, Liechtenstein, Malta, Romnia e Reino Unido), 7 no possuam
qualquer legislao sobre MCA (ustria, Estnia, Frana, Grcia, Holanda, Espanha e
Eslovquia) e 1 integra as MCA na prpria Constituio a Sua (CAMDOC, 2010).
13
Nantes em Frana, Berlin, Duisburg/Essen, Rostok e Munich na Alemanha, Pcs, na Hungria, Firenze e Bologna na Itlia, Tromso na Noruega, Stockolm na Sucia, Bern na Sua e Exeter, Sheffield, Southampton e Thames Valley no Reino Unido.
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Embora 18 dos 29 pases possuam regulamentao em MCA, existem diferenas
substanciais entre eles relativamente ao tipo de MCA regulamentadas, origem de tais
regras,