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UNIVERSIDADE DE SOROCABA
PRÓ-REITORIA ACADÊMICA
CURSO DE PEDAGOGIA
Jessika Lenes De Vasconcelos Costa
A MÚSICA NO DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DA CRIANÇA NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
Sorocaba/SP
2015
Jessika Lenes De Vasconcelos Costa
A MÚSICA NO DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DA CRIANÇA NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como
exigência parcial para obtenção do Diploma de Graduação
em Pedagogia, da Universidade de Sorocaba.
Orientador: Professora Dra. Alda Regina Tognini
Romaguera
Sorocaba/SP
2015
Jessika Lenes De Vasconcelos Costa
A MÚSICA NO DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DA CRIANÇA NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como requisito
parcial para obtenção do Diploma de Graduação em
Pedagogia, da Universidade de Sorocaba.
Aprovado em:
BANCA EXAMINADORA:
Profa. Dra. Orientadora Alda Regina Tognini Romaguera
Universidade de Sorocaba
Sorocaba/SP
2015
Dedico este trabalho ao Augusto e Guilherme Gardel, motivo de
inspiração para trilhar esta jornada.
Agradecimentos
Agradeço a Deus que até aqui me ajudou e me deu forças para prosseguir até o fim.
Aos meus pais por investirem na minha educação, e por não me deixarem desistir.
Aos meus irmãos pelo apoio e incentivo durante este processo.
A Ana Beatriz que abriu os meus olhos e me incentivou a lutar e correr atrás daquilo que me
completa, ou seja, a música.
Agradeço as minhas queridas professoras do Conservatório de Tatuí, por compartilharem
seus conhecimentos, despertando em mim o desejo de pesquisar e me aprofundar mais e
mais na área da musicalização. Obrigada especialmente a professora Isabel Campos por ter
me ajudado a chegar ao tema deste trabalho, por estar sempre disposta a ouvir e a
esclarecer qualquer dúvida, obrigada pelas palavras de animo e por sempre me incentivar.
A Cordélia Correa, pela sua amizade, apoio e cuidado para comigo durante esta jornada.
A Aline, Carol e Larissa, pela parceria durante estes três anos e meio, compartilhando os
bons e maus momentos ao longo desta caminhada.
Agradeço a Dra. Mariana Leme, por me acompanhar desde o começo neste processo, por
me incentivar e me ajudar a superar os obstáculos que surgiram durante esta caminhada,
que não desistiu de mim e não me deixou desistir.
Agradeço a minha orientadora Alda Romaguera.
A todos os professores que fizeram parte da minha formação.
A amiga Thais Bannwart, que me socorreu nas horas mais difíceis, e que com toda a
paciência e amor do mundo, me ajudou a superar obstáculos, e a estruturar este trabalho,
sem você não teria conseguido, obrigada por acreditar em mim e me ajudar até o fim!
A minha querida companheira de curso Elisabeth Pavanelli Galvão, que se tornou uma
amiga muito especial, e que também contribuiu para a realização deste trabalho, fornecendo
material sobre o assunto, e me apresentou a professora Viviane Louro, uma das autoras que
usei como base de pesquisa para este trabalho.
E por fim agradeço a professora Viviane Louro, por todo o seu conhecimento compartilhado
em seus livros, e curso de ‘’Música e Inclusão pela visão da Psicomotricidade’’. Foi muito
emocionante fazer este curso, abriu a minha mente para conhecer ainda mais sobre esse
mundo maravilhoso da psicomotricidade!
Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música não começaria com partituras, notas e pautas. Ouviríamos juntas as melodias mais gostosas e lhe contaria sobre os instrumentos que fazem a música. Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas. Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes.
Rubem Alves
RESUMO
Em busca da relação entre a música e a psicomotricidade, este trabalho tem
como questões: qual importância a música tem no desenvolvimento da
psicomotricidade? Por que a psicomotricidade é importante na educação
musical? Por que o ensino da música na educação infantil? O objetivo deste
estudo reside em demonstrar a influência da música como ferramenta de
auxílio para o desenvolvimento psicomotor da criança, uma vez que um bom
desenvolvimento motor é fundamental para aquisição de outras habilidades
importantes. Constituindo assim uma base para o desenvolvimento da criança
em outras áreas, como a cognitiva, a afetiva-emocional, e a motora.
Palavras chaves: Psicomotricidade. Música. Educação musical.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 8
1. PSICOMOTRICIDADE .................................................................................... 11
1.2 A psicomotricidade sobre a perspectiva de LE BOULCH. .............................. 12
1.3 O desenvolvimento da psicomotricidade na educação infantil. ........................... 12
2. O USO DA MÚSICA NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO INFANTIL. ...................... 15
3. A MÚSICA COMO FERRAMENTA DE AUXILIO PARA O DESENVOLVIMENTO
DA PSICOMOTRICIDADE. ....................................................................................... 19
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 26
8
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho de conclusão de curso, elaborado como exigência do
componente curricular Prática de Pesquisa III, do curso de Pedagogia da
Universidade de Sorocaba, tem como tema A música no desenvolvimento
psicomotor da criança na Educação Infantil.
Desde que a lei 11.769 foi sancionada em 18 de agosto de 2008, torna-
se obrigatório o ensino da música como conteúdo do componente curricular
no ensino básico e fundamental da música nas escolas. Com certeza foi um
grande ganho para a área musical no Brasil. Desde então a educação musical
e a busca pela educação musical, tem crescido no Brasil. Mas ao mesmo
tempo em que a demanda do ensino da música é grande, percebi que existe
uma lacuna nesta área, pois há falta de professores preparados para ensinar
música, de professores que tenham licenciatura em música, sendo que
muitas vezes há professores sem nenhuma orientação musical para trabalhar
este conteúdo na escola, e a falta de recursos para introduzir a música. Em
decorrência disto vê-se infelizmente um grande número de alunos que
acabam se frustrando com o que é oferecido como música e com isto
podendo diminuir ou perder o interesse pela música.
A partir de observações do meu cotidiano como auxiliar de sala, pude
perceber que através de brincadeiras musicais, as crianças gravavam com
mais facilidade letras de canções folclóricas e que, com naturalidade,
começaram a desenvolver ritmo, percepção espacial, conhecimento do
esquema corporal, através da exploração do ambiente onde se encontravam,
tanto na sala de aula, quanto no parque ou quadra da escola, com a ajuda da
música e brincadeiras musicais. Comecei a pesquisar músicas que tivessem o
mesmo pulso na marcação de ritmo, e com a ajuda de um tambor ou violão
cantava e tocava as músicas para as crianças, marcando o ritmo da música
somente no instrumento deixando assim livre a exploração, interpretação e
vivência das músicas apresentadas. Foi quando percebi que a partir da
segunda ou terceira vez cantada ou tocada uma música, as crianças
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passavam a sentir o ritmo e assim, marcar o pulso de cada música cada um
do seu jeito, enquanto uns batiam palmas outros marcavam o ritmo batendo
os pés, outros dançavam, pulavam, cada um buscava a forma de se
expressar na qual se sentia mais cômodo ou feliz. Isso para mim era
fantástico, foi quando passei a estudar mais sobre a música e a criança; me
matriculei no curso de Musicalização Infantil no Conservatório de Música de
Tatuí. Além do Conservatório, comecei a pesquisar e fazer cursos específicos
na área da musicalização com grandes educadores musicais em diferentes
cidades em São Paulo. A partir destes cursos e pesquisas, pude compreender
melhor o universo musical e os inúmeros benefícios que a música oferece.
Entre estes benefícios me chamou bastante a atenção a influência que
a música pode ter no desenvolvimento da psicomotricidade na criança.
Portanto, para este trabalho, escolhi falar sobre a psicomotricidade e como a
música pode auxiliar no desenvolvimento desta.
No levantamento bibliográfico que fiz através de artigos científicos e
livros, encontrei a música, dança e movimento como uma das formas de
estimular o desenvolvimento da psicomotricidade na criança. Por isso nesta
pesquisa tratarei de relacionar como a música pode auxiliar no
desenvolvimento da psicomotricidade na criança e como uma
psicomotricidade bem desenvolvida contribui para o ensino da música.
A educação musical na idade escolar deve ser, antes de tudo, uma
experiência ativa de confrontação com o meio, a música deve despertar a
curiosidade, o encanto pela beleza. E o que é a beleza? É poder construir
juntos os processos do conhecimento com a criança, respeitando os seus
conhecimentos; aprender a fazer juntos e aprender de formas diferentes,
tendo em mente que cada criança é um indivíduo único e que cada uma tem o
seu tempo e jeito de conhecer, de aprender, de ser e de conviver com o meio
em que vive e se relaciona. Dessa maneira, esse ensino segue uma
perspectiva de uma verdadeira preparação para a vida que se deve inscrever
no papel de escola, e os métodos pedagógicos renovados devem, por
conseguinte, tender a ajudar a criança a desenvolver-se da melhor maneira
possível, a tirar o melhor partido de todos os seus recursos, preparando para
a vida social.
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Espera-se, por meio deste trabalho, que a escola e professores
possam ter um conhecimento mais amplo sobre a psicomotricidade e como
esta pode interagir com a educação musical, e ainda como a educação
musical pode auxiliar no desenvolvimento da psicomotricidade na criança.
Dando assim um leque maior de ferramentas e didáticas diferentes que possa
auxiliá-los no ensino da música, que facilite e respeite o desenvolvimento da
criança, e que ela possa ter acesso a um ensino rico em cultura e
informações de qualidade.
Em busca da relação entre a música e a psicomotricidade, esta
pesquisa foi realizada tendo como questões: qual importância a música tem
no desenvolvimento da psicomotricidade? Por que a psicomotricidade é
importante na educação musical? Por que o ensino da música na educação
infantil? Sendo assim, o objetivo deste estudo reside em demonstrar a
influência da música como ferramenta de auxílio para o desenvolvimento
psicomotor da criança, uma vez que um bom desenvolvimento motor é
fundamental para aquisição de outras habilidades importantes. Constituindo
assim uma base para o desenvolvimento da criança em outras áreas, como
cognitiva, afetiva-emocional e motora.
Esta pesquisa está organizada em três partes. No primeiro capítulo foi
abordada a psicomotricidade utilizando os conceitos de Le Boulch (1982).
No segundo capítulo discutiu-se o uso da música no contexto da
Educação Infantil, sobre a perspectiva de Le Boulch (1982) e o pedagogo
musical Dalcroze na releitura de Fonterrada (2008).
No terceiro capítulo foi apresentado como a música pode auxiliar no
desenvolvimento da psicomotricidade e algumas propostas pedagógicas que
podem ser trabalhadas para auxiliar no desenvolvimento psicomotor da
criança, baseado nos conceitos de Louro (2006).
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1. PSICOMOTRICIDADE
1.1 DEFINIÇÃO
Grande parte do desenvolvimento humano acontece nos primeiros anos de
vida, por meio da coordenação das ações sensório-motoras, percebendo-se,
relacionando e construindo uma imagem interna do mundo exterior. Este
desenvolvimento depende das vivências que o ser humano trava com o mundo
externo. A relação corpo-movimento-sentidos é crucial para o amadurecimento
global do homem, e para que ele se reconheça e conheça como ser no mundo.
A Sociedade Brasileira de Psicomotricidade define a mesma como:
A Psicomotricidade é uma ciência que tem como objetivo o estudo do homem através do seu corpo em movimento em relação ao seu mundo interno e externo, bem como suas possibilidades de perceber, atuar, agir com o outro, com os objetos e consigo mesmo. Está relacionada ao processo de maturação, em que o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito, cuja ação é resultante de sua individualidade e sua socialização. (www.psicomotricidade.com.br/etica.htm)
Louro (2006), explica de forma mais clara que a psicomotricidade é a relação
entre os aspectos psicológicos, motores e cognitivos no desenvolvimento do ser
humano desde a fecundação até o fim de sua vida. É a relação entre o querer fazer
(psicológico); saber fazer (cognição); e poder fazer (capacidade motora). Essa ideia
apresentada por Louro (2006), foi o referencial deste trabalho.
De uma forma mais didática Louro (2006) descreve o PSI (Psicológico), CO
(cognitivo), (emocional) (intelectual), MOTRIC (físico), IDADE (fases do
desenvolvimento).
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1.2 A PSICOMOTRICIDADE SOBRE A PERSPECTIVA DE LE
BOULCH.
Jean Le Boulch em seu livro “O desenvolvimento psicomotor do nascimento
até 6 anos” (1982), ressalta a importância da psicomotricidade na Educação Infantil.
A criança desde o seu nascimento possui habilidades a serem desenvolvidas, e para
que estas sejam desenvolvidas é necessário que haja um intercâmbio entre os
processos orgânicos com o meio inter-humano.“A importância da relação é geral. Na
primeira infância, a qualidade desta relação tem uma influencia determinante na
orientação do temperamento e da personalidade.” (LE BOULCH, 1982, p.27).
Para Le Boulch (1982) a educação psicomotora deve ser praticada desde a
mais tenra idade, pois quando conduzida propriamente ajuda a prevenir
inadaptações difíceis de corrigir uma vez já estruturadas. É na Educação Infantil que
a psicomotricidade proporciona a criança o conhecimento de seu corpo, lateralidade,
a situar-se no espaço temporal, coordenar seus gestos e movimentos, pois ela é
indispensável para a formação de base da criança.
Portanto a educação psicomotora deve assegurar o desenvolvimento
funcional considerando as possibilidades da criança, e auxiliar a expandir a
afetividade e equilíbrio da criança por meio do intercambio com o ambiente humano,
Le Boulch (1982).
1.3 O DESENVOLVIMENTO DA PSICOMOTRICIDADE NA
EDUCAÇÃO INFANTIL.
Considerando que o desenvolvimento da psicomotricidade está presente na
criança desde o momento que nasce, de acordo com Le Boulch (1982), a evolução
do desenvolvimento psicomotor acontece através do intercâmbio dos processos
orgânicos com o meio humano. À medida que a criança se relaciona com outras
pessoas, vai construindo os seus conhecimentos e se conhecendo pouco a pouco.
Sobre a perspectiva de Le Boulch (1982), o desenvolvimento psicomotor se
divide em três etapas: “Corpo vivido”, “corpo percebido” e “corpo representado”.
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Primeira etapa: “corpo vivido” até os 3 anos. Nesta etapa a criança ainda não
se percebe como o “eu” e se confunde com o espaço em que vive. Corresponde a
fase da inteligência sensório-motora de Piaget. Com o amadurecimento do sistema
cognitivo, a criança passa pouco a pouco através de experiências vividas a se
diferenciar do meio em que vive. Nesta fase sente grande necessidade de se
movimentar, como pular, correr, brincar e é através dos movimentos que a criança
vai desenvolvendo e ampliando sua experiência motora. Le Boulch (1982) conclui
esta etapa dizendo que, no estágio do “corpo vivido” a criança por meio de
experiências emocionais do corpo e do espaço, adquire praxias que permitem que a
criança sinta o seu corpo como um objeto total no mecanismo da relação.
Segunda etapa: “corpo percebido” de 3 anos aos 6 anos. Nesta a fase a
criança já tem um melhor controle sobre o seu corpo, passa a desenvolver e a
organizar seu esquema corporal. O amadurecimento da função de interiorização
auxilia a criança na sua percepção de seu próprio corpo e espaço. A criança passa a
aprimorar seus movimentos e coordenação, associa seu corpo com os objetos do
meio em que convive. Graças às experiências vividas na fase anterior consegue ter
uma representação mental dos elementos e do espaço. Seu corpo passa a ser seu
ponto de referência para se situar no espaço e situar os objetos em seu espaço e
tempo. Le Boulch (1982), caracteriza o final desta fase como pré-operatório de Jean
Piaget.
Terceira etapa: “corpo representado” dos 7 aos 12 anos. Está etapa não será
abordada aqui, pois o objetivo deste tema é falar sobre as etapas na Educação
Infantil até os 6 anos de idade.
Schinca (1991), em seu livro “Psicomotricidade, ritmo e expressão corporal”
ressalta a importância de desenvolver a psicomotricidade da criança de uma forma
equilibrada; a psicomotricidade, quando bem desenvolvida, auxilia a criança a
enfrentar exigências que as aprendizagens escolares supõem. As experiências
vividas pela criança a partir do seu próprio corpo como interação do cognitivo e
emocional possibilitam uma percepção diferente do mundo. Quando é permitido que
a criança vivencie estes momentos, ela terá conceitos diferentes a partir de
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experiências vivenciadas e exploradas por meio do seu corpo, estas vivências
deixam uma impressão mais profunda que os conhecimentos meramente racionais.
A psicomotricidade possibilita, a partir da vivência do corpo no espaço e no
tempo, desenvolver a consciência de si mesmo como ser íntegro, capaz de sentir,
expressar, compartilhar experiências e comunicar-se com os demais.
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2. O USO DA MÚSICA NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO INFANTIL.
Na Educação Infantil existem inúmeras possibilidades de trabalhar a música e
os seus benefícios. Uma destas possibilidades é o ritmo, que permite trabalhar a
psicomotricidade da criança, expressão, e criatividade. É importante que o educador
possibilite que a criança tenha acesso a exploração de novos ritmos, dando espaço
e desafiando para que os seus alunos criem novos ritmos, reinventem ritmos de
músicas ou brincadeiras musicais já conhecidas.
Em sua metodologia Le Boulch (1982), diz que o trabalho do ritmo na
Educação Infantil é de permitir a facilitação dos ritmos espontâneos e trabalhar a
percepção de temporalidade de seus próprios movimentos e dos sons de natureza
musical ou os emitidos pela voz humana. A atenção e esforço exigido para que isto
possa se desenvolver é grande e de uma função mental importante, a memória
imediata. A memória imediata permite memorizar as estruturas rítmicas e pode
restituí-las graças à representação mental dos dados temporais. Le Boulch (1982)
ressalta que até os 6 anos é mais favorável desenvolver este tipo de percepção e
que é fundamental de que ela seja desenvolvida na Educação Infantil, para evitar
insuficiências na vida adulta, como ter um desenvolvimento psicomotor normal, mas
ter uma percepção temporal fraca. Destaca ser essencial favorecer a expressão dos
ritmos corporais espontâneos e possibilitando sincronizá-los a suportes sonoros
adaptados e também favorecer o educar a percepção auditiva dos ritmos,
particularmente a de estruturas rítmicas.
Le Boulch (1982) menciona a importância de que as cirandas e danças
cantadas façam parte no desenvolvimento psicomotor da criança.
Além de ter grande valor, o folclore infantil, transmitido de geração a geração, mantém a tradição pitoresca, a simplicidade, a carga afetiva e contribui para a educação rítmica e a formação musical das crianças pequenas. Em particular, as crianças que tem dificuldades em coordenação global encontrarão um suporte privilegiado para alcançar, com o movimento, uma certa harmonia e um certo bem estar, fontes de prazer. Com efeito, o caráter coletivo destas danças, a participação da professora, o canto que acompanha, fazem com que cada criança possa participar ativamente, com alegria geral, e encontre, nesta atividade, uma segurança e uma situação favorável à expressão motora liberada. (LE BOULCH, 1992, p. 181-182).
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Na mesma linha de pensamento, o educador musical Émile-Jaques Dalcroze
destaca a importância de que a música seja introduzida à criança desde a mais
tenra idade, pois reconhece o corpo e a voz do bebê como seus primeiros
instrumentos musicais, daí a necessidade de estimular as ações musicais.
Em seu livro “De tramas e fios” Marisa Fonterrada (2008) apresenta
diferentes educadores musicais, sobre suas metodologias e influências na educação
musical. Entre tantos educadores musicais optei por falar um pouco sobre o
pedagogo musical Dalcroze, pois sua forma de pensamento e ensino é o que mais
se assemelha a forma de ensino e pensamento de Le Boulch.
Dalcroze se destacou por desenvolver um sistema educacional que prioriza o
ensino da música junto ao movimento corporal. Seu sistema partia do movimento
corporal, percepção de espaço, exploração do próprio corpo e espaço.
Rezende (2006), afirma que:
Jaques Dalcroze é o pedagogo musical mais referenciado quando o assunto tratado é uso do corpo para o fazer musical. Sua vivência enquanto educador o fez perceber que a expressão corporal contribui muito para comunicar problemas motores, psíquicos e emocionais. Por isso criara a Eurritmia que é a prática corporal que permite o individuo a conquistar capacidades como as de melhor: concentração, resposta do corpo a ações cerebrais e de relação entre o consciente e o inconsciente visando aguçar a capacidade criativa. Ele defendia que o indivíduo aprendia melhor algum conteúdo quando este era vivenciado corporalmente, criando assim uma imagem cerebral que sempre era utilizada quando o individuo estava numa pratica musical. (REZENDE, 2006, p.93)
Em seu sistema de Educação Musical, Dalcroze visava fornecer instrumentos
para o desenvolvimento integral da pessoa, por meio da música e do movimento.
Buscava desenvolver a escuta ativa, a voz cantada, o movimento corporal e o uso
do espaço. Dalcroze enfatizou o fato de o corpo e a voz serem os primeiros
instrumentos musicais do bebê, a importância de estimular desde a mais tenra idade
as ações das crianças da maneira mais eficiente possível.
Em sua proposta de ensino, a escuta e os aspectos psicomotores como
instrumentos de compreensão/ação/sensibilidade musicais estão interligados.
Fonterrada (2008), comenta:
O sistema Dalcroze parte do ser humano e do movimento corporal estático ou em deslocamento, para chegar à compreensão, fruição, conscientização e expressão musicais. A música não é um objeto externo, mas pertence, ao mesmo tempo, ao fora e ao dentro do corpo. O corpo expressa a música,
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mas também transforma-se em ouvido, transmutando-se na própria música. No momento em que isso ocorre, música e movimento deixam de ser entidades diversas e separadas, passando a constituir, em sua integração com o homem, uma unidade. Esse é o modelo pelo qual Dalcroze supera o dualismo em sua busca pelo todo. (FONTERRADA, 2008, pg. 133).
Similar a Le Boulch, o ponto principal do sistema proposto por Dalcroze, partia
do movimento corporal, da exploração do espaço e do próprio corpo, que buscava a
comunicação e o contato com outros corpos e com o ambiente. Parte da natureza
motriz do sentido rítmico e que o conhecimento necessita ser afastado de seu
caráter usual de experiência puramente intelectual para alojar-se no corpo do
indivíduo e em sua experiência vivida.
Partindo dessa ideia, o sistema dalcroziano se organiza em atividades e
movimentos que buscam desenvolver ações corporais básicas, necessárias ao
ensino musical. Visando trabalhar a escuta ativa, a sensibilidade motora, o sentido
rítmico e a expressão.
Movimentos como andar, correr, pular, arrastar-se, deslocar-se em diferentes
direções de forma livre ou seguindo um determinado ritmo são algumas das formas
que Dalcroze usa em suas propostas para estimular o movimento. As estruturas
musicais são abordadas nas atividades, de modo que a escuta leve com que as
pessoas expressem o que ouvem por meio dos movimentos.
Sobre as propostas de Dalcroze, Fonterrada comenta:
Os exercícios corporais visam, especificamente, combinar e/ou alternar movimentos, dissocia-los, estimular a concentração, a memoria e a audição interior, promover a rápida reação corporal a um estimulo sonoro ou explorar o espaço em diferentes direções, planos e trajetórias, objetivos que continuam atuais, ainda mais se se pensar na expressão e na estrutura corporais como maneiras de suplantar as estereotipias postas hoje ao alcance da população.(FONTERRADA, 2008, pg. 135)
Entre seus objetivos, Dalcroze buscava com que o aluno pudesse
familiarizar-se com os elementos da linguagem musical, através do movimento
corporal. Primeiro o aluno vivencia corporalmente o ritmo, canta a melodia, para
depois realizar as anotações do ritmo e da melodia. Outra finalidade do método de
Dalcroze é a de despertar no aluno o desejo de expressar-se após ter desenvolvido
suas faculdades emotivas e sua imaginação.
Os princípios fundamentais de Dalcroze podem dividir-se em três partes:
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Experiência sensorial e motora: É a primeira forma de compreensão
musical. Trata-se de uma educação musical de base, que ao mesmo tempo,
desenvolve a educação da sensibilidade e da motricidade, através da agudeza do
ouvido, da sensibilidade nervosa, do sentido rítmico e da faculdade de exteriorizar
espontaneamente as sensações emotivas.
Conhecimento intelectual: O conhecimento intelectual se introduz uma vez
adquirida a experiência sensorial e motora.
Educação rítmica e musical: Esta consiste na educação da pessoa, que
proporciona uma coordenação maior de suas faculdades corporais e mentais e
facilita amplamente suas possibilidades de consciência e ação. A improvisação está
consagrada a esta consciência pessoal e seus meios de expressão.
As ideias de Émile-Jaques Dalcroze além de influenciar os educadores de seu
tempo, ainda hoje servem de fundamento na formação de professores de música de
competência internacionalmente reconhecidos.
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3. A MÚSICA COMO FERRAMENTA DE AUXÍLIO PARA O
DESENVOLVIMENTO DA PSICOMOTRICIDADE.
Entre diversos pedagogos musicais, abordo alguns exemplos de atividades
pedagógicas musicais propostas por Viviane Louro (2006), que tem como uma de
suas influências Dalcroze e seu sistema de ensino, presente nas atividades
propostas por ela em seu livro “Educação Musical e Deficiências Propostas
Pedagógicas”.
Antes de falar sobre as atividades e como a música pode ser usada como
ferramenta de auxílio para o desenvolvimento da psicomotricidade, Louro (2006) faz
algumas observações sobre a postura e conhecimentos básicos que o professor
necessita possuir ao ensinar música.
Entre eles é importante que o professor tenha conhecimentos sobre os
assuntos que constroem o fazer musical como um todo, aspectos teóricos da
música, questões históricas, estéticas, estilísticas e instrumentais sobre vários
métodos de ensino de sua disciplina. Ser consciente de que a música não é um
saber dissociado e contempla várias possibilidades de se relacionar com todos os
aspectos do conhecimento. O professor deve tomar conhecimento também do
processo de desenvolvimento e aprendizagem, compreender os aspectos da
psicomotricidade.
Costa (1998), afirma que o professor:
[...]precisa saber que o objetivo maior é sensibilizar o estudante ao mundo que o rodeia, dando meios a ele de crescer, criar, perceber, desabrochar todas as suas potencialidades. Pensando e trabalhando desta forma, o professor terá condições de, por meio da música, transformar a personalidade de seu aluno, tornando-o uma pessoa
mais participativa, autêntica e livre. (COSTA apud LOURO, 1998, p. 34)
Portanto, é importante que o professor tenha conhecimento que exerce um
papel importante como agente transformador, pois a música por si só não faz
diferença, mas a maneira como o professor a introduz e os métodos que usa para o
ensino da música é que fazem a diferença, podendo assim se tornar ferramenta de
auxílio, facilitando o desenvolvimento da psicomotricidade na criança da forma mais
natural possível.
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Louro (2006), afirma que o desenvolvimento da psicomotricidade é essencial
para a construção de conceitos e aquisição da aprendizagem. Sem o suporte
psicomotor o pensamento não pode ter acesso aos símbolos e à abstração.
As vivências e estímulos são essenciais nos primeiros anos de vida para o
processo de aprendizagem. Sem estímulos e vivências, não se adquire a
aprendizagem.
É essencial que a criança tenha vivências como: perceber e tocar no seu
corpo; estímulos auditivos, visuais, tátil-sinestésicos; rolar, engatinhar, correr, pular,
cantar (LOURO, 2006).
Para Louro (2006), no desenvolvimento psicomotor encontram-se os
seguintes aspectos:
Tônus: É o organizador de toda atividade: contração e alongamento dos
músculos, estado de tensão/distensão das vísceras. A função tônica é muito
importante na tomada de consciência de si. Pois é através do corpo e o movimento
que a pessoa percebe a si e ao mundo, se expressa, experimenta sensações e
diferentes situações. É importante o controle da função tônica para que o sujeito
disponha das possibilidades de evasão, relaxamento, tanto em repouso como em
ação.
Esquema e Imagem Corporal: elemento básico e indispensável para a
formação da personalidade. É o saber identificar e nomear as diferentes partes do
corpo, é a maneira de perceber o seu próprio corpo através de sensações. É uma
prática que evolui com a exploração, imitação e vivência, é a noção tridimensional
que temos de nós mesmos. A imagem corporal é a figuração mental que temos do
nosso corpo, é o modelo pelo qual o corpo se apresenta para nós.
Equilíbrio: base primordial de toda coordenação geral, e toda ação
diferenciada dos membros superiores e do centro de gravidade. Combinação das
ações musculares com o propósito de sustentar o corpo sobre uma base. Divide-se
em dois tipos: equilíbrio estático que são os movimentos sem locomoção como ficar
em pé ou na ponta dos pés; equilíbrio dinâmico: são os movimentos com locomoção,
andar, marchar, correr, pular.
Noção Espacial: conhecimento do mundo exterior, partindo primeiro do
conhecimento do eu, e assim com relação a outros objetos, pessoas em posição
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estática ou em movimento. Desenvolve-se através dos primeiros movimentos que
atuam no campo espacial limitado pelos seus deslocamentos, com o tempo e
vivência a criança passa a criar seu próprio campo espacial e espaço interno
subjetivo.
Noção Temporal: capacidade de situar-se em função da sucessão dos
acontecimentos, antes, durante e depois; consciência de duração: longos e curtos;
capacidade de diferenciar ritmos regulares e irregulares e noções de tempo: lento e
rápido.
Lateralidade: eixo imaginário que divide o corpo em duas partes
semelhantes; consciência de direção – direita e esquerda.
Lateralização: dominância lateral da pessoa, construída por dados
neurológicos (hemisfério cerebral dominante) e hábitos sociais (destro/canhoto).
Portanto é importante que a criança vivencie seu corpo e receba estímulo
devido, pois a ausência destes pode comprometer o desenvolvimento psicomotor,
apresentando sérios problemas na construção de seu esquema corporal, temporal,
espacial, lateralização, coordenação motora, postura, entre outros.
Consequentemente tais déficits poderão prejudicar o desenvolvimento da
aprendizagem e a aquisição de habilidades.
Rotular uma criança com déficit de atenção, ou algum outro déficit tem se
tornado cada vez mais comum. Muitas vezes uma criança que não teve os estímulos
necessários ou não vivenciou o seu corpo devidamente, isto pode contribuir para
uma dificuldade de aprendizagem.
Por isso o professor necessita possuir os conhecimentos devido as diferentes
etapas no desenvolvimento da psicomotricidade na criança. Sendo assim estará
consciente dos estímulos necessários que a criança necessita, e refletir como
poderá melhor auxiliar neste processo.
Sobre este aspecto Louro (2006), conceitua:
Quantas vezes um professor de música se depara com um aluno inteligente, com as funções intactas, que enxerga e ouve bem, mas que, por algum motivo não consegue compreender conceitos musicais simples, distinguir intervalos melódicos, possui grande dificuldade rítmica ou mesmo total falta de coordenação motora ao instrumento? Tudo isso, entre outros problemas, pode ser falta de uma estimulação, pode ser um problema psicomotor. [...] Quantos alunos de música desistem pelo meio do caminho crendo-se incapazes de aprender música, quando na verdade, o problema
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pode ser do professor que não consegue perceber e trabalhar suas dificuldades, ou mesmo, do sistema educacional, baseado em padrões predeterminados de eficiência, que exige um determinado desempenho para que esse aluno possa usufruir da aprendizagem musical?! Por esse motivo, os professores precisam estar atentos sobre questões que envolvem o fazer musical, sendo que desses fatores, a psicomotricidade é essencial. (LOURO, 2006, p. 62)
E onde entra a aprendizagem musical? Pois bem, para tocar uma música ou
canta-la ou até mesmo para compreender uma música, se depende totalmente de
fatores psicomotores.
Le Boulch (1982) enfatiza, “A utilização rítmica da linguagem e do canto
contribuem para consolidar os ritmos motores espontâneos da criança, cuja
estabilidade é paralela a um bom equilíbrio tônico-emocional. “ (LE BOULCH, 1982,
p.110)
A música e a psicomotricidade tem muito em comum; precisamos do conjunto
psicomotor para aprender música e a música é uma das ferramentas mais eficientes
para nosso desenvolvimento psicomotor. Louro (2012)
Relvas (2007) sobre a música e a psicomotricidade conceitua;
A psicomotricidade e a educação musical, [...] devem possibilitar vivencias e descobertas, constituindo-se em uma experiência concreta. [...] A educação musical contribui para o desenvolvimento harmonioso, com isso, facilita na educação psicomotora, trabalhando o aluno, fazendo-o tomar consciência do seu corpo na lateralidade, situando-se no espaço, ter domínio de tempo, coordenar gestos e movimentos, sendo praticada desde as mais tenras idades, sempre adaptada ao nível do grupo, porque é por meio dessas experimentações e relações com o outro que o ser humano se descobre e
vai se formando pouco a pouco. (RELVAS apud Louro (2012, p.107).
As metodologias mais utilizadas na educação musical infantil são baseadas
em exercícios e jogos que visam desenvolver aspectos do desenvolvimento
psicomotor da criança. A musicalização é estimulação psicomotora a todo instante,
ela trabalha todos os aspectos psicomotores necessários, entre outras coisas, para
uma boa aprendizagem, seja esta musical ou outras. Para Louro (2006), as práticas
comuns das atividades pedagógicas envolvem: andar pela sala na pulsação da
música (tônus, equilíbrio dinâmico, consciência têmporo-espacial); exploração de
sons ambientais (estimulação auditiva, importantíssima para o desenvolvimento
psicomotor), percussão corporal (esquema corporal, noção espacial, tônus,
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lateralidade); jogos de improvisação (estimulação da criatividade, expressão e
conceitos); imitações de movimentos com o corpo (estimulação visual, coordenação
motora, esquema corporal); tocar instrumentos de percussão ou outros (tônus,
lateralização, orientação espacial, temporal e esquema corporal); montar pequenos
grupos instrumentais (tônus, equilíbrio estático, consciência espacial e lateralizacão);
cantar (estimulação do aparelho fonador (tônus), articulação, respiração, afinação,
esquema corporal). (LOURO, 2006, p. 60).
Em suas propostas de atividades pedagógicas, Louro (2006) mesclou as
metodologias de diferentes educadores musicais, entre eles encontram-se as
metodologias de ensino de Dalcroze. Baseou-se nos princípios da psicomotricidade,
que destaca ser essencial no processo de desenvolvimento e aprendizagem de
todos. Portanto todas as atividades propostas por esta autora passam primeiro pela
vivência corporal, antes da utilização dos jogos e formalização dos símbolos e
conceitos. Em suas atividades usa como principio básico as propriedades do som:
Altura: diferença entre os sons graves e agudos. Duração: discriminação do
“tamanho do som”. Sons curtos e longos. Intensidade: sons fortes e fracos. Timbre:
particularidade de cada som.
Trago como exemplo algumas das atividades propostas pela autora.
Encontram-se publicadas em seus livros: ‘’Educação Musical e Deficiências
Propostas Pedagógicas’’ (2006) e ‘’Fundamentos da Aprendizagem Musical da
pessoa com deficiência’’ (2012).
Atividade 1
Andar pelo espaço
O que a atividade trabalha: Foco, atenção, pulsação, ritmo, noção de corpo no
espaço físico, consciência corporal, comunicação visual, coordenação motora,
noção de tempo, esquema corporal, tônus, equilíbrio, criatividade, integração com o
grupo.
Material necessário: sala ampla e um aparelho de som.
Descrição da atividade: solicita-se aos alunos que caminhem aleatoriamente
pela sala. Com esta ação já é possível estimular várias relativas ao ‘’corpo no
espaço’’. O grupo deve se preocupar em ocupar todos os espaços da sala da
maneira mais homogênea possível, evitando deixar grandes espaços vazios, ou
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então devem se juntar em um único lugar. Caminhar normal e constante, os braços
estendidos ao longo do corpo e os pés bem firmes a cada passo. Uma variação para
se inserir a música no contexto desse exercício é a seguinte: com um instrumento de
percussão grave (surdo, bumbo), marcar um pulso contínuo. Cada passo dos alunos
deve ser simultâneo a cada pulso. Ao longo do exercício pode-se variar a
velocidade, orientando-se os alunos para que estejam atentos ao som,
sincronizando os passos aos pulsos rítmicos. Outras sugestões que a autora da
enquanto adaptações da mesma atividade são: que quando a música parar, os
alunos parem em duplas, façam em grupos formas geométricas. Enfim cabe ao
educador e sua criatividade para elaborar diferentes adaptações para a mesma
atividade.
Atividade 2
Equilibrando
Materiais necessários: sala ampla, aparelho de som, bastões.
O que a atividade trabalha: atenção, tônus, comunicação visual, equilíbrio,
freio inibitório, foco, coordenação motora, noção de espaço.
Descrição da atividade: a atividade consiste em separar os alunos em duplas
e dar um bastão para cada dupla, a dupla tem que segurar o bastão com a palma da
mão entre os dois, enquanto a música toca eles tem que ir andando pela sala sem
deixar o bastão cair, sempre pressionando o bastão na palma do companheiro, sem
deixar o bastão cair.
Atividade 3
O mestre mandou
Materiais necessários: bambolês, sala ampla e um aparelho de som.
O que a atividade trabalha: prontidão, concentração, atenção, organização do
corpo, classificação de cores, tônus, frio inibitório, equilíbrio, agilidade de
pensamento e decodificação, foco.
Descrição da atividade: Colocar bambolês de diferentes cores espalhados
pela sala, colocar uma música e pedir para que os alunos caminhem pela sala,
quando a música parar, o professor deve escolher uma cor de bambolê, e os alunos
devem correr ou caminhar para a cor de bambolê escolhida pelo professor.
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Atividade 4
Esculturas sonoras
Materiais necessários: massinha
O que atividade trabalha: criatividade, praxia fina, concentração, atenção,
tônus.
Descrição da atividade: a atividade consiste em dar um pedaço de massinha
para cada aluno, peça para que o aluno construa um personagem, para que lhe de
um nome e que invente um som para o personagem que criou.
Estes são apenas alguns exemplos de atividades pedagógicas musicais
propostas pela autora. A finalidade destes exemplos, não é dar uma receita pronta,
nem tampouco defender uma metodologia certa. Pois a ideia principal defendida
pelos os autores que neste trabalho foram mencionados, é justamente de que não
existe uma metodologia pronta e perfeita para trabalhar a música como ferramenta
de auxílio no desenvolvimento psicomotor da criança, mas que é necessário que o
educador possa respeitar a individualidade de cada criança como sujeito único no
universo e na sua forma de aprender. Sendo assim é dever do educador, conhecer
bem os seus alunos, refletir sobre as necessidades específicas destes, para que
assim possa planejar, adaptar e criar atividades que vão de encontro a sua realidade
e suas necessidades.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para este trabalho foi feito um levantamento bibliográfico, através de livros e
artigos científicos.
Teve por objetivo apontar a relação entre a educação musical e a
psicomotricidade. É importante ter uma psicomotricidade bem desenvolvida para o
fazer musical? Como a educação musical pode influenciar no desenvolvimento
psicomotor na primeira infância. A criança necessita de estímulos para o seu
desenvolvimento psicomotor. Entre estes estímulos encontra-se a música como
ferramenta de auxílio para um bom desenvolvimento psicomotor.
A lei não exige a música como uma disciplina necessária, mas somente os
conteúdos musicais, sendo assim qualquer professor pode introduzir estes
conteúdos dentro ou fora do horário de aula. Conheço vários pedagogos que não
possuem nenhum conhecimento musical, ou dos benefícios que a música
proporciona para o desenvolvimento da criança, sendo que o pedagogo é
responsável por introduzir a música na Educação Infantil. Ao mesmo tempo conheço
excelentes professores de música que não possuem os conhecimentos básicos
sobre as diferentes etapas do desenvolvimento da criança, e que apenas aplicam os
seus conhecimentos musicais.
É necessário repensar os conhecimentos que estão sendo passados aos
futuros educadores. Estão aptos para ensinar música na escola, ou seja, possuem
os conhecimentos básicos de música para aplicar este conteúdo, uma vez que o
ensino da música na escola tornou-se obrigatório? Se a música é tão importante e
pode ser utilizada como ferramenta de auxílio para o desenvolvimento psicomotor da
criança na educação infantil, por que as faculdades de Pedagogia não incluem este
conteúdo em suas grades curriculares?
Se o movimento é essencial para que a criança possa ter um bom
desenvolvimento psicomotor, as escolas possuem espaços amplos no qual a criança
possa andar, correr, pular, se arrastar pelo chão?
O educador precisa refletir no momento de planejar suas atividades para
escolher se as propostas de atividades musicais irão proporcionar a criança, a livre
expressão corporal, exploração e conhecimento do seu próprio corpo, respeitando o
tempo e espaço de cada criança, permitindo que a criança por meio das atividades,
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possa ter acesso a exploração do espaço onde se encontra e de diferentes espaços,
acrescentando conhecimentos e vivencias para criança.
Para Brito (2003), para a criança fazer música não significa seguir regras ou
observar características, mas sim vivenciar o momento, aprender. Nesse sentido,
importa, prioritariamente, a criança, o sujeito da experiência, e não a música, como
muitas situações de ensino musical insistem em considerar. A educação musical não
deve visar a formação de possíveis músicos do amanhã, mas sim a formação
integral das crianças de hoje.
É importante como educadores refletirmos e nos policiarmos em estar
preocupados somente com o “resultado” final, ou seja, de aplicar um conteúdo
simplesmente porque é obrigatório, que acabamos perdendo o processo e muitas
vezes pulando etapas, pelo qual a criança passou ou precisou vivenciar para chegar
no resultado almejado. Quando digo perdendo, me refiro a dificuldades e obstáculos
que a criança conseguiu superar ao decorrer do percurso, tanto como novidades que
a criança trouxe, emoções, reações, sentimentos que sentiu e teve no decorrer das
atividades. Por isso, para além de cumprir uma legislação, o uso da música na
educação infantil deve ser coerente com a discussão que este trabalho de conclusão
de curso propôs. Sendo que a música é um estímulo de extrema importância para o
desenvolvimento da criança na primeira infância e que, se negligenciada poderá ter
impactos no desenvolvimento psicomotor e emocional da criança.
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REFERÊNCIAS
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Disponível em <www.psicomotricidade.com.br/etica.htm>. Acesso em 27 de abril.2015.
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LOURO, Viviane dos Santos. Educação musical e deficiência: propostas pedagógicas. São José
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