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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS CAMPUS DE PALMAS CURSO DE ARTES-TEATRO Emmanuela Niemaier de Moura A montagem da Peça: “A maldição do vale negro” a partir dos Jogos teatrais Palmas - TO 2014

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Page 1: A montagem da Peça: “A maldição do vale negro” a partir dos Jogos teatrais - TCC Emmanuela Niemaier de Moura

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS

CAMPUS DE PALMAS

CURSO DE ARTES-TEATRO

Emmanuela Niemaier de Moura

A montagem da Peça:

“A maldição do vale negro” a partir dos Jogos teatrais

Palmas - TO

2014

Page 2: A montagem da Peça: “A maldição do vale negro” a partir dos Jogos teatrais - TCC Emmanuela Niemaier de Moura

Emmanuela Niemaier de Moura

A montagem da Peça:

“A maldição do vale negro” a partir dos Jogos teatrais

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à

Universidade Federal do Tocantins para obtenção

do título de Licenciado em Artes-Teatro.

Orientador(a): Profa. Ma. Andreia Lívia de Jesus

Leão.

Palmas - TO

2014

Page 3: A montagem da Peça: “A maldição do vale negro” a partir dos Jogos teatrais - TCC Emmanuela Niemaier de Moura

Emmanuela Niemaier de Moura

A montagem da Peça: “A maldição do vale negro” a partir dos Jogos teatrais.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à

Universidade Federal do Tocantins para obtenção

do título de Licenciado em Artes-Teatro.

Aprovado em: 10/10/14

Banca Examinadora

Prof. Me. Heitor Martins Oliveira Instituição/Curso: Universidade Federal do Tocantins/

Artes- Teatro.

Julgamento: __________________ Assinatura: ___________________________

Profa. Ma. Adriana dos Reis Martins Instituição/Curso: Universidade Federal do Tocantins/

Artes- Teatro.

Julgamento: __________________ Assinatura: ___________________________

Profa. Ma. Andreia Lívia de Jesus Leão Instituição/Curso: Universidade Federal do

Tocantins/ Artes- Teatro.

Julgamento: __________________ Assinatura: ___________________________

Page 4: A montagem da Peça: “A maldição do vale negro” a partir dos Jogos teatrais - TCC Emmanuela Niemaier de Moura

AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a Deus o meu

redentor e iluminador nessa jornada pelo

conhecimento.

Ao meu esposo Fábio pela compreensão e apoio

que recebi durante esta jornada acadêmica.

A minha orientadora Andreia que colaborou com

o meu crescimento cognitivo compartilhando os

seus saberes necessários para escrita desse artigo.

Page 5: A montagem da Peça: “A maldição do vale negro” a partir dos Jogos teatrais - TCC Emmanuela Niemaier de Moura

“Quando o sentido de processo é compreendido, e

se entende a estória como o resíduo do processo,

resultado é ação dramática, pois toda a energia e

ação de cena são geradas pelo simples processo

de atuação”. Viola Spolin

Page 6: A montagem da Peça: “A maldição do vale negro” a partir dos Jogos teatrais - TCC Emmanuela Niemaier de Moura

Resumo

MOURA, E. N. A montagem da peça: “A maldição do vale negro” a partir dos Jogos Teatrais.

Trabalho de Conclusão de Curso – Colegiado de Artes-Teatro, Universidade Federal do

Tocantins, Palmas – TO, 2014.

Este artigo deseja contextualizar a instauração dos Jogos Teatrais como abordagem

metodológica na preparação de alunos iniciantes na prática do teatro, com objetivo de

apresentar uma montagem de uma telenovela do gênero do melodrama. Os alunos

participantes do projeto são estudantes do 2° ano do ensino médio do Colégio São José da

cidade de Palmas (TO). Esse trabalho foi desenvolvido no 2° semestre 2013 durante o projeto

de iniciação a docência (PIBID) do curso de Artes/Teatro da Universidade Federal do

Tocantins. Proponho um estudo que estabeleça a importância do jogar no processo Teatro-

Educação. A escolha de usar o sistema dos Jogos Teatrais veio da inquietação pessoal de

ensinar teatro fazendo teatro. O principal referencial teórico utilizado nesta pesquisa foi:

Koudela (2001) e Spolin (2001, 2010). Desejo com essa experiência ressaltar a essência do

teatro na educação, a qual deve estabelecer o elo de confiança entre os alunos e o professor,

para que as atividades desenvolvidas possibilitem a criação coletiva por meio do jogar para

criar.

Palavras-Chave: Jogos Teatrais; Melodrama; Improvisação; Telenovela.

Page 7: A montagem da Peça: “A maldição do vale negro” a partir dos Jogos teatrais - TCC Emmanuela Niemaier de Moura

Abstract

MOURA, E. N. The mounting of the play: “The curse of the Black Valley” from theatre

games. Course Conclusion Paper – College of Arts-Theatre, Federal University of Tocantins,

Palmas – TO, 2014.

This article seeks to contextualize the establishment of Theater Games as a methodological

preparation of beginners in the practice of theater, aiming to present a montage of a TV Soap

Opera (a Novel) genre of drama. The students participating in the project are students in 2nd

year of high school at the College of São Jose in the city of Palmas, Tocantins. This work has

been developed in the 2nd

Semester of 2013 during the course of the project of initiation to

teaching (PIBID) of the Arts Course at the Federal University Theatre of Tocantins. I propose

a study to establish the importance of play in theatre-education process. The choice to use the

system of Theather Games came from personal concern to teach theater doing theater. The

main theoretical reference adopted in this research was: Koudela (2001) and Spolin (2001,

2010). I wish to emphasize with this experience the essence of theater in education, which

must establish the bond of trust between the students and the teacher, so then the activities

developed enables the collective creation through play to create.

Keyword: Theater Games; Drama; Improvisation; Novel.

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1. INTRODUÇÃO

O presente artigo deseja contextualizar a instauração dos Jogos Teatrais como

abordagem metodológica na preparação de alunos iniciantes na prática do teatro, com objetivo

de apresentar uma montagem de uma telenovela tendo como temática o gênero

melodramático. O público alvo escolhido para esse projeto foram os alunos que cursavam o

2° ano do ensino médio no Colégio São José, o projeto foi desenvolvido durante o 2° semestre

do ano 2013 na cidade de Palmas (TO). O trabalho realizado no Colégio São José faz parte de

um dos projetos do Programa institucional de bolsa de iniciação a docência (PIBID), o qual

tem como objetivo levar estudantes da Universidade Federal do Tocantins do curso de Artes-

Teatro a vivenciar a licenciatura e desenvolver projetos inovadores que proponham uma

experiência significativa tanto para a escola que recebe o projeto, quanto para os futuros

professores que os coordenam. Com o projeto PIBID os alunos dos cursos de licenciatura

ingressam na escola antes mesmo de se graduar e colocam em prática o que estão aprendendo

na universidade.

O objetivo principal do projeto de preparação dos alunos para cena usando os Jogos

Teatrais é envolvê-los na ação e na observação do jogo teatral, para que todos pudessem

descobrir as possibilidades de criação através da força coletiva do grupo, que é propulsora da

ação e capaz de levar a construções de cenas e personagens, visando como resultado final a

montagem da telenovela.

Como acadêmica do curso de licenciatura em Artes/Teatro escolhi como abordagem

metodológica para esse processo, os Jogos Teatrais, por ser um trabalho com alunos iniciantes

na prática teatral. Acredito que os Jogos Teatrais com o seu sistema de regras que estabelece o

foco1 a ser alcançado contribuem para compreensão, pois a retomada do foco é sempre

lembrada pelo orientador. O professor deve estar sempre atento às instruções e as avaliações,

com isso verificar se o foco foi alcançado pelo grupo; se a instrução dele foi suficiente para a

contribuição do entendimento do jogo e não apenas jogar por jogar.

Os jogos teatrais podem trazer o frescor e vitalidade para a sala de aula. As oficinas

de jogos teatrais não são designadas como passatempo do currículo, mas sim como

complementos para aprendizagem escolar, ampliando a consciência de problemas e

ideias fundamentais para o desenvolvimento intelectual dos alunos. (SPOLIN, 2007,

p. 29).

1 “O conceito Foco altera não somente a atuação do professor como a própria organização da matéria, na medida

em que ele passa a agir em função de pontos essenciais a serem comunicados aos alunos e não de uma sequência

predeterminada.” (KOUDELA, 2001, p. 43).

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O grande desafio quando se trabalha com adolescentes é mantê-los motivados durante

o processo, desde a primeira aula até final do projeto. A mudança de interesse nessa fase

estudantil é muito grande e as atividades oferecidas na escola eram muitas o que tornava mais

difícil a escolha e a permanência nas aulas de teatro. Observei que na escola os alunos tinham

outras atividades como torneios de vôlei, banda de música e grupos de quadrilha, essas

atividades disputavam o tempo e a dedicação deles nas aulas teatro, mas entendo que nessa

fase escolar os alunos querem participar de todas as atividades ao mesmo tempo e acabam

desistindo no meio do percurso, necessitando de uma intervenção por parte dos professores

motivando e inovando as aulas.

Dessa realidade do colégio veio à questão: como desenvolver um processo de

montagem de uma telenovela, usando os Jogos Teatrais na preparação dos alunos do Colégio

São José para a cena, capaz de desenvolvê-los e motivá-los durante todo o processo até

apresentação final? Como professora de teatro de um projeto que contemplava apenas alunos

do contra turno escolar, o grande desafio era manter as aulas interessantes e não apenas

coordenar jogos sem nenhum objetivo, mas construir através dos jogos aulas que estimulasse

a improvisação e a construção de cenas, para que os alunos vivenciassem a experiência teatral

sentindo-se motivados para os próximos encontros.

Segundo Huizinga (2000), desenvolver as habilidades que o próprio ato de jogar pode

proporcionar pelo simples fato de estar jogando sem nenhuma pretensão, além do que a

própria atividade exige de cada participante, torna o jogo um descanso da vida cotidiana

libertando o processo criativo e tornando o jogo prazeroso pra quem joga. Foi com essa

perspectiva que olhei para a potencialidade dos Jogos Teatrais e coloquei-os em prática para

estimular em cada aluno a emoção, a fala e o corpo necessário para a montagem do espetáculo

melodramático.

A peça escolhida e adaptada para montagem teatral da telenovela foi “A Maldição do

Vale Negro” escrita por Caio Fernando de Abreu no ano de 1986, com a colaboração do

diretor teatral Luiz Arthur Nunes. Utilizei como referencial teórico para o processo de

montagem teatral: Koudela (2001), Thomasseau (2005) e Spolin (2001, 2010).

No decorrer do trabalho quero descrever a experiência do processo desenvolvido a

partir do gênero melodramático, do jogo, da telenovela e dos Jogos Teatrais usados no

laboratório de preparação dos alunos. Para evidenciar o resultado foi realizada uma entrevista

semiestruturada com os participantes do projeto.

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2. METODOLOGIA

2.1. Natureza da Pesquisa

Por meio deste trabalho desejo apresentar as experiências durante o processo de

montagem teatral de uma telenovela adaptada da peça “A Maldição do Vale Negro” que usei

como fio condutor na preparação dos alunos os Jogos Teatrais.

Desejo discorrer desde o processo de criação até a apresentação pública e investigar a

contribuição na aprendizagem do ensino de teatro, a qual enfatizo o processo percorrido pelos

alunos e não apenas o produto final. Assim pensar no ensino de Teatro como um processo

constante, onde apreciação estética deve estimular à criação de novos espectadores que

compreendem e participam do sistema metodológico, da criação de cena até o resultado final

da apresentação da telenovela, contribuindo na formação artística e cultural dos alunos.

Nas escolas o teatro deve ser visto como um processo de aquisição de saberes e

fazeres conquistados através dos seus processos metodológicos e não somente visto como

apresentações teatrais de datas comemorativas. Desejo nesse artigo discorrer sobre o

laboratório2 realizado com Jogos Teatrais no Colégio São José, desenvolvido durante o 2°

semestre do ano 2013, com os alunos que cursavam o 2° ano do ensino médio e fomentar a

relevância do desenvolvimento dos alunos nas aulas de teatro.

Com a autorização da direção do colégio passamos nas salas de aula divulgando o

projeto PIBID, a diretora deixou claro que todos os alunos do 2° ano que tivessem interesse

poderiam participar. Ela optou pela turma do 2° ano por julgar que os alunos dessa turma

mostravam mais interesse pelo teatro, todos os alunos que tiveram interesse em participar do

projeto foram aceitos no grupo. Falamos com os alunos da nossa proposta de trabalhar com o

gênero melodramático e que durante todo o processo usaríamos os Jogos Teatrais.

Com o desenvolvimento e a improvisação de cena através dos Jogos Teatrais

tínhamos como proposta montar cenas de radionovela, telenovela e teatro. Nesse projeto

participaram do desenvolvimento da radionovela e do teatro melodramático, outros dois

alunos da Universidade Federal do Tocantins, porém irei detalhar a experiência apenas do

processo condutor com Jogos Teatrais na preparação dos alunos para as cenas e apresentação

da telenovela, processo o qual ficou sob a minha orientação.

2 O laboratório teatral é fundamentado em duas ações que poderão acontecer simultaneamente: a preparação ou

treinamento do ator e a improvisação das cenas. (SALLES, 2006, p.22)

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A escolha do gênero melodramático veio da vontade de resgatar para os tempos atuais

a telenovela, a radionovela e o teatro exagerado com suas encenações cheias de emoções e

sentimentos. O melodrama3 é um gênero originado no século XVIII que teve seu contexto

fundamentado na Revolução Francesa em um período de intensas e radicais transformações

na França. As temáticas do melodrama refletiam os ideais de “liberdade, igualdade e

fraternidade”, assumindo desse modo um papel quase institucional da Revolução.

As paixões políticas despertadas e as terríveis cenas vividas durante a Revolução

exaltaram a imaginação e exacerbaram a sensibilidade de certas massas populares

que afinal podem se permitir encenar suas emoções. E para que estas possam

desenvolver-se o cenário se encherá de prisões, de conspirações e de desgraças

imensas sofridas por vítimas e traidores que no final pagarão caro suas traições. [...]

Antes de ser um meio de propaganda, o melodrama será o espelho de uma

consciência coletiva (MARTÍN-BARBERO, 2003, p.152).

Compreendo que montar uma telenovela em um único semestre com alunos sem

experiência teatral requer bastante envolvimento por parte dos alunos e do professor, a saber,

do pouco tempo que tínhamos, resolvemos fazer uma adaptação da peça “A Maldição do Vale

Negro” fazendo um recorte de cenas as quais não descaracterizassem a peça mantendo a

coerência da estória lúdica.

A peça “A Maldição do Vale Negro” foi indicada por uma professora supervisora do

PIBID, que nos apresentou a peça e também nos contou do seu projeto realizado em uma

escola de Florianópolis e o quanto seus alunos se interessaram pela estória. Li a peça e

apaixonei-me pelo enredo, personagens, tempo e local que aconteceu a narrativa. Além de

todas as qualidades de uma boa estória, ainda tinha um mistério muito envolvente que poderia

cativar os curiosos alunos adolescentes.

O processo foi divido em três etapas: a primeira etapa foi composta pelo

desenvolvimento dos Jogos Teatrais com o trabalho de corpo e improvisação do ator; a

segunda etapa pela a apresentação do texto adaptado, as leituras dramáticas, a caracterização

dos personagens, a voz e a expressão; na terceira etapa realizamos as gravações da telenovela

e a apresentação para o público.

Os jogos4 utilizados nas etapas do processo foram:

“Ouvindo os sons do ambiente”;

“Sentindo o eu com o eu”;

3 O vocábulo melodrama nasceu na Itália, no século XVII e designava um drama inteiramente cantado. O termo

só foi aparecer na França no século XVIII, durante a querela entre franceses e italianos. (THOMASSEAU, 2005,

p.16).

4 Os Jogos Teatrais foram selecionados do fichário da Viola Spolin (2001,2010).

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“Quem iniciou o movimento”;

“Cabo-de-guerra”;

“Espelho”;

“O jogo da sobrevivência”;

“Blablação”;

“Somente pés e pernas”;

“Somente as mãos”;

“Vendedor”;

“Discurso que vagueia”;

“Jogo da bola”;

“Caminhada no espaço imitando animais”;

“Envolvimento em duplas”;

“Construindo uma história”;

“Exercício de contato”.

Para investigar a experiência de criação e de encenação da telenovela realizada pelos

alunos, propus uma entrevista semiestruturada de vinte minutos com cada participante, que

combinaram perguntas abertas e fechadas para que os alunos pudessem discorrer sobre as

experiências no desenvolvimento com os Jogos Teatrais e à apresentação final. Por meio da

transcrição das entrevistas pude compreender o processo vivenciado por três alunos que

participaram do projeto. Quero através das entrevistas responder a questão: como desenvolver

um processo de montagem de uma telenovela, utilizando os Jogos Teatrais na preparação dos

alunos do Colégio São José para cena, capaz de desenvolvê-los e motivá-los durante todo o

processo até a apresentação final?

2.2. Participantes

O público alvo escolhido para este projeto foram dez alunos que cursavam o 2° ano do

ensino médio no Colégio São José, moradores da cidade de Palmas (TO) e com a faixa etária

de 15-16 anos. As entrevistas foram realizadas com apenas três alunos, não fizemos nenhum

tipo de seleção ou restrição, todos os alunos que quiseram participar do projeto e da entrevista

poderiam participar. A diretora do colégio optou que o projeto fosse oferecido para a turma do

2° ano por julgar que esses alunos mostravam mais interesse pelas práticas teatrais.

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2.3. Natureza dos Dados

A coleta dos dados foi realizada através de uma entrevista semiestruturada que

combinou perguntas abertas e fechadas na tentativa de estimular uma discussão num contexto

de uma conversa informal. Os alunos puderam discorrer sobre as suas experiências nos

processos de preparação do ator com Jogos Teatrais e sobre a montagem da telenovela.

A entrevista semiestruturada é muito usada quando se deseja obter um direcionamento

maior do tema, intervindo a fim de que os objetivos sejam alcançados. A principal vantagem

desse estilo de entrevista é que essa técnica quase sempre produz uma melhor amostra da

população de interesse. Segundo Selltiz (1987), tanto na entrevista aberta como na

semiestruturada, temos a possibilidade da utilização de recursos visuais como filmagens e

fotografias, o que pode deixar o entrevistado mais à vontade para fazê-lo lembrar de fatos, que

não seria possível em um questionário. “A arte do entrevistador consiste em criar uma

situação onde as respostas do informante sejam fidedignas e válidas” (SELLTIZ, 1987

p.644).

As perguntas tiveram seu teor voltado para a compreensão:

1- De que forma os Jogos Teatrais contribuíram no desenvolvimento criativo para a

montagem teatral da telenovela?

2- O que motivou a sua participação até o final do processo?

3- Qual a dificuldade encontrada no laboratório de preparação do ator para cena?

Desejo com essas perguntas, com os registros fotográficos e com as filmagens do

processo estimular as entrevistas para que os alunos possam expor as contribuições da ação

teatral vivenciada. Os alunos, os pais e a direção do colégio autorizaram os registros

fotográficos e as filmagens.

Para o processo de criação cênica é necessário através do referencial teórico expor a

importância do jogo, dos Jogos Teatrais, do melodrama, da telenovela e do enredo da

dramaturgia para fundamentar a relevância de cada tema na construção da montagem teatral.

2.4. Referencial Teórico

O Jogo

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O Jogo5 apenas pelo ato de jogar faz parte das principais bases das civilizações e

podemos encontrar essa atividade lúdica tanto na vida humana quanto na vida animal, onde os

animais brincam e têm as suas próprias regras no jogo assim como os humanos. O próprio ato

de jogar, segundo Huizinga (2000), existe de alguma coisa em jogo que confere um sentido a

ação e todo jogo significa alguma coisa, ele se diferencia da vida comum por ser uma

atividade livre e voluntária sem qualquer interesse material. O jogador joga com um conjunto

de regras estabelecidas, consentidas, com espaço determinado, dentro dos seus próprios

limites e ritmo. O jogo é um elemento lúdico, entretanto a forma lúdica não consiste no

esquecimento das regras, que são direcionadas pela razão e estão acompanhadas pelos

sentimentos de alegria e tensão capazes de envolver o jogador.

A regra é outro fator muito importante para o conceito de jogo. Todo jogo tem suas

regras. São estas que determinam aquilo que "vale" dentro do mundo temporário por

ele circunscrito. As regras de todos os jogos são absolutas e não permitem discussão.

E não há dúvida de que a desobediência às regras implica na derrocada do mundo do

jogo. O jogo acaba: O apito do árbitro quebra o feitiço e a vida "real" recomeça

(HUZINGA, Johan 2000, p.12).

Quando o jogador descumpre a regra estabelecida do jogo é considerado “desmancha

prazeres”, pois não cumpre com o acordo feito pelos jogadores podendo ser expulso por

quebrar o acordo. Huizinga (2000) afirma, que dentro do jogo as regras e costumes da vida

quotidiana são deixados de lado e a atmosfera lúdica recria um mundo que envolve

intensamente cada jogador em um novo mundo, onde as regras são outras, porém ressalta que

o jogo por sua própria natureza tem um ambiente instável, podendo a qualquer momento à

"vida quotidiana" reafirmar seus direitos, isso devido a um impacto exterior que poderá

interromper o jogo; ou impacto interior devido a uma quebra das regras do jogo causado pela

desilusão ou desencanto.

Partindo do princípio que todo ser pensante é capaz de jogar e ultrapassar o limite da

realidade desenvolvido pelo imaginário e possibilitar a fluência do processo criativo, quero

através dos jogos especificamente os Jogos Teatrais, preparar os alunos para criação de

personagens e cenas.

Os Jogos Teatrais

5 “O jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e

de espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si

mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente da vida

quotidiana” (HUZINGA, 2000, p. 24).

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Na década de sessenta nos Estados Unidos surgiram novas formas de teatro

independente e novos grupos que experimentavam outras formas de comunicação, sendo os

Jogos Teatrais a consequência dessa experimentação coletiva. A autora do sistema dos Jogos

Teatrais é a americana Viola Spolin que visa uma atuação marcada pela improvisação e

espontaneidade. Spolin tem três livros traduzidos em português por Ingrid Koudela que são:

Improvisação para o teatro, O jogo teatral no livro do diretor e Jogos teatrais: o fichário de

Viola Spolin.

Conforme Koudela (2001), o livro Improvisação para o teatro foi editado pela

primeira vez em 1963 e grande parte do sistema foi desenvolvido na Young Actors Company,

durante mais de dez anos, com crianças de sete a quatorze anos.

Spolin recebeu influências de Stanislávski e também de Neva Boyd, com a qual teve

um treinamento em jogos, arte de contar estórias, danças e canções folclóricas.

Esteve ligada ao The Compass Players (J 955-1957), em Chicago, que foi o primeiro

elenco profissional de teatro de improvisação nos Estados Unidos. (KOUDELA,

2001, p.40)

Os Jogos Teatrais são caracterizados por suas regras que fazem parte do parâmetro

central do jogo, as quais constituem um sistema de atuação que pode ser desenvolvido por

qualquer pessoa, seja ela com experiência teatral ou não, que desejam se expressar através do

teatro. Os Jogos Teatrais estão apresentados em Improvisação para o teatro e Jogos Teatrais:

o fichário de Viola Spolin, ambos são como manuais de ensino que auxiliam na prática do

aprendizado do teatro. Os jogos são detalhados em: Preparação, Descrição do Exercício,

Instrução, Avaliação, Notas e Áreas de Experiência.

O corpo dos Jogos Teatrais está dividido em três seções: A, B e C. A seção A é

composta de uma seleção de jogos teatrais e jogos tradicionais. Contém material

básico, que pode ser retirado da sequência e apresentado com objetivos educacionais

específicos. A seção B é uma seleção de Jogos Teatrais, acrescidos da estrutura

dramática: Onde (Lugar e/ou Ambiente), Quem (personagem e/ou relação) e O Que

(atividade). A seção C contém uma seleção adicional de Jogos Teatrais.

(KOUDELA, 2001, p.41)

Segundo Koudela (2001), o fichário de Jogos Teatrais pode ser usado de formas

variadas, de acordo com a necessidade particular a ser desenvolvida nas áreas de experiência,

que são indicadas na ficha de cada jogo e estão reunidas no apêndice do manual, de forma que

o professor encontre uma listagem de jogos para áreas específicas.

Com o fichário o professor pode selecionar o jogo que atende a necessidade, a qual

deseja desenvolver nos alunos. Os jogos oferecem um leque de possibilidades a serem

desenvolvidas em grupo e em várias categorias, como por exemplo: os jogos de observação,

os jogos de memória, os jogos sensoriais, os jogos de aquecimento, os jogos de agilidade

verbal e comunicação não-verbal. As variedades dos jogos possibilitam ao professor

Page 16: A montagem da Peça: “A maldição do vale negro” a partir dos Jogos teatrais - TCC Emmanuela Niemaier de Moura

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desenvolver no grupo habilidades que contribuam para a criação e encenação teatral

necessária para a montagem das cenas.

Os Jogos Teatrais têm o seu sistema fundamentado no jogo e na ação improvisada que

levam para ação lúdica e aliam-se a ele três dispositivos que sintetizam a especificidade do

sistema:

O foco atribuído pelo coordenador é sem dúvida o mais importante; ele designa um

aspecto específico – objeto, pessoa ou ação na área de jogo – sobre o qual o jogador

fixa sua atenção. Graças a ele, a experiência teatral pode ser, por assim dizer,

recortada em segmentos apreensíveis. O segundo é a instrução, ou seja, a retomada

do foco pelo coordenador, cada vez que isso se faz necessário. Em terceiro lugar,

aparece a avaliação, efetuada pela plateia composta por uma parcela do próprio

grupo, em alternância com a parcela de jogadores. (PUPO, 2005, p.4)

O Foco é o ponto de concentração do ator, o objetivo comum do grupo em solucionar

o problema e dessa tentativa nasce à cena. Para o estabelecimento do Foco do jogo existe

sempre o Foco primário (por exemplo, Onde) e o Foco secundário (por exemplo, Quem e O

Que). Para Koudela (2001), os termos “Onde”, “Quem” e “O Que” são usados no sistema em

substituição aos termos teatrais como "cenário", "personagem" e "ação de cena". Segundo

Spolin (2010), a espontaneidade é a energia vital que os Jogos Teatrais promovem, sendo um

momento de liberdade pessoal e quando estamos frente a frente com a realidade a exploramos

e agimos em conformidade com ela.

A espontaneidade equivale, portanto à liberdade de ação e estabelecimento de

contato com o ambiente. Com grupos iniciantes e também crianças, é fácil verificar

que, quando o processo de improvisação é deixado totalmente livre, poucas vezes

ele pode ser identificado com ação espontânea. (KOUDELA, 2001, p.51)

O processo com os Jogos Teatrais busca o surgimento do gesto espontâneo na

atuação, com essa metodologia desejo conseguir desenvolver no grupo os gestos exagerados e

o corpo característico dos personagens do melodrama.

O melodrama:

O melodrama apresenta personagens com valores opostos: bondade versus maldade,

mostrando momentos de grande euforia e serenidade.

O gênero é marcado por enredos de tramas emocionantes e com reviravoltas sempre

enfatizando a moral e destacando da trama o herói versus vilão. Conforme Thomasseau

(2005), o gênero se caracteriza em torno do bem e do mal, do oral, do excesso estético, dos

juízos morais, dos jogos sentimentais, da intensificação das virtudes e dos vícios das

personagens, sejam elas vilãs ou heróis.

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[...] um gênero teatral que privilegia primeiramente a emoção e a sensação. Sua

principal preocupação é fazer variarem estas emoções com a alternância e o

contraste de cenas calmas ou movimentadas, alegres ou patéticas. É também um

gênero no qual a ação romanesca e espetacular impede a reflexão e deixa os nervos à

flor da pele [...]. O melodrama é na verdade, a prática em geral de um moral

convencional e “burguesa”, mas não se pode esquecer que ele veiculou, durante uma

boa parte do século não só ideias políticas, sociais e socialistas, mas, sobretudo

humanitárias e “humanistas”, apoiando-se na esperança fundamental de um triunfo

final das qualidades humanas sobre o dinheiro e o poder. Ele carreou, de

cambulhada, os sonhos e as esperanças dos estratos sociais mais desfavorecidos,

mas também criou e manteve a efervescência de um imaginário popular, rico e

vigoroso (THOMASSEAU, 2005, p.139-140).

O melodrama supõe conflitos, propõe tornar visível a moral e tem um elevado poder

de levar o público a fortes emoções seduzindo o espectador. O corpo é expressão direta dos

sentimentos no melodrama através dos movimentos exagerados e bem explícitos ajudam na

composição dos personagens “o vilão é antes de tudo nos bigodes e na postura insinuante,

[...] o herói destila virtude no asseio e na presença modesta e respeitosa” (XAVIER 2002,

p.95). Os traços de personalidade, de atitudes e desejos são estampados de modo exacerbado

e claro.

No enredo do melodrama o traço principal é a surpresa iminente – marca que se

encontra inserida na elasticidade característica da trama. [...] É aqui que o artista

aplica o máximo de criatividade. Leva os espectadores de sobressalto em sobressalto

para um desfecho, que nem sempre concede o repouso do final feliz. A capacidade

para surpreender deve certamente ser associada ao caráter do enredo. [...] Para o

espectador, a possibilidade de sobrevirem novos episódios permanece como uma

suspeita e uma inquietação a lhe instigar o interesse. Sentimentos que, de resto, não

o abandonarão até as cortinas se fecharem, e que responde pelo estado de vigília

ininterrupto a que fica submetido. (HUPES, 2000, p. 29).

Para o desenvolvimento do gênero do melodrama foi necessário à escolha de um texto

teatral melodramático para trabalharmos as características dos personagens. A peça escolhida

foi “A Maldição do Vale Negro”, que fizemos uma adaptação para a apresentação da

montagem da telenovela.

A Peça: “A Maldição do Vale Negro”

A peça “A Maldição do Vale Negro” foi escrita por Caio Fernando de Abreu no ano

de 1986, com a colaboração do diretor teatral Luiz Arthur Nunes. Trata-se de uma peça de um

único ato do gênero melodramático. A peça retrata a estória de Rosalinda, uma jovem órfã

que foi criada por seu tio o Conde Maurício e pela a sua governanta Agatha, em um castelo da

família Belmont na província de Castelfranc na França, que fica em um vale coberto por uma

extensa floresta conhecida como Vale Negro. A estória tem início na tarde de primavera de 15

de abril de 1834. O tio e a governanta do castelo guardam um segredo sobre a vida de

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Rosalinda, toda a trama é em entorno desse segredo que é capaz de mudar a vida de todos do

castelo.

A jovem Rosalinda é seduzida pelo marquês Rafael d’Aliençon que pertence a uma

família nobre, o qual o tio de Rosalinda o Conde Maurício deve muito dinheiro a família do

rapaz que é totalmente contra o relacionamento dos dois por duvidar do caráter de Rafael. O

Conde Maurício descobre que a sobrinha está esperando um filho de Rafael, ele expulsa a

jovem do castelo e a condena a própria sorte. Rosalinda fica totalmente desapontada, pois

Rafael termina o namoro e a abandona também. Depois de expulsa do castelo Rosalinda

encontra um grupo de ciganos que a acolhe e desvenda o terrível segredo sobre sua família. A

estória é marcada pelas características do melodrama que são o sofrimento e o final feliz.

Através dessa dramaturgia realizamos a montagem da telenovela. Fizemos uma leitura

da peça junto com alunos e selecionamos a cena que foi gravada no estilo das telenovelas dos

anos 50.

A telenovela:

O gênero surgiu por influência da radionovela e teve sua veiculação diária6 em 1963,

onde em pouco tempo ganhou grande destaque na televisão brasileira. As estórias

inicialmente encenadas nas telenovelas eram baseadas na estrutura radiofônica e com o passar

dos anos novas formas mais realistas visando projetar a vida cotidiana ganha ascensão. A

telenovela busca fornecer modelos de conduta de certo ou errado, que através das narrativas

dos personagens influenciam na formação de identidade dos seus expectadores.

Esse caráter mais real da novela7 a partir da década de 90 é devido a forte influência

da escola realista que busca retratar os fatos como eles são, diferenciando-se de forma

considerável do seu modelo inicial, mas apesar de todo realismo ainda é possível encontrar

diversos elementos do melodrama como: as histórias de amores contrariados; o amor como

prêmio; os conflitos derivados do sentimento de culpa; a moral como modo de enfrentar os

6 Em 1951, Walter Forster, diretor, autor e protagonista, lançou a telenovela “Sua vida me pertence” (TV Tupi,

1951), respaldado na estrutura radiofônica de apresentar dramaturgia. Inicialmente a telenovela era veiculada

com 15 capítulos e exibida duas vezes por semana, o que remete à forte ligação com o folhetim do século XIX e

com todo o arcabouço da radionovela. Foi a partir dessa experiência e também do sucesso que gozava, que a

telenovela foi transformada em um produto de veiculação diária. Assim, a telenovela começou a ganhar novos

contornos a partir da sua veiculação diária com de “2-5499 Ocupado” (TV Excelsior, 1963), adaptação de um

roteiro argentino. 7 A palavra derivada do francês “nouvelle” é o gênero da televisão que possivelmente mais produz efeitos sobre

a população.

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conflitos; a estrutura de narração enquanto repetição e atraso dos acontecimentos; ascensão

social via amor e o final feliz.

Para compreensão do que foi desenvolvido durante a montagem teatral com as

gravações da telenovela, desejo realizar uma exposição das etapas de todo o processo.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Iniciamos o processo de montagem teatral no Colégio São José no mês de outubro de

2013 na cidade de Palmas (TO) com um encontro semanal de duas horas. O grupo era

formado por dez alunos, sendo que desses apenas a metade concluíram a montagem e a

apresentação final do espetáculo melodramático. Os alunos que desistiram foram devido às

viagens de torneio de vôlei e alguns para participarem da banda do colégio.

O processo foi divido em três etapas:

Na primeira etapa apresentamos apenas os Jogos Teatrais sem a apresentação do texto

e desenvolvemos os jogos na preparação dos alunos para a improvisação das cenas. Optei

nesse inicio de trabalho por alguns jogos como, por exemplo, “somente pés e pernas e

somente as mão”, para que os alunos desenvolvessem naquele primeiro momento a percepção

de todo o corpo, para que percebessem a importância da unidade corporal no processo de

atuação.

O ator deve saber que ele constitui um organismo unificado, que seu corpo, da

cabeça aos dedos do pé, funciona como uma unidade, para uma resposta de vida. O

corpo deve ser um veículo de expressão e precisa ser desenvolvido para tornar-se um

instrumento sensível, capaz de perceber, estabelecer contato e comunicar (SPOLIN,

2010 p. 131).

No desenvolvimento do jogo “somente pés e pernas”, separamos os jogadores,

individualmente, e cada jogador recebeu a instrução que deveria demonstrar usando somente

pés e pernas: Quem ele é? E o que está Fazendo? Foi necessário escolher um estado de ânimo

como impaciência, pesar, euforia, paciência ou outro sentimento para a composição de cena

com apenas os membros citados. O foco desse jogo era mostrar “Quem”, “O Quê” e um

“estado de ânimo” somente com os pés ou pernas. Depois de realizado o jogo, propomos uma

avaliação para observar e discutir se os jogos foram executados apenas com a parte do corpo

indicada.

No jogo “Somente as mãos”, o grupo foi dividido em duplas de jogadores, sendo

necessário que as duplas estabelecessem “Onde”, “Quem” e “O Quê”. Solicitamos que não

usassem o diálogo entre jogadores e que a comunicação deveria ser realizada apenas com as

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mãos e os antebraços e nenhuma outra parte do corpo poderia ser usada. O foco desse jogo era

criar uma cena que tivesse um personagem em um lugar realizando alguma atividade e a parte

do corpo responsável de contar essa estória eram apenas as mãos dos alunos. Realizamos

depois a avaliação para discutir com os alunos se a cena foi executada apenas com a parte do

corpo indicada.

Nos dois jogos os alunos criaram cenas usando apenas os membros do corpo indicado,

demonstrando gestos suaves, confiantes, amigáveis, de raiva, tensão, medo e tristeza. Os

jogadores mantiveram os pés e mãos expostas durante todos os jogos, para que

compreendessem a importância de cada parte do corpo na composição cênica, valorizando o

que o movimento poderia significar em cena.

Na segunda etapa do processo apresentamos a peça “A Maldição do Vale Negro”,

onde realizamos um trabalho de leitura dramática com texto e usamos alguns jogos como o

“Vendedor e o Construir estória”, para aprimorar a percepção do ouvir, do ver, da agilidade

verbal, da voz e do contato do corpo na cena.

No jogo o “Vendedor” cada aluno vendeu ou demonstrou alguma coisa ou produto

para a plateia. Depois que terminaram o discurso pela primeira vez, os alunos repetiram o

discurso pela segunda vez, porém dessa última tiveram que convencer a plateia que o produto

demonstrado anteriormente têm as qualidades opostas do primeiro discurso. O foco dos

jogadores estava voltado em envolver a plateia e convencer da compra ou não do seu produto.

Na avaliação desse jogo discutimos a diferença entre os dois discursos e se o vendedor fez

com que a cena adquirisse vida.

No desenvolvimento do jogo “Construir estórias” separamos os alunos em dois

grupos. O primeiro jogador iniciou a estória sobre qualquer assunto e enquanto o jogo

acontecia o orientador apontou diversos jogadores para que imediatamente continuassem a

estória a partir do ponto em que o último jogador parou. Isso foi realizado até que a estória

terminasse ou até que o orientador pedisse para parar. Nesse jogo alguns alunos tiveram

resistência em participar no primeiro momento e foi preciso um maior tempo para que os mais

tímidos tivessem a coragem de continuar a estória. Em diversos momentos quando houve a

recusa de algum deles, nós professores participamos e continuamos a estória, até que todos se

sentissem confortáveis para participar do jogo. A avaliação que fizemos foi sobre a fluência e

a improvisação das estórias narradas.

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Esses jogos usados foram importantes para que os alunos exercitassem o momento de

ouvir e o de falar, para que em cena pudessem respeitar o momento da pausa entre as falas dos

personagens para que o jogo fluísse.

O ator de teatro improvisacional deve ouvir seu colega ator e escutar tudo o que ele

diz, para improvisar uma cena. Deve olhar e ver tudo o que está acontecendo. Esta é

a única forma pela qual os jogadores podem jogar o mesmo jogo em conjunto. (SPOLIN, 2010 p. 153).

Na terceira etapa foram realizadas as gravações da telenovela durante dois dias no

parque Cesamar localizado na cidade de Palmas (TO) e com a participação de três alunos. Os

alunos decidiram entre eles quem participaria da telenovela, do teatro e da radionovela. Não

determinamos nenhum critério na escolha por uma das três modalidades de atuação. A cena

escolhida para a reprodução da telenovela foi a cena sete, que merece destaque por revelar

nessa narrativa que Rosalinda esta esperando um filho de Rafael, dando a partir dessa

declaração o desenrolar e desfecho da estória.

Durante as filmagens tivemos momentos de tensão devido às repetições nas gravações

das cenas que foram bastante cansativas para os alunos que estavam encenando e também

para quem estava fazendo as filmagens, pois não tínhamos materiais profissionais. No

processo foi preciso controlar o horário das gravações devido à claridade, pois não tínhamos

material necessário para filmar a noite, também corremos contra o tempo para concluir o

trabalho antes do horário de grande movimentação no parque.

Para todos os participantes foi bastante desafiante gravar, editar e reproduzir uma

telenovela sem os recursos tecnológicos adequados e sem experiência, mas apesar das

adversidades conseguimos finalizar o processo e mostrar nosso trabalho para o colégio.

A apresentação foi realizada no Colégio São José em um único dia com três seções na

sala de vídeo, que é uma sala de aula normal usada para reprodução de filmes aos alunos.

Fizemos as três seções da telenovela para que os vários alunos do colégio pudessem assistir.

Apesar da sala ser pequena conseguimos mostrar o nosso trabalho final para cem alunos com

essa estratégia. Devido à claridade tivemos que levar tecidos e organizar a sala de modo que a

luz não atrapalhasse a reprodução.

Após todo o processo de criação com o desenvolvimento dos Jogos Teatrais e da

apresentação final, foi realizada uma entrevista semiestruturada com três alunos que

participaram do projeto, para elencar mais informações sobre o trabalho com os jogos durante

a montagem teatral e a finalização com a telenovela. As questões respondidas pelos três

alunos foram:

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1- De que forma os Jogos Teatrais contribuíram no desenvolvimento criativo para a

montagem teatral da telenovela?

2- O que motivou a sua participação até o final do processo?

3- Qual a dificuldade encontrada no laboratório de preparação do ator para cena?

Desejo compartilhar a entrevista que é de extrema relevância para análise da

contribuição dos Jogos Teatrais na visão dos alunos participantes e também evidenciar a

avaliação por parte do professor orientador.

Em relação à primeira pergunta: De que forma os Jogos Teatrais contribuíram no

desenvolvimento criativo para a montagem teatral da telenovela?

P18 relatou que alguns jogos contribuíram de forma positiva e que o jogo “Discurso

que vagueia” que tinha como “foco” falar frases do texto explorando as emoções de tristeza,

alegria, raiva e melancolia foi o jogo que o participante mais gostou, pois impulsionou o

desenvolvimento das cenas e a frase do texto: “A hipoteca vence hoje, apenas isso” usada no

jogo citado à cima, marcou muito o aluno. P1 também revelou que o jogo “Exercício de

contato” não ficou muito claro a contribuição desse jogo no desenvolvimento dele como ator,

porém reconhece que as instruções para todos os jogos foram esclarecedoras.

P2 informou que os jogos ajudaram a romper com a barreira da timidez e foram

fundamentais na preparação dele para as gravações da telenovela: “os Jogos Teatrais tiveram

toda contribuição e sem eles não conseguiríamos fazer o melodrama, pois não tínhamos

experiência nenhuma”. Os jogos que marcaram P2 foram: “Sentindo eu como eu” e o “Jogo

da bola”.

P3 relatou que o grupo de teatro o ajudou no relacionamento com as pessoas

contribuindo na comunicação e na interação com as novas pessoas do grupo de teatro. Os

jogos que contribuíram para o desenvolvimento de P3 foram os jogos “Envolvimento entre

duplas” e “Quem iniciou o movimento”.

Analisando as respostas para essa pergunta, observei que todos os três entrevistados

reconhecem a importância dos Jogos Teatrais na preparação do ator e que sem os jogos o

grupo não estaria preparado para o jogo final, que ocorreu quando apresentamos a telenovela

pronta para a plateia. Ficou explícito que durante o laboratório de preparação do ator, alguns

jogos marcaram os alunos, cada um conseguiu lembrar e citar os jogos que contribuíram para

o seu desenvolvimento, apenas o aluno P1 citou um jogo que na sua percepção não contribuiu

para a formação do corpo e da voz do ator. Diante dessa declaração procurei razões que

8 Os três participantes serão nomeados por P1, P2 e P3.

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levassem há não contribuição do jogo, na visão do aluno, que pode ser atribuída pela a falta de

entrega á proposta do jogo.

Nos jogos mencionados pelos alunos como “Discurso que vagueia” e o “Exercício de

contato” os jogadores estabeleceram “Onde”, “Quem” e “O Quê”. No primeiro jogo

“discurso que vagueia” o jogador não consegue obter informação ou completar uma atividade

por causa do falatório do outro jogador, que mantém a conversação, mudando de assunto e

divagando. As falas usadas nesse jogo estavam pautadas na peça “A maldição do vale negro”

e a frase “hipoteca vence hoje, apenas isso” foi bastante citada pelos alunos. No segundo jogo

“exercício de cotato” os jogadores tiveram que fazer contato físico direto (tocar) em cada vez

que era introduzido um novo pensamento ou frase no diálogo. A cada mudança do diálogo

eram feitos contatos físicos diferentes. Se o contato não pudesse ser feito não deveria haver o

diálogo.

Com os jogos “Sentindo o eu como eu” e o “Jogo da bola” o desafio era desenvolver

o imaginário. No primeiro jogo “Sentindo o eu como eu” o grupo ficou de olhos fechados e

sentiu o contato do seu corpo com o espaço exterior. No “Jogo da bola” o grupo foi dividido

entre jogadores e plateia. O professor orientador decidiu o tamanho da bola e depois o grupo

jogou a bola de um para o outro, a bola ao decorrer do jogo teve vários pesos e tamanhos

imaginários.

Os jogos “Envolvimento em duplas” e “Quem iniciou o movimento” foi instaurado

para desenvolver através da ação a concentração, a observação visual e a confiança no grupo.

No primeiro jogo “Envolvimento em duplas”, os jogadores estabeleceram um objeto entre eles

e depois desenvolvem uma atividade com o objeto escolhido, como por exemplo, um lenço

para vendar os olhos. Nesse caso, o objeto que eles escolheram determinou a atividade e um

jogador ficou como guia do outro, que estava com os olhos vendados. No segundo jogo

“Quem iniciou o movimento”, um jogador saiu da sala e um outro jogador do grupo foi

escolhido para iniciar o movimento, todos permaneceram em círculo. O líder iniciou os

movimentos e o jogador que saiu foi chamado de volta e foi para o centro do círculo tentar

descobrir quem estava liderando os movimentos.

É notório observar o quanto o ato de jogar, mesmo que não seja esse o objetivo central

do jogo ajudou na interação do grupo, no conhecimento individual, na descoberta de novas

possibilidades em cena e desenvolveu o corpo e a voz para criação dos personagens.

No que se refere à segunda pergunta: O que motivou a sua participação até o final do

processo?

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P1 informou que a sua motivação de continuar no processo veio pela formação do

grupo composto por seus colegas e pelos os professores, o qual ele criou bastante afinidade,

porém revelou com muita emoção que a principal motivação foi saber que a sua família

estaria presente no dia da apresentação: “O que me motivou foi saber que pela primeira vez

meu pai estaria presente no colégio para assistir uma apresentação minha”.

P2 relatou que é uma pessoa muito tímida e o que motivou a continuar no grupo de

teatro foi a percepção de uma melhora na comunicação com as pessoas: “Não conseguia me

comunicar em público e tinha muita resistência em conversar com pessoas fora do meu

convívio e através dos jogos fui perdendo gradativamente esse sentimento de reclusão”.

P3 argumentou que a sua motivação para continuar no processo vinha dos jogos

realizados, que o despertava em cada encontro mais interesse pelo teatro e também que se

interessou bastante pelo gênero melodramático: “Gostei bastante de participar das dinâmicas

com os jogos, onde pude experimentar novas formas de comunicação através do corpo e não

apenas através da fala”.

Nas respostas para essa pergunta observei que houve uma interação entre os

participantes que estabeleceram um estreitamento nas relações pessoais, gerando uma

amizade que foi fundamental para que os alunos se motivassem e continuassem no processo.

Notei o quanto a família pode influenciar e incentivar os alunos há não desistirem das suas

atividades no colégio, pois quando há um acompanhamento de perto de algum familiar os

jovens se sentem motivados a conquistarem um resultado para apresentar e serem admirados.

Constatei também como as aulas contribuíram na comunicação entre eles, desenvolvendo o

diálogo no grupo e na vida pessoal de cada participante, e que os jogos despertaram ao

decorrer dos encontros o desejo de fazer teatro. O gênero melodramático também contribuiu

bastante, pois era algo novo e desconhecido para o grupo e alguns dos alunos sentiram- se

motivados a aprender esse estilo teatral.

Em relação à terceira pergunta: Qual a dificuldade encontrada no laboratório de

preparação do ator para cena?

P1 disse que: “A dificuldade foi com o gênero melodramático, nunca tinha escutado

falar em melodrama”. O participante não conhecia o gênero e teve dificuldade nas

interpretações exageradas, mas que apesar disso o processo foi muito legal e interessante:

“Tive a oportunidade de conhecer um novo estilo de teatro, aprendi muito com as leituras

dramáticas, com a telenovela e considerei o grupo como uma família”.

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P2 relatou que sua dificuldade no processo foi: “Fazer a composição dos personagens

do melodrama e criar um vilão, gosto mais de comédia, tenho dificuldade de ser sério e

bravo”. Disse também que foi a primeira vez que gravou uma telenovela e que se sentiu

realizado com o resultado do trabalho. Segundo P2, a experiência com as gravações foi

bastante estressante: “Tínhamos que voltar e gravar várias vezes e foi muito cansativo, mas

valeu a pena gostei de tudo, do grupo, das aulas e inclusive até pensei em um dia quem sabe

fazer uma faculdade de teatro”.

A dificuldade maior de P3 foi durante a construção do personagem: “Trabalhar com

várias emoções diferentes foi o mais difícil”. Sobre o processo P3 falou: “Foi bastante

importante para mim, uma nova descoberta, uma coisa diferente e um novo conhecimento”.

Essa terceira pergunta ajudou a confirmar o quanto o gênero melodramático ficou

esquecido por essa geração dos anos 90. Os entrevistados não tinham conhecimento nenhum

sobre o que é o gênero melodramático, porém o processo teatral serviu para estimular a leitura

e juntos descobriram uma nova forma de fazer teatro, um estilo teatral diferente do que estão

acostumados a ver na televisão. As formas de interpretação exageradas e os personagens de

perfil marcante para serem construídos também foi um ponto de dificuldade para a maioria

deles. Apesar de toda diversidade encontrada notei que a experiência com os Jogos Teatrais e

com o melodrama despertaram nos alunos o interesse pela a arte teatral, capaz de envolvê-los

além do projeto desenvolvido no colégio. A montagem teatral estimulou os alunos para a

reflexão da essência do teatro na educação e a suas contribuições na formação dos alunos, que

só foi possível pelo elo de confiança estabelecido entre os alunos e o professor, fundamental

para que se consiga qualquer tipo de experiência. “Todas as pessoas são capazes de atuar no

palco. Todas as pessoas são capazes de improvisar. As pessoas que desejarem são capazes de

jogar e aprender a ter valor no palco.” ( SPOLIN, 2010, p. 3)

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os jogos desenvolvidos através da metodologia dos Jogos Teatrais ressaltaram a

importância do trabalho em grupo. Os problemas de atuação apresentados pelo professor

coordenador estimularam os jogadores a elaborarem soluções para as problemáticas em cena,

desenvolvendo as habilidades particulares de cada jogador na criação do corpo, da voz, das

emoções e das narrativas dos personagens para criação da telenovela. Ressalto que os

registros realizados com as entrevistas somente foram possíveis através das reflexões

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construídas da prática teatral dos alunos, que compreenderam o processo da criação até

apresentação final da montagem da telenovela, valorizando o percurso de criação para que

entendessem o objetivo do desenvolvimento de cada jogo.

É fundamental que o professor estabeleça o seu papel de orientador e estimulador da

turma e para isso é necessário que o educador tenha clareza do lugar e do objetivo que deseja

alcançar com a metodologia compartilhada com seus alunos. Observei que á medida que os

alunos vão se envolvendo e respondendo aos problemas em cena através da criação e

improvisação, o professor deve propor novos desafios para que os alunos explorem as várias

possibilidades dos aspectos cênicos, investigando ação dramática dos jogos para que haja um

desenvolvimento contínuo nas aulas e o processo se torne vivo e não mecânico.

É de extrema relevância a discussão sobre o papel fundamental da família no aspecto

incentivador do processo evolutivo da apropriação e aquisição do fazer teatral. Quando o

aluno recebe apoio familiar ele se sente motivado para continuar o processo, sendo oportuno o

acompanhamento da família no desenvolvimento do aluno na escola, estabelecendo a

importância na apreciação dos seus anseios e da superação nas atividades.

Considero que a essência do teatro na educação esta pautada em estabelecer o elo de

confiança entre os alunos e o professor, o sistema dos jogos de regras descartam a presença do

professor autoritário. Os Jogos Teatrais propõe uma dinâmica educacional que o grupo faz do

jogo um sistema prazeroso de aprendizagem. As atividades possibilitaram a criação coletiva

por meio do jogar para criar, o que transformam as aulas de teatro em um lugar de exercitar a

liberdade pessoal, do compartilhamento de ideias e anseios capazes de levar o grupo há

compreensão da estética teatral.

Posso considerar que para atingir a fluência nas aulas de teatro é essencial a

contribuição do professor com aulas que envolvam seus participantes a experimentar o

processo do jogar teatral que alcance um lugar libertador e criativo, que afete não só o aluno,

mas também a sua família com os relatos intimistas do processo contemplando assim a

sociedade com um todo.

Compreendo que esse projeto desenvolvido em um espaço de tempo tão curto não tem

um caráter transformador significativo para uma sociedade, porém acredito que as pequenas

contribuições que os Jogos Teatrais desenvolveram no grupo, comprovada através das

entrevistas, puderam consolidar nos alunos a importância do processo de criação teatral.

Durante a montagem da telenovela tivemos problemas com as desistências de alguns

alunos no decorrer das aulas e também com falta de disponibilidade de outros na participação

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dos jogos, aprendi com isso a importância da unidade do grupo e pude constatar que alguns

jogos desenvolvidos simplesmente não funcionaram, pois o engajamento da turma foi abalado

com a saída de alguns alunos, sendo necessário um novo planejamento que atendessem as

expectativas do processo e dos participantes.

Considero através deste trabalho que consegui responder a questão central de pesquisa

e que a escrita contribuiu para o desejo de experimentar também outras metodologias com

jogos, como por exemplo, o Jogo Dramático na versão francesa, para que fosse possível em

trabalhos futuros analisar as diferenças no processo de preparação dos alunos para cena com

as duas metodologias.

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