a modernidade e as idéias em movimento

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HELDER HELDER LIMA LIMA A MODERNIDADE E AS A MODERNIDADE E AS IDEIAS EM MOVIMENTO IDEIAS EM MOVIMENTO Em conjunto com as grandes transformações econômicas, políticas e sociais do final do século XVIII e início do século XIX, surgiram doutrinas e teorias que buscavam, de um lado, justificar e regular a ordem capitalista burguesa que se estabelecia e, de outro, condená-la ou reformá-la. Estruturaram-se, então, respectivamente, as doutrinas liberais e as teorias socialistas, todas pertencentes a um novo ramo da ciência – a economia política. 1. As idéias liberais. A base do liberalismo, que tinham surgido com o Iluminismo, contestavam o mercantilismo e defendiam os princípios burgueses: propriedade privada; individualismo econômico; liberdade de comércio e de produção; respeito às leis naturais da economia – “oferta e procura”; liberdade de contrato de trabalho (salários e jornada) sem controle do Estado ou pressão de sindicatos. Seus teóricos eram os ferrenhos defensores da economia de mercado. 2. Os teóricos liberais. a) Adam Smith (1723-1790): Lançadas pelos fisiocratas franceses, as premissas do pensamento liberal ganharam contornos definidos com Adam Smith, em sua obra A riqueza das nações. Para ele, a divisão do trabalho passava a ser elemento essencial para o crescimento da produção e do mercado, e sua aplicação eficaz dependia da livre concorrência, que forçaria o empresário a ampliar a produção, buscando novas técnicas, aumentando a qualidade do produto e baixando ao máximo os custos de produção. O conseqüente decréscimo de preço final favorecia a lei natural da oferta e da procura, viabilizando o sucesso econômico geral. Segundo Smith, não cabia ao Estado intervir na economia, competindo-lhe somente zelar pela propriedade e pela ordem, já que a harmonização dos interesses individuais ocorreria por uma “mão invisível” levando ao bem-estar coletivo. b) Thomas Malthus (1766-1834): Em sua obra Ensaio sobre a população, estabeleceu o pessimismo em relação ao progresso humano, ao afirmar que a natureza impunha limites ao progresso material. Isso porque a população cresceria em progressão geométrica (1,2,4,8,16,32...) e a produção de alimentos aumentaria em progressão aritmética (1,2,3,4,5...). Para ele, a pobreza e sofrimento eram inerente à sociedade humana e as guerras e as epidemias ajudariam no equilíbrio temporário entre a produção e a população. Era preciso, por outro lado, conter o aumento de nascimento, além de limitar a assistência aos pobres, desestimulando o aumento populacional e, consequentemente, reduzindo a miséria. A Lei dos Pobres (1834), votada pelo Parlamento Inglês, foi um reflexo das idéias de Malthus. Por essa lei centralizava-se a assistência pública, sendo os desempregados recolhidos às workhause (casa de trabalho), onde ficavam confinados à disposição do mercado de trabalho. Homens e mulheres – em alas separadas – viviam em condições precárias. Dessa forma, podia-se, ao mesmo tempo, retirar das ruas boa parte da população mais miserável e mantê-las sob controle, fornecendo, ainda, mão de obra barata ou quase escrava para a indústria nascente. c) David Ricardo (1772-1823): Depois de Adam Smith, foi o maior representante da escola liberal – também chamada clássica. Na obra Princípios da economia política e tributação, Ricardo desenvolveu a teoria do valor do trabalho e defendeu a lei Férrea dos salários, segundo a qual o preço da força de trabalho seria 1

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Page 1: A Modernidade e as Idéias Em Movimento

HELDERHELDERLIMALIMA

A MODERNIDADE E ASA MODERNIDADE E AS IDEIAS EM MOVIMENTOIDEIAS EM MOVIMENTO

Em conjunto com as grandes transformações econômicas, políticas e sociais do final do século XVIII e início do século XIX, surgiram doutrinas e teorias que buscavam, de um lado, justificar e regular a ordem capitalista burguesa que se estabelecia e, de outro, condená-la ou reformá-la. Estruturaram-se, então, respectivamente, as doutrinas liberais e as teorias socialistas, todas pertencentes a um novo ramo da ciência – a economia política.1. As idéias liberais.

A base do liberalismo, que tinham surgido com o Iluminismo, contestavam o mercantilismo e defendiam os princípios burgueses:

propriedade privada; individualismo econômico; liberdade de comércio e de produção; respeito às leis naturais da economia – “oferta e

procura”; liberdade de contrato de trabalho (salários e

jornada) sem controle do Estado ou pressão de sindicatos.

Seus teóricos eram os ferrenhos defensores da economia de mercado.2. Os teóricos liberais.a) Adam Smith (1723-1790):

Lançadas pelos fisiocratas franceses, as premissas do pensamento liberal ganharam contornos definidos com Adam Smith, em sua obra A riqueza das nações. Para ele, a divisão do trabalho passava a ser elemento essencial para o crescimento da produção e do mercado, e sua aplicação eficaz dependia da livre concorrência, que forçaria o empresário a ampliar a produção, buscando novas técnicas, aumentando a qualidade do produto e baixando ao máximo os custos de produção. O conseqüente decréscimo de preço final favorecia a lei natural da oferta e da procura, viabilizando o sucesso econômico geral.

Segundo Smith, não cabia ao Estado intervir na economia, competindo-lhe somente zelar pela propriedade e pela ordem, já que a harmonização dos interesses individuais ocorreria por uma “mão invisível” levando ao bem-estar coletivo.

b) Thomas Malthus (1766-1834): Em sua obra Ensaio sobre a população,

estabeleceu o pessimismo em relação ao progresso humano, ao afirmar que a natureza impunha limites ao progresso material. Isso porque a população cresceria em progressão geométrica (1,2,4,8,16,32...) e a produção de alimentos aumentaria em progressão aritmética (1,2,3,4,5...). Para ele, a pobreza e sofrimento eram inerente à sociedade humana e as guerras e as epidemias ajudariam no equilíbrio temporário entre a produção e a população.

Era preciso, por outro lado, conter o aumento de nascimento, além de limitar a assistência aos pobres,

desestimulando o aumento populacional e, consequentemente, reduzindo a miséria. A Lei dos Pobres (1834), votada pelo Parlamento Inglês, foi um reflexo das idéias de Malthus. Por essa lei centralizava-se a assistência pública, sendo os desempregados recolhidos às workhause (casa de trabalho), onde ficavam confinados à disposição do mercado de trabalho. Homens e mulheres – em alas separadas – viviam em condições precárias. Dessa forma, podia-se, ao mesmo tempo, retirar das ruas boa parte da população mais miserável e mantê-las sob controle, fornecendo, ainda, mão de obra barata ou quase escrava para a indústria nascente.

c) David Ricardo (1772-1823):Depois de Adam Smith, foi o maior

representante da escola liberal – também chamada clássica. Na obra Princípios da economia política e tributação, Ricardo desenvolveu a teoria do valor do trabalho e defendeu a lei Férrea dos salários, segundo a qual o preço da força de trabalho seria sempre equivalente ao mínimo necessário à subsistência do trabalhador.

A Revolução Industrial e o êxodo rural deram a Inglaterra nova configuração: no campo predominavam os latifúndios e, nas cidades, as fábricas, onde se abrigava grande contingente de miseráveis. Não existindo qualquer legislação trabalhista ou inspeção estatal, as jornadas de trabalho nas fábricas eram muitas vezes superiores a quatorze horas, além de terem instalações em locais insalubres e de os acidentes de trabalho ocorrerem com freqüência.

Interessados em obter mão-de-obra mais barata possível, os industriais preferiram o trabalho das crianças e das mulheres. As crianças – algumas com idade inferior a oito anos – trabalhavam como verdadeiros escravos, em troca de alojamento e comida. Em 1802, um decreto parlamentar determinou que as crianças vindas das workhouse não trabalhariam mais do que doze horas diárias, lei que, mais tarde, se estendeu a todas as crianças operárias.

As longas jornadas e as condições subumanas de trabalho, além dos baixos salários, não eram, porém, as únicas dificuldades do trabalhador urbano. Em época de guerras, como as do período de Napoleão, os preços dos gêneros alimentícios subiam tanto que a fome se disseminava. Diante dessa situação de crise, culpou-se a mecanização pelas condições miseráveis dos trabalhadores, pelo desemprego. Formou-se, então, o movimento ludista (nome derivado de seu suposto líder – Ned ou King Ludd), que propunha a destruição de todas as máquinas, acreditando, dessa forma, eliminar o problema.

O descontentamento, entretanto, aumentava na medida em que cresciam as razões para os conflitos, prenunciando uma revolução social. Formaram-se as primeiras organizações trabalhistas, as trade unions,

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Helder Lima

que buscava catalisar as insatisfações e organizar a luta da classe operária. Os assalariados deveriam ter consciência de que, com o número de trabalhadores crescendo acima da proporção do aumento da oferta de trabalho no mercado, o preço do trabalho tende a cair, ao mesmo tempo que o preço dos alimentos tenderá a elevar-se.

A Escola Fisiocrática: Para os fisiocratas, o trabalho agrícola era considerado o único trabalho produtivo. Para eles, a liberdade de comércio interior e o progresso da agricultura eram as chaves do desenvolvimento e as condições prévias para o crescimento de uma nação. A Escola Fisiocrática, na teoria, o capitalismo agrário.

Para Quesnay, o principal economista da escola fisiocrática (autor do livro Quadro Econômico), a sociedade de compunha de três classes:

a classe produtiva, formada pelos agricultores.

a classe estéril, que engloba todos os que trabalham fora da agricultura (indústria, comércio e profissões liberais);

a classe dos proprietários de terra, que estava ao soberano e aos recebedores de dízimos (clero).

A classe produtiva garante a produção de meios de subsistência e matérias primas. Com o dinheiro obtido, ela paga o arrendamento da terra aos proprietários rurais, impostos ao Estado e os dízimos; e compra produtos da classe estéril - os industriais. No final, esse dinheiro volta à classe produtiva, pois as outras classes têm necessidade de comprar meios de subsistência - matérias primas. Dessa maneira, ao final, o dinheiro retorna ao seu ponto de partida, e o produto se dividiu entre todas as classes, de modo que assegurou o consumo de todos.

Para os fisiocratas, a classe dos lavradores era a classe produtiva, porque o trabalho agrícola era o único que produzia um excedente, isto é, produzia além das suas necessidades. Este excedente era comercializado, o que garantia uma renda para toda a sociedade. A indústria não garantia uma renda para a sociedade, visto que o valor produzido por ela era gasto pelos operários e industriais, não criando, portanto, um excedente e, conseqüentemente, não criando uma renda para a sociedade.

Para Quesnay, era necessário que houvesse uma liberdade de comércio para garantir um bom preço dos produtos. Com isso, criticava o regime de monopólios comerciais do mercantilismo.

A Escola do Liberalismo Econômico: Adam Smith, considerado o pai da Escola do liberalismo econômico, em seu livro A Riqueza das Nações, via o mercantilismo como um sistema econômico errôneo e odioso. Para esse autor, o Estado não deveria intervir na vida econômica, uma vez que desviaria os capitais do emprego mais produtivo para o qual seriam espontaneamente dirigidos. Criticava o monopólio comercial e o sistema colonial. Para ele, os únicos elementos que ganhavam com o mercantilismo eram

os mercadores e manufatureiros. O monopólio elevava a taxa de lucro e os ganhos dos mercadores, mas impedia o crescimento natural dos capitais. Criticou a teoria da moeda defendida pelo mercantilismo, pela qual a riqueza de uma nação era constituída pelo ouro e prata acumulados. Para esse autor, é o trabalho em geral e não apenas o trabalho agrícola (como nos fisiocratas) que constitui a verdadeira fonte de riqueza da sociedade. Para Adam Smith e David Ricardo (outro representante do liberalismo econômico), a economia deveria guiar-se por si mesma, norteando-se apenas na lei econômica da oferta e da procura, isto é, através do jogo entre produção e consumo (chamamos esse fenômeno de Laissez - faire). Adam Smith desenvolveu a idéia de que uma "mão invisível" dirigia a economia, evitando suas crises. O liberalismo econômico representou a ideologia da burguesia no período da revolução industrial. Esta burguesia, fortalecida pela exploração colonial e pelos monopólios comerciais, não necessitava mais do amparo do Estado absolutista e da sua política econômica. A partir daí, o mercantilismo impedia o desenvolvimento do Modo de Produção Capitalista. Estes economistas conseguiram perceber que o desenvolvimento do capitalismo se faz através da exploração do trabalho assalariado.

2. As teorias socialistas.A reação operária aos efeitos da Revolução

Industrial fez surgirem críticos ao progresso industrial, que propunham reformulações sociais e a construção de um mundo mais justo – os teóricos socialistas, que se dividiram em grupos distintos, os socialistas utópicos, os socialistas científicos (marxistas) e os anarquistas.

2.1 Socialismo utópico (e teóricos)Os primeiros socialistas a formularem críticas ao

progresso industrial ainda o fizeram impregnados de valores liberais. Atacando a grande propriedade, mas tendo, em geral, muita estima pela pequena, esses teóricos acreditavam que pudesse haver um acordo entre as classes e elaboraram soluções que não chegaram, porém, a construir uma doutrina, e sim modelos idealizados.

De forma geral, podemos considerar os socialistas utópicos uma manifestação de oposição romântica aos novos tempos, produto da decepção em relação aos resultados da “razão” iluminista na Revolução Francesa e do progressismo da Revolução Industrial.

a) Conde Claude de Saint-Simon (1760-1825). Revolucionário de 1789 educado por D’Alembert, teve uma formação racionalista, como a maioria de seus contemporâneos. Abrindo mão de seu título aristocrático, Saint-Simon propôs em Cartas de um habitante de Genebra a formação de uma sociedade em que não haveria ociosos (militares, clero, nobreza, magistrados, etc.) nem a exploração do homem pelo homem. Propunha, ainda, uma sociedade dividida em três classes – os sábios (savents), os proprietários e os que não tinham posse –, governada por um conselho de sábios e artistas. O novo cristianismo,

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seu último livro, pregava uma nova religiosidade entre os homens, diferente do catolicismo e do protestantismo, que, somada à racionalidade humana, poderia resultar num mundo progressista, industrialista e justo.

b) Charles Fourier (1772-1837). Filho de comerciantes, observou algumas idéias de Rousseau: o homem é bom, a sociedade e as instituições o pervertem. Fourier acreditava ser possível reorganizar a sociedade com criação dos falanstérios, fazendas coletivistas agroindustriais. Nunca conseguiu, porém, empresários interessados em financiar seu projeto, apesar de alegar que os falanstérios superariam a desarmonia capitalista, surgida da divisão do trabalho e do papel anárquico exercido pelo comércio na sociedade.

c) Robert Owen (1771-1858), aos vinte anos, já administrador de uma fábrica de algodão em Manchester, na Inglaterra, pôde observar de perto as condições desumanas dos trabalhadores e revoltou-se com as perspectivas advindas do progressismo. Apontando a impossibilidade de se formar um ser humano superior no interior de um sistema egoísta e explorador, buscou a criação de uma comunidade ideal, de igualdade absoluta. Na Escócia, onde assumiu o controle dos cotonifícios de New Lanark por vinte e cinco anos, chegou a aplicar suas idéias, implantando uma comunidade de alto padrão, em que pessoas trabalhavam dez horas por dia e tinham um alto nível de instrução. Seu sucesso nessa cooperativa e suas críticas à propriedade privada e à religião, atraíram, porém, pressões generalizadas, obrigando Owen a abandonar a Grã-Bretanha e ir para os Estados Unidas. Quando do regresso à Inglaterra, presenciou a falência de suas cooperativas. No fim da vida dedicou-se intensamente à organização das trade unions, pois, segundo ele, “o objetivo primordial e necessário de toda a existência deve ser a felicidade, mas a felicidade não pode ser obtida individualmente; é inútil esperar-se pela felicidade isolada; todos devem compartilhar dela ou então a minoria nunca será capaz de gozá-la”.

2.2. Socialismo científico (ou marxista)Paralelamente às propostas do socialismo

utópico, que procuravam conciliar numa sociedade ideal os princípios liberais e as necessidades emergentes do operariado, surgiu o socialismo científico. Mediante a análise dos mecanismos econômicos e sociais do capitalismo, seus ideólogos propunham compreender a realidade e transformá-la. O socialismo científico constituía, assim, uma proposta revolucionária do proletariado.

Seu maior teórico foi Karl Marx (1818-1883), cuja obra mais conhecida, O Capital (1867), causou uma revolução na economia e nas ciências sociais em geral. Marx contou, em muitas de suas obras, com a colaboração de Friedrich Engels (1829-1895), o autor de A origem da família, da propriedade privada e do Estado.

No Manifesto comunista, publicado em 1848, Marx e Engels esboçaram as proposições e postulados do socialismo científico, que foram definidos de forma concreta em O Capital. Entre esses princípios destacam-se uma interpretação socioeconômica da história – conhecida como materialismo histórico –, o conceito de luta de classes e de mais-valia e a revolução do socialista.

O materialismo histórico defende a idéia de que toda sociedade é determinada, em última instância, pelas suas condições socio-econômicas – a chamada infra-estrutura. Adaptadas a ela, as instituições, a política, a ideologia e a cultura como um todo compõem o que Marx chamou de superestrutura.

Esse princípio fica claro ao se considerar a passagem do modo de produção feudal para o capitalista, quando as relações de produção, as bases econômicas e sociais e a cultura como um todo ganharam dinamismo e se transformaram.

Enquanto isso, a ordem político-jurídica – Antigo Regime – continuou representando a ultrapassada estrutura produtiva, levando à explosão da Revolução Francesa de 1789, que buscava a adequação superestrutural1 à infra-estrutura2 vigente.

Na análise marxista, o agente transformador da sociedade é a luta de classes, o antagonismo entre explorados e exploradores. Resultado da estrutura produtiva, especialmente da existência da propriedade privada, tais classes, ao longo da história, apresentam interesses opostos, o que induz às lutas, às transformações sociais. Na Idade Antiga, opunham-se cidadãos e escravos; na Idade Média, senhores e servos; na Idade Moderna, nobreza, burguesia e camponeses; e, no mundo contemporâneo, operários e burgueses.

Outro conceito marxista básico é o de mais-valia, que corresponde ao valor da riqueza produzida pelo operário além do valor remunerado de sua força de trabalho. Essa diferença é apropriada pelos capitalistas, caracterizando a exploração operária. A mais-valia tende, assim, a ser um fator crescente e imprescindível de capitalização da burguesia.

Contra a ordem capitalista e a sociedade burguesa, Marx considerava inevitável a ação política do operariado, a Revolução Socialista que inauguraria a construção de uma nova sociedade. Num primeiro momento, seriam instalados o controle do Estado pela ditadura do proletariado e a socialização 1 estrutura jurídica, política, intelectual ou ideológica.2 sua base real é estrutura econômica da sociedade.

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dos meios de produção, eliminando a propriedade privada. Numa etapa posterior, a meta seria o comunismo, que representaria o fim de todas as desigualdades sociais e econômicas, inclusive do próprio Estado. Nessa etapa, o homem viveria de acordo com o seguinte princípio: “De cada um segundo sua capacidade e cada um segundo suas necessidades”.

Marx e Engels elaboraram suas análises com base no método dialético, pelo qual o desenvolvimento de contrários – tese e antítese – resulta em uma unidade transformada – síntese. Pelo método dialético, por exemplo, o desenvolvimento burguês do mundo moderno seria uma antítese aos privilégios feudais sobreviventes no século VIII, que desembocaram na Revolução Francesa, a síntese do confronto.

2.3 AnarquismoOutras das correntes ideológicas surgidas no

século XIX foi o anarquismo, que pregava a supressão de toda forma de governo, defendendo a liberdade geral. Entre seus precursores destaca-se Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865). Em seu livro, o que é a propriedade, vale-se dos pressupostos do socialismo utópico para criticar os abusos do capitalismo, enfatizando o respeito à pequena propriedade e propondo a criação de cooperativas e de bancos que concedessem empréstimos sem juros aos empreendimentos produtivos, além de créditos gratuitos aos trabalhadores. Ao propor a criação de uma sociedade sem classes, sem exploração, uma sociedade de homens livres e iguais, Proudhon defendia também a destruição do Estado, substituindo-o por uma “república de pequenos proprietários”, e inaugurava o anarquismo.

As propostas reformistas de Proudhon inspiraram Leon Tolstoi (1828-1910), Peter Kropotkin (1842-1921) e, principalmente, Mikhail Bakunin (1814-1876), que se tornou o líder do anarquismo terrorista ao apontar a violência como a única forma de se alcançar uma sociedade sem Estado e sem desigualdade, um novo mundo de felicidade e liberdade para os trabalhadores braçais.

O anarquismo – conhecido também como comunismo libertário – e o marxismo coincidem quanto ao objetivo final: atingir o comunismo, estágio em que não mais existiriam divisões de classes, exploração, nem mesmo o Estado. Entretanto, para os marxistas, antes dessa meta faz-se necessária uma fase intermediária socialista em que um Estado revolucionário – ditadura do proletariado – aplicaria medidas prolongadas, visando o comunismo. Já para os anarquistas, tendo como alvo erradicar o Estado, as classes, as instituições e as tradições, o comunismo seria instalado imediatamente.

Marx desfechou inúmeras críticas aos anarquistas, especialmente à Proudhon e Bakunin, sofrendo destes, igualmente, diversas contestações. Era um início que prenunciava uma convivência de choques e divergências, comprovadas pelas rivalidades que acontecerem posteriormente nos

países onde marxistas e anarquistas coexistiram na luta contra a ordem estabelecida.

EXERCÍCIOQUESTÃO 1“Toda riqueza é criada pelo trabalho. O capital nada cria, mas ele próprio é criado pelo trabalho. O valor de todas as utilidades é determinado pela quantidade de trabalho necessária para produzi-las”.(Burns, Edward McNalls – História da Civilização Ocidental, Globo, volume II, 1964.)Conforme a ideologia marxista ou doutrina comunista, o texto exprime uma das suas premissas fundamentais:a) à interpretação econômica da História.b) o materialismo dialético.c) à doutrina da mais-valia.d) à luta de classes.e) à teoria da revolução socialista.

QUESTÃO 2(UEL-PR) “[O indivíduo], orientando sua atividade de tal maneira que sua produção possa ser de maior valor, visa apenas o seu próprio ganho e, neste, como em muitos outros casos, é levado como que por uma mão invisível a promover um objetivo que não fazia parte de suas intenções. (...) Ao perseguir seus próprios interesses, o indivíduo muitas vezes promove o interesse da sociedade muito mais eficazmente do que quando tenciona realmente promovê-lo.” (SMITH, A. Riqueza das Nações. São Paulo: Abril Cultural, 1983. p. 379-80.)Sobre o Liberalismo, considere as seguintes

afirmativas:I. O liberalismo econômico, cujos princípios, como o

livre comércio, a propriedade privada e a lei de mercado, favoreceram o desenvolvimento do capitalismo, teve em Adam Smith um de seus principais fundadores.

II. A sistematização das análises econômicas no livro Riqueza das Nações contribuiu para a definição da economia como ciência.

III. No trecho acima, Adam Smith denunciou os males do individualismo e do egoísmo econômico.

IV. A “mão invisível” citada por Adam Smith é uma metáfora que pode ser substituída pela definição liberal de mercado.

Assinale a alternativa correta.a) Apenas as afirmativas I, II e III são verdadeiras.b) Apenas as afirmativas, I, II e IV são verdadeiras.c) Apenas as afirmativas II, III e IV são verdadeiras.d) Apenas as afirmativas I e IV são verdadeiras.e) Apenas as afirmativas II e III são verdadeiras.

1.C

/ 2.

B

4