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A MODERNA ROUPAGEM COOPERATIVA DO PROCESSO CIVIL
SOBRE O PANO-DE-FUNDO DO FORMALISMO-VALORATIVO
REGINALDO RODRIGUES PONTE JÚNIOR1
RESUMO: Este artigo preocupa-se em analisar o princípio da cooperação no processo civil
brasileiro, inserindo-o na concepção proposta por Bobbio de “Novos Direitos”. Criando-se, assim,
duas facetas para visualização do espectro que aqui é proposto, tais sendo o reconhecimento do
princípio da cooperação como princípio e como figura incutida no direito ao processo justo. No
ápice, quando da análise das entranhas do objeto deste artigo, busca-se demonstrar a motivação
para a aplicação do mesmo, realçar o contato com outros princípios basilares atuais, e,
contextualizando com os deveres e efeitos decorrentes da aplicação, incita-se a reflexão quanto à
relevância deste princípio no sistema brasileiro, tendo em segundo plano a influência do
formalismo-valorativo.
PALAVRAS-CHAVE: Princípios. Princípio da cooperação. Processo civil.
THE MODERN COOPERATIVE GUISE OF CIVIL PROCEDURE ON
THE BACKGROUND OF FORMALISM-EVALUATIVE
ABSTRACT: This article aims to analyze the principle of cooperation in the Brazilian civil
procedure, inserting it in the conception proposed by Bobbio of “New Rights”. Two facets are,
thus, created in order to show the spectrum that is proposed here: the recognition of the principle
of cooperation as a principle, and as a figure ingrained in the right to fair process. At the climax,
when examining the insides of the subject of this article, it is aimed to demonstrate the motivation
for its implementation, as well as to highlight the contact with other current basic principles. By
contextualizing the duties and the effects resulting from its use, it is expected here to incite the
reader’s reflection about the importance of this principle as a principle in system Brazilian, having
as background the influence of formalism-evaluative.
KEY-WORDS: Principles. Principle of cooperation. Civil procedure.
INTRODUÇÃO
1 Bacharelando em Direito na Faculdade Luciano Feijão e estagiário remunerado do Tribunal de Justiça do
Estado do Ceará. Participante do Grupo de Estudos “Violência Urbana” (2012/atual), bolsista do Projeto
de Extensão “Preservação e Sustentabilidade do Meio Ambiente - Gestão responsável de resíduo
eletrônico” (2013/atual) e monitor da disciplina Direito das Obrigações (2012/atual). Ademais, foi
vinculado como bolsista no projeto “Direito, Literatura e Cinema” (2012/2013) e participou do Grupo de
Estudos “Crimes e Sistema de Justiça Criminal” (2011), dentre outros, ligados ao Núcleo de Pesquisa e
Extensão da FLF. E-mail: <[email protected]>. Endereço do currículo Lattes:
<http://lattes.cnpq.br/7518995514675321>.
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A escolha do tema deve ser vista sob o espectro da importância do mesmo no
sistema processualístico civil brasileiro e da necessidade do estudo acerca do
desenvolvimento do direito processual civil e da prestação jurisdicional.
O método de pesquisa foi o bibliográfico-documental.
Analisar a temática do princípio da cooperação no processo civil - frente aos
Novos Direitos, conforme o pensamento de Bobbio - é, desta feita, se permitir a analisar
o impacto da relação jurídica processual frente àqueles que se utilizam da jurisdição
estatal.
A jurisdição é forte característica do Estado no que tange à resolução de conflitos,
posto ser esta a forma monopólica competente, entregue nas mãos do Poder Judiciário,
uma vez banida a autotutela.
Assim sendo, o corpo cidadão busca este Poder para que possa ver seus conflitos
resolvidos, respeitado o sistema jurídico vigente, garantindo os direitos das partes e,
consequentemente, dando luz à justiça social, concretizando a confiança popular no
sistema jurídico. Nesse sentido, não há como imaginar um verdadeiro Estado
Democrático de Direito sem um Poder Judiciário eficaz e competente.
Com a demanda contemporânea de ativismo do Judiciário – frente ao criacionismo
judiciário e às cláusulas jurídicas gerais –, percebe-se a necessidade da condução do
processo por um sujeito participativo, distante da figura do agente mero aplicador de
regras, passando a haver necessidade de figurar como ente que concretiza as mesmas
regras em prol de um processo justo2, este fortalecido pelo contraditório e pela análise
intrínseca dos fatos.
Eis que surge o princípio da cooperação, ora discutido, no exato momento da
necessidade de intervenção deste Poder, concretizando a prerrogativa de solucionar
conflitos com justiça3 e paridade, formando o processo judicial, de olho no formalismo-
valorativo.
2 Previsto no art. 5º, LIV da Carta Magna, na Convenção Europeia dos Direitos do Homem de 1950 (art.
6º), no Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos de 1966 (art. 14), na Convenção Americana de
Direitos Humanos de 1969 (art. 8º) e, por fim, na Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948
(arts. 8º e 10º). 3 Justiça, aqui vista, em paralelo ao apresentado por Didier (Curso de Direito Processual Civil 1: Introdução
ao Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento. Volume 1. 15ª edição. Editora Jus Podivm: Bahia,
2013, p. 49/53) ao pontuar sobre o devido processo legal, nas suas duas dimensões: a formal ou
procedimental (compreendida pelas garantias processuais que devem ser cumpridas, ou seja, a execução da
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Ademais, o artigo se destina a cravar o pensamento de que nas entranhas do direito
à jurisdição também há o direito a que o processo seja conduzido sob o espectro da
cooperação ou da colaboração, posto isto ser decorrente do direito ao processo justo.
Findando a análise com a demonstração das implicações da aplicabilidade do princípio.
PERSPECTIVA BOBBIANA DE “NOVOS DIREITOS” E O SEU ELO COM O PRIN-
CÍPIO COOPERATIVO
Segundo Bobbio (1992, p. 68), “Novos Direitos” decorrem de três fatores:
a) aumento da quantidade de Bens considerados merecedores de tutela;
b) extensão da titularidade de certos Direitos típicos a outros sujeitos
que não o Homem; c) a consideração do Homem não mais como ente
genérico ou “em abstrato”, mas sim na concretude das maneiras de ele
ser em sociedade, tais como “criança, velho, doente”.
Primeiramente, vale firmar que, incluída na concepção de “Novos Direitos”, está
o desenvolvimento de direitos já fixados, como os das Primeiras Gerações4. Com o
constante desenvolvimento há ampliação de incidência e isto os inclui no rol dos Novos
Direitos5.
Vale fixar que a concepção de “Direitos Humanos” está interligada com a de
“Novos Direitos”, afinal, é impossível considerar-se como incluso em “Novos Direitos”
qualquer fator que venha a desrespeitar a Dignidade Humana, figura defendida pela
expressão “Direitos Humanos”, e tão assegurada pelos ordenamentos vigentes, e
protegida pelo princípio da proibição do retrocesso, defendido por alguns. A título de
concretização, serve o afirmado por Didier (2013, p. 29), ao pôr como uma das quatro
ordem jurídico-coercitiva, entendida assim não somente a lei) e a substancial (correspondente à observância
da proporcionalidade e da razoabilidade). Firmando, assim, o devido processo legal substancial, e nisto
consta o crivo a justiça. A jurisprudência do STF é farta, mas vaga, sobre o tema, fixando apenas cláusulas
gerais. Ademais, vale mostrar o viés de justiça de Mitidiero, quando afirma que “as leis processuais não
são nada mais nada menos do que concretizações do direito ao processo justo” (Direito Fundamental ao
Processo Justo. Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil, nº 45, nov./dez. de 2011. p. 25). 4 Vale colacionar o destaque do ex-ministro do STF, Celso de Mello: "enquanto os direitos de primeira
geração (direitos civis e políticos) – que compreendem as liberdades clássicas, negativas ou formais -
realçam o princípio da liberdade e os direitos de segunda geração (direitos econômicos, sociais e culturais)
- que se identificam com as liberdades positivas, reais ou concretas - acentuam o princípio da igualdade, os
direitos de terceira geração, que materializam poderes de titularidade coletiva atribuídos genericamente a
todas as formações sociais, consagram o princípio da solidariedade e constituem um momento importante
no processo de desenvolvimento, expansão e reconhecimento dos direitos humanos, caracterizados
enquanto valores fundamentais indisponíveis, pela nota de uma essencial inexauribilidade". 5 PASOLD, Cesar Luiz. Novos Direitos: conceitos operacionais de cinco categorias que lhes são conexas.
Revista Seqüência, nº 50, p. 225-236, jul. 2005, p. 04.
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características mais importantes do atual pensamento jurídico a “expansão e consagração
dos direitos fundamentais”.
Inserindo o princípio da cooperação na análise, estaria o mesmo incluso no item
“a) aumento da quantidade de Bens considerados merecedores de tutela”, definido por
Bobbio.
Antes desconsiderado, tem ganhado força por ser garantidor de outros princípios
e direitos. Aqui, se vê o princípio da cooperação como um princípio merecedor de tutela
jurisdicional, por formar um verdadeiro processo cooperativo, e, também, justo (Novo
Direito). Assim, conclui-se frisando desde logo: há o princípio da cooperação, enquanto
princípio e enquanto direito. Ambos influenciam a dinâmica processual, e o
descumprimento dos deveres é inconstitucional, pois afronta o direito ao processo justo
(art. 5, LIV, CF)6.
Pasold (2005), buscando analisar os “Novos Direitos”, aponta outras cinco
“referências” que teriam ligação direta com a nomenclatura asseverada por Bobbio, e
afirma que uma das referências é quanto aos “instrumentos de efetivação”. Que seriam,
nada mais, “que o complexo que abrange os atos e as ações bem como a dinâmica
processual/procedimental que têm por objetivo último o reconhecimento e a
materialização de um Novo Direito”.
Ora, o princípio da cooperação é, também, com a filosofia do formalismo-
valorativo, um instrumento de efetivação, uma rede concentrada de formas de condução
de atos judiciais através dos quais o ente estatal compõe a relação processual para que o
processo seja efetivamente resolúvel e garantidor do direito das partes a um processo
justo. É o que se percebe na doutrina, a exemplo:
Dessa forma o processo assume a condição de via de conduto ou
participação, e não apenas de tutela jurisdicional. Assim o processo
passa a ser instrumento para que o cidadão possa participar em busca
da realização e da proteção de seus direitos fundamentais.
[...] Dentre os princípios processuais, o da cooperação é digno de maior
aplicabilidade nos tempos hodiernos, pela simples necessidade que o
jurisdicionado tem de receber, de forma mais primorosa, a prestação
jurisdicional para a satisfação do seu direito7.
6 Na mesma linha: MITIDIERO, D. Colaboração no processo civil como prêt-à-porter? Um convite ao
diálogo para Lenio Streck. Revista de processo. São Paulo: RT, 2011, nº 194, p. 64. 7 LIRA, D. F. de; CARVALHO, D. B. S; QUEIROZ, P. I. L. Aspectos teóricos e práticos do princípio da
cooperação no processo civil brasileiro. Jus Navigandi, Teresina, ano 17, n. 3315, 29 jul. 2012. Disponível
em: <http://jus.com.br/revista/texto/22268>. Acesso em: 13/07/2013.
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A ausência – provisória (ao que tudo indica) 8 – de estipulação específica do
princípio aqui analisado em texto legal não desqualifica o mesmo como direito. A
doutrina é majoritária e aponta inúmeros dispositivos legais que têm filosofia cooperativa
e que inspiram a ideia de que o processo civil brasileiro já o adota. Além da jurisprudência
já reconhecer sua existência9. Mas há doutos que discordam da relevância do que aqui é
tratado10.
Ainda quanto ao reconhecimento da sua existência, analisa-se.
O rol dos direitos não é numerus clausus ao positivado. A exemplo do que aduz o
§ 2º do art. 5º da Constituição Federal (CF). Se o §2º mencionado afirma que “não
excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados” (in verbis), é de
se concluir que incluso está um princípio que instrumentaliza e facilita o exercício de
outros macros direitos e princípios sem ferir quaisquer outras regras, positivadas ou não.
O princípio colaborativo é, exemplificando, intrinsecamente ligado a macro princípios e
direitos, tais sendo os da boa-fé, da razoável duração do processo, da instrumentalidade
das formas, do devido processo legal, e, do ultra direito ao processo justo.
Insiste-se, para Mitidiero (2011), os atos contrários aos deveres: inconstitucionais,
cabíveis de responsabilização judicial (art. 133, CPC) e de atribuição de multa (art. 14,
CPC).
8 De forma provisória pois o Novo Código de Processo Civil, conforme a redação do substitutivo Senador
Valter Pereira, oficializa, na linha das legislações estrangeiras mais atualizadas, por exemplo, em seus arts.
5º e 8º o princípio da cooperação, aqui estudado, ao fixar que é dever tanto das partes e dos procuradores
colaborarem com o juiz zelando pelo bom andamento processual. Ainda sob outros aspectos, os arts. 9 e
10º também auxiliam na inserção do princípio no direito positivo. 9 Por todas, como exemplo: TJ-CE; AC 000798287.2004.8.06.0000; Oitava Câmara Cível; Rel. Des.
Váldsen da Silva Alves Pereira; DJCE 24/08/2012; Pág. Fortaleza, Ano III - Edição 547 114. TJ-CE; APL
6662275.2007.8.06.0001/1; Quinta Câmara Cível; Rel. Des. Francisco Bezerra Cavalcante; DJCE
28/06/2012; Pág. 52. TJ-DF; Rec 2011.01.1.037021-4; Ac. 642.574; Quarta Turma Cível; Rel. Des. Cruz
Macedo; DJDFTE 08/01/2013; Pág. 180. TJ-PE; APL 0000089-76.2006.8.17.1420; Terceira Câmara Cível;
Rel. Des. Bartolomeu Bueno de Freitas Morais; Julg. 18/12/2012; DJEPE 04/01/2013; Pág. 187. TRF 02ª
R.; AC 0004917-49.2007.4.02.5101; Sétima Turma Especializada; Rel. Des. Fed. Luiz Paulo S. Araújo
Filho; Julg. 25/04/2012; DEJF 08/05/2012; Pág. 370. TRF 05ª R.; AC 0000359-44.2011.4.05.8000. AL;
Primeira Turma; Rel. Des. Fed. Francisco Cavalcanti; Julg. 13/09/2012; DEJF 24/09/2012; Pág. 95. TJ-CE;
AC 079051853.2000.8.06.0001; Quinta Câmara Cível; Rel. Des. Francisco Bezerra Cavalcante; DJCE
27/09/2012; Pág. 85. TJ-CE; AC 000028519.2008.8.06.0115; Terceira Câmara Cível; Rel. Des.
Washington Luis Bezerra de Araújo; DJCE 04/06/2012; Pág. 35. TJ-CE; APL 262279.2001.8.06.0000/0;
Quinta Câmara Cível; Rel. Des. Manoel Cefas Fonteles Tomaz; DJCE 16/04/2012; Pág. 76. TJ-DF; Rec
2010.03.1.032768-5; Ac. 624.753; Terceira Turma Cível; Rel. Des. Cesar Laboissiere Loyola; DJDFTE
23/10/2012; Pág. 94) CPC, art. 267 CPC, art. 219. 10 STRECK, Lenio. L.; MOTTA, F. J. B. Um debate com (e sobre) o formalismo-valorativo de Daniel
Mitidiero, ou "colaboração no processo civil" é um princípio? Revista de Processo. São Paulo: RT, v. 37,
nov./2012.
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Ora, o devido processo legal, o processo justo e o contraditório são garantidos
expressamente pela Carta Magna, nos incisos LIV e LV do art. 5º. A demanda pela
aplicação do princípio da cooperação se justifica para que haja concretude máxima dos
outros princípios e garantias de forma efetiva e numa razoável duração.
Assim, não há condicionamento entre a possibilidade de exercer a cooperação com
sua existência reconhecida em legislação específica11. Na mesma tecla, Didier (2013),
exemplificando, nota ausência de regra a fixar venire contra factum proprium do julgador,
atualmente usual.
É o que se vê em Wolkmer (2001), ao afirmar que “Novos Direitos” não estão
necessariamente delimitando direito positivado. Didier (2011), comentando sobre o
princípio aqui visto, também afirma que a ausência de regras delineadoras não é obstáculo
intransponível.
Aqui, portanto, percebem-se duas facetas - que podem ser arguidas e exigidas em
aplicabilidade - acerca do princípio da cooperação: uma como direito, pois é faceta de
outros direitos constitucionalizados (evidentemente caráter do direito a um processo
justo); e, outra, que permite vê-lo como um princípio que traz a filosofia cooperativa.
ENSAIO DO ESTUDO DOS PRINCÍPIOS JURÍDICOS
Sem entrar no mérito filosófico, pois isto não dotaria de objetividade aqui, analisa-
se rapidamente o que seria Direito e a implicância dos princípios sobre ele.
Reconhecidamente, sobre o tema, destacou-se Dworkin, com posição contrária à
Hart, que descreveu o Direito composto em regras e em princípios. Já Alexy (1997), adota
e toma como base o afirmado por Dworkin, busca aperfeiçoar o que é tido por princípio,
considerando ser este uma espécie de “mandado de otimização”, frente aos mandados
definitivos (regras). E nisto constaria a importância dos mesmos. Havendo, ainda, uma
corrente “que identifica os princípios com normas cujas condições de aplicação não são
pré-determinadas” 12.
11 Melhor e majoritária doutrina já destaca a aplicação no cenário atual. 12 GALUPPO, Marcelo Campos. Princípios jurídicos e a solução de seus conflitos: A contribuição da obra
de Alexy. Revista da Faculdade Mineira de Direito, Belo Horizonte, v.1, n.2, p. 134-142, 2º sem. 1998,
p. 195.
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Eles diferenciam-se das regras por diversos fatores, mas, em suma, por serem mais
abstratos e não terem previsões de consequências diretas em caso de descumprimento, e
por terem a “dimensão de peso ou importância”. Já nas regras, há aplicação do sistema
do “tudo ou nada”, conforme Dworkin 13.
Por ora, é válido lançar mão a outro rápido arcabouço histórico.
Primordialmente, os princípios não detinham força jurídica, eram considerados
como assertivas de conteúdo axiológico ou político, somente direcionamentos. Não havia
força de obrigatoriedade para aplicação, eram opcionais, ideias14, no denominado
jusnaturalismo, do século XVI. Passando, a posteriori, para a época do positivismo
jurídico, no século XX, quando os princípios eram cogentes na forma e quando editados
pelo Estado (dependiam do mesmo). Atualmente, com o vindouro pós-positivismo, com
a corrente dialética entre regras e princípios, estes passaram a ter grande carga valorativa,
sendo considerados comandos, compostos de obrigatoriedade e dever de respeito 15. Há,
a despeito, também, os efeitos maléficos da consagração dos princípios16.
Didier (2013) confirma tal reflexão ao elencar as características mais importantes
do pensamento jurídico contemporâneo, elegendo para figurar como a segunda delas o
“desenvolvimento da teoria dos princípios, de modo a reconhecer-lhes eficácia
normativa”.
Os princípios detêm de uma carga valorativa cogente, que, segundo, Celso
Antônio (2000, p. 748):
Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma
qualquer. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um
específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos.
É a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme
o escalão do princípio atingido, porque representa insurgência contra
todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais, contumélia
irremissível a seu arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra.
13 DWORKIN, R. M. É o direito um sistema de regras? Estudos Jurídicos, São Leopoldo, RS , v.34, n.92 ,
p. 119-158 , set./dez. 2001, p. 130. 14 ROTHENBURG, W. C. Princípios constitucionais. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2003, p.
13. 15 FAZOL, Carlos Eduardo de Freitas. Princípios Jurídicos. REVISTA UNIARA, n.20, 2007, passim. 16 Pela cognição sumária que deve ser posta aqui, pela limitação de laudas, não se comentará sobre os
mesmos, mas indica-se aos interessados: LOURENÇO, Haroldo. O Neoprocessualismo, o Formalismo
Valorativo e sua Influências no Novo CPC. R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 14, n. 56, p. 74-107, out.-dez.
2011. Disponível em: < http://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista56/revista56_-
74.pdf>, p. 32. Acesso em: 10/07/2013.
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Isso revela um fator que interliga mais ainda o princípio da cooperação aos
“Novos Direitos”, de Bobbio. Ora, se os princípios foram elevados à categoria de norma
– ou superior a elas –, eles se tornaram direitos! E por ser moderno se enquadra no
conceito de Bobbio.
Mas se faz necessário se fazer menção à posição dos mesmos no ordenamento
pátrio. Na concepção piramidal do sistema jurídico, idealizada por Kelsen, tem-se, em
grau maior a CF, que coordena o macro ordenamento do direito 17.
Já no escopo interno da Carta Magna, também há hierarquia de valores. Não se
fala de hierarquia entre os incisos do art. 59 da CF, que, salvo o primeiro, têm o mesmo
peso, mas sim da sobreposição de valores principiológicos frente às normas
constitucionais. Posição esta também defendida por Araújo e Nunes Júnior, ao afirmarem
que “podemos falar na existência de uma hierarquia interna valorativa dentro das normas
constitucionais, ficando os princípios em um plano superior, exatamente pelo caráter de
regra estrutural que apresentam” 18.
No mais, segundo Rothenburg (2003), os princípios têm: caráter de norma
jurídica, imperatividade, eficácia, superioridade material. Os termos são autoexplicativos.
Quanto às principais funções dos mesmos, tem-se a normativa (são normas
jurídicas que demandam aplicabilidade); a função integrativa (em caso de haver lacuna);
e, a função interpretativa (auxilia a atividade do intérprete).
COOPERAÇÃO: A MODERNA PERSPECTIVA DO DIREITO PROCESSUAL
No atual cotidiano social brasileiro, o processo é visto com carga negativa, como
sinônimo de demora e lerdeza. Eis um dos motivos que motivam os doutos na busca pela
reformulação do sistema, adequado e moderno à situação social, remodelando princípios,
conceitos e formas de efetivação processual. Os ditames para um moderno processo
perspicaz exigem uma condução dinâmica pelos sujeitos do processo, que devem
participar ativamente, tendo, inclusive, deveres no âmbito dessa participação.
17 KELSEN, H. Teoria pura do direito. Tradução João Baptista Machado. 6ª ed. São Paulo: Martins Fontes,
1998, passim. 18 ARAUJO, Luiz A. D.; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de Direito Constitucional. 9. ed. São
Paulo: Saraiva, 2005, p. 67.
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Criado pelo direito europeu – mais precisamente na Alemanha, segundo alguns –
o princípio da cooperação foi importado pelo sistema pátrio. Em descrição sumária e
simplória, o mesmo consistiria na postura ativa das partes no processo e, mais, do
magistrado. É um fator que fortalece, principalmente, o contraditório.
Ora, isto legitima o processo, pois há o afastamento da abstração pregada ao juiz
com a chegada do sentimento cooperativo no processo. A persecução do cumprimento do
processo formal, de olho no direito positivado, é visto como garantia das partes e não
duro formalismo isolado19. Ademais, com o juiz inerte e as partes em digladio “estaremos
nos distanciando da verdadeira pretensão da ciência jurídica, afastando as circunstâncias
da vida das partes, e negando a importância do rol social, onde o conjunto das relações
sociais são construídas” (LIRA, D. F. de; CARVALHO, D. B. S; QUEIROZ, P. I. L.,
2012).
Paulo Teixeira, Relator-Geral do Projeto do Novo Código de Processo Civil,
conjugando inevitabilidade e eficácia, comentou por diversas vezes sobre o princípio -
objeto central deste artigo - no seu relatório. E considerou o princípio da cooperação como
a segunda das normas fundamentais no processo civil, depois da boa-fé processual, fator
que une mais ainda a concepção de que a cooperação processual está entrelaçada à de
“Novos Direitos”, afirmando:
A necessidade de participação, que está presente na democracia
contemporânea, constitui o fundamento do princípio da cooperação.
Além de princípio, a cooperação é um modelo de processo plenamente
coerente e ajustado aos valores do Estado democrático de direito20.
O MODELO CONTEPORÂNEO DE DIREITO PROCESSUAL – COOPERATIVO –
DE FRONTE ÀS TRADICIONAIS FORMAS ADVERSARIAL E INQUISITIVO (NÃO
ADVERSARIAL)
Dentre os modelos de direito processual da civilização ocidental, influenciada
pelo Iluminismo, destacam-se tradicionalmente dois modelos: o inquisitivo e o
adversarial.
19 Mais uma vez surge característica influenciada pelo formalismo-valorativo. 20BRASIL. Congresso Nacional. Câmara dos Deputados. PL 6025/05 - Código de Processo Civil: Parecer
do Relator-Geral Paulo Teixeira 02/07/2013. 2013. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/atividade-
legislativa/comissoes/comissoes-temporarias/especiais/54a-legislatura/8046-10-codigo-de-processo-
civil/proposicao/pareceres-e-relatorios>. Acesso em 13.05.2011.
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Na conceituação doutrinária21, o modelo adversarial consiste numa clara disputa
entre as partes, que caminham no processo de forma competitiva22. Frente aos mesmos
há um terceiro, o órgão jurisdicional, que, em regra, é passivo. O foco do desenrolar
processual está no condão das partes; já na formatação inquisitorial, o magistrado é o
protagonista e as partes somente figuram como se se procedesse a uma consulta pelo juiz.
Neste modelo vigora o princípio inquisitivo, e naquele o princípio dispositivo. A
diferença entre um e outro consta justamente na atuação do julgador: o princípio
inquisitivo fundamenta a liberdade de atuação do magistrado. Já o dispositivo vincula a
atuação do juiz às partes. Em virtude da soberania dos parlamentos e sem contrariar a
lógica processual, é legítimo o legislador ora prestigiar um e outrora o outro. É o que
ocorre no Processo Civil brasileiro.
Frente a essa doutrina reacionária, eis que surge o modelo de processo
cooperativo, que também define a forma a que o processo civil deve se destinar no direito.
No qual se busca a condução cooperativa do processo, intensificando uma visualização
moderna do princípio do contraditório e da boa-fé processual. Neste modelo no qual não
há destaque de algum sujeito, sendo todos competentes ao desenvolvimento e andamento
processual com diálogo e participação direta de todos, que deve se dar de olhos aos
deveres das partes e do juiz, a seguir delineados. Mas o juiz ainda tem maior dever de
condução processual do que as partes, que têm a mesma obrigação, mas levemente
mitigada pelo poder decisório ser concedido somente ao primeiro23. O desenvolvimento
cooperativo do juiz com as partes vai até o momento da decisão, quando há
imperatividade do magistrado, que toma, por si só, a decisão cabível.
O modelo cooperativo é apontado como o legitimamente democrático, devido ao
viés participativo mundial atualmente. E, segundo Marinoni (2006), para ser democrático
é de extrema importância uma postura participativa do julgador, não bastando postura
cooperativa das partes.
21 DIDIER JÚNIOR, Fredie. Teoria do Processo e Teoria do Direito: o neoprocessualismo. Disponível em:
<http://academia.edu/1771108/Os_tres_modelos_de_direito_processual>. Acesso em: 17/07/2013. 22 Adianta-se: com o proclamado cooperativismo, não se deseja o íntimo cooperativismo entre as partes.
Isto seria uma utopia. Quer-se basicamente lealdade ativa entre as mesmas. 23 O atual CPC realça o papel do juiz na condução do processo, cita-se, a título exemplo, os artigos 105,
110, 113, §2º, 182, §2º, 262, 267, §1º e §3º, 284. E quanto ao poder instrutório, os artigos 130, 342, 343,
355, 399, 418, 440, 446, 451.
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A EVOLUÇÃO DO MODELO PROCESSUAL
Na esfera da evolução do processo, tem-se, em primeiro momento, a fase do
praxismo. No qual o direito processual não era visto com autonomia, mas como parte do
direito privado, motivo pelo qual não se falava propriamente em um direito processual.
Não havia preocupação com princípios, conceitos ou métodos. Buscando,
simploriamente, o exercício dos direitos materiais.
Depois, chegada a fase do processualismo, é basilar a preocupação de designação
do direito como um instrumento de pacificação social. Torna-se característica o ganho de
autonomia do direito processual e surgem diversas das grandes teorias sobre o mesmo,
nas quais, dentre outros focos, buscava-se a designação de conceitos. Esta segunda fase
teve como destaques Oskar Von Bûlow, Giuseppe Chiovenda e Moacyr Amaral dos
Santos e outros.
Posteriormente, na fase do instrumentalismo, ganha força a ideia de afastamento
do preciosismo técnico-legal e do caráter estritamente técnico do processo, passando o
juiz a dever buscar um resultado substancialmente justo em uma célere prestação
jurisdicional. O juiz tem dever de condução processual junto das partes. Ha visualização
do direito processual como instrumento de realização do direito material através de
relação jurídica processual24.
Apontada por alguns como uma nova fase, dentre estes Didier, e por outros como
o desenvolvimento da fase do instrumentalismo, surge o formalismo-valorativo, ou
neoprocessualismo, no qual se dá voz aos valores da justiça, da participação legal, da
segurança e da efetividade, buscando dar luzes neoconstitucionalistas ao direito
processual25. Aqui, há o clareamento do poder cultural do processo civil, que busca os
valores emanados da CF. Não sendo o único enfoque do formalismo-valorativo as
formalidades dos atos processuais, mas também – e principalmente – na “delimitação dos
poderes, faculdades e deveres dos sujeitos processuais, coordenação de sua atividade,
24 LOURENÇO, H. O Neoprocessualismo, o Formalismo Valorativo e suas Influências no Novo CPC. R.
EMERJ. Rio de Janeiro, v. 14, n. 56, p. 74-107, out.-dez/2011. Disponível em: <http://www.emerj.tjrj.
jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista56/revista56_74.pdf>. Acesso em: 18/07/2013, passim. 25 DIDIER JÚNIOR, Fredie. Teoria do Processo e Teoria do Direito: o neoprocessualismo. Disponível em:
<http://academia.edu/1771108/Os_tres_modelos_de_direito_processual>. Acesso em: 17/07/2013. Acesso
em: 18/07/2013.
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ordenação do procedimento e organização do processo, com vistas a que sejam atingidas
suas finalidades primordiais” 26 27.
DOS DEVERES DECORRENTES DO PRINCÍPIO
Há deveres das partes28 e do magistrado.
Primeiramente, quanto ao dever das partes, tem-se: dever de esclarecimento, que
consta na obrigatoriedade de que os atos processuais sejam claros, como o dever de que
a redação peticionada tenha clareza, sob pena de aplicação do art. 295, I, parágrafo único
do Código de Processo Civil (CPC); dever de lealdade, que proíbe a litigância de má-fé,
nos termos do art. 17 do CPC; e, o dever de proteção, que protege a parte contra injustiças
da outra, exequente, por exemplo, nos termos dos artigos 455-O, I e 574, CPC29. Todos
são deveres, em regra, ativos, que demandam uma ação30.
Ainda, o dever de cooperação entre todos os sujeitos é explícito no art. 339 do
CPC.
Quanto aos deveres do magistrado31 tem-se: o dever de esclarecimento, que consta
no dever do julgador, estando dúbio, solicitar esclarecimentos às partes, evitando a
26OLIVEIRA, C. A. A. de. O Formalismo-valorativo no confronto com o Formalismo excessivo. UFRGS.
Disponível em: <http://www.ufrgs.br/ppgd/doutrina/CAO_O_Formalismo-
valorativo_no_confronto_com_o_Formalismo_excessivo_290808.htm>. Acesso em: 28/07/2013. 27 O espaço demanda análise sumária. Aos interessados no aprofundamento, recomenda-se: LIMA, T. M.
de. Processo civil e filosofia: o formalismo-valorativo como concretização de uma teoria filosófica de
democracia. 2010, 148 p. Dissertação (Pós-graduação) - Universidade Federal do Espírito Santo, 2010.
Disponível em:
<http://www.ccje.ufes.br/direito/posstrictosensumestrado/Links/dissertacaothiagomuniz.pdf>. Acesso em:
22/07/2013. 28 Há críticas quanto à existência de deveres das partes entre si: MITIDIERO, D. Colaboração no processo
civil como prêt-à-porter? Um convite ao diálogo para Lenio Streck. Revista de processo. São Paulo: RT,
2011, nº 194, p. 62. 29 DIDIER JÚNIOR, Fredie. Teoria do Processo e Teoria do Direito: o neoprocessualismo. Disponível em:
<http://academia.edu/1771108/Os_tres_modelos_de_direito_processual>. Acesso em: 17/07/2013. 30 O dever cooperativo das partes é mais nebuloso de ser visto. Mas ainda assim é identificável na legislação,
citam-se como exemplos: os deveres referidos no art. 340 e 341 do CPC e as penas previstas em caso de
ausência em audiência de conciliação no procedimento sumário (art. 277, §2º, CPC), ou no caso de ausência
em audiência do procedimento sumaríssimo (art. 51, I, Lei 9.099/95). O caso do julgamento à revelia (art.
319 e seguintes do CPC), a preclusão temporal referida no art. 183 do CPC, e o repúdio à argumentação
intempestiva por vezes indicada no CPC. O julgamento por negligência das partes ou abandono do autor
(art. 267, II e III, respectivamente, CPC). Ainda no caso de sentença terminativa nos casos apontados pelo
inciso IV do art. 267, CPC. Igualmente, o ônus probatório das partes referido no art. 333 do CPC,
reafirmado no art. 396 quanto à prova documental. 31 DIDIER JUNIOR, Fredie. O princípio da cooperação – uma apresentação. Revista de Processo. P. 77 e
seguintes.
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tomada de decisões baseadas em raciocínios presumidos ou equivocados. É decorrência
deste o direito da parte de reformular o modo pelo qual se manifestou ou o direito de
sancionar quaisquer outros defeitos, em caso de petição com redação obscura.
Outra faceta é o dever também do juiz esclarecer suas decisões para as partes32.
O dever de consultar, por sua vez, é, novamente, faceta do princípio do
contraditório. O mesmo impede o magistrado de julgar de prima facie, se baseando em
uma questão de fato ou de direito, sem que tenha dado voz à manifestação das partes.
Mesmo nos casos de vício na matéria do direito alegado, como os casos de prescrição e
decadência, que são insanáveis, o contraditório é imperativo. Dever previsto
expressamente no Novo Projeto do CPC, art. 10º.
Havendo também o dever de prevenção. Relativamente semelhante ao dever de
esclarecimento, está consagrado no art. 284 do CPC. Pelo qual não é plausível o
indeferimento da inicial sem a anterior determinação de emenda. Ademais, cabe ao juiz
apontar falta de clareza nas alegações e também sugerir determinada conduta à parte.
O dever de auxílio se encontra no dever do juiz auxiliar as partes se estas
encontrarem alguma dificuldade que as impeça no exercício do seu ônus probatório.
Decorrência disto, a título de exemplo, é a concessão de dilação de prazo caso haja
solicitação da parte, frente à necessidade do mesmo para conseguir um documento ou
prova que influencie na formação do acervo probatório processual.
E o mais abstrato, não apontado por todos, nem por isso menos importante, é o
dever de correção e urbanidade, que manda o magistrado se portar de forma proba e
sociável. É outro lado da faceta exposta no art. 5º do Código de Ética da Magistratura
Nacional.
É clarividente que os efeitos da cooperação se iniciam na elaboração da petição
inicial (dever de esclarecimento da parte) e seguem até a fase recursal gerando efeitos.
Ademais, em suma: um juiz mais ativo e efetivamente participativo buscará garantir o
caráter isonômico no processo. Com o fortalecimento do poderio das partes, a
participação das mesmas torna-se mais proativa, com maior capacidade contributiva na
formação da decisão, com ampla colaboração tanto na valoração dos fatos como no
aspecto jurídico da causa.
32 Caráter presente nas palavras de Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda: (1958, apud DIDIER, Os três
modelos de direito processual: inquisitivo,dispositivo e cooperativo, p. 10).
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CONCLUSÃO
O presente estudo, como se vê, busca a análise do princípio da cooperação como
protagonista no processo civil, tomando como base sua ideia de influência na condução
do processo e, ainda, de olhos vistos à caracterização da mesma cooperação como fator
apoiador do direito ao processo justo, sempre frente à filosofia do formalismo-valorativo.
Conforme se notou no transcorrer descritivo, o processo civil – como meio
garantidor de tutela - está em uma crise iminente, sob o qual o consciente popular, em
regra, tem noção negativa. Comprova-se.
O Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS), em 2011, fez uma avaliação
da Justiça brasileira frente à credibilidade popular33. Numa análise sumária do resultado,
percebe-se que nenhum dos quesitos em qualquer das divisões sequer obteve a nota 2
(dois), de índice regular. Ficando os quesitos com as seguintes médias nacionais: a rapidez
com média de 1,19; o acesso com avaliação em 1,48; o custo com nota de 1,45; o quesito
de decisões justas com 1,60; a honestidade com análise fixada em 1,18; e, por fim,
imparcialidade com nota 1,1834. O estudo é meramente perceptivo, deve ser
complementado por pesquisa qualitativa, mas isto não inviabiliza o uso dos dados aqui.
Dentre as insatisfações cidadãs35, revelam-se alguns caracteres que se enquadram
na proposta aqui discutida, pois os efeitos do princípio da cooperação incidiriam em
alguns dos quesitos da pesquisa36. Sendo a pesquisa supra meramente complementar a
este estudo, probatória da insatisfação popular.
33 Tendo como quesitos: a) rapidez; b) acesso; c) custo; d) decisões justas; e) honestidade; e, f)
imparcialidade. A escala de resposta variava de 0 (zero) a 4 (quatro), de acordo com merecimento: 0: muito
mal; 1: mal; 2: regular; 3: bem; 4: muito bem. Os estudos foram divididos por região, sexo, escolaridade,
raça/etnia, renda e idade. 34 BRASIL. Governo Federal - Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS). Justiça. 31
de maio de 2011. Disponível em:
<http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/SIPS/110531_sips_justica.pdf>. Acesso em:
22.07.2013. 35 Por verdade, a insatisfação popular não é culpa exclusiva do Poder Judiciário. Ora, este depende da
atuação dos Poderes Legislativo e Executivo, já que estes contornam o orçamento e a atuação legislativa. 36 Afinal, espera-se que com a aplicação fática da cooperatividade, as partes se sintam mais próximas e
confiantes no julgador (quesitos de justiça, honestidade e imparcialidade), e, consequentemente, nas
decisões. Esta é nova faceta do contraditório e da boa-fé processual. Ademais, os efeitos da aplicação da
cooperação no processo se revelariam na celeridade e no acesso à jurisdição. Ora, uma vez cientes da
decisão através da transparência no dialogo durante o processo, as partes compreenderão melhor a relação
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Juntando-se a mesma supra pesquisa ao fator da tão clamada necessidade do
desenvolvimento do direito processual, na concepção atual de direito a um processo
cooperativo e justo, dentre outros, se percebe a necessidade de trabalho colaborativo,
posto este facilitar o desenvolvimento processual como um todo, efetivar os princípios e
prerrogativas constitucionais - e processo-constitucionais - nos contextos que dele
dependam, desde o trabalho do juiz até os efeitos diretos sobre o demandante, para que
haja a real justiça no conteúdo decisório da lide.
O princípio da cooperação é a pedra de toque da moderna concepção de processo
civil por vincular os sujeitos a um processo mais justo, participativo e equânime,
realmente resolutivo. A despeito de já ser aplicado, é basilar uma esfera de atuação maior
do que a vista atualmente, devendo ser reconhecido também como ente basilar ao direito
subjetivo das partes ao processo justo, amparado pelo devido processo legal.
Frente ao moderno paradigma de processo aqui descrito, é inaceitável que as
partes atuem de forma contrária a que determina o princípio e que o magistrado
permaneça inerte ante o seu poder-dever de instrução. Devendo a condução processual
pelos três sujeitos ter por fim a tutela de concretização e de garantia dos direitos,
construindo uma prestação jurisdicional constitucionalizada e justa, concretizando a
confiança social para com o Poder de onde emana a jurisdição.
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dada e ficarão satisfeitas. Valendo Frisar que esta preocupação não diminui as outras inseridas no segundo
parágrafo desta folha.
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