a mitigação dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

Upload: adriana-cravo

Post on 01-Mar-2018

224 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    1/163

    Universidade Federal do Rio Grande do SulInstituto de Biocincias

    Programa de Ps-Graduao em Biologia AnimalCurso de Especializao em

    Diversidade e Conservao da Fauna

    A mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna:

    Um guia de procedimentos para tomada de deciso

    Mozart da Silva Lauxen

    Porto Alegre2012

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    2/163

    Universidade Federal do Rio Grande do SulInstituto de Biocincias

    Programa de Ps-Graduao em Biologia Animal

    A mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna:

    Um guia de procedimentos para tomada de deciso

    Mozart da Silva Lauxen

    Orientador: Prof. Dr. Andreas Kindel

    Trabalho apresentado no Departamento de

    Zoologia da UFRGS como pr-requisito para a

    obteno de Certificado de Concluso de

    Curso Ps-graduao Lato Sensu, na rea de

    Especializao em Diversidade e Conservaoda Fauna.

    Porto Alegre

    2012

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    3/163

    Mozart da Silva Lauxen

    A mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna:Um guia de procedimentos para tomada de deciso

    Trabalho apresentado no Departamento deZoologia da UFRGS como pr-requisito

    para a obteno de Certificado deConcluso de Curso Ps-graduao LatoSensu, na rea de Diversidade eConservao da Fauna.

    Orientador: Prof. Dr. Andreas Kindel

    Porto Alegre, 31 de maio de 2012.

    Banca Examinadora

    ___________________________Prof. Dr. Claiton Martins Ferreira

    Departamento de GenticaUFRGS

    ___________________________Dr. Andr de Mendona-Lima

    Departamento de EcologiaUFRGS

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    4/163

    Resumo

    A mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna:

    Um guia de procedimentos para tomada de deciso

    Rodovias tambm implicam em impactos sociais e ambientais adversos, entre eles a

    mortalidade de fauna e os efeitos de barreira. O licenciamento ambiental a

    oportunidade em que estes impactos podem ser mitigados, por meio da definio de

    traados e de estruturas que possibilitem a manuteno da conectividade de hbitats.

    Por meio da proposio de um fluxo de procedimentos, reviso bibliogrfica e anlise

    crtica das medidas conhecidas para manuteno da conectividade, estruturou-se um

    guia digital de procedimentos e informaes tcnicas para subsidiar os atores do

    processo de licenciamento.

    Palavras-chave:conectividade, fragmentao, efeito barreira, atropelamento de fauna,

    rodovias, licenciamento ambiental.

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    5/163

    iv

    Sumrio

    Sumrio .......................................................................................................................... iv

    Dedicatria .................................................................................................................... vii

    Agradecimentos ............................................................................................................ viii

    Relao de Figuras ........................................................................................................ ix

    Apresentao ............................................................................................................... xvi

    1. Introduo .................................................................................................................... 1

    1.1. As rodovias e a fauna ............................................................................................ 1

    1.2. O licenciamento ambiental e as medidas mitigadoras .......................................... 4

    2. Objetivos .................................................................................................................... 11

    3. Material e mtodos .................................................................................................... 12

    4. Resultados ................................................................................................................. 14

    4.1. Produo cientfica consultada............................................................................ 14

    4.2. Guia eletrnico de procedimentos ....................................................................... 16

    4.2.1. Licenciamento ambiental .............................................................................. 19

    4.2.1.1. Caractersticas e objetivos ...................................................................... 20

    4.2.1.2. Etapas ..................................................................................................... 22

    4.2.1.3. Base legal ............................................................................................... 27

    4.2.2. Avaliao de Impacto Ambiental (AIA) .......................................................... 29

    4.2.2.1. Projeto virio ........................................................................................... 32

    4.2.2.2. Diagnstico ambiental ............................................................................. 35

    4.2.2.3. Impactos conhecidos .............................................................................. 45

    4.2.2.4. Tomada de deciso ................................................................................ 54

    4.2.3. Medidas mitigadoras ..................................................................................... 60

    4.2.3.1. Opes existentes .................................................................................. 60

    4.2.3.1.1. Intervenes estruturais ................................................................... 62

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    6/163

    v

    4.2.3.1.1.1. Passagens inferiores ................................................................ 62

    4.2.3.1.1.2. Passagens inferiores grandes .................................................. 64

    4.2.3.1.1.3. Passagens inferiores multiuso .................................................. 65

    4.2.3.1.1.4. Tneis para anfbios e rpteis ................................................... 66

    4.2.3.1.1.5. Ecodutos ou pontes de ecossistemas....................................... 68

    4.2.3.1.1.6. Passagens superiores .............................................................. 69

    4.2.3.1.1.7. Passagens superiores multiuso ................................................ 70

    4.2.3.1.1.8. Passagens no estrato arbreo .................................................. 71

    4.2.3.1.1.9. Tneis rodovirios .................................................................... 72

    4.2.3.1.1.10. Viadutos e elevadas................................................................ 73

    4.2.3.1.1.11. Pontes e pontilhes ................................................................ 74

    4.2.3.1.1.12. Bueiros modificados................................................................ 75

    4.2.3.1.1.13. Barreiras anti-rudo ................................................................. 80

    4.2.3.1.1.14. Ampliao do canteiro central ................................................. 81

    4.2.3.1.2. Manejo .............................................................................................. 82

    4.2.3.1.2.1. Campanhas educativas ............................................................ 82

    4.2.3.1.2.2. Sinalizao viria ...................................................................... 83

    4.2.3.1.2.3. Limitao da velocidade ........................................................... 85

    4.2.3.1.2.4. Reduo do volume de trfego ................................................. 86

    4.2.3.1.2.5. Interdio temporria ................................................................ 864.2.3.1.2.6. Sistemas de deteco de fauna ................................................ 87

    4.2.3.1.2.7. Alerta e afugentamento ............................................................. 88

    4.2.3.1.2.8. Balizas ...................................................................................... 91

    4.2.3.1.2.9. Alimentao .............................................................................. 91

    4.2.3.1.2.10. Remoo de carcaas ............................................................ 92

    4.2.3.1.2.11. Modificao do hbitat ............................................................ 93

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    7/163

    vi

    4.2.3.1.2.12. Cercas e barreiras .................................................................. 96

    4.2.3.1.2.13. Reduo populacional .......................................................... 100

    4.2.3.2. Seleo da alternativa .......................................................................... 101

    4.2.3.3. Instalao ............................................................................................. 104

    4.2.4. Monitoramento ............................................................................................ 106

    4.2.4.1 Indicadores ............................................................................................ 110

    4.2.4.2. Mtodos ................................................................................................ 110

    4.2.4.2.1. Taxa de atropelamentos ................................................................. 113

    4.2.4.2.2. Armadilhas fotogrficas e de vdeo ................................................ 117

    4.2.4.2.3. Armadilhas de captura .................................................................... 118

    4.2.4.2.4. Armadilhas de pegadas .................................................................. 119

    4.2.4.2.5. Observaes visuais diretas ........................................................... 121

    4.2.4.2.6. Ferramentas genticas ................................................................... 121

    4.2.4.2.7. Armadilhas de pelos ....................................................................... 122

    4.2.4.2.8. Telemetria por rdio ou satlite ...................................................... 122

    4.2.4.3. Reavaliao .......................................................................................... 123

    5. Discusso ................................................................................................................ 125

    6. Bibliografia ............................................................................................................... 132

    7. Anexos..................................................................................................................... 144

    7.1. Zoologia: Normas para citao bibliogrfica .................................................. 144

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    8/163

    vii

    Dedicatria

    Mary da Silva Lauxen e

    Francisca Tomaszewski da Silva,

    por me incutirem valores permanentese que tanto prezo.

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    9/163

    viii

    Agradecimentos

    Ao Dr. Andreas Kindel, pela orientao criativa, dilogos construtivos e aesefetivas visando integrao e ao aprendizado mtuo entre Universidade e rgo

    Ambiental;Aos meus colegas, passados e presentes, no Ncleo de Licenciamento

    Ambiental da Superintendncia do IBAMA no Rio Grande do Sul (Carmen ZotzHerkenhoff, Carolina Alves Lemos, Cludio Orlando Liberman, Cristiano AntunesSouza, Diara Maria Sartori, Jos Antonio Palmeiro Gudolle, Mana Roman, SilvioAlberto Faneze e Rodney Schmidt), pelo apoio, companheirismo, discusses tcnicas,senso de responsabilidade profissional e, tambm, por me ensinarem tudo que seisobre licenciamento ambiental;

    Ao IBAMA, em especial ao Superintendente no Rio Grande do Sul, JooPessoa Moreira Jr. e ao Diretor de Licenciamento, Eugnio Pio Costa, pelo incentivo

    capacitao e pela oportunidade contnua de aprendizado e aplicao de ideiasinovadoras na gesto ambiental;

    Aos colegas do Ncleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias(NERF/Ecologia/UFRGS), em especial Fernanda Zimmermann Teixeira e Igor PfeiferCoelho, pelo material de apoio e exemplo de pesquisa aplicada e socialmente til;

    Ana Paula Ferreira, pelo incentivo na realizao deste trabalho;

    Isabel da Silva Lauxen, pela motivao contnua, e

    Fabiana Michelsen de Andrade, por me apresentar e acompanhar em novoscaminhos e belas estradas.

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    10/163

    ix

    Relao de Figuras

    Figura 1. Rodovias federais brasileiras. .......................................................................... 2

    Figura 2. Nmero de referncias por pas de origem. ................................................... 14

    Figura 3. Tipos de publicaes consultados. ................................................................. 15

    Figura 4. Artigos cientficos consultados, por intervalo quinquenal de publicao. ....... 15

    Figura 5. Temas abordados na bibliografia consultada. ................................................ 15

    Figura 6. Grupos animais enfocados na literatura revisada. ......................................... 15

    Figura 7. Medidas mitigadoras recomendadas, conforme bibliografia revisada ............ 16

    Figura 8. Fluxograma do Guia de procedimentos para mitigao dos impactos das

    rodovias sobre a fauna .................................................................................................. 17

    Figura 9. Estrutura grfica do stio eletrnico. ............................................................... 18

    Figura 10. Representao esquemtica das alternativas existentes no contexto do

    licenciamento ambiental ................................................................................................ 21

    Figura 11. Fluxo de procedimentos no Licenciamento Ambiental Federal. ................... 23

    Figura 12. Representao esquemtica dos tipos de interveno usualmente

    verificados no licenciamento de obras rodovirias ........................................................ 33

    Figura 13. Exemplos de planos de informao teis em um SIG para identificao de

    reas prioritrias na manuteno da conectividade ...................................................... 39

    Figura 14. Modelo conceitual dos efeitos do trfego sobre a fauna. ............................. 41

    Figura 15. Relao entre componentes do efeito de barreira. ....................................... 41

    Figura 16. Representao esquemtica dos impactos ecolgicos das estradas. .......... 46

    Figura 17. Fluxograma bsico para tomada de deciso referente aos impactos das

    rodovias sobre a fauna, com nfase na perspectiva biolgica. ..................................... 56

    Figura 18. Passagem de fauna sob pontilho na rodovia RS 486Rota do Sol. ......... 63

    Figura 19. Instalao de passagem de fauna em bueiro celular. Rodovia BR 101/RS. 63

    Figura 20. Passagem de fauna em bueiro celular 1,5 x 1,5 m, BR 101/RS. .................. 63

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    11/163

    x

    Figura 21. Entrada de passagem de fauna (seta) na BR 101/RS, com cerca

    direcionadora. ................................................................................................................ 63

    Figura 22. Passagem de fauna construda com bueiro tubular corrugado na BR 471/RS

    Estao Ecolgica do Taim. ....................................................................................... 64

    Figura 23. Tnel para pequenos mamferos, com cerca direcionadora ......................... 64

    Figura 24. Passagem inferior construda com estrutura de pontilho e iluminao

    natural ........................................................................................................................... 65

    Figura 25. Passagem inferior em Sierra County, California ........................................... 65

    Figura 26. Passagem inferior multiuso .......................................................................... 66

    Figura 27. Passa-gado em tubo corrugado. .................................................................. 66

    Figura 28. Tnel para herpetofauna com barreira direcionadora................................... 67

    Figura 29. Duto subsuperficial para anfbios, recoberto por grades .............................. 67

    Figura 30. Cerca direcionadora para herpetofauna ....................................................... 67

    Figura 31. Entrada de tnel para herpetofauna ............................................................. 67

    Figura 32. Ecoduto ........................................................................................................ 68

    Figura 33. Ecoduto ........................................................................................................ 68

    Figura 34. Vista area da passagem superior instalada na Campton Road, Brisbaine,

    Australia......................................................................................................................... 70

    Figura 35. Vista da passagem superior a partir da rodovia. .......................................... 70

    Figura 36. Implantao da vegetao na passagem superior. ...................................... 70

    Figura 37. Desenho conceitual de passagem mista para humanos e fauna em Walden

    Ponds, Massachussets, Estados Unidos ....................................................................... 70

    Figura 38. Passagem mista ........................................................................................... 70

    Figura 39. Passagem area instalada na rodovia SC 450, Praia Grande. .................... 71

    Figura 40. Bugios-ruivos (Alouatta guariba) utilizando a passagem area. ................... 71

    Figura 41. Passagem instalada na sinalizao da rodovia ............................................ 71

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    12/163

    xi

    Figura 42. Passagem em estrutura de madeira e cordas .............................................. 71

    Figura 43. Conjunto de tneis com passagem superior cercada ................................... 73

    Figura 44. Tnel na Alemanha, com rea superior proporcionando uso misto.............. 73

    Figura 45. Tnel sob o Morro Alto, BR 101/RS. ............................................................ 73

    Figura 46. Emboque Norte do tnel sob o Morro Alto, BR 101/RS. ............................... 73

    Figura 47. Viaduto ......................................................................................................... 73

    Figura 48. Viaduto na rodovia RS 486 - Rota do Sol, Rio Grande do Sul. .................... 73

    Figura 49. Elevada com cerca de 2.100 m de extenso na BR 101/RS ........................ 74

    Figura 50. Elevada na vrzea do rio Maquin. .............................................................. 74

    Figura 51. Detalhe da elevada no trecho sobre o canal do rio Maquin, BR 101/RS. ... 74

    Figura 52. Ponte So Borja (Brasil)Santo Tom (Argentina), com amplos vos secos

    junto s cabeceiras. ....................................................................................................... 75

    Figura 53. Ponte na BR 101/RS, com passagem seca junto margem. ....................... 75

    Figura 54. Foto area do pontilho Vrzea 2, obras de duplicao BR 392/RS............ 75

    Figura 55. Pontilho Vrzea 1, BR 392/RS, com laterais secas para passagem de

    fauna. ............................................................................................................................ 75

    Figura 56. Corte transversal de diferentes tipos de bueiros e exemplos de plataformas

    para passagem seca. .................................................................................................... 77

    Figura 57. Corte longitudinal de sistema de piscinas para dissipao de energia do

    fluxo dgua e viabilizao da travessia de peixes........................................................ 79

    Figura 58. Passagem seca formada por pedras na lateral de bueiro corrugado ........... 79

    Figura 59. Bueiro rmico com borda de concreto na entrada e entorno em pedras, para

    melhor visualizao ....................................................................................................... 79

    Figura 60. Croqui ilustrando plataforma seca para deslocamento da fauna. ................. 80

    Figura 61. Barreira acstica na Frana ......................................................................... 81

    Figura 62. Barreira acstica, Rodovia M7, Irlanda, 2012. .............................................. 81

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    13/163

    xii

    Figura 63. Canteiro central ampliado ............................................................................. 82

    Figura 64. Barreira Jerseycom passagem para fauna .................................................. 82

    Figura 65. Panfleto informativo distribudo durante as obras de duplicao da rodovia

    BR 386/RS. .................................................................................................................... 83

    Figura 66. Sinalizao esttica tradicional. BR 116/RS. ................................................ 84

    Figura 67. Sinalizao esttica tradicional, adaptada para a fauna tpica da regio. BR

    471/RS........................................................................................................................... 84

    Figura 68. Sinalizao esttica em estrada de servio da Linha de Transmisso So

    Domingosgua Clara, Mato Grosso do Sul. .............................................................. 84

    Figura 69. Sinalizao esttica, em grandes dimenses e ilustrada com exemplares da

    fauna local. .................................................................................................................... 84

    Figura 70. Sinalizao esttica (Lontra longicaudis). BR 116-392/RS. ......................... 84

    Figura 71. Sinalizao esttica (Leopardus geoffroyi). BR 116-392/RS. ....................... 85

    Figura 72. Sinalizao esttica (Cerdocyon thous). BR 116-392/RS. ........................... 85

    Figura 73. Controlador eletrnico de velocidade. .......................................................... 86

    Figura 74. Sinal piscante ativado por cmaras de infravermelho no Canad. ............... 88

    Figura 75. Sinal de advertncia com mensagens iluminadas por LEDs e ativadas por

    sensores de infravermelho passivos ............................................................................. 88

    Figura 76. Emissor de ultrassom acionado pelo vento. ................................................. 89

    Figura 77. Emissor de ultrassom acionado eletricamente. ............................................ 89

    Figura 78. Representao esquemtica da instalao de refletores s margens da

    rodovia. .......................................................................................................................... 90

    Figura 79. Refletores instalados em rodovia americana. ............................................... 90

    Figura 80. Modelo de refletor. ........................................................................................ 90

    Figura 81. Representao esquemtica da colocao de balizas visando elevao da

    altura de voo de aves em rotas de movimentao. ....................................................... 91

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    14/163

    xiii

    Figura 82. Jaguatirica, SC 438. ..................................................................................... 92

    Figura 83. Caninana, BR 471/RS. ................................................................................. 92

    Figura 84. Veado, BR 153/RS. ...................................................................................... 92

    Figura 85. Faixa de domnio com vegetao rasteira. ................................................... 95

    Figura 86. Corredor de vegetao conectando hbitats em rea de orizicultura........... 95

    Figura 87. Detalhe da foto anterior (BR 116/RS). .......................................................... 95

    Figura 88. Utilizao de vegetao na sinalizao rodoviria: BR 101/RS. .................. 95

    Figura 89. Cerca com combinao de malhas fina e larga ............................................ 99

    Figura 90. Cerca com malha fina, para anfbios e rpteis ............................................. 99

    Figura 91. Cerca com rampa de escape ....................................................................... 99

    Figura 92. Capivara (seta) bloqueada por cerca com malhas decrescentes e base em

    alvenaria. ....................................................................................................................... 99

    Figura 93. Cerca de pedra, junto BR 285/RSSo Jos dos Ausentes .................... 99

    Figura 94. Cerca com base em concreto e tela em malhas progressivas. .................. 100

    Figura 95. Cercas instaladas nos dois lados da pista. BR 101/RS. ............................. 100

    Figura 96. Solo estabilizado mecanicamente, por meio de geogrelhas estruturais,

    servindo como cerca direcionadora ............................................................................. 100

    Figura 97. Mata-burro instalado para evitar a entrada de animais no segmento

    cercado. BR 471/RS, Santa Vitria do Palmar. ........................................................... 100

    Figura 98. Cortes transversais representando esquematicamente as feiestopogrficas em que as rodovias se inserem .............................................................. 102

    Figura 99. Localizao de passagem de fauna e telas condutoras em Projeto de

    Engenharia da BR 386/RS. ......................................................................................... 105

    Figura 100. Croqui com especificaes de passagem de fauna ................................. 105

    Figura 101. Ficha de registro de atropelamentos utilizado no monitoramento durante a

    fase de instalao da duplicao da rodovia BR 386/RS trecho Taba-Estrela ........... 114

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    15/163

    xiv

    Figura 102. Modelos de planilha de dados brutos proposto pelo IBAMA (2011). ........ 114

    Figura 103. Modelo de Sistema de Informaes Geogrficas ..................................... 115

    Figura 104. Retirada de animal atropelado, do leito da rodovia, ................................. 116

    Figura 105. Capivara atropelada, BR 471Estao Ecolgica do Taim/RS. ............. 116

    Figura 106. Dispositivo para armadilhamento fotogrfico ............................................ 118

    Figura 107. Tcnico instalando armadilha fotogrfica, BR 392/RS. ............................ 118

    Figura 108. Imagem noturna de Mo-pelada (Procyon cancrivorus), registrada por

    armadilha fotogrfica ................................................................................................... 118

    Figura 109. Graxaim-do-mato (Cerdocyon thous) registrado por armadilha fotogrfica

    no monitoramento de implantao da BR 392/RS. ...................................................... 118

    Figura 110. Armadilha Sherman. ................................................................................. 119

    Figura 111. Armadilha Tomahawk. .............................................................................. 119

    Figura 112. Armadilhas de queda, com cercas direcionadoras. .................................. 119

    Figura 113. Armadilha de pegadas em faixa contnua junto ao acostamento ............. 120

    Figura 114. Armadilha de pegada: caixa de areia. ...................................................... 120

    Figura 115. Pegada de capivara (Hydrochaeris hydrochaeris) .................................... 120

    Figura 116. Pegada de jaguatirica (Leopardus pardalis) ............................................. 120

    Figura 117. Pegada de veado-mateiro (Mazama americana) ..................................... 120

    Figura 118. Rastreamento por telemetria. ................................................................... 123

    Figura 119. Fmea de ona-parda com rdio-colar. .................................................... 123

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    16/163

    xv

    Relao de Tabelas

    Tabela 1. Principais normas legais federais do licenciamento ambiental. ..................... 28

    Tabela 2. Informaes a serem obtidas no diagnstico ambiental da fauna. ................ 43

    Tabela 3. Principais efeitos e impactos ambientais das rodovias sobre a fauna. .......... 46

    Tabela 4. Medidas conhecidas para mitigar impactos diretos de rodovias .................... 61

    Tabela 5. Etapas do processo de gesto adaptativa ................................................... 107

    Tabela 6. Mtodos de amostragem e parmetros acessados. .................................... 113

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    17/163

    xvi

    Apresentao

    O presente trabalho consiste de reviso bibliogrfica sobre o campo da cincia

    denominado Ecologia de Estradas (FORMAN et al. 2003). Prioriza o levantamento e

    descrio dos tipos de estrutura de mitigao existentes, mas tambm abrange os

    aspectos relacionados avaliao dos impactos de empreendimentos rodovirios

    sobre a fauna e ao monitoramento ps-implantao. Segue as regras de apresentao

    estabelecidas no Manual de Elaborao de Monografia do Curso de Especializao em

    Diversidade e Conservao da Fauna, do Departamento de Zoologia da UFRGS,

    verso 2012. Tabelas e figuras so apresentadas ao longo do texto, visando

    proporcionar fluidez e facilitar a compreenso. A literatura citada conforme as normas

    do peridico Zoologia (antiga Revista Brasileira de Zoologia), publicada pela Sociedade

    Brasileira de Zoologia, reproduzidas no Anexo I e disponibilizadas em

    http://sbzoologia.org.br/subcategoria.php?idcategoria1=16&idsubcategoria1=32.

    Fundamentada na reviso bibliogrfica realizada, proposta a estruturao

    lgica de um fluxo de procedimentos a ser utilizado no licenciamento ambiental de

    rodovias no Brasil, no que concerne anlise e mitigao dos impactos diretos deste

    tipo de obra de infraestrutura sobre a fauna. Concebido sob a forma de um guia de

    referncia digital denominado CONECTE Guia de procedimentos para mitigao de

    impactos de rodovias sobre a fauna, sua implementao em carter experimental

    disponibilizada na rede mundial de computadores (Internet) no endereo

    www.lauxen.net/conecte.

    http://sbzoologia.org.br/subcategoria.php?idcategoria1=16&idsubcategoria1=32http://www.lauxen.net/conecte/http://www.lauxen.net/conecte/http://sbzoologia.org.br/subcategoria.php?idcategoria1=16&idsubcategoria1=32
  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    18/163

    1

    1. Introduo

    1.1. As rodovias e a fauna

    Empreendimentos lineares, tais como linhas de transmisso de energia,

    ferrovias e rodovias, mesmo que essenciais na infraestrutura necessria ao

    desenvolvimento econmico de um pas, trazem associados impactos sociais e

    ambientais frequentemente adversos. Sob o aspecto socioeconmico, podem resultar

    em alteraes no uso e valor da terra, atrao de populaes humanas (FU et al.2010)

    e modificaes nos padres produtivos. Ambientalmente, seus efeitos se manifestam

    sob inmeras formas, algumas mais perceptveis, como os atropelamentos de animais,

    e outras subjacentes, como a fragmentao e alteraes nas caractersticas dos

    hbitats.

    A perda direta de hbitats decorrente dos 6.200.000 km de rodovias pblicas

    nos Estados Unidos foi estimada por FORMAN (2000) em cerca de 1% da extenso

    territorial daquele pas, com efeitos ecolgicos diretos, por meio de perturbaesqumicas, fsicas e biolgicas, sobre outros 18% de sua rea. Comparativamente, para

    uma malha rodoviria brasileira implantada de 1.580.991 km (Figura 1) (DNIT 2012),

    dos quais 86,5 % no so pavimentados, e supondo-se uma mdia de plataforma

    estradal de 8 m para aquelas de pista simples e 27 m para rodovias duplicadas, atingir-

    se-ia uma rea em torno de 12.800 km2, ou 0,15% da rea territorial nacional, com

    impactos ecolgicos em quase 3% do pas. Para efeito de comparao de grandezas,

    as 429 Unidades de Conservao (UCs) de Proteo Integral brasileiras atingiam

    516.230 km2em 31/01/2012, ou 6,1% da rea continental do pas, enquanto as 1.079

    UCs de Uso Sustentvel totalizavam 943.635 km2, ou 11,1% do territrio, totalizando

    17,2% de reas protegidas (CNUC-MMA 2012). Apesar dos nmeros expressivos

    relacionados perda direta de hbitats pela construo de rodovias, percebe-se que

    este no constitui o seu impacto ambiental negativo mais relevante.

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    19/163

    2

    Figura 1. Rodovias federais brasileiras. No detalhe, malha rodoviria estadual e municipal do RioGrande do Sul.Base de dados: Ministrio do Meio Ambiente (http://mapas.mma.gov.br/i3geo/datadownload.htm).

    A mortalidade de animais silvestres (CARR et al.2002) e os efeitos de barreira

    representam as principais consequncias adversas das rodovias, ao passo que a

    criao de corredores de disperso e movimentao de fauna um efeito a princpio

    positivo (SEILER 2001). Sob outra perspectiva, a da segurana humana, o nmero de

    acidentes fatais aumentou 104% entre 1990 e 2008 nos Estados Unidos, com custos

    bilionrios relacionados aos danos com veculos (LANGLEY 2005; SULLIVAN 2011). Na

    Europa, os danos materiais atingem valores da mesma grandeza, resultando em mais

    de 300 perdas humanas por ano (SEILER 2001).

    A percepo da dimenso destes impactos fez com que um novo campo da

    cincia fosse definido nas duas ltimas dcadas, a ecologia de estradas. No espectro

    dos estudos j realizados nesta rea, a mortalidade da fauna devido aos

    atropelamentos se destaca, sendo objeto de cerca de 1/3 dos trabalhos publicados nos

    ltimos dez anos (TAYLOR & GOLDINGAY 2010). Os resultados apresentam dados

    impressionantes: FORMAN &ALEXANDER (1998) estimaram o nmero de vertebrados

    http://mapas.mma.gov.br/i3geo/datadownload.htmhttp://mapas.mma.gov.br/i3geo/datadownload.htm
  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    20/163

    3

    atropelados nas rodovias em cerca de um milho por dia nos Estados Unidos,

    superando a quantidade de indivduos abatidos pela caa e consistindo na principal

    causa de mortalidade direta deste grupo associada s atividades humanas. O nmero

    de aves mortas anualmente nas rodovias norte-americanas foi estimado em 80 milhes

    (ERICKSON et al. 2005), sendo os nmeros europeus igualmente alarmantes: quatro

    milhes no Reino Unido, dois milhes na Holanda, 3,7 milhes na Dinamarca e 8,5

    milhes na Sucia (SEILER 2001). Ainda que no to extensivamente estudados como

    os vertebrados, sobre os quais se centram cerca de 80% dos levantamentos realizados

    na ltima dcada (TAYLOR &GOLDINGAY 2010), taxacom poucas informaes, como os

    insetos, tendem a ser afetados em quantidades absolutas ainda maiores (FORMAN &

    ALEXANDER 1998;HAYWARD et al.2010;RAO &GIRISH 2007). HASKELL (2000) constatou

    reduo significativa na abundncia e na riqueza da fauna de macroinvertebrados do

    solo em distncias de 100 m e 15 m, respectivamente, a partir das margens de

    rodovias em reas florestadas. O efeito de barreira, com a consequente fragmentao

    de hbitats e as decorrentes repercusses adversas relacionadas diversidade em

    seus mais variados graus, outro efeito importante, abrangente e complexo dos

    empreendimentos lineares (K. KELLER et al. 2005; SEILER 2001). Neste contexto,

    enquanto no existe consenso sobre a dimenso dos impactos causados pela

    mortalidade e fragmentao de hbitats e seus reflexos, a instalao de estruturas

    visando facilitar o deslocamento transversal da fauna, frequentemente associada adispositivos que evitem seu acesso a reas de maior risco nas rodovias, tem sido a

    medida padro adotada em grande parte dos pases econmica e cientificamente

    desenvolvidos, mesmo que no existam dados conclusivos referentes a sua efetividade

    nos diversos contextos e significncia em termos de conservao da biodiversidade.

    As estruturas para transposio visam tanto prevenir a morte direta de

    indivduos quanto restabelecer a conectividade de hbitats, existindo uma diversidade

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    21/163

    4

    de modelos de estruturas concebidas para atender uma espcie em particular, um

    grupo funcional ou toda a comunidade local. Diversas outras medidas, tais como

    sinalizao e instalao de dispositivos redutores de velocidade, tambm tm sido

    adotadas, embora existam poucos dados objetivos quanto a sua eficcia.

    1.2. O licenciamento ambiental e as medidas mitigadoras

    Uma das caractersticas marcantes do sculo XX foi a expanso da

    infraestrutura que atende sociedade humana, refletindo tanto o aumento de

    populao, que praticamente quadruplicou no perodo (ONU 1999), quanto o

    crescimento econmico. As preocupaes ambientais comearam a ser incorporadas

    legislao das naes economicamente desenvolvidas a partir da dcada de 1970,

    especialmente aps a Primeira Conferncia Mundial sobre o Homem e o Meio

    Ambiente, promovida pela Organizao das Naes Unidas em Estocolmo, em 1973.

    Boa parte da infraestrutura viria existente, estimada em 102.260.304 km (CIA2008), jse encontrava implantada, visto que o desenvolvimento da indstria automobilstica

    ocorreu exatamente ao longo do sculo passado. Assim, comum se observar reas

    ambientalmente sensveis cortadas por rodovias, sem que os cuidados mais bsicos

    tenham sido adotados (ARESCO 2005). Embora aes pontuais referentes relao

    entre o trfego de veculos e colises com animais silvestres remontem segunda

    dcada do sculo XX, a Ecologia de Estradas tal como delineada atualmente somente

    se consolidou nos ltimos 20 anos (FORMAN et al.2003). No sculo XXI, a integrao da

    infraestrutura existente e a previso e mitigao de impactos dos novos

    empreendimentos se configura como o grande desafio de cientistas, planejadores e

    gestores da rea (AHERN et al. 2009). Alm dos impactos objetivos derivados da

    instalao de rodovias, aspectos ideolgicos e emotivos tambm so observados

    quando da proposio deste tipo de obras, tais como a atitude NIMBY (Not in my

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    22/163

    5

    backyard No no meu quintal) ou o comportamento BANANA (Build Absolutely

    Nothing Anywhere Near Anyone - Construa-se absolutamente nada em qualquer lugar

    prximo a qualquer um). Antigamente direcionados a obras como aterros sanitrios,

    presdios e hidreltricas, reaes deste tipo so cada vez mais comuns em relao s

    rodovias (SPELLERBERG 2002), exigindo que o gestor ambiental embase solidamente o

    processo de tomada de deciso, no somente para prevenir os danos ambientais como

    para evitar a judicializao e consequente atraso de obras de interesse pblico.

    No Brasil, o licenciamento ambiental de atividades e obras utilizadoras de

    recursos naturais ou potencialmente poluidoras teve incio em meados da dcada de

    1980. At ento, a malha rodoviria brasileira no teve considerada em sua

    implantao a perspectiva ecolgica, resultando na gerao de impactos que poderiam

    ter sido evitados. A construo de novas rodovias ou a ampliao da capacidade

    daquelas existentes est sujeita ao licenciamento ambiental (BRASIL 1997), processo no

    qual devem ser identificados seus impactos, avaliada sua viabilidade e previstas

    medidas preventivas, mitigadoras e compensatrias. Com a edio das Portarias

    Interministeriais n 420 e n 423 em outubro de 2011, foi institudo o Programa de

    Rodovias Federais Ambientalmente Sustentveis, que objetiva regularizar

    ambientalmente nada menos que 55.000 km de rodovias nos prximos 20 anos. Entre

    os tpicos a serem abordados nos Relatrios de Controle Ambiental que subsidiaro a

    regularizao, incluem-se itens especficos voltados relao entre rodovias e fauna:

    identificar entre os passivos ambientais a fauna impactada em funo de

    atropelamentoe identificar reas potenciais para servirem como corredores e refgio

    de fauna, sendo destacado que a existncia de passivos ambientais implicar na

    obrigatoriedade de apresentar Programa de recuperao dos mesmos. A regularizao

    do licenciamento ambiental da parte mais importante da malha rodoviria brasileira

    oferece oportunidade mpar para que seja mitigado o impacto que a mesma exerce

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    23/163

    6

    sobre a fauna, cabendo aos tcnicos envolvidos estarem capacitados para lidar com

    esta questo.

    Sendo relativamente recente no pas, o licenciamento ambiental de

    empreendimentos rodovirios no tem protocolos consolidados visando diagnosticar os

    locais onde os riscos ligados aos atropelamentos de fauna e aos fluxos gnicos seriam

    mais relevantes. Diversas abordagens so empregadas, destacando-se a anlise da

    paisagem por meio de vistorias e Sistemas de Informao Geogrfica (SIG),

    levantamentos de animais atropelados ao longo de trechos j existentes e diagnsticos

    de fauna nas reas de influncia dos empreendimentos. Entretanto, os diagnsticos

    so realizados com metodologias distintas, tanto no que se refere ao esforo quanto s

    tcnicas de amostragem e tratamento de dados, dificultando a comparao entre os

    diversos empreendimentos e impossibilitando a integrao das informaes em bases

    de dados que possibilitem anlises em escalas mais abrangentes (regional ou

    nacional); no existem critrios claros para indicao de pontos crticos; e a avaliao

    da efetividade das medidas mitigadoras adotadas fica restrita ao mbito dos

    respectivos processos e tcnicos envolvidos, dificultando a compilao de informaes

    que poderiam embasar aes futuras.

    Nos rgos pblicos integrantes do Sistema Nacional do Meio Ambiente

    (SISNAMA) responsveis pelo licenciamento ambiental das novas rodovias ou

    ampliao daquelas j existentes, pouco ou nenhum regramento institucional est

    definido acerca dos procedimentos tcnicos a serem adotados para avaliao dos

    impactos e tomada de deciso nas questes referentes relao rodovia versusfauna,

    ainda que iniciativas isoladas procurem responder ao menos parcialmente a estas

    questes (IBAMA-ICMBIO 2009). Normalmente a avaliao depende exclusivamente do

    conhecimento dos tcnicos responsveis pela conduo dos processos e se baseia emestudos elaborados a partir de Termos de Referncia desatualizados e/ou genricos.

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    24/163

    7

    Consequentemente, os estudos desenvolvidos pelas empresas de consultoria e

    apresentados aos rgos ambientais como subsdio tomada de deciso so

    frequentemente insuficientes, pouco propositivos e raramente conclusivos. O poder

    pblico se insere, novamente, na terceira vertente deste processo, na medida em que

    na quase totalidade dos casos tambm o empreendedor, por meio dos

    Departamentos Nacional e Estaduais de Transportes, visto que as etapas de

    planejamento e projeto so realizadas com reduzida insero do componente

    ambiental.

    O distanciamento entre os atores intervenientes no processo afeta

    substancialmente a qualidade do diagnstico e a tempestividade das aes de

    preveno e mitigao. A falta de integrao de dados e prioridades de cada setor nas

    fases iniciais de planejamento gera resultados ecologicamente menos eficientes do que

    seria possvel se consideradas previamente as perspectivas econmicas, ambientais e

    culturais. Iniciativas com o objetivo de identificar estas variveis e reuni-las em bases

    de dados comuns e disponveis aos intervenientes tm sido propostas tanto no exterior

    (BACHER-GRESOCK &SCHWARZER 2009) quanto no Brasil (DRUCKER 2011), inclusive sob

    a forma de regulamentao da participao dos diversos atores no mbito do processo

    de licenciamento ambiental (Portaria MMA n 419/2011).

    H que se observar, entretanto, que a regulamentao brasileira referente

    participao destes diversos rgos no resulta na integrao de bases de dados,

    planejamento conjunto e comprometimento recproco na seleo de alternativas

    tecnologicamente viveis, ecologicamente vantajosas e socialmente benficas,

    conforme proposto por BACHER-GRESOCK & SCHWARZER (2009) em sua abordagem

    ecossistmica denominada Eco-Logical, j adotada nos Estados Unidos. Ainda que sob

    a ausncia de regulamentao especfica, observa-se no Brasil uma crescenteintegrao entre bilogos e engenheiros atuantes no planejamento e construo de

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    25/163

    8

    rodovias, com os envolvidos assimilando princpios e restries tcnicas das demais

    reas de conhecimento, restando, entretanto, a institucionalizao do processo e

    comprometimento formal dos rgos envolvidos quanto necessidade de atendimento

    das premissas bsicas de cada setor.

    Como elemento dificultador, no existe consenso cientfico quanto

    metodologia de identificao de locais sensveis e, portanto, essenciais para proteo

    da fauna em rodovias. Diversas abordagens foram propostas (BAGER & ROSA 2010;

    BECKMANN et al.2010;COELHO et al.2008;DIAZ-VARELA et al.2011;FORMAN et al.2003;

    HURLEY et al.2009;LANGEN et al.2009;MALO et al.2004;REA et al.2006;ROGER &RAMP

    2009), as quais podem considerar tanto a paisagem atual quanto sua tendncia futura,

    assim como inmeras medidas propostas para sua mitigao (BECKMANN et al. 2010;

    CLEVENGER &HUIJSER 2011;GLISTA et al.2009;GRAY 2009;JONES &BOND 2010;RAMP &

    CROFT 2006). Algumas destas medidas so bastante conhecidas, embora muitas vezes

    aplicadas com tecnologias e critrios inadequados, tais como as passagens inferiores

    de fauna, enquanto outras permanecem desconhecidas de boa parcela dos bilogos,

    eclogos e engenheiros brasileiros diretamente relacionados ao setor de infraestrutura

    e licenciamento ambiental.

    O monitoramento ps-construo essencial para avaliao da efetividade das

    medidas adotadas, identificao de possveis adequaes necessrias e consolidao

    de uma base de conhecimentos que subsidie a tomada de deciso futura. Entretanto,

    no existe uma padronizao de metodologias e desenhos amostrais que permitam a

    comparao de dados obtidos em diferentes situaes (BANK et al.2002).

    Com a proliferao de estudos sobre o tema, especialmente nos Estados

    Unidos, Europa e Austrlia, j se dispe de um lastro de conhecimentos e princpios

    que devem ser considerados nas fases de planejamento, instalao e operao de

    empreendimentos rodovirios. A literatura especfica est disponvel sob a forma de

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    26/163

    9

    publicaes cientficas, as quais so praticamente inacessveis fora do ambiente

    acadmico, stios eletrnicos de rgos governamentais estrangeiros e raros livros

    editados na ltima dcada (BECKMANN et al.2010;COUNCIL 2005;FORMAN et al.2003;

    HUIJSER et al. 2007; IUELL et al. 2003; MAGNUS et al. 2004; SPELLERBERG 2002). No

    existe at o momento uma compilao brasileira destas informaes, quanto mais

    considerando as peculiaridades locais. Centros de pesquisa e rgos pblicos norte-

    americanos tm procurado consolidar estas informaes e definir roteiros para o

    diagnstico da situao e definio de medidas que reduzam o impacto das rodovias

    sobre o hbitat por elas afetado, especialmente no que se refere fauna (B ISSONETTE

    et al. 2007; CALTRANS 2009; CLEVENGER & HUIJSER 2011), sendo a elaborao de

    guias e manuais desta natureza uma das recomendaes do Departamento de

    Transportes dos Estados Unidos (BANK et al. 2002). Ainda que proponham fluxos de

    procedimentos por vezes distintos, estes Guias de avaliao e tomada de deciso se

    assemelham quanto s questes-chave a serem respondidas: 1) se a previso de

    impactos indica a necessidade de mitigao, 2) onde e como aplicar medidas

    mitigadoras e 3) se as medidas adotadas foram eficazes. Como material de apoio,

    apresentam alternativas tcnicas para mitigao do problema e estudos de caso.

    A disponibilizao de um Guia de procedimentos para mitigao dos impactos

    das rodovias sobre a fauna aos atores envolvidos diretamente no licenciamento

    ambiental no Brasil (empreendedores, consultores e gestores) e ao pblico em geral

    (sociedade e pesquisadores) permitiria um nivelamento de informaes e mtodos,

    estabelecendo um patamar mnimo para enfrentamento do problema, qualificando o

    processo de licenciamento e resultando na adoo de medidas mais eficazes para a

    conservao dos ecossistemas. Em relao a estas medidas, a compilao e

    caracterizao das alternativas, estruturais ou no, para mitigao dos atropelamentos

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    27/163

    10

    e manuteno da conectividade entre hbitats tambm se configura como uma

    demanda premente dos tcnicos brasileiros do setor.

    Considerando o estgio relativamente inicial deste campo do conhecimento, ao

    qual so adicionadas informaes em velocidade crescente, e as mltiplas instncias

    s quais a ferramentas se destina, um guia desta natureza deve ser concebido e

    disponibilizado em formato que permita contnua atualizao e fcil distribuio. A

    organizao destas informaes em um stio da rede mundial de computadores

    (Internet) parece ser a forma mais adequada de reunir estas caractersticas desejveis,

    sendo a alternativa escolhida para apresentao e difuso do produto originado por

    esta monografia.

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    28/163

    11

    2. Objetivos

    Baseado nas iniciativas internacionais existentes, o presente trabalho visa

    propor uma estrutura conceitual para um Guia de procedimentos para mitigao dos

    impactos das rodovias sobre a fauna. Tal documento deve servir de subsdio aos

    partcipes do processo de licenciamento ambiental de obras de infraestrutura

    rodovirias no Brasil tanto pela indicao clara das questes a serem respondidas em

    cada etapa do processo, quanto pela descrio dos mtodos, ferramentas e solues

    conhecidas.

    Dentro da estrutura prevista para o Guia (Diagnstico, Mitigao e

    Monitoramento), pretende relacionar e caracterizar as medidas mitigadoras atualmente

    conhecidas, voltadas aos impactos diretos sobre a fauna, propondo ainda os

    fundamentos bsicos a serem desenvolvidos futuramente nos demais tpicos

    (Diagnstico e Monitoramento).

    Por fim, pretende implementar experimentalmente o Guia sob a forma de umapgina na rede mundial de computadores (Internet).

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    29/163

    12

    3. Material e mtodos

    A reviso bibliogrfica foi realizada por meio de consulta s bases de dados

    relativas s reas do conhecimento Cincias Biolgicas e Cincias Ambientais

    disponveis no Portal de Peridicos da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal

    de Nvel Superior (CAPES), no perodo de maio de 2011 a maio de 2012.

    Os termos utilizados para pesquisa foram aqueles diretamente relacionados ao

    tema: road, road ecology, road kill, habitat fragmentation, connectivity,

    mortality e mitigation. Adicionalmente, a anlise da literatura citada nos artigos e

    livros consultados permitiu identificar novas referncias que no haviam sido

    localizadas por meio do sistema de busca da CAPES.

    Textos integrais no disponveis no acervo de peridicos disponibilizado pela

    CAPES foram solicitados por mensagens eletrnicas aos respectivos autores.

    A legislao ambiental brasileira foi consultada junto ao portal de busca da

    Subchefia para Assuntos Jurdicos da Casa Civil da Presidncia da Repblica

    (http://www4.planalto.gov.br/legislao) e do Ministrio do Meio Ambiente

    (http://www.mma.gov.br/conama/).

    Fotos, ilustraes, tabelas e grficos, quando no citada a fonte, so originais.

    A construo do stio eletrnico foi realizada com a utilizao dos softwares

    Adobe Flash CS5 (verso de avaliao) e Adobe Dreamweaver CS5 v. 11 -

    Compilao 4909 (verso de avaliao), baseada na linguagem de programao

    HTML 1.0 (HyperText Markup Language) Transitional.

    A construo do mapa interativo foi realizada na plataforma ArcGIS Online

    (http://www.esri.com), sendo os dados demonstrativos provenientes do licenciamento

    ambiental da rodovia BR386/RS-IBAMA (DNIT-UFSC/FAPEU 2011), e processados

    nos softwares GPS Trackmaker Pro e ArcGIS Desktop 9.2 (Licena float CSR/IBAMA).

    http://www.mma.gov.br/conama/http://www.mma.gov.br/conama/
  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    30/163

    13

    O contedo est armazenado no servidor UOLHost e disponibilizado no

    domnio www.lauxen.net/conecte.

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    31/163

    14

    4. Resultados

    4.1. Produo cientfica consultada

    A reviso bibliogrfica resultou na consulta aos textos integrais de 230

    referncias especficas sobre ecologia de estradas, alm de normas legais, manuais

    rodovirios e processos de licenciamento ambiental. Deste universo, so citados ao

    longo desta monografia 158 trabalhos, sendo todos os demais referenciados no stio

    eletrnico Conecte, na seo Bibliografia.

    Os Estados Unidos se destacam com a maior produo cientfica sobre o tema,

    com 40% das referncias consultadas (Figura 2). Somando-se aos dados produzidos

    no Canad, a Amrica do Norte contribui com mais de 55% dos trabalhos, seguida da

    Europa (23,5%) e Oceania (10,9%). A bibliografia brasileira escassa (6,1%), visto que

    foi super-representada no presente trabalho devido ao enfoque e origem. Ainda assim,

    representa a quase totalidade do conhecimento na rea produzido na Amrica do Sul.

    Figura 2. Nmero de referncias por pas de origem. Total = 230.

    Artigos cientficos sobre o tema totalizaram 174 (Figura 3), sendo 84% dos

    mesmos publicados nos ltimos dez anos (Figura 4), o que caracteriza o

    desenvolvimento crescente da ecologia de estradas. H uma considervel produo de

    relatrios governamentais nesta rea, compilando informaes, propondo roteiros para

    diagnstico e tomada de deciso no processo de planejamento e construo

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    32/163

    15

    rodovirios. Os organizadores de tais relatrios, normalmente, so pesquisadores com

    produo cientfica expressiva neste campo do conhecimento. Alm disso, nove livros e

    quatro teses ou dissertaes foram consultados.

    Figura 3. Tipos de publicaes consultados. N =230.

    Figura 4. Artigos cientficos consultados, porintervalo quinquenal de publicao. N = 174.

    A bibliografia consultada (Figura 5) abrange estudos de caso (especialmente

    registros de atropelamentos), levantamentos e revises sobre impactos de rodovias,

    metodologias de diagnstico e monitoramento, anlise de medidas mitigadoras,

    propostas de guias de procedimentos e, tambm, duas publicaes sobre o tema na

    mdia impressa brasileira. Mais da metade enfoca grupos animais genricos,

    normalmente vertebrados (Figura 6), e 25,3% especificamente mamferos, restando

    aproximadamente 20% de trabalhos sobre aves, anfbios, rpteis, artrpodes, peixes e

    macroinvertebrados da serapilheira.

    Figura 5. Temas abordados na bibliografiaconsultada. N = 230.

    Figura 6. Grupos animais enfocados na literaturarevisada. N = 230.

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    33/163

    16

    Apesar de frequentemente avaliadas as medidas mitigadoras no contexto das

    publicaes, nem sempre os autores se posicionam conclusivamente e recomendam

    sua adoo. Quando o fazem, aquelas mais difundidas se destacam, tais como a

    utilizao de cercas, bueiros modificados e passagens inferiores e superiores (Figura

    7).

    Figura 7. Medidas mitigadoras recomendadas, conforme bibliografia revisada. N = 89.

    4.2. Guia eletrnico de procedimentos

    O Guia reproduz a estrutura bsica da presente monografia, apresentando

    inicialmente a fundamentao, caracterizao histrica, objetivos e regras

    administrativas e legais do processo de licenciamento ambiental. Contextualizada a

    problemtica, o encaminhamento proposto reproduz a sequncia das etapas do

    processo de licenciamento (Figura 8) cruciais para sua resoluo: diagnosticar a

    relevncia do impacto e consequentemente a dimenso da mitigao necessria;

    identificar entre as solues conhecidas aquela mais adequada ao contexto; e,

    finalmente, avaliar a situao ps-implantao do empreendimento e a eficincia das

    medidas adotadas, dentro da concepo adaptativa do processo, que visa contnua

    melhoria de procedimentos. A fase de instalao do empreendimento enfocadasuperficialmente, visto que no durante esta etapa que se concentram os maiores

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    34/163

    17

    impactos sobre a fauna, abordando-se apenas os procedimentos referentes ao controle

    da implantao das medidas mitigadoras adotadas e eventuais correes especficas

    que podem potencializar a eficincia das mesmas.

    Especial ateno dada ao tpico referente s medidas mitigadoras

    conhecidas, por meio da descrio detalhada das 27 alternativas identificadas por meio

    da presente reviso bibliogrfica, as quais foram distribudas em dois grandes grupos

    de acordo com suas caractersticas bsicas: intervenes estruturais e medidas de

    manejo (usurios e biolgico). Para melhor compreenso, as estruturas fsicas foram

    ilustradas com fotografias e desenhos, sempre que possvel originais, ou ento com os

    devidos crditos autorais claramente especificados.

    Figura 8. Fluxograma do Guia de procedimentos para mitigao dos impactos

    das rodovias sobre a fauna, tendo como base as etapas do processo delicenciamento ambiental.

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    35/163

    18

    O stio eletrnico foi desenhado com uma interface grfica (Figura 9)

    praticamente sem elementos que propiciem a disperso da ateno ou possibilidade de

    sada acidental do domnio de hospedagem. Todos os links externos foram a abertura

    de nova guia de navegao, fazendo com que a pgina principal somente seja

    abandonada de forma consciente pelo usurio. Os links internos ao longo do texto

    foram reduzidos ao mnimo necessrio e restritos s situaes em que o entendimento

    do contedo ser maximizado pela leitura imediata.

    Figura 9. Estrutura grfica do stio eletrnico.

    incentivada a navegao sequencial ao longo do contedo disponibilizado,

    visando que o usurio acompanhe a lgica do processo. Para tanto, alm do menu

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    36/163

    19

    apresentar os itens na ordem proposta, botes de navegao permitem a transio

    automtica para o prximo bloco de contedo, e um mapa de navegao indica

    graficamente, a cada pgina navegada, o estgio do processo em que o usurio se

    encontra.

    As citaes bibliogrficas ao longo de todo o texto direcionam para a pgina

    geral de referncias, na qual o usurio dispe de diversas opes para o acesso ao

    documento: download do arquivo em formato pdf, hospedado no prprio servidor do

    domnio Conecte, quando o contedo de acesso pblico pela rede mundial de

    computadores; endereo DOI (Digital Object Identifier), de carter permanente e nico,

    que possibilita a estabilidade da ligao ao arquivo no domnio da instituio detentora;

    endereo eletrnico do artigo em base de dados integrante do Portal de Peridicos da

    Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES); e endereo

    do stio eletrnico do peridico ou editora.

    4.2.1. Licenciamento ambiental

    A partir da insero na legislao americana da necessidade de se avaliar os

    impactos ambientais das aes governamentais daquele pas, em 1970, com o NEPA

    (National Environmental Policy Act), diversos outros pases adotaram procedimentos

    semelhantes. No Brasil, a obrigatoriedade do licenciamento ambiental para instalao

    de obras ou atividades potencialmente poluidoras ou utilizadoras de recursos naturais

    foi prevista no mbito da Poltica Nacional do Meio Ambiente, lanada em 1981.

    De modo similar ao modelo norte-americano, no qual publicado um Registro

    de Deciso (Record of Decision - ROD) explicando as razes da deciso e

    apresentando as medidas mitigadoras e o programa de monitoramento a ser adotado

    (SNCHEZ 2008), o licenciamento ambiental no Brasil prev a publicidade das diversas

    fases do processo, incluindo a os Pareceres Tcnicos que subsidiam a deciso e as

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    37/163

    20

    Licenas emitidas, nas quais so discriminadas as condicionantes para implantao do

    empreendimento. No plano federal, tanto os estudos ambientais quanto os demais

    documentos do processo de licenciamento podem ser acessados por qualquer

    interessado no stio do IBAMA na Internet (www.ibama.gov.br/licenciamento).

    4.2.1.1. Caractersticas e objetivos

    O licenciamento ambiental definido pela Resoluo CONAMA n 237/1997

    como o "procedimento administrativo pelo qual o rgo ambiental competente licencia

    a localizao, instalao, ampliao e a operao de empreendimentos e atividades

    utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras

    ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradao ambiental". Entre

    estes empreendimentos, encontram-se as rodovias (Resoluo CONAMA n

    001/1986).

    Seus objetivos so disciplinar o acesso e uso dos recursos naturais e prevenir

    danos ambientais. Assume normalmente carter preventivo (SNCHEZ 2008), mas pode

    assumir carter corretivo quando da identificao de impactos na fase de operao dos

    empreendimentos, por ocasio de sua ampliao ou nos processos de regularizao

    ambiental daqueles instalados previamente legislao, como a maior parte das

    rodovias brasileiras.

    uma atribuio do Estado, por meio das limitaes que pode impor ao direito

    individual em nome do direito coletivo (poder de polcia), analisar a viabilidade

    ambiental de um empreendimento e conceder ou no a Licena Ambiental. A definio

    da esfera de competncia da anlise (federal, estadual ou municipal), as etapas a

    serem seguidas e o contedo mnimo a ser abordado so regulamentados, no plano

    federal, por Leis, Decretos, Resolues do Conselho Nacional do Meio Ambiente

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    38/163

    21

    (CONAMA), Portarias e Instrues Normativas do Ministrio do Meio Ambiente (MMA)

    e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis

    (IBAMA). As principais normas se encontram reunidas no item 4.2.1.3. Base Legal.

    A avaliao da viabilidade ambiental de uma dada obra ou atividade baseada

    na previso de seus impactos e anlise da sua importncia socioeconmica. Ao definir

    a viabilidade, o rgo ambiental estabelece como sero neutralizados ou minimizados

    os impactos negativos e compensados os danos inevitveis (Figura 10). A

    compensao ambiental uma obrigao prevista na Lei n 9.985/2000 (Lei do

    Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza), sendo calculada

    conforme metodologia regulamentada pelo Decreto Federal n 4.340/2002 e podendo

    atingir at 0,5% do valor de referncia do empreendimento. A lgica do processo de

    licenciamento similar quela utilizada nos pases desenvolvidos do hemisfrio Norte

    (BANK et al.2002).

    Figura 10. Representao esquemtica das alternativas existentes no contextodo licenciamento ambiental, quando verificada a viabilidade ambiental de umaobra: a) impacto causado pela rodovia (fragmentao do hbitat), b)neutralizao do impacto potencial pela alterao do traado, c) mitigao doimpacto por meio da implantao de estruturas de passagem de fauna e d)compensao por meio da destinao de hbitat equivalente para fins de

    conservao. Adaptado de (IUELL et al.2003).

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    39/163

    22

    4.2.1.2. Etapas

    Trs tipos de Licenas so previstas pelo Art. 19 do Decreto Federal n

    99.274/1990: a Licena Prvia (LP), na fase preliminar do planejamento da atividade,

    contendo requisitos bsicos a serem atendidos nas fases de localizao, instalao e

    operao; a Licena de Instalao (LI), autorizando o incio das obras de implantao,

    de acordo com as especificaes constantes no Projeto de Engenharia aprovado; e a

    Licena de Operao (LO), autorizando, aps as verificaes necessrias, o incio da

    atividade licenciada e o funcionamento de seus dispositivos de controle, previstos nas

    Licenas Prvia e de Instalao. Para obteno destas Licenas, o empreendedor (no

    Brasil, geralmente o rgo responsvel pelo sistema virio federal - DNIT, ou os rgos

    estaduais correspondentes) as solicita sequencialmente ao rgo ambiental

    competente (IBAMA ou rgos estaduais correspondentes) e segue a tramitao

    especfica definida pelo mesmo. Apesar de variarem em aspectos secundrios, as

    etapas seguem basicamente o fluxo de procedimentos apresentado na Figura 11,

    adotado pelo IBAMA.

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    40/163

    23

    Figura 11. Fluxo de procedimentos no Licenciamento Ambiental Federal.

    Em relao s etapas numeradas na Figura 11, podem ser realizadas as

    seguintes observaes:

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    41/163

    24

    1. A solicitao de abertura do processo feita por meio do preenchimento do

    Formulrio de Solicitao de Abertura de Processo - FAP, diretamente no stio do

    rgo na Internet, incluindo a caracterizao do empreendimento.

    2. O IBAMA formaliza a abertura do processo de Licenciamento e encaminha o

    respectivo nmero ao empreendedor, em meio eletrnico, em um prazo mximo de 10

    dias.

    3. O Termo de Referncia (TR) define o escopo dos Estudos ambientais. Para

    sua elaborao, pode ser necessria apresentao do projeto por parte do

    empreendedor e realizao de vistoria rea proposta para implantao. Os rgos

    federais intervenientes (FUNAI, IPHAN e Fundao Cultural Palmares) e os rgos

    Estaduais de Meio Ambiente (OEMAs) so consultados para apresentao de

    contribuies ao TR. O TR deve ser encaminhado ao empreendedor em um prazo

    mximo de 60 dias aps a abertura do processo.

    4. O Estudo ambiental realizado por equipe tcnica multidisciplinar contratadapelo empreendedor. Aps o recebimento do TR, o Estudo deve ser entregue ao rgo

    ambiental em um prazo mximo de 2 (dois) anos, sob pena de perda de validade do

    TR.

    5. A conferncia dos Estudos apresentados (check-list) realizada para

    verificar se todos os tpicos previstos no TR foram abordados. O rgo ambiental tem

    um prazo de 30 dias para realizar esta conferncia. No sendo aceitos, realizada a

    devoluo dos Estudos para adequao ao TR, com a devida publicao do Edital de

    Devoluo no Dirio Oficial da Unio.

    6. A anlise tcnica dos Estudos realizada por equipe multidisciplinar de

    analistas do rgo ambiental. Geralmente so realizadas vistorias para conferir os

    dados apresentados e subsidiar a elaborao de Parecer Tcnico conclusivo. O prazo

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    42/163

    25

    de anlise de 180 dias (IN IBAMA n 184/2008). Caso seja constatada deficincia em

    algum tpico do estudo, so solicitadas complementaes ao empreendedor, ficando

    suspensa a contagem do prazo de anlise at que as mesmas sejam apresentadas. Os

    rgos federais intervenientes (FUNAI, IPHAN e Fundao Cultural Palmares) e os

    rgos Estaduais de Meio Ambiente (OEMAs) so consultados para se manifestarem

    quanto ao teor dos Estudos.

    7. Aps emisso de Parecer Tcnico conclusivo que indique sua viabilidade, o

    rgo ambiental emite a Licena Prvia, especificando o perodo de validade,

    localizao, caractersticas e medidas mitigadoras referentes aos impactos

    identificados. Sua validade deve ser no mnimo igual do cronograma de elaborao

    do PBA e dos Projetos relativos ao empreendimento, no podendo ser superior a 5

    anos.

    8. O Projeto Bsico Ambiental contm os Programas Ambientais, os quais

    detalham as aes mitigadoras e de monitoramento. Alm dele e do Projeto de

    Engenharia, o empreendedor deve apresentar o Plano de Compensao Ambiental

    para ter analisado seu requerimento de Licena de Instalao.

    9. A anlise tcnica dos Projetos realizada por equipe multidisciplinar de

    analistas do rgo ambiental. O PBA tambm encaminhado aos rgos

    intervenientes para manifestao. O prazo mximo para anlise de 75 dias.

    10. A Licena de Instalao autoriza a execuo das obras conforme

    especificaes do Projeto Executivo e condicionadas execuo do Projeto Bsico

    Ambiental. A anlise destes itens deve constar de Parecer Tcnico conclusivo do rgo

    ambiental, que subsidiar a deciso de emitir a Licena. Sua validade deve ser no

    mnimo igual ao cronograma de implantao, com um limite de 6 anos.

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    43/163

    26

    11. O empreendedor responsvel pela execuo do PBA conforme aprovado

    no processo de licenciamento.

    12. O empreendedor apresenta relatrios parciais e final referentes execuo

    do PBA.

    13. O rgo ambiental realiza vistorias e analisa os relatrios referentes

    execuo do PBA. O prazo para anlise do relatrio final e elaborao de Parecer para

    a Licena de Operao de 45 dias.

    14. A Licena de Operao especifica as condies de funcionamento e

    estabelece Programas Ambientais de mitigao e monitoramento a serem executados

    na fase de operao da rodovia. Sua emisso tambm est associada anlise

    constante de Parecer Tcnico conclusivo. Pode ter validade entre 4 e 10 anos,

    15. O empreendedor deve executar os Programas Ambientais integrantes do

    PBA conforme aprovado no processo de licenciamento.

    16. O empreendedor deve apresentar periodicamente relatrios referentes

    execuo do PBA.

    17. O rgo ambiental deve avaliar criticamente os resultados dos Programas

    Ambientais e das medidas mitigadoras implementadas.

    18. Baseado nos resultados observados so propostas adequaes aos

    Programas Ambientais e estrutura do empreendimento.

    19. A Renovao da Licena de Operao especifica as condies de

    funcionamento e redefine os Programas Ambientais de mitigao e monitoramento a

    serem executados no prximo perodo de operao da rodovia.

    20. O empreendedor deve executar os Programas Ambientais integrantes do

    PBA conforme aprovados no processo de renovao da LO.

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    44/163

    27

    21. O empreendedor deve apresentar periodicamente relatrios referentes

    execuo do PBA.

    4.2.1.3. Base legal

    A Lei Federal n 6.938/1981 (Poltica Nacional do Meio Ambiente) foi

    regulamentada pelo Decreto Federal n 99.274/1990. Este, seguindo a determinao

    do Artigo 225 da Constituio Federal de 1988, prev a realizao de estudos prvios

    de impacto ambiental e apresenta seu escopo, que inclui o diagnstico ambiental da

    rea, a descrio do projeto e suas alternativas e a identificao, anlise e previso

    dos impactos significativos, positivos e negativos. A Resoluo CONAMA n 01/1986

    detalha a abrangncia dos estudos, acrescentando a necessidade de abordarem as

    medidas mitigadoras dos impactos negativos e preverem um Programa de

    acompanhamento e monitoramento dos impactos. Esta mesma Resoluo determina

    que a construo de estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento deveser precedida da elaborao de estudo de impacto ambiental.

    No mbito federal, o fluxo detalhado de procedimentos determinado pela

    Instruo Normativa IBAMA n 184/2008, de 17/07/2008. Portarias dos Ministrios do

    Meio Ambiente e dos Transportes editadas em 2011 definem os procedimentos

    especficos para o licenciamento ambiental de rodovias e regularizao da malha

    rodoviria federal j implantada.

    As principais normas legais federais a serem seguidas no licenciamento

    ambiental, acrescidas daquelas especficas ao licenciamento de rodovias, so

    apresentadas na Tabela 1.

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    45/163

    28

    Tabela 1. Principais normas legais federais do licenciamento ambiental.

    Referncia Legal Data Assunto

    Lei Federal n 6.938/81 31/08/1981 Dispe sobre a Poltica Nacional do Meio Ambiente.

    Resoluo CONAMA n001/86

    23/01/1986Dispe sobre critrios bsicos e diretrizes gerais para aavaliao de impacto ambiental.

    Resoluo CONAMA n006/86

    24/01/1986Dispe sobre a aprovao de modelos para publicaode pedidos de licenciamento.

    Resoluo CONAMA n009/87

    03/12/1987Dispe sobre a realizao de Audincias Pblicas noprocesso de licenciamento.

    Constituio Federal 05/10/1988 Captulo VI: Do Meio Ambiente.

    Decreto Federal 99.274/90 06/06/1990Regulamenta a Lei Federal n 6.938/81, que dispesobre a Poltica Nacional do Meio Ambiente.

    Resoluo CONAMA n237/97

    22/12/1997Dispe sobre a reviso e complementao dosprocedimentos e critrios utilizados para o

    licenciamento.

    Lei Federal n 9.985/00 18/07/2000Institui o Sistema Nacional de Unidades deConservao da Natureza (SNUC) e prev acompensao ambiental.

    Resoluo CONAMA n281/01

    12/07/2001Dispe sobre modelos de publicao de pedidos delicenciamento.

    Resoluo CONAMA n303/02

    20/03/2002Dispe sobre parmetros, definies e limites de reasde Preservao Permanente.

    Decreto Federal n 4.340/02 22/08/2002Regulamenta artigos da Lei do SNUC e compensaoambiental.

    Instruo Normativa IBAMAn 183/08

    17/07/2008Cria o Sistema Informatizado do LicenciamentoAmbiental - SisLic, no mbito do IBAMA.

    Instruo Normativa IBAMAn 184/08

    17/07/2008Estabelece os procedimentos para o licenciamentoambiental federal.

    Decreto Federal n 6.848/09 14/05/2009Altera e acrescenta dispositivos ao Decreto Federal n4.340/02, para regulamentar a compensao ambiental.

    Resoluo CONAMA n428/10

    17/12/2010Dispe sobre a autorizao do rgo responsvel pelaadministrao da Unidade de Conservao (UC) nombito dos processos de licenciamento.

    Instruo Normativa IBAMAN 8/11 14/07/2011 Regulamenta, no mbito do IBAMA, o procedimento daCompensao Ambiental.

    Portaria Interministerial n419/11

    26/10/2011Regulamenta a atuao dos rgos e entidades daAdministrao Pblica Federal envolvidos nolicenciamento.

    Portaria MMA n 420/11 26/10/2011Dispe sobre procedimentos a serem aplicados peloIBAMA na regularizao e no licenciamento ambientaldas rodovias federais.

    Portaria Interministerial n423/11

    26/10/2011Institui o Programa de Rodovias FederaisAmbientalmente Sustentveis para a regularizaoambiental das rodovias federais.

    Lei Complementar n 140/11 08/12/2011Fixa normas para competncia do licenciamentoambiental, entre outras providncias.

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    46/163

    29

    4.2.2. Avaliao de Impact o Ambient al (A IA)

    A Lei Federal n 12.379/2011 dispe sobre o Sistema Nacional de Viao

    (SNV) brasileiro e estabelece como objetivos deste I - assegurar a unidade nacional e

    a integrao regional; II - garantir a malha viria estratgica necessria segurana do

    territrio nacional; III - promover a integrao fsica com os sistemas virios dos pases

    limtrofes; IV - atender aos grandes fluxos de mercadorias em regime de eficincia, por

    meio de corredores estratgicos de exportao e abastecimento; e V - prover meios e

    facilidades para o transporte de passageiros e cargas, em mbito interestadual e

    internacional. Prev em seu artigo 11 que A implantao de componente do SNV ser

    precedida da elaborao do respectivo projeto de engenharia e da obteno das

    devidas licenas ambientais. Os Ministrios dos Transportes e da Defesa elaboram o

    Plano Nacional de Logstica e Transportes (PNLT), que subsidia a definio estratgica

    das polticas do setor. Portanto, ao ter incio o processo de licenciamento ambiental de

    uma ligao rodoviria, instncias superiores de poder e representativas da sociedade

    definiram que a mesma necessria, assim como o modal de transporte.

    Cabe ao rgo ambiental analisar a viabilidade ambiental da mesma,

    observadas as alternativas locacionais e tecnolgicas para sua implantao. Como

    alternativas locacionais, entendem-se as opes de traado entre os pontos A e B,

    passando eventualmente pelos pontos X e Y, se definidos como finalsticos do projeto.

    Como alternativas tecnolgicas, pode-se considerar o tipo de pavimento e de obras-de-

    arte (tneis, viadutos, pontes, elevadas, etc), por exemplo. Para a definio da

    viabilidade ambiental do empreendimento, o rgo ambiental deve dispor de dados

    suficientes para avaliar se sua implantao, sob determinadas condies, no

    provocar danos em dimenses tais que comprometam a preservao dos processos

    ecolgicos, conforme o Artigo n 225 da Constituio Federal. Dificilmente uma rodoviacausar danos tais que comprometam a preservao de um processo ecolgico em

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    47/163

    30

    escala nacional, dadas as dimenses continentais de um pas como o Brasil.

    Entretanto, a cumulatividade e sinergia dos empreendimentos que compem a malha

    viria tambm deve ser considerada, assim como as presses de desenvolvimento

    regional e consequente ocupao do solo por ela estimuladas. O diagnstico dos meios

    fsico, bitico e socioeconmico fundamenta o prognstico dos impactos causados por

    sua implantao, em um processo conhecido como Avaliao de Impacto Ambiental.

    Se vislumbradas alternativas tecnolgicas e locacionais que permitam a instalao do

    empreendimento com impactos que no comprometam a preservao dos processos

    ecolgicos na escala considerada, o empreendimento pode ser considerado

    ambientalmente vivel. A avaliao quanto dimenso dos danos ambientais

    provocados pelo empreendimento e que no so mitigveis, mas ainda assim no

    comprometem sua viabilidade ambiental, realizada conforme metodologia prevista no

    Decreto Federal n 6.848/2009, com fins de clculo da compensao ambiental

    prevista pelo Artigo 36 da Lei Federal n 9.985/2000 (Lei do Sistema Nacional de

    Unidades de Conservao). A definio de alternativas locacionais que minimizem ou

    previnam danos tambm realizada com base no diagnstico prvio, considerando os

    diversos fatores envolvidos (biolgico, fsico, social e econmico). A presente anlise

    se foca na avaliao das dimenses dos impactos sobre a fauna e as alternativas

    tcnicas conhecidas para mitig-las, pressupondo que a adoo das mesmas ser

    suficiente para garantir a viabilidade do empreendimento no que se refere a esteaspecto.

    Dentre as diversas definies de Impacto Ambiental, aquela adotada por

    WATHERN (1988apudSNCHEZ 2008), que incorpora o carter dinmico dos processos

    no meio ambiente parece ser a mais adequada e realista, visto que no considera

    apenas a relao entre a situao antes e aps a instalao do empreendimento, mas

    tambm a evoluo prevista da qualidade ambiental da rea afetada: "A mudana em

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    48/163

    31

    um parmetro ambiental, num determinado perodo e numa determinada rea, que

    resulta de uma dada atividade, comparada com a situao que ocorreria, se essa

    atividade no tivesse sido iniciada". No caso especfico da relao entre as rodovias e

    a fauna, esta noo particularmente importante, pois ainda que se constate um

    impacto negativo considerado significativo no presente, dados os elevados custos de

    implantao de muitas das medidas mitigadoras e os limitados recursos, essencial

    que se considere no processo de seleo das reas prioritrias para mitigao aquelas

    que potencialmente tm maior probabilidade de, no futuro, continuarem sendo

    ecologicamente importantes. Exemplificando, o restabelecimento de conectividade

    entre dois fragmentos que tm grande chance de serem eliminados em reduzido

    espao de tempo, seja pela converso em reas agropecurias ou pela urbanizao,

    representa um investimento com discutvel custo-benefcio se comparada com a

    manuteno da conectividade entre fragmentos com boa possibilidade de conservao,

    ainda que com indicadores de atropelamentos no to marcantes como na primeira

    situao. A combinao de fatores como a importncia da rea, sua perspectiva de

    manuteno futura e dimenso do impacto previsto devem ser elementos centrais na

    anlise e definio da mitigao dos danos.

    Conceitualmente, tambm importante que se tenha a clareza que a rodovia

    em si, no configura um impacto ambiental; ela deve ser considerada como a causa,

    mas os impactos so efetivamente os resultados da ao humana, no caso, sua

    construo e operao (SNCHEZ 2008). Da mesma forma, as definies de "Aspecto

    Ambiental", introduzida pelas normas da srie ISO 14.000 e abrangida pela NBR ISO

    14.001:2004, e "Efeito ambiental", conforme proposta por um dos pioneiros no campo

    da AIA, MUNN (1975 apud SNCHEZ 2008), distinguem-se de Impacto Ambiental.

    Aspecto ou Efeito ambiental pode ser definido como a alterao de um processo

    natural ou social decorrente de uma ao humana. Assim, temos que o

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    49/163

    32

    empreendimento rodovia, ocasiona o efeito ambiental trfegoe, em consequncia, o

    impacto ambiental mortalidade de fauna. Nesta lgica, os efeitos ambientais

    representam a interface entre as causas (aes humanas) e as consequncias

    (impactos ambientais) (SNCHEZ 2008).

    A Avaliao de Impacto Ambiental um elemento do processo de tomada de

    deciso, portanto deve ser realizada previamente instalao do empreendimento. Em

    determinadas situaes, entretanto, pode ser desejvel que os impactos de uma

    atividade j em operao tenha seus impactos ambientais dimensionados, como uma

    rodovia existente, por exemplo. Neste caso, a nomenclatura recomendada para a

    identificao dos impactos Avaliao de Danos Ambientais, diferenciando-se da

    anterior, pois ao invs de projetar impactos futuros, avalia a situao atual em relao

    quela que se supe existia no passado. Em ambos os casos, entretanto, a

    caracterizao das condies ambientais no presente denominada Diagnstico

    Ambiental (SNCHEZ 2008), e integra o escopo dos estudos ambientais necessrios ao

    licenciamento. Uma proposio de contedo mnimo para que o diagnstico seja

    efetivo para subsidiar a tomada de deciso consta do item 4.2.2.2do presente trabalho.

    Na elaborao dos estudos ambientais, os tcnicos devem ser capazes de prognosticar

    os impactos do projeto virio no cenrio ambiental, propor alteraes no traado que

    venham a evit-los e medidas mitigadoras para minimizar sua dimenso.

    4.2.2.1. Projeto virio

    Quatro contextos abrangem a maioria das situaes relativas ao licenciamento

    ambiental de obras virias: a) implantao de uma nova rodovia, b) pavimentao de

    estradas j existentes, c) ampliao da capacidade por meio da implantao de pistas

    adicionais quelas j pavimentadas e d) regularizao ambiental de rodovias j

  • 7/25/2019 a mitigao dos impactos de rodovias sobre a fauna - um guia de procedimentos.pdf

    50/163

    33

    implantadas (Figura 12). A viabilidade de interveno no mbito de um processo de

    licenciamento ambiental varia consideravelmente dependendo da situao, pois fatores

    como os custos de implantao, funcionalidade do trfego e caractersticas

    socioeconmicas j estabilizadas no entorno de um traado existente dificultam a

    adoo de traados alternativos. A maior oportunidade de se minimizar os impactos se

    apresenta quando da implantao de uma nova rodovia, pois por ocasio da definio

    de seu traado podem ser evitadas as reas ecologicamente mais sensveis, em

    termos de estado de conservao e extenso da cobertura vegetal (CALTRANS2009).

    Isto deve ser feito a partir de um diagnstico dos meios fsico e bitico, incluindo a

    caracterizao da situao de conservao da regio e a anlise cartogrfica destes

    fatores, verificao da possibilidade de utilizao de corredores multiuso (rodovias e

    transmisso de energia, por exemplo), avaliao dos impactos ambientais e finalmente

    seleo da alternativa menos impactante entre aquelas existentes (BANK et al.2002).

    Figura 12. Representao esquemtica dos tipos de interveno usualmente verificados nolicenciamento de obras rodovirias: a-a= implantao (antes e depois); b-b = pavimentao (antes edepois);