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FACULDADE EVANGÉLICA DE CURITIBA CURSO DE TEOLOGIA José Carlos Cruqui A MISSÃO DO POVO DE DEUS CURITIBA 2015

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uma reflexão da missão da Igreja hoje.

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FACULDADE EVANGLICA DE CURITIBACURSO DE TEOLOGIA

Jos Carlos Cruqui

A MISSO DO POVO DE DEUS

CURITIBA2015

FACULDADE EVANGLICA DE CURITIBACURSO DE TEOLOGIA

Jos Carlos Cruqui

A MISSO DO POVO DE DEUS

Artigo apresentando como trabalho de concluso de curso a Faculdade Evanglica do Paran, como requisito para obteno do grau de bacharel em Teologia, sob orientao do professor Dr. Agemir de Carvalho Dias.

CURITIBA2015

A MISSO DO POVO DE DEUS

Jos Carlos CRUQUI[footnoteRef:1] [1: Estudante do curso de Teologia na FEPAR- Faculdade Evanglica do Paran.]

Resumo: O presente artigo prope uma sntese do que vem a ser a misso do povo de Deus, afim de que provoque uma reflexo e a ampliao sobre o tema, sendo este um assunto de extensa abrangncia seria pretenso exagerada querer esgotar o presente assunto nesse momento, o que apresentamos a seguir so reflexes sobre a Prxis da Igreja de Cristo na terra, o que escrevemos possu sim a pretenso de despertar uma anlise pessoal sobre nossas prticas crists, e nossas responsabilidades enquanto filhos de Deus.

Palavras-chave: misso, igreja, evangelho, integral, graa

IntroduoA ideia inicial em abordar este assunto, surgiu da preocupao com o rumo que a igreja de Cristo esta tomando, tendo a impresso de que a preocupao dos lideres de igreja est em construir e construir, e pouco se faz em termos de evangelho. Percebemos tambm que as igrejas esto tornando-se mega-shoppings da f, ainda que sejam espaos pblicos parecem estar privatizando a f. Tambm fomos inspirados por pensamentos encontrados no clssico romance do pensamento do evangelho social: Em Seus Passos Que Faria Jesus. Parece-me que muita desgraa deste mundo de algum modo acabaria se todas as pessoas que cantam esses hinos vivessem de acordo com eles. Bem, no entendo dessas coisas. Mas, o que faria Jesus? isso que vocs entendem por seguir os passos de Jesus? Observo, s vezes, que as pessoas que vo s grandes igrejas tm roupas bonitas, belas casas e dinheiro para gastar com luxo, frias de vero e muitas outras coisas, enquanto os que esto fora das igrejas, milhares deles, morrem em cubculos srdidos e andam pelas ruas procura de trabalho, e nunca tm um piano ou um quadro na parede, vivendo na misria, na embriaguez e no pecado." (SHELDON, 1998, p.11) Ento no presente artigo iremos nos preocupar com a questo da misso da igreja, vamos abordar qual seria a misso da igreja hoje, dentro desse novo anseio teolgico e social, buscaremos trilhar por caminhos j trilhados sem a pretenso de desbravar novos caminhos, pois acreditamos que o tema torna-se ainda hoje relevante e no se esgotou, um tema recorrente hoje mesmo que j tenha sido alvo de preocupao de diversos movimentos. Dentre os movimentos que surgiram com a preocupao teolgica do envolvimento da igreja em causas sociais, ressaltam-se os movimentos de Lausane, ISAL (Igreja e Sociedade na Amrica Latina), Teologia da libertao e Evangelho social, esses movimentos mostravam a importncia da prtica social da igreja, e da necessidade do envolvimento social da igreja de Cristo.Sabendo que esses movimentos eram respostas a um novo fazer teolgico, provocado por revolues. Conforme Clovis Pinto de Castro (2000, p.107,108) nossa experincia de f atualmente marcada pelo mundo dos ps; ps-modernidade, ps-marxismo, ps-socialismo, ps-industrialismo, ps-confessional, um mundo de desconfianas, e pouca crena no futuro, seria um mundo fragmentado e sem tradies, e marcado pelo subjetivismo, um tempo propcio para se viver de forma hedonista e niilista, portanto uma poca de grande desafio a f, e no apenas f como um sistema de crena, mas uma prxis.1 - O povo de Deus e a sua misso.Afinal de contas quem o povo de Deus? E qual a sua misso? De que povo estamos falando? Em seu livro a misso do povo de Deus, Chistopher J. H. Wrigth nos diz que temos que pensar de forma abrangente sobre quem o povo de Deus, menciona que o povo de Deus na Bblia deve ser considerado de forma a abranger a Bblia toda, e no apenas o novo testamento porque s vezes pensamos em povo de Deus a partir do novo testamento.Quantos sermes voc j ouviu num domingo missionrio, num texto do Antigo Testamento? Se voc pastor, quantas vezes voc mesmo j pregou um sermo missionrio usando o Antigo Testamento? [...] Assim precisamos pensar cuidadosamente sobre o que a Bblia inteira tem a dizer sobre quem exatamente o povo de Deus e em que sentido ele (e sempre tem sido ) um povo com uma misso.(WRIGTH, 2012, p. 36).Isto nos faz pensar que o povo de Deus vai muito alm de um povo de uma nica etnia ou regio. Tomando a Bblia como instrumento utilizado por Deus para revelar-se a seu povo, ento usando est lgica devemos considerar como povo de Deus o povo que vem dessa descrio.Alguns tendem a pensar em povo de Deus de uma forma ecumnica, de forma abrangente, onde se inclui no apenas o Deus da bblia, porm outras formas deuses, presentes em outras manifestaes religiosas, porm essa forma ecumnica de pensar em misso do povo de Deus uma forma recente que refutada por William Roger Le Roy, em sua obra: Qual o rumo da Igreja? Ele questiona sobre essa misso e rumo da Igreja? Porm ainda que refute a ideia de misso ecumnica da igreja devemos pensar em misso da Igreja de uma forma que abranja a todos, tendo o dilogo como ponto de contato e equilbrio para a execuo da teologia ecumnica, sendo a humanidade um ponto comum entre todos.A teologia ecumnica ensina que devemos partilhar a nossa humanidade comum e a sua dignidade. Devemos ainda expressar nossa preocupao por essa humanidade. No dilogo o cristo deve estar pronto a ouvir e a mudar. o caminho da abertura para os outros do encontro pessoal. No dilogo o Cristo e o no Cristo procuram encontrar o significado da vida com base em sua humanidade comum. (Le ROY, 1983, p. 51)

Le Roy, refuta essa ideia de misso segundo o pensamento ecumnico, e acusa a secularizao como um novo conceito que surgia em seus dias como um dos responsveis pela no aceitao dessa ideia ecumnica de misso.

H hoje em dia um novo conceito missionrio baseado na teologia da secularizao. Esta includa no uso ecumnico do termo misso. Encoraja a pressuposio da teologia da morte de Deus; a prpria humanidade pode resolver sua prpria historia, sem a interveno transcendental de Deus e sem nenhuma referncia direta a ele...Convocamos todas as Igrejas que crem na Bblia e que se encontram espalhadas por todo o mundo a que repudiem a teologia secular ecumnica de misso conforme promovida pelo Conclio Mundial das Igrejas e suas agncias e afins no mundo de hoje (Le ROY, 1983, p. 52, 54).

Esse pensamento de Le ROY, nos faz questionar se o mesmo no precipitou-se em combater esse pensamento ecumnico, refutando ainda que no intencionalmente a ideia de misso integral da Igreja. Conforme Pedro Arana Quiroz, no livro organizado por Ren Padilha e Pricles Couto, o povo de Deus um povo que serve, um povo chamado para servir, tanto o povo de Israel da antiga aliana e o novo Israel de Deus em Cristo, a relao de pacto com Deus encontram-se em ambos os testamentos, essa viso de uma comunidade de Servos vista tanto no antigo testamento como no novo. E a figura de corpo de Cristo para a igreja a representao da ligao da comunidade e a comunicao do corpo com o exterior o papel da igreja, comunicar-se com o exterior. O corpo um meio de comunicao com o mundo exterior. Para revelar a vontade de Deus na terra, Cristo assumiu um corpo (Hb 10:5-9). Dizer que somos corpo de Cristo implica em dizer que a Igreja o lugar em que se revela a vontade de Deus, onde se manifesta a vida de Cristo em palavras e aes, onde se evidencia a presena do Espirito e suas obras poderosas. A imagem de corpo de Cristo significa que a Igreja deve ser portadora da voz de Cristo, e de suas mos que saram, de seus ps diligentes, tambm de seu carter marcado pelo amor. Ele escolheu trabalhar por meio dela e lhe delegou a mensagem, o poder e o estilo de misso que recebeu do Pai (Jo 20:21; Lc 10:16; Mt 18.18).(QUIROZ org. COUTO e PADILHA, 2009, p. 149).

Surge-nos uma questo: O carter da misso da Igreja hoje? Pedro Arana Quiroz nos prope pensar em misso da Igreja atravs de uma perspectiva trinitria, observando a Igreja como Povo de Deus, Corpo de Cristo e Comunidade do Espirito. Como povo de Deus, lembramos que sendo a Igreja o povo de Deus, esta aqui como representante do Divino, e assim como o povo do antigo testamento era um povo que testemunha de seu Deus, assim o deve ser a Igreja em seu contexto. Quando observamos a igreja enquanto corpo de Cristo nos ressalta a funo da interao do corpo com o meio, logo a Igreja enquanto corpo de Cristo deve dialogar com o seu meio e com o tempo ao qual est inserida. Quando chegamos na ideia de Igreja como Comunidade do Espirito, preocupa-nos pois sendo a comunidade guiada pelo Espirito de Deus, cheia dele, h em ns uma cobrana para esperar uma Igreja bem orientada em seu caminho, e sem desvios em sua misso, a Igreja como comunidade do Espirito tem como funo, segundo Pedro Arana Quiroz congregar a todos:A igreja a comunidade que tanto os estranhos como os estrangeiros so bem vindos, onde o poder empregado para servir e no para ser servido, porque a vida no Espirito no significa dominao, nem acumulao, mas autoentrega por causa do bem comum [...] a igreja assim um sinal do Reino de Deus. (QUIROZ org. COUTO e PADILHA, 2009, p. 151). Le Roy em sua obra levanta questionamentos sobre a essncia e a dimenso do evangelho que devemos pregar, e estas questes nos levam a refletir sobre a misso da Igreja, em sua concluso notamos que a dimenso horizontal do evangelho marcada pela experincia obtida numa dimenso vertical, ento o relacionamento do Cristo com o meio em que se encontra um reflexo do seu relacionamento com o Deus amoroso e bom das escrituras.Qual a essncia do evangelho que devemos pregar? vertical ou horizontal, teolgica ou sociolgica, kerygma ou diakonia? [...] ou ser que o nosso dever demonstrar um tipo especial de preocupao social chamada de diakonia (servio) no novo testamento? [...] Afirmamos que a dimenso horizontal do dever cristo no igual, nem superior, dimenso vertical. uma consequncia necessria de nossa experincia espiritual em Cristo atravs do relacionamento vertical (Le ROY, 1983, p. 50)2 - O que no misso do povo de DeusQuerendo lanar luz nessa discusso, para entender e pensar sobre o assunto, vamos refletir inicialmente naquilo que no a misso, para que possamos enxergar de maneira mais clara aquilo que portanto ela pode ser, tendo esta dialtica em mente observaremos que a misso do povo de Deus vai alm das paredes e muros da Igreja, vai alm de uma reunio missionria, e vai alm de uma fala sobre o evangelho de Cristo.a) A primeira misso que encontramos para a igreja IR, mediante ao termo at aos confins da terra (Atos 1.8), entendemos que h lugares onde a igreja precisar realizar a atividade de IR, sob a orientao e virtude do Espirito Santo, e no somente esperar que venham a ela. O evangelho no deve ser anunciado somente no contexto da Igreja preciso que a Igreja v de encontro aos necessitados no apenas espirituais. Pois o evangelho tambm buscar os que esto cados a beira do caminho. A misso da Igreja no anunciar o evangelho de uma forma parcial, ele deve ser integral, observando o homem em todos os seus aspectos, sociais e espirituais. Conforme observado por PADILHA (2009, p. 21,22), a misso integral o meio designado por Deus para cumprir na histria, por meio da igreja e no poder do Espirito, seu propsito de amor e justia revelado em Jesus Cristo.

b) A misso da Igreja no apenas fazer proselitismo, a preocupao ltima da Igreja no deve ser apenas crescimento em termos numricos, essa onda de crescimento tem levado algumas igrejas a negociarem princpios e abandonarem a qualidade em prol da quantidade, vivemos o perodo das mega-igrejas. Esse desejo por crescimento exagerado apontado por Ricardo Barbosa de Souza, no portal Cristianismo Hoje, como sendo um risco invisvel, porm muito grande, sendo inclusive um risco de perder a identidade como povo de Deus, em uma esfera pblica, tornando-se privado.O outro perigo a perda da conscincia de ser povo de Deus, Corpo de Jesus Cristo. Algumas igrejas que crescem rapidamente atraem uma quantidade considervel de cristos frustrados com suas igrejas de origem, que ali chegam como a ltima alternativa institucional de sua jornada crist. Envolvem-se com paixo, adquirindo uma forte identidade com aquele grupo em particular. O problema que no so mais capazes de se verem como parte do povo de Deus em uma determinada regio ou cidade, mas apenas como povo de Deus de uma igreja particular. a negao do "povo de Deus" e a afirmao perigosa de uma elite religiosa superior.(SOUZA, 2013)

Um texto de Brian Maclaren, citado por Rene Padilha, tambm nos mostra de forma impactante, que a misso da igreja vai alm do consumismo evanglico, que percebemos em nossos dias, onde as mega igrejas tornaram-se em um clube de encontros ou apenas um local de consumo.Para Cristo, seus chamados (que na realidade o que significa igreja) seriam tambm seus enviados [ou missionrios]. Segundo esta viso da igreja, no recrutamos pessoas para que sejam clientes de nossos produtos ou consumidores de nossos programas religiosos; ns as recrutamos para que sejam colegas em nossa misso. A igreja no existe para satisfazer s demandas de crentes consumidores; ela existe para equipar e mobilizar homens e mulheres para a misso de Deus no mundo. (PADILHA, 2009, p.19)

c) Tambm no misso da Igreja anunciar o evangelho com o interesse em lucrar, hoje o que notamos muitas vezes a mercantilizao utilizando o evangelho com o interesse financeiro, e este nunca foi o propsito da Igreja de Cristo.As Igrejas Neo Pentecostais so mencionadas como praticantes desse mercantilismo, para isso usam a teologia da prosperidade, segundo Ricardo Mariano (1999, p.147), a teologia da prosperidade tem trazido o celeste porvir, pelo presente terrestre.Temos presenciado as mais loucas e estranhas invenes e manobras mais absurdas em nome de Deus para se arrecadar cada vez mais. Chegando ao ponto de criarem novos percentuais para o Dzimo, atribuindo-lhes percentuais que extrapolam os 10% tradicionalmente aceitos. Conforme Mariano, j houve casos em algumas igrejas que foram cobrados 30% de dzimos:No obstante pastores da Universal em Belo Horizonte terem inovado em matria de dzimo cobrado 30%, 10% pelo Pai, 10% pelo Filho e 10% pelo Esprito Santo, ele fixo e d muito pouca margem a manobras, restando aos intermedirios de Deus na terra insistir, para o bem do crente e para a expanso do Evangelho, na importncia da fidelidade e de seu pontual pagamento. J no caso das ofertas, a coisa bem diferente. Nesse terreno pode ser observada toda a inventividade dos pastores em criar formas e mtodos para arrecadar ofertas em volumes crescentes. (MARIANO, 1999, p.37)3 - Mas qual seria ento a misso da Igreja? Cremos que Deus no cria nada sem propsitos e tudo que faz imensamente bom e com destino certo, temos ento a certeza de que h um propsito divino em reunir pessoas, no podemos crer que tenham sido chamados a ser Igreja, sem um propsito maior e mais sublime do que apenas um ajuntamento de pessoas que comungam de uma mesma f. Qual poderia ser ento esse propsito? A reflexo que fizemos sobre o que no pode ser a misso da igreja nos direciona nessa busca pelo propsito e a razo de ser IGREJA. Quando observamos os smbolos bblicos utilizados para descrever a igreja, percebemos que esses smbolos j denotam uma unio de foras, observemos: Edifcio: (Ef 2.19-22); Casa: (Ef 2.19; Hb 3.6, I Pe 2.5); Lavoura: (1 Co 3.9); Rebanho: (Jo 10. 16); Famlia: (Ef 2.19); Corpo: (I Co 12. 12-27).Rick Warren, em seu livro uma vida com propsitos, chama ateno para o uso do termo uns aos outros na Bblia, isso denotando a comunho existente entre os membros da igreja de Cristo:As expresses uns com os outros e entre si so usadas mais de cinqenta vezes no Novo Testamento. Somos ordenados a amar uns aos outros, a orar uns pelos outros, a incentivar uns aos outros, a admoestar uns aos outros, a saudar uns aos outros, a servir uns aos outros, a ensinar uns aos outros, a aceitar uns aos outros, a honrar uns aos outros, a carregar os fardos uns dos outros, a perdoar uns aos outros, a nos submeter uns aos outros, a ser dedicados uns aos outros, alm de muitas outras obrigaes mtuas. Isso ser um membro, do ponto de vista bblico! Essas so suas responsabilidades familiares, que Deus espera que voc cumpra na comunidade local. (WARREN, 2002, p. 117).Esta unio de pessoas segundo o relato de Clovis Pinto de Castro, uma possibilidade da criao do espao de apario, esse espao de apario potencializado pela aproximao um do outro:Por outro lado, a potencialidade da convivncia, do viver prximo um dos outros, mesmo que seja um grupo de pessoas relativamente pequeno, mas bem organizado, pode gerar um dos meios mais ativos e eficazes de ao j concebidos. O isolamento, ao contrario, seria a abdicao ao poder e exerccio da fora. (CASTRO, 2000, p. 47)Entendemos ento que a esta unio um do outro no ato de ser corpo de Cristo, fortalece a possiblidade de espao pblico, onde a igreja deve atuar e agir como representante do divino e continuantes da misso de Cristo. A misso do povo de Deus, a misso do seu prprio Deus transferida a ela por Cristo, Disse-lhes, ento, Jesus segunda vez: Paz seja convosco; assim como o Pai me enviou, tambm eu vos envio a vs.(Jo 20.21).O Pai enviou o filho, e o filho enviou os discpulos, mas em que caracteriza este envio? Vejamos nas prprias palavras de Jesus:O Esprito do Senhor est sobre mim, porquanto me ungiu para anunciar boas novas aos pobres; enviou-me para proclamar libertao aos cativos, e restaurao da vista aos cegos, para pr em liberdade os oprimidos(Lc 4.18).Podemos extrair a misso do povo de Deus, advinda do propsito da unio de pessoas e do envio provindo de Deus, chegando concluso de que no podemos definir em apenas uma opo a misso, sendo que a mesma se apresenta de forma ampla e abrangente, enxergamos como misso do povo de Deus, a proclamao do evangelho de uma forma integral, a proclamao da Graa salvadora; a proclamao do evangelho de uma forma desinteressada. 3.1 - Proclamar o Evangelho de forma INTEGRAL;A preocupao com a proclamao de um evangelho completo que alcance ao homem todo, foi acentuada pelo Pacto de Lausanne em 1974, mas esta ideia j havia sido movimentada e debatida em outros encontros religiosos em anos anteriores, principalmente na Amrica Latina. O que foi decidido em Lausanne influenciou o ato de fazer misses posteriormente, principalmente o pargrafo 5, que fala da responsabilidade social Crist.O que a misso integral veio trazer como contribuio para a igreja, foi chamar a ateno para a PRTICA do evangelho, e no apenas um fazer um terico da f crist. A misso integral despertou um pensamento de que a misso da igreja deve ir alm do ensinamento e da preocupao com o espiritual, mas a igreja deve olhar alm disso, deve olhar e cuidar do ser em todos os seus aspectos, desde os espirituais, fsicos e sociais. Conforme afirmado no 5 paragrafo do Pacto de Lausanne: [...] Afirmamos que a evangelizao e o envolvimento scio-poltico so ambos parte do nosso dever cristo.[...]

Essa responsabilidade da igreja em questo social e de opresso, ressaltada tambm neste quinto pargrafo de Lausanne.

A mensagem da salvao implica tambm uma mensagem de juzo sobre toda forma de alienao, de opresso e de discriminao, e no devemos ter medo de denunciar o mal e a injustia onde quer que existam. Quando as pessoas recebem Cristo, nascem de novo em seu reino e devem procurar no s evidenciar mas tambm divulgar a retido do reino em meio a um mundo injusto. A salvao que alegamos possuir deve estar nos transformando na totalidade de nossas responsabilidades pessoais e sociais. A f sem obras morta. (Pacto de Lausanne, Suia, 1974)

Segundo Rene Padilha um dos expoentes dessa teologia da misso integral, a misso da Igreja vai alm de se fazer misso transcultural:

A igreja que no se compromete com a misso de testificar acerca de Jesus Cristo, para assim cruzar a fronteira entre o que f e o que no , deixa de ser igreja.(PADILHA, 2009, p.18).

A igreja deve ser altrusta e olhar para fora das suas portas, e no pode se preocupar apenas com a espiritualidade dos indivduos, deve ter uma viso ampla e preocupar-se com todos os mbitos da vida humana. Conforme encontramos nos relatos de Padilha. A misso se concretiza onde a igreja, com todo seu compromisso integral com o mundo e com o alcance total de sua mensagem, d seu testemunho em palavra e ao, na forma de serva, com respeito incredulidade e explorao, discriminao e violncia, mas tambm com respeito salvao, sade, libertao, reconciliao e retido. (PADILHA, 2009. p. 53)

Essa preocupao da igreja com o social, no seria uma proposta nova a partir do Pacto de Lausanne, isso j fora observado antes Pacto de Lausanne, desde as palavras de Jesus, em Lucas 4.18, quando o Cristo declara ter sido enviado no somente pregar, mas tambm libertar cativos, curar e libertar da opresso. Pelos relatos de pais da igreja tambm percebemos que a Igreja primitiva, preocupava-se com o homem no apenas em seu aspecto espiritual, e tambm em assistncia aos pobres. Clemente descreveu a pessoa que conhece a Deus desta maneira Por amor a outro ele se faz pobre a si mesmo, para que no passe por alto nenhum irmo que tenha necessidade. Compartilha, especialmente se cr que ele pode suportar a pobreza melhor do que seu irmo. Tambm considera que o sofrer de outro seu prprio sofrer. E se sofre algo por ter compartilhado de sua prpria pobreza, no se queixa.Eusbio disse que Quando uma doena fatal inundou o mundo inteiro no terceiro sculo, os primeiros cristos eram os nicos que cuidavam dos enfermos, CUIDAVAM-NOS ainda que corressem o perigo de contagiar-se eles mesmos. Enquanto, os pagos jogavam s ruas os enfermos membros de suas prprias famlias, para proteger-se da doena. (BERCOT, 2013, p.15).

3.2 - Proclamar a Graa;O apstolo Paulo chama ateno para o risco de se crer em outro evangelho, um evangelho diferente daquele que ele havia aprendido e ensinado, e instruiu que deviam desprezar o ensinamento que fosse diferente daquele que por ele fora transmitido.

Maravilho-me de que to depressa passsseis daquele que vos chamou graa de Cristo para outro evangelho;O qual no outro, mas h alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo. Mas, ainda que ns mesmos ou um anjo do cu vos anuncie outro evangelho alm do que j vos tenho anunciado, seja antema. (Gl 1.6-8)

A Igreja hoje tem a mesma funo anunciar o evangelho da Graa sem adicionar ou retirar do evangelho de Cristo, o evangelho deve ser anunciado assim como ele foi anunciado e transmitido nas escrituras. A Salvao sendo pela graa, nada alm deve ser anunciado, no h pagamentos, no h cobranas, no h mais alternativa, fora da graa.Porque pela graa sois salvos, mediante a f; e isto no vem de vs; dom de Deus; no de obras, para que ningum se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus de antemo preparou para que andssemos nelas (Ef 2.8-10).

Conforme o papa Francisco em seu pronunciamento de ensino catequtico a igreja tem a funo de anunciar o querigma, a salvao aos homens, a Igreja seja um lugar de amparo e misericrdia, com as portas abertas para recepcionar a todos aqueles que desejarem por ela entrar e conhecer as boas novas de Cristo.Queridos irmos e irms, ser Igreja, ser Povo de Deus, segundo o grande desgnio do amor do Pai, quer dizer ser o fermento de Deus nesta nossa humanidade, quer dizer anunciar e levar a salvao de Deus neste nosso mundo, que muitas vezes est perdido, necessitado de ter respostas que encorajem, que dem esperana, que dem novo vigor no caminho. A Igreja seja lugar da misericrdia e da esperana de Deus, onde cada um possa sentir-se acolhido, amado, perdoado, encorajado a viver segundo a vida boa do Evangelho. E para fazer o outro sentir-se acolhido, amado, perdoado, encorajado, a Igreja deve estar com as portas abertas, para que todos possam entrar. E ns devemos sair destas portas e anunciar o Evangelho. (site: CANO NOVA, 2013)

3.3 - Proclamar o Evangelho Desinteressado;

Quando Jesus envia seus discpulos para pregar nas cidades, ele lhes d alguns conselhos e procedimentos, dentre esses um deles lhes ensina a ser altrusta e a dividir aquilo que haviam recebido gratuitamente:

Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demnios; de graa recebestes, de graa dai. (Mt 10.8).

Seria vlido em nossos dias este conselho de Jesus? a proclamao do evangelho hoje em dia poderia ser feita sem interesse? Alguns podero questionar de que vivemos numa era consumista, influenciados pelo industrialismo e o capitalismo certamente que muitos diriam que no.H aqueles que se utilizariam de versculos isolados e fora de contexto, afim de defender e respaldar seus interesses mercantilistas.Os discpulos enviados por Jesus, devem seguir essas recomendaes de anunciarem o evangelho sem o interesse alm da proclamao genuna do mesmo.Na revista eletrnica de cincias sociais denominada CAOS, foi publicado em seu num. 15 de maro de 2010, um artigo que traz uma notcia do jornal nacional de 2003, que mostra como o produto evangelho tem sido lucrativo para alguns, isto que estamos falando de 12 anos atrs:O Jornal Nacional transmitido pela Rede Globo de Televiso, em sua edio de 23 de setembro de 2003, exibiu uma matria intitulada Mercado dos Produtos Religiosos Movimentam Milhes, mostrando que o consumo religioso atualmente movimenta milhes de reais ao ano. (STORNI e ESTIMA, 2010, p.20).

Chega a ser lamentvel essa constatao por veculos de comunicao em massa, pois o evangelho sendo assim exposto, alguns ficaro com a impresso que no se passa de um mero produto, quando na verdade o evangelho boas novas para a vida. A igreja como representante do divino tem o papel de anunciar o evangelho, levar as boas novas para aqueles que no conhecem a Cristo, encontramos esse apelo nas palavras de Paulo, na carta de Romanos.Como, pois, invocaro aquele em quem no creram? e como crero naquele de quem no ouviram? e como ouviro, se no h quem pregue? E como pregaro, se no forem enviados? como est escrito: Quo formosos os ps dos que anunciam o evangelho de paz; dos que trazem alegres novas de boas coisas. (Rm 10.14,15)

Esta funo de anunciar o evangelho a toda criatura esta explcito na grande comisso de Mateus cap. 28, e na orao sacerdotal Jesus, apontou para uma converso futura de muitos, Joo 17.20. E no rogo somente por estes, mas tambm por aqueles que pela sua palavra ho de crer em mim. Acreditamos que o perodo futuro de que Cristo estava se referindo abrange tambm nossos dias. uma funo da Igreja anunciar o evangelho, sem a inteno de puro proselitismo e tambm sem a preocupao em receber ofertas em troca deste anuncio, ir e anunciar o evangelho sem o interesse financeiro.

ConclusoConclui-se que a Igreja tem seu papel no mundo, ela no existe apenas por existir, h propsitos especficos para sua existncia, a Igreja como comunidade de f e prtica deve refletir e direcionar seus fiis pelo caminho da prtica de tal misso.A Igreja, traz consigo uma representao histrica e social, sendo ela detentora de um poder e um valor enquanto instituio no mundo e deve exercer desse poder e ir ao encontro anunciando e abrindo suas portas para que sirva de abrigo a todos os peregrinos que transitam por esta estrada.Assim que j no sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidados dos santos, e da famlia de Deus; Edificados sobre o fundamento dos apstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo a principal pedra da esquina; No qual todo o edifcio, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor. (Ef 2.19-21).

Encerramos com uma reflexo de Almeida, sobre a Igreja, onde percebemos que na Igreja que encontramos o terreno fecundo para o florescer de uma sociedade mais humana e fraterna. A Igreja ento um padro para a sociedade na qual est inserida, isto denota a importncia de conhecer, e este conhecimento vem junto com uma responsabilidade, a prtica da misso.

Mesmo sabedores das imperfeies das comunidades locais, ainda na Igreja que esperamos encontrar os melhores padres de uma vida comunitria que valoriza as pessoas pelo que elas so e no pelo que elas tm. na Igreja que vemos a importncia das relaes familiares, entre marido e mulher, pais e filhos. Ali o ambiente onde as pessoas podem encontrar a razo de sua existncia alm de ser inseridos num lugar que tem como objetivo a solidariedade e o apoio nas dificuldades sejam elas quais forem. (ALMEIDA, 2006, p.222).

A igreja no existe apenas para organizar eventos para seus fiis, e tornar-se fechada entre quatro paredes, o chamado de Deus para a Igreja sair dessas quatro paredes e seguir os passos de seu Senhor, na vida e na histria, o campo missionrio inicia-se j no estacionamento.

REFERNCIAS

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CASTRO, Clvis Pinto de. Por uma f Cidad: A dimenso publica da Igreja, fundamentos para uma pastoral da cidadania. So Paulo, Edies Loyola, 2000.

LE ROY, Willian Roger. Qual o rumo da Igreja: o evangelho de Cristo ou Marx?. So Paulo: Copiadora Continental, 1983.

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MARIANO, Ricardo. Neo-Pentecostais: Sociologia do novo pentecostalismo no Brasil. So Paulo, SP: Edies Loyola, 1999.

PADILHA, C. Ren. O que Misso Integral?. Viosa MG: Ultimato, 1 edio 2009.

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SHELDON, Charles M. Em seus passos o que faria Jesus. Semeadores da Palavra, 1998. Ebook. ISBN 85-243-0020-5. Disponvel em:

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WRIGHT, Christopher J.H., A misso do povo de Deus: Uma teologia Bblica da misso da Igreja. So Paulo, SP: Vida Nova, 2012.

Acessado em 22/06/2015