a mineração de areia industrial na região sul do brasil

7
59 REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 56(1): 59-65, jan. mar. 2003 Resumo Na Região Sul do Brasil existem atualmente dez em- presas de mineração produzindo areia industrial a partir do beneficiamento de areia quartzosa, de quartzito e de arenito, utilizando processos de seleção granulométrica e mineralógica e agregando valor a esses bens minerais. O Estado de Santa Catarina é o maior produtor de areia industrial da Região Sul, com destaque para a região de Araquari, onde são lavrados sedimentos quaternários li- torâneos, abastecendo principalmente a maior fundição da América Latina, localizada em Joinville. As minas situ- adas nos Estados do Paraná, em Campo Largo, e do Rio Grande do Sul, em Viamão, abastecem com prioridade as indústrias de cerâmica e de vidro, respectivamente. Esse expressivo mercado consumidor tem atraído a atenção da maior mineradora de areia industrial do país, com jazidas situadas em São Paulo, a qual tem buscado alternativas para a instalação de novas minas nos Estados do Paraná e de Santa Catarina. Palavras-chave: areia industrial, mineração, mercado produtor. Abstract In the south of Brazil, ten mining companies produce industrial sand by processing quartzite sand composed of quartz and sandstone. Granulometric and mineralogical methods are used which enhance the value of these minerals. The State of Santa Catarina is the largest producer of industrial sand in the southern region, where they mine coast sediments from Quaternary. Most production is in the Araguari area. The state boasts the largest foundry in Latin América, located in Joinville. Campo Largo, State of Parana, and Viamão, State of Rio Grande do Sul, are primary suppliers for the ceramic and glass industries. This significant consumer market has attracted the attention of the country’s largest industrial sand mining company, with mineral areas in the State of São Paulo, which is considering alternative installation of new mines in Paraná and Santa Catarina States. Keywords: industrial sand, mining, producer market. Mineração A mineração de areia industrial na Região Sul do Brasil Gilda Carneiro Ferreira Docente do Departamento de Geologia Aplicada/UNESP/IGCE/Rio Claro E-mail: [email protected] Elias Carneiro Daitx Docente do Departamento de Geologia Aplicada/UNESP/IGCE/Rio Claro

Upload: osvaldo-neto

Post on 25-Nov-2015

31 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 59REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 56(1): 59-65, jan. mar. 2003

    ResumoNa Regio Sul do Brasil existem atualmente dez em-

    presas de minerao produzindo areia industrial a partirdo beneficiamento de areia quartzosa, de quartzito e dearenito, utilizando processos de seleo granulomtricae mineralgica e agregando valor a esses bens minerais.O Estado de Santa Catarina o maior produtor de areiaindustrial da Regio Sul, com destaque para a regio deAraquari, onde so lavrados sedimentos quaternrios li-torneos, abastecendo principalmente a maior fundioda Amrica Latina, localizada em Joinville. As minas situ-adas nos Estados do Paran, em Campo Largo, e do RioGrande do Sul, em Viamo, abastecem com prioridade asindstrias de cermica e de vidro, respectivamente. Esseexpressivo mercado consumidor tem atrado a ateno damaior mineradora de areia industrial do pas, com jazidassituadas em So Paulo, a qual tem buscado alternativaspara a instalao de novas minas nos Estados do Parane de Santa Catarina.

    Palavras-chave: areia industrial, minerao, mercadoprodutor.

    AbstractIn the south of Brazil, ten mining companies

    produce industrial sand by processing quartzite sandcomposed of quartz and sandstone. Granulometric andmineralogical methods are used which enhance thevalue of these minerals. The State of Santa Catarina isthe largest producer of industrial sand in the southernregion, where they mine coast sediments fromQuaternary. Most production is in the Araguari area.The state boasts the largest foundry in Latin Amrica,located in Joinville. Campo Largo, State of Parana,and Viamo, State of Rio Grande do Sul, are primarysuppliers for the ceramic and glass industries. Thissignificant consumer market has attracted the attentionof the countrys largest industrial sand mining company,with mineral areas in the State of So Paulo, which isconsidering alternative installation of new mines inParan and Santa Catarina States.

    Keywords: industrial sand, mining, producer market.

    Minerao

    A minerao de areia industrial na RegioSul do Brasil

    Gilda Carneiro Ferreira

    !"

    Elias Carneiro Daitx

  • REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 56(1): 59-65, jan. mar. 200360

    1.IntroduoO estudo do mercado produtor de

    areia industrial na Regio Sul foi realiza-do por meio de consultas junto ao De-partamento Nacional da Produo Mi-neral - DNPM, para identificar as reasprodutoras desse bem mineral nos Esta-dos do Paran, de Santa Catarina e doRio Grande do Sul, seguido de visitastcnicas s empresas de minerao etrabalhos de campo nas reas com de-psitos conhecidos (Ferreira & Daitx,2000 a).

    Esses levantamentos indicaram aexistncia, nessa regio, de dez empre-sas mineradoras de areia industrial comproduo significativa para o setor eoutras seis com atividades de lavra pa-ralisadas ou no iniciadas. No Estadodo Paran, essas empresas desenvolvemsuas atividades principalmente nos mu-nicpios de Campo Largo (3) e em Lapa(1); em Santa Catarina as empresas mi-neradoras de areia atuam nos municpi-os de Araquari (2), Jaguaruna (1) e Imbi-tuba (2); e no Rio Grande do Sul operaapenas uma empresa, localizada no mu-nicpio de Viamo (Figura 1).

    Em Santa Catarina foram produzi-das aproximadamente 265.000 toneladasde areia industrial no ano de 2.000, cor-respondendo a quase 80% de toda a pro-duo da Regio Sul do pas (DNPM,2001). Do total apresentado anteriormen-te, cerca de 75% so destinados s in-dstrias de fundio, particularmenteaquelas situadas no municpio de Join-ville e regio.

    O total de reas com portarias delavra para areia industrial na Regio Sulalcana a 30, embora alguns depsitoscom autorizao de lavra para areia deconstruo civil produzam igualmenteareias beneficiadas, utilizadas nas inds-trias de argamassa ou fundio e poderi-am, portanto, ser consideradas como ja-zidas de areia industrial.

    A Minerao Jundu S/A, maior pro-dutora de areia industrial do pas, comproduo em torno de 2.500.000 t/ano,atualmente com reas em lavra nos mu-nicpios de Descalvado e Analndia (SP),vem desde 1997 pesquisando areia in-dustrial no Paran, para poder suprir o

    abastecimento de alguns clientes da Re-gio Sul e, tambm, para abastecer no-vas indstrias de vidro que esto se ins-talando nos municpios de Balsa Nova(PR) e Barra Velha (SC).

    Em 1999, a empresa Sibelco Mine-rao Ltda. adquiriu Portarias de Lavrana regio sul e reas com processos emfase de requerimento de lavra, ou pes-quisa para areia industrial, e instalou umanova usina de beneficiamento em Jagua-runa (SC), com o objetivo de abastecer aindstria cermica e, futuramente, asgrandes fundies do Estado ou empre-sas produtoras de vidro plano que aliviessem a operar. A sua capacidade decompetir nesses ltimos mercados umadas principais incgnitas do setor.

    2. Beneficiamento daareia

    O termo areia industrial aqui defi-nido como ... material de granulometriavariada, composto essencialmente deslica e que passou por um processo debeneficiamento... (Ferreira & Daitx, 2000b). As fontes para a produo desse bemmineral na rea em estudo so represen-tadas por depsitos de areia quartzosa,arenito ou quartzito.

    Entre as diversas etapas de produ-o de areias industriais, a do beneficia-mento , provavelmente, a mais impor-tante. Numa viso geral, qualquer corpoarenoso pode ser transformado em areiaindustrial, cujas caractersticas estaroimplicitamente ligadas s do prprio de-psito original, mas o que determinar oseu aproveitamento ser, fundamental-mente, a economicidade dos produtosa serem obtidos aps o seu beneficia-mento.

    Excetuadas questes ligadas aoposicionamento geogrfico do mercadoconsumidor - e, conseqentemente, suarelao com o mercado produtor -, a pr-pria viso da prospeco de um depsi-to arenoso para fins de produo de areiaindustrial est diretamente subordinada viso do seu futuro beneficiamento ebaseia-se em parmetros indicadores daocorrncia de um pr-beneficiamentonatural. Entre esses parmetros deta-cam-se: corpos arenosos pr-enriqueci-dos por processos geolgicos (depsi-

    tos elicos, fluviais, com zonas lixivia-das), distribuio granulomtrica quepermita a obteno de diversas fraes,gros com caractersticas intrnsecasadequadas (resistncia, arredondamen-to, etc.), baixo teor em impurezas ou dasfraes sem aproveitamento econmico(rejeito), cor do material aps lavagem,friabilidade do material, dimensionamen-to e exposio em superfcie, etc.

    Diversos desses condicionantesesto presentes nas jazidas estudadas,em intensidades diferentes, e, juntamen-te com fatores inerentes ao mercado con-sumidor suprido pelas empresas produ-toras, influenciam diretamente os proces-sos de beneficiamento empregados naproduo dos seus diversos tipos deareias industriais.

    Em linhas gerais, o beneficiamentodo material arenoso visa retirada deimpurezas e de fraes sem utilizaoeconmica e a classificao das areiasem vrias faixas granulomtricas adequa-das s suas diversas aplicaes indus-triais; representa, em sntese, um proces-so de seleo granulomtrica e minera-lgica. O principal material a ser separa-do corresponde frao sltico-argilosa,indesejvel por representar ou uma fon-te de contaminao de alumnio, ferro elcalis, na fabricao de vidros especi-ais e de produtos qumicos, ou um mate-rial indesejvel na produo de moldesde fundio. Essa frao sltico-argilo-sa, que pode representar at 20% do mi-nrio, descartada em lagoas de decan-tao, por no possuir ainda um apro-veitamento econmico, e representa umdos principais problemas ambientais emtodas as mineraes de areia industrial(Ferreira,1995).

    As impurezas esto representadaspor minerais pesados (zirco, ilmenita,magnetita, turmalina, cianita, estauroli-ta, sillimanita), hidrxidos de ferro e/oumangans e gros de feldspato, prejudi-ciais particularmente na produo de vi-dro, por introduzirem contaminantes namistura (ferro, mangans, titnio) ou seconstiturem em pontos refratrios na eta-pa de fuso da matria-prima.

    As unidades de beneficiamento deareias existentes nas mineraes visita-

  • 61REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 56(1): 59-65, jan. mar. 2003

    Figura 1 - Principais produtores e consumidores de areia industrial na Regio Sul.

  • REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 56(1): 59-65, jan. mar. 200362

    das operam com esquemas semelhantesem relao produo de areia industri-al para uso em fundies, vidros colori-dos, ou para argamassa, diferindo, faces diferentes escalas de trabalho, naquantidade e no arranjo dos diversosequipamentos bsicos (peneiras, lavado-res, hidrociclones classificadores, conesdesaguadores, etc.).

    3. Principais produtoresna Regio Sul

    A Regio Sul, no ano de 2000, pro-duziu cerca de 343 103 t de areia industri-al, incluindo a produo de quartzito in-dustrial, distribudas nos Estados comos seguintes valores: Santa Catarina -264.000 t; Rio Grande do Sul - 74.000 t;Paran - 5.000 t (DNPM, 2001).

    As principais empresas minerado-ras de areia industrial, na Regio Sul,encontram-se localizadas no Estado deSanta Catarina, nos municpios de Ara-quari, Jaguaruna e Imbituba. Existem,contudo, diversas outras empresas mi-neradoras detentoras de importantes re-servas de areia industrial, particularmen-te no entorno da regio de Araquari, masainda sem atuao no mercado produtorde areia industrial. Toda a areia industri-al produzida nesse Estado provenien-te de sedimentos arenosos inconsolida-dos litorneos.

    No Paran, a produo de areia in-dustrial concentra-se no municpio deCampo Largo e provm principalmenteda lavra de quartzitos friveis, gerandoum material de granulao fina, que, apsbeneficiamento, apresenta as caracters-ticas de areia industrial, com amplo usona indstria cermica local e de outrosEstados. Os trabalhos de pesquisa de-senvolvidos pela empresa MineraoJundu S/A, no municpio de Ponta Gros-sa, no ano de 2000, bloquearam reservasaprovadas de areia industrial na ordemde 1,5 M t, provenientes de arenitos daFormao Furnas, podendo essa regiose transformar numa nova rea produ-tora desse bem mineral no Estado doParan.

    No Rio Grande do Sul, a produode areia industrial, para uso na indstriade vidro, concentra-se no municpio de

    Viamo; pequenas empresas localizadasno litoral norte do Estado produzem areiapara fundio em pequena escala e noforam includas nesse estudo.

    As areias industriais produzidas naRegio Sul so utilizadas principalmentena indstria de fundio; uma parcelapequena da produo abastece as inds-trias de vidro, cermica e argamassa daregio. A areia industrial produzida noParan supre h vrios anos diversasindstrias regionais, inclusive cermicasdo Estado de So Paulo, localizadas prin-cipalmente em Pedreira e Jundia.

    3.1 reas produtoras doEstado do Paran

    No municpio de Campo Largo (PR),localizado cerca de 30 km de Curitiba,esto instaladas as principais empresasde minerao de areia industrial do Esta-do, com reservas da ordem de 92 M t eproduzindo anualmente cerca de 5.000 tde areia industrial (DNPM, 2001).

    A Minerao Bassani Ltda. atuanesse municpio desde 1988, produzin-do areia industrial a partir de quartzitosfriveis, de granulao fina, bem classi-ficados, de colorao branca, creme ourosa-clara. Essa areia usada na fabrica-o de louas e porcelanas de alta quali-dade, suprindo as indstrias cermicasde Pedreira (SP) e de Campo Largo (PR),na produo de louas e fritas, respecti-vamente. A lavra do minrio feita a cuaberto, em bancadas, semimecanizada,com desmonte e o carregamento do mi-nrio na frente de lavra feito manual-mente e com carregamento do minrioem caminhes, do ptio de estocagempara venda, sendo feito por carregadeira(Figura 2). O teor de SiO2 superior a97%.

    A empresa Orlando Pianaro estinstalada na regio de Campo Largo, pro-duzindo areia industrial para a indstriacermica e de construo civil, proveni-ente de quartzitos de gr fina, decom-postos e intercalados em xistos. As arei-as produzidas por essa empresa apre-sentam teor mdio de SiO2 da ordem de98,5%. A lavra feita a cu aberto, embancadas, sendo o minrio desmontadomecanicamente por uma p-carregadeira

    (Figura 3). Na rea existem peneiras, sen-do o nico processo de beneficiamentodo bem mineral.

    A empresa Ceramina - IndstriaCermica e Minerao Ltda., instaladaem Guabiroba, municpio de Campo Lar-go, produz areia industrial provenientede um quartzito branco-acinzentado, fri-vel, de granulao fina a mdia. A em-presa abastece exclusivamente a Porce-la Schmidt S/A com areias apresentandoteor de SiO2 superior a 97%.

    No municpio de Lapa, as reservasde areia industrial alcanam 0,7 M t enele se encontra a rea de lavra da em-presa Refratrios Scandelari Ltda., queproduz areia industrial a partir do benefi-ciamento (britagem, moagem e classifi-cao) de arenito. Essa empresa abaste-ce pequenas fundies localizadas noParan e em Santa Catarina, fornecendotijolos e massas refratrias.

    3.2 reas produtoras doEstado de Santa Catarina

    Os depsitos arenosos da regiode Araquari, posicionada na poro nor-deste do Estado, se distribuem pelosmunicpios de Araquari, So Franciscodo Sul e Barra do Sul; no primeiro deles,se localizam duas importantes minera-es produtoras de areia industrial noEstado de Santa Catarina.

    O municpio de Araquari o princi-pal produtor do Estado e se destaca pelaproduo de areia industrial provenien-te de sedimentos quaternrios litorne-os (Martin et al., 1988). Individualmente,as reservas de areia no municpio alcan-am a 58 M t e so as maiores do Estado;somadas essas reservas s dos demaismunicpios da regio de Araquari, as re-servas totais de areia industrial dessaregio atingem 114,8 M t (DNPM, 2001),tornando-a o maior plo potencial paraproduo de areia em todo o Estado deSanta Catarina. Atualmente, a produode areia industrial do municpio alcanaaproximadamente 200.000 t/ano.

    A principal empresa produtora doEstado, Minerao Veiga Ltda., instalou-se em Araquari em 1993 e produz areiapara fundio, sendo a maior produtora

  • 63REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 56(1): 59-65, jan. mar. 2003

    de areia industrial da Regio Sul. Abas-tece principalmente as indstrias de fun-dio de Joinville (SC), destacando-se aTupy Fundies Ltda., maior da Amri-ca Latina. A principal areia produzida poressa empresa apresenta teores de SiO2em torno de 99,6%, 0,1% de argila e m-dulo de finura 55 AFS. Produz tambm,como subproduto do beneficiamento,areia utilizada na construo civil e paraa fabricao de argamassa. A lavra dominrio feita a cu aberto, em banca-das, mecanicamente, utilizando-se retro-escavadeira para a retirada do minrio ecaminhes basculantes para o transpor-te at o beneficiamento. Para a retiradada cobertura vegetal e do capeamento, utilizado trator de esteira e p-carrega-deira. Quando a extrao do minrio al-cana o nvel fretico, so utilizadas dra-gas para se fazer a lavra do minrio. Narea da empresa existe uma usina de be-neficiamento, onde o minrio lavado eclassificado mecanicamente (Figura 4),quando necessrio, as areias so secasem fornos a leo.

    A Minerao Nilson Ltda. iniciousua produo de areia industrial nessemunicpio no ano de 1998, produzindoatualmente areias industriais para abas-tecer as indstrias de fundio na regiode Joinville e Jaragu do Sul. As areiasproduzidas por essa empresa apresen-tam teor de SiO2 superior a 99,6%, teorde argila variando de 0,04% a 0,25% emdulo de finura de 50 AFS a 95 AFS.Cerca de 10% de sua produo repre-sentada por areias com alto teor de Fe2O3e argila, sendo comercializadas para aconstruo civil. A lavra feita a cuaberto, mecanicamente, em tiras, devido espessura do minrio (em mdia de 1,0 m).Da frente de lavra, o minrio segue decaminho at a usina de beneficiamento,onde lavado, classificado mecanica-mente e, s vezes, guardado em silos.Dependendo da utilizao, as areias sosecas em fornos a leo.

    No municpio de Imbituba, na re-gio sudeste do Estado, produzidoareia industrial a partir da lavra de sedi-mentos arenosos de dunas mveis, comduas empresas de minerao atuando naregio. As reservas de areia industrialno municpio situam-se na ordem de 2 M

    t (DNPM, 2001). A produo de areianesse municpio da ordem de 20.000 t/ano.

    A Minerao Altona Ltda. possuireservas de areia industrial em BeneditoNovo e Imbituba, concentrando suasatividades nesse ltimo municpio. Pro-duz areia para fundio, abastecendoexclusivamente a Eletro Ao Altona S/A, localizada em Blumenau (SC), empre-sa do mesmo grupo. As areias dessa ja-zida apresentam teores em torno de99,68% de SiO2 e 0,17% de argila e m-dulo de finura variando entre 63 AFS e84 AFS. A lavra feita pelo desmonte dedunas mveis, com o auxlio de p-carre-gadeira (Figura 5), com transporte porcaminhes at Blumenau, onde passapor uma secagem.

    A Minerao Lima Ltda. extrai tam-bm areia de dunas, representando suajazida a extenso da anterior, sendo for-mada por areia quartzosa com 99,6% deSiO2 em mdia. A lavra semelhante daMinerao Altona Ltda., onde a extra-o da areia das dunas feita por p-carregadeira e o transporte por cami-nhes basculantes (Figura 6) e, na reade lavra, parte do minrio peneirado eseco em forno a leo. Produz areia secagrossa, areia seca de fundio e areiafina mida, abastecendo principalmenteo mercado de construo civil, sendouma pequena parcela destinada s in-dstrias de fundio.

    A regio das jazidas de areia de Ja-guaruna, englobando os municpios deJaguaruna, Ararangu, Urussanga e Pe-dras Grande, na poro sul do Estado, um tradicional produtor de areia indus-trial e possui reservas da ordem de 13,5M t (DNPM, 2001). A areia industrial pro-duzida nessa regio proveniente da la-vra de sedimentos quaternrios litor-neos (Caruso Jr., 1995) de uma nica em-presa de minerao. No ano de 1999, fo-ram produzidas aproximadamente 20.000t/ano de areia industrial.

    A Sibelco Minerao Ltda. se ins-talou no municpio de Jaguaruna em 1999,onde montou uma unidade de beneficia-mento com capacidade instalada de20.000 t/ms para atender as indstriascermicas e de fundio do Estado. Ad-quiriu os direitos de lavra da Cominas -

    Mineradora Conventos S/A na regio epossui atualmente seis reas com con-cesso de lavra, nos municpios de Ja-guaruna e Ararangu. A lavra da areia feita a cu aberto, mecanicamente, embancadas; aps a extrao o minrio transportado por caminhes para o be-neficiamento, onde ocorre a lavagem eclassificao mecnica do minrio. Con-forme a sua utilizao, passa posterior-mente por processos de secagem em for-nos a leo ou a gs e por um processode moagem. Aps beneficiadas, as arei-as industriais apresentam teor de SiO2superior a 99,5% e mdulo de finura de57 AFS. Esse bem mineral abastece prin-cipalmente as indstrias cermicas daregio de Cricima.

    3.3 reas produtoras doEstado do Rio Grande do Sul

    A regio areeira de Viamo englobaos municpios de Viamo e Tapes, na ex-tremidade sul da Regio Metropolitanade Porto Alegre, e nela se situam as prin-cipais reservas desse bem mineral no RioGrande do Sul, da ordem de 8 M t(DNPM, 2001).

    Nesse Estado, a empresa Santa Su-zana Minerao Ltda., atualmente incor-porada Minerao Jundu S/A, a ni-ca de porte atuando na produo de areiaindustrial, com o objetivo principal deabastecer as duas indstrias de vidropertencentes ao Grupo Saint Gobain, doqual faz parte, localizadas nos municpi-os de Campo Bom e Canoas (RS); parteda produo vendida para pequenasindstrias de fundio.

    Possui reservas nos municpios deViamo e Tapes, atuando neste primeiromunicpio desde 1986, onde produz apro-ximadamente 50.000 t/ano de areia indus-trial, a partir de sedimentos arenosos in-consolidados. A lavra do minrio feitaa cu aberto, mecanicamente, em banca-das e atravs de dragagem, em grandescavas com 4 a 5 metros de profundidade,de onde o minrio retirado atravs debombeamento. Os sedimentos arenososso beneficiados por meio de processosmecnicos de lavagem e classificao empeneiras estticas e vibratrias, conesclassificadores, deslamadores, e classi-

  • REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 56(1): 59-65, jan. mar. 200364

    Figura 3 - Vista geral da rea da minerao Orlando Pianaro -FI. Local: Campo Largo (PR).

    Figura 2 - Vista geral dos depsitos da Minerao Bassani, emCampo Largo (PR), expondo os bancos arenosos.

    Figura 7 - Vista geral da Usina de beneficiamento da SantaSuzana Minerao Ltda., vendo-se ao fundo pilhas de minrio jbeneficiado. Local: Viamo (RS).

    Figura 6 - Frente de lavra da areia de dunas da Minerao LimaLtda. Local: Imbituba (SC).

    Figura 4 - Instalaes de beneficiamento de areia industrial daMinerao Veiga Ltda. Local: Araquari (SC).

    Figura 5 - Frente de lavra da areia de dunas da MineraoAltona Ltda. Local: Imbituba (SC).

  • 65REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 56(1): 59-65, jan. mar. 2003

    ficador espiral (Figura 7). A areia lavadaapresenta teor de SiO2 em torno de99,7%.

    Diversas outras pequenas minera-es atuam no litoral norte do Estadoproduzindo areia industrial, utilizadas porfundies localizadas na poro centraldo Estado.

    4. ConclusesExistem atualmente na Regio Sul

    do Brasil dez empresas de minerao deareia industrial, produzindo cerca de343x103 t/ano. Dessas empresas, quatrose localizam no Estado do Paran, cincoem Santa Catarina e uma no Rio Grandedo Sul. As reservas de areias industriaisda Regio Sul superam a 200 M t, o quegarante o abastecimento do mercado pormais de uma centena de anos, levando-se em considerao a produo atual deareia industrial na regio e um crescimen-to no consumo devido instalao deduas novas fbricas de vidro plano naRegio Sul.

    Nos Estados de Santa Catarina eRio Grande do Sul, os depsitos de areiaindustrial correspondem, em sua grandemaioria, a sedimentos quaternrios lito-rneos, representados principalmentepor paleodunas. No Estado do Paranso explorados, para a produo de areiaindustrial, corpos de quartzito e arenito,com idades proterozica e paleozica. Hpesquisas em desenvolvimento visandoao aproveitamento econmico dos are-nitos da Formao Furnas para a produ-o futura de areia industrial.

    A maior empresa de minerao deareia industrial da Regio Sul, Minera-o Veiga Ltda., localiza-se no Estado deSanta Catarina e responsvel por apro-

    ximadamente 55% da produo da Re-gio Sul e 70% da produo do Estado.As areias produzidas por essa empresaabastecem principalmente a Tupy Fun-dies Ltda., maior fundio da AmricaLatina, que consome cerca de 150.000 t/ano de areia industrial.

    O restante da produo sulina deareia industrial (45%) est pulverizadonas outras nove empresas, com produ-o variando de 2.000 t a 50.000 t/ano.As areias produzidas por essas empre-sas, a partir de processos simples de be-neficiamento, ou mesmo sem serem tra-tadas, abastecem principalmente peque-nas e mdias fundies, indstrias cer-micas, indstrias de argamassa, inds-tria de vidro e diversas outras indstriasde transformao, incluindo, esporadi-camente, a indstria de cimento.

    A maior empresa de minerao deareia industrial do Estado de So Paulo,Minerao Jundu S/A, tem demonstra-do interesse em instalar uma unidadeprodutora na Regio Sul e j pesquisoureservas de sedimentos arenosos ade-quados produo de areia industrial,na regio de Ponta Grossa (PR), alm debuscar outras alternativas para abaste-cer parte dos mercados consumidoresdos Estados do Paran e de Santa Cata-rina, principalmente as indstrias de vi-dro plano ora em instalao nesses Es-tados.

    A entrada da empresa Sibelco Mi-nerao Ltda. na produo de areia in-dustrial no Estado de Santa Catarina, em1999, representou o principal evento des-se setor nos ltimos anos. Por se tratarde uma empresa de grande porte, deten-tora de processos de beneficiamento mo-dernos, o que lhe garante qualidade nasareias produzidas, e experincia de pro-

    duo em larga escala, sua atuao futu-ra poder modificar o quadro de produ-tores vigente atualmente e apresentadonesse estudo.

    5. AgradecimentosOs autores agradecem FAPESP -

    Fundao de Amparo Pesquisa do Es-tado de So Paulo, processo 98/13371-5,pelo financiamento dos trabalhos dessapesquisa.

    RefernciasBibliogrficasCARUSO Jr., F. Mapa geolgico e de recursos

    minerais do sudeste de Santa Catarina.Braslia: DNPM, 1995. 52p (ProgramaCartas de Sntese e Estudos de IntegraoGeolgica), mapa, escala 1:100.000.

    DNPM - DEPARTAMENTO NACIONAL DAPRODUO MINERAL. Anurio MineralBrasileiro. Braslia: DNPM, 2001. v.30,404p.

    FERREIRA, G.C. Estudo dos mercadosprodutor e consumidor de areia industrialno Estado de So Paulo. Rio Claro:Instituto de Geocincias e Cincias Exatas,Universidade Estadual Paulista, 1995. 142p. (Tese de Doutorado em Geocincias).

    FERREIRA, G.C., DAITX, E.C. Estudo dosmercados produtor e consumidor de areiaindustrial na Regio Sul do Brasil. SoPaulo: FAPESP, 2000 a. 59p. (Relatriofinal - Processo n. 98/13371-5).

    FERREIRA, G.C., DAITX, E.C. Caractersticase especificaes da areia industrial.Geocincias, So Paulo, v.19, n.2, p.235-242, 2000 b.

    MARTIN, L., SUGUIO, K., FLEXOR, J.M.,AZEVEDO, A.E.G. Mapa geolgico doQuaternrio Costeiro dos Estados doParan e Santa Catarina. Braslia: DNPM,1988. 40p. (Srie Geologia, 28, SeoGeologia Bsica, 18).

    Artigo recebido em 09/12/2002 eaprovado em 04/02/2002.

    REM67 anos

    A revista tcnica do setor mnero-metalrgico