a metáfora na teoria lacaniana o estádio do espelho

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  • BOLETIM DE PSICOLOGIA, 2008, VOL. LVIII, N 129: 133-145

    HELENA AMSTALDEN IMANISHIInstituto de Psicologia da Universidade de So Paulo

    RESUMO

    O presente artigo busca discutir o papel e o aparecimento da metfora na construo da obra de Lacan,atravs da anlise de uma metfora especfica de sua teoria e fundamental na sua construo e sustentao:a metfora do espelho. em torno desta analogia que Lacan articula suas hipteses sobre a constituio doEu (Je) e aponta para o fundamental papel do Outro neste processo. A anlise sugere que a metfora na obrade Lacan no possui apenas funes estticas e retricas, como tambm cognitivas.

    Palavras-chave: Metfora; Lacan; estdio do espelho.

    ABSTRACT

    THE METAPHOR IN LACANS THEORY: THE MIRROR STAGEThis article aims to discuss the role and the expression of metaphor in the construction of Lacans work,through the analysis of a specific metaphor from his theory and fundamental on its construction and support:the metaphor of the mirror. Its around this analogy that Lacan articulates his hypothesis about the constitutionof the I (Je) and points out to the fundamental role of the Other in this process. The analysis suggests themetaphor in Lacans work doesnt have just aesthetical and rhetorical functions, but also cognitive.

    Key words: Metaphor; Lacan; mirror stage.

    Endereo para correspondncia: Rua Nazar Paulista, 163, apto 34B. Alto de Pinheiros. So Paulo - SP. CEP: 05448-000.Telefone: (11) 3554-7960. E-mail: [email protected]

    A METFORA NA TEORIA LACANIANA:O ESTDIO DO ESPELHO

  • HELENA AMSTALDEN IMANISHI

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    METFORAS: DEFINIES E FUNES POSSVEIS

    Na Gramtica Contempornea da Lngua Portuguesa (Nicole e Infante, 1991, p. 441-442),

    encontra-se o seguinte trecho:

    A metfora foi assim definida por Aristteles: consiste em transportar para uma coisa o nome da

    outra ... uma espcie de comparao qual falta a locuo comparativa. Na realidade, a metfora

    vai alm da mera comparao; como afirma Mattoso Cmera, a transferncia de um termo para

    um mbito de significao que no o seu. No h, aparentemente, uma relao real entre as duas

    palavras, isto , no se fundamenta numa relao objetiva, mas sim, numa relao toda subjetiva.

    Esta definio, retirada de livro didtico escolar, geralmente a primeira aproximao formal

    que os adolescentes tm com o tema. Essencialmente associada poesia (a observar pelos exemplos

    oferecidos), a metfora encontra-se classificada como um tipo especfico das figuras de linguagem.

    Na mesma gramtica, Gramtica Contempornea da Lngua Portuguesa (Nicole e Infante,1991, p.

    441), encontramos a seguinte classificao:

    A figura de palavra consiste na substituio de uma palavra por outra, isto , no emprego

    figurado, simblico, de uma palavra por outra quer por uma relao muito prxima

    (contigidade), quer por uma associao, uma comparao, uma similaridade. Estes dois

    conceitos bsicos contigidade e similaridade permitem-nos reconhecer dois tipos de figuras

    de palavra: a metonmia e a metfora.

    Pouco a pouco, o interessado pelo tema descobre que a metfora assunto de discusso

    filosfica e permeia debates no campo das cincias.

    A este respeito, Leary (1994) coloca que, desde Aristteles, vrios estudiosos se referiram

    metfora, porm sempre enfatizando o seu carter retrico, qual seja, o de visar ao convencimento,

    persuaso. Richards (1971) corrobora a afirmao acima, dizendo que na histria da retrica, a utilizao

    da metfora foi entendida como uma graa, um ornamento, um poder adicional da linguagem.

    Recentemente, vem sendo investigada a possibilidade de a metfora ser pensada no apenas

    como uma forma especial da linguagem, mas fundamentalmente uma forma de pensar. a metfora

    como constitutiva da linguagem.

    O avano nas discusses, no entanto, no parou na relao entre metfora e pensamento e, a

    este passo, outro foi acrescentado. Falamos dos estudos mencionados por Leary (1994) nos quais o

    pensamento metafrico, ao ser concebido em seu sentido mais amplo, auxiliou a constituir, e no

    meramente refletir, teoria e prtica cientficas. Assim, a metfora deixa de ser pensada apenas em

    suas funes esttica e retrica e passa a ser reconhecida em sua funo cognitiva que, no mbito

    das cincias, propicia o avano do conhecimento cientfico. Veremos que estes postulados, no entanto,

    esto longe de serem aceitos unanimemente. Como aponta Carone (2004, p. 13), ao falar das grandes

  • A METFORA NA TEORIA LACANIANA:O ESTDIO DO ESPELHO

    135

    questes que surgiram a respeito da metfora, parece que dois mil anos de controvrsias sobre o ser da

    metfora ainda no foram suficientes para desvelar todos os seus mistrios.

    Leary (1990, p. 2) ainda desenvolve sua tese sobre a idia de que todo conhecimento est, em

    ltima anlise, enraizado em modos metafricos (ou analgicos) de percepo e pensamento. Ele

    enfatiza a satisfao subjetiva do ser humano, quando este encontra similaridades em

    qualquer aspecto interessante de sua experincia, seja quando este aspecto o atinge pela

    primeira vez, seja de um novo jeito. Esta similaridade buscada e encontrada explicitamente

    ou implicitamente metafrica em sua natureza e funo. prprio do ser humano procurar

    por analogia nas coisas, nas qualidades e eventos que deseja compreender.

    A tese acima j se encontra em Richards (1971) e este um dos pontos em que o autor critica

    Aristteles e sua afirmao sobre o olhar para semelhanas ser uma ddiva que alguns homens tm

    e outros no. Diz Richards (1971, p. 89): Mas ns todos vivemos e falamos, apenas atravs do nosso olhar

    para semelhanas. Sem isto ns pereceramos cedo. Apesar de algumas pessoas poderem ter um olhar melhor

    do que outras, as diferenas entre elas so apenas em grau e podem ser remediadas.

    Para um aprofundamento da tese formulada, Leary (1990) faz uma distino entre a metfora e as

    outras figuras de linguagem e de pensamento. As definies dadas pelo autor so semelhantes s

    encontradas nas gramticas escolares (como apontado anteriormente) e se baseiam na concepo de

    Aristteles da metfora caracterizada como o processo de atribuir a alguma coisa um nome que pertence

    outra. Assim, a Teoria Substitutiva de Aristteles coloca que unidades semnticas (nomes e verbos)

    podem ser substitudas por termos no usuais, estranhos linguagem corrente, visando a um efeito

    esttico. Este deslocamento a metfora, a qual conteria um termo substitudo o termo prprio da linguagem

    corrente e um termo substituinte termo imprprio, arrancado de outro lugar para fazer a substituio.

    Fica claro, na definio de Aristteles sobre a metfora, que sua funo apenas esttica e

    decorativa, no comportando qualquer inteno informativa. Leary (1990) faz uma pequena modificao

    na definio de Aristteles, dizendo que a metfora, freqentemente, envolve mais do que a simples

    transferncia de um nome: envolve a transferncia de predicados e descries. Esta postura reflete,

    novamente, a de Richards (1971), a qual ser desenvolvida com mais detalhe neste momento.

    Contrariando a Teoria Substitutiva de Aristteles, Richards (1971) cria a Teoria Predicativa,

    cuja unidade semntica no mais a palavra e sim o contexto, a frase ou a proposio. O autor nos

    aconselha a deixarmos de lado, por um momento, a idia de que as palavras tm um sentido prprio

    e que o discurso seria apenas uma composio destes sentidos. Esta idia uma superstio, pois a

    maioria das palavras, quando passam de um contexto para outro, muda seu significado e de diversas

    formas. Para o autor, esta flutuao do sentido das palavras no apenas ocorre, como tambm

    necessria para que o discurso comum no sofra de rigidez.

    Richards (1971) analisa que a estabilidade de uma palavra deriva da constncia dos contextos

    e, assim como estes variam, tambm existem muitos tipos de estabilidade. Assim, o autor reconhece

    a flutuao de sentidos das palavras, mas defende que, no contexto, elas perdem a ambigidade, j

  • HELENA AMSTALDEN IMANISHI

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    que um dos sentidos possveis selecionado. Em sua teoria, a metfora comporta a interao de

    dois pensamentos diferentes sustentados por uma s palavra, ou frase, cujo resultado o significado.

    Mas em que esta palavra ou frase se baseia para desencadear a interao dos dois pensamentos?

    neste momento que falaremos em tenor, vehicle e ground.

    O autor coloca que encontramos na metfora sempre dois componentes: 1) o vehicle:

    modificador do termo; e 2) o tenor: a idia ou assunto principal no qual o vehicle atuar. Os dois

    componentes se relacionam a partir do ground, definido como aquilo que comum aos termos e

    ainda que a semelhana no seja clara , consiste na base da metfora. Assim, a metfora entendida

    como uma predicao, na qual o predicado o vehicle e o sujeito o tenor, sendo a funo do

    primeiro qualificar, iluminar o segundo. Alm disso, a metfora tambm consiste em uma comparao,

    pois se est aproximando coisas diferentes para dizer algo sobre o tenor, o sujeito.

    Leary (1990) tambm assume esta postura e, com relao metfora e outras figuras de linguagem,

    acrescenta que, ao incluir a analogia no seu conceito, a metfora tem sua definio ampliada, tornando-

    se no apenas uma dentre as figuras de linguagem, mas sim, abarcando uma variedade delas.

    Em relao discusso sobre linguagem metafrica e literal, Leary entende a linguagem literal

    como sendo aquela construda por uma comunidade lingstica. Mais uma vez enfatizado o carter de

    conveno em contraposio idia, j discutida, das palavras terem um sentido prprio. O autor

    acrescenta no ser possvel fazer uma distino profunda entre linguagem literal e metafrica, pois acredita

    que esta transformao se d em um nico contnuo. O autor exemplifica com a expresso perna da

    cadeira: evidente que este termo perna foi originalmente uma metfora e apenas com o seu uso

    repetido na lngua que tal termo se transformou, pelo costume, em um termo literal. A este respeito,

    Richards (1971) coloca que a fronteira entre o uso literal e metafrico no muito fixa ou constante, pois

    uma palavra pode ser simultaneamente literal e metafrica. Ou seja, se por um lado a palavra pode sustentar

    diversas metforas, ela tambm pode servir para focar em um sentido dentre os vrios possveis.

    Nem sempre fcil reconhecer, se uma palavra est sendo usada em seu sentido literal ou

    metafrico e Richards (1971) nos aconselha a resolver o impasse, decidindo se ela nos d duas

    idias ou uma. Percebemos o quanto as posies acima enfatizam a inevitabilidade da linguagem

    metafrica em nosso discurso.

    Podemos tratar agora de uma questo importante que Leary (1990) levanta sobre a metfora

    e o nascimento da cincia moderna. O autor observa que, no sculo XVII, a emergncia da cincia foi

    concomitante ao desenvolvimento de teorias antimetafricas.

    J discutimos sobre a metfora ser parte da comunicao e da linguagem, no entanto, para

    uma cincia que busca preciso (epistemologias empiristas, positivistas e neopositivistas), a utilizao

    da metfora passa a ser condenada e considerada como um desvio, imprpria, visto criar um campo

    de interpretao no desejvel ao discurso cientfico.

    Para garantir uma linguagem objetiva, os pensadores antimetafricos defendem o princpio da

    identidade, um princpio regulador que incentiva o uso de termos unvocos termos tcnicos como

    esfera, retngulo, entre outros , que no dem margem ambigidade. Assim, a linguagem cientfica

    restrita e controlada. No permite metfora, flutuao dos sentidos para no haver contradio.

  • A METFORA NA TEORIA LACANIANA:O ESTDIO DO ESPELHO

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    J podemos imaginar e antecipar que termos tericos mentais como identificao,

    resistncia, sublimao, etc. estaro na mira de cincias como a de Bacon e Skinner, por se referirem

    a entidades e processos no observveis. Carone (2004, pp. 08) escreve a este respeito:

    Os termos mentais passaram por uma inspeo rigorosa desse programa de policiamento da

    linguagem. ... De modo geral, previa-se a substituio de termos mentais por termos comportamentais.

    Os termos mentais irredutveis foram considerados metafricos, produzindo no-sensos lgicos

    de sentenas nas quais ocorriam. Ou seja, a inverificabilidade do significado das sentenas.

    Um dos grandes problemas da posio cientfica o esquecimento de que o princpio da

    identidade um princpio postulado. Como conseqncia, este modelo passa a no se restringir

    apenas ao mbito da cincia, mas se extrapola como norma de toda boa linguagem.

    O interessante a contradio apontada por Leary (1990) de que, apesar da crtica metfora,

    estas mesmas teorias estavam carregadas delas e eram extremamente retricas. O autor exemplifica com

    Sprat e Hobbes e a utilizao de termos como cores da retrica ou os conselhos da fantasia. Quanto

    retrica, esta era clara na tentativa de convencimento de que a linguagem cientfica era direta, lgica,

    exata, formalmente rigorosa, etc.

    em contraposio s normas da linguagem cientfica que Richards (1971) fala em uma Nova

    Retrica a qual, em contraposio antiga, no v a metfora como uma falha, mas sim como uma

    conseqncia inevitvel dos poderes da linguagem e como um princpio onipresente da mesma. O

    autor acrescenta que mesmo na linguagem da cincia com grande dificuldade que o uso da metfora

    eliminado ou prevenido.

    Chegamos agora a um ponto mais prximo do qual pretendemos discutir no segundo tpico.

    Trata-se da metfora nas teorias psicolgicas. A este respeito, Leary (1990) afirma que conceitos

    como alma, mente, da tradicional Psicologia mentalista derivam, historicamente, da elaborao de

    modos metafricos de compreenso da experincia humana. Citando John Locke, ele exemplifica

    com os termos como imaginao, apreenso, compreenso, distrbio, tranqilidade em que cada

    um deles originalmente significava estados e processos fsicos.

    Leary defende que nossos conceitos mentais bsicos so metafricos e que estes no so

    simplesmente descritivos, mas tambm transformativos. Ele enfatiza dois pontos sobre a aplicabilidade

    da metfora. O primeiro diz respeito ao impacto que a metfora pode ter, tanto na prtica, como no

    desenvolvimento terico. O segundo ponto defende que os conceitos metafricos podem passar por

    um desenvolvimento progressivo e histrico, alterando suas vestes analgicas de tempos em tempos.

    o caso das noes de esprito e respirao, que originalmente tinham um referente fsico e,

    pouco a pouco, tal referente foi deixando de ser.

    Comea-se a pensar o papel das metforas como constitutivas de teorias e auxiliando na

    compreenso do fenmeno. Por fim, este tpico ser encerrado com Freud e as metforas da

    psicanlise, as quais tm um interesse especial para este trabalho, visto objetivarmos discutir

    posteriormente uma metfora que se encontra neste campo.

  • HELENA AMSTALDEN IMANISHI

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    Leary (1990) afirma que Freud foi bastante perspicaz ao nos advertir que a teoria psicanaltica,

    como qualquer outra teoria, uma mitologia, no sentido de serem inevitveis algumas especulaes

    no interior da mesma. O pai da psicanlise era explcito quanto ao papel das metforas, dizendo que

    tais expresses eram peculiares Psicologia e, para melhorar sua teoria, Freud experimentou

    qualquer metfora que pudesse avanar seu conhecimento a respeito do psiquismo humano.

    Leary (1990, p. 18) escreve que, ao utilizar expresses metafricas, Freud claramente estava

    seguindo seu prprio conselho de mudar as analogias e comparaes sempre que necessrio. Ou seja, Freud

    estava ciente da insuficincia que uma nica metfora poderia originar e, freqentemente, explicitava

    as especificaes e limitaes de suas analogias dentro do contexto nas quais as usava.

    AS METFORAS EM LACAN: O ESTDIO DO ESPELHO

    No preciso conhecer muito da obra de Lacan para observar a intensidade com que as

    metforas aparecem no seu discurso. Se Freud reconhecia a metfora como peculiar Psicologia,

    Lacan as iluminava, explicitamente, em alguns de seus principais conceitos: a metfora paterna, o

    inconsciente estruturado como linguagem, a metfora do espelho, metfora e metonmia como

    formaes do inconsciente, alm de, constantemente, emprestar conceitos e modelos da Lingstica,

    da Matemtica, entre outras cincias, para explicar seu objeto de estudo.

    Cabe lembrar que os livros e publicaes de Lacan, em sua maioria, so transcries de

    palestras e seminrios que o mesmo realizava. Havia de fato uma platia que Lacan procurava

    ensinar e, porque no, convencer. Em um de seus seminrios ocorridos nos anos de 1954-1955,

    Lacan (1987, p. 30-31) explica:

    H dois pblicos, aquele que est aqui, e que tem ao menos uma chance de nortear-se, e o

    outro, que vem de horizontes bem diferentes, dar uma cheirada no que se passa, que acha isto

    engraado, assunto para comentrios e conversas na mesa, e que pode, naturalmente, ficar um

    pouco desnorteado. Se quiserem nortear-se que sejam mais assduos. Nunca se desencoraja por

    demais a curiosidade no se trata de conferncias mundanas. Se eles vm acreditando que

    queremos fazer da psicanlise o prolongamento do dilogo platoniano, enganam-se. Pois que

    se informem.

    Acreditamos que as metforas em Lacan assumem no apenas funes estticas, como tambm

    retricas e cognitivas. Mas antes de nos aprofundarmos nesta questo, cabe acompanharmos o texto

    O estdio do espelho como formador da funo do eu: tal como nos revelada na experincia psicanaltica,

    comunicao feita ao XVI Congresso Internacional de Psicanlise, em Zurique (17 de julho de 1949)

    e publicada em 1966/1998.

  • A METFORA NA TEORIA LACANIANA:O ESTDIO DO ESPELHO

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    ENTENDENDO O ESTDIO DO ESPELHO COMO METFORA

    Basta compreender o estdio do espelho como uma identificao, no sentido pleno que a

    anlise atribui a esse termo, ou seja, a transformao produzida no sujeito quando ele assume

    uma imagem (Lacan, 1998).

    Neste primeiro momento, vamos tentar compreender de que forma Lacan utiliza a metfora

    do espelho e, tambm, explicitar as analogias entre ambos os fenmenos: o ptico e o analtico. Para

    tanto, cabe inicialmente identificar os elementos presentes na imagem que servem de campo para a

    articulao do estdio do espelho e, posteriormente, discutir cada um destes elementos.

    A imagem que Lacan utiliza parte de experimentos da Psicologia Comparada sobre o beb (a

    partir dos seis meses de idade) que, ao olhar para um espelho, d indcios de se reconhecer na

    imagem refletida. Podemos tentar dividir didaticamente a imagem nos seguintes elementos: 1) o

    beb; 2) o espelho; 3) sua imagem; e 4) o processo de se reconhecer nesta imagem.

    Comecemos, ento, pelo primeiro elemento: o beb ou criana.

    Logo no ttulo do texto aqui referenciado h uma nota de rodap, especificando que o eu a ser

    tratado diz respeito ao Je, sujeito do inconsciente. Esta observao faz referncia discriminao que

    Lacan, em uma fase posterior de sua obra, faz entre o Moi Ego/Eu freudiano, consciente e um Je

    sujeito do inconsciente/do desejo. Alm disso, no primeiro pargrafo, Lacan avisa que a concepo do

    estdio do espelho traz esclarecimentos sobre o eu da experincia psicanaltica e se ope a qualquer filosofia

    diretamente oriunda do Cogito. Ou seja, no se trata do eu racional, consciente implicado na frase de

    Descartes Penso, logo existo.

    Um trecho da dissertao de Behar (1984, p. 22) pode nos ajudar a compreender:

    O que se produz l, no campo virtual que o inconsciente, tem efeitos aqui que, na metfora, o

    anterior ao espelho. Mas onde, do ponto de vista da teoria lacaniana o aqui, antes do espelho,

    anterior relao especular? o real, o no simbolizado, um dos registros da Topologia Lacaniana.

    Assim como o beb, pouco consciente de si, j se reconhece no espelho, Lacan se refere a um

    eu anterior linguagem, um eu ainda no simbolizado, mas que j est captado em uma imagem.

    Mas que imagem esta?

    Passemos para a discusso deste elemento a imagem na metfora.

    Durante a leitura do texto, podemos reconhecer algumas analogias em relao imagem

    ptica e imagem como formadora do eu. Estas analogias ou se quiserem, o ground da metfora

    podem ser sustentados em algumas caractersticas inerentes a ambas: o eu como imagem, o eu como

    imagem virtual, o eu como imagem virtual alienada.

    Comecemos pelo eu como imagem.

    Na formao do eu, h um primeiro momento em que este tomado como uma imagem

    imagem especular , tal como a criana que reconhece sua prpria imagem no espelho. Esta imagem

  • HELENA AMSTALDEN IMANISHI

    140

    especular do eu mediadora entre o interno e o externo e fundamental para que o interno seja

    vivido como prprio. Trata-se de, inicialmente, um eu imagem que, em seminrios posteriores, ser

    melhor desenvolvido, quando Lacan articula os trs registros: real, simblico e imaginrio.

    Alm disso, Lacan utiliza a metfora do espelho para elucidar, na analogia entre o

    fenmeno ptico e o analtico, que ambos so da ordem do virtual. Expliquemos melhor

    este aspecto da metfora.

    O fenmeno de se reconhecer no espelho este ato de inteligncia j pode ser identificado

    no macaco. No entanto, Lacan (1998, p. 96) observa:

    Este ato, com efeito, longe de se esgotar, como no caso do macaco, no controle uma vez adquirido

    da inanidade da imagem, logo repercute, na criana, uma srie de gestos em que ela experimenta

    ludicamente a relao dos movimentos assumidos pela imagem com seu meio refletido, e desse

    complexo virtual com a realidade que ele reduplica, isto , com seu prprio corpo e com as pessoas,

    ou seja, os objetos que estejam em suas imediaes.

    Ora, neste trecho inicial do texto, Lacan no est mais se restringindo a falar da relao da

    criana com o espelho ptico, mas dela com a realidade ao seu redor. Ele mistura metfora e literal

    para introduzir sua hiptese de que, assim como a imagem no espelho virtual, tambm o a

    relao que a criana estabelece com seu prprio corpo, com as pessoas e objetos. Este momento da

    imagem especular primordial e antecede dialtica da identificao com o outro. A conquista da

    imagem especular ser a origem de onde partiro todas as identificaes ulteriores.

    Lacan ainda usa a metfora para falar sobre o eu imagem virtual alienado. O autor escreve

    que a forma total do corpo, sua Gestalt, simboliza tanto a permanncia mental do eu, como prefigura

    sua destinao alienante.

    Pensemos primeiro no espelho em seu sentido literal. Para que a criana veja sua imagem no

    espelho e reconhea como sendo dela, necessrio uma operao complexa que consiste em se

    desdobrar e reconhecer que aquela imagem ela e, ao mesmo tempo, no ela. Assim tambm

    acontece na formao do eu da psicanlise. Para Lacan, a conquista da imagem do corpo prprio pela

    criana corresponde a uma imagem que dela, mas que ao mesmo tempo no dela, est alienada.

    Mas alienada onde? Quem ou o qu seria o espelho e esta imagem na qual o eu estaria alienado? Para

    responder a esta questo, precisamos fazer uma breve distino entre o outro e o Outro.

    O pequeno outro, com letra minscula, refere-se ao outro semelhante, ao prximo que, no incio

    do desenvolvimento da criana, serviria como identificao. Assim, possvel pensar que Lacan explora a

    metfora do espelho, alegando que a imagem refletida corresponderia quela do outro semelhante e que,

    no caso do eu da psicanlise, atravs do outro que a criana toma sua imagem corporal numa Gestalt.

    Lacan (1998) traz dois exemplos de experimentos biolgicos no qual se evidenciam os efeitos

    que uma Gestalt capaz como formadora sobre o organismo. O primeiro fala que a maturao da

    gnada na pomba tem como condio necessria a viso de um congnere, no importa de qual

    sexo. Acrescenta que tal condio to suficiente que, basta colocar o animal de frente ao espelho,

  • A METFORA NA TEORIA LACANIANA:O ESTDIO DO ESPELHO

    141

    para que seu efeito seja obtido. O segundo exemplo diz respeito transio da forma solitria para

    a forma gregria no gafanhoto, a qual obtida se o indivduo for exposto, numa certa etapa, ao

    exclusivamente visual de uma imagem similar. Basta que esta imagem seja animada por movimentos

    de um estilo suficientemente prximo dos que so prprios sua espcie.

    E quanto ao Grande Outro? Bom, neste momento que falaremos sobre um terceiro elemento

    da metfora, qual seja, o espelho.

    O grande Outro, em alguns textos lacanianos, entendido como a linguagem, em outros,

    como a cultura e ainda como o Simblico (um dos registros da topologia lacaniana). Para o presente

    trabalho, basta entender que este Outro representado na metfora como o espelho e encarnado na

    me ou seu correspondente (o pequeno outro, imagem).

    Lacan entende que esta conquista da imagem do corpo prprio, ou seja, a constituio de um

    eu na criana, depende, no apenas de um desenvolvimento maturacional, mas exige a implicao de

    um outro, o qual insere a criana no universo da linguagem e da comunicao. a partir dos cuidados

    necessitados pelo beb para sua sobrevivncia, que a me inscreve marcas e empresta significados

    para nomear as sensaes e comportamentos da criana. Ou seja, o beb se dirige a este Outro-

    espelho encarnado neste outro-semelhante em busca de uma imagem que o totalize. o olhar da

    me que antecipa a Gestalt de um corpo unificado no beb. Portanto, falar em sujeito na teoria

    lacaniana no gratuito, pois percebemos que se trata de um eu assujeitado ao Outro e ao seu

    desejo. No entanto, este assujeitamento inicial entendido como fundamental e necessrio para

    que a criana possa vir a se inserir no mundo dos humanos.

    Ora, se estamos dizendo que a criana busca uma imagem totalizante, deduz-se que nem

    sempre foi assim. Para Lacan, neste processo do eu se reconhecer em uma imagem, haveria a passagem

    de uma imagem fragmentada do corpo a uma forma ortopdica de sua totalidade. Assim, por

    questes tambm neurolgicas, de pr-maturao, a criana parte de uma confuso primeira entre si

    e o outro, da experincia inicial de um corpo disperso e esfacelado, para alcanar a totalidade unificada

    de seu corpo, e tal apropriao seria fator estruturante para a identidade do sujeito. Se esta passagem

    se d pela mediao do espelho, estamos diante da metfora e, portanto, do espelho-outro/Outro.

    Este estdio fundamental na formao do eu e corresponde ao primeiro tempo do dipo.

    com o fim deste estdio, quando a criana se apropria de uma imagem especular, que ela pode ingressar

    no complexo de dipo e prosseguir com sua constituio de sujeito. Lacan (1998, p. 101) diz que esse

    momento em que se conclui o estdio do espelho inaugura, pela identificao com a imago do semelhante e pelo

    drama do cime primordial ... a dialtica que desde ento liga o eu a situaes socialmente elaboradas.

    ANALISANDO A UTILIZAO DAS METFORAS NA TEORIA LACANIANA

    Um primeiro comentrio sobre o texto discutido acima diz respeito alternncia, no avisada,

    entre o espelho metafrico e o espelho ptico. Principalmente no seu incio, ora Lacan se refere s

    atividades do beb diante do espelho, ora explicita a analogia entre este fenmeno e o analtico, o

    que exige uma exaustiva ateno de nossa parte. Alm disso, notamos durante todo seu texto que

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    Lacan no hesita em empregar metforas em seu discurso. Podemos exemplificar quando o autor se

    refere conquista da forma total do corpo como uma miragem, como o mundo de sua fabricao,

    como um relevo de estatura que a (imagem) congela em oposio turbulncia de movimentos

    com que a criana experimenta anim-la.

    Retrica, esttica ou funo cognitiva da metfora? Talvez as trs juntas, mas inegvel que

    tal abuso de metforas possa ser questionado, j que certamente o texto deixa de ter a clareza e

    objetividade que a cincia moderna busca.

    O interessante que as metforas utilizadas no exemplo fazem referncia ao virtual, iluso

    e, tendo em vista a hiptese que Lacan busca discutir de um eu imagem, virtual, alienado no Outro

    tais escolhas metafricas no parecem ser aleatrias. Talvez exista a tentativa de convencer aos

    ouvintes, apelando imaginao.

    Ora, se estamos falando em metforas e convencimento, entramos no mbito de sua funo

    retrica. Behar (1984, p. 15-16) coloca o estdio do espelho neste campo. Para a articulao destas

    questes freudianas da constituio do eu, Lacan se utilizar de uma metfora a do espelho plano. Como

    de um recurso retrico que Lacan se utilizar, cabe inicialmente lembrar o uso desta figura nesta rea do

    saber. A autora prossegue dando uma definio de metfora semelhante quela de Aristteles e a

    classificando como uma figura retrica.

    Lacan tambm no negava a funo retrica de seus argumentos e, entre eles, podemos

    incluir a metfora. E para quem questionasse os termos utilizados pelo autor, Lacan (1996,

    p. 341) respondia:

    No digam que a escolhi meus termos seja o que for que eu tenha a dizer. Ainda que no seja

    intil relembrar aqui que o discurso da cincia, embora recomendando-se a objetividade, a

    neutralidade, a mediocridade, ou at mesmo o gnero sulpiciano, to desonesto, to negro de

    intenes quanto qualquer outro discurso retrico.

    O que podemos observar no trecho acima, que Lacan no nega a retrica em seu discurso e,

    mais ainda, destitui o discurso cientfico da neutralidade e objetividade almejada. interessante que

    o texto em referncia um apndice inserido nos Escritos diz respeito a uma interveno de Lacan,

    a propsito da comunicao do Sr. Perelman, sobre a teoria da metfora como funo retrica.

    Enfim, a funo retrica da metfora parece estar presente em Lacan, mas podemos nos

    perguntar se seria apenas isso. De nossa parte, no cremos que assim seja. Ao contrrio, a metfora

    parece ter outros papis, muito importantes na teoria do autor.

    Se Richards (1971) como discutido no tpico Metforas: definies e funes possveis

    atribua metfora um lugar onipresente na linguagem e pensamento humano, parece que Lacan

    transpunha esta idia para o inconsciente, pois o autor articulava na metfora uma das duas vertentes

    fundamentais do jogo do inconsciente. Lacan (1996, p. 341) defendia que a mais sria realidade, e

    mesmo a nica sria para o homem; se considerarmos seu papel de suporte da metonmia de seu desejo, no

    pode ser retida seno na metfora.

  • A METFORA NA TEORIA LACANIANA:O ESTDIO DO ESPELHO

    143

    E quanto posio de Freud (1996, citado por Carone, 2004, p.8) sobre o fato de que o nosso

    psiquismo s poderia ser descrito por meio de analogia e comparaes, embora sujeitas a contnuas mudanas

    e substituies porque nenhuma delas seria suficiente para dar conta das peculiaridades do seu objeto?

    Parece que Lacan (1996) defendia, como ningum, que o inconsciente jamais poderia ser

    reduzido a uma linguagem objetiva e neutra como a da cincia.

    Ora, se pensarmos que a metfora estaria cumprindo a funo de explicar, fazer entender

    fenmenos sem referentes observveis, estamos no campo da metfora em sua funo cognitiva.

    Lacan no hesitava ao afirmar que a psicanlise tinha um valor de revoluo coperniciana e que a

    relao toda do homem consigo mesmo havia mudado de perspectiva com a descoberta freudiana. O

    autor rechaava a idia de fusionar a Psicanlise na Psicologia geral, pois isto significaria o abandono,

    a escamoteao, o recalque daquilo que a anlise tinha trazido de essencial (Lacan, 1987).

    Lacan (1987, p. 23) cita aqueles que formulam o seguinte: Os conceitos analticos no tm

    valor nenhum, no correspondem realidade e imediatamente Lacan (1987, p. 23) responde: Mas

    esta realidade, como apreend-la se no a designarmos por intermdio de nosso vocabulrio? ... Se a

    Psicanlise no for os conceitos nos quais ela se formula e se transmite, ela no a Psicanlise, outra

    coisa, mas ento preciso diz-lo.

    Ou seja, a idia do sistema terico como uma sublinguagem, com universo de discurso

    prprio, composto de entidades hipotticas, postuladas, que no existiam antes da teoria as criar.

    Assim parece ser o discurso psicanaltico para Lacan. Ele no passvel de ser parafraseado, pois seu

    objeto o inconsciente inacessvel e no o comportamento humano. Lacan (1987, pp. 27) acrescenta:

    Seria, contudo, um engano no perceber que, apesar de fundamentada sobre a forma da cincia

    experimental, a epistem moderna, tal como no tempo de Scrates, permanece sendo

    fundamentalmente uma certa coerncia do discurso. Trata-se simplesmente de saber o que esta

    coerncia quer dizer, que tipo de ligao ela comporta.

    Quanto idia da metfora estar sujeita a contnuas mudanas e substituies, podemos nos

    referir prpria metfora discutida no presente trabalho. Vinte anos mais tarde da conferncia O

    estdio do espelho como formador da funo do eu, Lacan muda a metfora utilizada em vista de se

    adequar melhor s suas formulaes. O autor substitui a metfora do espelho plano pela dos espelhos

    conjugados um esfrico e o outro plano que produzem o fenmeno do vaso invertido. Essa

    passagem foi mediada pelos estudos desenvolvidos por Lacan sobre a formao do smbolo, a passagem

    da constituio da imagem ao smbolo e a relao do smbolo com a linguagem (Behar, 1984).

    Aparentemente, Lacan era um forte adepto da idia de que, por mais que a cincia

    evolusse, por mais que procurssemos compreender ns e o mundo, sempre haveria uma parte

    de inapreenso dos fenmenos e, para falar sobre este aspecto da realidade humana, Lacan parece

    no ter poupado conceitos.

    Em 1953, em uma conferncia na Sociedade Francesa de Psicanlise, ele introduz o Real como

    um dos registros do psiquismo humano. Este descrito como o irrepresentvel, aquilo que escapa

  • HELENA AMSTALDEN IMANISHI

    144

    ao analista, linguagem, ao significante. No Seminrio 7, A tica da Psicanlise, Lacan (1997) fala em

    Das Ding como o fora-do-significado, o verdadeiro segredo, como o objeto perdido e passvel de ser

    reencontrado apenas como saudade. No Seminrio 5, As Formaes do Inconsciente, articula um novo

    conceito, gozo, entendido como um movimento do inconsciente que resiste ao simblico, situa-se

    no Real e est no centro da repetio (Lacan, 1999). No Seminrio 4, Lacan (1995) fala do objeto a

    objeto faltoso, causa do desejo, que origina os objetos substitutos e, no entanto, nunca satisfaz

    plenamente o desejo. Mais uma vez, o autor fala sobre algo excludo do significante.

    Certamente, seria necessrio uma compreenso mais profunda da obra de Lacan para examinar

    este aspecto da teoria, mas impossvel negar sua existncia. Salientado sempre o inapreensvel,

    talvez Lacan buscasse reproduzi-lo em seus prprios textos, seminrios e publicaes. Lacan (1996,

    p. 341) chega a afirmar: Onde quero chegar, seno a convenc-los de que o que o inconsciente traz a nosso

    exame, a lei pela qual a enunciao no se reduzir nunca ao enunciado de discurso algum?. No por

    acaso que Dor (1989, p. 7) se refere teoria lacaniana como uma obra psicanaltica cujo acesso tem a

    reputao de ser difcil.

    Fica a questo se esta no era exatamente a inteno de Lacan, qual seja, fazer da forma de

    seus textos o reflexo do contedo de sua teoria e, se assim for, nada melhor do que o uso de metforas.

    Ambguas, imprecisas, sujeitas a interpretaes e contradies, elas nunca poderiam ser reduzidas a

    parfrases literais, por maior que fossem o nmero delas e, entre um discurso objetivo repleto de

    parfrases e outro ambguo mas que fornecesse idias, cuja fora seria muito maior por recorrer

    a metforas e imagens , acreditamos que Lacan no hesitaria em optar pelo segundo.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    Aristteles (2005). Arte potica. (P. Nassetti, trad.). So Paulo: Martin Claret.

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    Lacan, J. (1953). O simblico, o imaginrio e o real - conferncia. In: Cadernos Lacan,publicao no comercial da Associao Psicanaltica de Porto Alegre.

    Lacan, J. (1987). Saber, verdade, opinio. In: J. Lacan, Seminrio 2: O eu na teoria deFreud e na tcnica da psicanlise (M. C. I. Penot, trad., 2 ed.; pp. 22-40). Rio deJaneiro: Zahar. (Original publicado em 1978).

  • A METFORA NA TEORIA LACANIANA:O ESTDIO DO ESPELHO

    145

    Lacan, J. (1995). Seminrio 4: A relao de objeto. (D. D. Estrada, trad.) Rio de Janeiro:Zahar. (Original publicado em 1956-1957).

    Lacan, J. (1996). Apndice II: A metfora do sujeito. In: J. Lacan, Escritos. (I. Oseki-Depr, trad.; pp. 337-342). So Paulo: Perspectiva. (Original publicado em 1966).

    Lacan, J. (1997). Das Ding. In: J. Lacan, Seminrio 7: A tica da Psicanlise. (A. Quinet,trad.; pp. 58-74). Rio de Janeiro: Ed. Jorge Zahar. (Original publicado em 1986).

    Lacan, J. (1998). O estdio do espelho como formador da funo do eu. In: J. Lacan,Escritos. (V. Ribeiro, trad.; pp. 96-103). Rio de Janeiro: Zahar. (Original publicadoem 1966).

    Lacan, J. (1999). Seminrio 5: As formaes do inconsciente. (V. Ribeiro, trad.) Rio de Janeiro:Zahar. (Original publicado em 1998).

    Leary, D.E. (1990). Psyches muse: The role of metaphor in the history of Psychology.In: D. E. Leary (Org.), Metaphor in the history of Psychology (pp. 1-78). Cambridge:Cambridge U. Press.

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    Richards. I.A. (1971). The philosophy of rhetorics. London: Oxford Univerity Press.

    Recebido em 01/02/07Revisto em 17/06/08Aceito em 22/06/08