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ALBERTO GONÇALVES
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A MENTE DE DEUS
UMA VIAGEM PELO UNIVERSO QUÂNTICO
ALBERTO GONÇALVES
www.albertogoncalves.com.br
Ribeirão Preto - SP
2a Edição – 2013
A Mente de Deus
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Revisão: Ricardo Cosme Gonçalves
Maria Aparecida de Paiva Mestriner
Projeto Gráfico e Formatação: Alberto Cosme Gonçalves
Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Central do Campus da USP de Ribeirão Preto
001 Gonçalves, Alberto Cosme, 1950- G624m A Mente de Deus: Uma viagem pelo universo quântico 2ª Ed /Alberto Cosme Gonçalves. Ribeirão Preto: [s.n.], 2012. 224 p.: il.; 140 x 210 mm. ISBN 978-85-902302-4-3 1.001 – Ciências e Conhecimento. 2. Cosmologia. 3. Filosofia. 4. Sabedoria. I. Título. CDU 001
2013
Copyright ©2012 Todos os direitos reservados a: Alberto Cosme Gonçalves ISBN: 978-85-902302-4-3 2a Edição
Fale com o autor: [email protected] www.albertogoncalves.com.br Todos os d ir e i tos r eservados. Nenhuma par te do conteúdo deste l ivro poderá ser u t i l i zada ou reproduzida em qualquer meio ou forma , se ja e le impresso , d ig i ta l , áud io ou vi sua l sem a expressa autor ização por e scr i to do autor Alber to Cosme Gonça lves , sob penas cr imina i s e ações c iv i s .
ALBERTO GONÇALVES
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PREFÁCIO
Foi com muita satisfação e grande honra que
recebi o pedido do meu amigo Alberto Gonçalves para
fazer o prefácio do seu livro “A Mente de Deus: Uma
viagem pelo universo quântico”. Além disso, ter o
privilégio de ler o livro em primeira mão, antes de
todos os leitores, me deixou muito orgulhoso. Quero
informar ao meu amigo Alberto e a todos que tiverem a
felicidade de ler esse livro, que o trabalho é magnífico.
Magnífico pelo seu jeito simples de escrever (Alberto
não o escreveu com dicionário nas mãos como muitos
o fazem) e magnífico pela profundidade do tema.
Alguns o acharão difícil de ser lido porque energia
quântica não é um tema conhecido pela população em
geral, o que de início, poderá trazer alguma dificuldade.
Se persistir na leitura o leitor vai começar a se
interessar por essa nova ciência e em breve estará
familiarizado com o microcosmo, a chamada ciência
quântica. Neste livro, Alberto procurou sintetizar tudo
o que já foi estudado e publicado sobre este vasto
mundo das coisas minúsculas e invisíveis aos menos
preocupados com o tema. Nós, que estamos
acostumados a viver nesse macrocosmo maluco e
devastador, vamos nos assombrar com o que existe no
microcosmo que está sendo usado por nós, mas que
muitos de nós não o percebemos. As ondas de luz, de
calor, de todo e qualquer tipo de energia está
intimamente ligada ao microcosmo.
O Homem sempre foi um ótimo perguntador, mas
um mau respondedor! O homem comum, pergunta nem
sempre com a mente, mas, em geral, responde apenas
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com a boca. O cientista procura responder com
pesquisa, com trabalho profundo e bem alicerçado.
Alberto pesquisou os trabalhos publicados para
escrever o seu livro. Não deixou Deus de fora, a maior
energia do micro e macrocósmica do universo. Não
deixou de lado a filosofia, a ciência teórica que orienta e,
sempre orientou o pensamento do homem por todos os
tempos! Costumo dizer que a Filosofia pode ser
comparada a um cavalo alado que visita todo o universo,
inclusive o universo do pensamento do homem, à procura
da explicação do comportamento do mundo e do ser
humano, por intermédio da lógica. Digo que religião é
uma parte desse universo que a tudo acolhe ou repudia e,
a ciência é outra parte que somente acredita nela mesmo!
A ciência sempre anda à procura da verdade! A verdade
da ciência, entretanto, nem sempre é verdadeira! As
verdades vão caindo à medida que novas descobertas vão
aparecendo (novas verdades)! A história do homem não
começou com alhures, mas consigo mesmo! Cada célula
do corpo humano, assim como cada ser vivo ou morto,
tem uma história! A ciência que estuda o microcosmo
procura estudar e, a cada dia, descobrir mais, sobre o que
a célula, o átomo, as divisões do átomo têm para lhe
mostrar! A saúde do homem está ligada diretamente a
harmonia da convivência dessas células e átomos! O
homem, desde os mais famosos e inteligentes, até os mais
ignorantes e analfabetos, são muito parecidos, para não
dizer que são iguais. A cultura pode diferenciar o homem
no seu convívio, mas não o modificará na sua essência!
Há uma força superior, uma energia que comanda os
homens e todo o universo! As pesquisas do microcosmo
estão, cada vez mais, chegando perto dessa força suprema
que a maioria dos humanos chama de Deus!
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A ciência é a eterna formiguinha que nunca para
de procurar folhas novas em árvores que muitas vezes
parecem estar distantes, para trazer para o seu celeiro.
Estas árvores, cada vez mais desfolhadas, vão
fornecendo o combustível gasto nas novas descobertas.
Que árvores seriam essas? Vou deixar para o leitor
pensar!
A evolução do homem não se dá em linha reta,
sem interrupção, porque a ciência assim não caminha.
A evolução do homem caminha com novas descobertas
da ciência, com a experiência adquirida das descobertas
anteriores, com os erros e acertos dos antepassados.
Isto lhe causa alguns sobressaltos!
Alberto teve a coragem e a sabedoria para juntar
todas as novidades e todos os sobressaltos sofridos
pela ciência no estudo do microcosmo. Teve o grande
mérito de juntar em um único volume toda a história da
ciência quântica. Quero cumprimentá-lo pela
capacidade de pesquisa, de síntese e de apresentação de
um livro, que com certeza será muito bem recebido,
lido e interpretado.
Meus sinceros parabéns amigo Alberto Gonçalves,
escritor que está deixando a marca do seu esforço e de
sua capacidade, gravada neste livro.
Nelson Jacintho1
1 = Médico, membro da Academia Ribeirão -pretana de Letras, coordenador do Grupo de Médicos Escritores de Ribeirão Preto, membro da Academia Brasileira de Médicos Escritores, membro da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, membro da Casa do Poeta e da Ordem dos Velhos Jornalistas.
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1 REALIDADE SUPRASSENSÍVEL
"Entre as doutrinas de Tlön, nenhuma mereceu
tanto escândalo como o materialismo.”1 Jorge Luis Borges (1899–1987)
eligião, Filosofia e Ciência são respostas da sociedade
para tentar esclarecer as questões fundamentais que
sempre fizeram parte do imaginário humano: Deus
existe? Quem somos nós? De onde viemos? Para
onde iremos? Há vida após a morte? O que é a vida? Qual a
diferença entre espírito e matéria? Existem leis fundamentais
capazes de controlar a natureza? Qual a diferença entre o bem e
o mal? Como se processa a consciência?
Durante o trajeto civilizatório, a curiosidade humana foi
acumulando perguntas, desencadeadas pelas limitações
sensoriais que impossibilitam decifrar os mistérios da existência.
Pensamentos que geraram muitas escolhas, mas nunca
produziram respostas apropriadas.
Religião, Filosofia e Ciência, às vezes se confundem,
outras divergem, mas sempre estiveram intimamente
relacionadas com o princípio fundamental de que não existe
uma verdade absoluta, mas a certeza de que somos pequenos,
falhos e infinitamente limitados.
Todo o conhecimento assimilado é uma atribuição
exclusiva da Ciência e todo dogma que ultrapassa essa cognição
pertence à Teologia. Essas características distintas fizeram com
1 = "Tlön, Uqbar, Orbis Tertius" (BORGES 1995; p.37)
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que no mundo exista apenas uma ciência com incontáveis
propostas e milhares de religiões, com apenas duas certezas:
existe um só Deus e o bem deve prevalecer. Excluindo esses
fatos quase universais, os conceitos religiosos se tornaram
tantos e tão diversificados que não é exagero afirmar que
existem diferenças, tênues ou significativas, na forma de pensar
de cada ser humano em particular.
Com esses limites definidos, restou à Filosofia se situar
entre eles, especulando sobre os assuntos que o conhecimento
científico ainda não conseguiu consolidar, sem se fixar aos
dogmas religiosos.
Enquanto a Ciência se limita a ensinar o estritamente
conhecido, sem se preocupar em esclarecer o todo, a Teologia
induz a crenças dogmáticas, centradas na fé, suscitando uma
espécie de insolência para com o Universo. E, entre esses
extremos, segue a Filosofia, embrulhada em um manto de
paralisia e hesitação. O dogma aqui referido não é no sentido
pejorativo ou depreciativo, mas relacionado às premissas
fundamentais de cada doutrina religiosa, cuja verdade deve ser
aceita sem contestação. Dogma é uma palavra derivada do
grego “opinião” e que, por definição, não se discute. É
impossível ser cristão sem aceitar a Bíblia, ser mulçumano sem
seguir o Alcorão ou ser espírita sem acreditar na existência de
espíritos...
Os objetivos sempre foram os mesmos: compreender,
ordenar e explicar o Homem e a sua relação com o Macro e o
Micro Cosmo. As diferenças são os caminhos assumidos e os
instrumentos utilizados, sempre radicalmente diferentes quanto
à forma, interesse e abordagem.
As religiões procuram alcançar a compreensão do mundo
e o significado da vida, explorando as emoções e esmiuçando os
sentimentos humanos comuns: medo, alegria, euforia,
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desespero, coragem, amor, ressentimentos, culpas. E, para
extrair essas emoções, vale tudo: penitências e castigos, jejuns e
abstinências, rituais mágicos e mantras, cânticos e louvores,
enfim, tudo aquilo que pode alterar ou influenciar o “estado de
espírito”. O seu único propósito é conferir ao homem um
diploma sobre o seu próprio destino, capaz de proporcionar
domínio e entendimento, não só sobre a sua vida, carne e
espírito, mas também sobre o Universo. Todas as religiões, sem
exceção, partem do princípio que detêm a verdade absoluta e,
em razão disso, os homens assumem um estado de
conformação absoluta com os dogmas ou se reformam. Não
existem alternativas.
A Filosofia, por sua vez, também procura alcançar o
significado do homem e a sua relação para com o universo,
porém desprezando as emoções e centrando o seu instrumento
de trabalho no pensamento, substituindo o sentimento pela
lógica. Enquanto a Religião trabalha com o fogo alto das
emoções, a Filosofia tempera no banho-maria da razão.
Enquanto o caminho da Religião é retilíneo, envolvente,
excitante, luminoso, largo e imperativo – você crê ou foge, ama
ou deixa, segue ou abandona – a Filosofia segue por uma senda
obscura, sinuosa, despretensiosa, desafiante e sedutora, como se
o único desafio fosse descobrir a melhor rota por si mesmo.
Enquanto a Filosofia oferece a esperança de um horizonte, abre
um caminho, joga com o tempo e o espaço; a Religião
proporciona a solução definitiva para todas as indagações
humanas.
Finalmente, nesse emaranhado de arrepsia, segue a
Ciência buscando as mesmas respostas, mas explorando o
físico, valendo-se apenas do tangível: neurônios, átomos,
campos de força, células, equações, números...
Essa lógica sinistra fortalece o conceito de que só a
Ciência poderá oferecer a verdadeira e definitiva resposta para
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os fundamentos da vida e da existência, sendo por isso,
incompleta e demorada, frágil e lenta, minuciosa e detalhista,
vulnerável e inserta. Mas, mesmo com essas ambiguidades, que
a fazem rever os seus rumos com frequência, e na certeza de
que nunca conseguirá responder plenamente todas as
indagações, ainda assim, pode ser considerada a única cabal e
indiscutivelmente factual.
A Religião trabalha o éter, a Filosofia a essência e a
Ciência a substância. Enquanto que, para a Religião, o
importante é a comiseração e, para a Filosofia, o indispensável é
a capacidade de abstrair, para a Ciência é imprescindível
experimentar, provar, testar e demonstrar à exaustão. Enquanto
a Filosofia é espiritual e invasiva, a Religião é emocional e
anestesiante, a Ciência é lógica, material, pesada, sólida, além de
requerer frieza e desapego completo de sentimentos.
Fundamentalmente religião é uma palavra que veio do
latim “religare” que significa ligação com o divino, ou seja, um
conjunto de sistemas culturais, crenças e visões de mundo que
procura relacionar a humanidade com a espiritualidade, os
valores morais e o Criador. É sinônimo de fé, para se alcançar o
bem como a maior verdade universal.
Nos primeiros tempos da civilização ocidental, os
religiosos eram os desenvolvedores e principais responsáveis
pela guarda do conhecimento. Isso se intensificou na Europa
medieval, fazendo a igreja atingir o ápice do poder, levando-a a
escolher reis, ser proprietária de latifúndios e a principal, se não
a única, provedora da verdade, desviando-se do caminho
originalmente proposto.
Porém, como era inevitável, lentamente essa realidade
começou a mudar. O enfrentamento principiou discretamente,
com ciência, declarando de que a Terra não era o centro do
universo, como pregavam os religiosos. A partir daí, com a
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evolução e a disseminação dos conhecimentos, a confrontação
se tornou inevitável, aumentando até o definitivo rompimento.
Em 1641, René Descartes (1596-1650), um dos filósofos
mais influentes da história, formulou o dualismo moderno do
corpo-alma, reconhecendo a existência de espécies de diferentes
substâncias e realidades, o espírito ou alma, uma substância
imaterial, e a consciência e o cérebro que dão suporte à
inteligência. Chamou a mente de "coisa pensante" (res cog i tans )
e o corpo de a coisa externa (res extensa ) que ocupa lugar no
espaço. Assim, em termos metafísicos, Descartes considerava
que a realidade era constituída de duas substâncias distintas e
irreconciliáveis - matéria e espírito - sendo a substância material,
a realidade sensível; e o espírito, o não físico, não material.
A partir daí, os poderes se dividiram: a igreja passou a
controlar o invisível e a ciência o ostensório que a tornou
excessivamente materialista e a fez enraizar conceitos tão fortes
e aprofundados, o que levou muitos a declarar que Deus estava
morto, fazendo Koyré escrever (KOYRÉ 2001, p. 268-9):
“(...) a vitória de Newton era completa. O Deus
Newtoniano reinava como soberano no vazio
infinito do espaço absoluto em que a força da
atração unia os corpos à estrutura atômica do
imenso universo e regulava os seus movimentos
de acordo com leis matemáticas cada vez
mais severas e precisas. (...) Last but not least1,
o universo relógio constituído pelo Divino
Arquiteto estava muito mais bem feito do que
Newton tinha pensado. Cada progresso da
ciência newtoniana fornecia novas provas das
afirmações de Leibniz: a força motriz do
universo, a sua vis viva, não diminuía; o relógio
do mundo não exigia de forma alguma ser
1 = Por último, mas não menos importante.
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provido de novo, ou reparado. O Divino
Arquiteto tinha, portanto, cada vez menos a
fazer no mundo. Nem sequer necessitava de o
conservar no ser: o mundo, cada vez mais,
dispensava mesmo os seus serviços. Deste
modo, o Deus potente e atuante de Newton,
que 'governava' efetivamente o universo
segundo Sua livre vontade e Sua decisão,
tornou-se sucessivamente, ao longo de uma
rápida evolução, uma força conservadora,
uma intelligentia extra-mundana, um 'Deus
preguiçoso'. Interrogado por Napoleão sobre o
papel que cabia a Deus no seu sistema do
mundo, Laplace1 que, cem anos após Newton,
tinha conferido à nova cosmologia a sua
perfeição definitiva, respondeu: 'Sire, não
necessitarei dessa hipótese.' Mas não era o
Sistema, era o mundo que aí estava descrito
que não necessitava já da hipótese Deus. O
universo infinito da nova cosmologia, infinito na
duração e na extensão, no qual a matéria
eterna, de acordo com leis eternas, havia
herdado todos os atributos ontológicos da
divindade. Mas somente estes: quanto aos
outros, Deus, ao partir do mundo, levou-os com
Ele...”
1 = Pierre Simon, Marquis de Laplace (1749-1827) foi um importante matemático, astrônomo e físico francês que organizou a astronomia matemática, sumarizando e ampliando o trabalho de seus predecessores. Suas obras primas traduziram o estudo geométrico da mecânica clássica usada por Isaac Newton para um estudo baseado em cálculo, conhecido como mecânica física. Ele também formulou a equação de Laplace. A transformada de Laplace aparece em todos os ramos da física matemática — campo em que teve um papel fundamental. O operador diferencial de Laplace, da qual depende muito a matemática aplicada, também recebe seu nome.
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A partir daí o antagonismo se tornou latente,
novas teorias, conceitos revolucionários, ideias
extravagantes. Darwin, em nome da ciência, chegou a
contradizer o criador, declarando que éramos seres em
mutação, vivendo em um mundo de competição,
acentuando o rancor da igreja.
Definitivamente, Ciência, Filosofia e Religião,
cada uma a seu modo, passaram a trilhar caminhos
distintos, buscando respostas para as principais
indagações humanas.
Afinal, porque se preocupar e perder tempo com
problemas tão complexos e notoriamente insolúveis?
Assim que o homem se tornou capaz de pensar e
especular com liberdade, ele se percebeu envolto em
uma terrível solidão cósmica que o levou a depender de
teorias absolutamente inconsistentes, relativas ao bem e
o mal. Para se compreender uma determinada
sociedade, é preciso estudar a sua filosofia e, para
entender a sua filosofia, é preciso pensar e raciocinar
como um filósofo. As circunstâncias das vidas humanas
determinam a filosofia e a filosofia determina as suas
peculiaridades.
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2 FRONTEIRAS DO CONHECIMENTO
“Os metafísicos de Tlön não buscam a verdade
nem sequer a verossimilhança: buscam o
assombro. Julgam que a metafísica é um ramo
da literatura fantástica.”1
Jorge Luis Borges (1899–1987)
as sociedades humanas, em todos os tempos, a mãe de
todas as questões sempre foi a mesma: qual é a origem
e o propósito do universo? As respostas, denominadas
mitos da criação, são de uma riqueza que impressiona
qualquer expectador menos atento. Normalmente,
construídas com narrativas fantasiosas, tentam traduzir o fato
de o absoluto ter virado relativo e como o “uno” se tornou
“muitos”.
Analisando as lendas ancestrais, percebemos que as
revolucionárias teorias da atualidade, são meras recopilações
dos conhecimentos acumulados pela humanidade, transvertidas
pelo moderno jargão científico.
O ponto de encontro entre a Cosmologia e os mitos
históricos é o pressuposto de que o universo teve um princípio
único. Nos mitos, esse princípio é de uma realidade absoluta,
normalmente fundamentada em forma de dogmas religiosos ou
lendas, sejam elas baseadas em um único Deus ou deuses, no
nada ou no caos primordial. Já os físicos teóricos ensinam que,
1 = "Tlön, Uqbar, Orbis Tertius" (BORGES 1995; p.37)
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no início, as quatro forças fundamentais que regem o cosmo,
gravidade, eletromagnetismo e forças nucleares, forte e fraca,
estavam todas unificadas em uma única força denominada
campo unificado.
O estudo dos mitos é importante pelo fato deles
guardarem a chave para o entendimento da mente racional.
Estudar mitologia em geral, é mergulhar nas lendas, contos e
histórias atemporais de deuses, deusas e batalhas heroicas, que
sintetizam as mais notáveis e intrigantes características mentais,
os variados meandros e as distintas peculiaridades.
Apesar da modernidade, os mitos da criação permanecem
presentes no inconsciente coletivo e na vida de cada ser
humano, fazendo de cada um de nós os eternos deuses e heróis
de nossas próprias experiências de vida.
O ovo pode ser considerado um símbolo humano da vida
que guarda dentro de si o germe, a semente da criação, e
representa o nascimento, o renascimento, a renovação e o
eterno ciclo da criação a que estamos submetidos. Afinal, quem
nasceu primeiro: o ovo ou o animal? Essa pergunta singela
guarda toda inconsistência e perplexidade que o saber humano
consegue abstrair.
Foi exatamente por isso que celtas, gregos, egípcios,
fenícios, chineses e muitas outras civilizações antigas usaram
essa metáfora para explicar a criação do mundo.
Na China, uma lenda antiga ensina que, no princípio de
tudo, o Universo era um enorme caos, sendo semelhante a um
grande ovo preto, dentro do qual dormia o deus Pan Gu.
Após dezoito mil anos de hibernação, Pan Gu despertou
de seu sono e, ao se sentir sufocado e aprisionado pelas suas
paredes, quebrou a casca com um machado para se libertar. A
parte clara e leve do ovo derramado formou o Universo,
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enquanto que a parte fria e turva sedimentou-se e se
transformou no planeta Terra.
Preocupado com a possibilidade de o Universo e a Terra
se juntar novamente, Pan Gu ficou de pé e sustentou com a
cabeça o Universo e com os pés a Terra.
Passados mais dezoito mil anos, Pan Gu tornou-se um
gigante com 90 mil li (45 mil quilômetros) de altura. Foi preciso
outros milhares de anos até que o Universo finalmente
estabilizasse e a Terra se consolidasse.
Tempos depois, esgotado, Pau Gu caiu na Terra e
morreu. Depois disso, a sua antiga respiração transformou-se
em ventos e nuvens; a sua voz perdida virou o trovão; um dos
olhos formou o Sol e o outro a Lua. Os braços, pernas e tronco
converteram-se em cinco grandes montanhas, o sangue deu
origem aos rios e lagos. Os nervos tornaram-se as estradas e os
músculos as terras férteis. Cabelos e barbas formaram as
estrelas e os demais pelos e a pele do seu corpo constituíram-se
nas flores e árvores. Os ossos constituíram jades e pérolas e,
finalmente, do suor despendido nasceu o orvalho e a chuva
com a responsabilidade de alimentar todos os seres vivos do
planeta.
Na Índia acredita-se que uma gansa de nome Hamsa, um
espírito considerado o "Sopro divino", chocou o ovo cósmico
na superfície de águas primordiais. Em seguida o ovo dividiu-se
em duas partes, a clara deu origem ao Céu e a gema à Terra.
Para os celtas europeus, o ovo cósmico é reconhecido
como o produto de uma serpente cósmica, onde a gema
representa a Terra, a clara o firmamento e, finalmente, a
atmosfera e a casca a esfera celeste e os astros.
Na tradição cristã, o ovo aparece como uma renovação
periódica da natureza. Trata-se do mito da criação cíclica. Em
muitos países europeus, ainda hoje, é muito cultuada a crença
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de que comer ovos no domingo de Páscoa traz saúde e sorte
durante todo o ano e que os ovos postos na sexta-feira santa
têm a capacidade de curar doenças.
Já, a crença hindu, afirma que no inicio tudo era a
escuridão, envolta em um silêncio absoluto. Nesse tempo, o
Universo estava mergulhado em um grande sono eterno, até
que BRAHMAN mudou toda forma de ser. Primeiro, fez surgir
as “águas cósmicas”, onde depositou a sua semente. Com o
passar do tempo, a semente transformou-se num
resplandecente “ovo dourado”. Depois, como ele ainda não
tinha uma forma definida, passou um “ano cósmico” dentro do
“ovo dourado” para, em seguida, emergir milagrosamente na
forma de outra divindade, agora denominada BRAHMA (sem o
“N”), que criou o mundo e todas as suas criaturas.
Outras lendas não guardam semelhança com ovos, mas
da mesma forma tentam explicar, cada uma a seu modo, a
origem da vida e do Planeta.
Os hindus, também acreditam que no centro de uma teia
universal vivia uma deusa tecelã, chamada Maya, de onde
entrelaçou a ordem e reproduziu o mundo dos sentidos, de uma
forma tão extraordinariamente perfeita e interligada que é
impossível distinguir a realidade da imaginação no nosso
subconsciente.
Eles acreditam que, assim como Maya se encontra no
centro da teia cósmica, cada ser humano percebe a si mesmo
como estando no centro da sua própria existência. Da
perspectiva psicológica, isso significa que cada pessoa fia e tece
a sua própria realidade, a partir de um centro denominado
“Eu”, sem esquecer que existe uma conexão intrínseca com
todos os demais seres vivos do Planeta.
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Como veremos em detalhes, essa crença é quase
idêntica à hipótese mais avançada discutida pelos
físicos quânticos contemporâneos.
Do antigo Egito, em tempos perdidos no
conhecimento, emerge majestoso o mito da Grande
Deusa Tecelã. Assim como faz a aranha, ela produziu
no seu ventre os fios que formaram a estrutura do
Universo. Estes mesmos fios se entrelaçaram e se
organizaram continuamente até constituírem todos os
diferentes elementos que compõem o universo
multifacetado que conhecemos. Incorporando tudo de
que foi, é ou será constituída a teia -vida que interliga
todos os seres vivos do Planeta.
As narrativas do Antigo Testamento (GÊNESE 1-3)
descrevem a criação como o resultado da vontade
divina:
"No princípio, Deus criou os céus e a terra.
A terra estava informe e vazia; as trevas
cobriam o abismo e o Espírito de Deus
pairava sobre as águas. Deus disse 'Faça-
se a luz!' E a luz foi feita (...)”.
Na mitologia grega, a primeira divindade que
surgiu no universo foi o Khaos que pode ser
considerado uma divindade, o ar ou vazio primordial
que preenchia o espaço entre o Éter e a Terra. De
caráter informe, ilimitado e indefinido, propiciou o
nascimento de todos os seres e realidades presentes no
universo. Dessa imensidão surgiu a Terra, chamada
Gaia, que gerou as montanhas, as ninfas e o mar,
delimitando o espaço indefinido e separando: abaixo da
Terra, o Érebo, a morada das sombras, e , acima dela,
Urano, o céu estrelado.
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Muito mais tarde, Khaos passou a ser visto como
o estado primordial dos elementos. Essa palavra grega
deriva de um verbo cujo significado é cortar, rachar,
cindir ou separar, que deu origem a palavra caos que
significa confusão, desarrumação, balbúrdia, confusão
mental.
Os gregos também acreditavam na existência do
aithér, uma região superior dos ares ; do latim, ar sutil
ou céu, considerada própria essência do espaço, que
deu origem a palavra éter. Aristóteles dizia que a
'natureza abomina o vácuo ' e, fazendo uma
correlação com a atmosfera existente na Terra , e não
tendo como explicar a existência de corpos celestes se
movendo, imaginou uma espécie de fluido que
preenchia todos os espaços vazios existentes no
universo. Tanto Aristóteles, Pitágoras e outros sábios
identificavam como o quinto elemento da criação: água,
ar, fogo, terra e éter. Essa teoria surpreendente, ainda
hoje assombra muitos estudiosos.
Como veremos mais à frente em detalhes, essas
lendas vão de encontro e guardam semelhanças
intrigantes com as modernas teorias cosmológicas que
se desdobram para explicar a origem e as propriedades
do Universo.
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3 SIM, DEUS EXISTE!
"Os místicos pretendem que o êxtase lhes
revele uma câmara circular com um grande
livro circular de lombada contínua, que segue
toda volta das paredes, mas seu testemunho é
suspeito; suas palavras obscuras. Esse livro
cíclico é Deus."1
Jorge Luis Borges (1899–1987)
ão Tomas de Aquino (1225-1274) foi frade,
teólogo, escritor e é, até hoje, consagrado santo
e um dos mais influentes doutores da Igreja
Católica. Ele ensinou que o homem é um ser
duplo, formado pela união de um corpo material e uma
alma inteligível, ou seja, da qual não temos acesso e
nem percepção. É a alma que fornece consciência ao
homem, mas sem acesso direto a Deus, porque também
é um corpo material. Além disso, o conhecimento é
resultado dos sentidos humanos, atingindo o inteligível
através da abstração.
Suma Teológica é o título de sua obra
fundamental, escrita entre os anos 1265 e 1273, um
corpo de doutrina que se constituiu em num dos
principais alicerces da dogmática Católica Apostólica
Romana. É também considerada uma das principais
obras filosóficas da escolástica que trata da natureza de
1 = BORGES 1995, p.85.
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Deus, das questões morais e da natureza de Jesus.
Como afirmou o Papa Pio XI1: "A Suma Teológica é
o céu visto da terra".
Segundo ele, Deus é o princípio e o fim de todas
as coisas e, fazendo uso da luz natural da razão, a partir
das coisas criadas, é possível demonstrar a Sua
existência, sem precisar recorrer a nenhum outro
argumento de natureza religiosa ou dogmática (AQUINO,
Art.1-3):
“A existência da verdade é por si mesma
conhecida, pois quem lhe nega a
existência a concede; porquanto, se não
existe, é verdade que não existe.
Portanto, se alguma coisa é verdadeira, é
necessária a existência da verdade. Ora,
Deus é a própria verdade, como diz a
Escritura (Jo 14, 6): Eu sou o caminho, a
verdade e a vida. Logo, a existência de
Deus é por si mesma conhecida.”
Ele propôs cinco vias (ou, como ele dizia, cinco
provas) de natureza exclusivamente filosófica e
metafísica, para demonstrar a existência de Deus
(AQUINO, Art.3) :
PRIMEIRA VIA = PRIMEIRO MOTOR IMÓVEL:
Os nossos sentidos de percepção do mundo
atestam que nada está parado, tudo se movimenta.
Como tudo o que move precisa ser movimentado por
1 = Wikipédia: disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Suma_teol%C3 %B3gica apud in: Alocução de 12 de dezembro de 1924 no colégio Angelicum de Roma: http://sumateologica.permanencia.org.br/suma.htm Acesso em 3 de junho de 2007