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A MENTE DE DEUS UMA VIAGEM PELO UNIVERSO QUÂNTICO ALBERTO GONÇALVES

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ALBERTO GONÇALVES

1

A MENTE DE DEUS

UMA VIAGEM PELO UNIVERSO QUÂNTICO

ALBERTO GONÇALVES

A Mente de Deus

2

ALBERTO GONÇALVES

3

A MENTE DE DEUS

UMA VIAGEM PELO UNIVERSO QUÂNTICO

ALBERTO GONÇALVES

[email protected]

www.albertogoncalves.com.br

Ribeirão Preto - SP

2a Edição – 2013

A Mente de Deus

4

Revisão: Ricardo Cosme Gonçalves

Maria Aparecida de Paiva Mestriner

Projeto Gráfico e Formatação: Alberto Cosme Gonçalves

Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Central do Campus da USP de Ribeirão Preto

001 Gonçalves, Alberto Cosme, 1950- G624m A Mente de Deus: Uma viagem pelo universo quântico 2ª Ed /Alberto Cosme Gonçalves. Ribeirão Preto: [s.n.], 2012. 224 p.: il.; 140 x 210 mm. ISBN 978-85-902302-4-3 1.001 – Ciências e Conhecimento. 2. Cosmologia. 3. Filosofia. 4. Sabedoria. I. Título. CDU 001

2013

Copyright ©2012 Todos os direitos reservados a: Alberto Cosme Gonçalves ISBN: 978-85-902302-4-3 2a Edição

Fale com o autor: [email protected] www.albertogoncalves.com.br Todos os d ir e i tos r eservados. Nenhuma par te do conteúdo deste l ivro poderá ser u t i l i zada ou reproduzida em qualquer meio ou forma , se ja e le impresso , d ig i ta l , áud io ou vi sua l sem a expressa autor ização por e scr i to do autor Alber to Cosme Gonça lves , sob penas cr imina i s e ações c iv i s .

ALBERTO GONÇALVES

5

PREFÁCIO

Foi com muita satisfação e grande honra que

recebi o pedido do meu amigo Alberto Gonçalves para

fazer o prefácio do seu livro “A Mente de Deus: Uma

viagem pelo universo quântico”. Além disso, ter o

privilégio de ler o livro em primeira mão, antes de

todos os leitores, me deixou muito orgulhoso. Quero

informar ao meu amigo Alberto e a todos que tiverem a

felicidade de ler esse livro, que o trabalho é magnífico.

Magnífico pelo seu jeito simples de escrever (Alberto

não o escreveu com dicionário nas mãos como muitos

o fazem) e magnífico pela profundidade do tema.

Alguns o acharão difícil de ser lido porque energia

quântica não é um tema conhecido pela população em

geral, o que de início, poderá trazer alguma dificuldade.

Se persistir na leitura o leitor vai começar a se

interessar por essa nova ciência e em breve estará

familiarizado com o microcosmo, a chamada ciência

quântica. Neste livro, Alberto procurou sintetizar tudo

o que já foi estudado e publicado sobre este vasto

mundo das coisas minúsculas e invisíveis aos menos

preocupados com o tema. Nós, que estamos

acostumados a viver nesse macrocosmo maluco e

devastador, vamos nos assombrar com o que existe no

microcosmo que está sendo usado por nós, mas que

muitos de nós não o percebemos. As ondas de luz, de

calor, de todo e qualquer tipo de energia está

intimamente ligada ao microcosmo.

O Homem sempre foi um ótimo perguntador, mas

um mau respondedor! O homem comum, pergunta nem

sempre com a mente, mas, em geral, responde apenas

A Mente de Deus

6

com a boca. O cientista procura responder com

pesquisa, com trabalho profundo e bem alicerçado.

Alberto pesquisou os trabalhos publicados para

escrever o seu livro. Não deixou Deus de fora, a maior

energia do micro e macrocósmica do universo. Não

deixou de lado a filosofia, a ciência teórica que orienta e,

sempre orientou o pensamento do homem por todos os

tempos! Costumo dizer que a Filosofia pode ser

comparada a um cavalo alado que visita todo o universo,

inclusive o universo do pensamento do homem, à procura

da explicação do comportamento do mundo e do ser

humano, por intermédio da lógica. Digo que religião é

uma parte desse universo que a tudo acolhe ou repudia e,

a ciência é outra parte que somente acredita nela mesmo!

A ciência sempre anda à procura da verdade! A verdade

da ciência, entretanto, nem sempre é verdadeira! As

verdades vão caindo à medida que novas descobertas vão

aparecendo (novas verdades)! A história do homem não

começou com alhures, mas consigo mesmo! Cada célula

do corpo humano, assim como cada ser vivo ou morto,

tem uma história! A ciência que estuda o microcosmo

procura estudar e, a cada dia, descobrir mais, sobre o que

a célula, o átomo, as divisões do átomo têm para lhe

mostrar! A saúde do homem está ligada diretamente a

harmonia da convivência dessas células e átomos! O

homem, desde os mais famosos e inteligentes, até os mais

ignorantes e analfabetos, são muito parecidos, para não

dizer que são iguais. A cultura pode diferenciar o homem

no seu convívio, mas não o modificará na sua essência!

Há uma força superior, uma energia que comanda os

homens e todo o universo! As pesquisas do microcosmo

estão, cada vez mais, chegando perto dessa força suprema

que a maioria dos humanos chama de Deus!

ALBERTO GONÇALVES

7

A ciência é a eterna formiguinha que nunca para

de procurar folhas novas em árvores que muitas vezes

parecem estar distantes, para trazer para o seu celeiro.

Estas árvores, cada vez mais desfolhadas, vão

fornecendo o combustível gasto nas novas descobertas.

Que árvores seriam essas? Vou deixar para o leitor

pensar!

A evolução do homem não se dá em linha reta,

sem interrupção, porque a ciência assim não caminha.

A evolução do homem caminha com novas descobertas

da ciência, com a experiência adquirida das descobertas

anteriores, com os erros e acertos dos antepassados.

Isto lhe causa alguns sobressaltos!

Alberto teve a coragem e a sabedoria para juntar

todas as novidades e todos os sobressaltos sofridos

pela ciência no estudo do microcosmo. Teve o grande

mérito de juntar em um único volume toda a história da

ciência quântica. Quero cumprimentá-lo pela

capacidade de pesquisa, de síntese e de apresentação de

um livro, que com certeza será muito bem recebido,

lido e interpretado.

Meus sinceros parabéns amigo Alberto Gonçalves,

escritor que está deixando a marca do seu esforço e de

sua capacidade, gravada neste livro.

Nelson Jacintho1

1 = Médico, membro da Academia Ribeirão -pretana de Letras, coordenador do Grupo de Médicos Escritores de Ribeirão Preto, membro da Academia Brasileira de Médicos Escritores, membro da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, membro da Casa do Poeta e da Ordem dos Velhos Jornalistas.

A Mente de Deus

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ALBERTO GONÇALVES

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I

MUITAS PERGUNTAS,

POUCAS RESPOSTAS,

NENHUMA EXPLICAÇÃO.

A Mente de Deus

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ALBERTO GONÇALVES

11

1 REALIDADE SUPRASSENSÍVEL

"Entre as doutrinas de Tlön, nenhuma mereceu

tanto escândalo como o materialismo.”1 Jorge Luis Borges (1899–1987)

eligião, Filosofia e Ciência são respostas da sociedade

para tentar esclarecer as questões fundamentais que

sempre fizeram parte do imaginário humano: Deus

existe? Quem somos nós? De onde viemos? Para

onde iremos? Há vida após a morte? O que é a vida? Qual a

diferença entre espírito e matéria? Existem leis fundamentais

capazes de controlar a natureza? Qual a diferença entre o bem e

o mal? Como se processa a consciência?

Durante o trajeto civilizatório, a curiosidade humana foi

acumulando perguntas, desencadeadas pelas limitações

sensoriais que impossibilitam decifrar os mistérios da existência.

Pensamentos que geraram muitas escolhas, mas nunca

produziram respostas apropriadas.

Religião, Filosofia e Ciência, às vezes se confundem,

outras divergem, mas sempre estiveram intimamente

relacionadas com o princípio fundamental de que não existe

uma verdade absoluta, mas a certeza de que somos pequenos,

falhos e infinitamente limitados.

Todo o conhecimento assimilado é uma atribuição

exclusiva da Ciência e todo dogma que ultrapassa essa cognição

pertence à Teologia. Essas características distintas fizeram com

1 = "Tlön, Uqbar, Orbis Tertius" (BORGES 1995; p.37)

A Mente de Deus

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que no mundo exista apenas uma ciência com incontáveis

propostas e milhares de religiões, com apenas duas certezas:

existe um só Deus e o bem deve prevalecer. Excluindo esses

fatos quase universais, os conceitos religiosos se tornaram

tantos e tão diversificados que não é exagero afirmar que

existem diferenças, tênues ou significativas, na forma de pensar

de cada ser humano em particular.

Com esses limites definidos, restou à Filosofia se situar

entre eles, especulando sobre os assuntos que o conhecimento

científico ainda não conseguiu consolidar, sem se fixar aos

dogmas religiosos.

Enquanto a Ciência se limita a ensinar o estritamente

conhecido, sem se preocupar em esclarecer o todo, a Teologia

induz a crenças dogmáticas, centradas na fé, suscitando uma

espécie de insolência para com o Universo. E, entre esses

extremos, segue a Filosofia, embrulhada em um manto de

paralisia e hesitação. O dogma aqui referido não é no sentido

pejorativo ou depreciativo, mas relacionado às premissas

fundamentais de cada doutrina religiosa, cuja verdade deve ser

aceita sem contestação. Dogma é uma palavra derivada do

grego “opinião” e que, por definição, não se discute. É

impossível ser cristão sem aceitar a Bíblia, ser mulçumano sem

seguir o Alcorão ou ser espírita sem acreditar na existência de

espíritos...

Os objetivos sempre foram os mesmos: compreender,

ordenar e explicar o Homem e a sua relação com o Macro e o

Micro Cosmo. As diferenças são os caminhos assumidos e os

instrumentos utilizados, sempre radicalmente diferentes quanto

à forma, interesse e abordagem.

As religiões procuram alcançar a compreensão do mundo

e o significado da vida, explorando as emoções e esmiuçando os

sentimentos humanos comuns: medo, alegria, euforia,

ALBERTO GONÇALVES

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desespero, coragem, amor, ressentimentos, culpas. E, para

extrair essas emoções, vale tudo: penitências e castigos, jejuns e

abstinências, rituais mágicos e mantras, cânticos e louvores,

enfim, tudo aquilo que pode alterar ou influenciar o “estado de

espírito”. O seu único propósito é conferir ao homem um

diploma sobre o seu próprio destino, capaz de proporcionar

domínio e entendimento, não só sobre a sua vida, carne e

espírito, mas também sobre o Universo. Todas as religiões, sem

exceção, partem do princípio que detêm a verdade absoluta e,

em razão disso, os homens assumem um estado de

conformação absoluta com os dogmas ou se reformam. Não

existem alternativas.

A Filosofia, por sua vez, também procura alcançar o

significado do homem e a sua relação para com o universo,

porém desprezando as emoções e centrando o seu instrumento

de trabalho no pensamento, substituindo o sentimento pela

lógica. Enquanto a Religião trabalha com o fogo alto das

emoções, a Filosofia tempera no banho-maria da razão.

Enquanto o caminho da Religião é retilíneo, envolvente,

excitante, luminoso, largo e imperativo – você crê ou foge, ama

ou deixa, segue ou abandona – a Filosofia segue por uma senda

obscura, sinuosa, despretensiosa, desafiante e sedutora, como se

o único desafio fosse descobrir a melhor rota por si mesmo.

Enquanto a Filosofia oferece a esperança de um horizonte, abre

um caminho, joga com o tempo e o espaço; a Religião

proporciona a solução definitiva para todas as indagações

humanas.

Finalmente, nesse emaranhado de arrepsia, segue a

Ciência buscando as mesmas respostas, mas explorando o

físico, valendo-se apenas do tangível: neurônios, átomos,

campos de força, células, equações, números...

Essa lógica sinistra fortalece o conceito de que só a

Ciência poderá oferecer a verdadeira e definitiva resposta para

A Mente de Deus

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os fundamentos da vida e da existência, sendo por isso,

incompleta e demorada, frágil e lenta, minuciosa e detalhista,

vulnerável e inserta. Mas, mesmo com essas ambiguidades, que

a fazem rever os seus rumos com frequência, e na certeza de

que nunca conseguirá responder plenamente todas as

indagações, ainda assim, pode ser considerada a única cabal e

indiscutivelmente factual.

A Religião trabalha o éter, a Filosofia a essência e a

Ciência a substância. Enquanto que, para a Religião, o

importante é a comiseração e, para a Filosofia, o indispensável é

a capacidade de abstrair, para a Ciência é imprescindível

experimentar, provar, testar e demonstrar à exaustão. Enquanto

a Filosofia é espiritual e invasiva, a Religião é emocional e

anestesiante, a Ciência é lógica, material, pesada, sólida, além de

requerer frieza e desapego completo de sentimentos.

Fundamentalmente religião é uma palavra que veio do

latim “religare” que significa ligação com o divino, ou seja, um

conjunto de sistemas culturais, crenças e visões de mundo que

procura relacionar a humanidade com a espiritualidade, os

valores morais e o Criador. É sinônimo de fé, para se alcançar o

bem como a maior verdade universal.

Nos primeiros tempos da civilização ocidental, os

religiosos eram os desenvolvedores e principais responsáveis

pela guarda do conhecimento. Isso se intensificou na Europa

medieval, fazendo a igreja atingir o ápice do poder, levando-a a

escolher reis, ser proprietária de latifúndios e a principal, se não

a única, provedora da verdade, desviando-se do caminho

originalmente proposto.

Porém, como era inevitável, lentamente essa realidade

começou a mudar. O enfrentamento principiou discretamente,

com ciência, declarando de que a Terra não era o centro do

universo, como pregavam os religiosos. A partir daí, com a

ALBERTO GONÇALVES

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evolução e a disseminação dos conhecimentos, a confrontação

se tornou inevitável, aumentando até o definitivo rompimento.

Em 1641, René Descartes (1596-1650), um dos filósofos

mais influentes da história, formulou o dualismo moderno do

corpo-alma, reconhecendo a existência de espécies de diferentes

substâncias e realidades, o espírito ou alma, uma substância

imaterial, e a consciência e o cérebro que dão suporte à

inteligência. Chamou a mente de "coisa pensante" (res cog i tans )

e o corpo de a coisa externa (res extensa ) que ocupa lugar no

espaço. Assim, em termos metafísicos, Descartes considerava

que a realidade era constituída de duas substâncias distintas e

irreconciliáveis - matéria e espírito - sendo a substância material,

a realidade sensível; e o espírito, o não físico, não material.

A partir daí, os poderes se dividiram: a igreja passou a

controlar o invisível e a ciência o ostensório que a tornou

excessivamente materialista e a fez enraizar conceitos tão fortes

e aprofundados, o que levou muitos a declarar que Deus estava

morto, fazendo Koyré escrever (KOYRÉ 2001, p. 268-9):

“(...) a vitória de Newton era completa. O Deus

Newtoniano reinava como soberano no vazio

infinito do espaço absoluto em que a força da

atração unia os corpos à estrutura atômica do

imenso universo e regulava os seus movimentos

de acordo com leis matemáticas cada vez

mais severas e precisas. (...) Last but not least1,

o universo relógio constituído pelo Divino

Arquiteto estava muito mais bem feito do que

Newton tinha pensado. Cada progresso da

ciência newtoniana fornecia novas provas das

afirmações de Leibniz: a força motriz do

universo, a sua vis viva, não diminuía; o relógio

do mundo não exigia de forma alguma ser

1 = Por último, mas não menos importante.

A Mente de Deus

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provido de novo, ou reparado. O Divino

Arquiteto tinha, portanto, cada vez menos a

fazer no mundo. Nem sequer necessitava de o

conservar no ser: o mundo, cada vez mais,

dispensava mesmo os seus serviços. Deste

modo, o Deus potente e atuante de Newton,

que 'governava' efetivamente o universo

segundo Sua livre vontade e Sua decisão,

tornou-se sucessivamente, ao longo de uma

rápida evolução, uma força conservadora,

uma intelligentia extra-mundana, um 'Deus

preguiçoso'. Interrogado por Napoleão sobre o

papel que cabia a Deus no seu sistema do

mundo, Laplace1 que, cem anos após Newton,

tinha conferido à nova cosmologia a sua

perfeição definitiva, respondeu: 'Sire, não

necessitarei dessa hipótese.' Mas não era o

Sistema, era o mundo que aí estava descrito

que não necessitava já da hipótese Deus. O

universo infinito da nova cosmologia, infinito na

duração e na extensão, no qual a matéria

eterna, de acordo com leis eternas, havia

herdado todos os atributos ontológicos da

divindade. Mas somente estes: quanto aos

outros, Deus, ao partir do mundo, levou-os com

Ele...”

1 = Pierre Simon, Marquis de Laplace (1749-1827) foi um importante matemático, astrônomo e físico francês que organizou a astronomia matemática, sumarizando e ampliando o trabalho de seus predecessores. Suas obras primas traduziram o estudo geométrico da mecânica clássica usada por Isaac Newton para um estudo baseado em cálculo, conhecido como mecânica física. Ele também formulou a equação de Laplace. A transformada de Laplace aparece em todos os ramos da física matemática — campo em que teve um papel fundamental. O operador diferencial de Laplace, da qual depende muito a matemática aplicada, também recebe seu nome.

ALBERTO GONÇALVES

17

A partir daí o antagonismo se tornou latente,

novas teorias, conceitos revolucionários, ideias

extravagantes. Darwin, em nome da ciência, chegou a

contradizer o criador, declarando que éramos seres em

mutação, vivendo em um mundo de competição,

acentuando o rancor da igreja.

Definitivamente, Ciência, Filosofia e Religião,

cada uma a seu modo, passaram a trilhar caminhos

distintos, buscando respostas para as principais

indagações humanas.

Afinal, porque se preocupar e perder tempo com

problemas tão complexos e notoriamente insolúveis?

Assim que o homem se tornou capaz de pensar e

especular com liberdade, ele se percebeu envolto em

uma terrível solidão cósmica que o levou a depender de

teorias absolutamente inconsistentes, relativas ao bem e

o mal. Para se compreender uma determinada

sociedade, é preciso estudar a sua filosofia e, para

entender a sua filosofia, é preciso pensar e raciocinar

como um filósofo. As circunstâncias das vidas humanas

determinam a filosofia e a filosofia determina as suas

peculiaridades.

A Mente de Deus

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2 FRONTEIRAS DO CONHECIMENTO

“Os metafísicos de Tlön não buscam a verdade

nem sequer a verossimilhança: buscam o

assombro. Julgam que a metafísica é um ramo

da literatura fantástica.”1

Jorge Luis Borges (1899–1987)

as sociedades humanas, em todos os tempos, a mãe de

todas as questões sempre foi a mesma: qual é a origem

e o propósito do universo? As respostas, denominadas

mitos da criação, são de uma riqueza que impressiona

qualquer expectador menos atento. Normalmente,

construídas com narrativas fantasiosas, tentam traduzir o fato

de o absoluto ter virado relativo e como o “uno” se tornou

“muitos”.

Analisando as lendas ancestrais, percebemos que as

revolucionárias teorias da atualidade, são meras recopilações

dos conhecimentos acumulados pela humanidade, transvertidas

pelo moderno jargão científico.

O ponto de encontro entre a Cosmologia e os mitos

históricos é o pressuposto de que o universo teve um princípio

único. Nos mitos, esse princípio é de uma realidade absoluta,

normalmente fundamentada em forma de dogmas religiosos ou

lendas, sejam elas baseadas em um único Deus ou deuses, no

nada ou no caos primordial. Já os físicos teóricos ensinam que,

1 = "Tlön, Uqbar, Orbis Tertius" (BORGES 1995; p.37)

ALBERTO GONÇALVES

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no início, as quatro forças fundamentais que regem o cosmo,

gravidade, eletromagnetismo e forças nucleares, forte e fraca,

estavam todas unificadas em uma única força denominada

campo unificado.

O estudo dos mitos é importante pelo fato deles

guardarem a chave para o entendimento da mente racional.

Estudar mitologia em geral, é mergulhar nas lendas, contos e

histórias atemporais de deuses, deusas e batalhas heroicas, que

sintetizam as mais notáveis e intrigantes características mentais,

os variados meandros e as distintas peculiaridades.

Apesar da modernidade, os mitos da criação permanecem

presentes no inconsciente coletivo e na vida de cada ser

humano, fazendo de cada um de nós os eternos deuses e heróis

de nossas próprias experiências de vida.

O ovo pode ser considerado um símbolo humano da vida

que guarda dentro de si o germe, a semente da criação, e

representa o nascimento, o renascimento, a renovação e o

eterno ciclo da criação a que estamos submetidos. Afinal, quem

nasceu primeiro: o ovo ou o animal? Essa pergunta singela

guarda toda inconsistência e perplexidade que o saber humano

consegue abstrair.

Foi exatamente por isso que celtas, gregos, egípcios,

fenícios, chineses e muitas outras civilizações antigas usaram

essa metáfora para explicar a criação do mundo.

Na China, uma lenda antiga ensina que, no princípio de

tudo, o Universo era um enorme caos, sendo semelhante a um

grande ovo preto, dentro do qual dormia o deus Pan Gu.

Após dezoito mil anos de hibernação, Pan Gu despertou

de seu sono e, ao se sentir sufocado e aprisionado pelas suas

paredes, quebrou a casca com um machado para se libertar. A

parte clara e leve do ovo derramado formou o Universo,

A Mente de Deus

20

enquanto que a parte fria e turva sedimentou-se e se

transformou no planeta Terra.

Preocupado com a possibilidade de o Universo e a Terra

se juntar novamente, Pan Gu ficou de pé e sustentou com a

cabeça o Universo e com os pés a Terra.

Passados mais dezoito mil anos, Pan Gu tornou-se um

gigante com 90 mil li (45 mil quilômetros) de altura. Foi preciso

outros milhares de anos até que o Universo finalmente

estabilizasse e a Terra se consolidasse.

Tempos depois, esgotado, Pau Gu caiu na Terra e

morreu. Depois disso, a sua antiga respiração transformou-se

em ventos e nuvens; a sua voz perdida virou o trovão; um dos

olhos formou o Sol e o outro a Lua. Os braços, pernas e tronco

converteram-se em cinco grandes montanhas, o sangue deu

origem aos rios e lagos. Os nervos tornaram-se as estradas e os

músculos as terras férteis. Cabelos e barbas formaram as

estrelas e os demais pelos e a pele do seu corpo constituíram-se

nas flores e árvores. Os ossos constituíram jades e pérolas e,

finalmente, do suor despendido nasceu o orvalho e a chuva

com a responsabilidade de alimentar todos os seres vivos do

planeta.

Na Índia acredita-se que uma gansa de nome Hamsa, um

espírito considerado o "Sopro divino", chocou o ovo cósmico

na superfície de águas primordiais. Em seguida o ovo dividiu-se

em duas partes, a clara deu origem ao Céu e a gema à Terra.

Para os celtas europeus, o ovo cósmico é reconhecido

como o produto de uma serpente cósmica, onde a gema

representa a Terra, a clara o firmamento e, finalmente, a

atmosfera e a casca a esfera celeste e os astros.

Na tradição cristã, o ovo aparece como uma renovação

periódica da natureza. Trata-se do mito da criação cíclica. Em

muitos países europeus, ainda hoje, é muito cultuada a crença

ALBERTO GONÇALVES

21

de que comer ovos no domingo de Páscoa traz saúde e sorte

durante todo o ano e que os ovos postos na sexta-feira santa

têm a capacidade de curar doenças.

Já, a crença hindu, afirma que no inicio tudo era a

escuridão, envolta em um silêncio absoluto. Nesse tempo, o

Universo estava mergulhado em um grande sono eterno, até

que BRAHMAN mudou toda forma de ser. Primeiro, fez surgir

as “águas cósmicas”, onde depositou a sua semente. Com o

passar do tempo, a semente transformou-se num

resplandecente “ovo dourado”. Depois, como ele ainda não

tinha uma forma definida, passou um “ano cósmico” dentro do

“ovo dourado” para, em seguida, emergir milagrosamente na

forma de outra divindade, agora denominada BRAHMA (sem o

“N”), que criou o mundo e todas as suas criaturas.

Outras lendas não guardam semelhança com ovos, mas

da mesma forma tentam explicar, cada uma a seu modo, a

origem da vida e do Planeta.

Os hindus, também acreditam que no centro de uma teia

universal vivia uma deusa tecelã, chamada Maya, de onde

entrelaçou a ordem e reproduziu o mundo dos sentidos, de uma

forma tão extraordinariamente perfeita e interligada que é

impossível distinguir a realidade da imaginação no nosso

subconsciente.

Eles acreditam que, assim como Maya se encontra no

centro da teia cósmica, cada ser humano percebe a si mesmo

como estando no centro da sua própria existência. Da

perspectiva psicológica, isso significa que cada pessoa fia e tece

a sua própria realidade, a partir de um centro denominado

“Eu”, sem esquecer que existe uma conexão intrínseca com

todos os demais seres vivos do Planeta.

A Mente de Deus

22

Como veremos em detalhes, essa crença é quase

idêntica à hipótese mais avançada discutida pelos

físicos quânticos contemporâneos.

Do antigo Egito, em tempos perdidos no

conhecimento, emerge majestoso o mito da Grande

Deusa Tecelã. Assim como faz a aranha, ela produziu

no seu ventre os fios que formaram a estrutura do

Universo. Estes mesmos fios se entrelaçaram e se

organizaram continuamente até constituírem todos os

diferentes elementos que compõem o universo

multifacetado que conhecemos. Incorporando tudo de

que foi, é ou será constituída a teia -vida que interliga

todos os seres vivos do Planeta.

As narrativas do Antigo Testamento (GÊNESE 1-3)

descrevem a criação como o resultado da vontade

divina:

"No princípio, Deus criou os céus e a terra.

A terra estava informe e vazia; as trevas

cobriam o abismo e o Espírito de Deus

pairava sobre as águas. Deus disse 'Faça-

se a luz!' E a luz foi feita (...)”.

Na mitologia grega, a primeira divindade que

surgiu no universo foi o Khaos que pode ser

considerado uma divindade, o ar ou vazio primordial

que preenchia o espaço entre o Éter e a Terra. De

caráter informe, ilimitado e indefinido, propiciou o

nascimento de todos os seres e realidades presentes no

universo. Dessa imensidão surgiu a Terra, chamada

Gaia, que gerou as montanhas, as ninfas e o mar,

delimitando o espaço indefinido e separando: abaixo da

Terra, o Érebo, a morada das sombras, e , acima dela,

Urano, o céu estrelado.

ALBERTO GONÇALVES

23

Muito mais tarde, Khaos passou a ser visto como

o estado primordial dos elementos. Essa palavra grega

deriva de um verbo cujo significado é cortar, rachar,

cindir ou separar, que deu origem a palavra caos que

significa confusão, desarrumação, balbúrdia, confusão

mental.

Os gregos também acreditavam na existência do

aithér, uma região superior dos ares ; do latim, ar sutil

ou céu, considerada própria essência do espaço, que

deu origem a palavra éter. Aristóteles dizia que a

'natureza abomina o vácuo ' e, fazendo uma

correlação com a atmosfera existente na Terra , e não

tendo como explicar a existência de corpos celestes se

movendo, imaginou uma espécie de fluido que

preenchia todos os espaços vazios existentes no

universo. Tanto Aristóteles, Pitágoras e outros sábios

identificavam como o quinto elemento da criação: água,

ar, fogo, terra e éter. Essa teoria surpreendente, ainda

hoje assombra muitos estudiosos.

Como veremos mais à frente em detalhes, essas

lendas vão de encontro e guardam semelhanças

intrigantes com as modernas teorias cosmológicas que

se desdobram para explicar a origem e as propriedades

do Universo.

A Mente de Deus

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3 SIM, DEUS EXISTE!

"Os místicos pretendem que o êxtase lhes

revele uma câmara circular com um grande

livro circular de lombada contínua, que segue

toda volta das paredes, mas seu testemunho é

suspeito; suas palavras obscuras. Esse livro

cíclico é Deus."1

Jorge Luis Borges (1899–1987)

ão Tomas de Aquino (1225-1274) foi frade,

teólogo, escritor e é, até hoje, consagrado santo

e um dos mais influentes doutores da Igreja

Católica. Ele ensinou que o homem é um ser

duplo, formado pela união de um corpo material e uma

alma inteligível, ou seja, da qual não temos acesso e

nem percepção. É a alma que fornece consciência ao

homem, mas sem acesso direto a Deus, porque também

é um corpo material. Além disso, o conhecimento é

resultado dos sentidos humanos, atingindo o inteligível

através da abstração.

Suma Teológica é o título de sua obra

fundamental, escrita entre os anos 1265 e 1273, um

corpo de doutrina que se constituiu em num dos

principais alicerces da dogmática Católica Apostólica

Romana. É também considerada uma das principais

obras filosóficas da escolástica que trata da natureza de

1 = BORGES 1995, p.85.

ALBERTO GONÇALVES

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Deus, das questões morais e da natureza de Jesus.

Como afirmou o Papa Pio XI1: "A Suma Teológica é

o céu visto da terra".

Segundo ele, Deus é o princípio e o fim de todas

as coisas e, fazendo uso da luz natural da razão, a partir

das coisas criadas, é possível demonstrar a Sua

existência, sem precisar recorrer a nenhum outro

argumento de natureza religiosa ou dogmática (AQUINO,

Art.1-3):

“A existência da verdade é por si mesma

conhecida, pois quem lhe nega a

existência a concede; porquanto, se não

existe, é verdade que não existe.

Portanto, se alguma coisa é verdadeira, é

necessária a existência da verdade. Ora,

Deus é a própria verdade, como diz a

Escritura (Jo 14, 6): Eu sou o caminho, a

verdade e a vida. Logo, a existência de

Deus é por si mesma conhecida.”

Ele propôs cinco vias (ou, como ele dizia, cinco

provas) de natureza exclusivamente filosófica e

metafísica, para demonstrar a existência de Deus

(AQUINO, Art.3) :

PRIMEIRA VIA = PRIMEIRO MOTOR IMÓVEL:

Os nossos sentidos de percepção do mundo

atestam que nada está parado, tudo se movimenta.

Como tudo o que move precisa ser movimentado por

1 = Wikipédia: disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Suma_teol%C3 %B3gica apud in: Alocução de 12 de dezembro de 1924 no colégio Angelicum de Roma: http://sumateologica.permanencia.org.br/suma.htm Acesso em 3 de junho de 2007