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À memória da ausência mais sentida da minha vida - o meu Avô

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À memória da ausência mais sentida da minha vida - o meu Avô

AGRADECIMENTOS

Ao Professor Doutor Jorge Seixas pelo seu apoio neste projeto, e por permitir

finalmente a sua conclusão. Sem a sua colaboração e orientação não teria sido possível.

Ao meu grande mestre, Professor Doutor Jorge Atouguia pela amizade, pelo estímulo e

confiança depositados, por ser a minha referência máxima na Medicina Tropical que

tanto me apaixona.

À minha mulher e melhor amiga que apoiou incondicionalmente desde a primeira hora

este projeto ao longo destes anos, nomeadamente pelas horas de ausência durante a

gravidez do André…

Aos meus pais que ajudaram a tornar tudo isto possível.

Ao meu pequeno André, meu novo companheiro de aventura por ter tornado esta tarefa

mais hercúlea, mas com ainda mais significado.

À prima Margarida pela logística e pelos serões que guardarei para sempre com

nostalgia.

A todos os meus Amigos e Colegas que ao longo destes anos foram pedras essenciais no

meu trajeto profissional, principalmente os do serviço a que estou vinculado que são

atores principais deste estudo.

Por fim um agradecimento a todos que de uma forma ou outra me acompanham e se

cruzam na minha vida e que de alguma forma terão certamente algum crédito neste

trabalho.

RESUMO

ESTUDO DE PREVALÊNCIA DE TUBERCULOSE LATENTE EM

PROFISSIONAIS DE SAÚDE NUM HOSPITAL NO NORTE DE PORTUGAL

André Silva

Introdução: Os Profissionais de Saúde (PS) são reconhecidamente um grupo de alto

risco de exposição a infeção por Tuberculose Latente (TBL), no entanto pouco se sabe

da prevalência de TBL em PS especialmente em serviços de doenças infeciosas e

respiratórias.

Objectivos: Realizar a avaliação epidemiológica de TBL nos PS dos serviços de

doenças respiratórias e doenças infeciosas de um Hospital no Norte de Portugal.

Métodos: Entre Janeiro de 2011 e Fevereiro de 2012, 77 PS do Hospital de Joaquim

Urbano foram testados com QuantiFERON-TB Gold In-Tube. Foi recolhida informação

através de um questionário standard com informações sobre idade, género, país de

origem, grupo profissional, anos de trabalho no serviço em questão, vacinação prévia

com o BCG, provas de tuberculina anteriores, Tuberculose Latente diagnosticada no

passado e estado de imunodepressão.

Resultados: A prevalência de TBL fornecida pelo QFN-IT foi de 46,8%. O grupo

profissional com maior prevalência de TBL são os auxiliares de acção médica. São

observadas relações estatisticamente significativas entre aumento da positividade de

QFN-IT relativamente ao aumento de idade e do tempo de serviço no HJU.

Conclusões: Os dados obtidos de prevalência de TBL neste estudo, pela testagem de

QFN-IT são muito altos, em PS em contexto de alta exposição. No entanto coortes

maiores deverão ser estudadas. Os PS estão com o risco aumentado de contraírem TBL.

PALAVRAS-CHAVE: Tuberculose latente, Profissionais de saúde, Teste de libertação

de interferão gama

ABSTRACT

LATENT TUBERCULOSIS PREVALENCE STUDY IN HEALTHCARE

WORKERS IN A NORTHEN PORTUGUESE HOSPITAL

Andre Silva

Introduction: Healthcare workers (HCW) are recognized as a high risk exposed group

for Latent Tuberculosis (LTB), therefore little is known about the prevalence of LTB in

HCW especially in pulmonary and infectious diseases settings.

Objectives: To perform the epidemiological evaluation of TBL in HCW of pulmonary

and infectious diseases departments from a Hospital in Northern Portugal with

interferon-gamma release assays.

Methods: Between january of 2011 and february of 2012, 77 HCWs of Joaquim

Urbano Hospital were tested with QuantiFERON-TB Gold In-Tube. Information about

age, gender, country of origin, professional group, years in the workplace, previous

BCG vaccination, previous Tuberculin Skin Test, previous LTB diagnosed and Immune

status were collected.

Results: The prevalence of TBL given by QFT-IT was 46.8%. The professional group

with increased risk for LTB was the auxiliary staff. Significantly statistical relations

were observed between the positivity increase of the QFT-IT relativity to the variables

of age and time in the workplace.

Conclusions: The data’s collected of prevalence of LTB in this study by the

performance of the QFT are very high, for HCWs that are high exposed. Meanwhile

another cohorts should be tested. The HCW are at high risk to be infected.

KEYWORDS: Latent tuberculosis, Healthcare Workers, Interferon-gamma release

assays

ÍNDICE

LISTA DE ABREVIATURAS ..................................................................................................... 1

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 3

2. TUBERCULOSE ................................................................................................................... 6

2.1. EPIDEMIOLOGIA ......................................................................................................... 6

2.2. INFEÇÃO POR MICOBACTÉRIAS ATÍPICAS OU NÃO TUBERCULOSAS ......... 8

2.3. IMUNIZAÇÃO ATIVA COM O BACILO DE CALMETTE-GUÉRIN ...................... 8

2.3.1. História e Desenvolvimento do BCG ...................................................................... 8

2.3.2 Eficácia do BCG ....................................................................................................... 9

2.3.3 Duração da Imunidade ............................................................................................ 10

2.4. TESTE DE LIBERTAÇÃO DE INTERFERÃO GAMA (IGRA) ............................... 11

2.4.1 Indicação para IGRA .............................................................................................. 11

2.4.2 Mecanismo de Acção .............................................................................................. 12

2.4.3 Sensibilidade e Especificidade ................................................................................ 12

2.5 RASTREIO DE CONTATOS ....................................................................................... 13

2.6 TRATAMENTO DA TUBERCULOSE LATENTE .................................................... 14

3. OBJETIVOS GERAIS ......................................................................................................... 16

3.1. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ....................................................................................... 16

4. MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................................. 17

4.1. LOCAL DO ESTUDO.................................................................................................. 17

4.2. DESENHO DO ESTUDO ............................................................................................ 17

4.3. AMOSTRAGEM .......................................................................................................... 18

4.4. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO ...................................................................................... 18

4.5. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO ..................................................................................... 19

4.6. ANÁLISE ESTATÍSTICA ........................................................................................... 19

5. RESULTADOS ................................................................................................................... 20

6. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES......................................................................................... 29

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 35

8. LISTA DE TABELAS ......................................................................................................... 39

9. LISTA DE GRÁFICOS ....................................................................................................... 40

ANEXOS .................................................................................................................................... 41

ANEXO I – Autorização da Comissão de Ética do Hospital Joaquim Urbano........................... 42

ANEXO II – Instrumento de Colheita de Dados – Questionário ............................................ 43

ANEXO III – Consentimento Informado ................................................................................ 44

1

LISTA DE ABREVIATURAS

BCG – Bacilo de Calmette Guérin

C - Célsius

CDP – Centro de Diagnóstico Pneumológico

CFP-10 – Culture Filtrate Protein 10

ELISA – Enzime linked immune assay

ESAT-6 – Early Secreted Antigenic Target 6

HJU – Hospital de Joaquim Urbano

IGRA – Interferon Gamma Release Assay

ml - Mililitro

mm – Milimetro

MTB – Micobacterium tuberculosis

PPD – Protein Purified Derivate

PS – Profissionais de Saúde

PT – Prova de Tuberculina

QFNG – IT – Quantiferão gama gold in tube test

SIDA – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

TB – Tuberculose

TBMR – Tuberculose Multiresistente

TB-XDR – Tuberculose Extensivamente Resistente

TBL – Tuberculose Latente

Ul - Microlitro

2

VIH – Vírus da Imunodeficiência Humana

3

1. INTRODUÇÃO

A tuberculose (TB) é uma infeção bacteriana, principal causa de morte por uma

doença curável e a maior causa de morbilidade no mundo. (1) Assistimos a um

significativo declínio de novos casos de TB na década de 50 e 60, muito pela grande

preocupação de criação de infira-estruturas e profissionais dedicados à luta contra a

tuberculose, a um eficaz sistema de notificação, mas também pela utilização de

antibióticos específicos e melhoria das condições higieno-sanitárias da população.

Nos anos 80, fomos testemunhas da reemergência desta doença, por uma

deterioração das medidas de saúde pública para controlo da TB e muito por força do

aparecimento do VIH/SIDA, que na degradação do sistema imunitário provocado por

esta terrível doença, permitiu a entrada em cena de uma velha conhecida - a TB, como

doença oportunista. O pico desta incidência foi atingido nos inícios dos anos 90. (2)

Cerca de um terço da população mundial convive infetada pelo Mycobacterium

tuberculosis (MTB), agente que origina a TB.

No entanto na sua grande maioria a bactéria está dormente, apresentado-se inativa

(latente) não originando risco de transmissão a outros indivíduos. Não obstante, se o

sistema imunitário do hospedeiro desta infeção latente enfraquecer, a infeção por MTB

poderá abandonar o seu estado de presença silenciosa e tornar-se ativa desenvolvendo a

doença.

Os profissionais de saúde (PS) são um grupo profissional que pelas características

das suas funções em contexto ocupacional estão expostos a um risco considerável de

infeção nosocomial por MTB (3) (4). Esse risco torna-se aumentado quando esse grupo

profissional está exposto a doentes com doenças infeciosas, pela não observação das

regras básicas de proteção individual, como a correta utilização dos respiradores, áreas

de trabalho inadequadamente ventiladas, falta de condições de trabalho, nomeadamente

ausência de quartos de pressão negativa, exposição a aerossóis contaminados, entre

outras. (5)

4

A crescente necessidade de implementação de programas de controlo e despistagem

dirigidos a profissionais de saúde tem vindo a aumentar pelas elevadas taxas verificadas

de infeção por Tuberculose Latente (TBL) e por infeção ativa neste grupo profissional e

pela emergência de estirpes de MTB resistentes à primeira linha de antibacilares e a

pelo menos um dos antibacilares endovenosos de segunda linha, chamada de

extensivamente resistentes (TB-XDR). (4) (6) A emergência de grupos de risco como

são o caso de indivíduos infectados com VIH/SIDA, onde a co-infeção com a TB é já

epidémica, veio ainda agravar a situação de exposição ao risco de MTB dos PS.(5)

Dado o risco acrescido destes profissionais contraírem em contexto de trabalho TB,

esta é considerada em Portugal doença ocupacional. No entanto, e muito embora, seja

obrigatória a notificação dos casos com TB ativa, não existem dados oficiais do número

de profissionais que contraíram infeção em serviço. Em estudos recentemente

publicados sabemos que a incidência de TB em PS está diretamente relacionada com a

incidência da população em geral dessa mesma área geográfica. (7)

A grande maioria dos países de alta renda mantêm programas de rastreio aos PS

periodicamente, com o objetivo de diagnosticar TBL, inseridos numa estratégia de

programas de controlo de infeção por TB. Esta prática não é uma realidade em países de

média e baixa renda. (8)

Em Portugal exceção feita à divisão de Saúde Ocupacional do Hospital de S. João, o

rastreio de TB em PS, apenas é realizado em contexto de risco de contacto com fonte

identificada com infeção ativa por TB, no entanto esta unidade hospitalar tem vindo ao

longo dos últimos anos a estudar a prevalência de TBL em PS com vários estudos

publicados. O presente estudo pretende estudar o universo dos PS constituídos por

médicos, enfermeiros e auxiliares de ação médica dos serviços de internamento e

ambulatório do Hospital de Joaquim Urbano no Porto. O Hospital de Joaquim Urbano

(HJU) é um Hospital especializado exclusivamente em doenças infecciosas e

respiratórias, constituindo-se como um óptimo local de estudo de prevalência de TBL

entre profissionais de saúde. Estes profissionais em virtude da sua exposição elevada à

TB, constituem um grupo de elevado risco devendo por isso ser alvo de rastreio

periódico para TBL. (9)

5

Assim a identificação e tratamento de indivíduos com TBL são uma componente

indissociável das estratégias que visam a eliminação da TB em países de média e baixa

prevalência, que poderão contribuir para o global esforço de controlo e eliminação. (10)

Recentemente novos testes imunológicos de libertação de interferão gama (IGRA)

foram sendo testados e lançados gradualmente no mercado para diagnóstico de TBL,

numa primeira fase como apoio ao único teste até há pouco disponível e que ao longo

dos últimos cem anos tem ocupado o lugar de gold standard no diagnóstico de TBL e

no apoio à deteção de TB – a prova tuberculínica (PT), ou também designada prova de

Mantoux.

No entanto e por limitações constatadas ao longo dos anos, na sua utilização,

nomeadamente em indivíduos previamente imunizados com o BCG, que partilham

antigénios na sua produção originando falsos positivos. A Mantoux, um derivado de

proteína purificado (PPD) é uma mistura de antigénios partilhados de micobactérias não

tuberculosas (MNT) patogénicas e não patogénicas, que por sua vez também inferem o

erro quanto à sua leitura. Desta forma a Mantoux é uma mistura de 200 antigénios não

específicos que são partilhados com imensas MNT, assim como as estirpes do M. bovis

do BCG, confundindo o seu desempenho perante o M. tuberculosis. (11) Limitações

adicionais são as diferentes interpretações de leitura por diferentes profissionais, o

necessitar de duas visitas, uma para realização, outra para leitura obrigatoriamente com

presença de pessoal qualificado nas duas visitas. (12)

São já vários os países que adotam através de novas e recentes orientações os testes

IGRA como substitutos da tradicional prova de tuberculina no diagnóstico de TBL.

Estes testes oferecem várias vantagens nomeadamente apenas necessitarem de uma

única visita para a sua realização, deste modo, também diminuem a inter-observação

por profissionais diferentes e a sua repetição não interfere com a resposta obtida pelo

teste. (13) Os IGRA usam antigénios específicos para MTB, não apresentando

reatividade cruzada com a vacinação BCG, tão prevalente na população portuguesa por

aplicação do Plano Nacional de Vacinação (PNV), e com outras MNT que se julgam

também presentes em número considerável em Portugal. (14)

6

2. TUBERCULOSE

A TB é uma doença crónica granulomatosa necrozante causada por bacilos de M.

tuberculosis ou pelas espécies próximas relacionadas, o M. bovis e o M. africanum. A

sua disseminação primária é realizada pela inalação de aerossóis constituídos por

gotículas infetadas de pacientes com TB pulmonar ativa. Quando ocorre uma infeção, as

gotículas preenchidas de bactérias são inaladas para a porção mais profunda dos

pulmões onde se vão replicar e disseminar pelo corpo. O sistema imunitário pode

impedir que as bactérias continuem a sua replicação, mas muito frequentemente não é

capaz de as destruir definitivamente. Nesta altura permanece num estado inativo de

dormência silenciosa chamada de TBL não se manifestando em doença ativa, que

poderá prolongar-se para toda a vida. Por outro lado indivíduos com TBL, possuem o

risco de evoluir da condição de infeção latente para doença ativa, sobretudo nos dois

primeiros anos após a infeção ou na presença de situações em que o sistema imune

possa estar comprometido. (15)

Os pulmões são a porta de entrada principal, sendo que a manifestação mais comum

no homem é a doença pulmonar, mas quase todos os órgãos podem ser envolvidos. As

localizações extra-pulmonares mais frequentes são os nódulos linfáticos, a pleura, os

ossos e articulações. Embora a TB tenha uma distribuição mundial, 95% dos casos e

98% das mortes ocorrem em países em desenvolvimento. A emergência das resistências

multidrogas designada por TB multiresistente (TBMR) e a TB-XDR é neste momento

um desafio global, que coloca de novo o enfoque em novos instrumentos de

diagnóstico, avanços nas terapêuticas e na procura por novas vacinas para criar um

maior impacto no controlo da TB.

2.1.EPIDEMIOLOGIA

A TB é o maior problema de saúde global, crê-se mesmo pelos registos de PT

existentes que cerca de um terço da população mundial se encontre infetada com M.

tuberculosis. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima cerca de 9,4 milhões de

novos casos em 2009 com 1,7 milhões de mortes nesse mesmo ano, a sua grande

7

maioria na África subsariana, no entanto estão também a aumentar em grande número

os casos no Sudeste Asiático, bem como na bacia Mediterrânica. A TB é a segunda

causa de morte global, sendo apenas ultrapassada pelo HIV/SIDA. (16)

Em Portugal, em dados recolhidos para o ano de 2010, aquando da data de

realização deste estudo a incidência foi de 24 novos casos por 100.000 habitantes, com

uma prevalência de 32 casos por 100.000 habitantes com 1,5 mortes por cada 100.000

habitantes excluído a co-infeção com o VIH/SIDA. (17) (18) No nosso país a TB tem

apresentado uma curva tendencialmente decrescente salvo alguns anos que são exceção

ao longo dos últimos 50 anos, refletindo-se uma curva acentuada até meados da década

de 70, assistindo-se depois a uma inflexão, passando a haver uma tendência para

redução ligeira sendo o decréscimo de 2 para 3% ao ano. Apesar destas reduções

continua a verificar-se uma incidência superior à média europeia, no entanto a tendência

converge gradualmente para esta média europeia e aproxima Portugal da fasquia dos 20

casos por 100.000 habitantes, limite que define os países de baixa incidência, por

enquanto Portugal continua entre os países de incidência intermédia, o único na Europa

Ocidental. No relatório produzido pela DGS e publicado em Dezembro de 2014 relativo

ao ano de 2013, a taxa de incidência confirma a tendência dos últimos anos de

diminuição paulatina cifrando-se nos 21,1 casos por 100.000 habitantes. (19) No

contexto territorial nacional a distribuição geográfica da TB apresenta grandes

assimetrias, não sendo agora tão pronunciadas como em anos anteriores pois deixaram

de existir regiões de alta incidência com os Distritos do Porto e Setúbal à cabeça. No

caso concreto do Distrito do Porto, convém referir que o Concelho do Porto também

apresenta taxas de incidência e prevalência superiores aos restantes Concelhos do

Distrito do Porto. (18) No ano de 2012 e por comparação com a média nacional, o

Distrito do Porto apresenta ainda uma taxa de incidência que ainda impressiona cifrada

nos 33,84 novos casos por 100.000 habitantes, aos quais ainda podemos adcionar 2,97

retratamentos por 100.000 habitantes. (20)

Estes dados regionais, ganham importância acrescida, visto os serviços em estudo

estarem localizados num Hospital na cidade do Porto, com doentes internados dessa

mesma área de referenciação, assim como todos os profissionais envolvidos e

estudados, serem residentes nessa área metropolitana.

8

2.2. INFEÇÃO POR MICOBACTÉRIAS ATÍPICAS OU NÃO

TUBERCULOSAS

Em Portugal uma parcela das infeções por micobactérias, deve-se a infeção por

MNT, nestas são patogenos oportunistas dos humanos e animais encontrados no meio

ambiente. Os seres humanos estão cada vez mais expostos a MNT, uma vez que estes

vivem e crescem normalmente nos sistemas de distribuição de águas de consumo e

estão também muito presente nas cabeças dos chuveiros domésticos, permitindo a sua

dispersão por meio de aerossóis durante o duche de chuveiro nos países de alta renda,

nomeadamente por M. avium. Nos Estados Unidos, a prevalência de doenças por MNT

vem aumentando 8 % ao ano, atingindo atualmente quase 35 casos por cada 100 000

indivíduos. Em Ontário no Canadá, a prevalência de doença pulmonar por MNT

aumentou de 1,5 para 9,0 por 100 000 indivíduos, cerca de 6 vezes mais no período

1997 -2003. A evidência de que o ambiente é a fonte das doenças por MNT em seres

humanos foi conseguida a partir do ADN de isolados de MNT de doentes com SIDA, de

água de beber, de doentes imunocompetentes, de isolados de MNT de terra de vasos e

de um chuveiro doméstico. (21)

Em Portugal poucos estudos e dados oficiais são conhecidos sobre MNT. Existem

no entanto dados do ano de 1999 do Instituto de Nacional de Saúde Doutor Ricardo

Jorge, que apontam para 4,2 % a prevalência por MNT. (22) Note-se que os dados

atuais certamente sofreriam expressão aumentada de presença de MNT, nomeadamente

nos imunodeprimidos. Dados recentes relativamente aos indivíduos portadores de

VIH/SIDA demonstram uma presença cada vez mais assídua de MNT, nomeadamente a

presença de M. avium complex como doença disseminada nos estádios avançados de

infeção pelo VIH.

2.3. IMUNIZAÇÃO ATIVA COM O BACILO DE CALMETTE-GUÉRIN

2.3.1. História e Desenvolvimento do BCG

Em 1908 dois cientistas franceses, o médico Calmette e o veterinário Guérin,

iniciaram os seus estudos para a produção de uma vacina para a tuberculose. A estirpe

9

selecionada para os seus estudos foi o Mycobacterium bovis oriundo de uma vaca com

mastite tuberculosa. Após ter sido isolada e cultivada em meio contendo entre outros

glicerol, batatas fatiadas e um caldo de bile, o organismo criado foi sujeito de três em

três semanas durante 13 anos, num total de 231 ciclos a uma subcultura que provocaram

uma perda de virulência. Análises genotípicas sugerem que a região RD1 do genoma do

M. tuberculosis responsável por 9 proteínas codificadas se encontra ausente no bacilo de

Calmette –Guérin.

Foi já em 1921 que foi utilizada o BCG como vacinação em humanos, era uma

vacina viva atenuada que foi inicialmente administrada por via oral em crianças em

Paris. Esta vacina foi usada em França e em vários outros países, chegando

inclusivamente a Liga da Nações a realizar uma declaração de segurança para a

utilização da vacina oral do BCG. No entanto o momento mais negro da história do

BCG aconteceu em 1929 e 1930, quando 72 de 250 crianças vacinadas com a vacina

oral viva atenuada em Lübeck na Alemanha morreram de tuberculose, causada por

contaminação laboratorial de uma preparação por bacilo tuberculoso virulento. Apesar

desta tragédia, as imunizações com o BCG progrediram e novos métodos de

administração foram sendo introduzidos, a via intradérmica em 1927, a múltipla picada

em 1939 e a escarificação em 1947. Já em 1948 o primeiro Congresso Internacional

BCG realizado em Paris definiu a segurança e eficácia da vacina BCG. Desde 1974 até

aos nossos dias, a vacinação com o BCG foi incluída no programa de expansão de

imunização da OMS de luta contra as doenças infecciosas nas crianças de países em

desenvolvimento. Todos os anos, cerca de 100 milhões de crianças globalmente,

recebem o BCG cada ano, expandindo a mais de 4 biliões de indivíduos que já

receberam o BCG desde o seu aparecimento (23).

2.3.2 Eficácia do BCG

Por longos anos que esta temática vem sendo debatida, apoiada em vários estudos

conduzidos entre as décadas de 30 e 70 do século passado. Assim são conhecidas as

representações gráficas de estudos da sua eficácia, variando entre 80% e valores

negativos. São vários os estudos publicados de difícil comparação dadas as possíveis

variáveis de conflito. Variáveis como dosagem, técnicas diferentes, potências das

vacinas, prevalência de micobactérias atípicas, diferentes virulências do M. tuberculosis

10

nas regiões estudadas entre outras. Se é controversa a eficácia atribuída ao BCG na

população em geral, relativamente às crianças os estudos confirmam a sua eficácia a

altos níveis de proteção contra tuberculose miliar e meningite tuberculosa por períodos

de 10 a 15 anos. Em conclusão é geralmente aceite que o BCG é bastante eficaz na

prevenção das formas tuberculosas infantis e também ficou demonstrada a sua eficácia

contra a Lepra, tendo mesmo sido responsável pelo decréscimo das taxas de infeção por

M. Leprae.(22)

2.3.3 Duração da Imunidade

A duração da imunidade do BCG ainda não é conhecida, por essa razão apenas

estimativas estarão na base do que se define como tal. Todas as estimativas

imunogénicas foram obtidas de ensaios clínicos do BCG, assim como, a partir de

estudos de caso, porque ainda não se dispõe de testes serológicos capazes de medir a

resposta imunológica ou a imunidade à tuberculose após a vacinação com o BCG.(23)

Um estudo realizado por Al-Kassimi et al, demonstrou através da comparação de

5756 indivíduos normais e de 537 casos de tuberculose diagnosticada, mas todos

sujeitos a vacinação neonatal com o BCG, que a proteção conferida pela vacina diminui

com o aumento da idade dos indivíduos. Esse estudo demonstra a resposta imunológica

até 20 anos pós vacinação. (24)

No entanto é comummente aceite que a proteção terá uma tendência decrescente

com o decorrer dos anos e que muito provavelmente será inexistente de 10 a 20 anos

após vacinação.

Por fim outro estudo realizado com índios americanos e nativos do Alaska, com um

follow up de 60 anos contraria todas as conclusões anteriores, demonstrando uma

eficácia protetiva de 52%, em indivíduos após 50 a 60 anos pós inoculação primária do

BCG. (25)

Apesar da questionável duração imunológica do BCG, esta vacina vem sendo usada

nos últimos 70 anos com excelente segurança a biliões de indivíduos por todo o mundo.

Em Portugal, o BCG está incluído no PNV desde a sua implementação em 1965,

havendo no entanto, já registo da sua utilização desde 1929 no Porto introduzida pela

Liga Portuguesa de Profilaxia Social. As suas complicações são também raras e variam

11

em função da sua correcta administração, do tipo, dose e potência da vacina e da idade e

estado de imunidade do indivíduo que a recebe.

2.4. TESTE DE LIBERTAÇÃO DE INTERFERÃO GAMA (IGRA)

Até aos finais da década de 90 do século passado a prova de dermoreação de

Mantoux ou prova de tuberculina era o único teste disponível para identificar infeção

por MTB.

Usado mundialmente há mais de cem anos, para diagnóstico de TB ativa e de

TBL.(26) Gozou da vantagem de ser barata, de fácil execução e de não exigir nenhuma

infraestrutura laboratorial permitiu um protagonismo ímpar sem concorrência durante

esse período, mesmo quando já conhecidas as suas limitações. As suas desvantagens são

de depender de profissional capacitado para a execução da técnica intradérmica de

aplicação do derivado de proteína purificado (PPD), com posterior necessidade de

segunda visita entre as 48 e as 72 horas para realizar a sua leitura. Grande frequência de

ocorrência de falsos positivos, associada à vacinação prévia com o BCG, porque inclui

na sua composição antigénios de micobactérias não tuberculosas (MNT), grande

percentagem de resultados falso negativos entre doentes imunosuprimidos e efeito

boosting por repetição. (27)(28)(29)

Em contraste, os recentemente desenvolvidos testes sanguíneos de libertação de

interferão gama (IGRA) são já promissores candidatos para elevar a precisão disponível

actualmente para a deteção de infeção por TB, particularmente se a PT se mantiver um

teste com equívocos constantes. Existem dois tipos de testes disponíveis o

QuantiFERON-TB Gold In-Tube (QFNG-IT; Cellestis, Victoria, Australia) e o T-

SPOT.TB (Oxford Immunotec, Oxford, UK). Em ambos a prévia vacinação com o BCG

não afeta os resultados, não assumem reações cruzadas com a maioria das micobactérias

não tuberculosas, não estão expostos á subjetividade associada à má realização técnica e

deficiente leitura da PT. (30)

2.4.1 Indicação para IGRA

A utilização dos testes IGRA está a aumentar nos países com baixa ou média

incidência de TB. Em Maio de 2005 os Centers for Disease Control and Prevention

12

(CDC) dos Estados Unidos da América, recomendaram a utilização dos IGRA como

alternativa à PT no diagnóstico de TBL em PS. (31) Já em Julho de 2011, novas

recomendações foram publicadas indicando os testes IGRA como preferenciais no

diagnóstico de TBL em PS. (32)

Em Portugal uma orientação publicada pela DGS em Maio de 2011, promove a

utilização dos testes IGRA como uma ferramenta da maior relevância para o

diagnóstico de infeção por TBL e apoiar a decisão de tratamento preventivo da TB. Esse

mesmo documento valida a sua utilização em determinados grupos populacionais

específicos, nomeadamente imunocompetentes com exposição de risco ou caso

confirmado de TB ativa, como é o caso dos PS. (33)

2.4.2 Mecanismo de Acção

O QFNG-IT quantifica a resposta das células T, à exposição in vitro a antigénios

peptídicos representando as proteínas do M. tuberculosis ESAT-6, CFP-10 e TB 7.7.

sendo que, estes antigénios estão codificados na região RD1 do genoma M.

tuberculosis. Esta região não existe no BCG nem na maioria das MNT com a exceção

do M. kansasii, M. marinum e M. szulgai. Este teste consiste na libertação de interferão

gama libertado pelas células T, após estimulação dos antigénios atrás referidos que é

medido por um ensaio imunoenzimatico e posteriormente quantificado por um software

desenvolvido pelo fabricante. (34)

2.4.3 Sensibilidade e Especificidade

Os testes IGRA são detentores de uma especificidade > 95 % para o diagnóstico

de TBL, enquanto que a especificidade da PT em populações onde o BCG é utilizado

nos planos vacinais é muito mais baixa e cifra-se nos 60 %. (35) (36) A sensibilidade

apurada para o T-SPOT.TB (Oxford Immunotec, Oxford, UK), aparenta ser maior do

que o QuantiFERON-TB Gold In-Tube Test (QFNG-IT; Cellestis, Victoria, Australia) e

também da PT, que são respetivamente 90 %, 80 % e também 80 %.(37)

O T-SPOT.TB é mais útil na avaliação de indivíduos imunodeprimidos.

A sensibilidade dos testes IGRA no diagnóstico de doença activa é limitada pois a

resposta celular com a libertação de interferão gama diminui à medida que a doença

avança no tempo. (38)

13

Apesar de não existir um gold standard para a TBL, um teste IGRA positivo, no

contexto de rastreio de contactos, reflete o grau de exposição a agentes infecciosos com

maior fiabilidade que a PT. Sem margem para dúvidas que os testes IGRA são mais

específicos que a PT. (39)

Os testes IGRA são úteis no diagnóstico de TBL em imunocompetentes e em

protocolos de vigilância de infeção tuberculosa em PS. (39)

2.5 RASTREIO DE CONTATOS

Pessoas que estão em contacto com doentes infetados com tuberculose pulmonar

ativa, estão em risco de infeção por MT e desenvolvimento da doença.

Conjuntamente com o rastreio de casos suspeitos e tratamento de casos

confirmados, a implementação de um processo de rastreio de contactos é um importante

procedimento para a redução de transmissão de doença por TB no contexto dos

programas de controlo da TB.

O objetivo do rastreio de contactos é identificar de entre os contactos com casos de

infeção por TB, casos secundários de TB ativa que necessitem receber tratamento e

indivíduos com infeção latente.

Entre os indivíduos expostos a fontes de infeção por TB, o risco de contraírem a

infeção, é primariamente determinada pela ação combinada pela infeciosidade no caso

de origem dessa infeção e também pelo grau de intensidade de exposição relativamente

ao estado e grau de suscetibilidade do hospedeiro. (40)

O grau de exposição é determinado entre a proximidade do contacto de um

indivíduo suscetível com o caso de infeção por MTB.

São objetivos do rastreio de contactos:

Identificar indivíduos expostos a MTB que estejam em risco acrescido de

TBL ou de desenvolverem TB na fase de doença ativa.

Identificar contactos que estejam infetados com MTB na fase latente que por

essa via beneficiem de terapêutica preventiva.

14

Identificar indivíduos já com progressão em doença por MTB e assegurar o

seu acesso a tratamento completo.

Identificar a fonte de origem de transmissão de infeção por MTB, em casos

que ainda estão em investigação da origem dessa mesma infeção.

Estas investigações e rastreios de contactos quando bem conduzidos, permitem

através da deteção de casos de TB secundários, ajudar na prevenção do

desenvolvimento da TB em pessoas infetadas. Acresce de importância em países com

incidência elevada de HIV/SIDA, pela progressão rápida de TB nesta co-morbilidade.

2.6 TRATAMENTO DA TUBERCULOSE LATENTE

O tratamento oportuno da infeção latente por M. tuberculosis reduz

significativamente a possibilidade de evolução do caso para uma tuberculose ativa.

Desta forma fica também salvaguardada a sua transmissão à comunidade minimizando

assim o seu potencial de transmissibilidade de problema de saúde pública.

Por esta razão é fundamental o correto diagnóstico e tratamento da TBL dentro da

estratégia de eliminação da tuberculose. A prevenção de novos casos, com consequente

redução da incidência e futura redução da prevalência, afiguram-se como essenciais.

Desta forma o sucesso dos programas de eliminação da tuberculose pode ser assegurado

de forma sustentada. (41)

Ficou demonstrado em estudos que a administração de isoniazida nestes casos de

TBL reduzia a progressão para doença. Em administrações a 3, 6 e 9 meses, diminuiu

em 21%, 65% e 75% o risco de evolução para doença respetivamente. (28) (29)

Devem ser rastreados para TBL todos os indivíduos com risco elevado para

tuberculose como são o caso dos:

Contactos próximos de pessoas com tuberculose infeção;

Pessoas que tiveram conversão tuberculínica nos últimos dois anos;

Imigrantes de países com alta incidência de tuberculose;

Pessoas regressadas de estadias superiores a um mês em áreas com alta

prevalência de tuberculose;

15

Pessoas que trabalham em áreas com exposição frequente a tuberculose. (8)

16

3. OBJETIVOS GERAIS

São objetivos gerais a avaliação epidemiológica de Tuberculose Latente nos

Profissionais de Saúde dos serviços de doenças respiratórias e doenças infeciosas de um

hospital no Norte de Portugal, mais concretamente na cidade do Porto.

3.1.OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Condução de um estudo de prevalência de TBL em PS através do diagnóstico

realizado com QuantiFERON-TB Gold In-Tube Test.

Testar a utilidade dos testes IGRA neste contexto e comunidade.

Testar PS que exerçam funções em serviços de risco como são os casos dos

serviços de Pneumologia e de Doenças Infeciosas do HJU.

Identificar os PS que estão em risco aumentado de desenvolvimento de TB

activa e proporcionar o seu tratamento.

Disponibilizar ao serviço de saúde ocupacional dados atualizados de TBL dos

PS testados.

Alertar para a importância de rastreio periódico dos PS das instituições de saúde

nacionais.

17

4. MATERIAL E MÉTODOS

4.1.LOCAL DO ESTUDO

O presente estudo foi desenvolvido no Hospital de Joaquim Urbano (HJU),

recentemente integrado no Centro Hospitalar do Porto, com apoio laboratorial do

Centro de Diagnóstico Pneumológico do Porto para tratamento e processamento das

amostras recolhidas no HJU. As amostras sanguíneas foram colhidas e processadas no

período compreendido entre Janeiro de 2011 e Fevereiro de 2012, assim como o

tratamento dos dados e resultados recolhidos.

Este estudo teve aprovação prévia pela Comissão de Ética do HJU.

4.2.DESENHO DO ESTUDO

Este é um estudo exploratório e descritivo, com abordagem quantitativa. Foi

produzido um instrumento de recolha de dados na forma de questionário standard

(ANEXO 1) preenchido exclusivamente pelo investigador, na presença do participante

com a colaboração deste e de elementos que lhe tinham sido solicitados, nomeadamente

registo histórico de imunizações ou presença de cicatriz vacinal do BCG.

Lido e explicados os objetivos e procedimentos a realizar a cada um dos

participantes e o carácter voluntário de participação, foi assinado e distribuída cópia do

consentimento informado (ANEXO 2) a cada participante.

O questionário era constituído por variáveis como a idade, género, país de

origem, grupo profissional, anos de trabalho no serviço em questão, vacinação prévia

com o BCG, provas de tuberculina anteriores, Tuberculose Latente diagnosticada no

passado e estado de imunodepressão.

Após estes procedimentos, foi realizada colheita de amostra sanguínea por

venopunção para QuantiFERON-TB Gold In-Tube (QFNG-IT; Cellestis, Victoria,

Australia), em tubos próprios para permitir ainda no tubo a mistura para estimulação

18

antigénica. Após a colheita os tubos foram enviados para o laboratório do CDP do

Porto, onde foram incubados a 37ºC, durante um dia antes de serem submetidos a

centrifugação. Depois de separadas alíquoas de soro foi medida a libertação de

interferão gama por método ELISA, de acordo com as especificações do fabricante.

Segundo essas instruções considera-se resultado positivo se a resposta de interferão

gama ao antigénio menos o NIL for superior ou igual a 0,35 Ul/ml.

O diagnóstico de TBL é estabelecido por um resultado positivo no QFNG-IT, depois

de excluída TB ativa. (39)

A todos os participantes com QFNG-IT positivo foi disponibilizado exame clínico e

radiológico pelo serviço de saúde ocupacional do HJU, para exclusão de TB ativa.

Tratamento com isoniazida por 6 meses ficou disponível para os elegíveis para tal.

Devem ser ponderados os condicionalismos ao tratamento, nomeadamente a

coexistência de patologia hepática e toxicidade ou intolerância à isoniazida com

tratamento alternativo com 4 meses de rifampicina.

4.3.AMOSTRAGEM

De um total de 89 PS elegíveis de entre os grupos profissionais de médicos,

enfermeiros e auxiliares de acção médica que prestam serviço no HJU em serviços

considerados de alta exposição a TB, 77 concordaram em participar no estudo e deram o

seu consentimento informado. A amostra representa assim 86,52% do universo de PS

possíveis.

4.4.CRITÉRIOS DE INCLUSÃO

Foram critérios de inclusão todos os PS dos grupos profissionais de médicos,

enfermeiros e auxiliares de ação médica dos serviços de internamento e ambulatório

considerados de alta exposição a TB, e que participassem de uma forma voluntária e

assinassem devidamente o consentimento informado.

19

4.5.CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO

Foram critérios de exclusão a não obtenção de consentimento informado e o

diagnóstico ou tratamento nos últimos 2 anos para TBL.

4.6.ANÁLISE ESTATÍSTICA

Para a realização da análise estatística foi utilizado o programa IBM SPSS, versão

19 (SPSS Inc., Chicago, Illinois).

20

5. RESULTADOS

A população em estudo são todos os 89 profissionais de saúde dos grupos

profissionais de médicos, enfermeiros e auxiliares de ação médica que trabalham no

HJU, nos serviços de doenças Infeciosas e Pneumologia que por inerência das suas

funções e do serviço onde estão inseridos estão em permanente exposição ocupacional a

M. tuberculosis.

Tabela 1 – Descrição do Estudo populacional N=77

Variáveis N %

Género Masculino 19 24,70

Feminino 58 75,30

Idade < 40 anos 31 40,30

40-50 anos 19 24,60

> 50 anos 27 35,10

Vacinação BCG Sim 74 96,10

Não 3 3,90

Prova Tuberculínica Positiva 20 26,00

Negativa 24 31,20

Não realizada 33 42,80

Grupo Profissional Médico 15 19,50

Enfermeiro 33 42,80

Auxiliar de Ação Médica 29 37,70

Anos Trabalho no HJU < 10 anos 32 41,50

10 - 15 anos 15 19,50

> 15 anos 30 39,00

QFN-IT Positivo 36 46,80

Negativo 41 53,20

Da população total, 77 PS aceitaram participar voluntariamente neste estudo

representando 86,52 %. O género feminino é o mais predominante com 58 mulheres

representando 75,30 %.

21

Gráfico 1 - Distribuição de Género

A média de idades é de 44,1 anos, sendo que a idade mínima é 27 anos, por

oposição a idade máxima que é de 65 anos. A faixa etária mais representativa do estudo

são os profissionais com menos de 40 anos de idade, representando 31 (40,3%)

indivíduos.

Gráfico 2 - Distribuição de Idade

Masculino

25%

Feminino

75%

Género

< 40

anos

40%

40-50

anos

25%

> 50

anos

35%

Idade

22

Do histórico vacinal com o BCG, 74 (96,1%) dos PS foram imunizados pelo menos

uma vez num dos períodos seguintes: à nascença, na infância, na entrada como

servidores do Estado ou durante períodos de vacinação obrigatória ou recomendado

pelos serviços de saúde ocupacional do HJU. Apenas 3 (3,9%) dos PS nunca realizaram

o BCG.

Gráfico 3 - Distribuição de Vacinação BCG

Depois de consultados os registos individuais de PT realizadas e tendo em

consideração o último resultado disponível, 20 (26%) indivíduos tinham registo positivo

à dermorreação de Mantoux, 24 (31,2%) tinham reação negativa, e 33 (42,8%) não

tinham registos ou não realizaram PT.

Sim

96%

Não

4%Vacinação BCG

23

Gráfico 4 - Distribuição de Realização de Prova Tuberculínica

Relativamente aos grupos profissionais representados, o grupo dos enfermeiros

representam 42,8% do total dos profissionais estudados, seguido pelos Auxiliares de

Ação Médica com 37,7% e pelos médicos com 19,5% respectivamente.

Gráfico 5 - Distribuição de Grupo Profissional

Considerando o tempo de serviço, 41,5 % dos profissionais de saúde trabalham nos

respetivos serviços há menos de 10 anos, mas curiosamente também bem representativo

é o número de profissionais com mais de 15 anos de serviço neste hospital – 30 (39%)

Positiva

26%

Negativa

31%

Não realizada

43%

Prova Tuberculínica

Médico

19%

Enfermeiro

43%

Auxiliar de

Ação Médica

38%

Grupo Profissional

24

Gráfico 6 - Distribuição de Anos de Trabalho no HJU

Os resultados dos testes IGRA realizados demonstram que 36 profissionais tiveram

valores positivos representando 46,8 % da amostra testada.

De referir que 3 PS foram diagnosticados há mais de 20 anos com TB ativa, tendo

sido tratados e representando 3,9%.

Gráfico 7 - Distribuição de Resultado IGRA

< 10 anos

42%

10 - 15 anos

19%

> 15 anos

39%

Anos Trabalho no HJU

Positivo

47%Negativo

53%

QFN-IT

25

Depois de caracterizada a amostra foram cruzados através de testes estatísticos

de correlação entre as diversas variáveis com a realização do QFN-IT, na dicotomia de

resultados deste último subdividido em resultado positivo e negativo.

Assim, verifica-se que à medida que a idade aumenta, os resultados positivos do

QFN-IT também aumentam.

Relativamente ao tempo de serviço, os indivíduos com mais anos de exposição

de serviço, apresentam uma positividade para o QFN-IT superior aos indivíduos com

menos anos de exposição.

Os resultados obtidos através da correlação entre os grupos profissionais

testados e o QFN-IT., não são estatisticamente significativos. No entanto no estudo aqui

apresentado, no caso concreto do HJU, os auxiliares de acção médica, são o grupo

profissional com índices de positividade maiores.

As correlações entre as variáveis género, vacinação BCG e prova de tuberculina,

perante a positividade/negatividade do QFN-IT não demonstram nenhuma relação com

significância estatística.

26

Tabela 2 – Co-variáveis associadas com os resultados do QFN-IT

Variáveis QFN-IT Negativo Positivo

N (%) N (%)

Género Masculino 9 11,69 10 12,99

Feminino 32 41,56 26 33,77

Idade < 40 anos 23 29,87 8 10,39

40-50 anos 7 9,09 12 15,58

> 50 anos 11 14,29 16 20,78

Vacinação BCG Sim 40 51,95 34 44,16

Não 1 1,30 2 2,60

Prova Tuberculínica

Positiva 7 9,09 14 18,18

Negativa 18 23,38 6 7,79

Não realizada 16 20,78 16 20,78

Grupo Profissional Médico 7 9,09 8 10,39

Enfermeiro 22 28,57 11 14,29

Auxiliar de Ação Médica 12 15,58 17 22,08

Anos Trabalho no HJU < 10 anos 23 29,87 9 11,69

10 - 15 anos 10 12,99 5 6,49

> 15 anos 8 10,39 22 28,57

Para melhor interpretar os resultados e as relações estatísticas avaliaram-se os 77

casos (tabela 3) e as variáveis cruzadas QFN-IT e idade dos PS testados. (tabela 4)

Tabela 3 – Cruzamento de Co-variáveis de Idades dos PS versus QFN-IT

QFN-IT

positivo negativo Total

Idade Menor 40 anos 8 23 31

40 até 50 anos 12 7 19

Mais de 50 anos 16 11 27

Total 36 41 77

27

Os resultados da aplicação do teste do chi-quadrado às variáveis cruzadas de

QFN-IT e idade dos PS testados permitem inferir um X2= 9,214 e um p = 0,01 que

demonstra uma relação estatística muito significativa.(Tabela 5)

Tabela 4 – Teste do Qui-quadrado calculado para as variáveis Idade e QFN-IT

Valor

Graus de

liberdade

df

Significância

Qui-quadrado de Pearson 9,214a 2 ,010

Likelihood Ratio 9,510 2 ,009

Linear-by-Linear Association 6,683 1 ,010

N.º de casos válidos 77

a. 0 células (,0%) tiveram uma contagem inferior a 5. O mínimo

esperado é 8,88.

Relativamente ao cruzamento do QFN-IT com o tempo de serviço dos PS, fica

demonstrado que ainda tem maior relação estatística. (Tabela 6) Quanto mais tempo de

serviço na Infeciologia e na Pneumologia no HJU, maior o número de positividade para

o QFN-IT.

Tabela 5 – Cruzamento de Co-variáveis dos anos de serviço dos PS versus QFN-IT

QFN-IT

positivo negativo Total

Anos de serviço Menos de 10 anos 9 23 32

10 a 15 anos 5 10 15

Mais de 15 anos 22 8 30

Total 36 41 77

28

Assim e também através do chi-quadrado é possível constatar que o tempo de

serviço X2= 14,060 e um p = 0,001, nos remetem para uma relação estatística altamente

significativa. (Tabela 7)

Tabela 6 – Teste do Qui-quadrado calculado para as variáveis Tempo de Serviço e

QFN-IT

Valor

Graus de

liberdade

df

Significância

Asymp. Sig. (2-

sided)

Qui-quadrado de Pearson 14,060a 2 ,001

Likelihood Ratio 14,505 2 ,001

Linear-by-Linear Association 12,428 1 ,000

N.º de casos válidos 77

a. 0 células (,0%) tiveram uma contagem inferior a 5. O mínimo

esperado é 7,01.

29

6. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES

Para o controlo da TB, nomeadamente em contexto ocupacional é muito importante

a identificação célere da fonte, que coloque em risco outros utentes e PS. Igualmente

importante será a identificação dos casos com risco de viragem, ou seja de desenvolver

as formas ativas de TB a curto prazo.

O desenvolvimento dos testes de libertação de interferão gama são um importante

passo no avanço do diagnóstico de TBL. Este tipo de testes permitem identificar a

infeção primária por M. tuberculosis em indivíduos que estão em aumentado risco de

exposição a este agente, como é o caso dos PS. Os testes IGRA não permitem distinguir

TBL de TB ativa, desta forma não devem ser utilizados no diagnóstico de TB ativa, pois

esse diagnóstico é microbiológico. No entanto deverão ser utilizados como primeira

escolha na testagem de TBL em grupos específicos, pela elevada sensibilidade e

especificidade. A sua utilização no contexto português também se demonstra mais

vantajoso pela não influencia nos resultados obtidos de reação cruzada com a vacina

BCG, administrada de forma sistemática e obrigatória após a nascença em todo o

território nacional. No entanto existe a possibilidade de resultados falsos-positivos pela

presença da ESAT-6 e CFP-10 em três MNT, que quando infetam o indivíduo testado

induzirão em erro. Deve-se salvaguardar a probabilidade residual dessa mesma infeção,

não sendo essas espécies de MNT das mais prevalentes.

No contexto de monitorização de PS, os testes IGRA acrescentam vantagens óbvias

por poderem ser repetidos sem provocar o efeito booster de memória imunológica.

No exemplo português, com elevadas taxas de cobertura vacinal do BCG, com

alguns reforços na idade adulta, a utilização dos IGRA permite diferenciar uma infeção

por M. tuberculosis de uma resposta a vacinação do BCG.

Relativamente aos resultados obtidos neste estudo realizado no HJU, sublinhe-se o

elevado número de PS com IGRA positivo (46,8%).

30

De referir a relação de positividade crescente pelo QFN-IT obtida, quanto mais anos

de serviço e consequentemente de exposição dos PS ao M. tuberculosis.

Outro dado de realce apurado, e que importa considerar, é que os indivíduos mais

velhos vão tendencialmente apresentando valores mais elevados de IGRA positivo.

Depois de analisados os dados disponíveis deste estudo a prevalência de TBL é superior

nas faixas etárias superiores, assim como nos indivíduos com mais anos de serviço

prestado no HJU.

Dever-se-ão no futuro produzir mais trabalhos que permitam avaliar populações

similares, para confirmar esta hipótese de risco acrescido para os profissionais que

trabalham em serviços de pneumologia e de infecciosas.

Em Portugal não existem dados que nos permitam fazer uma avaliação real do

impacto destes resultados, pois não estão disponíveis estudos de prevalência de TB em

PS nem as causas subjacentes a essa mesma infeção. (41)

Nestes serviços que são considerados de alto risco para os PS, a inexistência de

formação adequada e eficaz sobre os meios de controlo de infeção, as falhas na

utilização dos dispositivos quer individuais quer coletivos de proteção e controlo de

infeção, parecem estar relacionados com as falhas verificadas pontualmente nas

unidades de saúde nacionais. (41)

De referir que dado o risco aumentado dos PS em contraírem esta doença em

exercício profissional ela já é considerada como doença ocupacional por Decreto

Regulamentar. (42)

No entanto, e apesar da obrigatoriedade de notificação dos casos de TB ativa e TBL

em tratamento profilático, não existem dados e registos acerca do número de

profissionais ligados à saúde afetados pela TB. (7)

Importa investigar e criar mecanismos de forma a serem mais vigiados os PS e

garantidas a execução das normas legais de segurança, no que à infeção nosocomial diz

respeito.

31

Igualmente importante será a realização de rastreios periódicos pelos serviços

competentes de saúde ocupacional, assim como, testagem no início de funções do PS,

não apenas como medida de despiste de alguns fatores de risco, mas essencialmente

para uma definição de estado relativo à TB que permita monitorizar e comparar ao

longo do tempo o calculo de probabilidade de infeção por TB.

Pelos dados atualmente disponibilizados no último relatório publicado em

Dezembro de 2014, pela Direção Geral da Saúde referente a dados do ano 2013, tem-se

vindo a verificar um crescimento sustentado dos tratamentos por TBL em Portugal,

alguns deles refletem tratamentos de PS, no entanto e apesar do aumento de tratamentos

profiláticos realizados, este número estará muito aquém dos números de casos

identificados ou por identificar que os justificavam.

Será também importante a execução de mais estudos em Portugal nomeadamente

em regiões geográficas distintas e com prevalências na população geral diferenciadas

em contexto de diagnóstico de LTB e rastreio de PS. A preocupação por parte dos

serviços de saúde ocupacional ainda está longe de ser real, não estão identificadas as

causas para esse desleixe, mas poder-se-ão imaginar as consequências de tal desatenção,

principalmente em regiões e serviços onde a probabilidade de contacto com a TB é uma

realidade.

A realização de mais estudos permitirá, comparar amostras com grupos profissionais

semelhantes mas em contextos de localização distintos e perceber se terão influência

direta nos resultados obtidos.

Ao longo dos últimos 8 anos, foram vários os estudos realizados sobre esta

pertinente temática. Numa revisão realizada durante a realização deste estudo,

encontraram-se facilmente vários estudos em que o desenho dos mesmos era similar a

este, alguns utilizavam comparações entre o uso dos testes IGRA, com a PT

diretamente.

Na sua maioria esses estudos foram realizados tal como este, em contexto de uma só

instituição, relevando os resultados obtidos para a realidade dessa mesma instituição

não podendo por esse facto extrapolar para dados nacionais. De qualquer forma esses

resultados também nesse contexto nacional não deverão ser ignorados e se associarmos

32

a esse facto as taxas de incidência de TB nesses mesmos países, poderemos com alguma

margem de erro calcular o nível de infeção dos profissionais de saúde, relativamente à

população em geral certamente alvo de um escrutínio mais real.

No Japão país de alta renda, com vacinação BCG tal como em Portugal, universal à

nascença, foi realizado em 2006 por Nobuyuki Harada e colaboradores, um estudo que

procurou rastrear através da utilização dos testes IGRA, profissionais de saúde de um

Hospital Geral em Tóquio para tuberculose latente. Os resultados apurados depois de

testagem de 332 PS, 33 dos quais foram positivos no teste IGRA, sugerindo uma taxa de

TBL de 9,9%.

Na Coreia do Sul, também país de alta renda e de incidência intermédia para TB

calculada à realização deste estudo em 73/100.000 habitantes, num estudo conduzido

em 2010 por Hye Yun Park e colaboradores, no Hospital Geral de Seúl, foram avaliados

322 profissionais de saúde com uma taxa de cobertura vacinal BCG de 76%. Os

resultados obtidos através de testagem para TBL com teste IGRA foi de 33 testes

positivos apurando uma taxa de incidência de 10%, muito em linha com o estudo atrás

referenciado em Tóquio.

Na Alemanha, num estudo multicentrico realizado em 14 diferentes hospitais em

distintas regiões geográficas entre os anos de 2006 e 2009, por Anja Schablon e

colaboradores, foram rastreados 2028 profissionais de saúde. Este país apresentava em

2007 uma taxa de incidência de TB na população geral de 6.1/100.000 habitantes, uma

das mais baixas na Europa. Foram submetidos a testagem por IGRA apenas 507 PS,

sendo que a taxa de positividade encontrada foi de 9,5%, respeitantes a 48 PS com

IGRA positivo.

Em França, Dominique Tripodi e colaboradores, conduziram um estudo que

permitiu testar para IGRA 148 profissionais de saúde em 2007 no Hospital

Universitário de Nantes, instituição de referência para a região de Nantes para os casos

de TB. Neste país no ano de 2007 a taxa de incidência na população geral para TB era

de 5.2/ 100.000 habitantes, e a vacinação com BCG é mandatória a todos os recém

nascidos. Todos os PS encontravam-se vacinados para BCG e depois de testados para

IGRA, 28 representando 18,9% foram indicados como positivos. De relevar que este

33

hospital terá um risco ocupacional acrescido pela especificidade de referência para TB

regional.

Em Espanha, num estudo realizado no complexo materno infantil Universitário de

Las Palmas na Gran Canária, desenvolvido por Eva Álvarez-León e colaboradores, em

2007, foram testados 134 PS. Destes 87(65%) profissionais de saúde não eram

vacinados para BCG, visto em Espanha esta vacinação não fazer parte do calendário

vacinal espanhol. Apenas 5,97% foram testados positivamente para IGRA, colocando a

taxa de incidência num patamar extremamente baixo. Alguns fatores concorreram para

este resultado, em primeiro lugar a testagem foi realizada a novos PS contratados, por

essa razão pouco expostos, por outro lado as idades muito jovens desses PS, também

ajudam na explicação destes resultados. Importa realçar que este estudo também faz

referência a que os resultados não estão em linha com outros estudos realizados em

Espanha que envolvem populações de profissionais de saúde, e em que os resultados

apurados para TBL variam entre taxas de incidência de 25% a 41%.

Em Portugal, o Hospital de S.João no Porto, concentra alguns dos melhores estudos

nesta temática a nível internacional, com uma amostra muito significativa de PS

testados de forma sistemática nos últimos anos. O trabalho desenvolvido pelo Serviço

de Saúde Ocupacional deste hospital no que à TB diz respeito, tem produzido muitos

dados e permite-nos ter uma visão do impacto da TBL nos profissionais de saúde de

instituições nacionais similares. José Torres Costa e colaboradores, num estudo

conduzido entre 2005 e 2009, testaram 5.524 PS. De entre estes apenas 1686 foram

testados para IGRA, sendo que 558 foram positivos, representando 33,2% da amostra

para TBL. Este hospital permanece como referência nacional no diagnóstico precoce de

TB, através do screening inicial a todos os profissionais que iniciam relação laboral

com a instituição de forma a terem um referencial de estadio de cada profissional e ser

possível acompanhar todas as alterações provocadas pela exposição ocupacional. Por

outro lado acompanham todos os profissionais com testagem periódica e

disponibilização de fármacos antibacilares para tratamento de TBL em PS. Este estudo

reveste-se de uma importância acrescida.

Por último, reproduzem-se aqui os resultados de um estudo realizado na Federação

Russa em 2005 por ser um dos 22 países referenciados pela Organização Mundial de

34

Saúde como de alta incidência para TB, incluindo elevadas taxas de resistências aos

fármacos e elevadas taxas de resistência a multifármacos. Este estudo conduzido na

região de Oblast, região com uma taxa de incidência de TB na população geral de

69.3/100.000 habitantes e em profissionais de saúde ligados ao tratamento da

tuberculose de 741.6/100.000 indivíduos. Os autores Francis Drobniewski e

colaboradores, calcularam a taxa de TBL num hospital na capital desta região – a cidade

de Samara. A Rússia mantém a vacina BCG como mandatória à nascença de todas as

crianças nas suas instituições de saúde. Foram realizados testes IGRA a 262 PS desse

hospital, tendo a taxa de incidência para TBL de 107 (40.8%) PS. De referir que se

reduzirmos esse mesmo grupo e nos centrarmos apenas no grupo constituído por

médicos e enfermeiros n=96, a taxa de incidência eleva-se para os 46.9%.

A introdução destes estudos ajuda a interpretar também os resultados obtidos no

HJU, que apresenta taxas muito similares a este último estudo na Federação Russa.

Importa sublinhar que a localização do HJU, no Porto, segundo distrito com maior

prevalência em Portugal de TB, hospital de referência para o tratamento de TB, TBMR

e TB-XDR, quadro de profissionais com vários anos em funções, bastantes profissionais

de faixas etárias superiores poderão ajudar a justificar uma taxa tão elevada quanto

46.8% de incidência de TBL.

Na esperança de que este estudo sirva de estímulo à condução de outros que

permitam aferir a dimensão real do problema e tragam as necessárias medidas de

controlo e resolução do que parece não estar devidamente acompanhado e acautelado.

O caminho faz-se lentamente mas com passos seguros. A evolução dos testes IGRA

representa isso mesmo, ganhando em cada ano que passa, uma importância crescente e

sustentada para eventualmente adquirirem o estatuto de gold standard na testagem de

LTB, nomeadamente em grupos especiais como são o caso dos PS.

35

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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39

8. LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Descrição do Estudo populacional N=77 ...................................................... 20

Tabela 2 – Co-variáveis associadas com os resultados do QFN-IT ............................... 26

Tabela 3 – Cruzamento de Co-variáveis de Idades dos PS versus QFN-IT ................... 26

Tabela 4 – Teste do Qui-quadrado calculado para as variáveis Idade e QFN-IT ........... 27

Tabela 5 – Cruzamento de Co-variáveis dos anos de serviço dos PS versus QFN-IT ... 27

Tabela 6 – Teste do Qui-quadrado calculado para as variáveis Tempo de Serviço e

QFN-IT ........................................................................................................................... 28

40

9. LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Distribuição de Género ................................................................................. 21

Gráfico 2 - Distribuição de Idade ................................................................................... 21

Gráfico 3 - Distribuição de Vacinação BCG .................................................................. 22

Gráfico 4 - Distribuição de Realização de Prova Tuberculínica .................................... 23

Gráfico 5 - Distribuição de Grupo Profissional .............................................................. 23

Gráfico 6 - Distribuição de Anos de Trabalho no HJU .................................................. 24

Gráfico 7 - Distribuição de Resultado IGRA .................................................................. 24

41

ANEXOS

42

ANEXO I – Autorização da Comissão de Ética do Hospital Joaquim

Urbano

43

ANEXO II – Instrumento de Colheita de Dados – Questionário

44

ANEXO III – Consentimento Informado

DECLARAÇÃO DE CONSENTIMENTO INFORMADO

O estudo de prevalência de Tuberculose Latente em Profissionais de Saúde no CHP – Unidade

de Joaquim Urbano, a desenvolver no âmbito do Mestrado em Saúde Tropical pelo Enfermeiro

Lino André Sousa Cardoso da Silva tem por objectivo principal realizar a avaliação

epidemiológica de Tuberculose Latente nos Profissionais de Saúde do HJU.

O estudo é dirigido a todos os Médicos, Enfermeiros e Auxiliares de Acção Médica do HJU.

Será solicitado a preencher um questionário com informação relevante para a realização do

referido estudo e a efectuar uma colheita de sangue por punção venosa para análise de

produção de Interferon Gamma.

Os recursos necessários à implementação e consecução do estudo serão suportados pelo

investigador, não existindo qualquer tipo de encargos para os participantes.

O estudo não apresenta qualquer risco para os intervenientes.

Será garantida a confidencialidade das respostas aos instrumentos de recolha de dados pela

atribuição de códigos aos participantes /questionário. Os dados recolhidos destinam-se

exclusivamente ao presente estudo.

Ficaram claros para mim os objectivos do estudo, os procedimentos a serem realizados, as

garantias de confidencialidade e de esclarecimentos permanentes.

Concordo voluntariamente em participar neste estudo e poderei retirar o meu consentimento

a qualquer momento, sem qualquer tipo de prejuízo.

Porto, de de 2011

Assinatura do Participante:

Assinatura do Investigador:

Contacto: Instituto de Higiene e Medicina Tropical – UNL- Rua da Junqueira nº 100 1349-008

Lisboa

Tel.213652600

Fax:213632105

Mail: www.ihmt.unl.pt