a maquina de fazer

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE - FURG Instituto de Letras e Artes – ILA Literatura Portuguesa II Professor: José Fornos Nome: Jônatas Sandim de Abreu Nº.: 44784 SAIO SOBRE O LIVRO A MÁQUINA DE FAZER ESPANHÓIS RIO GRANDE FEVEREIRO 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE - FURGInstituto de Letras e Artes ILALiteratura Portuguesa IIProfessor: Jos FornosNome: Jnatas Sandim de Abreu N.: 44784

ENSAIOSOBRE O LIVRO A MQUINA DE FAZER ESPANHIS

RIO GRANDEFEVEREIRO2014Ensaio sobre o livro:A Mquina de fazer espanhis, de Valter Hugo Me

O livro de Valter Hugo Mae, A Mquina de fazer Espanhis, narra a viso de vida de um velho senhor chamado Antnio Jorge da Silva, um barbeiro de 84 anos, que aps perder sua esposa seus filhos decidem colocar ele em um asilo. Sem muito o que fazer da sua vida, odiando em viver naquele lugar em que agora era seu novo lar, ele passa a reviver as suas lembranas do passado, no s lembranas da sua vida, mas tambm do perodo de dificuldade do povo de Portugal diante ao governo Salazar. O autor consegue trazer a histria de Portugal tona atravs da vida daqueles velhos que vivem no asilo onde mora agora Antnio Jorge, e tambm com isso, o protagonista passa a rever outros valores e aprender coisas novas que ele julgava jamais aprender em sua vida, assim, lentamente como a velhice, ele vai aos poucos redescobrindo e revivendo memorias do passado. A obra faz uma reflexo sobre qual a importncia de um idoso em nossa sociedade, passamos a refletir sobre suas recordaes do passado, porque com os idosos que est a histria de uma famlia e de um pas, no caso das lembranas do velho barbeiro, esto as lembranas de Portugal quase esquecida para muitos, do sofrimento de muitos que viveram naquela poca. Quando o protagonista descobre que vai para um asilo ele faz uma reflexo sobre a velhice:

e s no nos tornamos perigosos porque envelhecer tornarmo-nos vulnerveis e nada valentes, pelo que enlouquecemos um bocado e somos s como feras muito grandes sem ossos, metidas dentro de sacos de pele imprestveis que j no servem para nos impor verticalidade nem nas mais pequenas batalhas. como faria falta ferrarmos toda a gente e vingarmo-nos do mundo por manter as primaveras e a subitamente estpida variedade das espcies e as manifestaes do mar e a expectativa do calor e a extenso dos campos e as putas das flores e das arvorezinhas cheias de passarinhos cantantes aos quais devamos torcer o pescoo para nunca mais interferirem com as nossas feridas profundas. que se fodam. que se fodam os discursos de falsa preocupao dessa gente que sorri diante de ns mas que pensa que assim mesmo, afinal, estamos velhos e temos de morrer, um primeiro e o outro depois e est tudo muito bem, sorriem, umas palmadinhas nas costas, devagar que um velhinho, e depois vo-se embora para casa a esquecerem as coisas mais aborrecidas dos dias. onde ficamos ns, os velhinhos, uma gelatina de carne a amargar como para l dos prazos. que dio to profundo nos nasce. O Silva protagonista, chega ao asilo carregando apenas 2 sacos com seus pertences e 1 lbum de fotos, que logo recolhido pelos funcionrios e substitudo por uma esttua da Nossa Senhora de Ftima rodeada de pombinhas, j que tido como certo que, nessa fase da vida, a religio tem mais utilidade do que as lembranas tristes. Nosso personagem principal, que nem religioso era, obviamente se sente perdido e arrasado e, para demonstrar sua insatisfao, se recusa a falar. Nesse primeiro momento, Antnio mostra-se revoltado, no s por estar indo para um asilo, mas tambm pela perca de sua esposa, a qual ele amava muito, com esses dois fatores na sua vida, ele comea a demonstrar dio e rancor. Mesmo o protagonista demonstrando todo o seu dio e sua magoa, esse no um livro de dio, mas na verdade um livro sobre o amor, porque aos poucos vamos desvendando a grande paixo que o barbeiro ainda nutria pela sua esposa, apesar de 50 anos de casados, e do perdo a sua filha que colocou-lhe no asilo. No entanto, aos poucos ele percebe que era impossvel viver assim e tenta se enturmar com os outros internos. O grupo de amigos do Silva bem ecltico e animado. Eles adoram provocar uns aos outros. Em suas brincadeiras, s vezes parecem mais garotos que idosos. Todavia, por trs do entusiasmo h sempre um episdio triste, um abandono, um desentendimento, uma morte, um amor no-correspondido. Durante a leitura, o leitor acaba se envolvendo com os sentimentos provocados pelas histrias dos personagens. No d para no se emocionar com as experincias deles, assim como no d para no rir com suas peraltice. Apesar das conversas, da descontrao e at dos planos futuros de alguns moradores do Feliz Idade, a morte uma presena constante. Ela est ali, aguardando pacientemente, esperando que algum velhinho desocupe um dos disputadssimos quartos para que outro tome seu lugar. As amizades no asilo duram pouco. No h tempo para desenvolver grandes relacionamentos. A rotatividade de idosos alta. S existe um caminho a ser feito ali: dos quartos ensolarados de onde se avista o jardim para os dormitrios da ala voltada para o cemitrio, o destino certo que se aproxima dia a dia. De uma forma delicada, mas sem perder a sua autenticidade, o escritor consegue fazer um link entre o passado e presente, entre o novo e o velho, os novos e os velhos valores e os novos valores que Antnio passa a descobrir e reinventar. Outro aspecto interessante do escritor, que ele utiliza a metafisica de Pessoa para descrever a personalidade de seus personagens, e at mesmo utilizado alguns de seus poemas, isso , intertextualidade com os poemas de poeta portugus. Mesmo o livro em vrios momentos tratar de temas to srios quanto a velhice, o abandono, a proximidade da morte, as crticas religio e at mesmo a ditadura, Valter Hugo Me o faz com um lirismo encantador que fcil se perder no meio do livro, imerso nas vrias reflexes, brincadeiras e problemas. Outro ponto curioso da obra, que todas as letras esto em minsculas, sem nem uma hierarquia entre letras, j percebemos que se trata de um texto diferenciado no primeiro dilogo, onde no encontramos travesses. Quando o protagonista mas conhecido como, senhor Silva- chega no lar de idosos, chamado de Feliz Idade, ele vivencia de tudo um pouco, desde a mais profunda tristeza at o amor. No asilo, ns tiramos umas das maiores reflexes que se pode ter, que mesmo com 84 anos, ainda no se viveu tudo. Senhor Silva sempre foi um sujeito dedicado famlia, precisou deste resto de solido para a esse resto de amizade. No asilo Feliz Idade, senhor Silva conhece esse resto de amizade e descobre que esse final de vida, que ele julgava ser um excesso, era algo importante. Uma das pessoas que ele conhece est o senhor Esteves, aquele sem metafsica do famoso poema de Pessoa, que no livro recheado de metafsica e onde faz umas das bonitas reflexes sobre a morte. O protagonista tambm conhece uma outra pessoa importante, Ansio Franco, conservador do Museu Nacional de Arte Antiga de Portugal. A obra alm, de contar a histria de Antnio Silva, tambm retrata uma parte importante da histria de Portugal, a ditadura salazarista, onde vrias pessoas lutaram contra a ditadura, principalmente aqueles que se omitiram para buscar a prpria sobrevivncia nos tempos de crise. Um dos casos que o livro conta de como um jovem apareceu na loja do senhor Silva no fim do expediente e l ficou escondido durante toda a noite. Antnio mentiu para a polcia e liberou o jovem, que se tornou seu cliente assduo. Sempre que ia l, o revolucionrio falava sobre o que acontecia pelo pas. At um dia que a polcia apareceu perguntando sobre aquele jovem e o senhor Silva o entregou. O pensamento foi de proteger a famlia, mas ele em nenhum momento se preocupou com o destino do rapaz, que provavelmente encontrou a morte nas mos da ditadura. O livro relata uma Portugal que pode estar perdendo toda a identidade por causa da aproximao com a Europa, e tambm fala de uma Portugal em que as pessoas no sonham morar. Em determinado ponto, um dos personagens afirma que Portugal ainda uma mquina de fazer espanhis. verdade, quem de ns, ao menos uma vez na vida, no lamentou j o cacto de sermos independentes. quem, mais do que isso at, no desejou que a espanha nos reconquistasse, desta vez para sempre e para salrios melhores. Essa reflexo uma das inmeras que o livro provoca em cada um de ns, e essas reflexes no so apenas scio-polticas, mas tambm reflexes sobre a morte, sobre perdas e como lidamos com elas. De um modo geral, o livro trata-se da vida em sua fase final, onde na maioria das vezes as pessoas j no encontram mais nenhum encantamento por ela, onde os idosos na sua grande maioria, esto apenas esperando a morte chegar. Porm todas essas abordagens so to bem descritas, de uma forma stil, o escritor consegue suavizar assuntos que geralmente so pesados em sua plenitude. Com isso podemos concluir, que o escritor consegue unir assuntos delicados do nosso cotidiano agregados com poltica e assuntos sociais. Dessa forma, o livro cria a sua prpria identidade, com base na prpria busca de identidade portuguesa, onde os prprio protagonista, senhor Silva, acaba tambm buscando e colaborando para essa nova definio de Portugal e da sua sociedade que ainda sofre os reflexes da ditadura Salazar.

Bibliografia:Me; Valter Hugo. A Mquina de fazer espanhis. editora COSAC NAIFY, 2011.