a maldiÇÃo dos recursos naturais: uma anÁlise … · padrão de vida da população. por isso,...

17
XIII ENCONTRO DE ECONOMIA BAIANA – OUT. 2017 ECONOMIA BAIANA 1 A MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: UMA ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DA BAHIA NO PERÍODO DE 2002 A 2013 Luiz Gustavo Araújo da Cruz Casais e Silva * André Luís Mota dos Santos ** Rodrigo Carvalho Oliveira *** RESUMO No Brasil, recursos provenientes de commodities são importantes fontes de receita às entidades governamentais, pois podem ser utilizados para proporcionar o desenvolvimento econômico-social. Entretanto gerações de economistas afirmaram que a abundância de recursos naturais é deletéria para as economias. Para tanto, utilizaram muitos argumentos, tais como: a hipótese de Prebisch-Singer de deterioração relativa dos preços das commodities, a Doença Holandesa, entre outros. Este trabalho traz o debate para âmbito nacional com o objetivo de verificar o impacto dos royalties de petróleo e gás natural e da Contribuição Financeira pela Utilização dos Recursos Hídricos (CFURH) sobre o crescimento econômico dos municípios do estado da Bahia, no período de 2002 a 2013, considerando a hipótese institucional como principal canal de transmissão da maldição dos recursos. Com isso, estimou-se a equação de convergência econômica, com o termo de interação entre a proxy de qualidade institucional e royalties e CFURH. Utilizou-se o estimador system GMM para corrigir os problemas de endogeneidade presentes nas variáveis explicativas. Os resultados confirmaram parcialmente a hipótese institucional apenas para royalties de petróleo, uma vez que o termo de interação impacta positivamente a taxa de crescimento, entretanto não existe efeito significativo considerando apenas as rendas compensatórias isoladamente. Palavras-Chave: Maldição dos recursos naturais. Convergência. Economia dos recursos naturais. Royalties de petróleo e gás natural. Contribuição Financeira pela Utilização de Recursos Hídricos (CFURH). ABSTRACT In Brazil, resources provided from commodities are important source of income for the federation entities, since they may be used for engender socioeconomic development. On the other hand, generations of economists claimed that an abundance of natural resources are harmful to the economies. In this regard, they pointed out many arguments, such as: the Prebisch-Singer hypothesis of the downward trend of relative prices of primary commodities in terms of manufactures; the Dutch disease; and others. This paper brings the debate to the national level with the objective of verifying the impact of oil and natural gas royalties, and Financial Contribution for the Use of Water Resources (FCUWR) on economic growth of municipalities in the state of Bahia, during the period of 2002 and 2013, considering the institutional hypothesis as the main transmission channel of the natural resources curse. In this context, it was estimated the economic convergence equation with the interaction term between a proxy for institutional quality and royalties and FCUWR. We used the system GMM estimator for correcting the endogeneity problems in the explanatory variables. The results partially confirmed the institutional hypothesis only for the royalties of oil, since the interaction term impacts positively the growth rate, although there is no significant effect when the compensatory income is isolatedly considered. Keywords: Natural resource economic. Natural resource curse. Royalties of oil and natural gas. Financial Contribution for the Use of Water Resources. Economic convergence. * Mestre em Economia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e mestrando em Economia pela Universidade de Brasília (UnB). [email protected] ** Doutor e mestre em Ciência Econômica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA). [email protected] *** Mestre e doutorando em Economia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA). [email protected]

Upload: lydat

Post on 08-Nov-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: A MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: UMA ANÁLISE … · padrão de vida da população. Por isso, ... a literatura lista oito canais pelos ... UMA ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO

XIII ENCONTRO DE ECONOMIA BAIANA – OUT. 2017 ECONOMIA BAIANA • 1

A MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: UMA ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DA BAHIA NO PERÍODO DE 2002 A 2013

Luiz Gustavo Araújo da Cruz Casais e Silva*

André Luís Mota dos Santos** Rodrigo Carvalho Oliveira***

RESUMO

No Brasil, recursos provenientes de commodities são importantes fontes de receita às entidades governamentais, pois podem ser utilizados para proporcionar o desenvolvimento econômico-social. Entretanto gerações de economistas afirmaram que a abundância de recursos naturais é deletéria para as economias. Para tanto, utilizaram muitos argumentos, tais como: a hipótese de Prebisch-Singer de deterioração relativa dos preços das commodities, a Doença Holandesa, entre outros. Este trabalho traz o debate para âmbito nacional com o objetivo de verificar o impacto dos royalties de petróleo e gás natural e da Contribuição Financeira pela Utilização dos Recursos Hídricos (CFURH) sobre o crescimento econômico dos municípios do estado da Bahia, no período de 2002 a 2013, considerando a hipótese institucional como principal canal de transmissão da maldição dos recursos. Com isso, estimou-se a equação de convergência econômica, com o termo de interação entre a proxy de qualidade institucional e royalties e CFURH. Utilizou-se o estimador system GMM para corrigir os problemas de endogeneidade presentes nas variáveis explicativas. Os resultados confirmaram parcialmente a hipótese institucional apenas para royalties de petróleo, uma vez que o termo de interação impacta positivamente a taxa de crescimento, entretanto não existe efeito significativo considerando apenas as rendas compensatórias isoladamente. Palavras-Chave: Maldição dos recursos naturais. Convergência. Economia dos recursos naturais. Royalties de petróleo e gás natural. Contribuição Financeira pela Utilização de Recursos Hídricos (CFURH).

ABSTRACT

In Brazil, resources provided from commodities are important source of income for the federation entities, since they may be used for engender socioeconomic development. On the other hand, generations of economists claimed that an abundance of natural resources are harmful to the economies. In this regard, they pointed out many arguments, such as: the Prebisch-Singer hypothesis of the downward trend of relative prices of primary commodities in terms of manufactures; the Dutch disease; and others. This paper brings the debate to the national level with the objective of verifying the impact of oil and natural gas royalties, and Financial Contribution for the Use of Water Resources (FCUWR) on economic growth of municipalities in the state of Bahia, during the period of 2002 and 2013, considering the institutional hypothesis as the main transmission channel of the natural resources curse. In this context, it was estimated the economic convergence equation with the interaction term between a proxy for institutional quality and royalties and FCUWR. We used the system GMM estimator for correcting the endogeneity problems in the explanatory variables. The results partially confirmed the institutional hypothesis only for the royalties of oil, since the interaction term impacts positively the growth rate, although there is no significant effect when the compensatory income is isolatedly considered. Keywords: Natural resource economic. Natural resource curse. Royalties of oil and natural gas. Financial Contribution for the Use of Water Resources. Economic convergence.

* Mestre em Economia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e mestrando em Economia pela Universidade de Brasília (UnB). [email protected]

** Doutor e mestre em Ciência Econômica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA). [email protected]

*** Mestre e doutorando em Economia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA). [email protected]

Page 2: A MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: UMA ANÁLISE … · padrão de vida da população. Por isso, ... a literatura lista oito canais pelos ... UMA ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO

XIII ENCONTRO DE ECONOMIA BAIANA – OUT. 2017 ECONOMIA BAIANA • 2

A MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: UMA ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DA BAHIA NO PERÍODO DE 2002 A 2013 Luiz Gustavo Araújo da Cruz Casais e Silva, André Luís Mota dos Santos, Rodrigo Carvalho Oliveira

1. Introdução Importantes personalidades da Economia defenderam a ideia de que a abundância de

recursos naturais é um dos motivos do atraso econômico de vários países. Em 1748, Montesquieu acreditava que essa abundância causava a indolência entre os povos (SINNOTT et al., 2010). Em 1776, Adam Smith desaconselhou governantes a investirem em projetos de mineração por absorver o capital de outros setores (WRIGHT; CZELUSTA, 2004, 2002). John Elliot Cairnes, descrito como o último economista clássico, afirmou, com base na sobrevalorização cambial, que o motivo do atraso da América Latina era devido à forte atividade agrícola e de mineração (SINNOTT et al, 2010). E durante o século XX, várias personalidades latino-americanas também se posicionaram relutantes diante dessa abundância. O ex-diplomata venezuelano e fundador da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), Juan Pablo Perez Alfonso, declarou, em 1975, que o petróleo é “o excremento do diabo”, porque é a causa de desperdício, corrupção e deterioração dos serviços públicos.

Umas das primeiras tentativas de aferir o impacto da abundância de recursos naturais sobre a economia foi Sachs e Warner (1995). Estes autores observaram uma menor taxa de crescimento do PIB per capita entre os países abundantes em recursos naturais. Não por acaso, o mote “a maldição dos recursos naturais” se difundiu a partir dessa publicação. Esse resultado foi obtido por uma regressão do crescimento econômico com uma proxy para abundância de recursos naturais, compreendendo o período de 1970 a 1990. A proxy para abundância de recursos naturais utilizada foi a razão entre as exportações de bens primários e o produto interno bruto (PIB).

A literatura sobre a maldição dos recursos naturais tem indicado algumas hipóteses de canais de transmissão pelos quais o fenômeno se manifesta. Eles são (SINNOTT et al., 2010): (i) a hipótese de Prebisch-Singer de deterioração relativa dos preços das commodities; (ii) menor taxa de crescimento da produtividade da produção de commodities; (iii) menor número de ligações (linkages) para frente e para trás; (iv) Doença Holandesa; (v) volatilidade dos preços; (vi) exauribilidade de alguns tipos de commodities; (vii) má qualidade institucional; (viii) guerras civis.

No Brasil, o impacto da exploração de recursos naturais sobre a renda e a qualidade de vida dos municípios tem sido objeto de pesquisa. Postali (2007) encontrou evidências de a presença da maldição dos recursos naturais nos municípios brasileiros beneficiados por royalties de petróleo a partir da adoção da Lei do Petróleo (Lei n° 9.478/1997). Entretanto, para Bahia, os resultados foram inconclusivos.

Recursos provenientes de commodities representam importantes fontes de receita às entidades federativas nacionais, pois podem ser utilizados para elevar o crescimento econômico e o padrão de vida da população. Por isso, em 2010, o Congresso Nacional debateu o marco regulatório da produção de petróleo no Pré-Sal e, recentemente, a Lei 12.858/2013 que criou novas regras na aplicação dessas rendas compensatórias, definindo a destinação de 75% das rendas compensatórias de poços declaradas comerciais, a partir de 3 de dezembro de 2012, à área de educação e 25% à saúde. Considerando esse pano de fundo, este trabalho estende a análise de rendas compensatórias e inclui, além dos royalties de petróleo e gás natural, a Contribuição Financeira pela Utilização de Recursos Hídricos (CFURH), presente no artigo 20, parágrafo 1°, da Constituição Federal de 1988. Nesse sentido, o objetivo é verificar o impacto das rendas compensatórias tanto de royalties de petróleo e gás natural e quando da CFURH sobre o crescimento econômico dos municípios baianos, considerando a hipótese da qualidade institucional dos municípios como o principal canal de transmissão da maldição dos recursos naturais.

Tendo em vista a literatura internacional, cujo diagnóstico do fenômeno da maldição dos recursos naturais tem convergido para hipótese institucional, e a literatura nacional, que também tem sugerido evidências de má administração municipal dos royalties de petróleo, a hipótese proposta por este trabalho é a de que os municípios baianos não sofrem de maldição dos recursos

Page 3: A MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: UMA ANÁLISE … · padrão de vida da população. Por isso, ... a literatura lista oito canais pelos ... UMA ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO

XIII ENCONTRO DE ECONOMIA BAIANA – OUT. 2017 ECONOMIA BAIANA • 3

A MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: UMA ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DA BAHIA NO PERÍODO DE 2002 A 2013 Luiz Gustavo Araújo da Cruz Casais e Silva, André Luís Mota dos Santos, Rodrigo Carvalho Oliveira

quando a arrecadação de royalties de petróleo é está num ambiente de boa qualidade institucional. Em outras palavras, é a qualidade institucional de cada município que determina se os royalties serão bênção ou maldição para a economia do município.

Até onde se conhece da literatura nacional sobre a maldição dos recursos, este trabalho é o primeiro a utilizar dados da CFURH e a testar a hipótese institucional. Para tanto, o presente estudo seguiu o padrão da literatura empírica da maldição dos recursos naturais, e baseou-se numa versão aumentada da equação de convergência de Mankiw et al. (1992). Os dados da amostra foram extraídos dos 417 municípios do estado da Bahia, entre os anos 2002 e 2013. Utilizou-se o Método Generalizado dos Momentos (GMM) para corrigir o problema de endogeneidade derivado da utilização da variável dependente defasada como regressor. O estimador escolhido foi o system GMM, desenvolvido por Arellano e Bover (1995) e Bundell e Bond (1998).

Os resultados revelam evidências que o efeito causal das rendas compensatórias não é relevante para a taxa de crescimento econômico dos municípios examinados. Com relação à hipótese institucional, as estimações revelam que boa qualidade institucional é decisiva para tornar a aplicação dos royalties de petróleo significativa para a taxa de crescimento, enquanto que, para a CFURH, a hipótese não foi verificada.

Além desta introdução, o trabalho está estruturado em mais cinco seções. Na próxima seção, é apresentado o referencial teórico. Na seção três, são apresentados o modelo de convergência econômica e a estratégia empírica. Na seção quatro, são apresentadas a base de dados e evidências iniciais. Na seção cinco, os resultados das estimações da estratégia empírica. Por fim, as conclusões e implicações dos resultados são apresentadas na sexta e última seção. 2. Referencial teórico

A literatura que trata da maldição dos recursos naturais e de desenvolvimento econômico é controversa em relação ao custo e benefício provenientes da exploração de recursos naturais. Muitos constataram que a abundância de recursos naturais é a causa do menor crescimento econômico dos países que a possui, como citam, Sachs e Warner (1995), Bevan et al. (1999) e Sala-i-Martin e Subramanian (2003). Segundo Sinnott et al. (2010), a literatura lista oito canais pelos quais a maldição dos recursos se propaga: (i) a hipótese de Prebisch-Singer de deterioração relativa dos preços das commodities; (ii) menor taxa de crescimento da produtividade da produção de commodities; (iii) poucas externalidades e menor número de ligações (linkages) para frente e para trás; (iv) Doença Holandesa; (v) volatilidade dos preços; (vi) exaustão de alguns tipos de commodities; (vii) má qualidade institucional; e (viii) guerras civis.

Em 1950, os economistas Raúl Prebisch e o alemão Hans Singer constataram, por meio da série histórica dos termos de troca da Grã-Bretanha, que os preços internacionais das commodities caíam em relação aos preços dos bens manufaturados. Ambos argumentaram que a causa do atraso da América Latina decorria da combinação da especialização em commodities que possui relativamente uma menor taxa de progresso técnico, acompanhado da histórica tendência declinante de seus preços em termos dos da manufatura (CUDDINGTON, 2002). Em suma, sua hipótese se sustenta por três pontos: (i) especialização na produção de commodities; (ii) menor taxa de progresso técnico comparada com a da indústria; (iii) termos de troca declinantes. É válido ressaltar que Prebisch sugeriu que a solução do atraso seria a industrialização da América Latina.

Os pesquisadores Cuddington et al. (2002) testaram essa hipótese, deixando com que os dados “falassem” a sua melhor especificação , para tanto testaram dez modelos de séries temporais diferentes para encontrar aquele que melhor expressasse os dados. Estes autores concluíram que a série temporal original avaliada por Prebisch-Singer era relativamente curta e que, se acrescentados os dados dos anos mais recentes, a série dos preços relativos das commodities, na verdade, é aleatória com uma quebra estrutural no ano de 1921. A noção do crescimento da produtividade relativamente menor nos setores de produção de commodities minerais e agrícolas esteve impregnada entre os economistas desde Adam Smith, passando por Kaldor, Prebisch e os novos desenvolvimentistas. Ainda que essa noção se verificasse,

Page 4: A MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: UMA ANÁLISE … · padrão de vida da população. Por isso, ... a literatura lista oito canais pelos ... UMA ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO

XIII ENCONTRO DE ECONOMIA BAIANA – OUT. 2017 ECONOMIA BAIANA • 4

A MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: UMA ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DA BAHIA NO PERÍODO DE 2002 A 2013 Luiz Gustavo Araújo da Cruz Casais e Silva, André Luís Mota dos Santos, Rodrigo Carvalho Oliveira

outros economistas desenvolvimentistas clássicos, como Viner e Lewis, concordavam que recursos naturais favorecem o rápido crescimento econômico. Pesquisas recentes constataram empírica e historicamente que a produção de commodities não sofre em absorver e desenvolver progresso tecnológico (ARAGON; RUD, 2009; MARTIN; MITRA, 2001; VALDÉS; FOSTER, 2003; WRIGHT; CZELUSTA, 2002; 2004). A literatura tem apresentado evidências de que a volatilidade das rendas de commodities pode gerar barreiras ao crescimento econômico. Países, cujo setor produtivo é pouco diversificado, concentrado, particularmente, em commodities, tendem a sofrer com a volatilidade da cotação de seus preços (PLOEG, 2010). Dois são os problemas da volatilidade dos preços das commodities sobre o crescimento econômico: o primeiro é que ela está associada com aumento da incerteza econômica que pode reduzir o fluxo de investimento dentro do país (DE FERRANTI et al., 2002; SINNOTT et al., 2010; PLOEG; POELHEKKE, 2009), e o segundo é a má gestão das receitas fiscais pelo governo, relacionado aos períodos de elevação do preço, quando há um grande fluxo monetário afluindo para o país, estimulando a atividade rent-seeking e política fiscal procíclica para garantir a elite política no poder. Por outro lado, conforme Shaxson (2005) e Frankel (2010) o problema da volatilidade em países abundantes em recursos naturais pode ser parcialmente solucionado pelo crescimento econômico, abertura comercial, investimento externo direto e boa gestão de fundo soberano. O fenômeno da Doença Holandesa, nomeado pela revista britânica The Economist, em 1977, ocorreu na Holanda, motivada pela descoberta de reserva de gás natural, na década de 1960, que desembocou em apreciação cambial real, queda das exportações dos produtos manufaturados e desindustrialização. De acordo com Corden (1984), rendas extraordinárias do setor de comercializáveis em afetam o setor de bens comercializáveis em redução e o de não comercializáveis pelos efeitos “gasto” e “movimento de recursos”, provocando os efeitos citados. Se, de fato, a doença holandesa gera concentração nas exportações e provoca maior volatilidade nas rendas e menor crescimento econômico, então as commodities estão associadas à menor taxa de crescimento econômico. Entretanto, como já foram listados, estudos recentes mais rigorosos do que o de Sachs e Warner (1995) demonstram que recursos naturais promovem crescimento econômico, se não, ao menos, não exercem efeito negativo (BRUNNSCHWEILER; BULTE, 2008; ALEXEXEEV; CONRAD, 2009; SMITH, 2015). O papel das ligações (linkages) para frente e para trás tem sido reconhecido como um dos fatores para o maior crescimento econômico. Recentemente, isso evoluiu para a ideia de que países que se especializam em produtos que servem de “plataforma de lançamento” para outras indústrias atingem maior taxa de crescimento. Hausman et al. (2005) reforçaram essa ideia comparando a pauta de exportação de países de maior renda com países de menor renda utilizando dois índices elaborados por eles. Entretanto, essa teoria não consegue explicar o caso do Chile, cuja economia é fortemente pautada nas exportações de cobre. Tampouco o caso dos Estados Unidos e países escandinavos cuja abundância de recursos naturais serviu como “plataforma de lançamento” para o desenvolvimento de novas indústrias (DE FERRANTI et al., 2002; WRIGHT; CZELUSTA, 2002; 2004). Outra preocupação com as commodities é que algumas são exauríveis†. Considerando que os poços de petróleo e jazidas de minérios possuem uma dotação fixa ao longo do tempo, à medida que são extraídos o estoque dos recursos é reduzido e se transforma num fluxo financeiro. O desafio dos países dotados de recursos naturais esgotáveis, pois, é suplantar a inexorável escassez e o permanente interrompimento do seu fluxo financeiro. Hartwick (1977) sugeriu uma solução para a exauribilidade das commodities por meio do investimento de toda a renda proveniente da exploração das commodities esgotáveis em capital humano ou físico. Seguir a regra de Hartwick é uma forma de garantir o crescimento sustentável do

† Alguns recursos naturais comumente tratados como não exauríveis, como a água e florestas, podem ser exauríveis quando mal gerenciados.

Page 5: A MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: UMA ANÁLISE … · padrão de vida da população. Por isso, ... a literatura lista oito canais pelos ... UMA ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO

XIII ENCONTRO DE ECONOMIA BAIANA – OUT. 2017 ECONOMIA BAIANA • 5

A MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: UMA ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DA BAHIA NO PERÍODO DE 2002 A 2013 Luiz Gustavo Araújo da Cruz Casais e Silva, André Luís Mota dos Santos, Rodrigo Carvalho Oliveira

país mesmo depois que o fluxo financeiro da exploração de recursos cesse, pois é substituído por outro capital durável. Evidências mostram que se os países latino-americanos tivessem seguido essa regra, seu crescimento teria sido consideravelmente superior segundo Sinnott et al. (2010). A literatura empírica que relaciona a maldição dos recursos naturais e a qualidade institucional‡ é vasta e aponta para uma relação não casuística entre ambas. A literatura tem caminhado para consolidar dois fatos estilizados: (i) a maldição dos recursos naturais ocorre em economias com fraco arranjo institucional e (ii) tem mais chance de ocorrer onde commodities são produzidos em áreas geograficamente concentradas (DEACON; 2011§ ; SINNOTT et al., 2010). Além disso, os trabalhos sobre o tema identificaram dois vetores que atuam conjuntamente através da qualidade institucional quando há descoberta de rendas inesperadas de recursos naturais geograficamente concentrados: (i) podem piorar a qualidade institucional e (ii) o arranjo institucional prévio à renda extraordinária pode “amaldiçoar”, atenuar ou tornar em bênção a renda dos recursos. Conflito civil também está associado a países ricos em recursos naturais concentrados geograficamente e à maldição dos recursos. Os efeitos rentistas incentivam os agentes econômicos e políticos a adotarem determinado comportamento. Os dois incentivos mais importantes são o rent-seeking e a patronagem. O primeiro refere-se ao processo no qual agentes, com interesses políticos e econômicos competitivos, gastam recursos economicamente valiosos para obter favores do governo (DEACON, 2011, p. 125). A ideia é que agentes econômicos lutam entre si, através de lobby, propina e corrupção, para obter artificialmente o monopólio sobre o mercado, licenciado pelo governo. O segundo incentivo listado refere-se à estratégia do líder eleito em se manter, ou manter o seu grupo no poder através de distribuição de empregos públicos ou favores especiais em troca de apoio eleitoral (ROBINSON et al., 2006).

Entre os vários modelos que explicam a hipótese das instituições, destacam-se Tornell e Lane (1999), Mehlum et al. (2006), Torvik (2002) e Robinson et al. (2006). Os três primeiros modelos focam apenas aspectos da atividade rent-seeking, de como a disputa entre diferentes agentes econômicos em busca de favores do governo podem deteriorar o crescimento econômico de uma economia. O modelo proposto por Robinson et al. (2006) segue pela linha da política econômica. A principal característica desse modelo é retratar a dinâmica dos agentes políticos em alcançar ou permanecer no poder, em um cargo elegível pela maioria ou através de uma ditadura.

De acordo com Tornell e Lane (1999), O efeito voracidade é um modelo de crescimento econômico com dois setores imersos num contexto em que as frágeis amarras institucionais propiciam que múltiplos grupos poderosos se apropriem da renda privada através de transferência de tributos, roubo, exigência de suborno, participação forçada, nacionalização ou expropriação. A intuição desse modelo é que agentes econômicos migram para o setor menos produtivo para impedir que seus recursos sejam expropriados. Essa migração conjunta dos agentes econômicos acaba comprometendo o crescimento econômico.

Mehlum et al. (2006) e Torvik (2002) modelaram a plausível hipótese da maldição dos recursos naturais ser explicada pelo desvio de talentos empresariais para setores improdutivos da atividade rent-seeking. O surgimento de rendas inesperadas eleva a receita do governo e, por isso, incentiva os trabalhadores a migrarem para setores improdutivos rent-seeking, principalmente em países com instituições cujas barreiras à entrada para tal atividade não são elevadas. A migração de um setor produtivo, que gera riqueza econômica, para o setor improdutivo implicará na redução do crescimento econômico da região.

O modelo considera a qualidade institucional inicial fundamental para a taxa de crescimento econômico, pois define a quantidade de indivíduos que entrarão no setor rent-seeking. O lucro do setor rent-seeking depende inversamente do número de indivíduos no setor, enquanto que, no setor produtivo, a relação é direta. A migração para o primeiro setor cessa quando ambas as curvas de

‡ O trabalho utiliza o conceito de instituições segundo Douglass North. § Esse trabalho compila os artigos seminais da hipótese institucional.

Page 6: A MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: UMA ANÁLISE … · padrão de vida da população. Por isso, ... a literatura lista oito canais pelos ... UMA ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO

XIII ENCONTRO DE ECONOMIA BAIANA – OUT. 2017 ECONOMIA BAIANA • 6

A MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: UMA ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DA BAHIA NO PERÍODO DE 2002 A 2013 Luiz Gustavo Araújo da Cruz Casais e Silva, André Luís Mota dos Santos, Rodrigo Carvalho Oliveira

lucro se interceptam, haja vista os lucros de um indivíduo a mais no setor rent-seeking seriam inferiores ao do setor produtivo.

Mehlum et al. (2006) testaram econometricamente se a hipótese de qualidade institucional pode explicar a maldição dos recursos. Para isso, incluíram uma variável de interação entre abundância de recursos naturais e instituições no mesmo modelo sugerido por Sachs e Warner (1995). O resultado obtido confirma esse canal de transmissão, isto é, o efeito deletério da abundância de recursos naturais é mitigado apenas se o país possuir um arranjo institucional de boa qualidade. É válido ressaltar que autor não utiliza dados referentes à migração de talentos, mas dados gerais sobre a qualidade institucional e a taxa de crescimento econômico. O resultado empírico sugere que a qualidade das instituições é fundamental para mitigar a maldição dos recursos, propagada pela hipótese do desvio de talentos.

Robinson et al. (2006) elaboraram um modelo de dois períodos que relaciona as rendas provenientes de recursos naturais e a disputa pelo poder entre A, pessoa ou grupo já eleita(o) para o primeiro período e que busca a reeleição, e B. Para tanto, consideram apenas recursos naturais que geralmente são de propriedade pública, tais como petróleo, gás e outros minérios. As rendas dos recursos são acumuladas pelos cofres do governo e a taxa de extração, isto é, o quanto restará para o futuro, é decidida por A. As rendas do recurso podem ser consumidas pelo político ou distribuídas como patronagem** para influenciar os votos nas urnas, o tipo de patronagem considerada é a oferta de emprego público. Os autores pressupõem as instituições como as únicas amarras capazes de restringir a extensão da patronagem.

3. Metodologia

A equação a ser estimada é deduzida a partir do modelo neoclássico de crescimento.

Seguindo a análise de Mankiw et al. (1992), a partir de uma função Cobb-Douglas, onde Y é a renda, K, H, L e A são, respectivamente, estoques de capital, de capital humano, de trabalho e nível de tecnologia.

Deduzindo-se, obtém-se a equação de crescimento (1), onde 𝑠!,! é a taxa de poupança para capital físico e 𝑠!,! é a taxa de poupança para capital humano: ln (𝑦 𝑡 ) − ln (𝑦 0 )

= (1 − 𝑒!!")𝛼

1 − 𝛼 − 𝛽ln 𝑠! + (1 − 𝑒!!")

𝛽1 − 𝛼 − 𝛽

ln (𝑠!) − (1

− 𝑒!!")𝛼 + 𝛽

1 − 𝛼 − 𝛽ln (𝑛 + 𝑔 + 𝛿) − (1 − 𝑒!!")ln (𝑦 0 )

(1)

O trabalho de Sachs e Warner (1995) é considerado um marco na literatura da maldição dos recursos naturais devido à tentativa de estimar o impacto da abundância de recursos naturais no crescimento econômico entre os países, utilizando a equação de convergência (2). ln 𝑦! 𝑇 𝑦! 0

𝑇= 𝛼! + 𝛼! ln 𝑦! 0 + 𝛼!𝑍! + 𝜀 (2)

Mehlum et al. (2006), utilizando a mesma base de dados e metodologia do trabalho anterior,

interpretaram o fenômeno da maldição dos recursos pelas de lentes da teoria rent-seeking, em cuja estratégia empírica foi acrescentar um termo de interação multiplicando a qualidade institucional com a abundância de recursos naturais:

** “Patronagem se refere ao modo pelo qual partidos políticos distribuem cargos públicos ou favores especial em troca de apoio eleitoral” (WEINGROD, 1968, p. 379 apud ROBINSON et al., 2006, p. 449, tradução nossa).

Page 7: A MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: UMA ANÁLISE … · padrão de vida da população. Por isso, ... a literatura lista oito canais pelos ... UMA ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO

XIII ENCONTRO DE ECONOMIA BAIANA – OUT. 2017 ECONOMIA BAIANA • 7

A MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: UMA ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DA BAHIA NO PERÍODO DE 2002 A 2013 Luiz Gustavo Araújo da Cruz Casais e Silva, André Luís Mota dos Santos, Rodrigo Carvalho Oliveira

ln 𝑦! 𝑇 𝑦! 0𝑇

= 𝛼! + 𝛼! ln 𝑦! 0 + 𝛼!𝑍! + 𝑡𝑒𝑟𝑚𝑜 𝑑𝑒 𝑖𝑛𝑡𝑒𝑟𝑎çã𝑜 + 𝜀 (3)

O presente trabalho se baseia na contribuição sugerida por Mehlum et al. (2006), ajustado

para estimar o impacto dos recursos provenientes de royalties de petróleo e da Compensação Financeira pela Utilização dos Recursos Hídricos (CFURH) na taxa de crescimento média dos municípios do estado da Bahia, entre 2002 e 2013.

Considerando que não existe uma única forma padrão de se estimar um modelo de convergência, no presente trabalho, a equação de crescimento escolhida está de acordo com Durlauf et al. (2005), conhecida como regressão de Barro: ∆𝑦!" = 𝛽𝑙𝑛𝑦!,! + 𝛾𝑋! + 𝜋𝑍! + 𝜀! (4) onde ∆𝑦!" é a taxa de crescimento do PIB per capita (a diferença entre os logaritmos naturais do PIB per capita do ano final e do inicial); 𝑙𝑛𝑦!,! é o logaritmo natural do PIB per capita no ano inicial do período; Xi representa as variáveis do modelo de Mankiw et al. (1992) – capital humano – e de Solow: estoque de capital e investimento de equilíbrio (𝑛 + 𝑔 + δ), em que 𝑛 representa a taxa de crescimento populacional, 𝑔 progresso tecnológico aumentador de mão de obra e δ é a depreciação do capital; Zi representa outros determinantes do crescimento que estão fora da teoria original de Solow.

A literatura mais recente da maldição de recursos naturais, a partir de Sachs e Warner (1995), nasceu apoiada nas contribuições empíricas da literatura de convergência econômica de artigos de R. Barro e Mankiw et al. (1992). Estes trabalhos estimaram os parâmetros por Mínimos Quadrados Ordinários (MQO), porém, críticas em relação à utilização do mesmo foram feitas por Islam (1995) e Caselli et al. (1996). É importante salientar que, segundo Caselli et al. (1996), a literatura empírica vinha realizando estimações inconsistentes por dois principais motivos: (i) existem variáveis omitidas que estão correlacionadas com as variáveis explicativas; e (ii) presença do problema de endogeneidade, verificada com a causalidade reversa entre crescimento econômico e investimento.

As soluções propostas caminharam para estimações em dados em painel com intuito de lidar com a endogeneidade das variáveis devido à presença de correlação com variáveis não observáveis, constantes ao longo do tempo, e problemas de causalidade reversa. Por exemplo, Islam (1995) estimou a equação de convergência utilizando o método Least Square Dummy Variables, enquanto que Caselli et al. (1996) utilizaram o Método Generalizado dos Momentos (GMM) em primeira diferença (GMM-DIF), elaborado por Arellano e Bond (1991).

Apesar de importante avanço para metodologia empírica, Roodman (2009b) aponta duas limitações no método do Least Square Dummy Variables: (i) a abordagem funciona apenas para painéis balanceados; e (ii) não consegue lidar com mais de uma variável explicativa que sofre de endogeneidade. Por sua vez, com relação à contribuição de Caselli et al. (1996), Bond et al. (2001) argumentam que o método aplicado também possui sérias desvantagens, porque, para amostras finitas e quando as séries temporais são persistentes, variáveis instrumentais fracas causam forte viés que também afeta painéis dinâmicos estimados por GMM. Nesse caso, os instrumentos gerados pelo GMM em primeira diferença se mostram inadequados, porque variáveis defasadas em nível não são bem ajustadas para painéis com poucos períodos.

No presente trabalho, enfrentam-se os mesmos desafios que trabalhos anteriores, a saber, ter de lidar com a endogeneidade das variáveis explicativas. Por isso, propõe-se analisar a maldição dos recursos naturais aplicando o estimador system GMM.

O estimador system GMM (ARELLANO; BOVER, 1995; BLUNDELL; BOVER, 1998) se disseminaram como estratégia empírica para diversas áreas do conhecimento, especialmente em Economia nos estudos de convergência. Isso porque são adequados para situações com as seguintes características: (i) painéis com “T pequeno e N grande”, isto é, poucos períodos e muitas observações; (ii) uma relação funcional linear; (iii) uma única variável do lado esquerdo que é

Page 8: A MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: UMA ANÁLISE … · padrão de vida da população. Por isso, ... a literatura lista oito canais pelos ... UMA ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO

XIII ENCONTRO DE ECONOMIA BAIANA – OUT. 2017 ECONOMIA BAIANA • 8

A MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: UMA ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DA BAHIA NO PERÍODO DE 2002 A 2013 Luiz Gustavo Araújo da Cruz Casais e Silva, André Luís Mota dos Santos, Rodrigo Carvalho Oliveira

dinâmica (dependente de sua trajetória passada); (iv) variáveis independentes que não são estritamente exógenas, isto é, são correlacionados com os erros no período corrente e passado; (v) efeitos individuais fixos; (vi) heteroscedasticidade e autocorrelação dentro das observações, mas não entre eles; e: (vii) os únicos instrumentos disponíveis são internos – baseados na defasagem das variáveis instrumentalizadas. (ROODMAN, 2009b).

Seja um modelo geral de um processo gerador de dados tal como (ROODMAN, 2009b): 𝑦!" = 𝛼𝑦!,!!! + 𝑥!"! 𝛽 + 𝜀!"

𝜀!" = 𝜇! + 𝑣! 𝐸 𝜇! = 𝐸 𝑣!" = 𝐸 𝜇!𝑣! = 0

(5)

Sendo que se pode rearranjar a equação (5) como:

∆𝑦!" = (𝛼 − 1)𝑦!,!!! + 𝑥!"! 𝛽 + 𝜀!" (6)

Percebe-se, de imediato, que existe um problema em estimar por MQO, porque 𝑦!,!!! é correlacionado com os efeitos fixos no termo de erro. Além disso, existe a chance de haver causalidade reversa da variável dependente sobre variáveis explicativas. Nesse caso, existem duas formas de lidar com isso: a primeira é aplicando o estimador GMM-DIF e, a segunda, é usando estimador system GMM.

O estimador GMM-DIF é obtido fazendo a primeira diferença da equação para retirar os efeitos fixos individuais e, depois, instrumentalizam-se a primeira diferença das variáveis endógenas, (𝑦!,!!! − 𝑦!,!!!) com essa mesma variável, agora, defasada dois períodos (𝑦!,!!!), variáveis de controle também podem ser instrumentalizadas. O propósito de instrumentalizar com a mesma variável defasada dois períodos é que ela não deverá estar correlacionada com o termo de erro, tampouco haverá causalidade reversa com a variável explicativa no período corrente. Do ponto de vista prático, esse estimador se torna enviesado, especialmente, quando o número de períodos considerados é pequeno (BLUNDELL; BOND, 1998).

Em poucas palavras, o estimador system GMM toma a variável 𝑦!,!!! e a instrumentaliza com sua primeira diferença defasada (𝑦!,!!! − 𝑦!,!!!).

O cálculo do estimador GMM [system] [...] pode ser baseado no sistema empilhado composto por todas as equações (T-2) em primeiras diferenças e as equações (T-2) em níveis correspondendo aos períodos 3, ..., T, para os quais instrumentos são observados. A matriz de instrumento para esse sistema pode ser escrito

𝒁!! =

𝒁𝒊 00 ∆𝑦!!

0 ⋯ 00 ⋯ 0

0 0.0

.0

∆𝑦!! ⋯ 0.0

⋯ 0 ⋯ ∆𝑦!!

onde 𝒁𝒊 é a matriz de instrumentos resultantes [deduzido do estimador GMM-DIF]. (BLUNDELL; BOND, 1998, p. 126, tradução nossa.)

Isto é, o estimador system GMM cria uma nova matriz de dados, que é uma mescla do conjunto de equações em primeira diferença, instrumentalizadas pelas suas variáveis em nível, com um conjunto adicional de equação em nível instrumentalizadas por suas variáveis defasadas em primeira diferença. Blundell e Bond (1998) mostram que esse estimador é mais preciso do que o anterior.

Já o estimador system GMM, basicamente, toma a variável 𝑦!,!!! e a instrumentaliza com sua primeira diferença defasada (𝑦!,!!! − 𝑦!,!!!). O cálculo do estimador system GMM é realizado na composição de sistema empilhando todas as equações (T-2) em primeiras diferenças e as

Page 9: A MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: UMA ANÁLISE … · padrão de vida da população. Por isso, ... a literatura lista oito canais pelos ... UMA ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO

XIII ENCONTRO DE ECONOMIA BAIANA – OUT. 2017 ECONOMIA BAIANA • 9

A MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: UMA ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DA BAHIA NO PERÍODO DE 2002 A 2013 Luiz Gustavo Araújo da Cruz Casais e Silva, André Luís Mota dos Santos, Rodrigo Carvalho Oliveira

equações (T-2) em níveis correspondendo aos períodos 3, ..., T, para os quais os instrumentos são observados††.

Para lidar com a heteroscedasticidade, Blundell e Bond (1998) também elaboraram o estimador GMM “two-step”. O primeiro passo se refere a estimar o parâmetro da variável endógena atribuindo valores arbitrários à matriz de ponderação dos erros, o segundo passo é estimar novamente esse parâmetro, substituindo os coeficientes da matriz pelos resíduos provenientes do primeiro passo, como proxy da matriz de ponderação. Conforme Roodman (2009b), apesar do esforço, os artigos reportavam os resultados tanto do estimador GMM “one-step” e quanto do “two-step” devido ao viés do erro padrão gerado. Felizmente, ainda de acordo com Roodman (2009b), Windmeijer, em seu artigo de 2005, conseguiu minimizar significativamente o problema. Outra vantagem desse estimador é conseguir estimar variáveis invariantes no tempo (Roodman, 2009b).

A consistência do estimador GMM-SYS reside em duas hipóteses que devem ser verificadas com dois testes. A primeira hipótese é da validade dos instrumentos, que não podem ser correlacionadas com o termo de erro, para a qual se utiliza o teste de Sargan/Hansen de restrição de sobreidentificação – quando se controla pela heteroscedasticidade, o teste de Hansen é aplicado no lugar do Sargan. Nesse caso, a hipótese nula (H0) é de que os instrumentos não estão correlacionados com o termo de erro. Logo, busca-se não rejeitar H0.

A segunda hipótese afirma que os erros idiossincráticos do mesmo indivíduo não devem ser serialmente correlacionados. Para tanto, realiza-se o teste de Arellano-Bond para processo autorregressivo de primeira e segunda ordem de correlação em diferenças‡‡. O teste para o AR(1) deve apontar a presença de correlação negativa, ou seja, busca-se rejeitar H0. Por outro lado, o teste para AR(2), que verifica se existe correlação dos erros idiossincráticos em períodos diferentes, deve constatar a falta de correlação, isto é, H0 não deve ser rejeitado.

Roodman (2009ab) alerta sobre o viés que muitos instrumentos podem produzir na estimação GMM. Ainda segundo o autor, não existe consenso na literatura sobre o número máximo de instrumentos a serem utilizados, certamente não deve ultrapassar o número de observações da amostra§§. Arellano e Bover (1995) sugerem utilizar a diferença mais recente como instrumento da variável em nível, já que o uso conjunto de diferenças anteriores geraria condições de momento redundante.

Desse modo, conclui-se que o modelo econométrico mais apropriado é o system GMM “two-step” com o método de correção de Windmeijer para a matriz de covariância-variância, com transformação de desvios ortogonais*** e correção de pequenas amostras†††.

4. Base de dados e evidências iniciais

As variáveis são organizadas num painel de quatro períodos, em intervalos de três anos entre 2002 e 2013 (2002-2004; 2005-2007; 2008-2010; 2011-2013). Conforme Bonnefond (2014), há duas vantagens em se trabalhar com intervalo de três anos, apesar de não ser consenso: (i) a utilização de média ao longo do período reduz a influência de choques de curto prazo dos ciclos econômicos na atividade econômica; (ii) comparando-se com intervalos de tempo mais longos, três anos de intervalo para cada período viabiliza maior número de observações para aplicação da dimensão temporal em dados em painel.

Desse modo, as variáveis consideradas para estimação do modelo são:

†† A matriz de instrumento desse sistema pode ser visualizada em Blundell e Bond (1998). ‡‡ Para mais detalhes, ver seção 3.5 em Roodman (2009b). §§ O número de instrumentos gerados no GMM é o quadrado do que é mostrado nas regressões utilizando o comando xtabond2, no programa Stata. *** A transformação de desvios ortogonais é adequada para lidar com dados em painéis onde existem informações faltantes. Para mais detalhes ver Roodman (2009b). ††† A correção de pequenas amostras sobre a estimação da matriz de covariância substitui o teste-z pelo teste-t para os coeficientes – além de substituir o teste Wald χ² pelo teste F para ajuste geral.

Page 10: A MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: UMA ANÁLISE … · padrão de vida da população. Por isso, ... a literatura lista oito canais pelos ... UMA ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO

XIII ENCONTRO DE ECONOMIA BAIANA – OUT. 2017 ECONOMIA BAIANA • 10

A MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: UMA ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DA BAHIA NO PERÍODO DE 2002 A 2013 Luiz Gustavo Araújo da Cruz Casais e Silva, André Luís Mota dos Santos, Rodrigo Carvalho Oliveira

∆𝑦!" = 𝑓(𝑦!,!!!, 𝐼𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜,𝐸𝑑𝑢𝑐𝑎çã𝑜, 𝑛 + 𝑔

+ 𝛿,𝐺𝑎𝑠𝑡𝑜 𝑃ú𝑏𝑙𝑖𝑐𝑜, 𝐼𝑛𝑠𝑡𝑖𝑡𝑢𝑖çõ𝑒𝑠,𝑅𝑜𝑦𝑎𝑙𝑡𝑦,𝐶𝐹𝑈𝑅𝐻,𝑅𝑒𝑛𝑑𝑎, 𝐼𝑛𝑡𝑒𝑟𝑎çã𝑜) Tabela 1 – Descrição das variáveis

Variável Descrição Fonte ∆𝑦!" Diferença entre os logaritmos naturais do PIB per capita do ano final e do

inicial de cada período. SEI

𝑦!,!!! PIB per capita em logaritmo natural do ano inicial de cada período. SEI Investimento Taxa de crescimento do consumo de energia elétrica por quilowatts/hora per

capita. O consumo de energia elétrica é comumente utilizado como proxy para estoque de capital, por isso, aqui, ela foi adaptada para servir como proxy de investimento, ao utilizá-la sua variação per capita. Entretanto, ela apresenta uma limitação, porque está captando, inclusive, variação no consumo elétrico doméstico.

SEI

Educação A proxy utilizada para o investimento educacional foi participação da população de trabalhadores formais com ensino médio na população total, aqui se inclui aqueles com nível superior incompleto.Não existe, na Bahia, uma pesquisa anual acerca do nível de escolaridade de sua população, por isso optou-se pelo banco de dados da RAIS.

RAIS

𝑛 + 𝑔 + 𝛿 𝑛,𝑔 e 𝛿 representam, respectivamente, a taxa de crescimento populacional, taxa de progresso técnico e taxa de depreciação física e de capital humano. 𝑔 + 𝛿 = 0.05, conforme Mankiw et al.(1992) assumiram.

SEI

Gasto público

A proxy utilizada para o gasto público municipal foi a despesa de funções e subfunções. Foi calculada com base na média de cada período de três anos, normalizada pelo PIB médio do período.

FINBRA

Instituições As proxies utilizadas para a qualidade institucional foram o Índice de Qualidade Institucional Municipal (IQIM) e o parecer do relatório do Tribunal de Contas dos Municípios do Estado da Bahia‡‡‡. O parecer das contas municipais pode ser de rejeição, aprovação com ressalva ou aprovação. Normalizou-se o parecer numa variável dummy: 0 para rejeição e 1 para aprovado com ressalva ou aprovado. A construção da variável para cada um dos quatro períodos seguiu o seguinte critério: se, pelo menos em um dos três anos, o parecer do TCM rejeitou as contas do município, atribuiu-se 0 para o valor da variável dummy. A vantagem de utilização desses pareceres é porque é feito por um órgão com elevada credibilidade, entretanto, como proxy para instituições, ela se limita a observar apenas a qualidade da utilização das contas municipais, que é apenas um dos aspectos a se observar na qualidade das instituições. Já a proxy IQIM é o Índice de Qualidade Institucional Municipal, elaborado pelo Ministério do Planejamento a partir de dos dados do IBGE, obtidos entre os anos de 1997 e 2000. Esse índice varia de 1 a 6, sendo que 1, a pior nota e 6, a melhor, ele é o resultado da média aritmética de outros três indicadores: grau de participação, capacidade financeira e capacidade gerencial§§§ .

TCM-BA

Royalty e CFURH

Calculadas pela média no período de três anos, normalizadas pelo PIB médio do período e depois transformadas em porcentagem.

UCAM; ANP; ANEEL

Renda Atribuiu-se o valor 1 para os municípios cuja participação dos royalties e da CFURH no PIB está acima da mediana e 0 caso contrário. Com isso, espera-se capturar o efeito desses recursos apenas sobre os municípios onde royalties e CFURH são relativamente representativos.

Interação É o resultado da multiplicação entre royalty e instituições (Royalty*instituições) e CFURH e instituições (Hidro*instituições). Além disso, interage-se essa

‡‡‡ Para alguns anos em diversos municípios, o parecer não estava disponível no site do TCM. O critério utilizado para preencher as células indisponíveis se encontra no apêndice. §§§ O IQIM, até o ano de 2015, estava disponível em: <http://www.mp.gov.br/secretarias/upload/Arquivos/spi/downloads/081014_DOWN_EX_PC_Agen_relAgenda.pdf>. Desde então, encontra-se indisponível. Para mais detalhes da metodologia, ver Pereira et al. (2012).

Page 11: A MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: UMA ANÁLISE … · padrão de vida da população. Por isso, ... a literatura lista oito canais pelos ... UMA ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO

XIII ENCONTRO DE ECONOMIA BAIANA – OUT. 2017 ECONOMIA BAIANA • 11

A MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: UMA ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DA BAHIA NO PERÍODO DE 2002 A 2013 Luiz Gustavo Araújo da Cruz Casais e Silva, André Luís Mota dos Santos, Rodrigo Carvalho Oliveira

variável com Renda (Royalty*instituições*Renda) e Renda (Royalty*instituições*Renda) no intuito de se verificar o efeito da interação para os municípios onde essas rendas têm representatividade relativamente maior com relação ao PIB.

Fonte: Elaboração própria, 2017

Todos os valores monetários foram deflacionados pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para o ano de 2007.

A tabela 2 apresenta as estatísticas descritivas dos dados utilizados na construção das variáveis dependente e explicativas da equação (6). A tabela 2 está divida em duas partes. Na parte superior da tabela, encontram-se as informações dos municípios que não auferem rendas de royalties e CFURH, na parte inferior, estão os municípios que recebem essas receitas. Tabela 2 – Estatísticas descritivas****

Variáveis N°. Obs. Média Desvio-padrão Mínimo Máximo Municípios não beneficiários de royalties e CFURH

∆𝑦!" 621 0,0944 0.1730 -0,6159 0,9351 𝑦!,!!! 621 8.1281 0,5220 7.1741 10.7948

Investimento 568 -2.8902 0,8184 -7.0099 -0,3086 Educação 616 -2.3965 1.0573 -6.3780 3.2095 𝑛 + 𝑔 + 𝛿 599 -2.9963 0,5913 -8.6529 -1.2687

G 621 -1,4166 0,4425 -3,3306 -0,4922 TCM 621 0,5668 0,4959 0 1 IQIM 617 2,6233 0,4183 1,5 3,8

Municípios beneficiários de royalties e CFURH

∆𝑦!" 1047 0,1301 0,2018 -1,0231 1,7395 𝑦!,!!! 1047 8,2501 0,5958 7,0920 12,3310

Investimento 923 -3,0999 0,8565 -9,4361 -1,0259 Educação 1043 -2,1140 0,8805 -6,2265 0,7798 𝑛 + 𝑔 + 𝛿 1000 -2,9642 0,5748 -8,3248 -1,4850

Gasto Pub. 1047 -1,4840 0,4780 -3,5942 0,0011 TCM 1047 0,4479 0,4975 0 1 IQIM 1043 2.6717 0,4552 1,5 3,9

Royalty 1003 0,2100 1,0588 0,000058 17,0738 CFURH 122 0,8306 1,5329 0,000047 7,0366

Total 1668 Fonte: Elaboração própria, 2017

O primeiro aspecto a ser notado é o número de observações da amostra, que não engloba a totalidade das observações correspondentes aos quatro períodos. Parte das observações foi perdida por causa, em primeiro lugar, da aplicação do logaritmo natural nas variáveis Investimento e 𝑛 + 𝑔 + 𝛿, que possuem taxas de crescimento negativas, e, em segundo lugar, por causa da ausência de dados fornecidos pelas fontes para alguns municípios.

Os municípios não beneficiários correspondem a pouco mais de um terço das observações da amostra. Em média, possuem crescimento econômico menor, com nível um pouco maior de concentração desses dados em torno da média do que os municípios beneficiários. Isso revela um perfil de municípios mais homogêneos nesse quesito, confirmado pelas variáveis 𝑦!,!, Investimento,

**** Todas as variáveis foram reportadas em logaritmo natural, tal como foram estimadas no modelo, com exceção de Royalty, CFURH, TCM e IQIM.

Page 12: A MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: UMA ANÁLISE … · padrão de vida da população. Por isso, ... a literatura lista oito canais pelos ... UMA ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO

XIII ENCONTRO DE ECONOMIA BAIANA – OUT. 2017 ECONOMIA BAIANA • 12

A MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: UMA ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DA BAHIA NO PERÍODO DE 2002 A 2013 Luiz Gustavo Araújo da Cruz Casais e Silva, André Luís Mota dos Santos, Rodrigo Carvalho Oliveira

Gasto Público, TCM e IQIM. Por outro lado, Educação e 𝑛 + 𝑔 + 𝛿 possuem desvio-padrão mais elevado. Com relação a outros aspectos das demais variáveis, não parece haver um padrão na comparação entre os municípios acima e abaixo na tabela 2.

Chama atenção o fato de a média da variável TCM, para aqueles situados na parte superior da tabela 2, ser maior, revelando possuir melhor qualidade das instituições. Enquanto que para IQIM, essa configuração é o contrário. Além disso, a média do Gasto Público é maior para os municípios beneficiários, revelando prefeituras que tendem a ser relativamente maiores em termos de sua proporção do PIB.

Em relação às variáveis Royalties e CFURH, na média, essas variáveis†††† são uma importante fonte de receita para municípios beneficiários desses recursos – de 417, 269 auferem royalties de petróleo e, cerca de 30, CFURH. Apesar desses percentuais se mostraram expressivos, há municípios que recebem valor irrisório de royalties de petróleo, de aproximadamente, R$5.000,00 em 2007, como é o caso de Firmino Alves, e outros que recebem milhões, como Madre de Deus em 2007, ao mesmo tempo em que, em termos de CFURH, Mucuri recebeu R$930,59 e Paulo Afonso, aproximadamente, R$22.000.000. No primeiro caso, a explicação reside no fato de a produção de petróleo e gás natural ser concentrada na região do Recôncavo Baiano, local onde Madre de Deus está localizado, no segundo caso, a explicação é o quanto os municípios são afetados pela inundação de parte de seu território pelo espelho d’água das represas. Essa enorme disparidade é percebida pelo elevado desvio-padrão de Royalties e CFURH, esta quase 50% maior do que o primeiro.

5. Resultados

Esta seção apresenta os resultados das estimações utilizando o método system GMM,

considerado mais apropriado do que Efeitos Fixos e Aleatórios por Caselli et al. (1996) e Bond et al. (2001). Para tanto, estimou-se o system GMM dois passos, com correção de Windmeijer para matriz de covariância-variância, com transformação de desvios ortogonais e correção de pequenas amostras sobre a estimação da matriz de covariância.

As variáveis instrumentalizadas foram 𝑦!,!!!, 𝑛 + 𝑔 + 𝛿, Investimento, Educação, Gasto Público e TCM‡‡‡‡ com dois períodos de defasagem, conforme Roodman (2009b). Quanto à organização da tabela 3, alternam-se as regressões entre as variáveis TCM e IQIM para facilitar a visualização e, a partir da coluna 5, os termos de interação são incorporadas.

Os modelos 1 a 4 estimaram a equação (2), enquanto os modelos 5 a 8 consideraram a variável de interação da equação (3). Em todos eles, verificou-se a correlação negativa entre 𝑦!,!!! (o nível do PIB no período inicial) e a taxa de crescimento de cerca de 0,5, ou seja, em média, o aumento de 1% do PIB no período inicial reduz a taxa de crescimento em 0,5%, tudo o mais constante. O sinal negativo está de acordo com a literatura empírica de convergência (BARRO, 1991; MANKIW et al., 1992). Além disso, o parâmetro de 𝑛 + 𝑔 + 𝛿 obteve o sinal esperado negativo, refletindo o entendimento original de Solow, segundo o qual maiores taxas de crescimento populacional reduzem o estoque de capital per capita, implicando em menor taxa de crescimento.

Um resultado interessante foi o fato de o gasto público afetar negativamente a taxa de crescimento. Isto pode significar um efeito crowding out do investimento público. Isto é, quanto maior a presença do setor público, medido pelo gasto público total, menor pode estar sendo os investimentos privados, limitando a capacidade de crescimento do município. A despeito do sinal do parâmetro, a literatura empírica aponta resultados ambíguos, podendo produzir um impacto positivo ou negativo sobre a taxa de crescimento econômico (BONNEFOND, 2014).

†††† Royalty e CFURH estão em percentual. ‡‡‡‡ Apesar de o IQIM ser potencialmente endógena, não é possível instrumentalizá-la uma vez que é invariante no tempo.

Page 13: A MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: UMA ANÁLISE … · padrão de vida da população. Por isso, ... a literatura lista oito canais pelos ... UMA ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO

XIII ENCONTRO DE ECONOMIA BAIANA – OUT. 2017 ECONOMIA BAIANA • 13

A MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: UMA ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DA BAHIA NO PERÍODO DE 2002 A 2013 Luiz Gustavo Araújo da Cruz Casais e Silva, André Luís Mota dos Santos, Rodrigo Carvalho Oliveira

As estimações do Investimento e Educação não obtiveram o resultado esperado, porque, além de serem não significantes estatisticamente, a primeira recebeu sinal negativo. Esse resultado reflete a fragilidade dessas duas proxies. A variável Investimento, por exemplo, está sendo contaminada pelo consumo de energia elétrica do setor doméstico, o que não reflete a taxa de investimento. Com relação à Educação, dados anuais municipais não são divulgados, restando à utilização de proxies que, no caso presente, capta apenas a escolaridade do trabalho formal.

O resultado obtido para TCM e IQIM surpreendeu. O sinal negativo das variáveis dummy Instituições não tem base na literatura, dado que melhores instituições implicam em maior taxa de crescimento (ISAKSSON, 2007). Com relação à primeira, a razão desse resultado se deve à proxy utilizada, pois ela se refere à conformidade dos gastos da prefeitura perante à lei. Nesse sentido, é de se esperar que municípios que não cumpriram essa determinação e, portanto, são identificados pelo valor zero nos dados, gastaram mais do que o permitido, o que deve gerar maior taxa de crescimento§§§§. Enquanto com a IQIM, a variável deve estar correlacionada com o termo de erro.

É importante esclarecer que não existe inconsistência entre TCM e Gasto Público. O motivo desse registro é porque ambas as variáveis se referem, em certa medida, aos gastos da prefeitura. O sinal de Gasto Público é negativo, tendo a seguinte interpretação: o aumento de 1% do gasto municipal em relação ao seu PIB reduz a taxa de crescimento em cerca de 0,6%. Enquanto isso, apesar de o sinal de TCM também ser negativo, este possui outra interpretação, a saber: ela sendo uma dummy, municípios que tiveram suas contas aceitas pelo TCM tem uma menor taxa de crescimento de, aproximadamente, 0,15% se comparada com municípios que tiveram suas contas rejeitadas. Portanto, ela nada informa sobre os efeitos marginais do aumento do gasto público.

Quanto ao Royalty e CFURH, existe uma diferença clara das primeiras quatro estimações com o restante: aquelas concluíram que ambas as variáveis são positivas e estatisticamente significantes, enquanto que estas constataram apenas o mesmo sinal positivo. Percebe-se que a inclusão dos termos de interação é a responsável por essa modificação, algo diferente do que ocorreu com o trabalho de Mehlum et al. (2006), cujo impacto da abundância de recursos naturais sobre a taxa de crescimento foi negativo e, mesmo com o termo de interação, o resultado se conservou.

As variáveis de interação foram incluídas no modelo 5 em diante, onde se percebe traço importante no resultado: (i) Royaltiy e CFURH deixaram de ser estatisticamente significantes; (ii) apenas as interações de instituições com Royalty obtiveram significância estatística, tanto com TCM quanto com IQIM; (iii) o resultado não se alterou mesmo quando se examinaram os municípios onde as rendas compensatórias estão acima da mediana na amostra, ou seja, onde essas transferências são mais relevantes.

Por fim, pelo teste de Hansen, nota-se que as estimações 1 a 4, 6 e 8 não são válidas, pois o teste rejeitou a hipótese nula a 10%, quando, na verdade, busca-se aceitá-la. Ou seja, o teste de Hansen detectou a existência de correlação entre os instrumentos e o termo de erro ao nível de significância de 10%. Diferentemente, os modelos 5 e 7 estimando o termo de interação balizada por TCM alcançaram o nível para aceitar a hipótese nula dos testes de Hansen, de que os instrumentos não estão correlacionados com o termo de erro, e AR(2) e rejeitar a do AR(1), de modo a estarem com os instrumentos bem ajustados.

Tabela 2 – Painel Dinâmico. Variável dependente: ∆𝑦!"

Variáveis GMM GMM GMM GMM GMM GMM GMM GMM

1 2 3 4 5 6 7 8 𝑦!,!!! -0.532*** -0.512*** -0.532*** -0.512*** -0.557*** -0.520*** -0.557*** -0.520***

(-3.55) (-3.22) (-3.56) (-3.22) (-3.47) (-3.21) (-3.47) (-3.21)

𝑛 + 𝑔 + 𝛿 -0.0965* -0.135*** -0.0965* -0.135*** -0.0873* -0.133*** -0.0874* -0.133***

(-1.83) (-2.77) (-1.83) (-2.78) (-1.78) (-2.75) (-1.78) (-2.75)

§§§§ De fato, é o que ocorreu. Os municípios cujas contas foram rejeitadas, em média, gastaram uma proporção maior do seu PIB do que o restante, nos três primeiros períodos contemplados na análise.

Page 14: A MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: UMA ANÁLISE … · padrão de vida da população. Por isso, ... a literatura lista oito canais pelos ... UMA ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO

XIII ENCONTRO DE ECONOMIA BAIANA – OUT. 2017 ECONOMIA BAIANA • 14

A MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: UMA ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DA BAHIA NO PERÍODO DE 2002 A 2013 Luiz Gustavo Araújo da Cruz Casais e Silva, André Luís Mota dos Santos, Rodrigo Carvalho Oliveira

Investimento -0.0411 -0.0779 -0.0413 -0.0781 -0.0366 -0.0791 -0.0367 -0.0792

(-0.75) (-1.39) (-0.75) (-1.39) (-0.68) (-1.41) (-0.68) (-1.41)

Educação 0.0178 0.0174 0.0178 0.0175 0.0206 0.0219 0.0206 0.022

(0.67) (0.71) (0.67) (0.72) (0.76) (0.88) (0.76) (0.88)

Gasto Público -0.615*** -0.533** -0.615*** -0.533*** -0.654*** -0.546*** -0.654*** -0.546***

(-3.11) (-2.59) (-3.11) (-2.59) (-3.08) (-2.62) (-3.09) (-2.63)

TCM -0.139** -0.139** -0.153** -0.153**

(-2.37) (-2.38) (-2.41) (-2.41)

Continua

Tabela 2 – Painel Dinâmico. Variável dependente: ∆𝑦!"

GMM GMM GMM GMM GMM GMM GMM GMM Variáveis 1 2 3 4 5 6 7 8

IQIM -0.0213 -0.0213 -0.0274 -0.0274

(-0.83) (-0.83) (-1.03) (-1.03) Royalty 0.0626** 0.0588*** 0.0204 -0.072

(2.44) (2.59) (0.97) (-1.62)

CFURH 0.0254** 0.0200** 0.0154 -0.0674

(2.47) (2.24) (0.74) (-1.11)

Royalty*Renda

0.0626** 0.0587*** 0.0207 -0.0723

(2.44) (2.59) (0.99) (-1.63)

CFURH*Renda

0.0256** 0.0201** 0.0158 -0.0666

(2.48) (2.24) (0.77) (-1.08)

Royalty*Instituições

0.0652** 0.0421***

(2.03) (2.59)

CFURH*Instituições

0.0148 0.0347

(0.65) (1.43)

Royalty*Renda*Instituições 0.0647** 0.0422***

(2.03) (2.6) CFURH*Renda*Instituições 0.0144 0.0344

(0.64) (1.4)

Constante 3.390*** 3.111*** 3.392*** 3.109*** 3.608*** 3.186*** 3.607*** 3.186***

(3.47) (2.9) (3.48) (2.9) (3.42) (2.9) (3.43) (2.9)

N° Observ. 1414 1408 1414 1408 1414 1408 1414 1408

N° Instr. 36 32 36 32 38 34 38 34

Teste de Hansen 33.82 38.91 33.80 38.90 32.23 38.76 32.24 38.78 (0.088) (0.007) (0.088) (0.007) (0.122) (0.007) (0.121) (0.007)

Teste Arellano-Bond AR(1) -3.89 -2.53 -3.89 -3.55 -3.80 -3.56 -3.81 -3.56 (0.00) (0.011) (0.00) (0.000) (0.006) (0.000) (0.018) (0.000)

Teste Arellano-Bond AR(2) 0.33 0.52 0.33 0.52 0.39 0.51 0.85 0.51 (0.743) (0.602) (0.744) (0.602) (0.699) (0.609) (0.396) (0.609)

Notas: ***Significativo a 1%, ** Significativo a 5%, * Significativo a 10%; dados com intervalo de três anos (2002-04; 2005-07; 2008-10; 2011-13); estimador GMM “two-step” com correção de amostras finitas para matriz de variância-covariância; erro-padrão robusto entre parênteses, p-valor entre parênteses para os testes de Hansen e Arellano-Bond. Dummies de tempo são omitidas na tabela 6. Considerações finais

Este trabalho teve como objetivo examinar o impacto das rendas compensatórias provenientes da produção de petróleo e gás natural e da utilização de recursos sobre o crescimento econômico dos municípios baianos entre 2002 e 2013. A hipótese levantada foi que a má qualidade institucional é o principal canal de transmissão da maldição dos recursos naturais, baseada em Mehlum et al. (2006).

A hipótese se baseou em dois argumentos: na (i) atividade rent-seeking; e na (ii) economia política. A atividade rent-seeking se refere ao processo no qual agentes, com interesses políticos e

Page 15: A MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: UMA ANÁLISE … · padrão de vida da população. Por isso, ... a literatura lista oito canais pelos ... UMA ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO

XIII ENCONTRO DE ECONOMIA BAIANA – OUT. 2017 ECONOMIA BAIANA • 15

A MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: UMA ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DA BAHIA NO PERÍODO DE 2002 A 2013 Luiz Gustavo Araújo da Cruz Casais e Silva, André Luís Mota dos Santos, Rodrigo Carvalho Oliveira

econômicos competitivos, gastam recursos economicamente valiosos para obter favores do governo (DEACON, 2011, p. 125). A economia política se baseia no fato de que o governante busca aprovação popular para manter seu grupo no poder, para tanto deve maximizar os interesse da população em obter maior nível de utilidade, ao mesmo tempo em que permite a atuação de rent-seekers organizados. Com isso, quanto maior for a participação do governo no PIB, maior deverá ser a atividade rent-seeking e o incentivo à patronagem. Por outro lado, boas instituições são capazes de reduzir os incentivos para a atividade rent-seeking e a patronagem, implicando em maior crescimento econômico.

Os resultados evidenciaram que o modelo de Mehlum et al. (2006) é estatisticamente condizente com os dados. No período analisado, constatou-se que não existe maldição dos recursos naturais de forma que maior volume royalties de petróleo e CFURH não possui qualquer efeito sobre a taxa de crescimento econômico. Portanto, no período analisado nos municípios do estado da Bahia, o fenômeno da maldição dos recursos naturais não se verifica.

Com relação à hipótese institucional como canal de transmissão, as estimações com o termo de interação com a proxy TCM confirmaram a hipótese inicial, de modo que melhores instituições influenciam positivamente na gestão de royalties de petróleo, enquanto, para a CFURH, o resultado foi não significante estatisticamente. Já com a proxy IQIM os resultados das estimações do termo de interação com royalties de petróleo foi positiva e estatisticamente significante, sendo uma evidência que reforça o resultado anterior.

Este trabalho contribui para a literatura trazendo, além de novas evidências sobre a relação entre recursos naturais e crescimento dos municípios, tanto resultados inéditos para o estado da Bahia quanto contribuindo para o debate sobre a hipótese institucional, como canal de transmissão da maldição dos recursos nos municípios. Sugere-se realizar mais estimações para averiguar a qualidade do termo de interação entre a proxy TCM e as rendas compensatórias. É importante examinar de que forma a qualidade das instituições municipais incentiva os gestores a melhor alocação de recurso, considerando que os únicos dispositivos de vinculação da receita proveniente de compensação financeira residem na Lei n°. 7.990 de 1989 (para CFURH e royalty a 5%), na recente Lei 12.858/2013 e nos princípios gerais da administração pública. Em outras palavras, é importante investigar em que medida as leis federais, que regem as compensações financeiras, e as instituições municipais influenciam na gestão desses recursos. Isso porque, às vezes, instituições municipais podem não ser tão importantes quanto à legislação federal ou estadual na alocação de uma transferência de recurso. Referências ALEXEEV, Michael; CONRAD, Robert. The elusive curse of oil. The Review of Economics and

Statistics, v. 91, n.3, p. 586–598, 2009. ARAGON, Fernando M.; RUD, Juan Pablo. The Blessing of Natural Resources: Evidence from a

Peruvian Gold Mine. Lima: Banco Central de Peru, 2009. (Working Paper Series DT, n. 015). ARELLANO, M.; BOVER, O. Another look at the instrumental variable estimation of error-

components models. Journal of Econometrics, v. 68, n. 1, p. 29-51, 1995. AREZKI, R.; BRÜCKNER, M. Commodity windfalls, polarization, and net foreign assets: panel

data evidence on the voracity effect. Journal of international Economics, v. 86, n. 2, p. 318-326, mar. 2012.

BEVAN, David L.; COLLIER, Paul; GUNNING, Jan Willem. The political economy of poverty, equity, and growth: Nigeria and Indonesia. Nova Iorque: Oxford University Press, p. 464,1999.

BLUNDELL, R.; BOND, S. Initial Conditions and Moment Restrictions in Dynamic Panel Data Models. Journal of Econometrics, v. 97, n. 1, p. 115-143, 1998.

BOND, S.; HOEFFLER, A.; TEMPLE, J. GMM estimation of empirical growth models. Londres: Centre for Economic Policy Research, 2001. (Discussion paper, n. 3048).

Page 16: A MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: UMA ANÁLISE … · padrão de vida da população. Por isso, ... a literatura lista oito canais pelos ... UMA ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO

XIII ENCONTRO DE ECONOMIA BAIANA – OUT. 2017 ECONOMIA BAIANA • 16

A MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: UMA ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DA BAHIA NO PERÍODO DE 2002 A 2013 Luiz Gustavo Araújo da Cruz Casais e Silva, André Luís Mota dos Santos, Rodrigo Carvalho Oliveira

BONNEFOND, Céline. Growth dynamics and conditional convergence among chinese provinces: a panel data investigation using system GMM estimator. Journal of Economic Development, v. 39, n. 4, 2014.

BRUNNSCHWEILER, C. N., BULTE, E. The resource curse revisited and revised: a tale of para-doxes and red herrings. Journal of Environmental Economics and Management, v. 55, n.3, p.248-264, 2008.

CARNICELLI, Lauro; POSTALI, Fernando Antonio Slaibe. Royalties do petróleo e emprego públi-co nos municípios brasileiros. Estudos Econômicos, v. 44, n. 3, p. 469-495, 2014.

CASELLI, Francesco; ESQUIVEL, G.; LEFORT, F. Reopening the convergence debate: a new look at cross-country growth empirics. Journal of Economic Growth, v. 1, n.3, p. 363-389, 1996.

CASELLI, F.; MICHAELS, G. Do oil windfalls improve living standards? Evidence from Brazil. Cambridge: NBER, 2009. (Working paper series, n. 15550). Disponível em: <http://www.nber.org/papers/w15550>. Acesso em: 03 jul. 2012.

CORDEN, W. M. Booming sector and dutch disease economics: survey and consolidation. Oxford Economic Papers, v. 36, n. 3, 1984.

CUDDINGTON, J.; LUDEMA, R.; JAYASURIYA, S. Prebisch-Singer redux. 2002. Disponível em: < http://inside.mines.edu/~jcudding/papers/Prebisch_Singer/Cuddington_et%20al_PS_Redux-short_10.30.02.pdf>. Acesso em: 02 maio 2015.

DEACON, Robert T. The political economy of the natural resource curse: a survey of theory and evidence. Foundations and Trends in Microeconomics, v. 7, n. 2, p. 111-208, 2011.

DE FERRANTI, David; PERRY, Guillermo E.; LEDERMAN, Daniel; MALONEY, William. From natural resources to the knowledge economy: trade and job quality. Washington, D.C.: World Bank, 2002.

DURLAUF, S.N.; JOHNSON, P. A.; TEMPLE, J. Growth Econometrics, in AGHION, P.; DURLAUF, S.N. org. Handbook of Economic Growth. Amsterdam: North-Holland, 2005, p. 555-677.

FRANKEL, Jeffrey A. The natural resource curse: a survey. Cambridge: NBER, 2010. (Working paper, n. 15836).

HAUSMAN, Ricardo; HWANG, Jason; RODRIK, Dani. What you export matters. Cambridge: NBER, 2005. (Working paper, n. 11905).

HARTWICK, J. M. Intergenerational equity and the investing of rents from exhaustible resources. The American Economic Review, Pittsburgh, v. 67, n. 5, p. 972-974, 1977.

ISLAM, N. Growth empirics: a panel data approach. The Quarterly Journal of Economics, v. 110, n. 4, p. 1127-1170, 1995.

MAHDAVY, H. Patterns and problems of economic development in rentier states: the case of Iran. In: COOK, M.A. Studies in the Economic History of the Middle-East. Oxford: Oxford Univer-sity Press, 1970.

MANKIW, N. G.; ROMER, D.; WEIL, D. N. A contribution to the empirics of economic growth. The Quarterly Journal of Economics, v. 107, n. 2, 1992, p. 407-437.

MARTIN, Will; MITRA, Devashish. Productivity growth and convergence in agriculture and manu-facturing. Economic Development and Cultural Change, v. 49, n.2, p. 403-422, 2001.

MEHLUM, H.; MOENE, K.; TORVIK, R., Institutions and the resource curse. Economic Journal, Oxford, v.116, p. 1–20, jan. 2006.

PEREIRA, Ana Elisa Gonçalves; NAKABASHI, Luciano; SALVATO, Márcio A. Instituições e nível de renda: uma abordagem empírica para os municípios paranaenses. Nova Economia, Belo Horizonte, v. 22, n. 3, p. 597-620, 2012.

PLOEG, F. Natural resources: curse or blessing? 2010. (CESifo Working paper, n. 3125). Disponível em: <http://ideas.repec.org/p/ces/ceswps/_3125.html>. Acesso em: 03 mai. 2015.

PLOEG, F.; POELHEKKE, S. Volatility and the natural resource curse. Oxford Economic Papers, Oxford, v. 61, p. 727-760, 2009.

Page 17: A MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: UMA ANÁLISE … · padrão de vida da população. Por isso, ... a literatura lista oito canais pelos ... UMA ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO

XIII ENCONTRO DE ECONOMIA BAIANA – OUT. 2017 ECONOMIA BAIANA • 17

A MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: UMA ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DA BAHIA NO PERÍODO DE 2002 A 2013 Luiz Gustavo Araújo da Cruz Casais e Silva, André Luís Mota dos Santos, Rodrigo Carvalho Oliveira

PLOEG, F.; VANABLES, A. J. Natural resource wealth: the challenge of managing a windfall. Ox-ford: OxCarre, 2011. (OxCarre Research Paper, n. 75).

POSTALI, Fernando A. S. Efeitos da distribuição de royalties do petróleo sobre o crescimento dos municípios no Brasil: utilizando a lei do petróleo como um experimento natural. In: ENCON-TRO NACIONAL DE ECONOMIA, 35. 2007, Recife. Anais... 2007. Disponível em: <www.anpec.org.br/encontro2007/artigos/A07A072.pdf>. Acesso em 15 ago. 2015.

POSTALI, Fernando A. S.; NISHIJIMA, Marislei. Distribuição das rendas do petróleo e indicadores de desenvolvimento municipal no Brasil nos Anos 2000. Estudos Econômicos, São Paulo, v. 41, n. 2, p. 463-485, 2011.

ROBINSON, James A.; TORVIK, Ragnar; VERDIER, Thierry. Journal of Development Econom-ics, v. 79, p. 447-468, 2006.

ROODMAN, D. A note on the theme of too many instruments. Oxford Bulletin of Economic and Statistics, v. 71, n. 1, p. 135-158, 2009a.

_____. How to do xtabond2: an introduction to “difference” and “system” GMM in Stata. Stata Journal, v. 9, n. 1, p. 86-136, 2009b.

SACHS, Jeffrey D.; WARNER, Andrew M. Natural resource abundance and economic growth. Cambridge: NBER, 1995. (Working Paper, n. 5398).

SALA-I-MARTIN, X.; SUBRAMANIAN, A. Addressing the natural resource curse: An illustration from Nigeria. Cambridge: NBER, 2003. (Working paper, 9804).

SHAXSON, N. New approaches to volatility: dealing with the ‘resource curse’ in sub-Saharan Afri-ca. International Affairs, Nova Iorque, v. 81, p. 311-324, 2005.

SINNOTT, E.; DE LA TORRE; A.; NASH, J. Recursos naturais na América Latina: indo além das altas e baixas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

SMITH, Brock. The resource curse exorcised: evidence from a panel of countries. Journal of De-velopment Economics, v. 116, p. 57-73, set. 2015.

TORNELL, Aaron; LANE, Philip R. The voracity effect. The American Economic Review, Pits-burgo, n. 89, n.1, p. 22-46, 1999.

VALDÉS, Alberto; FOSTER, William. The positive externalities of chilean agriculture: the signifi-cance of its growth and export orientation, a synthesis of the roles of agriculture. Chile case study. 2003. Disponível em: <ftp://ftp.fao.org/es/ESA/roa/pdf/NR/NR_Chile.pdf>. Acesso em: 20 set. 2015.

WRIGHT, Gavin; CZELUSTA, Jesse. The myth of the resource curse. Challenge, v. 47, n. 2, 2004, p. 6-38.

_____. Resource-based growth, past and present. 2002. Disponível em: < http://econweb.ucsd.edu/~carsonvs/papers/580.PDF>. Acesso em 14 mai. 2015.