a magna carta e seus oitocentos anos

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A Magna Carta e seus oitocentos anos Claudio Henrique de Castro Em 15 de junho de 1215 foi promulgada a Magna Carta (Magna Charta Libertatum), a crisálida das Constituições modernas, limitando o poder do Rei pelos Barões, com apenas 67 artigos. Oitocentos anos se passaram e algumas lições das liberdades inglesas são atuais. No Brasil, com a Constituição de 1988, ainda carecemos de governantes que cumpram de forma efetiva a Constituição e as Leis. De outra sorte, ninguém está acima da Constituição. Nenhuma pessoa física ou jurídica, nenhum partido político, nenhuma organização financeira, nenhum detentor de cargo seja ele qual for. Em resumo, ninguém pode se posicionar acima das leis, ocupe o cargo que ocupar, tenha o poder econômico que tiver. A partir da Magna Carta o Rei encontra limites de atuação. Na República todos devem estar no mesmo plano em relação às leis. Esta é a utopia jurídica que, aos poucos e com o vagar do tempo e a evolução das instituições está tomando forma no Brasil. Alguns preceitos, dentre muitos, são importantes para comemorar o aniversário do secular documento: “48 – Ninguém poderá ser detido, preso ou despojado dos seus bens, costumes e liberdades, senão em virtude de julgamento de seus Pares segundo as leis do país.” Este preceito fez surgir, embrionariamente, o devido processo legal, no qual as pessoas têm o direito ao contraditório e à ampla defesa e em

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Page 1: A Magna Carta e seus oitocentos anos

A Magna Carta e seus oitocentos anosClaudio Henrique de Castro

Em 15 de junho de 1215 foi promulgada a Magna Carta (Magna Charta Libertatum), a crisálida das Constituições modernas, limitando o poder do Rei pelos Barões, com apenas 67 artigos. Oitocentos anos se passaram e algumas lições das liberdades inglesas são atuais. No Brasil, com a Constituição de 1988, ainda carecemos de governantes que cumpram de forma efetiva a Constituição e as Leis. De outra sorte, ninguém está acima da Constituição. Nenhuma pessoa física ou jurídica, nenhum partido político, nenhuma organização financeira, nenhum detentor de cargo seja ele qual for. Em resumo, ninguém pode se posicionar acima das leis, ocupe o cargo que ocupar, tenha o poder econômico que tiver. A partir da Magna Carta o Rei encontra limites de atuação. Na República todos devem estar no mesmo plano em relação às leis. Esta é a utopia jurídica que, aos poucos e com o vagar do tempo e a evolução das instituições está tomando forma no Brasil. Alguns preceitos, dentre muitos, são importantes para comemorar o aniversário do secular documento:

“48 – Ninguém poderá ser detido, preso ou despojado dos seus bens, costumes e liberdades, senão em virtude de julgamento de seus Pares segundo as leis do país.”

Este preceito fez surgir, embrionariamente, o devido processo legal, no qual as pessoas têm o direito ao contraditório e à ampla defesa e em síntese, o processo deve ser justo. Tenha-se em vista também que o processo deve ter um fim e não ser consumido pelas prescrições, recursos infindáveis ou pelo esquecimento nas gavetas dos tribunais.

“49– Não venderemos, nem recusaremos, nem dilataremos a quem quer que seja, a administração da justiça.”

Este dispositivo garante, historicamente, a independência do Poder Judiciário. Assegura que a Justiça deve estar acima do poder político ou econômico e que deve representar o supremo desejo de todos de igualdade de tratamento nos tribunais. Há ainda a limitação do poder de tributar no art. 12 da Magna Carta. Podemos comemorar admirando o baronato inglês que limitou e deteve o poder dos Reis e nos perguntarmos: “quando todos serão iguais perante as leis, no Brasil?”