a máfia da grilagem no df

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DOMINGO 8 de janeiro de 2012 R$ 1,00 www.clicabrasilia.com.br Exemplar de assinante Assinaturas: 0800-612221 Grileiros vão ter bens confiscados Nova lei contra o cigarro Ponto para as autorida- des. Lei que proíbe o ve- neno dentro de veículos deve entrar em vigor no dia 29 de março. Cidades, páginas 8 e 9 Ano 41 Temperatura de 19°C a 27°C Para isso, novas e severas medidas, como integração entre as polícias, serão adotadas no DF. Cidades, páginas 4 e 5 Praia, livros ou os dois? Viajar e continuar sua preparação para um concurso é possível. Júlia Satie já sabe como. Concursos & Carreiras B B i i g g b b r r o o t t h h e e r r s s o o b b r r e e r r o o d d a a s s Dotadas de câmeras que podem vigiar tudo num raio de 800 metros, centrais móveis de monitoramento estão a serviço do Detran, experimentalmente, por 60 dias. Cidades, página 6 Vem aí o seguro de baixo custo: até pelo celular Economia, página 31 Mãe que deixou bebê se entrega à polícia Cidades, página 11 Golpes caem na cidade A criatividade dos es- telionatários, entretanto, cresce cada vez mais. As- sim, “parente em difi- culdade” e “falso seques- t ro ” são as bolas da vez entre criminosos. Segu- rança, páginas 12 e 13 Tem ex-miss Brasil na floresta Cultura, página 37 A dura missão de substituir um santo Torcida, página 51 MICHAEL MELO Nº 13.098 MICHAEL MELO PIERVI FONSECA/AGIF/AE DIVULGAÇÃO

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Série sobre o crime que tornou 1/3 dos moradores da capital federal ocupantes ilegais e criminosos.

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DOMINGO 8 de janeiro de 2012

R$ 1,00www.clicabrasilia.com.br Exemplar de assinante

Assinaturas: 0800-612221

Grileiros vão terbens confiscados

Nova leicontra ocigarro

Ponto para as autorida-des. Lei que proíbe o ve-neno dentro de veículosdeve entrar em vigor nodia 29 de março. Cidades,páginas 8 e 9

Ano 41

Temperaturade 19°C a 27°C

Para isso, novas e severas medidas, como integraçãoentre as polícias, serão adotadas no DF. Cidades, páginas 4 e 5

Praia,livros ouos dois?Viajar e continuar

sua preparação paraum concurso é

possível. Júlia Satiejá sabe como.Concursos &

Carreiras

BBBBiiiigggg bbbbrrrrooootttthhhheeeerrrrssssoooobbbbrrrreeee rrrrooooddddaaaassss

Dotadas de câmeras que podem vigiar tudo num raio de 800 metros, centrais móveis demonitoramento estão a serviço do Detran, experimentalmente, por 60 dias. Cidades, página 6

Vem aí o segurode baixo custo:até pelo celular

Economia, página 31

Mãe que deixoubebê se entregaà polícia

Cidades, página 11

Golpescaem nacidade

A criatividade dos es-telionatários, entretanto,cresce cada vez mais. As-sim, “parente em difi-culdade” e “falso seques-t ro ” são as bolas da vezentre criminosos. Segu -rança, páginas 12 e 13

Tem ex-missBrasil nafloresta

Cultura, página 37

A dura missãode substituirum santo

Torcida, página 51

MICHAEL MELO

Nº 13.098

MICHAEL MELO

PIERVI FONSECA/AGIF/AE DIVULG AÇÃO

CIDADES4l Domingo, 8 de janeiro de 2012 l Jornal de Brasília

Editora: Nelza Cristina [[email protected]]. Subeditoras: Elza Troncoso e Roberta Luiza. Redatora: Carolina Tulim. Fone: 3343-8061 ou 3343-8097

Mande sua sugestão de pautapara o Jornal de Brasília:Nosso telefone é 3343-8051, ou mande para oe-mail [email protected].

GRILAGEM DE TERRAS

Ação combatida

GLAUCYA BRAGA

No parcelamento irregular no Morro da Cruz, em São Sebastião, dos 42 lotes, 38foram vendidos. Cada um, por R$ 20 mil, rendendo R$ 760 mil aos grileiros

l Atividade é tida como umdos crimes mais rentáveis e quenão são punidos exemplarmente

com rigor total! Bruna Sensêveb r u n a . s e n s eve @ j o r n a l d e b ra s i l i a . c o m . b r

S ete prisões por grilagem de terras fo-ram feitas em menos de 30 dias noDistrito Federal. Esse é o rendimento

que a Delegacia Especial de Proteção ao MeioAmbiente e à Ordem Urbanística (Dema)quer manter em 2012. A detenção de pessoasque fazem o parcelamento irregular de terrasno DF será endurecida. A primeira medida émanter atrás das grades todas as pessoasflagradas vendendo lotes ou loteando ter-renos. A rentabilidade desse negócio tambémserá atacada de frente. O patrimônio dogrileiro será relacionado e os bens serãoexpropriados. Duas pessoas presas em fla-grante por parcelamento nas últimas ope-rações da Polícia Civil continuam detidas.

Os autos em flagrante agora serão con-vertidos em prisão preventiva e todo opatrimônio adquirido de forma ilícita e cri-minosa terá ações movidas para expropria-ção dos bens. As medidas serão aplicadas aosnegociadores de pequeno a grande porte. Asmedidas, inclusive, já se aplicam às últimasapreensões. Para isso, o combate foi re-forçado. O diretor do Departamento de Po-lícia Especializada (DPE), delegado MauroCezar Lima, afirma que todo o trabalho daDPE será realizado de forma integrada.

“A polícia que combate as drogas tam-bém vai dar apoio ao combate à grilagem.Aqueles que combatem o crime contra amulher também vão combater a grilagem deterras e vice-versa. Estamos interagindo. Apolícia trabalha integrada, não são maisdelegacias especializadas isoladas”, explica.

IMPUNIDADEA grilagem seria um dos crimes mais

rentáveis e sem punição rigorosa. A DPEbuscou junto ao Poder Judiciário e ao Mi-nistério Público a efetivação da ação policialque, até então, não conseguia manter grileirospresos por muito tempo. “Tanto é verdadeque pouco tempo atrás os grileiros levavammilhões fatiando uma cidade inteira. Eramautuados em flagrante e não acontecia nada.Nenhum deles era condenado. Nenhum delespagava por seus crimes”, afirma o delegado.Ele considera que muitas vezes a legislação ébenevolente com alguns criminosos e a equi-pe da Dema agora atua de forma específicapara combater a grilagem de terras.

Um dos suspeitos ainda detidos, J.M.R.,54 anos, foi flagrado comandando a ação deuma máquina retroescavadeira em área pú-blica, na Chácara Floresta, no Núcleo RuralPonte Alta Norte, no Gama, na última quar-ta-feira. Ruas eram abertas, retirando a ve-getação para um futuro parcelamento ilegaldo solo. Com ele estavam cópias de cessão dedireitos de lotes, um cheque, um mapa comdemarcação de lotes e alguns comprovantesde anúncios em jornais. Ele foi identificadocomo corretor de imóveis e dono de umaimobiliária, no Gama, onde os agentes con-fiscaram mais documentos que comprovama venda de áreas públicos. J.M.R. tambémpossui extensa ficha policial – sete passagenspor estelionato, uma por formação de qua-drilha e essa por parcelamento irregular.

Em outro caso, W.F.A., de 41 anos, foipreso em 8 de dezembro de 2011, junto com

J.M.S. pelo parcelamento irregular de ter-renos no bairro Morro da Cruz, em SãoSebastião. De acordo com informações daDema, ele negociava os terrenos de umachácara parcelada em 42 lotes, sendo que 38deles já estavam vendidos. Cada um, pelaquantia de R$ 20 mil. No total, foram R$ 760mil ganhos com a venda irregular. “Antes, elerecebia todo o dinheiro e, se flagrado, ficavapreso por um ou dois dias. Ele saía no lucro,o que o levava a pensar que o crime com-pensa”, argumenta o delegado da Dema,Marcelo Zago.

Nesse caso, o crime foi confessado maistarde, durante a depoimento na delegacia.Por isso, a clareza nos dados fornecidos. Odelegado afirma que os dois passaram bas-tante tempo presos, mas já foram liberados.“Continuamos com a investigação para fi-nalizar o inquérito policial.”

SAIBA +SAIBA +De acordo com a legislaçãovigente, a pessoa que é pegafazendo a grilagem de terrasincorre no crime de solourbano. Muitas vezes, ocrime é qualificado pois oparcelamento é destinado àvenda. A pena é de um acinco anos de reclusão.

Se a área for de preservaçãoambiental, a pessoa tambémresponde pelo crime ambiental.Isso porque para o parcelamentoprecisam ser abertas ruas efeitos piquetes e cercados, o quenão é permitido dentro de Áreasde Preservação Permanente(APP) e Preservação Ambiental(APA). Os dois crimes somadospodem acumular até sete anosde pena. Dependendo da áreaocupada, a pena pode alcançaraté nove anos.

5Domingo, 8 de janeiro de 2012 CIDADESJornal de Brasília

Comprador será punidoNo momento em que os dois suspeitos

eram autuados em Morro da Cruz, na regiãode São Sebastião, por parcelamento irregularde terras, um de seus clientes chegou ao local.O comprador queria o número da conta ban-cária na qual seria feito o depósito para aaquisição de dois lotes. Ele também foi levadoà delegacia, onde prestou depoimento sobre aatividade ilegal. Segundo o delegado MauroCezar, o comprador também passará a serresponsabilizado criminalmente.

Portanto, além de perder o dinheiro e omaterial de construção, quem compra lote degrileiros também deverá ser indiciado. “E nãoadianta falar que é comprador de boa-fé. Nanossa visão, ele é o grande incentivador para oparcelamento irregular e o crime ambiental.Vamos dar um tratamento à altura para quemse diz vítima e não é vítima coisa nenhuma.Vítimas são o Estado, o meio ambiente e apopulação”, afirma Mauro Cezar.

Segundo informações da Dema, na maioriados casos onde há área com dano ambiental ocomprador não pode construir, pois provocaráum dano ainda maior e corre o risco de, alémde ter o dinheiro perdido, também ser preso emflagrante. O delegado Marcelo Zago alerta queas áreas são monitoradas constantemente.

M.N.L.P., 43 anos, permanece presa porparcelamento de lotes, no Condomínio Veneza,na região do Lago Sul, próximo ao Con-domínio Quintas da Alvorada. A OperaçãoTeia de Aranha, deflagrada no dia 10 dedezembro, apreendeu a mulher, que se iden-tificou como gerente do parcelamento, junto a

outros três homens que também foram in-diciados. Ela comandava retroescavadeirasque abriam ruas no terreno.

A suspeita já tinha antecedentes criminaisde parcelamento de solo. Segundo o delegadoMauro Cezar, a impunidade anterior foi anun-ciada pela mulher, que declarou, ao chegar àdelegacia, que não permaneceria por mais dedois dias em detenção, como teria acontecidoda última vez. Já G.T.C., 36 anos, responde emliberdade por parcelamento de solo. C.M.O.T.,46 anos, e J.C.V., 44 anos, respondem, tambémem liberdade, por dano ambiental.

O site do condomínio, no entanto, continuano ar. Informações colocadas na página dainternet mostram que o ano de 2011 foi des-tinado à eleição de síndico, subsíndico e con-

selho fiscal do parcelamento. Os dados mos-tram que o parcelamento estava em processode consolidação. A reportagem do JBr iden -tificou também dois anúncios na internet paraa venda de lotes nesse condomínio.

De acordo com um deles, são 23 lotes paravenda ou troca por imóveis no Distrito Federal.Cada um, com área de 4.683 metros quadrados,custaria R$ 350 mil, e a pavimentação estariaem andamento. O vendedor não atendeu àsligações da equipe. O site do condomíniotambém indica o Condomínio Portal do LagoSul como referência. Em ligação, ninguémsoube informar sobre o Residencial Veneza.

PRISÕESO primeiro registro de prisões do ano foi

em 2 de fevereiro, quando D.S.G. e R.A.R.foram flagrados vendendo lotes provenientesde parcelamento irregular no Setor de MansõesLago Norte. Em março, quatro novas prisõesforam realizadas pelo mesmo crime. O casal deirmãos M.O. e O.O.F. vendiam lotes localizadosem duas chácaras no Altiplano Leste, na regiãodo Lago Sul.

Duas outras prisões foram feita na tarde dodia 26 de março de 2011. Os dois grileirosforam flagrados na Chácara 117 do Con-domínio Sol Nascente, em Ceilândia, com 166notas promissórias, dois mapas, duas agendascom acertos de compras ilegais, cessões dedireito e R$ 4.262 em espécie. O registro foi feitona 19ª Delegacia de Polícia, após a operaçãoconjunta da Secretaria da Ordem Pública eSocial (Seops) e Polícia Militar.

“Vamos dar umtratamento à alturapara quem se dizvítima e não é. Vítimassão o Estado, o meioambiente e apopulação”Mauro Cezar Lima, diretor da DPE

Ocupaçõesproibidas

Novas construções e ocupações emáreas irregulares estão proibidas desde apublicação do Termo de Ajustamento deConduta 002/2007, assinado entre o Mi-nistério Público do Distrito Federal e Ter-ritórios (MPDFT) e o Governo do DistritoFederal (GDF). O intuito era conter o avançona ocupação irregular. Hoje, praticamenteum terço da população do Distrito Federalvive em áreas irregulares.

Pelo mesmo motivo, foi criado, no iníciodo ano passado, o Comitê de Combate aoUso Irregular do Solo, coordenador pelaSecretaria de Ordem Pública e Social eformado por diversos órgãos da adminis-tração pública. No entanto, com relação àgrilagem de terras, a Seops afirmou por meiode sua assessoria que o seu trabalho estáfocado nas ações de vigilância para impedirnovas invasões e parcelamentos. Por contadisso, os casos em que há flagrantes degrilagem em ações da Seops não ocorreriamcom tanta frequência. A Seops teve comosaldo de 2011, quase três mil erradicações deconstruções irregulares em todo DF.

Também no primeiro semestre de 2011,o secretário de Habitação, Geraldo Magela,anunciou que novos ocupantes de terrenosirregulares não terão suas terras regula-rizadas. Ele explicou que os compradores degrileiros podem ser considerados cúmplicesda ação criminosa. No entanto, a vendados lotes não está legalmente proibida. Omaior dano é para quem compra o ter-reno que, na melhor das hipóteses, de-verá pagar novamente. Novas ligações deenergia e água também estariam proi-bidas para áreas irregulares.

Em casosespecíficos

A Secretaria de Regularização, Habi-tação e Desenvolvimento Urbano do DF(Sedhab) informou, por meio de nota, que,no caso de lotes localizados nas áreas dehabitação de interesse social em processo deregularização, não há nada que impeça avenda individual. Se a pessoa ocupava olote antes da selagem – processo em que éfeito o cadastro do lote e da família ocupante– e o lote foi selado, deverá ser regularizado.A partir daí, qualquer transferência de do-mínio será detectada pela Companhia deDesenvolvimento Habitacional (Codhab).

No caso da compra ter sido realizadadepois da selagem e o morador havia sidocadastrado nos programas habitacionais, olote é passível de regularização. Porém, osegundo morador deverá possuir um do-cumento de transferência do morador ori-ginal. Por se tratar de lotes em áreas des-tinadas à habitação de interesse social, comoé o caso dos condomínios Sol Nascente e Pôrdo Sol, em Ceilândia, também será ve-rificado se o ocupante está enquadrado napolítica habitacional, como o morador ori-ginal na época da selagem. Onde não háprocesso de regularização, a Sedhab afirmaque o governo não tem como intervir. Novasinvasões, no entanto, não são permitidasdesde a posse do atual governo.

FOTOS: GEYZON LENIN

Dois homens foram detidos pelavenda de lotes localizados emduas chácaras no Altiplano Lestena região do Lago Sul (acima).Os delegados Mauro Cezar, daDPE, e Marcelo, da Dema,explicam que agora todas asdelegacias vão atuarconjuntamente para combater agrilagem de terras

CIDADES4lSegunda-feira, 9 de janeiro de 2012 l Jornal de Brasília

Editora: Nelza Cristina [[email protected]]. Subeditoras: Elza Troncoso e Roberta Luiza. Redatora: Carolina Tulim. Fone: 3343-8061 ou 3343-8097

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GRILAGEM DE TERRAS

Artimanhas para

FOTOS: GEYZON LENIN

Vegetação e alvenariaantigas são compradaspelos falsários para tentarconvencer os policiais deque a ocupação é antiga

burlar a polícial Criminosos usam artifícios para aparentar ter mais tempo de permanência nos lotes

! Bruna Sensêveb r u n a . s e n s eve @ j o r n a l d e b ra s i l i a . c o m . b r

A dificuldade da força policialem alcançar os grileiros está naprodução de provas contra es-

sas pessoas. Assim como todo tipode ato criminoso, os parceladoresmoldam seus métodos de acordocom a ação repressiva. Hoje, atéárvores adultas e paredes inteiras sãotransportadas ao lote grilado parafalsificar uma permanência anteriore de longa duração. O delegadoMarcelo Zago, da Delegacia Especialde Proteção ao Meio Ambiente e àOrdem Urbanística (DEMA), garanteque a estratégia não consegue burlara perícia policial.

“Produzir provas contra o crimeorganizado não é fácil. Eles se mol-dam, se aperfeiçoam e se qualificamde acordo com a nossa ação re-pressiva. Eles têm bons advogados,

que também levam sua parte”, afir-ma o diretor do Departamento dePolícia Especializada (DPE), dele-gado Mauro Cezar Lima. O crimefundiário é mutante e aproveita bre-chas na fiscalização e falhas legis-lativas para encontrar seu espaço.

A técnica mais nova usada poresses criminosos é a compra de ma-terial envelhecido e grandes árvoresadultas. A vegetação serviria comoprova de que os ocupantes se es-tabeleceram na região há muito tem-po. Ela também ajudaria a esconderas construções que se seguem, for-mando em alguns casos grandesparedes de árvores nos limites dolote, que tornam impossível ver ointerior do terreno.

O objetivo é atestar para a períciapolicial, se forem flagrados, que estãoali há muito tempo e até acom-panharam o crescimento das plantas.“Algumas alvenarias eles trazem

prontas. Acham que se fizermos umaperícia ali vamos concluir que aquelajanela, porta ou árvore já estão nolocal há muito anos”, descreve odelegado Marcelo Zago. Ele contaainda que já presenciou casos em que

paredes inteiras de casas mais an-tigas foram transportadas para oparcelamento e unidas, como se fos-sem pré-moldadas.

A venda de lotes não é tão ex-plícita como acontecia há algum tem-po. Os grileiros sabem que as faixassão indícios que levam a polícia até olocal. Os anúncios são feitos de formamais acanhada, no boca-a-boca entreos compradores, que podem até con-seguir descontos no caso de indi-cações de novos clientes. A açãotambém aproveita os fins de semanae a escuridão noturna para não seremtão notados. O material de publi-cidade dos lotes oferecidos é dirigidoao público comprador, que sabe pro-curar em jornais e sites na internet oslocais de anúncio.

No período de fim e início deano, as invasões e construções ir-regulares tende a aumentar. Segundoa polícia, isso acontece porque as

pessoas costumam achar que a fis-calização fica mais frouxa e que émais fácil consolidar o lote ou con-domínio irregular. No entanto, o de-legado Mauro Cezar afirma que aação realizada no último mês coibiua ação desses criminosos.

As sete prisões em 30 dias degrileiros em três regiões adminis-trativas do Distrito Federal teria coi-bido a continuidade de outras ações.“Eles se comunicam e sabem queestamos integrados e trabalhandocontra essas irregularidades. Por isso,tendem a se retrair”, detalha o de-legado Mauro Cezar. Ele explica quemuitos inquéritos estão em anda-mento na Dema , inclusive das re-giões consideradas as mais visadaspara ocupações irregulares, como Vi-cente Pires, Estrutural, Arniqueiras,Altiplano Leste, São Sebastião e oscondomínios Sol Nascente e Pôr doSol, em Ceilândia.

“Eles (grileiros)se moldam, seaperfeiçoam e sequalificam deacordo com anossa açãorepressiva”Mauro Cezar Lima, delegado

5Segunda-feira, 9 de janeiro de 2012 CIDADESJornal de Brasília

SAIBA + Verdadeiro faroesteA Companhia Imobiliária de

Brasília (Terracap) oferece o serviçode informações sobre a regularidadedas terras no DF. As informações sãofornecidas por meio da gerência co-mercial do órgão, com o objetivo deque menos terras públicas sejam ocu-padas irregularmente. De acordocom a Terracap, o serviço é utilizadopela população, mas o órgão nãosabe especificar a quantidade de pe-didos que são recebidas por mês –sabe-se que ainda são poucos.

Para o professor de arquitetura eurbanismo da Universidade de Bra-sília (UnB), Frederico Flósculo, ocomprador é tão ou mais respon-sável pela venda indiscriminada delotes em terras irregulares, indepen-dentemente de ser feita por um gri-leiro ou o ocupante atual. O professordiscorda do que foi informado pelaSecretaria de Regularização, Habi-tação e Desenvolvimento Urbano(Sedhab) em reportagem publicadaontem no Jornal de Brasília. Para ele,a venda de qualquer lote em áreairregular é criminosa e configura umenorme dano para a população e oDistrito Federal como um todo.

Na reportagem sobre o mesmoassunto, a Sedhab, por meio de nota,informou que a venda individualdos lotes em áreas irregulares não élegalmente proibida. No caso de ter-renos passíveis de regularização quenão estejam incluídos em áreas des-tinadas a programas de interessesocial, a única penalidade para ocomprador irregular é pagar no-vamente pelo lote, quando este forlicitado pelo órgão proprietário.

TOTALMENTE IRREGULARAtualmente, toda a cidade de

Vicente Pires encontra-se em área

irregular, nenhum de seus mora-dores possuem escritura do lote ondemoram. Da mesma forma vive gran-de parte dos moradores de con-domínios no Jardim Botânico, Gran-de Colorado, Sobradinho, Itapoã, en-tre outras tantas cidades do DF. Mes-mo com o interesse pela regula-rização de seus terrenos, alguns mo-radores já chegam a mais de 30 anosde espera e ainda sem previsão dequando serão atendidos.

Em Vicente Pires é possível fla-grar dezenas de faixas para a vendade lotes sem ocupação consolidada.A compra e a venda desses terrenosque pertencem à União é feita porocupantes que oferecem como únicagarantia uma concessão de uso deterra pública, que não é reconhecidapela Sedhab como documentaçãoválida para a regularização futura.“Esse é o faroeste do DF. As pessoasjá perderam a noção do estado dedireito. O cidadão olha para o Es-tado, se ele não está a impor a lei e aordem, uma nova lei ilegal e outraordem desordeira se impõe”, diz.

Ele acredita que quando crimi-nosos começaram a fazer vendas e ogoverno não agiu, a cidadania foicorrompida. Flósculo conta que co-nhece casos de professores da Fa-culdade de Arquitetura e Urbanismoda UnB que são compradores desteslotes. “São pessoas que sabem docrime que estão cometendo e, mes-mo assim, estão associados ao crimefundiário de Brasília”. De 1990 aofinal dos anos 2000, a corrupçãofundiária teria tomado a cidade e ocontrole sobre a ocupação de terraspúblicas ou rurais não existiu mais.“Teve grilagem de rico, pobre, classemédia, magistrado, professor, po-licial. A população se corrompeu”.

Na Ponte Alta, faixas sinalizam a venda dos lotes: este tipode publicidade é pista para a polícia combater o crime

GLAUCYA BRAGA

Por que grilagem?O termo grilagem vem de um antigomacete dos falsificadores. Para daraspecto de velho aos documentos criadospor eles, os falsários deixavam os papéisem gavetas com insetos como o grilo. Coma ação dos animais, os papéis ganhavam acoloração amarelada com aspecto deg a sto s .

A grilagemA grilagem nada mais é que a apropriaçãoindevida de terras públicas, por meio dafalsificação de documentos. Vários são osinteresses para a existência dessa prática:especulação imobiliária, venda de recursosnaturais do local (principalmente madeira),lavagem de dinheiro e até captação derecursos financeiros.

A grilagem de terra conta hoje também coma ajuda da tecnologia, seja com o GPS, queajuda na localização das terras, seja com aprópria internet, onde são vendidos lotesenormes de terra sem nenhumacomprovação documental definitiva.

O grileiroGrileiro é um termo que designa quemfalsifica documentos para de forma ilegaltornar-se dono por direito de terrasdevolutas ou de terceiros ou ainda quemestá na posse ilegal de prédios ou prédiosindivisos, por meio de documentosfa l s i f i c a d o s .

Também é utilizada quando uma pessoaconsegue várias procurações falsas depessoas desconhecidas, geralmentecamponeses que assinam os papéis paraseus "patrões". Com estes documentosfalsos é realizada a compra de váriaspropriedades vizinhas, como se fosse umgrande loteamento. Porém, na verdadeestas várias propriedades unidasformavam um grande latifúndio.

É bom lembrar que grileiro não é a mesmacoisa que posseiro. O primeironormalmente tem poderio econômico,circula nos corredores do poder e não vivena terra. O posseiro é aquele pequenoagricultor que toma posse da terra paras o b rev i v ê n c i a .

Os caminhos da grilagemComo já foi dito não há um só caminhopara a grilagem de terra. Vamos explicaralguns dos modos como esses criminososesquentam documentação e ganhamd i n h e i ro .

Usando documentos antigosUma das maneiras de fazer a grilagem écriar uma falsa cadeia patrimonial doimóvel. A cadeia patrimonial é a históriacronológica dos antigos donos de umadeterminada propriedade ou área. Assim,para conseguir grilar, os falsificadoresmudam a cadeia patrimonial e chegam atéa criar documentos falsos. Os contratos deconcessão de terra pública, umaautorização para uso da terra com

diversos parâmetros, dados nos anos de1970 são os mais usados no DistritoFe d e ra l .

Invadindo a terraOutra forma de grilar é simplesmentecolocar uma cerca na área que interessa.Depois disso, são colocadas pessoas paravigiar o lote. No Distrito Federal, muitasvezes, famílias são pagas para morar emuma pequena casa no meio do lote. Amanobra facilita possíveis problemasjudiciais.

Arrendando a terraOutra tática usada é convencer posseiros avenderem seus títulos de posse. Essesdocumentos não são necessariamentecomprovação de propriedades, mas umaespécie de autorização para o uso da terra.Com eles na mão, o grileiro acaba forçandoos posseiros vizinhos a entregarem suaspropriedades, muitas vezes com violência.

Usando laranjas e fantasmasUma tática para evitar a exposição dogrileiro é usar “l a ra n j a s ”, pessoas queemprestam seu nome ingenuamente ouconiventemente para o grileiro. Há tambémcasos de simples nomes falsos ou“fa n t a s m a s ”. O cuidado existe porque, porlei, qualquer terra pública com mais de2.500 hectares que for transferida paramão de particulares deve receberaprovação do Congresso Nacional. Comoninguém quer esse tipo de exposição, ojeito é usar “l a ra n j a s ” e “fa n t a s m a s ” p a radividir os hectares.

Fraudes grosseirasMuitas das fraudes feitas chegam a sergrosseiras. Em alguns casos, osdocumentos têm informações discrepantesdos limites da propriedade. Em outras sãofeitas rasuras para mudar nomes oulimites. Há quem apenas coloque umnúmero na frente para transformar os 10mil hectares, por exemplo, em 110 milhectares. Outros simplesmente inventam oslimites de suas supostas terras e, com aconivência do cartório, registra em umlivro de registro de imóveis.

"Legalização" das terrasDepois de feitas algumas dessasfalcatruas, é só procurar um cartóriopara “legalizar ” sua terra. Com odocumento em mãos, começa aoutra fase que é dar credibilidade para odocumento. Como? Registrando odocumento em outros órgãos públicoscomo institutos de terras estaduais,Instituto Nacional de Colonização eReforma Agrária (Incra) ou ReceitaFederal. Daí, é só começar a pedirautorização para o Instituto Brasileiro doMeio Ambiente dos Recursos NaturaisRenováveis (Ibama) e começar a explorarou usar a terra para vender e assimesquentar a terra. Além disso, muitos deleschegam a conseguir empréstimos embancos privados e até públicos.

Fonte: www. h sw. u o l . c o m . b r

6 Terça-feira, 10 de janeiro de 2012CIDADES Jornal de Brasília

GRILAGEM DE TERRA

Dispostosa ocuparárea ilegal

VICTOR AUGUSTO

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l Maioria dosque se arriscariaavalia que localseria regularizadopelo governo

! Bruna Sensêveb r u n a . s e n s eve @ j o r n a l d e b ra s i l i a . c o m . b r

A inda existem pessoas quecomprariam suas habitaçõesem áreas consideradas irre-

gulares, sem preocupações, confor-me constatou uma enquete do portalClicabrasília, do Grupo Jornal de Bra-sília. Pouco mais de 37,69% con-fessaram não ver problema na com-pra de lotes ou casas irregulares,enquanto 62,31% responderam nãocomprar esse tipo de imóvel. Con-forme a enquete, isso seria motivadoprincipalmente pela certeza de que olocal seria regularizado pelo gover-no, mais cedo ou mais tarde, se-gundo 46,67% dos internautas.

Em segundo lugar nos motivospelos quais comprariam um imóvelirregular, está a falta de punição(26,67%) bem próxima ao preço dosimóveis regulares, considerados mui-to elevados (22,96%). Alguns aindaresponderam que a localização doslotes e casas irregulares é melhor(3,68%). Para o arquiteto MarceloMontiel da Rocha, 50 anos, o motivoseria a falta de infraestrutura nos lotesregulares. Ele é responsável pelo pro-jeto do bairro Chapéu de Pedra, lo-calizado no Setor Habitacional Tororó,

próximo ao Jardim Botânico. Esse éum dos pontos onde é possível com-prar um lote regular no DF.

A chácara era do pai de Marcelo,o também arquiteto Gladson da Ro-cha. São 21 hectares que foram di-vididos em 249 lotes residenciais e 20comerciais. As dificuldades para fa-zer o parcelamento legal do terrenoforam grandes e foi necessário bas-tante paciência. Foram mais de oitoanos do início do processo até quefosse possível ter em mãos as es-crituras individuais de cada lote.

Por ter seguido os trâmites legais,o parcelamento não pode ser fe-chado, como ocorre com grande par-te dos condomínios irregulares doDF. A regularização desses parce-lamentos, inclusive, passa pela pos-sibilidade de retirada de portões,muros e portarias. No entanto, nocaso de Chapéu de Pedra, a ca-racterística prejudica muitos com-pradores e moradores. “Lá, não écondomínio, é parcelamento urbanoregular, e não poderia ser fechado.Precisou ser aberto. Se fosse fechadovaleria mais e estariam totalmentec o n s t ru í d o s ”, avalia Marcelo.

A área ainda é pouco habitadapelos donos dos lotes. Uma dasprincipais preocupações é a segu-rança que não é provida pelo poderpúblico e não pode ser implemen-tada pelo dono dos lotes. Diferen-temente do que foi constado naenquete do portal Clicabrasilia, Mar-celo vê como o maior atrativo para airregularidade a infraestrutura ofe-recida pelos condomínios. Grandeparte tem segurança privada e toda ainstalação de rede elétrica, água po-tável, ruas e iluminação interna.

Infraestrutura deficiente

SAIBA +Atualmente, cerca de umterço da populaçãoresidente no DistritoFederal ocupa áreasirregulares. Ao todo. são513 condomínioshorizontais onde apenassete possuem suasescrituras em mãos.

Desde o início do ano passado,

órgãos da administraçãopública buscam oendurecimento nas medidas deprevenção contra novasinvasões e construções emáreas irregulares.

No último mês, setepessoas foram presas porparcelamento irregular dosolo urbano no DF.

A servidora pública Kátia Nunesacredita ter tido uma atitude di-ferente de muitas outras pessoas quedecidem mudar para uma casa noDistrito Federal. Ela e o marido bus-car alternativa regulares de moradiajunto à Secretaria de Regularização,Habitação e Desenvolvimento Ur-bano do Distrito Federal (Sedhab) e àCompanhia Imobiliária de Brasília(Terracap) e lhes foram dadas duasopções de terrenos regulares onde

pudessem construir.A primeira era exatamente no

bairro Chapéu de Pedra e a segundaestava em Sobradinho. Por ter fa-miliares que moram no Lago Sul,Kátia optou pelo terreno no SetorHabitacional Tororó. Ela confessaque a tentação foi grande e muitosamigos e familiares a aconselharam abuscar um terreno irregular que ofe-receria vantagens, como infraestru-tura e proximidade do Plano Piloto.

O sonho da moradia regular,porém, não foi tão bem sucedido. Hámais de dez anos da compra, o casalainda não se mudou para o local.“Telefone e televisão a cabo nãochegam aqui”, diz Kátia. Em umcondomínio irregular vizinho, no en-tanto, todos os serviços são forne-cidos. Ela procurou vários órgãos,que também não souberam explicara Kátia porque seu lote regular nãodispunha dos mesmos serviços.

Ocupações são reprimidasA consolidação de mais um par-

celamento irregular no Distrito Fe-deral foi impedida. Uma ação doComitê de Combate ao Uso Irregulardo Solo, coordenado pela Secretariade Ordem Pública e Social (Seops),evitou o loteamento de mais umterreno na área pública conhecidacomo Assentamento 26 de dezem-bro, localizada na DF-001, em Ta-guatinga, na saída para Brazlândia.

Na operação, realizada na ma-nhã de ontem, foi removida uma

edificação de alvenaria de cem me-tros quadrados em construção. Asparedes que estavam erguidas, duasbases e cem metros lineares de arameque demarcavam a área, foram re-movidos do local. Duas cisternas eduas fossas sanitárias também foraminutilizadas. De acordo com a Seops,os pontos localizados na Rua 01acabaram identificados após umavigilância dos agentes no local.

O Setor Habitacional Arniquei-ras também passou por operação

nesta segunda-feira. O Grupo Emer-gencial de Combate a OcupaçõesIrregulares (Gecoi), criado especifi-camente para monitorar as ativi-dades do bairro, erradicou duas edi-ficações. A primeira, com 15 metrosquadrados inacabados, nos fundosda Chácara 21 da Colônia AgrícolaÁguas Claras, e outra com 40 metrosquadrados, também inacabada, ummuro de oito metros lineares e umportão metálico, na Chácara 42 doConjunto 03.

Marcelo (acima) éresponsável peloChapéu de Pedra,um dos poucosloteamentosregulares do DFcom lotesdisponíveis. Kátia(ao lado) comprouum terreno lá, masnão se mudou pelafalta deinfraestrutura