a literatura do sÉculo xix

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LITERATURA REALISTA DO SÉCULO XIX PROSA E POESIA REALISMO, NATURALISMO E PARNASIANISMO

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Page 1: A LITERATURA DO SÉCULO XIX

LITERATURA REALISTA DO SÉCULO XIX PROSA E POESIA

REALISMO, NATURALISMO E PARNASIANISMO

Page 2: A LITERATURA DO SÉCULO XIX

REALISMO/NATURALISMO O Realismo é um movimento artístico-literário que se desenvolve na

segunda metade do século XIX que, em alguns aspectos, aprofunda temas já abordados pelo Romantismo e, em outros, reage ao sentimentalismo dos românticos.

O Naturalismo também se desenvolve na mesma época e se constitui estética e estilística numa reação ao Romantismo, enquanto que em seu enfoque temático aprofunda o Realismo na abordagem da realidade.

No Brasil, foram dois movimentos que se desenvolveram concomitantemente e do ponto de vista literário ocorreram principalmente na prosa, pois na poesia o Parnasianismo foi a expressão realista.

O Realismo brasileiro teve como grande nome Machado de Assis que desenvolveu temas e estilos diferentes do Realismo europeu, inaugurando uma literatura que prenunciava o Modernismo, enquanto que o Naturalismo reproduziu praticamente a ideologia europeia, tanto em relação aos temas, quanto à linguagem.

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O CONTEXTO SOCIAL E HISTÓRICO O contexto social e histórico será determinante para o

aparecimento de um novo fazer artístico e literário. A consolidação do Capitalismo como sistema político e

econômico, o que vai reforçar a competitividade entre as classes sociais.

A consolidação da Burguesia como classe dominante, e a consequente aparição do proletariado, como classe dominada.

A segunda Revolução Industrial que reforçará a estratificação social, dividindo a sociedade em duas classes distintas: burguesia X proletariado.

O crescimento demasiado das zonas urbanas que ao incharem deixam à mostra a miséria do proletariado explorado pelas classes burguesas.

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CONTEXTO FILOSÓFICO-CIENTÍFICO A segunda metade do século XIX experimenta um grande desenvolvimento

científico e filosófico que ideologicamente vai influenciar as artes e a sociedade burguesa.

O Positivismo de Augusto Conte dá as bases para a abordagem racional dos problemas sociais e humanos, inaugurando uma concepção científica da realidade.

O Evolucionismo de Charles Darwin muda a concepção da origem e do desenvolvimento do homem, com base nas ciências naturais.

O Determinismo de Taine revela que o homem e a sociedade são determinados pelos fatores meio, raça, instinto, hereditariedade e momento histórico.

Karl Marx elabora a teoria da luta de classe em que explica a evolução social por meio de um conflito permanente entre Burguesia e proletariado.

Renan nega com o seu livro O Poder da ciência a dimensão espiritual e metafísica do homem, reforçando o materialismo que os demais ramos do conhecimento já valorizavam.

Page 5: A LITERATURA DO SÉCULO XIX

O REALISMO LITERÁRIOO Realismo literário se afastará da idealização romântica

para abordar a realidade pelo ângulo da psicologia e da sociologia.

O NATURALISMO LITERÁRIOO Naturalismo vai extrapolar o Realismo ao conceber a

realidade e homem como determinados por fatores biopsicossocial.

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CARACTERÍSTICAS GERAIS DO REALISMO/NATURALISMO

RACIONALISMO – A contrário do romântico que escreve imaginando, fantasiando, o realista procura ser racional, ou seja, escrever sobre o que poder comprovado e observado.

OBJETIVIDADE – Enquanto o romântico é subjetivo por e4screver através de suas sensações e impressões, o realista escreve sobre o que ele vê, sem interferir pessoalmente.

IMPASSIBILIDADE – Enquanto o romântico é passional e escreve através de suas emoções, o realista é impassível, escreve sem se envolver emocionalmente.

VEROSSIMILHANÇA – A realidade para os românticos é imaginada, pensada, idealizada e para o realista deve se parecer com a verdade, com o real e com o concreto.

CONTEMPORANEIDADE – A tendência do romântico é se projetar para o futuro ou para o passado, enquanto a do realista são os fatos presentes, presenciados na mesma época do escritor.

PSICOLOGIA HUMANA – Enquanto os românticos se interessam pelas histórias e pelas aventuras, o realista se concentra na observação dos comportamentos humanos e sociais.

Page 7: A LITERATURA DO SÉCULO XIX

REALIDADE HUMANA – O romântico idealiza o homem, mostrando sua dimensão grandiosa, já o realista mostra pequenas atitudes, quase sempre nocivas, deformadoras do caráter.

REALIDADE SOCIAL – Enquanto a realidade para o romântico é idealizada, harmônica, sem conflitos sociais, para o realista ela está em permanente choque de interesses e de ideias.

CONCEITOS CIENTIFICOS E FILOSÓFICOS – Os grandes temas românticos derivam da ideologia da Revolução Francesa, enquanto os do Realismo são consequência do desenvolvimento científico e filosófico.

OS CONCEITOS HISTÓRICOS – Enquanto o romântico enfatiza ideias revolucionárias, humanas e sociais, acreditando no ideal de liberdade e igualdade, o realista capta e revela as ideias e valores materialistas da sociedade burguesa capitalista.

PERSONAGENS PATÓLÓGICOS – Os românticos criam personagens considerados perfeitos psicológicos e socialmente, paradigmas da sociedade burguesa, enquanto que os realistas constroem personagens deformados, cheios de defeitos, de anomalias sociais, psicológicas, como taras e vícios sexuais.

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CARACTERÍSTICAS ESTILÍSTICAS DO REALISMO/NATURALISMO

LINGUAGEM DE TENDÊNCIA MAIS OBJETIVAEnquanto o romântico abusava no uso de uma linguagem subjetiva, carregada de metáforas e símiles, intensa adjetivação, o realista procura evitar as metáforas, optando por uma linguagem mais denotativa, mais exata e objetiva. VOCABULÁRIO MAIS CONCRETO.Os românticos usaram um vocabulário mais abstrato, metafórico e adjetivado, enquanto que o realista fazia uso de um vocabulário mais concreto, mais corriqueiro. No Realismo, vocabulário denotador dos aspectos psicológicos dos personagens e das situações vivenciadas; no Naturalismo, vocabulário enunciador de situações animalescas dos personagens e de distúrbios sexuais, alguns termos de mau gosto e outros de cunho científico. TIPOLOGIA TEXTUAL.Os românticos enfatizam a descrição e a narração em seus textos, dando prioridade às aventuras, às nuances vivenciadas pelas personagens, deixando a narrativa mais dinâmica. Os realistas e naturalistas enfatizavam as descrições e os comentários, o que deixava a narrativa mais lenta, já que seu objetivo era a análise de caracteres humanos, tanto do ponto de vista psicológico quanto do biopsicossocial. DIFERENÇAS BÁSICAS ENTRE REALISMO E NATURALISMO.O romance realista enfatiza os aspectos comportamentais dos personagens, normalmente, anómalos, como infidelidade, adultério, hipocrisia, dissimulação, traição, ambição e interesse. É a chamada análise psicológica e social. Já o romance naturalista estuda os comportamentos humanos considerando causas e consequências, tendo como pressupostos teóricos elementos científicos, como biológicos, químicos, sociológicos e psicológicos, dando ênfase a aspectos hereditários, instintivos, genéticos e do meio social, no mais das vezes, criando personagens patológicos. .

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SINTETIZANDO A linguagem do Realismo e do Naturalismo é objetiva, enfatizando-se o

uso das palavras em seu aspecto denotativo, evitando-se as metáforas de cunho ornamental. O vocabulário guarda estreita relação com os aspectos narrados por uma questão de verossimilhança.

No Realismo, a linguagem tende a ser introspectiva, já que o escritor enfatiza o interior dos personagens, seus pensamentos, suas reações, através do discurso indireto e do monólogo. No Naturalismo, a linguagem aproxima-se mais da realidade cotidiana, enfatizando–se o uso de termos vulgares e comparativos entre o homem e o animal.

Também no Naturalismo ocorre frequentemente o uso de palavras eróticas e de cunho científico que contribuirão para o escritor sistematizar a sua tese sobre os comportamentos humanos e sociais.

Tanto no Realismo quanto no Naturalismo a tipologia textual mais evidente oscilará entre a descrição e a dissertação que serão usadas abundantemente, já que a narração será lenta, pois pouco interessa a ação.

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Sintaticamente, entretanto, tanto no Realismo, quanto no Naturalismo, o escritor procura ser correto, quase não transgredindo as regras gramaticas, a não ser nas falas de personagens populares.

Os personagens saem, no Realismo, em sua maioria, das classes burguesas, por ser elas que dão o padrão sociocultural e, também, pela intenção do escritor em desmistificar a visão romântica do herói burguês.

No Naturalismo, o escritor normalmente constrói personagens patológicos e marginalizados, tais como, lésbicas, homossexuais, ninfomaníacas, loucos, bêbados, maníacos, criminosos, avarentos e adúlteros.

De uma forma geral, o escritor naturalista enfatiza personagens sem refinamento cultural e social , mas quando eles aparecem na narrativa, destacam-se os aspectos negativos.

O grande personagem do Naturalismo, contudo, será o ambiente físico e social, que faz parte da intenção do escritor em mostrar que o homem é determinado pelo meio.

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ASPECTOS TEMÁTICOS DO REALISMO As relações sociais e afetivas das classes burguesas são os grandes temas

da Literatura realista, vista pelo ângulo da psicologia e da sociologia. Os temas são abordados pelos aspectos mais sórdidos do homem e da

sociedade, numa atitude típica de crítica social e de amostragem de seu avesso.

O adultério, a traição, a infidelidade amorosa e afetiva estão no centro da abordagem realista com nítida intenção de desmistificar o amor romântico, idealizado e platônico.

Ao enfatizarem aspectos como hipocrisia, dissimulação, egoísmo, inautenticidade, avareza, os realistas revelam-se, céticos, pessimistas e, em algumas vezes, niilistas.

Os temas realistas negam constantemente a dimensão espiritual, as relações idealizadas, revelando a propensão do ser humano em ser mau caráter, e nestes termos fazem uma crítica da sociedade burguesa.

A competição entre os personagens é a força motriz do enredo realista, em que, no desfecho das narrativas, qualquer tentativa de felicidade é afastada.

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ASPECTOS TEMÁTICOS DO NATURALISMO Os temas do realismo aparecem também no Naturalismo, mas a

ênfase recai em aspectos deterministas. Para o escritor naturalismo é fundamental explicar que o homem é

produto do meio, da raça, do instinto, da hereditariedade e do momento histórico.

Assim, enquanto o realista explica o homem e a sociedade a partir de uma fundamentação psicológica e sociológica, o naturalista explica através de uma fundamentação científica baseada na Biologia, na Química e Sociologia.

O principal tema do Naturalismo é provar que o homem é determinado pelo meio e pelos instintos, derivando dessa concepção os demais determinismos.

Também no Naturalismo a dimensão espiritual do homem é negada, enfatizando-se totalmente os aspectos materiais e bestiais da existência humana, em que afloram elementos instintivos, como a sexualidade.

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ANTOLOGIA REALISTA E NATURALISTA

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DOM CASMURRO

“Não culpo ao homem; para ele, a coisa mais importante do momento era o filho. Mas também não me culpem a mim; para mim, a coisa mais importante era Capitu. O mal foi que os dois casos se conjugassem na mesma tarde, e que a morte de um viesse meter o nariz na vida do outro. Eis o mal todo. Se eu passasse antes ou depois, ou se o Manduca esperasse algumas horas para morrer, nenhuma nota aborrecida viria interromper as melodias de minha alma. Por que morrer exatamente há meia hora? Toda tarde é apropriada ao óbito; morre-se muito bem às seis ou sete horas da tarde.“ Machado de Assis

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MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS“Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse: eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns magros capítulos para esse mundo sempre é tarefa que distrai um pouco da eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica: vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direita e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem... E caem! - Folhas misérrimas do meu cipreste, heis de cair, como quaisquer outras belas vistosas; e, se eu tivesse olhos, dar-vos-ia uma lágrima de saudade. Esta é a grande vantagem da morte, que, se não deixa boca para ir, também não deixa olhos para chorar... Heis de cair. “ Machado de Assis

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O CORTIÇO“Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada, sete horas de chumbo. […].O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e rezingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.” Aluísio Azevedo

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PARNASIANISMOarte pela arte

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A POESIA REALISTA BRASILEIRA

A manifestação poética do Realismo e do Naturalismo no Brasil chamou-se Parnasianismo.

Na Europa, tivemos uma poesia de caráter realista e parnasiano, principalmente, em Portugal e França.

O contexto histórico do Parnasianismo é o mesmo que forneceu ideologicamente as bases para o Realismo e Naturalismo.

Assim, costuma-se dizer que o Parnasianismo é o Realismo na poesia, embora ideologicamente haja uma diferença fundamental.

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PARNASIANISMO X REALISMO O parnasianismo no Brasil foi um movimento

essencialmente poético tornando-se sinônimo de “academicismo” durante cerca de quarenta anos.

Enquanto o Realismo mergulhava fundo nas reflexões sociais e humanas, o Parnasianismo afastou-se da realidade.

Os parnasianos cultivaram uma arte sem ideologia social e política, centrando suas preocupações básicas na estética, e, por isso, foram chamados de “poetas da torre de marfim”.

Tematicamente, a poesia parnasiana foi uma reação à subjetividade e à idealização romântica, enquanto que do ponto de vista formal reduplicou a ideologia clássica de “beleza e perfeição”.

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O ponto de contato entre Realismo e Parnasianismo reside no fato de que são estéticas objetivas e racionalistas.

A postura racional será responsável pela busca obstinada dos parnasianos em encontrar a objetividade absoluta.

A poesia torna-se, portanto, uma atividade frívola e lúdica em que o principal objetivo era encontrar a perfeição da forma, o que levou os poetas a cultuarem a forma.

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O CULTO DA FORMAA obsessão por uma forma perfeita leva os parnasianos

a dar preferência:

Ao verso decassílabo clássico, sáfico e heroico.Ao verso alexandrino, invenção parnasiana.À estrofe simétrica, principalmente, quarteto e terceto.À forma fixa clássica do soneto, com estrutura

dissertativa e com a chave de ouro. Ao vocabulário solene, dicionarizado, recheado de

termos latinos e helênicos.

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Às rimas clássicas, em que as rimas ricas e raras se tornam uma verdadeira obsessão.

Á disposição de rimas em AABB, ABBA e ABAB. A uma sintaxe lusitana, de exceção, em que se destacam a

coesão e o hipérbato.A uma estrutura dissertativa, com prevalência de versos

encadeados sintática e semanticamente, através de “enjambemant”.

A uma postura objetiva, através de um “EU” poético reflexivo e descritivista.

À contenção da emoção através da abordagem de temas centrados em objetos artísticos e utilitários, na natureza, entendida como se fosse uma fotografia.

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A TEMÁTICA PARNASIANA Os temas parnasianos se afastam da realidade social e

humana e de toda e qualquer manifestação subjetiva. Esta postura faz parte da obsessão parnasiana em busca da

“beleza e da perfeição” e, por isso, vão cultuar uma poesia fria, impassível e objetiva:

Objetos artísticos, utilitários e decorativos, em que a descrição e a reflexão se fixarão na beleza estética da forma, numa verdadeira poética de objetos é um dos temas mais cultuados.

Os parnasianos não se interessarão pela finalidade utilitária do objeto, mas pelos seus contornos estéticos perfeitos e belos, num verdadeiro exercício de metalinguagem.

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A natureza estática, bucólica, idealizada, como se fosse uma fotografia em que o grande objetivo é pintá-la objetivamente com palavras.

A história, a cultura e a geografia da antiguidade também se tornam uma abordagem frequente da poesia parnasiana.

A metalinguagem reforça a obsessão do poeta parnasiano pela perfeição da forma que, consequentemente, se volta para o “fazer poético”.

A abordagem de temas sobre a existência humana, num tom reflexivo-filosófico, é outra recorrência parnasiana.

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O PARNASIANISMO BRASILEIRO O parnasianismo surgiu na França, assim como o Realismo e o

Naturalismo, e sua poética só vingou por muito tempo no Brasil.

Quarenta anos depois de seu surgimento no Brasil, o Parnasianismo se tornou o principal alvo dos integrantes do movimento modernista por acharem que os poetas faziam uma arte desvinculada realidade nacional.

Mas, apesar de cultuarem as propostas básicas do Parnasianismo francês, os poetas brasileiros fizeram uma poesia de nítida influência romântica, principalmente, quanto aos temas abordados.

Formalmente, o Parnasianismo brasileiro se manteve preso ao “culto da forma”, mas tematicamente abordou o amor platônico, o nativismo, o patriotismo ufanista e o indianismo idealizado.

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ANTOLOGIA PARNASIANA

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ANOITECEREsbraseia o Ocidente na agoniaO sol... Aves em bandos destacados, Por céus de oiro e de púrpura raiados,Fogem...Fecha-se a pálpebra do dia... Delineiam-se, além da serraniaOs vértices de chama aureolados,E em tudo, em torno, esbatem derramadosUns tons suaves de melancolia.. Um mundo de vapores no ar flutua...Como uma informe nódoa, avulta e cresceA sombra à proporção que a luz recua... A natureza apática esmaece...Pouco a pouco, entre as árvores, a luaSurge trêmula, trêmula... Anoitece. Raimundo Correia

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MAL SECRETOSe a cólera que espuma, a dor que moraN’alma, e destrói cada ilusão que nasce,Tudo o que punge, tudo o que devoraO coração, no rosto se estampasse; Se se pudesse, o espírito que chora,Ver através da máscara da face,Quanta gente, talvez, que inveja agoraNos causa, então piedade nos causasse! Quanta gente que ri, talvez, consigoGuarda um atroz, recôndito inimigo,Como invisível chaga cancerosa! Quanta gente que ri, talvez existe,Cuja ventura única consisteEm parecer aos outros venturosa! Raimundo Correia

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A ESTÁTUAÀs mãos o escopro, olhando o mármor: “QueroO estatuário disse – uma por umaAs perfeições que têm as formas de HeroTalhar em pedra que o ideal resuma.” E rasga o Paros. Graça toda a esmero,A fronte se arredonda em nívea espuma;Eis ressalta o nariz de talho austero,Alça-se o colo, o seio se avoluma; Alargam-se as espáduas; veia a veiaMostram-se os braços... Cede a pedra aindaA um golpe, e o ventre nítido se arqueia; A curva, enfim, das pernas se acentua...E ei-la, acabada, a estátua heroica e linda,Cópia divina da beleza nua. Alberto Oliveira