a linha do tâmega

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As questões do seu encerramento, estudo de caso da importância da linha em Resumo “Servir as áreas de maior intensidade de tráfego, procurando responder aos crescentes valores de procura e alargar a rede para as áreas de menor densidade de ocupação, alegando em cada momento da história que esse será o caminho para a redução dos desequilíbrios regionais, é a dupla de princípios que tem orientado as intervenções em matéria de transportes.” IN PACHECO, Elsa - Alteração das acessibilidades e dinâmicas territoriais na Região Norte: expectativas, intervenções e resultantes. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, GEDES, 2004. - Dissertação de Doutoramento apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto para a obtenção de grau de Doutor em Geografia Por outro lado a racionalização da exploração imposta pela CP iniciada nos anos oitenta impôs o termo ou por outras palavras o encerramento de vários troços ferroviários de norte a sul do país mas na sua grande medida em zonas rurais. Esta medida albergou consequências negativas para a população que fica cada vez mais isolada, por outro lado assiste- se à deterioração progressiva do “património ferroviário”, processo que ainda não foi revertido embora se procurem alternativas para a recuperação deste património e na procura de alternativas de atracão e acessibilidade destas regiões. Palavras chave: Transporte-ferroviário; Linha do Tâmega, Desactivação, População; Potencialidades turísticas.

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Estudo de caso de Mondim de Basto, proposta de intervenção

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Page 1: A linha do Tâmega

A linha do Tâmega,

“As questões do seu encerramento, estudo de caso da importância da linha em

Mondim de Basto”

2011

1

Resumo

“Servir as áreas de maior intensidade de tráfego, procurando responder aos crescentes valores de procura e alargar a rede para as áreas de menor densidade de ocupação, alegando em cada momento da história que esse será o caminho para a redução dos desequilíbrios regionais, é a dupla de princípios que tem orientado as intervenções em matéria de transportes.”

IN PACHECO, Elsa - Alteração das acessibilidades e dinâmicas territoriais

na Região Norte: expectativas, intervenções e resultantes.

Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, GEDES, 2004. -

Dissertação de Doutoramento apresentada à Faculdade de Letras da

Universidade do Porto para a obtenção de grau de Doutor em Geografia

Por outro lado a racionalização da exploração

imposta pela CP iniciada nos anos oitenta impôs o

termo ou por outras palavras o encerramento de

vários troços ferroviários de norte a sul do país mas

na sua grande medida em zonas rurais. Esta medida

albergou consequências negativas para a população

que fica cada vez mais isolada, por outro lado assiste-

se à deterioração progressiva do “património

ferroviário”, processo que ainda não foi revertido

embora já se procurem alternativas para a

recuperação deste património e na procura de

alternativas de atracão e acessibilidade destas

regiões.

Palavras chave: Transporte-ferroviário; Linha do

Tâmega, Desactivação, População; Potencialidades

turísticas.

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“As questões do seu encerramento, estudo de caso da importância da linha em

Mondim de Basto”

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1- Introdução

Focando com maior detalhe a problemática dos caminhos de ferro,

admitindo então, que uma rede de transporte ferroviário constitui um

importante elemento para a compreensão da organização do

território, porque nele se articula como causa e/ou efeito das suas

dinâmicas; que as vias de comunicação (linhas ferroviárias) são

elementos do território que podem resultar de processos casuísticos e

de formas de pensar as organizações espaciais em contextos

económicos e sociais específicos; e sua rarefacção e desactivação à

medida que se caminha para áreas mais remotas, acompanhando a

distribuição dos principais aglomerados populacionais se verifica a

distribuição e geração de oportunidades, sendo frequente a alusão ao

seu papel para a redução dos efeitos de interioridade e das assimetrias

regionais.

É neste contexto que pretendemos analisar e dar maior ênfase à

desactivação da Linha do Tâmega e dar realce à estação de Mondim de

Basto.

Com este trabalho pretendemos observar se os concelhos que

abrangem esta linha (linha do Tâmega) apresentam uma perda de

população pelo motivo da desactivação da linha e apresentar de forma

genérica a opinião dos “utilizadores” que se serviam da linha e as

alternativas encontradas por estes após a desactivação da mesma.

Este trabalho consiste também num estudo sobre a desactivação da

linha ferroviária do Tâmega e o seu impacto ambiental em áreas

envolventes da mesma, principalmente em Mondim de basto.

Temos também como objectivo apresentar uma proposta de

requalificação da estação de Mondim de Basto para fins turísticos.

As metodologias utilizadas neste trabalho, foi a pesquisa bibliográfica,

a recolha de noticias em jornais locais, tomou-se a iniciativa e ir ao

terreno para conhecer e levantar testemunhos das populações locais,

prosseguindo-se à realização de um documentário produzido no

programa Sony Vegas e o resultado final caracteriza tanto a área de

estudo como as opiniões dos populares que habitam nestes concelhos.

Para a proposta de intervenção da estação de Mondim de Basto foi

utilizado um programa de modelação em 3D ,o Google SketchUp.

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2- O Caminho de Ferro no Vale do Tâmega

2.1- História dos Caminhos-de-ferro em Portugal O aparecimento do comboio em Portugal

Em 1769 James Watt criou a máquina a vapor o que

permitiu deixar as máquinas dependentes dos cursos de água ou do

vento para obter “força”; consequentemente as fábricas deixam de

se fixar perto de rios para localizar-se junto da matéria-prima ou

mão-de-obra ou ainda junto de zonas de escoamento de produtos.

Inicialmente a máquina a vapor aplicou-se nas indústrias e

posteriormente (início do século XIX) foi aplicada às locomotivas e

aos barcos promovendo a revolução dos transportes.

“Na primeira metade do século XIX os caminhos-de-ferro

eram já uma realidade em vários países da Europa”1. Inglaterra foi

pioneira em 1825 seguida da Europa Central e num processo mais

retardado Portugal. É com a provação do Decreto-Lei de 6 de Maio

de 1852 que se deram os primeiros passos para aparecimento do

transporte ferroviário mas só quatro anos depois inaugura-se o

primeiro troço de trinta e 6 km que liga Lisboa ao Carregado, “com

31 anos de atraso relativamente ao facto semelhante a Inglaterra,

21 anos na Bélgica e na Alemanha, 19 na França e 18 anos na

Rússia”.2 Tal atraso, face aos demais países, deve-se à instabilidade

política e social e particularmente ao “impedimento” e dificuldades

económicas.

O primeiro troço foi explorado pela Companhia Central e

Peninsular dos Caminhos de Ferro em Portugal, mas devido às

dificuldades que a empresa apresentava o Estado interveio na sua

actividade nomeando o Engenheiro João de Crisóstomo Abreu e

Sousa director de todos os serviços de exploração e construção.

____________________________________

1in Alegria, Maria Fernanda, “A distribuição dos transportes em Portugal (1850-1910): As vias e o tráfego.” Centro de estudos

Geográficos, Lisboa, 1990

2in Serrão, Prof. Joel, “O Caminho-de-ferro Revisitado”, Breve introdução à história dos caminhos de ferro em Portugal - vários, ED. CP,

Lisboa, 1996.

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O Doutor José de Salamanca, empreiteiro com experiencia na

construção da linha em Espanha e Itália, adquire a concessão da linha

do Norte e Leste, para tal, funda a Companhia Real dos Caminhos-de-

ferro Portuguesa (actualmente designada por CP após várias

alterações); desde então a construção das linhas retoma um novo

ritmo bastante acelerado para a altura.

No início do novo século o comboio já chegava às principais

zonas do país: Alfarelos, Barca d’Alva, Cascais, Coimbra, Elvas, Faro,

Figueira da Foz, Guarda, Marvão, Porto S. Bento, Rossio, Setúbal,

Silves, Sintra e Valença.

No mesmo século surge a primeira linha electrificada, a linha

de Cascais explorada pela Sociedade Estoril; em 1948 circulam as

primeiras locomotivas a diesel o que ocasionou a retirada das

locomotivas a vapor, assim circulava as unidades eléctricas junto das

unidades a diesel. Nesta altura Portugal dispunha de duas companhias

privadas de caminhos-de-ferro e de duas redes (Minho e Douro, Sul e

Sueste) exploradas pelo Estado e cuja exploração passa para a

Companhia dos Caminhos-de-ferro Portugueses por via de concurso

em 1926. Em 1945 o Estado procede a novo concurso para a

concessão única de todas as linhas com excepção a linha de Cascais

explorada pela Sociedade Estoril, a formalização da concessão dá-se

em 1951 entre o Estado e a Companhia dos Caminhos-de-ferro

Portugueses.

Dada estagnação do transporte ferroviário o Estado ajuda

monetariamente, a companhia exploradora, a reorganizar e

modernizar a rede o que se traduziu na melhoria qualitativa dos

serviços prestados.

Em 1975 todas as companhias exploradoras são nacionalizadas

a adoptam a designação da CP – Caminhos de Ferro Portugueses,

Empresa Pública.

Nos anos oitenta e noventa o Estado investe

consideravelmente nos caminhos-de-ferro através da aquisição de

novas locomotivas, electrificação de troços, modernização das

principais linhas traduzindo-se numa verdadeira melhoria qualitativa.

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Por outro lado e um ponto muito importante no presente

trabalho, suspende a exploração das linhas com menor tráfego. No

final do século XX o desenvolvimento do transporte ferroviário é uma

realidade, nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto verificam-se

profundas melhorias; em Lisboa surge uma nova estação (Estação do

Oriente) uma verdadeira plataforma intermodal de transportes.

Efectivamente verificou-se uma considerável melhoria qualitativa dos

serviços predominantemente no litoral o que aliado ao encerramento

de alguns troços no interior contribui para as desigualdades regionais

levando ao aumento das assimetrias entre as regiões como por

exemplo a região de Trás-os-Montes.

“Com o aproximar do ano 2000 também o Estado revê a sua

posição sobre o Caminho-de-ferro. A já secular Caminhos-de-ferro

Portugueses (CP) é repartida em duas empresas, uma que constrói

e gere as linhas, a outra que opera os comboios. O estado continua

a tutelar as suas actividades, mas tudo indica que o mercado

ferroviário poderá receber capitais privados a curto prazo.

Depois de quase um século e meio de existência, o Caminho-

de-ferro em Portugal está

reduzido a dois eixos fundamentais: Braga - Lisboa e a ligação pela

Beira Alta à Europa.

As linhas do Sul têm uma expressão reduzida, realizando um

serviço regional num território cada vez mais desertificado. Além

destes dois eixos, mantêm-se as ligações

suburbanas de Lisboa, Porto e Coimbra, cuja importância é vital

para o acesso das populações residentes nas áreas adjacentes a

estas cidades. Com as obras em curso neste final de século parece

haver condições para que o Caminho-de-ferro em Portugal, no virar

do milénio, dê um salto qualitativo de forma a recuperar o atraso

de décadas e décadas de marasmo. Do transporte porta a porta,

característico de décadas passadas, o Caminho de Ferro está cada

vez mais vocacionado para, além dos serviços suburbanos,

assegurar as ligações rápidas nacionais ao longo do litoral (Braga -

Faro) e também a ligação europeia da Beira Alta, garantindo o

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transporte de passageiros e mercadorias em velocidades cada vez

mais elevadas.”3

Actualmente assistimos aos estudos sobre o projecto do

transporte de alta velocidade (TGV), proporcionando alterações

profundas no transporte ferroviário e consequentemente iremos

assistir a um abandono e desincentivo nas linhas com menor

importância alterando novamente o mapa ferroviário nacional e

logicamente um maior aumento das assimetrias das regiões mas

desfavorecidas.

2.2- História da Linha do Tâmega

Historicamente a Linha do Tâmega foi uma das ultimas

linhas a ser edificadas em Portugal, demorou cerca de 40 anos até

esta estar concluída (1909-1949).

No ano de 1900 foi aprovado por uma comissão encarregue

do estudo sobre a linha do Tâmega, esta iria ter um metro de bitola

e iria de Amarante até a sua futura linha de junção com a linha do

Corgo, seguindo posteriormente para Chaves. Ficou decidido que a

linha iria ter inicio em Livração onde acompanharia a margem do rio

Tâmega por questões económicas. O projecto foi a provado em

1904 e em 1905 iniciam-se as obras. O primeiro com 12 Km

(Livração – Amarante) é inaugurado em Março de 1909.

Embora o segundo troço com 4.8 km (Amarante – Gatão) tenha

sofrido alguns anos de atraso este é inaugurado em 1921 e o

terceiro troço com 8.5 Km ( Gatão - Chapa) foi inaugurado em 1926.

Com o aparecimento do automóvel em Portugal contribuiu

para que o Estado Novo desse prioridade à criação de estradas e ao

alargamento do transporte rodoviário como forma primordial de

transporte da população. É nesta altura que a rede rodoviária sofre

grandes alterações e a política rodoviária negligenciou o transporte

ferroviário entrando a rede ferroviária em estagnação.

É em 1932 que se dá mais uma inauguração de um troço na linha do Tâmega com 13.4 Km (Chapa – Celorico de Basto).

_____________________________________ 3

in Lima, Carlos Frias, “Pequena História dos Caminhos-de-Ferro em Portugal”, 2000

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Com tudo isto surge em 1949 o Troço de Celorico de basto –

Arco de Baúlhe com 16.9 Km e ficaria por concluir a ligação à linha

do Corgo.

A rentabilidade da exploração ferroviária privada

estava em causa, provocando, por exemplo, o encerramento

da linha do Tâmega por motivos económicos em Maio de

1941 e a sua posterior reabertura em Abril de 1942, derivada

a fortes protestos populares. Todo este processo culminaria,

em 1947, com o abandono deste sector por parte das

empresas privadas em favor da CP, como a única

concessionária da rede ferroviária nacional.

Este foi também um dos últimos troços a ser

construído a nível nacional, 50 anos depois do primeiro

projecto e daí não passou, os planos de expansão da linha

ficariam para sempre guardados numa secretária a ganhar pó,

pois a vontade política tinha substituído a vontade Popular. A

única mudança palpável nesta linha seria a progressiva substituição

dos comboios a vapor pelas automotoras suecas “Noabh”, menos

bonitas mas mais rentáveis e eficazes, que funcionaram ate a bem

pouco tempo.

Ilustração 1, Automotora “Noahb” que faz o percurso Amarante – Livração

fonte: http://flickriver.com/groups/1461309@N21/pool/interesting/

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É a partir desta altura que se passa a apostar na

electrificação e melhoramento nas linhas mais importantes,

acabando por deixar de parte as linhas com menor importância

económica.

No ano de 2000 as velhinhas automotoras suecas Nohab

vermelhas e brancas foram substituídas pelas LRV2000,

automotoras estas que mais parecem verdadeiros autocarros em

cima de carris, mantendo os serviços ferroviários num vaivém diário

Pode-se falar da concorrência exercida pela rede ferroviária ou

então apontar defeitos às decisões do poder central, o certo é que

se provocou um desmazelo por parte da CP em relação a várias

linhas, principalmente naquelas que serviam as populações do

interior e a linha do Tâmega não foi excepção.

Ilustração 2, Automotora LRV2000 substituída em 2000 na linha de Livração –

Amarante.

Fonte: http://www.flickr.com/photos/js_trains/page16/

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2.2.1- Alguns dados cronológicos sobre a

Linha do Tâmega

6 de Outubro de 1898 – Decreto confia a uma comissão técnica o

estudo da viação acelerada ao norte do Mondego.

15 de Fevereiro de 1900 – O plano é aprovado e compreende em 5º

lugar a linha do Vale do Tâmega de um metro de bitola, a partir da

Livração e a seguir por Amarante até Cavez, pela margem direita do

rio Tâmega, onde se lhe deveria unir a linha do Corgo e continuar

até à fronteira de Chaves.

9 de Março de 1903 - Portaria determina o estudo de pormenor da

linha do vale do Tâmega.

24 de Abril de 1903 – Nova portaria sai a tratar do mesmo assunto.

A linha iniciar-se-ia no lugar da Livração e, por razões económicas,

acompanharia sempre a margem do Tâmega.

2 de Dezembro de 1904 – O projecto é aprovado.

21 de Março de 1909 - Inaugurado o primeiro troço de 12,800

metros até Amarante.

22 de Novembro de 1926 - É aberto à exploração um novo troço de

8,400 metros compreendendo as estações de Gatão e Chapa.

20 de Março de 1932 - Inaugurados mais de 13,400 metros, até

Celorico de Basto, pela Companhia Norte de Portugal, que

subarrendara a Linha do Tâmega à CP e a explorou desde 1 de

Fevereiro de 1928 até 31 de Dezembro de 1946.

18 de Maio de 1941 – Por motivos económicos esta linha encerra

os serviços públicos.

27 de Abril de 1942 – Devido aos protesto das populações a linha é

reaberta.

15 de Janeiro de 1949 – O comboio chega a Arco de Baúlhe.

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1 de Janeiro de 1990 – Encerramento do Troço compreendido entre

Amarante e Arco de Baúlhe.

25 de Março de 2009 - O troço que ainda se mantinha em serviço,

entre Livração e Amarante, foi encerrado para se proceder a obras

de beneficiação, cuja empreitada já se encontrava atribuída em

2009; prevê-se a conclusão das mesmas para 2010.

2.3- O caminho-de-ferro como móbil do

desenvolvimento. Uma certeza ou uma

dúvida?

O papel do caminho-de-ferro no desenvolvimento das

regiões é algo que sendo ate à bem pouco tempo indiscutível,

formou uma acesa discussão nos primórdios da sua implantação em

Portugal.

De facto, em meados do sé. XIX, alcançados o regular

funcionamento das instituições liberais e a estabilidade política,

tornava-se urgente dinamizar as estruturas económicas e sócias,

dotando-as de um sistema de transportes rápido e eficiente.

Ao tempo, só o comboio se encontrava em condições de

consubstanciar essas vantagens.

Desde 1856 até finais do século, a instalação de vias férreas

efectuou-se a um ritmo bastante acelerado. As repercussões de tal

investimento ao nível do desenvolvimento não se deixaram de fazer

sentir.

Assim, além da siderurgia e de outras industrias

directamente associadas à construção e exploração ferroviária, esta

beneficiou a industria, em geral, a agricultura e o comércio4; bem

como a circulação de pessoas ideias e informação.

O caminho de ferro deve ser também julgado como factor

de localização industrial e de atracção demográfica.

Existem casos em que países se basearam o seu

desenvolvimento na expansão da sua rede férrea, como por

exemplo a Inglaterra, os EUA e o Canadá.

Em Portugal podemos encontrar numa intensidade menor, cidades inteiras que se desenvolveram “à sombra” do comboio, se pensarmos por exemplo na Cidade do Entrocamento (cidade Ferroviária) logo percebemos a importância dos caminhos-de-ferro no seu desenvolvimento económico e social.

_____________________________________ 4

in Análise Social, vol. XXIV (101-102), 1988 (2.°-3.°), Alegria, Maria Fernanda, “Análise geográfica do

transporte de mercadorias nos caminhos-de-ferro portugueses no século XIX”, 1988, pp 769-803

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A rede ferroviária foi criada, em principio como sendo

complementar à rodoviária, até se costumava afirmar que “ Aonde

a estrada acaba começa o comboio”, mas o tempo e as politicas

alteraram essa maneira de pensar e, hoje os Itinerários Principais

(IP) e Complementares (IC) reduziram a importância do caminho de

ferro, sobretudo em países que pelas suas limitações geográficas,

tenham na rede rodoviária uma boa solução para as suas

acessibilidades. No caso português, as acções levadas a cabo pelo

Estado Novo e pelos últimos governos constitucionais visaram

dotar Portugal de uma boa rede de estradas, negligenciando em

parte a via férrea na vertente de transporte de

mercadorias/passageiros destinados às regiões mais distantes do

eixo litoral. Assim vive-se nos dias de hoje um dilema; até que

ponto a substituição do comboio por veículos automóveis

permitirá um grau de mobilidade de pessoas e produtos capaz de

sustentar o desenvolvimento de qualquer cidade?

Certo é que o automóvel traz consigo a vantagem do serviço

“porta-a-porta”, mas quando pensamos em grandes quantidades

de bens a transportar num mínimo espaço de tempo,

inevitavelmente pensamos no caminho de ferro. Entende-se

então que qualquer resposta para esta questão se poderá situar no

campo de uma possível combinação entre os dois tipos de

transporte (que sempre dependerá das características e

necessidades locais), sendo certo que as populações não abdicam

da sua mobilidade qualquer solução a longo prazo terá que ter

sempre em conta esse direito inalienável, o direito à mobilidade.

Ilustração 3, Museu do Comboio em Arco de Baúlhe

Fonte: Grupo de Trabalho

“Comboio a comboio… se percorre o mundo”

(Frase do Museu do Comboio de Arco de Baúlhe)

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3- Caracterização dos concelhos que

englobam a linha do Tâmega e de

Mondim de Basto

Os concelhos abrangidos pela linha do Tâmega são os

concelhos de Amarante, Celorico de Basto e Cabeceiras de Basto.

Importa referir que o concelho de Mondim de Basto não é

abrangido pela linha do Tâmega, pois este fica do outro lado da

margem do rio com o mesmo nome, consequentemente o grupo de

trabalho optou por se focalizar neste concelho, pois o mesmo faz

parte da Região de Trás-os-Montes e por outro lado este era um

concelho que fornecia muitos passageiros à linha.

Os concelhos de Amarante e Celorico de Basto estão

integrados na Associação de Municípios do vale do Tâmega,

enquanto que os concelhos de Cabeceiras de Basto e de Mondim de

Basto, estão assimilados na Associação de Municípios do Vale do

Ave.

Como divisão entre o Minho e Trás-os-Montes, a região do

Vale do Tâmega, apresenta características de ambas as regiões,

nomeadamente paisagens imponentes da montanha e dos vales

Ilustração 4, Fonte: www.ccr-n.pt

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profundos e um manto de verde que recobre os montes e deixa

visionar uma rede densa de cursos de água.

É de salientar que a paisagem desta região é marcada por

montes arredondados, nos vales correm pequenos rios e ribeiras de

águas frias e puras, valiosos recursos hídricos que são normalmente

utilizados para a rega na produção agrícola.

Por falta de volume de água, não são utilizados como meio

de comunicação.

O maior curso de água que atravessa a área de estudo é o

rio Tâmega que, é a fronteira administrativa e física entre a região

do Minho e Trás-os-Montes na nossa área de estudo.

Mas essa situação vai inverter-se porque segundo notícia do

expresso publicado (3-5-2010), a «EDP acaba de receber a

autorização para avançar com a construção de barragem do Fridão,

no rio Tâmega, depois de ter recolhido uma Declaração de Impacto

Ambiental (DIA) favorável».

É de salientar que desde sempre a principal actividade da região é a

agricultura, isto apesar de existirem na região fortes fontes de

matéria-prima, nomeadamente, lã linho, argilas, couros e minérios.

A influência do Estado para alterar esta situação só se faz

sentir nos finais do séc. XVIII, com incentivos ao aproveitamento e

valorização das matérias-primas com abertura e desenvolvimento

de novas indústrias de carácter maioritariamente artesanal, sendo

os produtos fabricados vendidos e comercializados em feiras,

Ilustração 5, Linha Ferroviária do Tâmega, Fonte: Grupo de Trabalho

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exemplo disso, é que Mondim de Basto tornou-se conhecido pelo

fabrico e manufacturação de curtumes que comercializava para o

resto do país.

É de enfocar que em 1882 foi construída a ponte sobre o

Tâmega, ligando Celorico a Mondim de Basto e finalmente, no

século XX, a construção da linha de caminho de ferro no Vale do

Tâmega finalizado em 1949 .

3.1- Caracterização da População dos Concelhos A análise demográfica torna-se uma peça fundamental do nosso trabalho de forma a compreendermos as características do território e as relações das populações com o mesmo. É neste contexto que iremos preceder à caracterização demográfica da população dos concelhos acima referidos.

No que diz respeito ao concelho de Amarante, o gráfico nº 1 mostra que este concelho teve uma crescimento da população residente sustentado ao longo dos anos (1960-2001).

Podemos também referir que Amarante só tem crescimento positivo, e, dos três concelhos, este é o único em que se averigua esta situação.

Isto mostra que o concelho se mantém atractivo e consegue fixar a população no seu território.

Até à bem pouco tempo (2009), Amarante, era servido da linha de caminho de ferro, outrora desactivada, mas por outro lado tem acesso a A4 e IP4 (Porto – Vila Real).

O concelho de Cabeceiras de Basto tem um crescimento bastante irregular, apresentando subidas e descidas no total da população residente.

Embora não seja gradual podemos observar uma tendência para um decréscimo da população nas últimas décadas.

Gráfico nº 1, Fonte: INE: X, XI, XII, XIII, XIV Recenseamentos Gerais

da população

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Entre a década de 1981-1991 verifica-se uma descida da população residente, embora no ano 2001 já se tenha revelado um crescimento da população total do concelho.

A politica demográfica atractiva do concelho de Cabeceiras de Basto terá contribuído para que os jovens permaneçam no concelho, embora seja necessário melhorias nas acessibilidades e nas habitações e alojamentos do concelho.

O concelho de Celorico de Basto verifica-se uma perda de população residente desde a década de 60 até ao ano 2001.

Esta perda populacional poderá estar muito relacionada com o deficit nas acessibilidades rodoviários, do encerramento da linha e por consequência o isolamento deste concelho.

Desde o encerramento da linha esta prometida a construção de uma via-rápida que ligaria estes três concelhos, o que até hoje ainda não se verificou a construção de tal infra-estrutura.

O concelho de Mondim de Basto deve ser dada uma maior relevância uma vez que é a nossa principal área de estudo. Como podemos ver no gráfico 1, este é o concelho em relação com os outros três, que tem menos densidade populacional.

Por outro lado não foge muito a regra registada anteriormente. desde a década de 60 até ao ano de 2001, o concelho de Mondim de basto, apresenta uma perda da sua população.

Com a desactivação da linha em 1990 na nossa área de estudo (Mondim de Basto), acentuou-se mais o decréscimo da população nesta área, principalmente a população jovem, segundo os dados do INE.

Mas é da salientar que este decréscimo é um fenómeno que se tem verificado principalmente desde os anos 1960 devido a emigração

para estrangeiro, como também a movimentação de massas para o litoral no pré e pós enceramento da linha, tornando-se pouco atractiva para os jovens principalmente, que com formação em áreas especializadas e cursos superiores não possuem perspectiva de emprego “adequada” na terra que os viu nascer, abandonando assim essas áreas para o Litoral principalmente.

Ilustração 6, Pirâmides etárias da população residente 1991-2001, Fonte: INE, Censos 1991-2001

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A linha do Tâmega,

“As questões do seu encerramento, estudo de caso da importância da linha em

Mondim de Basto”

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O exemplo disso é no Município de Amarante em que a população tem aumentado, desde esse período (1960), devido à sua localização mais perto do litoral e dos centros urbanos, devido a maior acessibilidade e consequente maior mobilidade.

Atribuindo uma maior importância ao concelho de Mondim de Basto, importa referir que a estrutura etária da população muda entre a década de 1991 e 2001. Como podemos verifica, temos em 1991 uma pirâmide etária onde concentra uma grande quantidade de população entre os 10 e os 24 anos e em 2001 encontramos uma pirâmide com maior população entre os 19 e os 39 anos de idade.

Verificamos já também uma concentração considerável de população idosa no topo entre os 60 e os 79 anos. Passando de uma Pirâmide etária adulta ou de transição em 1991, para uma Pirâmide idosa ou decrescente em 2001. Com isto verifica-se a concentração de população idosa no concelho de Mondim de Basto, contribuindo assim para o declínio das áreas e freguesias mais tradicionais. Segundo a Carta Educativa realizada pela Câmara Municipal de Mondim de Basto, a projecção feita para 2013 é que este concelho continue a perder população como se verifica no gráfico nº 2. Embora o total da população do concelho e escolar diminua em 2013, a percentagem da população em idade escolar já apresenta sinais de estagnação da tendência negativa verificada na década de 90.

Como também podemos ver no gráfico º 3, o nível de alunos no ensino secundário aumenta consideravelmente a partir do ano 2002. Este poderá ser um forte indicador, pois a qualificação é um meio para o desenvolvimento e para o progresso.

Gráfico 2, Fonte: Carta educativa, Câmara municipal de Mondim

de Basto

Gráfico 3, Fonte: Carta

educativa, Câmara

municipal de Mondim

de Basto

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A linha do Tâmega,

“As questões do seu encerramento, estudo de caso da importância da linha em

Mondim de Basto”

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4- O Encerramento da Linha do Tâmega

No total foram encerrados 901 dos 3644 Km que compõem a

rede portuguesa; as áreas mais afectadas foral, naturalmente, Trás-

os-Montes e o Alentejo, áreas “desertas” e sem pessoas para

transportar. A CP alega que não tem culpa de que os portugueses

abandonem o interior e se fixem no litoral, mas maiores interesses

económicos influenciaram certamente tais decisões.

Após o 25 de Abril, certos grupos de trabalhadores tentaram

revitalizar o caminho de ferro, reabrindo-se, ainda que de uma

forma polémica, a Linha do Vouga, tentou-se também fazer

desaparecer a gestão hierárquica, substituindo-se por grupos de

trabalho especializados por sector.

A dificuldade de financiamento, aliada ao final do PREC

(Processo Revolucionário Em Curso), resultou na imersão da facção

conservadora que resistiu no seio da CP; optando-se por caminhos

diferentes para a resolução dos problemas que afligiam a empresa.

A partir da década de 80, começa-se a falar com insistência no

encerramento de vários troços de rede férrea nacional, com

principal preponderância pelas linhas estreitas; como a linha do

Tâmega se enquadra nesse grupo, cedo se levantaram as primeiras

vozes contra tal decisão, as autarquias locais reuniram esforços e

por varias vezes insistiram junto do poder central na tentativa de

evitar o encerramento da linha.

A conversa com Tiago Pires um assessor da cultura de

Mondim de basto, embora com apenas 32 anos mas com um

conhecimento de causa sobre a linha, pois este cresce em Mondim

de Basto e andou nos últimos anos de vida da linha, este refere que

sente que os autarcas não fizeram tudo o que estava ao seu alcance

pare evitar o encerramento da linha. Refere-nos que promessas

foram feitas como alternativas e que na realidade não foram

compridas.

Como outras formas de pressão provieram de grupos de

populares, nomeadamente a “comissão de Defesa da Linha do Vale

do Tâmega” que sempre lutou contra o encerramento da linha e

ainda hoje pugna pela sua reabertura. O resultado de tais esforços

não passou de um conjunto de acções que não sensibilizaram nem

os sucessivos governos, nem em última instancia a CP.

Assim dão-se início aos acordos entre o poder local, CP e

Ministério do Equipamento Social, com as autarquias a exigirem

contrapartidas estruturais para os seus concelhos. O consentimento

na aprovação do contrato respeitante ao Vale do Tâmega não foi

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A linha do Tâmega,

“As questões do seu encerramento, estudo de caso da importância da linha em

Mondim de Basto”

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A conclusão da Variante do Tâmega entre Celorico de Basto e Arco de Baúlhe, numa

extensão de 9 Km com uma via rápida de ligação de 2,5 Km a Mondim de Basto,

continuará a ser apenas uma promessa no presente ano e nos anos mais próximos, a

avaliar pelas palavras do Ministro das finanças em entrevista a Judite de Sousa na RTP,

no passado dia 10 de Fevereiro.

Ministro das Finanças afirma na RTP: “não vamos avançar com mais estradas”

Questionado sobre o lançamento de novas vias rodoviárias em 2010 e nos anos mais

próximos, o Ministro respondeu: “neste momento entendemos que não há necessidade de

lançar novos concursos ou fazer novas adjudicações no domínio da rede rodoviária

entendemos que o que havia de essencial para fazer está feito. Não vamos avançar com

mais estradas. O que está em curso, está em curso, é para acabar, mas acabou”. Durante

um almoço debate promovido pela Ordem dos Economistas no passado dia 1 de

Fevereiro, o ministro das Obras Públicas, António Mendonça, anunciou também que o

Governo vai suspender novas concessões rodoviárias que estavam previstas no

Orçamento do Estado para este ano.

«Foi tomada a decisão de suspender o lançamento das novas concessões rodoviárias que

estavam programadas», afirmou o ministro. «Chegou-se a um momento em que importa

reavaliar as prioridades do Plano Rodoviário Nacional, elaborado no ano 2000, face aos

objectivos definidos para os outros modos de transporte e tendo, também, em

consideração as condições económico-financeiras actuais e futuras e o custo de

oportunidade dos investimentos», acrescentou António Mendonça. A Variante à Estrada

Nacional 210, também designada Variante do Tâmega, cuja construção foi protocolada

em 1984, entre o Estado e as autarquias da região e que deveria ligar Amarante ao Arco

de Baúlhe, ao que tudo indica vai “ficar” por Celorico de Basto.

As ligações que faltam fazer entre Celorico e Arco de Baúlhe e Mondim de Basto, a

avaliar pela estratégia governamental de combate ao “deficit”, (até 2013 terá de diminuir

dos 11,3% para 3%), não vão nos próximos anos sair do papel. Nada a que já não

estejamos habituados!

Jornal o Basto.com,Terras de Basto | 27-02-2010

Por: Marco Gomes

Combate ao “deficit” compromete definitivamente construção da Variante do Tâmega

pacifica, pois os presidentes das Câmaras de Mondim de Basto e

Cabeceiras de Basto não chegaram a assinalo, por acharem poucas

as contrapartidas. Ambos queriam a ligação do seu concelho por

uma boa estrada até Amarante, o que não conseguiram ver incluído

no protocolo que só previa a construção da futura via rápida entre

Arco de Baúlhe e Amarante, substituindo a antiga EN 210; dessa

obra existem já feitos 4 KM nas proximidades de Celorico de Basto.

Por outro lado o poder central decidiu parar a construção do

resto do troço da via.

E na realidade nos próximos anos, esta vai ficar suspensa; a

justificação dada deve-se ao deficit orçamental e à conjuntura

económica que o país atravessa, mas na realidade é que estas

promessas já vêem desde o inicio do encerramento das linhas e

ainda não foram cumpridas.

A linha do Tâmega foi uma das que não resistiu ao avanço

dos interesses económicos e na aposta nas grandes infra-estruturas

rodoviárias.

A linha do Tâmega encerrada com a promessa de seria

construída uma variante como alternativa, esteve muito tempo esta

por se iniciar, alterando o estilo de vida e marcando a vida de

muitas pessoas para sempre.

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A linha do Tâmega,

“As questões do seu encerramento, estudo de caso da importância da linha em

Mondim de Basto”

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“A linha ferroviária do Tâmega (ligação Amarante - Arco de

Baúlhe) foi encerrada em Janeiro de 1990. Das contrapartidas assinadas

algumas ainda estão por cumprir, nomeadamente, a conclusão da Via do

Tâmega (variante rodoviária entre Cabeceiras, Celorico e Mondim de

Basto).

Devido à alienação do património ferroviário por parte das

Autarquias de Basto, pela falta no cumprimento das contrapartidas

assinadas e havendo a expectativa da reabertura da linha, foi criada a

primeira organização civil de defesa dos direitos das populações que

perderam o serviço ferroviário em Portugal a "Comissão de Defesa da

Linha do Tâmega".5

O serviço que era prestado pela CP à população foi substituído

pela empresa de autocarros, que já operava na região, a Auto-

Mondinense, Lda, por intermédios de acordos de carácter anual, aonde a

empresa rodoviária se compromete a cobrar bilhetes a preços idênticos

aos praticados pela CP, sendo esta obrigada a pagar a diferença. Perante

tais acordos, toda a vantagem recai na empresa de autocarros já que

aumentou o numero de passageiros a utilizar os seus serviços (a preços

reais de autocarro). Dado que os acordos estabelecidos dão anuais não se

sabe até quando se prolongará esta situação. Tiago Pires referiu-nos que

actualmente Mondim de basto não tem autocarro directo para Amarante

e tem de se dirigir a Celorico de basto para então ir para Amarante, um

percurso que demora de carro cerca de 25 minutos, fica de autocarro

cerca de uma hora e meia.

Este refere ainda que o encerramento da linha por si só não levou

à desertificação do território, por outro lado prejudicou um tecido

comercial muito forte entre os agricultores que vinham a Mondim vender

os seus produtos, pois a automotora passava por uma serie de lugares

onde haviam os apeadeiros e as pessoas carregavam lá os produtos e

vinham vender a Mondim de Basto e os agricultores de Mondim iam

vender aos outros lados; e o encerramento da linha destruiu esse

intercambio de produtos.

___________________________________

5 In http://www.jornalobasto.com/a.php?new=153_04/2010/grupo-na-internet-apela-p/, Terras de Basto | 21-04-

2010

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“As questões do seu encerramento, estudo de caso da importância da linha em

Mondim de Basto”

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Com isto aumentou o isolamento destas regiões e o

sentimento de interioridade.

E como Tiago Pires refere “ Assim é mais fácil para quem

esta em Lisboa a ordenar porque não há contestação…”

Pela linha fora jazem agora edifícios, abandonados e

quilómetros de linhas enferrujadas e em muitos locais a linha já não

existe. Pontes, túneis e viadutos deterioram-se rapidamente. Uma

sensação de amargura invade qualquer um que visite as estações

da CP, outrora servidoras do vale do Tâmega.

Como podemos ver nas imagens na estação de Gatão (figura

7), podemos observar os estado degradado da estação as

infiltrações e a decomposição dos azulejos e do telhado e grafites

nas paredes, na estação de Canêdo (figura 8), pode-se observar a

falta das estruturas da linha férrea e ainda de referir que o jardim

da estação esta convertido em campo de cebolas.

Ilustração 7 Estação de Gatão, linha do Tâmega, Fonte: Grupo de trabalho Ilustração 8 Estação de Canêdo, linha do Tâmega, Fonte: Grupo de trabalho

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A linha do Tâmega,

“As questões do seu encerramento, estudo de caso da importância da linha em

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Especial destaque merece a estação de Mondim de basto

(situada na margem do Tâmega oposta à vila do mesmo nome)

cujos belos azulejos e jardim estão agora à mercê de vândalos e da

acção erosiva e corrosiva da natureza. (ver no documentário em

anexo)

De facto, tem sido política da CP não cuidar da manutenção

das suas infra-estruturas, presentemente abandonadas, e também

nunca pareceu muito interessada em quem o faça por elas, pois em

conversa com o Sr. Domingos Teixeira, ultimo chefe da estação de

Mondim de Basto, foi-nos revelado que a junta de freguesia local

queria fazer da estação a sua sede. A CP nunca se dignou a

responder a tal solicitação, desconhecendo-se as razões dessa

recusa.

No meio disto tudo a única certeza existente é que a estação

de Mondim de Basto não resistirá por muito mais tempo ao

abandono. Já hoje são evidentes as infiltrações de água pelo

Ilustração 9, Estação de Mondim de Basto

Fonte: Grupo de Trabalho

Ilustração 10, Garagem da estação de Mondim de Basto

Fonte: Grupo de Trabalho

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A linha do Tâmega,

“As questões do seu encerramento, estudo de caso da importância da linha em

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telhado ameaçando a ruína total do tecto do edifício. O que mais

custa saber é que o exemplo de Mondim de Basto repercute-se em

algumas das outras estações abandonadas pelo resto do troço

encerrado ou restantes linhas da rede nacional fechadas ao serviço

público.

Tudo isto podemos observar no documentário criado pelo

grupo de trabalho que mostra o estado de conservação de algumas

das estações.

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A linha do Tâmega,

“As questões do seu encerramento, estudo de caso da importância da linha em

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4.1- Levantamento e análise de Notícias do

Jornal de Amarante sobre a extinção da

Linha do Tâmega entre os anos de 1988

e 1991

Depois de uma pesquisa e analise de documentos do anos

mais críticos e de reflexão da extinção da linha do Tâmega

referentes aos anos de 1988 a 1991 documentamos com algumas

fotos daquelas que eram as manchetes dos jornais da região mais

afectada pela situação da alteração da cota do rio Tâmega, em

causa estava a cidade de Amarante , por esse facto o jornal mais

reivindicativo de tal acontecimento. Depois de lidas algumas

noticias dos jornais da época referente nas edições do jornal de

Amarante a conclusão a que o grupo de trabalho é também

assertiva na lógica do jornal no desenvolvimento das noticias

durante os anos analisados.

Podemos então concluir que também o jornal mais

importante da região fez um acompanhamento exaustivo e de

Data da edição

Titulo da Noticia Jornal Observações

31 de Agosto de 1988

É preciso avisar toda a gente

Jornal de Amarante

Nº469

Fig.1

21 de setembro de 1988

Barragem do torrão - A câmara tem coragem de

dizer o que quer?

Jornal de Amarante

Nº472

Fig.2

30 de Março de

1989

A linha do Tâmega - A polémica continua e os protestos aumentam

Jornal de Amarante

Nº 498

Fig.3

8 de junho de

1989

Câmara Municipal referenda cota 65?

Jornal de Amarante

Nº508

Fig.4

10 de Agosto de 1989

A tal cota 65 Jornal de Amarante

Nº517

Fig.5

11 de Janeiro de 1990

A Morte gradual da linha do vale do Tâmega

Jornal de Amarante

Nº540

Fig.6

22 de Agosto de 1991

Rio Tâmega passa a ter quem o defenda

Jornal de Amarante

Nº620

Fig.7

12 de setembro de 1991

Movimento cívico e ecológico "os amigos do

rio"

Jornal de Amarante

Nº623

Fig.8

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A linha do Tâmega,

“As questões do seu encerramento, estudo de caso da importância da linha em

Mondim de Basto”

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proximidade á população nas suas preocupações futuras de

desenvolvimento da região com estas alterações. Tal como

podemos ver nas notícias de 1988 a base das preocupações começa

na inquietação da informação das mudanças estruturais na região

(anexo fig.1) e naquilo que são as preocupações da câmara

municipal e das decisões governamentais (anexo fig.2), pois as

populações visadas directa e indirectamente com o aumento da

cota do rio e consequente desactivação da linha, continuam e cada

vez mais protestam contra esta decisão. Nas noticias de 1989 a

polémica continua e aumenta pois a barragem e desactivação da

linha estavam cada vez mais eminentes e os protestos não surtiam

efeitos(anexo fig.3). A necessidade de estudo de impacto do

aumento da cota surge com mais intensidade a ponto de se pensar

em referendar (anexo fig.4) a situação, mas esse facto não foi

consumado ,devido as fortes críticas ao futuro da barragem já

construída pois o referendo não iria alterar o projecto já

consumado (anexofig.5). Em 1990 assistimos a consumação do

facto e à consequente morte gradual da linha do vale do Tâmega

(fig.6) como tinha sido refiro pela população durante toda a luta

contra a alteração da cota. Em 1991 o rio Tâmega passa a ter uma

organização que o defende (anexo fig.6) através do movimento

”amigos do rio” onde salvaguarda conjuntamente a c da linha do

Tâmega (anexo fig.7).

A desactivação da linha do Tâmega (no troço delimitado por

Amarante e Arco de Baúlhe) ao serviço de passageiros e

mercadorias, contribuiu essencialmente para o aumento da

clivagem entre o litoral e a Região de Basto e Baixo Tâmega, sendo

o comboio imprescindível para o desenvolvimento económico,

cultural e social desta região que pela sua dimensão, localização

geográfica e índice de cobertura das populações interiores pela

rede rodoviária, carece de melhores e maiores vias e meios de

comunicação. Deste modo em 1 de Janeiro de 1990 foram

restabelecidos fortes desequilíbrios e assimetrias que desde

meados do século não existiam; único lucro sobrou para as

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A linha do Tâmega,

“As questões do seu encerramento, estudo de caso da importância da linha em

Mondim de Basto”

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empresas de autocarros que receberam um universo de passageiros

que outrora pertenceu ao comboio.

4.2- Situação actual da linha do Tâmega

Apesar, de vários projectos que envolveram a linha do

Tâmega, o que deparamos é que apenas alguns aspectos foram

aplicados ao longo da linha.

O Governo exigiu que se fizem obras entre Livração e

Amarante há dois anos (2009) e argumentou que estas obras se

deviam devido a questões de segurança da linha, garantindo que o

comboio iria regressar até ao final de 2010, o que não se veio a

verificar.

De Livração a Amarante foram levantadas todas as linhas

existentes, sendo vendidas às sucatas, existindo apenas as linhas

onde há a passagem de automóveis.

O povo criticou e passou a deixar de acreditar que a linha

venha novamente a entrar em funcionamento.

Ao questionar a população em relação ao futuro regresso

do comboio entre Livração e Amarante, houve varias respostas,

como: “ Já não há linha, quanto mais comboio!”; “ Acha? Da

maneira que isto está já não voltam”.

O transporte alternativo entre Livração e Amarante é por

autocarro( fig.11), mas o contrato termina a 31 de Março de 2011 e

a população junto ao rio Tâmega ficara sem comboio e sem

autocarro. Mas entretanto a CP garantiu a continuação do

transporte alternativo.

Ilustração 11, Horário autocarros disponibilizado

pela CP, como alternativa ao encerramento entre

o troço de Livração e Amarante

Fonte: Grupo de trabalho

Page 26: A linha do Tâmega

A linha do Tâmega,

“As questões do seu encerramento, estudo de caso da importância da linha em

Mondim de Basto”

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5- Apreciação das Potencialidades Turísticas da

Região

5.1- Património cultural

Por toda a região são numerosas as festas, feiras e romarias

ao longo de todo o ano, e que se revestem de um carácter quer

religioso, quer profano. Algumas são notáveis quer pela gala de que

se revestem, quer pela riqueza de tradições que perpetuam.

Também servem, embora actualmente em menor escala, para a

comercialização dos produtos agrícolas e, sobretudo, de animais.

O artesanato, meio de expressão cultural popular, encontra-

se espalhado por toda a região, constituindo ainda hoje, um factor

de trabalho produtivo ligado às restantes actividades.

É de destacar a tecelagem e os bordados em linho, os

trabalhos em lã, as mantas e tapetes de trapos e a cestaria, em

verga e vime.

O folclore da região ainda testemunha os usos e costumes

da vida rural.

Faz-se representar maioritariamente por ranchos folclóricos,

tunas, fanfarras e jogos populares.

Artesanato da região:

Tanoaria,

Carpintaria,

Marroquinaria,

Tecelagem de lã, linho, algodão e estopa

Cestaria em verga e vime

Cerâmica decorativa e utilitária.

Bordados em linho, estopa e veludo

Ferro forjado

Trabalho em madeira, couro e colmo

Chapéus de palha

Mantas de farrapos

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A linha do Tâmega,

“As questões do seu encerramento, estudo de caso da importância da linha em

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5.2- Património paisagístico

A região do vale do Tâmega tem uma aptidão rara no que

respeita á paisagem e ambiente natural, que resulta da diversidade

geomorfológica e climática desta unidade territorial.

Como divisão entre o Minho e Trás-os-Montes, a região do

Vale do Tâmega, inclusive Mondim de Basto, apresenta

características de ambos: as paisagens imponentes da montanha e

dos vales profundos e um manto de verde que recobre os montes e

deixa entrever uma rede densa de cursos de água puros que

permitem a prática de pesca e proporcionam espaços de lazer

privilegiados.

As margens do rio Tâmega e de outros rios que aqui correm,

evidenciam boas potencialidades como praias fluviais, sendo uma

opção para férias longe do litoral.

5.3- Alojamentos

Existem diversas possibilidades de alojamento na região

como sejam: pousadas, pensões, hotéis, residenciais e unidades de

turismo em espaço rural.

Estas ultimas merecem um especial destaque, não só pela sua

inovação, como pela vivência que proporciona aos turistas.

5.4- Turismo em Espaço Rural e o Desenvolvimento Local

“ Desde o anos 50, em numerosos países do Norte e do

Centro da Europa, e certamente desde os anos 70 nos países do Sul,

o turismo em espaço rural é considerado uma estratégia com

futuro, uma vez que contribui para a fixação da população, a

criação de emprego e, sem dúvida, a promoção do

desenvolvimento socioeconómico das zonas desfavorecidas”(

Requena e Avilés ).

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A linha do Tâmega,

“As questões do seu encerramento, estudo de caso da importância da linha em

Mondim de Basto”

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Além disso, o turismo em espaço rural esbate as

distribuições sazonais e geográficas da actividade turística,

diversifica a ocupação no território e a actividade económica do

espaço rural ( Setas, 1991).

Esta actividade constitui uma fonte de rendimentos

adicional para os agricultores que permite fazer face á crise dos

sistemas agrícolas e das sociedades rurais.

O Turismo em Espaço Rural “ permite recuperar a

agricultura mais antiquada, e ocupar a tempo parcial, nos serviços

decorrentes da actividade turística, habitantes idosos, mulheres e

membros sub-empregados.

Constitui um incentivo á preservação dos valores culturais,

etnográficos e ambientais da região.

“ Por outro lado, nas infra-estruturas e equipamentos, pode

representar, ganhos significativos de eficiência, portanto as infra-

estruturas e os equipamentos a criar terão maior numero de

utilizadores, turistas e residentes, pois a existência destes bens,

representa uma melhoria das condições locais no bem-estar das

populações e no usufruto dos mesmos para seu próprio prazer e

recreio” ( Setas, 1991)

O Turismo em Espaço Rural pode também trazer alguns

prejuízos á população local e tornar mais precária a situação da

agricultura local, se propiciar o aumento dos terrenos no mercado

fundiário, antecipar a venda da terra, conduzindo-a mais facilmente

á venda e ao abandono por parte dos agricultores, ou, inutilizando

terras cultiváveis, em actividades não agrícolas, promovendo o

parcelamento para novas construções, entre outros.

Pode ambientar mão-de-obra noutra actividade, afastando-a

da agricultura, ou exigir a semi-profissionalização na actividade

turística, ou gerar novos empregos que originem uma população

extra, estranha, e estranha, ao meio local.

Page 29: A linha do Tâmega

A linha do Tâmega,

“As questões do seu encerramento, estudo de caso da importância da linha em

Mondim de Basto”

2011

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Pode afastar a possibilidade de êxito, deste Turismo em

Espaço Rural, a importação de outros produtos sem qualidade e/ou

concorrentes, a industrialização ou a excessiva terciarização, a

massificação e a considerável degradação pela utilização intensa do

meio rural, ou, o acolhimento de turistas indesejáveis com

comportamentos desapropriados ou, por outro lado, a presumível

falta de formação cultural dos anfitriões” (Filipe, 1990).

5.4.1- Aproveitamento turístico de linhas de comboio encerradas

Um pouco por todo o mundo, á medida que o transporte

rodoviário ganhava importância e terreno ao transporte ferroviário,

houve linhas e troços de linhas que foram sendo encerradas.

Em consequência, surgiu a questão do que fazer com o

património que assim ficava inutilizado (estações, locomotivas,

carruagens e vias).

Em muitos países, que tem uma forte tradição ferroviária e

em que há muitos entusiastas do comboio, como o Reino Unido,

optou por entregar a exploração dessas linhas a empresas que

organizam passeios turísticos em carruagens antigas.

Em Portugal, embora não exista ema forte tradição neste

domínio, existe excelentes potencialidades para implementar este

esquema de passeios turísticos: linhas encerradas, principalmente

no Norte do país, seguem traçados por vales de rios, com paisagens

de rara beleza, e existe ainda um importante património

constituído por comboios e carruagens antigas que se encontram

guardados em vários museus ferroviários.

Por vezes a comunicação social refere projectos de

entusiastas de comboios que tentam reabrir estas linhas para fins

turísticos, mas até hoje ainda nenhum projecto foi realizado, devido

ao facto de muitas vezes à indefinição de legislação (só esclarecida

o Decreto - Lei nº116/92 que permite a exploração de linhas férreas

em regime de subconcessão) e à lentidão exasperante de todo o

processo.

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A linha do Tâmega,

“As questões do seu encerramento, estudo de caso da importância da linha em

Mondim de Basto”

2011

30

Na linha do Tâmega o caso não é muito diferente. Até hoje,

foram levadas a cabo duas tentativas para operar com comboios

turísticos a vapor nesta linha:

- em 1984, usando a locomotiva E151 e quatro carruagens

do Museu de Arco de Baúlhe e um vagão de mercadorias.

Foi publicado pela Secretaria de Estado do Turismo até

1990, como “Comboio Histórico”, mas nunca foi entusiasticamente

assumido pela CP, especialmente depois de o Salão Real ter sofrido

danos ao serviço do comboio.

- Em 1988, usando a locomotiva E163 e duas carruagens de

estrutura emaço construídas em 1931 em Itália. Nunca foi

publicitada e não conseguiu entrar em funcionamento dado que os

potenciais patrocinadores/operadores retiraram o seu interesse.

Mais recentemente, e já depois do encerramento da linha,

surgiu um novo projecto de exploração turística da linha a Ecopista.

Ilustração 12, Ecopista da linha do Tâmega em Amarante no dia da inauguração 30-04-

2011

Fonte: Grupo de Trabalho

Page 31: A linha do Tâmega

A linha do Tâmega,

“As questões do seu encerramento, estudo de caso da importância da linha em

Mondim de Basto”

2011

31

Este projecto visa reutilizar a linha do Tâmega com fins

turísticos, através de uma ciclovia.

Actualmente esta ciclovia já está em funcionamento e

compreende o troço entre Amarante e Chapa.

Futuramente serão requalificados em ecopista os troços de

Celorico de Basto e até Arco de Baúlhe.

Actualmente na ciclovia em funcionamento verifica-se que o

património da CP que compreende as estações e os apeadeiros

estão em mau estado de conservação, como já foi referido

anteriormente.

É necessária uma requalificação destes espaço, pois o turista

que utilize esta ecopista, ao fim de alguns quilómetros verifica uma

paisagem embebida pela vegetação e pelo mau estado de

conservação das estações.

Ilustração 13, Na Ecopista junto à estação de comboios de Gatão.

fonte: Grupo de Trabalho

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Torna-se necessário reconverter estes espaços em espaços

atractivos.

6- Proposta de intervenção em Mondim de Basto

Depois de uma análise à situação da linha do Tâmega e de

uma análise dos concelhos que englobam, surge a ideia em

intervir no espaço, nomeadamente na estação de Mondim de

Basto de forma a requalificar este lugar.

Este projecto tem como principais objectivo a recuperação

e conservação de património importante da CP.

É importante referir que este projecto só fará sentido se

em todas as estações que compreenderem a extensão da linha do

Tâmega todo o património for requalificado e hajam parcerias e

acordos entre os autarcas locais e a CP para a promoção desta

“marca” territorial.

O projecto passa também por dinamizar as atracções

turísticas dos territórios que englobam a linha.

Em Mondim a nossa proposta passa por prosseguir com a

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ecopista e reestruturar a estação como um Posto de turismo na

vertente da restauração (restaurante tradicional).

Neste local, poder-se-ia ter à disposição produtos e

artesanato tradicionais, com o intuito de aguçar o apetite dos

turistas/visitantes, de modo a que estes sintam a vontade de os

comprar e experimentar.

A divulgação dos pontos turísticos do concelho torna-se

importante, de forma a criar uma dinâmica atractiva na Região.

Mondim de Basto tem pontos turísticos como a Sra da

Graça, as Fisgas, o Parque Natural do Alvão (PNA) e algumas aldeias

recuperadas como por exemplo a aldeia de Travassos na freguesia

do Bilhó. (ver mapa no anexo 5 da pagina 47)

O Concelho dispões de produtos típicos como o mel, e a sua

gastronomia passa pelos enchidos, o vinho verde também é um

forte nesta região.

Embora a estação, como já foi referido anteriormente,

esteja localizada no concelho de Celorico de Basto, importa divulgar

as potencialidades turísticas do concelho que lhe dá o nome.

O conceito desta intervenção passa pela deslocação por

bicicleta dos turistas/visitantes e por exemplo na estação de

Mondim de Basto existir um autocarro vocacionado para os

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transportar até aos pontos turísticos de interesse neste concelho de

forma a estes os poderem visitar.

Podem tambem ser impelmentados inventos, como por

exemplo “A caminhada pela ecopista do Tâmega”, a “Maratona

fotográfica na linha do Tâmega” e tambem “ Pedalando pela linha

do Tâmega”, com o intuito de promover a utilização da ecopista e a

visitação destes locais, de forma tornar rentável tal projecto.

Existe ainda a possibilidade de prática desportiva com o ”

turismo activo”, como por exemplo o montanhismo e o “ turismo

Ecológico”, através da canoagem, da pesca e da caça.

Convém referir que se encontra no CD em , a visualização

em 3D da proposta de intervenção na estação de Mondim de

Basto.

Por fim podemos ainda referir que as restantes estações

poderiam ser requalificadas como por exemplo em pousadas e

tambem de casas de férias.

A paisagem e a tranquilidade destas areas é um dos pontos

mais fortes desta região e os projectos poderiam passar por estas

actividades de forma a criar uma certa atractividade.

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7- Considerações finais

A região apresenta boas potencialidades e bons atractivos

turísticos, tanto do ponto de vista do património existente como

pela vivencia cultural que pode proporcionar a quem a visita.

Para o visitante que não procura especializar-se a

dificuldade reside na escolha e na provável falta de tempo para

visitar todos os pontos de interesse desta região.

A região apresenta alguns problemas com algumas infra-

estruturas que poderão ofuscar a imagem positiva criada pela

riqueza do seu património, principalmente no que respeita às

acessibilidades. Tirando a cidade de Amarante e de Marco de

Canaveses, servidas por Auto-estradas, boas estradas Nacionais ou

comboio, toda a restante região se encontra gravemente

carenciada neste aspecto principalmente devido ao estado de

conservação das estradas e ao seu traçado sinuoso. Esta situação

agrava-se à medida que se caminha para norte, para a áreas mais

montanhosa, e quando nos afastamos das sedes de conselho,

havendo populações que só se encontram servidas por estradas

florestais, de difícil transição no Inverno.

Esta situação poderá afastar potenciais visitantes a lugares que

devido ao seu isolamento melhor preservam as suas características

próprias.

Existem igualmente problemas a nível de abastecimento

público de água ao domicílio, recorrendo-se em alternativa a

sistemas particulares de abastecimento ou, na ausência destes a

fontanários e fontes públicas. Torna-se assim mais difícil o

fornecimento deste serviço com o mínimo de qualidade ao visitante

e pode mesmo levantar problemas a particulares interessados em

converter as suas habitações em unidades de turismo em espaço

rural.

O projecto de reactivação da linha do Tâmega para fins

turísticos aparenta trazer vários benefícios para a região envolvida,

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nomeadamente o afluxo de turistas interessados mais

especificamente na temática ferroviária, mas que poderão acabar

por ficar para conhecer melhor o resto da região, se esta for

devidamente promovida pelas câmaras e pela empresa que

explorará a linha.

Este aumento actividade turística poderá trazer

compensações a uma região cuja população está empregada

maioritariamente na agricultura, câmara e serviços públicos e cujas

quebras de rendimento tem sido uma das causas êxodo de

população em direcção a cidades mais próximas (Amarante, que

tem registado um aumento demográfico) ou ao litoral. A

possibilidade de requalificação da linha para ecopista vem fornecer

às populações uma alternativa de atracção de população e

aproveitamento turístico, gerando um certo desenvolvimento

económico que sempre foi desejado, desde o encerramento da

linha em 1990.

Assim conclui-se que a região tem inúmeras potencialidades

e as carências verificadas a nível de algumas infra-estruturas não

irão com certeza diminuir o valor desta região; a aposta no turismo

servirá como incentivo à solução de alguns desse problema,

melhorando-se assim a qualidade de vida das populações

envolvidas.

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“As questões do seu encerramento, estudo de caso da importância da linha em

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Bibliografia

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transportes em Portugal (1850-1910): As vias e o tráfego.”

Centro de estudos Geográficos, Lisboa.

• Análise Social, vol. XXIV (101-102), 1988 (2.°-3.°), Alegria, Maria Fernanda, “Análise geográfica do transporte de mercadorias nos caminhos-de-ferro portugueses no século XIX”, 1988, pp 769-803

• COGEPRO, Concepção e Gestão de Projectos de Arquitectura

e Engenharia lda, (1993), Plano Director Municipal de

Cabeceiras de Bastos

• Direcção – Geral do turismo (1995). Desdobrável

• Filipe, Jorge Luís (1990). Turismo no espaço Rural. Técnicas e

Equipamentos Municipais.

• Gomes, Sérgio Filipe Rodrigues, (2005), Seminário “

Recuperação da Linha do Tâmega, um exemplo em

Corredores Verdes, Universidade do Minho, Licenciatura em

Geografia e Planeamento.

• INE, (1991). III Recenseamento Geral de Habitação

• INE, (1960, 1970, 1981, 1991, 2001), Recenseamento Geral

da População, Lisboa

• IST (2004), FASE II - Projecção Demográfica e Procura de Ensino

da Câmara Municipal de Mondim de Basto

• Lima, Carlos Frias, (2000), “Pequena História dos Caminhos-de-Ferro em Portugal”

• Matoso, J., (1993), História de Portugal, Volumes I, V, VI, VII,

__Circulo de Leitores, Lisboa

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“As questões do seu encerramento, estudo de caso da importância da linha em

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• Requema, Javier Calatrava; Avilés, Pedro Ruiz (1993). Uma

oportunidade para as zonas rurais desfavorecidas? Leader

Magazine nº 4 Outono de 1993

• Serrão, Prof. Joel, (1996) “O Caminho-de-ferro Revisitado”,

Breve introdução à história dos caminhos de ferro e Portugal

- vários, ED. CP, Lisboa.

• WEBSITES

http://www.ocomboio.net/PDF/cronica-linha-amputada-josecandido.pdf (Visitado em 09-04-2011)

http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/artigo1831.PDF (Visitado em 09-04-2011)

http://www.jornalobasto.com/arquivo.php (Visitado em 09-04-2011)

http://linhadotamega.no.sapo.pt/cartaaberta.htm (Visitado em 11-05-2011)

http://www.mondimonline.bruno-ferreira.com/index.php?option=com_content&view=category&id=46&Itemid=66 (Visitado em 11-05-

2011)

http://municipio.mondimdebasto.pt/images/stories/educacao/fase%20ii.pdf (Visitado em 11-05-2011)

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ANEXOS

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Anexo 1 – Noticias do jornal de Amarante do

ano de 1988 (fig.1 e fig.2)

Figura 1 "É PRECISO AVISAR TODA A GENTE”, Fonte: Jornal de Amarante nº 469

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Figura 2, “Barragem do Torrão”, Fonte: Jornal de Amarante nº472

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Anexo 2 – Noticias do jornal de Amarante do ano de 1989 (fig.3, 4 e 5)

Figura 3, “Linha do Vale do Tâmega, A polémica continua e os protestos aumentam”, Fonte: Jornal de Amarante nº498

Ilustração 14, “Albufeira do Torrão, Câmara Municipal referenda cota 65”, Fonte: Jornal de Amarante nº508

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Figura 5,” A tal cota 65”, Fonte: Jornal de Amarante nº 517

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Anexo 3 – Noticias do jornal de Amarante do

ano de 1990 (fig.6)

Figura 6, “A morte gradual da linha do Vale do Tâmega”, Fonte: Jornal de Amarante nº 540

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Anexo 4 – Noticias do jornal de Amarante do ano de 1991 (fig.7 e 8)

Figura 8, “ Movimento Cívico e Ecológico “Amigos do rio”, Fonte: Jornal de Amarante nº 623

Figura 7, “ Rio Tâmega passa a ter quem o defenda”, Fonte: Jornal de Amarante nº 620

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Anexo 5- Mapa dos pontos Turísticos do Concelho de Mondim de Basto

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Anexo 6- Algumas fotos tiradas pelo grupo de trabalho

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rio ri Rio Tâmega, ponto privilegiado para a pesca desportiva

Fonte: grupo de Trabalho

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Mondim de Basto no sopé da Nossa Senhora da Graça

F Fonte: Grupo de Trabalho

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Autocarro da RODONORTE - alternativa pública ao comboio da Linha do Tâmega

Fonte: Grupo de Trabaho

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Estação de Arco de Baúlhe

Fonte: Grupo de trabalho

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Centro de Emprego de Basto, na antiga estação de Arco de Baúlhe

F Fonte: Grupo de Trabalho

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Anexo 7- CD com o Documentário e a visualização em 3D da proposta de intervenção