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A LINHA ALÉM DA EXPRESSÃO GRÁFICA
Andréa Meneghetti Zatta
SENAI, Departamento Têxtil e Vestuário
Marizilda dos Santos Menezes
UNESP, Departamento de Design
Resumo
Com o avanço dos programas informatizados e os novos processos de
concepção da modelagem verificou-se que existe uma contribuição
significativa da expressão gráfica nesses processos, onde a expressão da
linha como forma gráfica transcende o traço, proporcionando um resultado
factível no produto de moda. Esse resultado é demonstrado por meio de
novas técnicas de modelagem realizadas por designers e pela qualidade
métrica dos moldes realizado por um sistema de modelagem conectado ao
CorelDraw denominado MEG.
Palavras-chave: modelagem, design, moda, expressão gráfica
Abstract
With the advancement of computer programs and new design processes
modeling showed that there is a significant contribution of these processes
graphic expression where the expression graphically as the line goes
beyond the stroke, providing a result of the product feasible fashion. This
result is demonstrated by means of new modeling techniques performed by
designers and quality metric of molds carried by a modeling system called
MEG connected to CorelDraw.
Keywords: modeling, design, fashion, graphic expression
1 Introdução
O artigo demonstra o avanço da complexidade gráfica na modelagem
e o resultado dessa complexidade no produto final por meio de novas
técnicas de desenvolvimento do produto representada por novos
designers. Discute ainda como a informática pode auxiliar visualmente na
determinação da qualidade métrica da modelagem.
A relação existente tanto na complexidade gráfica, quanto na
qualidade métrica é fundamental devido a função da linha, que além de
existir como uma representação gráfica determina um volume, uma curva
determina o caimento, milímetros são responsáveis por diferenças
significativas em uma peça de roupa.
A pesquisa foi realizada em sua maioria por meio do uso da internet,
devido ao assunto estar desenvolvendo-se em outros países e por não
haver bibliografia escrita sobre o assunto.
O resultado da qualidade métrica foi extraído do projeto Plug-in de
Modelagem Informatizada conectado ao Corel Draw aprovado através do
edital MCT/CNPq/FNDCT nº 65/2009 - Entidades Setoriais de Apoio a
PD&I nas Empresas do CNPQ em parceria com o SENAI LONDRINA e foi
desenvolvido no período de 2011 a 2013.
Os resultados da pesquisa foram estimulantes e inovadores sobre o
ponto de vista do pensamento gráfico o qual geralmente não é encarado
como importante no processo de construção do molde. Entretanto, se for
questionado na concepção do produto pode ser visto como uma
interferência do design impactando positivamente o resultado final.
2 A Modelagem e a linha em seu contorno
A técnica da modelagem surgiu no período Paleolítico quando o ser
humano descobriu o curtimento das peles e a agulha de osso. Laver
(1996) afirma que essas descobertas permitiram que as peles fossem
cortadas e moldadas no corpo.
A forma tridimensional corpórea deve ser recoberta por uma
superfície plana, que para tanto precisa ser modelada. Surge dai a
necessidade de parâmetros, para que o profissional da área de moda
desenvolva as peças que se encaixem de maneira adequada no perfil
físico dos usuários que irão adquiri-las (CAPELASSI, 2010).
As linhas do corpo que detém algumas proporções fundamentais
foram determinadas inicialmente no ano de 1500 por Leonardo da Vinci,
conforme Figura1. Tais linhas continuam sendo referencia para o estudo
do corpo, mesmo com o advento das normas internacionais, no Brasil da
ABNT - (Associação Brasileira de Normas Técnicas) que determinam
tabela de medidas do corpo para nortear as empresas de confecção na
construção dos modelos.
Figura1: Homem Vitruviano
Fonte: http://fabianaeaarte.blogspot.com.br/2011/03/figura-humana.html
Além das linhas do contorno corporal encontra-se uma segunda linha
que é a do molde da peça, que nem sempre acompanha o mesmo
desenho. Criando uma linha imaginaria que envolve o corpo, configura-o
diferentemente em função do volume, franzido, ajustado, pregueado. Essa
linha será o objeto de estudo neste artigo, pois é nela, por meio da
expressão gráfica que se conseguiu enxergar onde o design pode ser
inserido.
3 Técnicas de criação e modelagem e seus aspectos gráficos
A modelagem da roupa em toda sua história é etapa principal no
desenvolvimento do produto, ficando para ela a responsabilidade de vestir
bem o individuo.
Para o traçado da modelagem sempre se utilizou instrumentos de
desenho técnico como a régua, esquadros, fita métrica, curva francesa,
entre outros, respeitando as medidas estabelecidas pelo tamanho do
individuo (por exemplo, 38, 40, 42,44...).
Atualmente esse cenário se transformou em um traçado informatizado
que proporcionou o avanço na qualidade, e maior fidelidade nas medidas e
qualidade final do produto. Além dessas novas ferramentas informatizadas
existem novas técnicas de pensar a modelagem que possibilitam uma
experimentação em criatividade, forma e consequentemente um resultado
gráfico mais complexo , que é um dos aspectos objetivados nesse artigo.
Os resultados gráficos podem ser vistos na apresentação de
algumas técnicas descritas a seguir:
3.1 Substraction Cutting
A primeira técnica a ser considerada é a Substraction Cutting,
método que vem sendo desenvolvido pelo designer Julian Roberts desde
1999. O molde é representado como um espaço negativo, ou seja, espaço
que será subtraído do tecido. Esse método privilegia a intuição em
detrimento de proporções padronizadas, muitas vezes usando o próprio
corpo como unidade de medida. Formas e volumes são criados a partir de
um pedaço único de tecido dobrado.
A representação gráfica e o resultado da peça costurada desse
estudo podem ser observados nas figuras 2, 3 e 4, onde na figura 2 é o
principio do método que exemplifica a planificação começando pela figura
geométrica do cubo para a imagem de uma peça de roupa (camiseta). A
figura 3 é a planificação de um vestido, onde foi colocado as duas partes
frente e costas (dentro do circulo laranja) e os círculos menores serão as
interferências de corte para criar os volumes de dobras da saia. A figura 4
é a representação da peça costurada com as diversas possibilidades de
volumes.
Figura 2: Princípio do Substraction Cutting
Fonte: www.natalie-martin.blogspot.com
Figura 4: Imagem do vestido costurado
Fonte: www.dipatamang.blogspot.com
3.2 Zero Waste
No segundo estudo denominado como Zero Waste (desperdício zero),
Onde na figura 5, se pode verificar o plano de corte de uma blusa de
moletom, onde todos os pedaços são utilizados na montagem da peça,
não há sobras de tecido. Todos os pedaços são encaixados criando uma
nova identidade gráfica que valoriza a sustentabilidade.
Figura 5: Modelagem agasalho
Fonte: http://www.centerforpatterndesign.com/blogs/news/5729592-zero-waste-design
3.3 Minimal Seam
No terceiro caso estudado, do designer David Telfer, o objetivo é reduzir o
número de costuras (Minimal seam) em uma só peça, contribuindo para a
redução do tempo de processo e consequentemente contribuindo para a
sustentabilidade.
Figura6: Molde de camisa
Fonte: http://davidtelfer.co.uk/.
3.4 Holly Mcquillan
A Figura 7 mostra o desenho com a palavra escolhida, a escrita
gráfica é à base da elaboração dos moldes. Na figura 8 e 9 são realizados
estudos na busca de criar um esquema simplificado da palavra.
A figura 10 a palavra simplificada é recortada em tecido e finalmente
tem-se o modelo confeccionado.
Figura 7: Estudo da escrita
Fonte: http://hollymcquillan.com/
Figura 8 e 9: Estudo da escrita simplificada
Fonte: http://hollymcquillan.com/
Figura 10: Peça confeccionada
Fonte: http://hollymcquillan.com/
Em todos os processos exemplificados verifica-se a importância do
papel da linha desenhada que se tornou o limite entre dois moldes. Os
esquemas de modelagem tornaram-se muito mais complexos, onde
geralmente eram compostos por partes distintas, como por exemplo frente,
costas e manga, agora são compreendidos por um só molde que
incorpora todas as partes com recortes diferenciados , resultando em uma
nova forma não tem mais nenhuma relação com a forma do corpo.
3.1 Qualidade métrica dos moldes - Estudo de Caso
Nos estudos apresentados conseguiu-se visualizar onde a
representação gráfica se aplica e quais os conceitos intrínsecos a ela que
podem contribuir para suscitar novas ideias e aplicações. Dentro desse
conceito, a modelagem informatizada pode contribuir para a qualidade
métrica dos moldes, que é fator importante para a qualidade final do
produto e consequentemente a maior competitividade das empresas no
mercado.
No projeto denominado MEG (Modelagem, encaixe e gestão)
desenvolvido pelo SENAI Londrina e CNPq onde o objetivo foi desenvolver
um sistema de modelagem conectado ao Corel draw foram realizadas a
construção dos moldes utilizando as novas ferramentas desenvolvidas a
fim de testá-las nos aspectos funcionais e de usabilidade e como resultado
verificar a qualidade métrica por meio da comparação com os mesmos
moldes realizados através da digitalização.
Foram selecionadas empresas que trabalham em segmentos
diferenciados, são consideradas de pequeno porte e atendem o varejo e
trabalham com representação da marca. Não possuem software
informatizado de modelagem, mas trabalham com o Corel Draw para o
desenvolvimento de ficha técnica.
Neste artigo será mostrado o resultado da primeira Empresa que
produz o segmento de lingerie e moda praia, trabalhando
preferencialmente com tecidos de malha com elasticidade;
A Figura 11 apresenta dois moldes sobrepostos e exemplifica o
tratamento que foi aplicado a todos os moldes. O desenho na cor preta
representa o molde digitalizado e o na cor azul, o molde redesenhado. O
fio e o nome foram retirados para melhor visualização.
Figura 11: Molde de bojo em imagem capturada pelo programa Corel Draw.
Fonte: Elaborado pela equipe do projeto
A tabela 1 abaixo se refere às diferenças de medidas conferidas
entre os moldes digitalizados e replicados.
Tabela1: Diferença em porcentagem entre os moldes digitalizados e replicados.
Modelo Parte Perímetro (cm)
Molde original
Perímetro (cm)
Molde replicado
Diferença
(cm)
Diferença
(%)
Nadador Costas 115,8 114,9 0,90 0,008
Bojo 50,7 50,6 0,10 0,002
Centro* 25,3 24,7 0,60 0,024
Frente
Única
Costas 56,8 56,7 0,10 0,002
Bojo 50,7 50,6 0,10 0,002
Centro* 25,3 24,7 0,60 0,024
Alça 66,6 67 -0,40 -0,006
Tanga Dianteiro 92,2 92,4 -0,20 -0,002
Traseiro 101,2 101,7 -0,50 -0,005
Fundo 34,4 34,6 -0,20 -0,006
String Dianteiro 46,8 46,9 -0,10 -0,002
Traseiro 58,1 58,2 -0,10 -0,002
Fundo 34,4 34,6 -0,20 -0,006
Tanga-
lateral
franzida
Dianteiro 46,4 46,4 0,00 0,000
Traseiro 61,8 62,2 -0,40 -0,006
Fundo 39,8 40 -0,20 -0,005
Lateral 74,4 75,1 -0,70 -0,009
Diferença média 0,04 0
Fonte: Elaborado pela equipe do projeto
Os maiores desvios foram obtidos em áreas curvas, como no Modelo 1
e 2 parte centro e no Modelo 1 parte costas (diferença de 0,9 cm).
Essas diferenças não conferem nenhum defeito ao modelo, mas o fato é
que agora podem ser observadas e comparadas, concedendo o valor
reconhecido à representação gráfica na construção da modelagem.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A representação gráfica na Moda está inserida no processo de
elaboração da peça através do desenho técnico, do desenho de estilo, nos
folders, mas no caso da modelagem sempre atuou como coadjuvante.
A partir desse estudo pode-se concluir que a representação gráfica
exerce influencia no processo de concepção do produto sobre dois
aspectos:
No primeiro aspecto por meio das novas técnicas de criação que
proporcionam uma forma diferenciada no produto criando diagramas de
complexidade gráfica acentuada que mudam os paradigmas da
modelagem atual e das formas tradicionais de vestir.
O outro aspecto é demonstrado pela modelagem informatizada que
consegue demonstrar por meio de ferramentas precisas a sutileza da
diferenciação da linha visualizada pela representação gráfica com impacto
direto na qualidade métrica do produto.
Sendo assim, a representação gráfica exerce um novo papel no
processo de concepção do produto podendo ser estudada sob um novo
prisma.
Agradecimentos
Agradecimento ao SENAI Londrina e ao CNPq que proporcionaram
através do projeto aprovado a concretização de uma ideia
(MEGTECNOMODA).
Referências
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informação e documentação – citações em documentos. Rio de Janeiro,
002. 7p.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TECNICAS. NBR 6023:
Informação e Documentação – Referências – Elaboração. Rio de Janeiro,
2002.
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Bauru, 2010. Dissertação (Mestrado em Design) – Universidade Estadual
Paulista - UNESP.
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14 maio 2013.
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<http://fabianaeaarte.blogspot.com.br/2011/03/figura-humana.html>.
Acesso em: 20 abr. 2013.
LAVER, James. A roupa e a Moda. SP. Cia das letras, 1996.
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Dissertação (Mestrado) - Curso de Design, Departamento de Design,
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ZERO Waste Disponível em:
<http://www.centerforpatterndesign.com/blogs/news/5729592-zero-waste-
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