a língua de eulália - ensaio

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  • 5/24/2018 A L ngua de Eul lia - Ensaio

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    UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHO

    CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE IMPERATRIZ

    DEPARTAMENTO DE LETRAS

    FUNDAMENTOS DA LINGUSTICA

    PROF ANDR SANTOS

    SAULO LOPES DE SOUSA

    A LNGUA DE EULLIANovela so!ol!"#$%s&!a

    Imperatriz2009

    UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHO

    CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE IMPERATRIZ

    DEPARTAMENTO DE LETRAS

    FUNDAMENTOS DA LINGUSTICA

  • 5/24/2018 A L ngua de Eul lia - Ensaio

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    SAULO LOPES DE SOUSA

    A LNGUA DE EULLIA

    Novela so!ol!"#$%s&!a

    Ensaio apresentado ao Centro de Estudos Superiores de Imperatriz CESI UEMA, para o curso de Letras, habilita!o "ortu#u$s%Literatura, &epartamento de

    Letras, turno noturno, na disciplina de 'undamentos da Lin#u(stica, para aobten!o de nota)

    Imperatriz2009

    APRESENTA'O DA O(RA E AUTOR

    Ar#umenta *ue as +ariedades da nossa l(n#ua t$m suas prprias re#ras, e-plic.+eis pela histria da l(n#uaportu#uesa ou pela compara!o com l(n#uas estran#eiras) A l(n#ua de Eul.lia demonstra *ue /alar di/erente n!o /alar errado e o *ue pode parece erro no portu#u$s padr!o tem uma e-plica!o cient(/ica 1lin#(stica, histrica,sociol#ica, psicol#ica3) 4uma deliciosa e bem5humorada narrati+a, tr$s uni+ersit.rias passam /rias em Atibaia eacabam reciclando seus conhecimentos lin#(sticos com a pro/essora Irene) Uma leitura importante para *uem *ueraprender um pouco mais do nosso idioma mer#ulhando numa 6+ia#em ao pa(s da lin#(stica7)

    8 li+ro 6A l(n#ua de Eul.lia7 de autoria de Marcos a#no, nascido em Cata#uenses, Minas :erais em 2;de a#osto de ;9aneiro, em ras(lia e no =eci/e, trans/eriu5se em;99? para S!o "aulo) @ pro/essor de Lin#u(stica da Uni+ersidade de ras(lia 1Un3, doutor em L(n#ua "ortu#uesapela Uni+ersidade de S!o "aulo, mestre em Lin#(stica pela Uni+ersidade 'ederal de "ernambuco, escritor commais de 20 li+ros publicados, tradutor pro/issional de in#l$s, /ranc$s, espanhol e italiano, membro da Associa!orasileira de Lin#(stica Autor das se#uintes obras sobre l(n#ua e educa!o, amplamente adotadas nasuni+ersidades brasileirasBA Lngua de Eullia. Novela sociolingstica 5 Ed) Conte-to, ;99 1em ;0a edi!o, mais de D0)000 e-emplares+endidos3

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    BPesquisa na escola: o que , como se faz 5 Ed) Loola, ;99F 1em FG edi!o, mais de H0)000 e-emplares +endidos3BPreconceito lingstico: o que , como se faz 5 Ed) Loola, ;999 1em ;0a edi!o, mais de D0)000 e-emplares+endidos3Bramtica da Lngua Portuguesa: tradi!"o gramatical, mdia # e$clus"o social 5 Ed) Loola, 2000B "ortu#u$s ou rasileiro Um con+ite J pes*uisa 5 "ar.bola Editorial, 200; 1;a edi!o es#otada em menos de doismeses3BNorma lingstica %sele!"o e tradu!"o de te$tos de autores estrangeiros so&re a quest"o da norma' 5 Ed) Loola,200;

    RESUMO GERAL DA O(RA

    8 li+ro conta a histria de tr$s ami#as Kera, Em(lia e S(l+ia) Estudantes uni+ersit.rias *ue +!o passar as/rias em Atibaia, na ch.cara de Irene, tia de Kera) L. conhecem Eul.lia, uma empre#ada domstica *ue mora nach.cara) Ela /ala um portu#u$s di/erente do das meninas e elas acham en#raado os 6erros7 #ramaticais cometidospor Eul.lia) Ent!o, Irene pro/essora de L(n#ua "ortu#uesa, n!o acha nada en#raadas as chacotas das meninas eaceita dar umas 6aulas7 a elas e mostra *ue o *ue a Eul.lia /ala n!o s!o 6erros7, mas uma +aria!o lin#(stica doportu#u$s) Um portu#u$s di/erente)

    4este li+ro, Marcos a#no aborda a l(n#ua portu#uesa com uma outra +is!o a /im de e-terminar os mitos*ue assombram o ensino da nossa l(n#ua) Uma cultura errada *ue se criou) Ele mostra de uma maneira clara ecient(/ica *ue n!o h. nada de errado 1ou en#raado3 na lin#ua#em de pessoas menos /a+orecidas por uma educa!ode/iciente e um #o+erno ap.tico e%ou n!o ti+eram oportunidades de estudar e, sim, +ariaes lin#(sticas) "araisso, ele +ai buscar respostas e e-emplos na histria do portu#u$s, l(n#uas ori#in.rias do latim e outras mais,comparando5as e nos mostrando *ue /enmenos semelhantes acontecem com todas elas) A l(n#ua e+oluiu e o *ue/oi 6errado7 um dia o 6certo7 de hoNe) =e+elando5nos *ue por tr.s desses /alares h. #randes conhecimentos e setornam preciosas poesias nas m!os de nossos compositores e poetas)

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    COMENTRIOS FUNDAMENTADOS

    A )e#a*a

    Or$s uni+ersit.rias, Kera, S(l+ia e Em(lia, dei-am a cidade de S!o "aulo e +!o passar suas /rias em Atibaia,na ch.cara da tia de Kera, a pro/essora doutora aposentada Irene, muito renomada e conhecida) (Vera): [...] L nafaculdade, quando comento com os professores que sou sobrinha de Irene ma!!io, todos se desdobram em elo!ios. "la #muito respeitada.$ %!. &&.

    Ao che#arem J rodo+i.ria de Atibaia, encontram Pn#elo, um ta-ista *ue as a#uarda+a) (Vera): %e!amos umt'i. ais e'atamente o t'i do n!elo, que de*e estar esperando a !ente.$ %!. +. Ele /ilho de Eul.lia, 6empre#ada7 e#rande ami#a de Irene) 4o caminho at a ch.cara, os *uatros +!o con+ersando sobre a tia Irene e sobre Eul.liaa*uela estudiosa e sempre e pes*uisando ou produzindo al#um trabalho na .rea de sua /orma!o e esta simples eprestati+a nos a/azeres da ch.cara)

    +$e, -! *e .$/0Um almoo as espera+a, lo#o *ue che#aram J ch.cara de Irene) &epois de des/rutarem do 6ban*uete7, as

    *uatro, Kera, S(l+ia, Em(lia e Irene, saem para passear pelo Nardim) Ao tecerem elo#ios ao Nardim, Irene lo#oesclarece *ue a /eitora de tamanho deslumbre Eul.lia, *ue tambm ha+ia preparado o almoo) S(l+ia, ao sentaremtodas no banco de madeiro no Nardim, comenta sua conten!o em rir das /rases ditas por Eul.lia no almoo) EEm(lia completa, pro/erindo as /alas ditas ("m-lia): "la disse os probrema/, os f0sfo/, m1io in!r2s/...$. %!. &3.S(l+ia e Em(lia riem do 6portu#u$s7 mani/estado por Eul.lia)

    Irene, ao ou+ir as duas No+ens ridicularizarem o /alar de Eul.lia, conser+a5se seria e, subitamente, asreprime (Irene): 4r tu chi se/, 5he *uoi sedere a scrama6 %er !iudicar da lun!i ille mi!lia,6 5om La *eduta corta d/umaspanna7$ %!. &3) As tr$s moas /icam surpresas e caladas) Irene *uestiona se elas n!o rir!o do *ue ha+ia dito)Em(lia con/essa *ue n!o ri do *ue n!o entende) ("m-lia): [...] por que de*er-amos rir7 "u n8o posso achar !ra9a naquiloque n8o entendo.$ %!. &3. Irene no+amente interro#a (Irene): " por que n8o entendem7$ %!. &3. As #arotas a/irmam*ue se trata de uma outra l(n#ua, uma l(n#ua di/erente) E atra+s desta a/irma!o, Irene de/ende a 6l(n#ua7 deEul.lia e mostra *ue ela n!o errada e nem en#raada) (Irene): fala de "ullia n8o # errada: # diferente. oportu!u2s de uma classe social diferente da nossa, s0 isso.$ %!. &;.

    A partir desta a/irma!o, as *uatro combinam de se encontrarem toda noite na sala, ao p da lareira een+oltas a cobertores, para con+ersarem sobre a *uest!o le+antada)

    +$e l%"#$a 1 essa0

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    O ,!&o&iz5 se *ue no rasil a l(n#ua /alada o 6"ortu#u$s7) (Irene): [...] eninas, na tradi98o de ensino da l-n!ua

    portu!uesa no

    To*a l%"#$a va-!aE-istem +.rios /atores *ue di/erenciam uma l(n#ua da outra) E-) 8 modo de /alar do brasileiro e o modo de

    /alar do "ortu#u$s)Oemos al#umas di/erenas

    ()E*EN+A -*A(LE(* P*/0102@4=AI5

    (pronBncia dos sons)"u sei$ "u sCi$

    DI=AEAI5(or!aniFa98o das frases,ora9Ges)

    "stou falando com *oc2$ "stou a falar consi!o$

    L"HI5ID(pala*ras e'istentes na l-n!ua) 5aipira, capiau, matuto$ Daloio$ (habitante da Fona rural)D"=AI5D

    (si!nificado das pala*ras)5alcinha$ 5uecas$

    Quadro resumido do li+ro) ".#) ;9

    Oemos di/erenas em menor #rau do prprio portu#u$s /alado no 4orte54ordeste do rasil e o /alado noCentro5Sul e at dentro do Centro e-istem +ariedades *ue denominamos +ariedades #eo#r./icas)(Irene): "ssas eoutras diferen9as tamb#m e'istem, em menor !rau, entre o portu!u2s falado no =orte =ordeste do

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    lin!u-sticos suficientes para desempenhar sua fun98o de *e-culo de comunica98o, de e'press8o e de intera98o entre sereshumanos.$ %!. J;.

    4o e-emplo da It.lia, a l(n#ua chamada de italiano pro+m de re#i!o chamada Ooscana, de #randeimportTncia e in/luencia ao lon#o do tempo) L. se situa+a a cidade de 'lorena, a capital, e um dos ncleosrenascentistas, onde os #$nios art(sticos e liter.rios da poca a/loraram) Assim, as obras primas da literaturamundial /oram produzidas nesta l(n#ua Ki*ina 5om#dia 1&ante Ali#hieri3,%oesias 1"etrarca3, 4 Kecamer8o1oc.cio3) Alem disso, Ooscana possu(a uma moeda poderosa, o /lorim, de #rande in/luencia no mercado etransaes internacionais) Com tanto presti#io, o toscano /oi, aos poucos, /irmando5se como a l(n#ua o/icial da

    It.lia)

    D!ale&osS!o dialetos as +ariedades de outras re#ies como a nordestina, o chamado /alar de caipira, da re#i!o Sul5

    Sudeste *ue inclui o interior do "aran., de S!o "aulo, marcado pelo R caipira 1o Rretro/le-o, na transcri!o/ontica3)

    8 portu#u$s /ormal empre#ado pelas classes sociais pri+ile#iadas residentes no triTn#ulo /ormado pelascidades de S!o "aulo, =io de >aneiro e elo orizonte 1de+ido sua importTncia econmico5pol(tico e cultural3 *uecomeou a ser considerado modelo a ser imitado, a norma a ser se#uida, o portu#u$s padr!o do rasil)

    A suposta superioridade do urbano sobre o rural causa um anti#o preconceito) E-iste um portu#u$s5padr!o

    *ue +amos apelidar de "", *ue a norma o/icial) E-iste tambm, o *ue se pode chamar de um conNunto deportu#u$s n!o5padr!o, o "4", *ue representa di/erentes +ariedades)8 "4" +(tima dos mesmos preconceitos *ue pesam sobre as pessoas pobres e anal/abetasR considerado

    /eio, de/iciente, pobre, errado, rude, tosco e estropiado) Esse preconceito, in/elizmente, tem se mostrado presente nonosso sistema educacional, /azendo com *ue o aluno /i*ue desestimulado a aprender, e o pro/essor desestimulado aensinar) 4o ponto de +ista lin#(stico l#ico, pra#m.tico, psicol#ico, tudo a*uilo *ue considerado erro no "4"tem uma e-plica!o cient(/ica)

    +$e 1 o 4o-&$#$/s "5o 3 4a*-5o0("m-lia): De estou entendendo bem, a l-n!ua # um balaio de *ariedades, e s0 umas poucas *8o ser tiradas do balaio

    para compor o padr8o, certo7$. %!. J.8 balaio em *uest!o o *ue se pode chamar de portu#u$s n!o padr!o) Orata se de um conNunto de

    +ariedades re/erentes a determinadas re#ies #eo#r./icas, classes sociais, /ai-as et.rias e n(+eis escolares dos seususu.rios)

    Ca-a&e-%s&!as *o 4o-&$#$/s "5o 3 4a*-5oPortugus No-Padro

    4aturalOransmitidoApreendido'uncionalIno+ador

    Oradi!o oralEsti#matizadoMar#inal

    Oend$ncias li+res'alado pelas classes dominadas

    Portugus PadroArti/icialAd*uiridoAprendido

    =edundante

    Conser+adorOradi!o escrita"resti#iado

    8/icialOend$ncias re/readas

    'alado pelas classes dominantes

    U, 4-o6le,a se, a ,e"o- #-a7aIrene aborda os principais /enmenos /onticos da l(n#ua, comeando pela rotaciza!o do L nos encontros

    consonantais, *ue consiste na troca do L pelo = aps uma consoante, pr.tica bastante comum entre os /alantes do

    "4") "or e-emplo, muitos dizem 5rudia, !robo, in!r2se brocoem +ez de Cl.udia, #lobo, in#l$s e bloco) Esse/enmeno tem e-plica!o na ori#em de al#umas pala+ras *ue +ieram do latim e so/reram esse tipo de trans/orma!oao passarem pelo /ranc$s, pelo espanhol, at che#ar ao portu#u$s)

    Irene cita, ainda, al#uns +ersos de 8s lus(adas, de Cames, onde o #rande poeta escre+e 3frauta4, 3frec5as4,36ruma4, 36u&rica4, 3ingr7s4e mostra *ue nin#um 6deu risada7 dele)

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    E-)*otacismo um fen1meno que acontece nas di*ersas re!iGes do pa-s. troca do M pelo L.

    LATIM FRANCS ESPANHOL PORTUGUSEcclesia5 E#lise I#lesia I#reNa

    lasiu laise las r.s"la#a "la#e "laa "raiaScla+u Escla+e Scla+o Escra+o'lu-u 'lou 'loNo 'rou-o

    U,a l%"#$a e"8$&aAtra+s da can!o 6Cuitelinho7, o nome do beiNa /lor em al#umas re#ies do Centro Sul do rasil,

    poss(+el conhecer al#umas re#ras de /uncionamento do portu#u$s n!o padr!o, e *ue al#uns chamam 6/ala decaipira7, 6/ala de matuto7) Uma delas a elimina98o das marcas de plural redundante)

    Comparando as marcas do plural nesta can!o com as e-istentes na normapadr!o, percebe se *ue a di/erena entre elas a redundTncia)

    (Irene): diferen9a # a redundCncia. =o portu!u2s padr8o e'iste aquilo que se chamamarcas redundantes de plural.$

    (D-l*ia): Medundante n8o quer diFer repetiti*o/, que # demais/, que estsobrando/7$. %!. ;+.

    4o portu#u$s padr!o, as marcas de plural modi/icam +erias classes#ramaticais arti#o, substanti+o, adNeti+o, +erbo,))), caracterizando a concordCnciade numero)

    Esta *uantidade de marcas pluralistas redundante e desnecess.ria, alm deser e-cessi+a) >. no portu#u$s n!o padr!o, o plural empre#ado de /orma muitodi/erente) A*ui,(Irene): Dua re!ra de plural # a se!uinte: marcar uma s0 pala*ra para indicar um

    nBmero de coisas maior que um./$. %!. ;&. Esta re#ra est. presente nos casos

    Keri/ica se *ue a marca *ue sinaliza o plural recai no arti#o de/inido) 4a /alta do mesmo, ela recai napala+ra mais pr-ima a ser pluralizada, para 6a+isar7 *ue a se*$ncia de pala+ras *ue se#ue est. no plural) &a( elarecair na primeira pala+ra

    Substantivo 1terraspara#uaia3Adjetivo 1/ortesbataia3

    Esta re#ra simples e e/iciente, por*ue /acilita o entendimento imediato da /rase)

    L!6e-&19 E#al!&19 F-a&e-"!&1E-iste ainda outra caracter(stica dos /alantes do portu#u$s n!o padr!o a trans/orma!o do L em I)

    (Irene): [...] na *ariedade de portu!u2s que eles falam n8o e'iste este som consonantal.$ %!. ;N.Uma +ez *ue n!o se trata em 6pre#uia do po+o7, as construes espaia, parentaia, bataia, na*aia, faia e

    atrapaia, no lu#ar de espalha, parentalha, batalha, na+alha, /alha e atrapalha, comparam se Js e-istentes noespanhol) (Irene): =o espanhol padr8o, que # aquele falado nas re!iGes de 5astela (da- o nome castelhano), tudo oque se escre*e LL # pronunciado lh2/, equi*alente ao LO do portu!u2s padr8o. =o entanto, dentro da pr0pria

    "spanha, nas demais re!iGes do pa-s, este !rupo LL # pronunciado i/, e os espanh0is falantes do castelhano/padr8o t2m at# um nome para esta pronBncia diferente que eles, # claro, consideram um defeito/. Peismo/.

    . duas e-plicaes para este 6/enmeno lin#u(stico7

    ;G /ransforma!8es estruturais lingusticas einrich Lausber#, lin#u(sta alem!o, a/irma *ue por afrou'amento e,finalmente, por oclus8o central, formaQse do 6R6 (dif-cil de pronunciar por causa da elasticidade reduFida do dorso dal-n!ua) muito naturalmente a fricati*a 6S6 como em @rances, espanhol popular e dialetal.$ %!. ;.

    Cheguei na bera do portoonde as onda se espaia.As gara d meia voltasenta na bera da praia.E o cuitelinho no gosta

    Que o boto de rosa caia.

    Quando eu vim de minhaterradespedi da parentaia.Eu entrei no Mato Grossodei em terras Paraguaia.L tinha revoluoenrentei ortes bataia.

    A tua saudade cortacomo o ao de navaia.

    ! corao ica alitobate uma a outra aia.

    Quero te dar a linda flor amarela que brotou no meu jardim.

    Quero te dar aslindasfloresamarelasque brotaramno meu

    Onde as onda se espaiaAs gara d meia volta, senta na bera da

    praia.Dei em terras Paraguaia.Enfrentei fortes bataia.

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    Lausber# e-plica *ue o encontro consonantal 6lh7, representado /oneticamente pelo s(mbolo %V%, cuNo som pronunciado 6lh$7, e-ecutado *uando tocamos a ponta da l(n#ua no palato, *ue conhecemos popularmente como6c#u da boca7) Este /onema, portanto, classi/ica5se como 6palatal7) Contudo, o som produzido da semi+o#al % W%,s(mbolo *ue representa a +o#al 6i7 *uando /orma silaba com outra +o#al E-) sai bem pr-imo do ponto onde o6lh$7 /ormado) Conclui se *ue, por se /ormarem muito pr-imos e por ser mais cmodo pronunciar o 6i7, *uehou+e esta trans/orma!o)

    8bser+ando o percurso da pala+ra telha, desde o latim 6t#ula7 at hoNe, pode se +eri/icar esta mudana)

    Como a pala+ra 6telha7 est. inserida no portu#u$s padr!o, temos a impress!o de *ue ela est. esta#nada, comose n!o hou+esse mais trans/orma!o) "orm, a l(n#ua dinTmica e se modi/ica constantemente, mesmo *ue o /alanten!o perceba) Assim, poder(amos adicionar uma pala+ra a esta se*u$ncia de trans/orma!o

    2G9udan!ashistricas, pol(ticas, en/im, e$teriores lngua) 4o 'rances, por e-emplo, com a +itria da bur#uesia na=e+olu!o 'rancesa, a aristocracia decadente, nobres e propriet.rios de terras cedem lu#ar J no+a classe ascendente)E esta no+a classe social tambm triun/ou sua +ariedade lin#u(stica) 8s bur#ueses eram rechaados pelos aristocrataspor causa de sua l(n#ua 6rid(cula7) Com sua ascens!o, a bur#uesia, a#ora, tinha total liberdade de utilizar sua l(n#ua,*ue /a+oreceu o desaparecimento do 6lhe7 e o clarear do 6i7)(Irene): %or isso # que, poucas d#cadas depois da Me*olu98o @rancesa, no inicio do s#culo HIH, nin!u#m mais

    sabia pronunciar a anti!a consoante 6R6. %!. N&.

    Ve-6o9 4-a .$e &e .$e-o0Como terceiro aspecto lin#u(stico do "4" est. a simplifica98o das con?u!a9Ges *erbais) 4a can!o, aparecem

    as /ormas 6as onda se espaia7, 6as #ara d meia +olta, brinca na bera da praia7, 6 os io se enche dX.#ua7,+eri/icadas nos /alares re#ionais e n!o padr!o de 4orte a Sul brasileiros)

    Quadro da pg. 66

    4este caso, assim como o plural restrin#e se apenas J primeira pala+ra, nos +erbos s necess.rio ae-ist$ncia do pronome5 suNeito para identi/icar a pessoa +erbal)

    Esta di/erena entre a /orma do eue as demais /ormas para as outras pessoas +erbais de ori#em psicol#ica,do con/lito entre o eu e o outro) (Irene): %arece ha*er, em nosso inconsciente, o dese?o de dei'ar bem claro o limite quesepara o que diF respeito a mim e o que diF respeito ao resto da humanidade.$ %!. N

    As seis /ormas +erbais *ue conhecemos possuem um tradicionalismo cl.ssico, herdado das /ormas anti#as dolatim) "or isso, as duas /ormas resultantes no "4" nos causa espanto)

    t#gula $ teg%la $ tegla$ te:la $ tel:a $telha

    t#gula $ teg%la $ tegla$ te:la $ tel:a $ telha

    Con'ugao do verbo AMA( no presente doindicativo

    P!()*G*+,P!()*G*E,PA-(!/! 0 PA-(!eu AMO eu AMOtu AMAS tu/ voc

    1erbos AMA(E e AMA( no presente do indicativo

    LA)2MP!()*G*E,CL3,,2C!/! 4 PA-(!AMO AMOAMAS AMASAMA AMA

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    Quadro da p.#)

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    (e!.(Irene): %arece que a monoton!a98o s0 acontece quando o diton!o "I aparece diante das consoantes W, H e M...$. %!. >.

    "ara um melhor entendimento deste processo, +eNamos o *ue uma semi+o#al) (Irene): s semi*o!ais [...] s8oum tipo de som que est no meio (semiQ) do caminho que le*a das *o!ais at# as consoantes.$ %!. >.8 diton#o /orma5se apartir da uni!o de uma +o#al com uma semi+o#al)

    . duas semi+o#ais no portu#u$s o iode %W%, *ue escrito usualmente com 6i7 e o +au %Z%, escrito com 6u7)Em al#uns casos, podem ser representados por 6e7, em /$mea 1/$mWa3 e por 6o7, em m.#oa 1m.#Za3)

    (Irene): a semi*o!al 6S6, que escre*emos I no diton!o "I, # um som que pertence a uma fam-lia chamada palatal.$ %!.&.a assimila!o entra em cena no+amente) Ela se +ale da coincid$ncia do ponto de articula!o 1palato3 da semi+o#al6i7 e das consoantes 6N7 e 6-7 para uni5las em um som uni/orme) "ercebe5se *ue o *ue ocorre a mudana de Q i? Qe Qi' Qem Q ? Qe Q ' Q, e n!o do Q ei Qem Q e Q.

    A mesma situa!o +eri/icada com a consoante =) 8 som do = tambm produzido na re#i!o palatal, ondeocorre o som da semi+o#al 6i7) Oendo o ponto de articula!o comum, a assimila!o +olta a a#ir)

    M=s!a9 Maes&-o>A*ui se discuti, a #ora, aredu98o de " e 4 tonos pret1nicos.Al#uns /enmenos lin#(sticos d!o J L(n#ua "ortu#uesa uma musicalidade, uma +ariedade sonora *ue s ela

    tem)Ee .tonos pretnicos caracter(stica presente em todo dom(nio da L(n#ua "ortu#uesa) @ um /enme5

    no natural)

    Pos&?"!os5-e*$75o s!o pronunciados de maneira mais /raca soando como I e U) E-) o+o 5 1*u % elebebe 2li bebi

    E e O

    P-e&?"!os5)a-,o"!@a75o vol!a a presena de I e U na s(laba tnica /az com *ue as +o#ais.tonas pretnicas escritas E e O se reduzam e seNam pronunciadas I e U;

    E-) ale#ria ali!ria cho+ia chu*ia cabeludo cabiludo /ortuna 5furtuna

    A harmoniza!o +oc.lica ocorre por*ue as +o#ais I e U s!o as mais altas, as mais /echadas da nossa l(n#ua)

    Quando elas est!o presentes na s(laba tnica, elas 6pu-am para cima7 as +o#ais pretnicas E e O, /echando essas+o#ais para /ormar um #rupo harmnico para criar um som nico)Ele+a!o da +o#al O .tona pretnica em presena das consoantes ( e M)

    A uni!o das consoantes bilabiais ( e M com a +o#al O .tona pretnica causa um /echamento nesta, *ue pronunciada U)E-) boato 5 buato boneca 5 buneca mole*ue 5 muleque mostarda 5 mustarda

    Em S!o "aulo, essas redues n!o ocorrem com a mesma intensidade *ue nas outras re#ies do rasil) Umadas hipteses acerca disto o /ato de S!o "aulo ter so/rido uma #rande coloniza!o de ori#em Italiana)P-o"="!a paulista bolacha, mostarda, pepino, fedido.

    outras re#ies bulacha, mustarda, pipino, fidido.

    /o estna s5laba

    Esto numa s5laba7ue vem antes da

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    4!o h. /alar mais certo por*ue a l(n#ua escrita uma -e4-ese"&a75o s!,62l!a da l(n#ua /alada, ent!o, cada/alante brasileiro do portu#u$s ter. seu modo particular de pronunciar cada pala+ra)

    Fala- B*o Mais uma caracter(stica do "4" consiste na contra98o das proparo'-tonas em paro'-tonas

    Esdr;$ulo # um ad?eti*o que si!nifica proparo'-tono e na lin!ua!em coloquial # o mesmo que esquisito.As pala+ras proparo-(tonas s!o a*uelas pala+ras cuNa s(laba tnica a antepenltima) Um trao caracter(stico doportu#u$s n!o5padr!o *ue nele as pala+ras proparo-(tonas praticamente n!o e-istem)

    A contra!o um tipo de encolhimento *ue a pala+ra so/re para caber no ritmo natural do portu#u$s n!o

    padr!o, *ue um ritmo paro-(tono) E este ritmo n!o e-clusi+o do portu#u$s n!o padr!o) Al#umas pala+rasproparo-(tonas latinas trans/ormam5se, em portu#u$s, em paro-(tonas)

    Em al#uns casos, alm da trans/orma!o em sua /orma, hou+e tambm trans/orma!o desi#ni/icado)

    Latim Portugu&smacula mgoa# manc$a#

    maculaAl#uns estudiosos a/irmam *ue, N. no latim, ha+ia uma tend$ncia de se pronunciar as pala+ras de maneira

    paro-(tona) "or e-emplo, era comum dizer5sepericlum 16peri#o73 em +ez depericulum) "or *ue, ent!o, ainda temosmuitas pala+ras proparo-(tonas em "ortu#u$s "or*ue estas pala+ras s!o termos de uso liter.rio, ou termos tcnicos ecient(/icos, /ormados diretamente com base no latim ou no #re#o)

    As paro-(tonas constituem a maioria esma#adora das pala+ras, en*uanto *ue as proparo-(tonas s!oconsideradas um corpo estranho dentro da l(n#ua portu#uesa por dois moti+os pelo termo *ue se usa para desi#nar as pala+ras proparo-(tonas pala+ras es*-=8$las, *ue si#ni/ica, na lin#ua#em/amiliar 6es*uisito, estranho, /ora do comum7R e *uando aprendemos a usar o acento #r./ico, somos apresentados a uma re#ra *ue diz 6Oodas as pala+rasproparo-(tonas s!o acentuadas7, por*ue o ritmo prprio do portu#u$s o paro-(tono) Ent!o, para *ue uma pala+ra

    escrita n!o #ere d+idas *uanto J sua pronncia, ela de+er. ser acentuada se /or proparo-(tona)

    +$e, e-a o )o,e .$e e$ v! "a #a-a#e o"&e0Mais uma caracter(stica do "4" e-pressa por Eul.lia, *ue a desnasaliFas8o das *o!ais post1nicas.Oornou5secostume as pessoas dizerem home, onte, #ara#e, no lu#ar de homem, ontem, #ara#em, com 6m7 /inal, indicando a

    Palavra escrita Palavra aladarvore arvref"sforo f"sfrotbua taubav%bora briba

    gl&ndula landra

    Latim Portugu&s

    cunculu coel$oinsula il$aumero ombro

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    nasaliza!o da +o#al anterior) (Vera): !ora mesmo, antes de sair, a "ullia disse que ia X quitanda comprar *a!e parafaFer no almo9o...$. %!. &&3.

    Quadro da p.#) ;;D

    8bser+ando o *uadro, percebemos *ue as pala+ras do portu#u$s contemporTneo possu(am um 6n7 /inal na l(n#ua deori#em 1latim3 e *ue /oi e-tinto) "orm, ainda h. ind(cios de sua passada e-ist$ncia abdominal, betuminoso,e'aminar, luminria, nominal.4o *uadro h. tambm pala+ras *ue preser+aram duas /ormas de escrita)

    bdome6abd1men5ertame6certamen5erume6cerBmenYerme6!#rmen

    Me!ime6re!imenVelame6*elamen S!o poss(+eis estas duas maneiras de #ra/ia) Entretanto, a se#unda /orma, com 4 no /inal, n!o se apresenta nae-press!o da l(n#ua oral e escrita) 8 processo *ue ocorre a( a inclina!o dos /alantes da l(n#ua em suprimir o car.ternasal das +o#ais postnicas) 71Irene3 [)))\ o som nasal das +o#ais *ue est!o depois da silaba Oonica, como em todasestas pala+ras do *uadro)7 ".#) ;;

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    4o latim e-istia a preposi!o adQ, *ue mais tarde ori#inou apreposi!o ade hoNe) Ela possu(a +.rios sentidos, como 6pertode7, 6Nunto a7, 6em dire!o a7, 6ate7) Esta preposi!o latina/unciona+a como pre/i-o, /ormando outros +erbos) ]s +ezes, elaperdia o d/inal assimilando a consoante posterior

    d Z ps-dere apps-dere1aprender3d Z c0rrere 1acorrer3

    d Z flBere afflBere1a/luir3Se#uindo este processo de /orma!o ate a constitui!o da l(n#ua portu#uesa, sur#iram muitos +erbos com este

    pre/i-o) "osteriormente, ocorre uma #eneraliza!o, e esta re#ra, *ue era especi/ica, passou a ser usada para todos os+erbos)

    @ poss(+el, ainda, identi/icar outros arca(smos e-istentes no "4"

    "ntonce1do latim intunce ent!o3Kespois1do latim e' posto depois3"scuitar1do latim ascultare escutar3Vou no cinema 1+ou ao cinema35he!uei em casa 1che#uei a casa3

    "le me chamou de i!norante\ 1ele chamou5me i#norante^3

    A ?-,a9 a "o-,a e o $"!lCom tudo o *ue /oi e-posto sobre o portu#u$s n!o5padr!o, em compara!o com o portu#u$s padr!o, parece

    *ue pensamos (D-l*ia): [...] como se s0 e'istissem essa duas *ariedades de l-n!ua no

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    =oberto Melo Mes*uita) G-a,&!a *a L%"#$a Po-&$#$/s, 2002) ".#inas 2HD e 2H+ e &>&.

    Em conclus!o, a /orma 6para mim [+erbo no in/initi+o\7 correta do ponto de +ista lin#u(stico comunicati+o, por*ue o re#istro escrito de uma constru!o usualmente /alada nos conte-tos in/ormacionais)(Irene): " quando al!uma coisa aparece re!istrada na l-n!ua escrita # porque ? *em sendo usada na l-n!ua falada h muitotempo.$. %!. &>&.

    A 4-!,e!-a se,e"&eAps todo este apanhado minucioso dos mecanismos de /uncionamento do "4", resta5nos /azermos al#umas

    consideraes /inais a respeito de tudo o *ue /oi e-posto a*ui;)A 6unidade lin!u-stica do

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    A 4a-&!*aChe#a o dia da partida, na rodo+i.ria, durante as emocionadas despedidas) Irene diz Js #arotas *ue /ar. uma

    dedica!o a elas em seu li+ro e *ue este receber. o nome de 6A L(n#ua de Eul.lia7, pois #raas a ela *ue tudoaconteceu)

    Co"l$s5o&e posse da aborda#em lin#u(stica descrita no li+ro, conclui5se *ue h. di+ersidades +.rias de /alares noterritrio brasileiro e em todas as partes da Oerra) Como cada ser humano tem seu prprio modo de se comunicar, completamente incorreta a a/irma!o de *ue e-iste uma nica 6l(n#ua7 correta, e-cluindo as demais +ariedades docon+(+io comunicati+o) Oodas as +ariaes da l(n#ua s!o per/eitamente aceit.+eis, pois cumprem a /un!o deestabelecimento de compreens!o, obtendo $-ito no processo de comunica!o) 4!o h. portu#u$s 6certo7 ou 6errado7, esim um portu#u$s ade*uado ao conte-to e Js e-i#$ncias *ue a situa!o comunicati+a impem)

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    Assinatura de Ensa(sta