a liberdade interior

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A LIBERDADE INTERIOR

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livro de espiritualidade

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  • A liberdAde interior

    Este livro aborda um tema fundamental da existncia crist: a liberdade interior. Por meio dele, o autor deseja reavivar a certeza de que a liberdade interior ser conquistada na medida em que a f, a esperana e o amor so forti cados na vida de cada cristo.

    Segundo Jacques Philippe, essencial que cada homem descubra que, mesmo nas circunstncias exteriores mais desfavorveis, cada um dispe em si mesmo de um espao de liberdade que ningum lhe pode usurpar, pois Deus a sua fonte e seu ador.

    Por meio da total entrega de nossa vida a Deus, proposta nesta leitura, nosso esprito possuir esta liberdade preciosa da alma, to contrria ansiedade, tristeza, depresso, angstia, estreiteza do esprito. Navegaremos no abandono, libertando-nos de ns mesmos para nos apegarmos a Ele, o In nito.

    Este livro para quem deseja fazer-se disponvel maravilhosa renovao interior que o Esprito Santo quer operar em cada corao e para quem deseja, dessa forma, alcanar a liberdade de lho de Deus.

    Para o homem moderno, ser livre signi ca, frequentemente, poder desembaraar-se de todo limite e de toda autoridade: Nem Deus nem patro. Para o Cristianismo, ao contrrio, s se pode encontrar a liberdade em uma submisso a Deus, na obe-dincia da f, da qual nos fala So Paulo.

    A verdadeira liberdade, mais que uma conquista do homem, um dom gratuito de Deus, um fruto do Esprito Santo, recebi-do na medida em que nos co-locamos em uma dependncia de amor diante do nosso Cria-dor e Salvador. A se manifesta plenamente o paradoxo evan-glico: Quem quiser salvar sua vida vai perd-la; mas quem perder sua vida por minha cau-sa, vai salv-la.

    Em outras palavras: quem quiser, a todo preo, preser-var e defender sua liberdade vai perd-la, mas quem quiser perd-la, colocando-a con- antemente nas mos de Deus, salv-la-: ela lhe ser restitu-da in nitamente mais bela e profunda, como maravilhoso presente da ternura divina.

    Jacques Philippe nasceu em uma famlia crist no dia 12 de maro de 1947, em Lorraine, na Frana. Aps estudar Mate-mtica na Universidade, passou vrios anos ensinando e produ-zindo pesquisa cientfica. Em 1976, conheceu a recm funda-da Comunidade das Beatitudes e, atendendo ao chamado do Senhor, passou a segui-lo por meio desta vocao. Passou v-rios anos em Jerusalm e Naza-r, onde mergulhou no estudo do Hebraico e das razes judai-cas do Cristianismo. Em 1981, viajou para Roma para estudar Teologia e Direito Cannico e comeou a trabalhar como dire-tor espiritual de padres e semi-naristas. Retornou Frana em 1994, quando assumiu vrias responsabilidades, inclusive como diretor espiritual e parti-cipante do Conselho Geral da Comunidade das Beatitudes. Resumiu seus principais temas de retiros em cinco livros so-bre espiritualidade: Called to Life, Time of God, Interior Freedom e In the School of the Holy Spirit e Searching for and Maintaining Peace: a small treatise on peace of heart.

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    ISBN: 978-85-7784-002-1

    9 788577 840021

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  • Jacques Philippe

    A liberdAde interior

  • Coordenao Geral: Filipe Cabral

    Coordenao Editorial: Carolina Fernandes

    Diagramao: Daniel Garcia da Silva

    Capa: Leonardo BiondoRafael Studart

    Reviso: Keila Maciel Marques Sandra Viana

    Edies ShalomEstrada de Aquiraz - Lagoa do Junco CEP: 61.700-000 - Aquiraz/CE | Tel.: (85) 3308.7465 www.edicoesshalom.com.br | [email protected]

    Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reprodu-zida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrnico ou mecnico, incluindo fotocpia e gravao) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permisso escrita da Editora.

    ISBN: 978-85-7784-002-18 Edio EDIES SHALOM, Aquiraz, Brasil, 2011.

  • |Introduo

    Onde est o Esprito do Senhor, a est a liberdade.So Paulo 1

    Ofereceremos a Deus nossa vontade, nossa razo, nos-sa inteligncia, todo o nosso ser pelas mos e o corao da Santa Virgem. Ento nosso esprito possuir esta liberdade preciosa da alma, to contrria ansiedade, tristeza, de-presso, angstia, estreiteza de esprito. Navegaremos no abandono, libertando-nos de ns mesmos para nos apegar-mos a Ele, o Infinito.

    Madre Yvonne-Aime de Malestroit2

    Este pequeno livro aborda um tema fundamental da existncia crist: a liberdade interior. Seu objetivo simples: parece-me essencial que cada cristo descubra que, mesmo nas circunstncias exteriores mais desfavorveis, cada um dispe em si mesmo de um espao de liberdade que ningum lhe pode usurpar, pois Deus a sua fonte e seu fiador. Sem essa descoberta, estaremos sempre infelizes e jamais experimenta-remos a verdadeira plenitude. Pelo contrrio, se aprendermos a descobrir em ns esse espao interior de liberdade, muitas coisas, inevitavelmente, iro nos fazer sofrer, mas nada poder verdadeiramente nos oprimir nem nos paralisar.

    A afirmao fundamental que desejamos desenvolver simples, mas importante: o homem conquista sua liberdade interior na medida exata em que a f, a esperana e o amor se fortificam nele. Esclareceremos de forma concreta como o

    1. 2Cor 3,172. Citado em Uma amizade desejada por Deus, Paul Labutte, ed. Franois-Xavier de Guibert.

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    dinamismo do que se chama classicamente de virtudes teolo-gais o corao da vida espiritual. Manifestaremos tambm o papel fundamental da virtude da esperana no nosso cresci-mento interior. Tal virtude s pode desenvolver-se se ligada pobreza de corao, o que significa que nossa obra pode tam-bm ser considerada como um comentrio da primeira das bem-aventuranas: Felizes os pobres de esprito, pois deles o Reino dos Cus3.

    Retomaremos e aprofundaremos alguns temas dos livros precedentes sobre a paz interior, a vida de orao e a docilida-de ao Esprito Santo.4

    Neste incio do terceiro milnio, desejamos que este livro seja uma ajuda para aqueles que desejam fazer-se disponveis maravilhosa renovao interior que o Esprito Santo quer ope-rar nos coraes, e, assim, possam alcanar a gloriosa liberdade de filhos de Deus.

    3. Mt 5,34. Recherche la paix et poursuis-la, Du temps pur Dieu, l`Ecole de l`sprit Saint, ed. ds Batitudes.

  • Parte 1

  • Captulo 1

    |Liberdade e Aceitao

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    |A buscA dA liberdAde

    A noo de liberdade pode ser um lugar de encontro privilegiado entre a cultura moderna e o cristianismo. Este se prope, com efeito, como uma mensagem de liberdade e libertao. Para convencer-se disso, suficiente abrir o Novo Testamento, no qual as palavras livre, liber-dade, libertar so utilizadas com frequncia: A verdade vos libertar, diz Jesus em So Joo5. So Paulo afirma: Onde est o Esprito do Senhor, a est a liberdade6, e mais adiante: para sermos verdadeiramente livres que Cristo nos libertou7. A lei cris-t chamada por So Tiago de lei de liberdade8. Precisamos conhecer qual a verdadeira natureza desta liberdade.

    A cultura moderna marcada pela busca de liberdade h sculos, como facilmente se pode constatar. Sabemos, entre-tanto, como a noo de liberdade suscita ambiguidades e pode conduzir a desvios que tm produzido alienaes terrveis e causado a morte de milhes de pessoas. Disso o sculo XX d infeliz testemunho. Apesar disso, o desejo de liberdade con-

    5. Jo 3,26. 2Cor 3,177. Gl 5,18. Tg 2,12

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    tinua a manifestar-se em todos os domnios: social, poltico, econmico, psicolgico, o que se deve, sem dvida, ao fato de que, apesar de todo progresso, tal desejo permanece insatis-feito.

    No plano moral, tem-se a impresso de que o nico va-lor que goza ainda de alguma unanimidade neste incio de terceiro milnio o da liberdade: todos esto, de certa forma, de acordo sobre o fato de que a liberdade uma norma tica fundamental. Evidentemente, trata-se de um valor mais teri-co do que real (o liberalismo ocidental torna-se cada vez mais autoritrio ao seu modo), pode at mesmo ser uma simples manifestao do egosmo do homem moderno, para o qual o respeito da liberdade de cada um seria menos o reconheci-mento de uma exigncia tica que uma reivindicao indivi-dualista: que ningum se meta a me impedir de fazer o que eu bem quiser!.

    |liberdAde e felicidAde preciso ressaltar que essa aspirao liberdade, to forte

    no homem contemporneo, mesmo que traga em si uma boa dose de iluso e se realize, por vezes, por caminhos errneos, traz em si algo de muito justo e nobre.

    Na verdade, o homem no foi criado para ser escravo, mas para dominar sobre a criao. O livro do Gnesis o diz explicitamente. No foi feito para levar uma vida inexpressiva, mesquinha, fechada em um espao estreito. Foi criado para viver livre. O confinamento lhe insuportvel, simplesmente porque foi criado imagem de Deus e, assim, tem em si uma necessidade irrepreensvel de absoluto e de infinito. Esta sua grandeza e, algumas vezes, sua infelicidade.

    O ser humano manifesta tamanha sede de liberdade por-que sua aspirao mais fundamental a de felicidade e ele percebe que no existe felicidade sem amor nem amor sem

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    liberdade, o que perfeitamente correto. O homem foi criado por amor e para amar, e s encontrar a felicidade ao amar e ser amado. Como diz Santa Catarina de Sena9, o homem no saberia viver sem amar. Seu problema vem do fato de que, fre-quentemente, ele ama de forma equivocada, ama a si mesmo, egoisticamente, e, assim, frustra-se, pois somente um amor autntico pode preench-lo.

    Se verdade que somente o amor pode preencher o ho-mem, tambm verdade que no h amor sem liberdade: um amor que venha da opresso, ou do interesse, ou somente da satisfao de uma necessidade, no merece este nome. O amor no se aprisiona. Muito menos se compra. S existe o amor verdadeiro e, portanto, feliz entre pessoas que dispem livre-mente delas mesmas para dar-se uma outra.

    Pressente-se, assim, o valor extraordinrio da liberdade: ela o preo do amor, e o amor a condio fundamental da felicidade. No h dvida de que a intuio, ainda que con-fusa, dessa verdade que faz com que o homem d tamanha im-portncia liberdade e, nesse ponto de vista, tem toda a razo!

    Mas como atingir essa liberdade que permite o desabro-char do amor? Para ajudar aos que desejam atingi-lo, come-amos por evocar algumas iluses bastante disseminadas, das quais ningum est imune, mas as quais so necessrias aban-donar para gozar de uma verdadeira liberdade.

    |liberdAde: reivindicAo de AutonomiA ou Acolhimento de |umA dependnciA?

    Se, por um lado, a ideia de liberdade pode ser, conforme dissemos, um local de encontro entre o cristianismo e a cultu-ra moderna, , tambm, talvez o ponto em que eles divergem de maneira mais radical. Para o homem moderno, ser livre 9. A alma no pode viver sem amor. Precisa sempre de algo para amar, pois ela feita de amor e por amor que eu a criei. Dilogo, ed. Tqui, captulo 51.

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    significa, frequentemente, poder desembaraar-se de todo li-mite e de toda autoridade: Nem Deus nem patro. Para o Cristianismo, ao contrrio, s se pode encontrar a liberdade em uma submisso a Deus, na obedincia da f, da qual nos fala So Paulo10.

    A verdadeira liberdade, mais que uma conquista do ho-mem, um dom gratuito de Deus, um fruto do Esprito Santo, recebido na medida em que nos colocamos em uma dependn-cia de amor diante do nosso Criador e Salvador. A se manifesta plenamente o paradoxo evanglico: Quem quiser salvar sua vida vai perd-la; mas quem perder sua vida por minha causa, vai salv-la11. Em outras palavras: quem quiser, a todo preo, preservar e defender sua liberdade vai perd-la, mas quem aceitar perd-la, colocando-a confiantemente nas mos de Deus, salv-la-: ela lhe ser restituda infinitamente mais bela e profunda, como um maravilhoso presente da ternura divina. Como veremos, nossa liberdade , na verdade, proporcional ao amor e con-fiana filial que nos unem ao nosso Pai do Cu.

    A experincia de vida dos santos encoraja-nos: eles se en-tregaram a Deus sem reservas, desejando fazer unicamente a sua vontade e, em troca, receberam progressivamente o senti-mento de gozar de uma imensa liberdade, que nada no mundo lhes poderia roubar, razo de sua intensa felicidade. Como isso possvel? Vamos tentar compreender passo a passo.

    |liberdAde exterior ou interior?Outra iluso fundamental com relao noo de liber-

    dade a de fazer desta uma realidade exterior, dependente das circunstncias, e no uma realidade antes de tudo interior12.

    10. Rm 1,511. Mt 16,2512. H, aqui, uma evidncia muito simples, mas que levamos tempo para compreender: en-quanto nosso sentimento de maior ou menor liberdade depender de circunstncias exteriores, sinal que no somos ainda verdadeiramente livres.

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    Neste domnio, como em muitos outros, reproduzimos o dra-ma experimentado por Santo Agostinho: Tu estavas dentro de mim e eu estava fora e era fora que eu te procurava13.

    Expliquemo-nos. Frequentemente, temos a impresso de que o que limita nossa liberdade so as circunstncias que nos cercam: os limites impostos pela sociedade, as obri-gaes de todo tipo que os outros colocam sobre ns, esta ou aquela limitao da qual somos prisioneiros com relao ao nosso fsico, nossa sade, etc. Para encontrar nossa liber-dade, seria preciso, ento, eliminar essas barreiras e limita-es. Quando nos sentimos cerceados pelas circunstncias que nos aprisionam, atribumos nosso incmodo s institui-es ou pessoas que nos parecem caus-lo. Quanto ressenti-mento acumulamos, dessa forma, para com tudo o que no est de acordo com nossa vontade e nos impede de ser livres como desejaramos!

    Essa maneira de ver as coisas tem, certamente, um lado de verdade. H, algumas vezes, certas limitaes que precisam ser corrigidas ou barreiras a serem ultrapassadas para que se conquiste a liberdade. Mas h tambm uma grande dose de iluso que necessrio desmascarar, sob pena de jamais gozar da liberdade verdadeira. Mesmo se tudo o que consideramos impedimento liberdade em nossas vidas viesse a desaparecer, isso no seria nenhuma garantia de encontrarmos a plena li-berdade qual aspiramos. Nem bem ultrapassamos uma bar-reira, encontramos outras logo adiante. Dessa forma, ao nos fixarmos na problemtica que descrevemos acima, arriscamos a nos embrenhar em um processo sem fim e em uma insatis-fao permanente. Encontraremos sempre limites dolorosos. Podemos nos libertar de alguns deles, mas ser apenas para encontrarmos outros maiores: as leis da fsica, os limites da condio humana, a vida em sociedade, etc.

    13. Confisses, livro 10.

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    |libertAo ou suicdio?O desejo de liberdade que habita o corao do homem

    contemporneo traduz-se, assim, frequentemente, por uma tentativa desesperada de ultrapassar os limites dos quais se considera prisioneiro. Queremos ir cada vez mais longe, mais depressa, ter um poder cada vez maior de transformar a reali-dade. Isso se aplica a todos os domnios da existncia. Cremos que seremos mais livres quando o progresso da biologia nos permitir escolher o sexo dos filhos. Imaginamos encontrar a liberdade tentando sempre ultrapassar nossas possibilidades. No contente de praticarmos o alpinismo convencional, lan-amo-nos no alpinismo radical, at o dia em que vamos longe demais e a excitante aventura acaba em uma queda mortal. Este lado suicida de certo tipo de busca de liberdade evocado de maneira significativa pela cena final do filme Le grand Bleu: o heri do filme, fascinado pela liberdade de movimento dos golfinhos nas profundezas do oceano, acaba por segui-los. O filme deixa de dizer o que evidente: ao faz-lo, ele se con-dena morte certa! Quantos jovens mortos pelos excessos de velocidade ou overdose de herona por causa de uma aspirao liberdade que no soube encontrar os caminhos autnticos para realizar-se!

    Mas ser que a liberdade no passaria de um sonho ao qual seria melhor renunciar para contentar-se com uma vida medocre e sem graa? Certamente no! preciso descobrir a verdadeira liberdade em si mesmo e em um ntimo relaciona-mento com Deus.

    |A estreitezA est em vossos corAesPara ajudar a compreender a natureza deste espao de

    liberdade interior que cada um traz em si e que ningum pode usurpar, gostaria de contar uma pequena experincia

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    que tive com Santa Teresinha do Menino Jesus e que me fez crescer bastante.

    H muitos anos, Santa Teresinha tem sido uma amiga muito cara e, pessoalmente, aprendi enormemente em sua escola de simplicidade e confiana evanglicas. H dois anos, em uma das primeiras ocasies em que suas relquias deixa-riam o Carmelo para venerao nas cidades que as haviam so-licitado (creio que na cidade de Marseille), eu me encontrava em Lisieux. As irms carmelitas haviam pedido a irmos da comunidade Beatitudes para ajudar a transportar o pesado e precioso relicrio at o carro que o conduziria a seu destino. Ofereci-me como voluntrio para a agradvel tarefa e isso me deu uma oportunidade inesperada de entrar no claustro do Carmelo de Lisieux e descobrir, com alegria e emoo, os locais onde Teresinha viveu: a enfermaria, o coro, a lavan-deria, o jardim com a alameda de nogueiras. Locais que eu conhecia atravs dos escritos da santa em seus Manuscritos Autobiogrficos. Na visita, um detalhe me impressionou: os locais eram bem menores do que eu havia imaginado. Um exemplo: Teresinha, ao final de sua vida, evoca com humor suas irms que passavam e faziam questo de dar-lhe uma palavrinha quando iam recolher o feno. O grande campo de feno que eu havia imaginado, entretanto, era do tamanho de um leno de bolso!

    A evidncia inesperada da pequenez dos locais onde ha-via vivido Teresinha me fez refletir muito. Percebi a que pon-to ela havia vivido em um mundo bastante reduzido aos olhos humanos: um pequeno Carmelo no interior, de uma arqui-tetura banal, um jardim minsculo, uma pequena comuni-dade formada de religiosas cuja educao, cultura e maneiras frequentemente deixavam a desejar, um clima no qual o sol nem sempre aparecia... E uma existncia to breve neste mo-nastrio, dez anos! No entanto e este o paradoxo que me impressionou quando se leem os escritos de Teresa, no se

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    tem, de forma alguma, a impresso de uma vida passada em um mundo estreito. Muito pelo contrrio. Se ultrapassarmos certas limitaes do seu estilo, perceberemos, em sua maneira de exprimir-se, em sua sensibilidade espiritual, uma impres-so de amplitude, de maravilhosa dilatao. Teresa vive em horizontes muito largos: os da misericrdia infinita de Deus e de seu desejo ilimitado de am-lo. Sente-se como uma rainha que tem o mundo inteiro a seus ps, uma vez que ela tudo pode obter de Deus e, pelo amor, estar em todos os pontos do universo onde um missionrio necessite de sua orao e de seus sacrifcios!

    Seria necessrio um estudo filolgico sobre a impor-tncia dos termos que em Teresinha exprimem a dimenso iluminada do universo espiritual no qual ela se move: ho-rizontes infinitos, desejos imensos, oceanos de graa, abismos de amor, torrentes de misericrdia e assim por diante. O manuscrito B, em particular, no qual Teresa conta a descoberta de sua vocao no corao da Igreja, muito revelador. Naturalmente, o sofrimento tambm est presente em seus escritos, assim como a monotonia do sacrifcio, mas tudo isso ultrapassado e transfigurado pela intensidade da vida interior.

    Por que o mundo de Teresa, humanamente to estreito e pobre, d a impresso de ser to amplo e dilatado? Por que tal impresso de liberdade se difunde de sua descrio da vida do Carmelo? Simplesmente porque Teresa ama intensamente. Ela est abrasada do amor por Deus, de caridade para com as irms. Abraa a Igreja e o mundo inteiro com uma ternura de me. Eis o seu segredo: ela no se sente prisioneira em seu pequeno convento porque ama. O amor transfigura tudo e d um toque de infinito s coisas mais banais. Todos os santos fi-zeram a mesma experincia: o amor um mistrio que trans-figura tudo o que toca em coisas belas e agradveis a Deus. O amor de Deus faz a alma livre. Ela como uma rainha que no

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    conhece o peso da escravido, exclama Santa Faustina em seu Dirio Espiritual14.

    Refletindo sobre isso, veio-me mente uma frase de So Paulo aos cristos de Corinto: No estreito o lugar que ocupais em ns. Estreito, sim, o vosso ntimo15.

    Muito frequentemente, sentimo-nos mal, sem liberdade em uma determinada situao, em nossa famlia, em nosso ambiente. O problema, porm, talvez esteja em outro lugar: em nosso corao que no nos sentimos bem, no nos sen-timos livres. nele que est a origem da nossa falta de liber-dade. Se escolhermos amar sempre, o amor dar dimenses infinitas nossa vida e no nos sentiremos mais aprisionados.

    No quero dizer que no haja, s vezes, situaes objeti-vas a serem mudadas, circunstncias opressoras ou angustian-tes que precisem ser remediadas para que o corao desfrute de uma real liberdade interior. Mas creio que bem frequen-temente desenvolvemos certa iluso. Acusamos o ambiente, enquanto a verdadeira questo est em outro lugar. Nossa falta de liberdade vem de uma falta de amor: pensamos ser vtimas de um contexto desvantajoso e, no entanto, o verdadeiro pro-blema (assim como a soluo) est em ns mesmos. nosso corao que est prisioneiro de seu egosmo ou de seus medos, devendo assim mudar, aprender a amar e deixar-se transfor-mar pelo Esprito Santo. Este o nico meio de sair do sen-timento de mal-estar e da falta de liberdade que nos invade. Quem no sabe amar se considerar sempre injustiado e se sentir pouco vontade onde quer que se encontre. Quem sabe amar no se sentir mal ou pouco vontade em lugar algum. Eis o que me ensinou Teresinha. Alm disso, ela me fez compreender outra coisa importante, da qual falaremos mais tarde: nossa incapacidade de amar vem muitas vezes da nossa falta de f e de esperana.14. Santa Faustina Kowalska, Petit Journal. ed. Jules Hovine, p. 319.15. 2Cor 6,12

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    |um testemunho pArA o nosso sculo:|etty hillesum

    Gostaria de contar brevemente outro testemunho mais recente de liberdade interior, em um tempo muito diferente e muito prximo do de Teresinha do Menino Jesus e que mui-to me tocou. Trata-se do testemunho de Etty Hillesum, uma jovem judia morta em Auschwitz em setembro de 1942, cujo dirio foi publicado em 198116. Sua histria de uma alma desenrola-se na Holanda no momento em que se intensifica a perseguio nazista contra os judeus. Graas a um amigo psi-clogo, tambm judeu, ela descobre (sem jamais se tornar ex-plicitamente crist) valores profundamente cristos: a orao, a presena de Deus no seu interior e o convite evanglico a abandonar-se confiantemente Providncia. impressionan-te constatar como essa jovem, afetivamente frgil, mas anima-da de por uma forte exigncia de verdade quanto a si mesma, aplica-se a viver esses valores. No momento em que todas as liberdades exteriores lhe so progressivamente retiradas, des-cobre nela mesma uma felicidade e uma liberdade interior que ningum lhe poder tirar. Oportunamente citaremos mais al-gumas passagens de seus escritos. No momento, transcreve-mos um texto muito significativo de sua experincia espiritual:

    Esta manh, contornando de bicicleta o Stadionkae, fi-quei encantada de ver o vasto horizonte que se descobre nas fronteiras da cidade enquanto respirava o ar fresco que ainda no conseguiram racionar. Em todo lugar, os cartazes probem os judeus caminhar pelos pequenos caminhos que do acesso natureza. Abaixo deste trecho de estrada que nos resta, o cu imvel, tranquilo. Ningum pode fazer nada de mal contra ns. Nada. Podem nos tornar a vida dura, nos despojarem de certos bens materiais, tirar-nos alguma liberdade de movimen-to exterior, mas somos ns mesmos quem nos despojamos de

    16. Etty Hillesum, Une vie bouleverse. Journal (1941-43) ed. Du Seuil, 1985.

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    nossas melhores foras por uma atitude psicolgica equivoca-da ao nos sentirmos perseguidos, humilhados, oprimidos; ao experimentarmos dio; fazendo-nos de corajosos para escon-der nosso medo. Temos o direito de estar tristes e abatidos, de vez em quando, pelo que nos fazem suportar: humano e compreensvel. E, no entanto, a verdadeira espoliao somos ns mesmos quem nos infligimos. Considero a vida imensa-mente bela e sinto-me livre. Em mim h cus que se alastram to vastos quanto o firmamento. Creio em Deus e creio no homem, ouso dizer sem falsa vergonha (...) Sou uma mulher feliz e canto os louvores desta vida sim no ano do Senhor agora e sempre do Senhor 194217.

    |A liberdAde interior:|liberdAde de crer, de esperAr, de AmAr

    Na linha do que viveu Teresinha e Etty, a ideia que desejo desenvolver agora : a verdadeira liberdade, aquela liberdade soberana de quem cr consiste em que se disponha em toda circunstncia graas assistncia do Esprito Santo, que vem em socorro de nossa fraqueza18, da possibilidade de crer, de es-perar e de amar. Ningum jamais poder impedi-lo. Sim, eu tenho certeza: nem a morte nem a vida, nem os anjos nem as dominaes, nem o presente nem o futuro, nem as potncias, nem as foras das alturas, nem as das profundezas, nem outra criatura alguma, nada poder separar-nos do amor de Deus, manifestado em Jesus Cristo, nosso Senhor19.

    Nenhuma circunstncia no mundo poder jamais me impedir de crer em Deus, de colocar nele toda a minha con-fiana, de am-lo de todo o meu corao e de amar meu pr-ximo. A f, a esperana e a caridade so soberanamente livres,

    17. op. cit. p. 132.18. Rm 8,2619. Rm 8,38s

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    pois, se esto bem enraizadas em ns, tm o poder de nos alimentar exatamente daquilo que a elas se ope! Se, atravs da perseguio, querem me impedir de amar, tenho sempre a possibilidade de perdoar os meus inimigos e transformar a si-tuao de opresso em um amor ainda maior. Se querem aba-far minha f tirando-me a vida, minha morte se torna a mais bela confisso de f que se possa conceber! O amor, e somente ele, capaz de vencer o mal pelo bem, e tirar do mal o bem.

    Todos os captulos que se seguem querem ser, a partir de diferentes pontos de vista, uma ilustrao dessa verdade to preciosa, uma vez que aquele que a compreende e pratica atin-ge uma liberdade soberana. O crescimento na f, na esperana e no amor a nica via de acesso liberdade.

    Antes de aprofundar esse assunto, examinemos um pon-to importante concernente s diferentes modalidades segundo as quais a liberdade pode ser exercida concretamente.

    |A liberdAde em Ao: escolher ou Acolher?Devido viso inadequada sobre a liberdade que aca-

    bamos de descrever, pensa-se frequentemente que o nico exerccio verdadeiro da liberdade consiste em escolher entre diferentes possibilidades aquela que mais convm. Pensa-se, portanto, que quanto mais amplo for o leque de opes, mais se livre. A medida de nossa liberdade seria, assim, proporcio-nal amplitude deste leque de opes possveis.

    Essa noo de liberdade, que cedo conduz a impasses e contradies, muito presente inconscientemente. Gostara-mos, em todas as situaes da vida, de ter a oportunidade de escolher. Escolher onde passar as frias, o tipo de trabalho, o nmero de filhos, seu sexo e a cor de seus olhos. Sonhamos com a vida como uma espcie de imenso supermercado no qual cada prateleira apresenta um grande estoque de possibili-dades e onde se pode pegar vontade o que do nosso gosto

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    e deixar o resto... Para tomar outra imagem bem atual, gosta-ramos de escolher nossa vida como se escolhe uma roupa em um espesso catlogo de venda por correspondncia.

    Que o uso de nossa liberdade nos leve frequentemente a optar entre diferentes possibilidades verdade e isso bom. No entanto, seria perfeitamente irrealista tudo analisar a partir desse ngulo. H uma multido de aspectos absolutamente fundamentais de nossa vida que no escolhemos: nosso sexo, nossos pais, a cor de nossos olhos, nosso temperamento, nossa lngua materna. Os elementos da existncia que escolhemos so de uma importncia bem menor que aqueles que no es-colhemos.

    Alm disso, se, no momento da adolescncia, a vida apre-senta-se diante de ns como um leque largamente aberto de possibilidades entre as quais escolher, com o passar do tempo, preciso reconhecer que este leque tende a fechar-se... pre-ciso, de fato, fazer escolhas, mas o mero fato de elas se apre-sentarem j reduz, por si, a gama de possibilidades disponveis. Casar-se escolher uma mulher e, portanto, excluir todas as outras. Entre parnteses, poderamos nos perguntar se verda-deiramente escolhemos a mulher com quem nos casamos: o mais frequente nos casarmos com aquela por quem nos apai-xonamos, o que no significa, verdadeiramente, uma escolha. Mas isso no um mal...

    Vem-me lembrana uma brincadeira que diz que a es-colha do celibato pelo Reino e a do casamento cristo so, afinal de contas, muito prximas, porque se o celibatrio esco-lhe renunciar a todas as mulheres, aquele que se casa renuncia tambm a todas as mulheres, exceto uma, e isso, do ponto de vista numrico, no uma diferena significativa!

    Quanto mais avanamos em idade, menos dispomos de possibilidades de escolha: Em verdade, em verdade eu te digo, quando eras jovem, amarravas o teu cinto e ias para onde querias;

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    quando ficares velho, estenders as mos e um outro atar o teu cinto e te conduzir para onde no quiseres20. O que sobra de nossa liberdade se nossa viso for a da liberdade de supermer-cado que descrevemos h pouco?

    Essa falsa concepo da liberdade tem repercusses pro-fundas sobre o comportamento dos jovens de hoje. A ati-tude com respeito ao casamento ou outras formas de com-promisso significativa: retardam-se, ao mximo, as escolhas definitivas, pois cada uma percebida como uma perda de liberdade. Resultado: no se ousa decidir, logo, no se vive. O que ocorre que a vida escolhe em nosso lugar, pois o tempo passa, implacvel.

    |ser livre tAmbm Acolher Aquilo que no escolhemosSe o exerccio da liberdade como escolha entre duas coi-

    sas possveis tem seu valor, fundamental, entretanto, sob a pena de nos expormos a dolorosas desiluses, compreender que existe tambm outra maneira de exercer sua liberdade. uma forma menos grandiosa primeira vista, mais pobre, mais humilde, mas, na verdade, bem mais cheia de vida e re-vestida de uma fecundidade humana e espiritual imensa. Tra-ta-se de no somente escolher, mas tambm acolher aquilo que no escolhemos.

    Quero evidenciar como essa forma de exercer a liberdade importante. O ato mais alto e mais fecundo da liberdade hu-mana reside antes na acolhida que na dominao. O homem manifesta a grandeza de sua liberdade quando transforma a re-alidade, mas o faz mais ainda quando a acolhe com confiana da forma como ela se apresenta dia aps dia.

    natural e fcil acolher as situaes que, sem que as te-nhamos escolhido, apresentam-se de uma forma agradvel e prazerosa. O problema ocorre quando nos defrontamos com 20. Jo 21,18

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    aquilo que nos causa desprazer, que nos contraria, que nos faz sofrer. No entanto, justamente a que somos chamados a nos tornar verdadeiramente livres, a escolher aquilo que no de-sejamos e que, por vezes, no desejaramos de forma alguma. Existe a uma lei paradoxal da existncia: s nos tornamos ver-dadeiramente livres quando aceitamos no ser sempre livres!

    Eis o ponto que desenvolveremos agora e que tem uma grande importncia: aquele que quer conquistar uma verda-deira liberdade interior deve exercitar-se em aceitar em paz e de bom grado coisas que parecem contradizer sua liberdade: acolher seus limites pessoais, suas fragilidades, sua fraqueza, esta ou aquela situao que a vida impe, etc. Temos dificul-dade em faz-lo porque temos horror espontneo a situaes sobre as quais no temos controle. No entanto, a verdade a seguinte: as situaes que verdadeiramente nos fazem crescer so exatamente aquelas sobre as quais no temos controle21. Veremos muitos exemplos concretos desta realidade.

    |revoltA, resignAo, AcolhidAAntes de continuar, bom esclarecermos: diante da-

    quilo que nos desagrada em nossa vida, nossa pessoa, nossa situao, daquilo que consideramos negativo, h trs atitu-des possveis.

    A primeira a da revolta. Por exemplo: eu no me aceito tal como sou, revolto-me contra Deus que me fez desta forma, contra a vida que permitiu este ou aquele acontecimento, con-tra a sociedade, etc.22

    21. A grande iluso do homem o desejo de controlar a prpria vida... Ora, a vida um dom que, por sua prpria natureza, escapa a toda tentativa de controle. , Jean-Claude Sagne, Viens vers le Pre ed. de lEmmanel, p. 17222. A revolta nem sempre negativa. Pode ser uma primeira reao psicolgica inevitvel em certas situaes de sofrimento brutal, desde que no se paralise a. A palavra revolta pode ter, tambm, um sentido positivo: a recusa de uma situao inadmissvel, que nos faz agir positivamente com motivaes justas e meios legtimos e proporcionais. No texto acima, referimo-nos revolta como recusa do real.

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    A revolta frequentemente a primeira reao diante do sofrimento. Porm, o problema que ela nunca resolveu nada adequadamente. Tudo o que consegue somar um mal a outro mal. fonte de desespero, de violncia e de ressen-timento. Certo romantismo literrio fez a apologia do revol-tado, mas basta um pouco de bom senso para entender que nada de grande ou de positivo jamais foi construdo a partir da revolta: seu nico efeito propagar ainda mais o mal que deseja remediar.

    revolta pode vir a suceder a resignao: ao dar-me conta de que no posso mudar uma situao ou a mim mesmo, aca-bo por resignar-me. A resignao pode representar certo pro-gresso se comparada revolta quando conduz a uma atitude menos agressiva e mais realista. No entanto, ela insuficiente. A resignao pode at ser uma virtude filosfica, mas no uma virtude crist, pois lhe falta a esperana. A resignao uma confisso de impotncia. Nada mais. Ela pode ser uma etapa necessria, mas se no passa disso, estril.

    A atitude conveniente a da acolhida. Comparada resignao, a acolhida leva a uma disposio interior com-pletamente diferente. A acolhida me faz dizer sim a uma realidade percebida em um primeiro momento como negati-va, porque me vem o sentimento de que algo positivo pode surgir da situao. H, ento, uma perspectiva de esperana. Posso, por exemplo, dizer sim ao que eu sou apesar dos meus desafios porque sei que sou amado por Deus, porque tenho confiana de que, a partir da minha pobreza, o Senhor ca-paz de fazer coisas maravilhosas. Posso dizer sim realidade mais pobre e decepcionante no plano humano porque creio que o amor to poderoso em obras que sabe tirar proveito de tudo, do bem e do mal que encontra em mim23, para citar Teresinha. 23. Ver Manuscrito autobiogrfico A, 53.

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    A diferena decisiva entre a resignao e a acolhida vem do fato de que, no consentimento, mesmo que a realidade objetiva na qual me encontro continue idntica, a atitude do corao muito diferente, pois j habitada pelas virtudes de f, de esperana e de amor, ainda que em estado embrionrio. Por exemplo, acolher minha pobreza confiar em Deus que me criou como sou. Neste ato de consentimento, h, ento, f em Deus, confiana nele e, portanto, amor, pois confiar em algum am-lo.

    A presena da f, da esperana e da caridade faz com que a acolhida adquira um valor e fecundidade muito gran-des, pois, como no nos cansaremos de dizer, j que existem a f, a esperana e a caridade, h, automaticamente, disponi-bilidade graa divina, acolhida desta graa e, cedo ou tarde, efeitos positivos. A graa de Deus jamais deixa de dar frutos quando acolhida. Pelo contrrio, sempre extraordinaria-mente fecunda.