a lei de ferro de michels e o pluralismo, 2012

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73 RESUMO A LEI DE FERRO DE MICHELS E O PLURALISMO: A DEMOCRACIA NA GUERRA FRIA Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 20, n. 44, p. 73-81, nov. 2012 Recebido em 13 de agosto de 2012. Aprovado em 1º de outubro de 2012. Ingrid Sarti O texto revisita a teoria da organização partidária, a partir de um questionamento da impossibilidade da democracia partidária, tal como anuncia Robert Michels com sua noção de “lei de ferro” da oligarquia. Busca contextualizar o debate no âmbito da disputa ideológica do pensamento liberal da Guerra Fria. Procura explicitar as diferenças entre concepções de partidos e aborda o dilema socialista da participação de massas na representação moderna. Pretende atualizar a importância do resgate dos parti- dos no processo de emancipação do “público” na contemporaneidade PALAVRAS-CHAVE: representação; partidos políticos; democracia; socialismo; Robert Michels. I. INTRODUÇÃO As experiências históricas dos partidos no século XX revelam uma tensão estrutural entre representação e participação que é tida como sério obstáculo para o projeto democrático idealizado particularmente pelos partidos socialistas. Atender às demandas de mobilização das massas e de democracia interna no partido, e, simultaneamente, às exigências do processo eleitoral e parlamentar, parece ter sido tarefa impossível na trajetória das democracias modernas. O registro do problema e a dificuldade de solucioná-lo deixam aberta a questão, que, longe de ter sido esgotada, ganha relevância na atual conjuntura de desencantamento da política e descrença em relação aos partidos políticos. Nesse registro, a obra de Michels, Partidos políticos, é considerada um clássico da ciência política que consagra o exame da organização partidária como requisito da teoria democrática. Este ensaio retoma reflexão que procurei desenvolver sobre os desdobramentos da teoria da organização partidária a partir de Michels 1 . Como em outras ocasiões, acompanho o percurso de autores contemporâneos que buscaram brechas e alternativas capazes de minar o determinismo inexorável da lei de ferro das oligarquias partidárias, em busca de um modelo de democracia possível. Contudo, procuro destacar um aspecto certamente menos explorado que remete à apropriação de Partidos políticos pelo pensamento liberal, nos Estados Unidos, como instrumento ideológico no contexto da Guerra Fria, no ensejo da crítica ao partido único comunista em contraposição à defesa do pluralismo . É interessante refletir como essa obra de cunho profundamente autoritário, escrita em 1911, chega ao ambiente intelectual-acadêmico dos Estados Unidos no início da década de cinquenta e consagra a versão liberal da crítica à utopia socialista. Faço, então, a titulo introdutório, algumas observações sobre a teoria de partidos que é central no arcabouço da ciência política na expectativa de que se possa entender o contexto da influência do pensamento conservador de Michels no liberalismo anglossaxão (SARTI, 2006). A seguir, depois de uma breve referência à distinção entre as noções de partido liberal e socialista, contemplo o dilema constitutivo da teoria da organização partidária e recorro à uma importante literatura que busca alternativas ao viés dominante antipartido e anti-socialista. II.OS PARTIDOS E O PLURALISMO ANGLOS- SAXÃO POSTERIOR À II GUERRA Muito tempo se passou até que os partidos políticos despertassem interesse como atores de 1 Basicamente, apoio-me em trabalhos anteriores: Sarti (1996; 1998).

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    REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLTICA V. 20, N 44: 73-81 NOV. 2012

    RESUMO

    A LEI DE FERRO DE MICHELS E O PLURALISMO:A DEMOCRACIA NA GUERRA FRIA

    Rev. Sociol. Polt., Curitiba, v. 20, n. 44, p. 73-81, nov. 2012Recebido em 13 de agosto de 2012.Aprovado em 1 de outubro de 2012.

    Ingrid Sarti

    O texto revisita a teoria da organizao partidria, a partir de um questionamento da impossibilidade dademocracia partidria, tal como anuncia Robert Michels com sua noo de lei de ferro daoligarquia. Busca contextualizar o debate no mbito da disputa ideolgica do pensamento liberal daGuerra Fria. Procura explicitar as diferenas entre concepes de partidos e aborda o dilema socialista daparticipao de massas na representao moderna. Pretende atualizar a importncia do resgate dos parti-dos no processo de emancipao do pblico na contemporaneidade

    PALAVRAS-CHAVE: representao; partidos polticos; democracia; socialismo; Robert Michels.

    I. INTRODUO

    As experincias histricas dos partidos nosculo XX revelam uma tenso estrutural entrerepresentao e participao que tida como srioobstculo para o projeto democrtico idealizadoparticularmente pelos partidos socialistas. Atenders demandas de mobilizao das massas e dedemocracia interna no partido, e, simultaneamente,s exigncias do processo eleitoral e parlamentar,parece ter sido tarefa impossvel na trajetria dasdemocracias modernas. O registro do problema ea dificuldade de solucion-lo deixam aberta aquesto, que, longe de ter sido esgotada, ganharelevncia na atual conjuntura de desencantamentoda poltica e descrena em relao aos partidospolticos.

    Nesse registro, a obra de Michels, Partidospolticos, considerada um clssico da cinciapoltica que consagra o exame da organizaopartidria como requisito da teoria democrtica.Este ensaio retoma reflexo que procureidesenvolver sobre os desdobramentos da teoriada organizao partidria a partir de Michels1.Como em outras ocasies, acompanho o percursode autores contemporneos que buscaram brechase alternativas capazes de minar o determinismo

    inexorvel da lei de ferro das oligarquias partidrias,em busca de um modelo de democracia possvel.

    Contudo, procuro destacar um aspectocertamente menos explorado que remete apropriao de Partidos polticos pelo pensamentoliberal, nos Estados Unidos, como instrumentoideolgico no contexto da Guerra Fria, no ensejoda crtica ao partido nico comunista emcontraposio defesa do pluralismo. interessante refletir como essa obra de cunhoprofundamente autoritrio, escrita em 1911, chegaao ambiente intelectual-acadmico dos EstadosUnidos no incio da dcada de cinquenta e consagraa verso liberal da crtica utopia socialista.

    Fao, ento, a titulo introdutrio, algumasobservaes sobre a teoria de partidos que centralno arcabouo da cincia poltica na expectativade que se possa entender o contexto da influnciado pensamento conservador de Michels noliberalismo anglossaxo (SARTI, 2006). A seguir,depois de uma breve referncia distino entreas noes de partido liberal e socialista, contemploo dilema constitutivo da teoria da organizaopartidria e recorro uma importante literaturaque busca alternativas ao vis dominanteantipartido e anti-socialista.

    II.OS PARTIDOS E O PLURALISMO ANGLOS-SAXO POSTERIOR II GUERRA

    Muito tempo se passou at que os partidospolticos despertassem interesse como atores de

    1 Basicamente, apoio-me em trabalhos anteriores: Sarti(1996; 1998).

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    fato fundamentais para a governabilidade dasdemocracias ocidentais. No sculo XIX, os liberaisnorte-americanos dirigiram a questo dademocracia para o florescimento de associaespluralistas no polticas, la Tocqueville, semconferir prioridade ao debate sobre agovernabilidade democrtica. No mbito doliberalismo, s nas formulaes polticas do ps-guerra na dcada de quarenta, com apogeu noscinquenta, o tema dos partidos polticos torna-seobjeto sistemtico e central da anlise terica. Note-se que no conjunto das democracias ocidentaisos partidos polticos s adquiriram definio legaldepois da II Guerra Mundial, mesmo assim empoucas Constituies.

    Quando a questo do desempenho dos partidosse torna tema de governabilidade democrtica,cientistas sociais do incio, nos Estados Unidos,a uma srie de pesquisas sobre eleies e partidos,com o objetivo de definir os mecanismos deescolha que determinam o comportamento doseleitores e de avaliar o seu funcionamento nossistemas democrticos vigentes. Enquanto apesquisa emprica recebe extraordinrio impulso,os estudos comparados so recomendados comotentativa de se chegar a um conceito universal departidos polticos.

    O resultado desta incurso foi um amplo econtroverso material cuja profundidade foge aoescopo deste trabalho, porm cumpre observarque o interesse pelo tema surge na literatura quandoo pluralismo poltico a descoberta terica quevaloriza o estudo de partidos polticos comoelemento-chave numa teoria especfica dademocracia, que em nada se assemelha nooclssica de governo democrtico e nem se baseiaem ideais ou princpios; ao contrrio, pragmticae minimalista. Trata-se de uma concepo no qual,supostamente assegurada uma base mnima dedistribuio de bens essenciais como educao,habitao, sade e justia social , os partidosexercem a funo de manuteno do equilbriopluralista que garante um mnimo consideradosuficiente de participao a cada parcela do povo.Assim a atuao dos partidos ser avaliada emfuno do fim para o qual foram criados, ou seja,conquistar o poder poltico e exerc-lo de acordocom os interesses que representa. Portanto, nacompetio eleitoral que se inscreve a problemticado partido liberal.

    Ao contrrio do que o nome indica, porm,

    justamente no aspecto unificador que o pluralismoafirma sua fora: o sistema de partidos concebidocomo a nica forma de governo representativo,que supe um nico modelo de partido e se apoiasobre uma nica viso de participao nasdecises.

    No meio acadmico, foi escassa a crtica tentativa de se criar uma cincia polticapretensamente universal e sob, seus critrios,orientar a pesquisa. Entre as excees, Ranney(1968) ressalta o vis autocentrado e excludentena literatura bem como na poltica dos EstadosUnidos, que, alm da oposio aguerrida ao partidocomunista, tendiam a ignorar os vrios sistemaspartidrios no competitivos onde os partidostinham um desempenho importante na estruturagovernamental, como o caso da ndia. A nfasecrtica de Nicholls (1974) volta-se para a tentativada teoria pluralista estadunidense de explicar, efrequentemente justificar, o sistema poltico damaneira pela qual funciona nos Estados Unidos,como se o modo pelo qual o sistema poltico operanos Estados Unidos refletisse corretamente osdireitos legtimos e os interesses de toda apopulao.

    Paradoxalmente, tal unicidade que garantiro monoplio da democracia liberal: outras formasde organizao e participao poltica, outrossistemas de governo e outros modelos de partidoso a expresso da diferena, por esta razo lhes reservada a excluso. Reproduzindo acircularidade do argumento, s os partidos que seenquadram na definio de partidos compem osistema partidrio. Em suma, o sistema departidos identificado com a problemtica dogoverno liberal em seu objetivo estritamentevoltado para a estabilidade poltica, um sistemaque toma emprestado um termo muito mais amplodo que supe seu funcionamento, qual seja, o dedemocracia representativa. Menos pluralista do quese anuncia e fundado no temor da maioria e noreceio do igualitarismo, o sistema poltico ancora-se na representao como instrumento, esimultaneamente reflexo, de interesseseconmicos. Chama a ateno tambm a ausnciada mediao como trao que definiria sua naturezapblica, em contraponto que central nessaconcepo partidos como instrumentosfuncionais da governabilidade. A preocupao dereivindicar a natureza pblica dos partidos sersistematizada apenas nas formulaes das ltimas

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    dcadas do sculo XX, quando a crise dos partidosdos setenta conduzir o tema sob os refletores dodebate democrtico.

    III. A DEMOCRACIA E O PARTIDO SOCIA-LISTA

    Se a teoria dos partidos polticos se insere nocampo delimitado da teoria liberal democrtica,na prtica, o partido poltico est diretamente ligadoao surgimento de uma classe operria numerosa,gerada pela Revoluo Industrial, e necessidadede incorpor-la ao sistema, de modo a conter oconflito poltico de classes antagnicas. Para ospartidos socialistas, a defesa da participao dasmassas condio de realizao do governodemocrtico. J no sculo XX, inscrevendo-seno campo terico do marxismo, a tarefa a que seprope inclui a atuao democrtica na mobilizaoe educao das massas, para a realizao dademocracia como meio, que se afirma naparticipao em todas as etapas da construo dosocialismo. Ao mesmo tempo, em suas diferentesinterpretaes, a afirmao da crena na funotransformadora do partido, se no revolucionria,pelo menos mobilizadora e conscientizadora de suabase. O nvel de exigncia considervel. Noapenas se pretende o socialismo, mas para chegara ele se requer do partido um notvel grau dedemocracia interna.

    Dessa maneira, o partido socialista estpermanentemente submetido tenso entre asexigncias internas de uma organizaodemocrtica, a representao de interessesclassistas e, ainda, as demandas da competioeleitoral, que englobam interesses mais amplos ede natureza diversa. O debate terico da SegundaInternacional frtil em polmicas, porm escassona produo de solues para esses dilemas. Muitosismos foram adotados e poucos resistiram aoteste da histria, sempre que se tentou formularestratgias partidrias que permitissem ao partidomanter o ideal de participao em uma organizaorepresentante dos interesses da classe trabalhadorae, simultaneamente, bem-sucedida no jogo eleitorale parlamentar de seu pas. Na prtica, todo operodo da Guerra Fria nos deixou a constataode que, sob o capitalismo, os trabalhadores seorganizaram; porm, na tentativa de conciliar osistema com a democracia, perderam o mpetorevolucionrio que o iderio socialista preconizava.A histria mostra os trabalhadores atuando atravsde partidos, a partir da estratgia de participao

    no jogo eleitoral das sociedades capitalistas emprocesso de democratizao: no apenas liberal,nem somente socialista, o partido dos trabalhadoresse tornou socialdemocrata.

    IV. MICHELS E O DILEMA DA ORGANI-ZAO PARTIDRIA

    Vale notar que escassa a produo sobrepartidos polticos sob a tica da teoriaorganizacional, particularmente quando comparadacom a que tem fluido na rea de anlises de sistemaspartidrios e de eleies. Quando, em 1951,Duverger (1987) apontava seu esforo declassificao metdico, ressaltando o empirismoque caracterizava as investigaes sobre o tema,em lugar da cincia, j comentava a ausncia dealgum estudo comparativo das estruturaspartidrias. At ento, dois trabalhos haviam abertoo caminho para o conhecimento dos partidos comoorganismos complexos e diferenciados. Oprimeiro, de Ostrogorski (1902), analisava aemergncia do partido moderno na Inglaterra enos Estados Unidos. O segundo, em 1911, oestudo de Michels sobre a possibilidade de umademocracia interna em organizaes complexas.Foram precisos, portanto, trinta e sete anos paraque Duverger retomasse a perspectivaorganizacional, tendo a obra de Michels comointerlocutor. As dificuldades da anlise comparativade partidos seriam ainda sentidas muito tempodepois, s recentemente a continuao do dilogoviria a ser assumida explicitamente por Panebianco(1988), que prope a atualizao da tipologiaorganizacional dos partidos com base na anlisehistrico-comparativa de partidos polticos.

    Foi a partir da anlise do Partido Social-Democrata Alemo (SPD) que Michels apresentouseu trabalho pioneiro sobre a relao entredemocracia e organizao, de onde extrai sua leide ferro da oligarquia, ou a tendncia inexorvel centralizao e burocratizao das organizaesde massa. A anlise da estrutura do SPD leva-o aconcluir pela impossibilidade de uma organizaorealizar seu fim democrtico, que inviabilizadopela combinao de elementos psicolgicos doschefes e das massas com as caractersticasburocrticas das organizaes complexas.Influenciado por Weber e Mosca, tambminspirado em Rousseau e Sorel, Michels se dilaceraentre o tipo ideal, a democracia impossvel e aanlise histrico-concreta. Confronta-se com apolaridade conceitual de uma vontade geral que

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    no comporta partes, de um lado, e com umsindicalismo que requer organizao parasobreviver, de outro. Seu sonho sindicalista-democrtico se desfaz em um conflito sem sada,nos termos do prprio Michels: a democraciaprecisa da organizao das massas e todaorganizao contm em si os germes doconservadorismo; logo, a democracia impossvel. Seu estudo levaria impossibilidadedo tipo ideal que perseguia: se a democracia dosdeuses, como dizia Rousseau, ela certamente noconvm aos homens (SARTI, 2010).

    Vimos que o interesse pela obra de Michels eas crticas lei de ferro aparecem na literaturado ps-guerra, quando o pluralismo adescoberta terica que valoriza, nos EstadosUnidos, o estudo dos partidos polticos comoelemento chave da teoria da democracia.Questionar o carter internamente democrtico degrupos cuja competio era tida como fonte dedemocracia passou a ser uma postura adotadadesde ento como regra de pesquisa, comresultados surpreendentes. Os estudos deorganizaes, particularmente, demonstravam apossibilidade de arranjos que resultavam em algumtipo de democracia interna nos sindicatos. Na reaespecfica de partidos, Eldersveld (1964) contestaexplicitamente Michels e, com base em estudorealizado em Detroit, procura demonstrar que opoder no concentrado em uma oligarquia, masque a estrutura de poder difusa e expressa emvrios nveis de direo, no mesmo partido. Cadaum desses nveis seria a expresso direta decoalizes representantes de diferentes estratossocioeconmicos e culturais, configurando umaestratarquia: o poder no centralizado, comona oligarquia, nem diludo, como na poliarquia,mas sim dirigido por estratos que operam comconsidervel nvel de independncia.

    A obra de Michels teve maior divulgao, deincio, entre os socialistas e os tericosinteressados na classe operria, que logoapresentaram crticas sua anlise. Ainda nos anos1940, Lipset comeava seu trabalho de pesquisasobre a democracia sindical, publicando depois,com Trow e Coleman, outra obra clssica, UnionDemocracy, na qual a lei de ferro refutada,com base na anlise da democracia interna dosindicato dos grficos de Nova York (1956). Nosindicalismo brasileiro, o confronto das teses deLipset e Michels serve de referncia para a anlisede um sindicato estivador, organizao tpica de

    desenvolvimento oligrquico que apresentaesforos de democratizao interna, emdeterminado perodo histrico (SARTI, 1980).

    Para Cook (1971), Partidos polticos no umaobra sobre o dilema do governo democrtico, mas,acima de tudo, consiste em um ataque polmicoao sindicalismo, no qual se revela o dilema dogoverno igualitrio idealizado pelo sindicalismosocialista: a discusso entre democracia eorganizao exclui a noo de representatividade,transforma o conceito de oligarquia em axiomado qual deriva a mesma democracia, e acaba,assim, por refletir o conflito irreconcilivel entreos meios e os fins do socialismo.

    As anlises de carter geral da obra de Michelsquestionam at mesmo a possibilidade de extrairgeneralizaes de um estudo que localiza nadinmica interna da organizao as causas de suaconstituio, em detrimento de uma abordagemintegrada das condies socioeconmicas epolticas em que se insere essa organizao. Suacompreenso do processo de formao do SPDteria sido prejudicada por no ter ele dado a devidaimportncia s condies poltico-sociais e sheranas histricas que influenciaram o destinodo partido (ROTH, 1963).

    As crticas de carter geral apenas precedemo questionamento da noo de poder de Michels.Interpretaes variadas ora apontam seu carterobsoleto, como em Cook (1971), ora sua estreitezaao perceber o poder como algo que se possui eexerce-se unilateralmente, como em Panebianco(1988). Este ressente-se de uma noo capaz deconter a relao de reciprocidade observada entredirigentes e dirigidos. Roth, tal como o ex-militanteLandauer (1959), observa que Michels subestimaos funcionrios de escalo inferior e seu papelcomo elo entre as lideranas e as bases, em suaavaliao sobre o controle exercido pela liderana.Para Roth (1963), tambm as massas foramsubestimadas: Michels strongly neglect theoperational level of checks and balances byjustaposing the extremes of ideal and real2.

    Porm, a despeito das crticas que situamMichels em perspectiva, sua influncia no estudodas organizaes permanece. Contudo, a natureza

    2 Michels negligencia fortemente o nvel operacional dospesos e contrapesos ao justapor os extremos do ideal e doreal (nota do revisor).

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    do dilema de Michels, centrado na concepo dedemocracia, no o ngulo privilegiado pela teoriada organizao partidria. Sua anlise sobre o SPDtem servido muito mais como referencial parageneralizaes sobre a lei de ferro, a partir dosmesmos indicadores que Michels percebeu,notadamente aqueles que revelam o carter elitistadas lideranas, a propenso manipulao dasmassas e sua tendncia apatia e centralizaoirreversvel das organizaes. Portanto, sosobretudo aqueles aspectos atravs dos quaisMichels se aproxima do pensamento conservadorde Mosca e Pareto que configuram suacontribuio para a teoria organizacional dospartidos (MEISEL, 1958; 1965). Contudo, mesmonos casos em que a referncia a lei de ferro,frequentemente as anlises reinterpretam ospressupostos michelianos em sentidos diversos,e at mesmo contrrios, s concluses dopensamento original. Parece indiscutvel que oestatuto terico de Partidos polticos se deve, emgrande parte, aos problemas que ele traz luz,estimulando o debate para a busca de outrassolues, que no so as apresentadas na obra. Ofato que o dilogo com a lei de ferro tem dadoresultados hbridos, na medida em que mantmas premissas do autor, mas atinge conclusesdiferentes, ou simplesmente atenua o determinismocausal observvel em sua obra.

    V. ALTERNATIVAS E LIMITES DE UMADEMOCRACIA PARTIDRIA NALITERATURA DO SCULO XX

    Um dos temas que tm suscitado controvrsias a noo de tamanho, que para alguns autoresseria uma varivel privilegiada em Michels, da qualderivariam os fatores tcnico e psicolgico. DesdeMichels, o tamanho da organizao tem sidorelacionado tanto ao grau de coeso de um partidoquanto ao nvel de participao de seus membros:os partidos menores tenderiam a ser mais coesos,contando com maior participao e menosburocracia. Considera-se, inclusive, que uma daspreocupaes dos lderes partidrios estaria emprevenir a expanso excessiva de seus quadros,de modo a minimizar os conflitos internos. Noentanto, outros estudos concluem que o tamanhono condio para a coeso interna, nem garantiade participao; o PCI seria um caso exemplar:partido grande e coeso, teve sua participaodiminuda justamente quando caiu o nmero deseus membros, nos anos 1950.

    Outro aspecto que tem oferecido contribuiesvaliosas e distintas daquela sugerida por Michelsse refere relao entre a natureza dos chefes eos fins da organizao. Para Michels no h apossibilidade de a liderana se manter fiel aos finsdemocrticos originais devido s solicitaes daorganizao, que se torna mais complexa e,principalmente, e devido ao fato de a proximidadedo poder mobilizar no indivduo chefe os instintoshobbesianos de desejo incessante e cumulativo depoder. Esta caracterstica psicolgica parececonsensual na literatura, mas as exigncias daorganizao complexa so vistas sob outro ngulo,mais dinmico, pelo qual a natureza humana setorna menos prejudicial. Lowi (1971) recusa anoo de abandono ou mesmo substituio dosfins democrticos pelo desejo da liderana deconservar o poder: os fins seriam apenasrearticulados, para se adaptarem melhor snecessidades da organizao em sua fase deconsolidao. Na mesma linha, Panebianco (1988)percebe nos partidos socialistas e comunistas, nosquais a ideologia fator importante at mesmo deidentidade coletiva, uma sucesso de fins quetorna progressivamente latente a ideologiamanifesta no incio. Os fins seriam semprereafirmados pelos lderes, mas a nfase da aoestaria dada aos objetivos que no afetam aestabilidade do partido. O autor sugere uma tensopermanente entre os fins de um partido desse tipoe o comportamento de sua liderana, mas atribuia mudana no comportamento da liderana suaidentificao com a organizao. Menos do que apreservao de seu prprio poder, a preocupaoda chefia seria a estabilidade do partido.

    Entre os resultados hbridos, o produzido porDuverger dos mais criativos. Com toda suaadmirao pelo partido socialista, que considerao moderno partido de massa, o autor tem umproblema ao reproduzir fielmente o pensamentode Michels sobre a natureza oligrquica do poder.Reitera o autoritarismo natural, que seria, alis,particularmente acentuado entre os dirigentesoperrios, contudo, confere ao Partido o mritoda vontade democrtica sincera, que levaria acontrabalanar o poder do chefe atravs demecanismos de funcionamento do partido.Portanto, embora coincida com Michels ao reiterara natureza oligrquica dos dirigentes e considerarilusria a noo de representao uma vez quetodo poder oligrquico, Duverger acaba porcontestar a lei de ferro, na medida em que

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    enfatiza a criao de mecanismos internos comomodo de viabilizar o desempenho democrtico dospartidos. Os partidos socialistas so, para o autor,um desenvolvimento da democracia, no sentidoda realizao da esperana de evoluo liberalulterior.

    Em seu esforo para definir um mtodoconcreto de pesquisa que permitisse elaborar leissociolgicas para uma teoria geral dos partidos,Duverger colocou a noo de que os partidosexperimentam profundamente a influncia de suaorigem: o conjunto da vida do partido traz a marcade seu nascimento. Sua tipologia descrevetendncias, mais do que tipos, nitidamentedistintas, tendncias que repousam em umacoincidncia entre categorias de distines,relativas aos seguintes aspectos que compem aestrutura do partido: o elemento de base, oarcabouo geral, os mecanismos de adeso, osgraus e a natureza da participao, a escolha doschefes e o papel dos parlamentares. Segundo essatipologia, o partido socialista moderno, de massa,se define em linhas gerais por sua origem externa criado a partir de uma organizao j existente,o sindicato , por sua organizao em sees,pela tendncia disciplina e centralizao, assimcomo pela escolha direta de seus dirigentes, queexercem forte influncia sobre o grupoparlamentar. Duverger adverte, porm, que oobjetivo do tipo ideal enfatizar a importncia dedefinir com preciso essas distines bsicas emcada caso concreto; a expectativa de que avariedade de estruturas seja ampla, contendo aoriginalidade de cada partido, inclusive dentro domesmo tipo.

    Panebianco expande, reformula e refina omodelo de Duverger, mantendo os pressupostosmetodolgicos do tipo ideal. Sua tipologia estcentrada nas relaes de poder que definem adinmica interna do partido, privilegiando asalianas e as lutas de poder dentro da organizaocomo chave para a compreenso de seufuncionamento e das transformaes que ocorrem.Em outras palavras, para pesquisar a ordem deum partido preciso em primeiro lugar examinara estrutura de poder: como ele distribudo dentroda organizao, como as relaes de poder sereproduzem e se modificam e quais as consequn-cias dessa modificao para a organizao. Opressuposto que a ordem sempre uma ordemnegociada, dependente do equilbrio alcanadoentre as vrias demandas e presses.

    do manejo e do controle de reas deimprevisibilidade, chamadas zonas de incerteza,que depende o grau de institucionalizao do partidoe de estabilidade da coalizo dominante. Pormaiores e mais bem controlados que sejam osrecursos dos quais dispe o chefe, em todaorganizao sempre h fatores que ameaam asobrevivncia; a estabilidade interna depender decomo esses fatores as zonas de incerteza so conduzidos e controlados na relao com asbases. A noo implica afirmar que todo atorcontrola pelo menos um mnimo de uma zona deincerteza: no limite, algum da base partidria temsempre a alternativa de apoiar uma elite minoritria,ou at mesmo abandonar o partido; por isso h anecessidade metodolgica de identificar ocontedo da relao de troca para definir o poderna organizao. Para a correta percepo danegociao da ordem, Panebianco ressalta aimportncia da anlise do processo de distribuiodos recursos de que a liderana dispe paraoferecer incentivos de mobilizao e participao,sejam coletivos (de identidade) ou seletivos(materiais e de status). A questo do controle dosrecursos ser fundamental para consolidar o partidoe definir sua coalizo dominante. Assume, portanto,a perspectiva de que o controle dos recursos nunca monopolizado apenas por um grupo interno e acoalizo dominante ser formada pelos atores quecontrolarem melhor as zonas de incerteza. Afisionomia da coalizo dominante, por sua vez,ser expresso da ordem organizacional de umpartido, produto da estrutura de poder que sedesenhou em sua origem e se consolidou noprocesso de institucionalizao do partido. O autorobserva ainda que o grau de institucionalizaopode variar, principalmente se a organizao forsujeita a fortes modificaes externas; mas, emgeral, a maneira pela qual a institucionalizaoocorre continua a marcar fortemente a organizaodo partido e condiciona, por dcadas, seu sistemade competio interna e seu comportamentopoltico.

    A importncia da origem do partido, apontadapor Duverger, aqui retomada com inovaes:em primeiro lugar, o modelo se torna maiscomplexo em relao s possibilidades deemergncia interna ou externa; em segundo lugar,a dimenso histrica adquire maior relevncia naconstruo do modelo. Panebianco considerainsuficiente a classificao de Duverger,particularmente no caso dos partidos de massa,

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    que se diferenciam entre si apesar da origem emcomum, e acrescenta trs fatores para definir seumodelo gentico: a forma de constituio porpenetrao territorial (o centro do partidocontrola as associaes perifricas) ou por difusoterritorial (o partido nasce espontaneamente dasassociaes de carter local e s posteriormentese integra a nvel nacional); a presena ou ausnciade um agente externo (external sponsor),instituio que concebe o partido como seu braopoltico e constitui uma fonte de legitimidadeexterna ao partido; a presena ou no de um ldercarismtico. A partir dessas caractersticas quedefinem o modelo gentico, Panebianco construiro tipo ideal de evoluo organizacional, que seapoia na teoria da oligarquia de Michels e na teoriade desenvolvimento da participao poltica dePizzorno (1966), para quem o partido tende aevoluir de um sistema de solidariedade para umsistema de interesses. Na primeira fase, o partidoseria uma comunidade de iguais, na qual os finsde todos os participantes coincidem e prevalece acooperao entre eles; na segunda, o sistema seapresenta baseado no interesse dos atores e acompetio provoca conflitos entre os finsdivergentes. Por meio da burocratizao e da rotinadiria, o partido criaria novas desigualdades e aparticipao tenderia a cair. O autor observa, ento,um processo de institucionalizao organizacional,pelo qual os partidos evoluem e, no curso de seudesenvolvimento, tendem a passar de um perodoinicial no qual certas necessidades prevalecem a um perodo subseqente no qual outrasnecessidades so prioritrias. A institucionalizaoseria, portanto, o processo que marca a passagemda gnese maturidade do partido, atravs do qualuma organizao incorpora seus valores e finsfundadores:

    Em sntese, os partidos podem ser distinguidosde acordo com o grau de institucionalizao que,por sua vez, depende do tipo de modelo genticoque o originou. Panebianco elabora ento umatipologia na qual relaciona a possvel influncia decada modelo gentico no desenvolvimento daorganizao: o resultado uma institucionalizaoforte ou fraca. A partir dessa tipologia, constrifinalmente o modelo organizacional, do qual o SPD o caso histrico mais prximo, um tipo idealquase perfeito (PANEBIANCO, 1988, p. 53).

    De acordo com seus traos principais, o tipoideal apresenta as seguintes etapas na transio dainstitucionalizao, isto , da fase gentica

    maturidade organizacional: de um sistema desolidariedade para um sistema de interesses, isto, de uma organizao destinada a realizar osobjetivos dos participantes (de acordo com omodelo racional) para uma organizao maisinclinada preservao de sua existncia e mediao entre objetivos e demandas heterogneas(de acordo com o modelo natural); de uma fasede ideologia manifesta para uma na qual a ideologiatorna-se latente e o partido passa do tipomovimento social para o tipo profissional; deuma crescente estratgia de dominao ambientalpara uma estratgia cautelosa e circunspecta deadaptao ambiental; de uma fase na qual os lderestm a mxima liberdade de movimento para definirobjetivos, selecionar a base social e formar aorganizao, para uma fase de restrio mximade sua liberdade de ao e de seu poder demanobra.

    VI. OBSERVAES FINAIS

    inegvel o avano da teoria da organizaopartidria na tentativa de atenuar os pressupostosdeterministas que inviabilizam a prticademocrtica de um partido poltico. O destaque,sem dvida, est na contribuio de Panebiancoque, se no demonstrasse a criatividade que defato revela, j se justificaria pelo esforo tericode reunio dos clssicos com os autores que sededicaram a estudos de caso recentes. O trabalhodesse autor resulta em uma vigorosareinterpretao da teoria da organizao partidria.

    No entanto, e apesar de baseada na anlisehistrico-comparativa dos partidos polticoseuropeus, essa teoria ainda se restringe compreenso da lgica partidria do ponto de vistaestrito de sua organizao interna. Pouco avanouno sentido de relacionar a estrutura interna de umpartido com seu desempenho externo. A questo crucial para avaliar as possibilidades dademocracia contempornea, que persegue odesafio da conciliao entre organizaodemocrtica e participao poltica, em todos osnveis de representao e governo.

    A questo volta a ser protagonista da teoriapoltica no final do sculo XX, quando novospartidos reintroduzem a utopia socialista noscenrios da globalizao capitalista. A anlise dastransformaes foge ao escopo deste artigo, masno ser demais lembrar que a introduo doparadigma das identidades na poltica e aabordagem de novos temas na estratgia de

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    A LEI DE FERRO DE MICHELS E O PLURALISMO

    conquista da ampla cidadania, mais do que meranovidade, foram o suporte que importantespartidos polticos encontraram para contrapor lei de ferro uma reelaborao da utopia socialistana periferia da globalizao capitalista, no final dosculo XX. Foi uma ousadia propor a construode um espao pblico que agregava a diversidadedos interesses. Caso emblemtico, a vitria doPartido dos Trabalhadores nas urnas com a eleiodo metalrgico Lula, em 2002, foi acontecimentona contramo de todas as tendncias polticas doOcidente no incio do milnio. Foi o renascer dautopia socialista a interromper a festa docapitalismo financeiro em sua celebrao da quedado Muro de Berlim, do fim da histria e daconsolidao de seu poderio global.

    Cabe sempre sublinhar que, para contrapor ademocracia globalizao supostamenteinexorvel, preciso trazer a poltica para a gora,esfera pblica/privada como define Castoriadis(2001), territrio de constante tenso e luta, tantoquanto espao de dilogo, cooperao ecompromisso. Para isso, faz-se necessrio, nafeliz observao de Bauman (2000), interromperao mesmo tempo a privatizao e despolitizaodo espao pblico, restabelecer a traduo doprivado para o pblico, retomando o discursointerrompido do bem comum.

    Revitalizar o espao pblico, quando o privadoprevalece, pois o desafio que se apresenta aospartidos de esquerda na atual etapa de hegemoniado capital globalizado. Redescobrir o sentido docoletivo e reelaborar a solidariedade como valorem tecido social esgarado no qual predominamas relaes fragmentadas. Reinventar a cidadanialanando mo de todas as ferramentas que oextraordinrio avano da cincia e das tecnologiasoferece, para que o acesso ao conhecimento nose cristalize em mais um instrumento a distanciaros cultos da maioria inculta. Dar voz s novasvozes que surgiram e organizaram os movimentosde etnias e gnero, quase sempre descrentes dasinstituies polticas, particularmente dos partidos,e que se querem atores da uma nova gora. E, nocontexto de fragilidade das instituies polticasque exercem a poltica local mas no tm o poderglobal, urge erigir um parlamento cidado, capazde legislar para o bem pblico tornandodemocrtica a representao. No tarefa paraum s partido, mas um projeto cuja preparaoe realizao exige a constncia e a inovao demovimentos sociais e partidos socialistas edemocrticos em permanente resistncia aosefeitos da barbrie que o imprio globalizadodissemina. Sem deixar jamais de recriar a utopia erenovar a esperana que, como disse Spinoza, amatria sobre a qual se constri a democracia.

    Ingrid Sarti ([email protected]) Doutora em Cincia Poltica pelo Instituto Universitrio dePesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) e Professora de Cincia Poltica e Relaes Internacionais noPrograma de Ps-graduao em Economia Poltica Internacional da Universidade Federal do Rio deJaneiro (UFRJ).

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    REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLTICA V. 20, N 44: 73-81 NOV. 2012

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    REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLTICA V. 20, N 44: 199-203 NOV. 2012

    for empirical research and theoretical reflection. This article revisits Robert Michels major contributionin search of greater conceptual clarity and usefulness for empirical research. Through Michelsconcept we are able to suggest a model of institutional analysis that enables us to identify and explainprocesses of oligarchization of specific social and political organizations, understanding their institutionallogic in such a way as to understand how organized collective life frequently operates in ways thatrun against the grain of the legitimation that particular collectivities bound to the oligarchy considervalid.

    KEYWORDS: Oligarchy; Oligarchization; Robert Michels; Political Organizations; PoliticalRepresentation.

    * * *

    DECADES OF MICHELS: CONTEXTUAL FRAMES AND EXPIRATION DATES OF THEIRON LAW

    Andr Marenco and Maria Izabel Noll

    The central argument behind this paper is that there is an expiration date for the effects of the ironlaw of oligarchies, a proposal that Robert Michels coined in his 1911 book, Political Parties. In thefirst section, we sketch out the social and institutional bases that served as a propitious context forturning the European socialist parties of the early twentieth century into oligarchical parties: theexpansion of suffrage and the integration of candidates without property or high income into electoralcompetition, combining electoral reform with the substitution of majority vote for proportionalrepresentation. This was accompanied by shifting the making and organizing of candidate lists to thehands of party leadership. In the second section, we seek to provide some nuance to Robert Michelssomber prognosis on party organization, considering the factors that contribute to a greater or lesserdelegation of internal power to party leaders.

    KEYWORDS: Robert Michels; Iron Law of Oligarchy; Democracy; Political Parties; PartyOrganization.

    * * *

    MICHELS IRON LAW AND PLURALISM: DEMOCRACY IN COLD WAR TIMES

    Ingrid Sarti

    This article revisits the theory of party organization by questioning the impossibility of democracywithin parties, as enunciated by Robert Michels notion of the iron law of oligarchy. The debate isplaced within the context of the ideological disputes of liberal thought during the Cold War. I seek tomake differences between conceptions of party clear and take up the socialist dilemma of massparticipation in modern representation. I attempt to demonstrate the importance of political parties asa form of public emancipation in contemporary society.

    KEYWORDS: Representation; Political Parties; Democracy; Socialism; Robert Michels.

    * * *

    DEMOCRACY AND ORGANIZATION WITHIN POLITICAL PARTIES: REVISITING THEMICRO-BASIS OF MICHELS WORK

    Maria do Socorro Sousa Braga

    My goal here is to return to the premises of Robert Michels thesis on the organizational dynamics ofpolitical parties, marked by two supposedly antagonistic tendencies: the propensity toward theconcentration of powers in the hands of an oligarchy, on the one hand, and desires for participationon the part of other party members, on the other. I also look at how scholars of the political party

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    REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLTICA V. 20, N 44: 207-211 NOV. 2012

    LOLIGARCHIE ET LES PROCESSUS DOLIGARCHISATION : LA CONTRIBUTION DEMICHELS LANALYSE POLITIQUE CONTEMPORAINE

    Cludio Gonalves Couto

    Le terme oligarchie a perdu une bonne partie de son utilit analytique dans la Science Politique cause de son usage peu rigoureux, ce qui la rendu plutt laspect dun adjectif dapplicationsubjectivement oriente au lieu dun concept instrumentalisable pour la recherche empirique et larflexion thorique. Cet article vise reprendre la contribution fondamentale de Robert Michelsavec le but dclairer la terminologie et servir la recherche empirique. A partir du concept michelien,cest possible dlaborer un modle institutionnel danalyse pour lidentification et lexplication desprocessus doligarchisation de certaines organisations sociales et politiques, en comprenant leur logiqueinstitutionnelle, de faon vrifier comment la vie collective organise agit souvent dune manirediffrente des principes de lgitimation valables pour certaines collectivits prises par des oligarchies.

    Mots-cls: oligarchie; oligarchisation; Robert Michels; organisations politiques; reprsentationpolitique.

    * * *

    DES DCENNIES DE MICHELS: LES MARQUES CONTEXTUELLES ET LA DATEDEXPIRATION DE LA LOI DE FER

    Andr Marenco et Maria Izabel Noll

    LArgument central de cet article expose quil existe une date dexpiration temporelle pour leffet dela loi de fer des oligarchies, une proposition faite par Robert Michels dans son oeuvre La Sociologiedes partis politiques, de 1911. Larticle prsente, dans sa premire partie, les bases sociales etinstitutionnelles qui ont servi comme des marques contextuelles appropries la conversion despartis socialistes europens au dbut du XX sicle dans des oligarchies partidaires: lexpansion dusuffrage et lintgration dans la comptition lectorale de candidats dpourvus de proprits et revenu,avec des rformes lectorales, et le remplacement du vote majoritaire par la reprsentationproportionnelle, spcialement accompagne par le transfert aux dirigeants de la prrogative deconfection et ordonnance de listes de candidats partidaires. Dans la deuxime partie de larticle, oncherche nuancer les sombres prognostiques de Robert Michels autour de lorganisation partidaire,en considrant les facteurs qui contribuent pour une plus grande ou petite dlgation du pouvoirinterne des partis leurs dirigeants.

    MOTS-CLS: Robert Michels; loi de fer des oligarchies; dmocraties; partis politiques;organisation partidaire.

    * * *

    LA LOI DE FER DE MICHELS ET LE PLURALISME : LA DMOCRATIE DANS LA GUERREFROIDE

    Ingrid Sarti

    LArticle revisite la thorie de lorganisation partidaire partir dun questionnement sur limpossibilitde la dmocratie lintrieur des partis, bien comme a t nonc par Robert Michels avec sa notionde loi de fer de loligarchie. Larticle cherche contextualiser ce dbat dans le cadre de ladispute idologique de la pense librale pendant la Guerre Froide. On cherche donner des dtailssur les diffrences entre des conceptions de partis, et on aborde le dilemme socialiste de la participationde masses dans la reprsentation moderne. On a lintention de montrer limportance du retour despartis autant que forme dorganisation dans le processus dmancipation du public dans lacontemporanit.

    MOTS-CLS: reprsentation; partis politiques; dmocratie; socialisme; Robert Michels.