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A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E O MINISTÉRIO PÚBLICO1
SUMÁRIO: 1. Introdução – 2. O art. 129 da Constituição Federal – 3. A Lei Orgânica do
Ministério Público e o Estatuto do Idoso – 4. O art. 144 da Constituição Federal – 5. A
Jurisprudência - 6. O Direito Comparado – 7. Conclusão – 8. Bibliografia
RESUMO: Trata este trabalho de uma análise, à luz da Constituição Federal e da
legislação ordinária, acerca da possibilidade do Ministério Público investigar diretamente
infrações penais. São confrontados os arts. 129 e 144 da Carta Magna, concluindo-se pela
perfeita compatibilidade normativa. São indicados diversos julgados favoráveis à tese ora
defendida, bem como diplomas legislativos de outros países, tudo a corroborar o
entendimento segundo o qual é constitucionalmente garantida ao Ministério Público a
investigação criminal direta.
I - Introdução
O tema em epígrafe diz respeito a uma das mais
importantes atribuições do Ministério Público e, muitas das vezes, de fundamental
importância para a persecução criminal: a investigação de infrações penais.
Nada obstante opiniões em contrário, o certo é que
tal atribuição transparece suficientemente possível à luz da Constituição Federal e de
textos legais, como procuraremos demonstrar a seguir.
1 Rômulo de Andrade Moreira é Procurador de Justiça na Bahia. Foi Assessor Especial do Procurador-
Geral de Justiça e Coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias Criminais. Ex- Procurador
da Fazenda Estadual. Professor de Direito Processual Penal da Universidade Salvador-UNIFACS, na
graduação e na pós-graduação (Especialização em Direito Processual Penal e Penal e Direito Público). É
Coordenador do Curso de Especialização em Direito Penal e Processual Penal da UNIFACS. Pós-graduado,
lato sensu, pela Universidade de Salamanca/Espanha (Direito Processual Penal). Especialista em Processo
pela Universidade Salvador-UNIFACS (Curso coordenado pelo Professor J. J. Calmon de Passos). Membro
da Association Internationale de Droit Penal, da Associação Brasileira de Professores de Ciências Penais e
do Instituto Brasileiro de Direito Processual. Associado ao Instituto Brasileiro de Ciências Criminais –
IBCCrim e ao Movimento Ministério Público Democrático. Integrante, por duas vezes consecutivas, de
bancas examinadoras de concurso público para ingresso na carreira do Ministério Público do Estado da
Bahia. Professor convidado dos cursos de pós-graduação da Universidade Federal da Bahia, do Curso
JusPodivm, do Curso IELF, da Universidade Jorge Amado e da Fundação Escola Superior do Ministério
Público. Autor das obras “Direito Processual Penal”, “Comentários à Lei Maria da Penha” (em co-autoria) e
“Juizados Especiais Criminais”– Editora JusPodivm, 2008, além de organizador e coordenador do livro
“Leituras Complementares de Direito Processual Penal”, Editora JusPodivm, 2008. Participante em várias
obras coletivas. Palestrante em diversos eventos realizados na Bahia e no Brasil.
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Desde logo, atentemos que o “Ministério Público é
instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a
defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais
indisponíveis” (art. 127 da Constituição Federal). Parece-nos ser este um grande indicativo
do que acabamos de afirmar.
II - O art. 129 da Constituição Federal
Com efeito, diz o art. 129 da Constituição Federal que
são funções do Ministério Público, dentre outras:
“I – promover, privativamente, a ação penal pública,
na forma da lei.”
“II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos
e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição,
promovendo as medidas necessárias a sua garantia.” (grifo nosso).
“VI - expedir notificações nos procedimentos
administrativos de sua competência, requisitando informações e documentos para instruí-
los, na forma da lei complementar respectiva.” (grifo nosso).
“VIII - requisitar diligências investigatórias e a
instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas
manifestações processuais;
“IX - exercer outras funções que lhe sejam
conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação
judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas.” (idem).
Como se nota pelo inciso I acima transcrito, a Carta
Magna deu ao Ministério Público, com exclusividade, a titularidade da ação penal pública
e, como diz Luiz Gustavo Grandinetti Castanho de Carvalho, “não seria razoável que a
Constituição concedesse o direito de ação2 com uma mão e retirasse os meios de ajuizá-la
adequadamente com a outra. Por isso, deve-se admitir que o Ministério Público possa
colher os elementos de convicção necessários para que sua denúncia não seja rejeitada.”3
Aqui, acolhemos a teoria dos poderes implícitos, na
forma explicada pelo Ministro Celso de Mello:
2 Na verdade, um dever jurídico tendo em vista o princípio da obrigatoriedade que rege a ação penal pública. 3 Lei dos Juizados Especiais Criminais, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003, p. 91.
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“(...) Impende considerar, no ponto, em ordem a
legitimar esse entendimento, a formulação que se fez em torno dos poderes implícitos, cuja
doutrina, construída pela Suprema Corte dos Estados Unidos da América, no célebre caso
McCULLOCH v. MARYLAND (1819), enfatiza que a outorga de competência expressa a
determinado órgão estatal importa em deferimento implícito, a esse mesmo órgão, dos
meios necessários à integral realização dos fins que lhe foram atribuídos. Cabe assinalar,
ante a sua extrema pertinência, o autorizado magistério de MARCELO CAETANO
(“Direito Constitucional”, vol. II/12-13, item n. 9, 1978, Forense), cuja observação, no
tema, referindo-se aos processos de hermenêutica constitucional – e não aos processos de
elaboração legislativa - assinala que, ´Em relação aos poderes dos órgãos ou das pessoas
físicas ou jurídicas, admite-se, por exemplo, a interpretação extensiva, sobretudo pela
determinação dos poderes que estejam implícitos noutros expressamente atribuídos`
(grifei). Esta Suprema Corte, ao exercer o seu poder de indagação constitucional -
consoante adverte CASTRO NUNES (Teoria e Prática do Poder Judiciário, p. 641/650,
1943, Forense) - deve ter presente, sempre, essa técnica lógico-racional, fundada na
teoria jurídica dos poderes implícitos, para, através dela, mediante interpretação judicial
(e não legislativa), conferir eficácia real ao conteúdo e ao exercício de dada competência
constitucional, consideradas as atribuições do Supremo Tribunal Federal, do Superior
Tribunal de Justiça, dos Tribunais Regionais Federais e dos Tribunais de Justiça, tais
como expressamente relacionadas no texto da própria Constituição da República. Não
constitui demasia relembrar, neste ponto, Senhora Presidente, a lição definitiva de RUI
BARBOSA (Comentários à Constituição Federal Brasileira, vol. I/203-225, coligidos e
ordenados por Homero Pires, 1932, Saraiva), cuja precisa abordagem da teoria dos
poderes implícitos - após referir as opiniões de JOHN MARSHALL, de WILLOUGHBY, de
JAMES MADISON e de JOÃO BARBALHO - assinala: ´Nos Estados Unidos, é, desde
MARSHALL, que essa verdade se afirma, não só para o nosso regime, mas para todos os
regimes. Essa verdade fundada pelo bom senso é a de que - em se querendo os fins, se hão
de querer, necessariamente, os meios; a de que se conferimos a uma autoridade uma
função, implicitamente lhe conferimos os meios eficazes para exercer essas funções. (...).
Quer dizer (princípio indiscutível) que, uma vez conferida uma atribuição, nela se
consideram envolvidos todos os meios necessários para a sua execução regular. Este, o
princípio; esta, a regra. Trata-se, portanto, de uma verdade que se estriba ao mesmo
tempo em dois fundamentos inabaláveis, fundamento da razão geral, do senso universal,
da verdade evidente em toda a parte - o princípio de que a concessão dos fins importa a
concessão dos meios (...).” (Ação Direta de Inconstitucionalidade nº. 2.797-2 - Distrito
Federal).
No inciso II, permite-se a promoção de medidas que
sejam necessárias para a garantia dos direitos assegurados por ela própria que não estejam
sendo respeitados pelos Poderes Públicos e pelos serviços de relevância pública; assim, por
exemplo, quando um agente público, abusando de poder ou de sua autoridade, transgride o
direito à liberdade de um cidadão, verbi gratia, prendendo-o ilegalmente, é evidente que
permitido será ao parquet, constitucionalmente, “promover medidas necessárias para a
garantia do direito à liberdade” desrespeitado pelo agente do Poder Público.
Já o inciso VI, refere-se expressamente à expedição
de notificações “nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando
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informações e documentos para instruí-los.” Pergunta-se: para que serviriam tais
notificações ou as informações e os documentos requisitados se não fossem para instruir
procedimento administrativo investigatório? É evidente que nenhuma lei traz palavras ou
disposições inúteis (é regra de hermenêutica), muito menos a Lei Maior.
Comentando este inciso, afirma Marcellus Polastri
Lima:
“Trata-se, à saciedade, de coleta direta de elementos
de convicção pelo promotor para elaborar opinio delicti e, se for o caso, oferecimento de
denúncia, uma vez que, como já asseverado, não está o membro do Ministério Público
adstrito às investigações da Polícia Judiciária, podendo colher provas em seu gabinete ou
fora deste, para respaldar a instauração da ação penal.
“Portanto, recebendo o promotor notícia de prática
delituosa terá o poder-dever de colher os elementos confirmatórios, colhendo declarações
e requisitando provas necessárias para formar sua opinio delicti.”4
Que não se diga tratar-se tal procedimento
administrativo do inquérito civil preparatório para a ação civil pública, pois desta matéria
já cuida o anterior inciso III. Portanto, este outro dispositivo (VI) ao se referir a
“procedimentos administrativos” não faz alusão ao inquérito civil (que também é um
procedimento administrativo), este já tratado no item anterior; neste mesmo sentido pensa
Hugo Nigro Mazzilli, para quem “se os procedimentos administrativos a que se refere este
inciso (VI) fossem apenas em matéria cível, teria bastado o inquérito civil de que cuida o
inciso III. O inquérito civil nada mais é que uma espécie de procedimento administrativo
ministerial. Mas o poder de requisitar informações e diligências não se exaure na esfera
cível; atinge também a área destinada a investigações criminais.”5
Já com o inciso VIII surge a seguinte indagação: se
se pode o mais (requisitar diligências investigatórias), como não se pode o menos, id est,
fazê-las motu proprio. Aqui devemos aplicar o princípio da máxima efetividade, ou da
eficiência, também conhecido como princípio da interpretação efetiva, segundo o qual “a
uma norma constitucional deve ser atribuído o sentido que maior eficácia lhe dê.”6
Se não bastassem tais preceitos há ainda o quarto
deles consubstanciado no inciso IX, este a permitir o exercício de funções outras que forem
atribuídas ao Ministério Público e que sejam compatíveis com suas finalidades: a Lei
Federal n.º 8.625/93 concede ao Ministério Público a possibilidade de instaurar
procedimentos administrativos investigatórios, como veremos a seguir.
4 Ministério Público e Persecução Criminal, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 1997, p. 88. 5 Regime Jurídico do Ministério Público, São Paulo: Saraiva, 1996, p. 239. 6 J.J. Gomes Canotilho, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, Coimbra: Almedina, 6ª. ed., 2002, p.
1.210.
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III - A Lei Orgânica do Ministério Público e o Estatuto do Idoso
Efetivamente, a Lei n.º 8.625/93 (Lei Orgânica da
Instituição), no seu art. 26, dispõe caber ao Ministério Público (os grifos são nossos)7:
“I - instaurar inquéritos civis e outras medidas e
procedimentos administrativos pertinentes e, para instruí-los: (omissis);”
“II - requisitar informações e documentos a
entidades privadas, para instruir procedimentos ou processo em que oficie;”
“V - praticar atos administrativos executórios, de
caráter preparatório;”
Comentando este artigo, e mais especificamente o seu
inciso V, assim se pronunciou Pedro Roberto Decomain:
“Trata-se de todas as providências preliminares que
possam ser necessárias ao subseqüente exercício de uma função institucional qualquer.
Providências administrativas de âmbito interno poderão ser de rigor para o melhor
exercício de alguma função institucional, em determinadas circunstâncias. Por força deste
inciso, está o Ministério Público habilitado a tomá-las. Aliás, nem poderia ser diferente. É
claro que a Instituição está apta a realizar todas as atividades administrativas que sejam
indispensáveis ao bom desempenho de suas funções institucionais. Tal será uma direta
conseqüência do princípio de sua autonomia administrativa, que orienta não apenas o
funcionamento global da Instituição, mas também a sua atuação em cada caso concreto
que represente exercício de suas funções institucionais.” (Grifo nosso).8
Por sua vez, adverte Marcellus Polastri Lima:
“A exemplo do disposto na CF/88, entendemos que o
estabelecido no item I do art. 26 da Lei 8.625/93, refere-se não só aos inquéritos civis,
como a quaisquer outros procedimentos, sendo a expressão pertinente atinente a medidas
e procedimentos condizentes com as funções do Ministério Público, e não somente aos
inquéritos civis, conforme estabelecido no caput do art. 26.”9
Ainda mais recentemente escreveu Paulo Rangel:
“A investigação criminal direta pelo Ministério
Público é garantia constitucional da sociedade que tem o direito subjetivo público de
7 Adiante mostraremos disposições semelhantes na Lei Complementar n.º 75/93 (Lei Orgânica do Ministério
Público da União). 8 Comentários à Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, Obra Jurídica Editora, ps. 204/205. 9 Idem, p. 90.
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exigir do Estado as medidas necessárias para reprimir e combater as condutas lesivas à
ordem jurídica.”10
Em um outro trabalho específico, temos a opinião de
Mauro Fonseca Andrade:
“Sem sombra de dúvidas, a possibilidade do
Ministério Público investigar criminalmente decorre das previsões da legislação pátria,
que, ainda, dá margem às investidas daqueles que pretendem engessar o Parquet , e
torná-lo dependente do trabalho que a polícia judiciária realizar.”11
Continuando a análise da Lei Orgânica temos no seu
art. 27, verbo ad verbum (por nós sublinhado):
“Art. 27 - Cabe ao Ministério Público exercer a
defesa dos direitos assegurados nas Constituições Federal e Estadual, sempre que se
cuidar de garantir-lhe o respeito:
“I - pelos poderes estaduais e municipais;
“II - pelos órgãos da Administração Pública
Estadual ou Municipal, direta ou indireta;
“(omissis).
“Parágrafo único. No exercício das atribuições a que
se refere este artigo, cabe ao Ministério Público, entre outras providências:
“I - receber notícias de irregularidades, petições ou
reclamações de qualquer natureza, promover as apurações cabíveis que lhes sejam
próprias e dar-lhes as soluções adequadas;
“II - zelar pela celeridade e racionalização dos
procedimentos administrativos;
“(omissis).”
Vemos, destarte, que não há dificuldades em se
admitir a instauração de procedimentos administrativos investigatórios de natureza
criminal no âmbito do próprio Ministério Público, desde que haja a necessidade da
apuração de determinado fato que, por sua vez, enquadre-se no leque institucional das
atribuições ministeriais.
10 Investigação Criminal Direta pelo Ministério Público: Visão Crítica, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003, p.
257. 11 Ministério Público e sua Investigação Criminal, Porto Alegre: Fundação Escola Superior do Ministério
Público do Rio Grande do Sul, 2001, p. 135.
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Portanto, não podemos conceber, em que pese a
autoridade dos que pensam contrariamente, que se diga ser defeso ao Ministério Público a
investigação e a coleta de provas para o processo criminal (inclusive, como é evidente, a
notificação para comparecer), pois tal atribuição é permitida perfeitamente, principalmente
levando-se em conta a lição doutrinária amplamente conhecida, segundo a qual o inquérito
policial é peça prescindível à instauração da ação penal, conclusão esta retirada do próprio
Código de Processo Penal, arts. 4º., parágrafo único, 12, 27, 39, § 5º. e 46, § 1º.
Com razão afirma Mazzilli:
“Tanto na área cível como criminal, admitem-se
investigações diretas do órgão titular da ação penal pública do Estado. Para fazê-las, não
raro se valerá de notificações e requisições.”12 E, complementa: “Em matéria criminal, as
investigações diretas ministeriais constituem exceção ao princípio da apuração das
infrações penais pela polícia judiciária; contudo, há casos em que se impõe a investigação
direta pelo Ministério Público, e os exemplos mais comuns dizem respeito a crimes
praticados por policiais e autoridades.”13
De lege lata, podemos citar, inclusive, dois
dispositivos legais que expressamente legitimam o Ministério Público para atividades
investigatórias; o primeiro deles é o art. 179 do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei
nº. 8.069/90), in verbis:
“Apresentado o adolescente, o representante do
Ministério Público, no mesmo dia e à vista do auto de apreensão, boletim de ocorrência
ou relatório policial, devidamente autuados pelo cartório judicial e com informação sobre
os antecedentes do adolescente, procederá imediata e informalmente à sua oitiva e, em
sendo possível, de seus pais ou responsável, vítima e testemunhas.”
O segundo encontra-se no Estatuto do Idoso – Lei nº.
10.741/03:
“Art. 74. Compete ao Ministério Público:
(...)
“V – instaurar procedimento administrativo e, para
instruí-lo:
“a) expedir notificações, colher depoimentos ou
esclarecimentos e, em caso de não comparecimento injustificado da pessoa notificada,
requisitar condução coercitiva, inclusive pela Polícia Civil ou Militar;
12 Ob. cit., p. 239. 13 Idem, p. 400.
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“b) requisitar informações, exames, perícias e
documentos de autoridades municipais, estaduais e federais, da administração direta e
indireta, bem como promover inspeções e diligências investigatórias;
“c) requisitar informações e documentos particulares
de instituições privadas;
“VI – instaurar sindicâncias, requisitar diligências
investigatórias e a instauração de inquérito policial, para a apuração de ilícitos ou
infrações às normas de proteção ao idoso;
(...)
“IX – requisitar força policial, bem como a
colaboração dos serviços de saúde, educacionais e de assistência social, públicos, para o
desempenho de suas atribuições;”
IV - O art. 144 da Constituição Federal
Costuma-se opor ao entendimento acima esposado o
art. 144, § 4º. da Constituição Federal, cuja redação diz caber à Polícia Civil a apuração de
infração penal, exceto a de natureza militar, ressalvada, também, a competência da União.
Ocorre que tal atribuição constitucional não é
exclusiva da Polícia Civil (nem da Federal14), sendo esta a correta interpretação deste
dispositivo constitucional.
Não se deve interpretar uma norma jurídica
isoladamente, mas, ao contrário, deve-se utilizar o método sistemático, segundo o qual
cada preceito é parte integrante de um corpo, analisando-se todas as regras em conjunto, a
fim de que possamos entender o sentido de cada uma delas.
“Não se encontra um princípio isolado, em ciência
alguma; acha-se cada um em conexão íntima com outros. O Direito objetivo não é um
conglomerado caótico de preceitos; constitui vasta unidade, organismo regular, sistema,
14 A Polícia Federal tem, com exclusividade, apenas a prerrogativa de exercer as funções de polícia
judiciária da União, função que não se confunde com a de apurar crimes (a distinção é feita pela própria
Constituição Federal (art. 144, § 1º., I e IV). As funções de polícia judiciária compreendem, por exemplo,
aquelas previstas no art. 13, I, II e III do Código de Processo Penal. No processo de Extradição nº. 974, o
Ministro Marco Aurélio, do Supremo Tribunal Federal, destacou o papel da Polícia Federal como “polícia
judiciária da República”; nesta condição, destacou o Ministro que a instituição precisaria “se aparelhar
para cumprir suas atribuições constitucionais.” Entre elas, a de dar totais condições para o bem-estar
daqueles que se encontram presos em suas unidades prisionais. “A Polícia Federal há de se aparelhar
visando ao cumprimento das atribuições constitucionais – entre estas, as que encerram a qualificação de
polícia judiciária”, anotou o Ministro.
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conjunto harmônico de normas coordenadas, em interdependência metódica, embora
fixada cada uma no seu lugar próprio.”15
A propósito, Karl Larenz, após advertir que se
aplicam os princípios interpretativos gerais das leis também à interpretação da
Constituição, ensina que “o contexto significativo da lei determina, em primeiro lugar, da
mesma maneira, a compreensão de cada uma das frases e palavras, tal como também,
aliás, a compreensão de uma passagem do texto é codeterminada pelo contexto.”
Esclarece este autor que “uma lei é constituída, as mais das vezes, por proposições
jurídicas incompletas – a saber: aclaratórias, restritivas e remissivas -, que só
conjuntamente com outras normas se complementam numa norma jurídica completa ou se
associam numa regulação. O sentido de cada proposição jurídica só se infere, as mais das
vezes, quando se a considera como parte da regulação a que pertence.”16
Aliás, segundo Luiz Alberto Machado “o criminalista
ortodoxo pensa e age, sem confessar e até dizendo o contrário, como se coexistissem dois
ordenamentos jurídicos: um ordenamento jurídico-criminal e outro ordenamento para as
demais ciências jurídicas.”17
Partindo-se desse pressuposto, resta claro que não
deu a Constituição exclusividade na apuração de infrações penais apenas a uma Instituição.
Observa-se que um outro artigo da mesma Carta (art. 58, § 3º.) dá poderes às Comissões
Parlamentares de Inquérito para investigação própria e, adiante, como já demonstrado,
concede a mesma prerrogativa ao Ministério Público. Não nos esquecemos que ao
conceder exclusividade ao Ministério Público para a propositura da ação penal pública (art.
129, I), a Constituição Federal implicitamente outorgou à Instituição a possibilidade de
investigar para respaldar a respectiva peça acusatória.
Lênio Luiz Streck e Luciano Feldens escreveram:
“Recorrentemente, aqueles que desafiam a legitimidade do Ministério Público para
proceder a diligências investigatórias na seara criminal esgrimem o argumento de que tal
possibilidade não se encontraria expressa na Constituição, locus político-normativo de
onde emergem suas funções institucionais. Trata-se, na verdade, de uma armadilha
argumentativa. Esconde-se, por detrás dessa linha de raciocínio, aquilo que se revela
manifestamente insustentável: a consideração de que as atribuições conferidas ao
Ministério Público são taxativas, esgotando-se em sua literalidade mesma. Equívoco, data
venia, grave.”18
Ainda bem a propósito, veja-se a lição de Diego
Diniz Ribeiro:
15 Carlos Maximiliano, Hermenêutica e Aplicação do Direito, Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1961, p. 165. 16 Metodologia da Ciência do Direito, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 3ª. ed., 1997 (tradução
portuguesa de José Lamego). 17 Estudos Jurídicos em Homenagem a Manoel Pedro Pimentel, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
1992, p. 239. 18 Crime e Constituição – A Legitimidade da Função Investigatória do Ministério Público, Rio de Janeiro:
Forense, 2003, p. 81.
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“Sendo assim, respaldando-se na teoria dos poderes
implícitos, conclui-se que, se o constituinte atribuiu a uma determinada instituição uma
atividade-fim, também está ele, ainda que implicitamente, outorgando-lhe a atividade-
meio, pois, do contrário, aquela atividade restaria prejudicada, não passando a
disposição legal que a previu de uma determinação vazia e sem efetividade prática. Sendo
assim, de tal assertiva se extrai a conclusão lógica de que se o parquet pode o mais, que é
a interposição da ação penal pública, também pode ele, ainda que de forma implícita, o
menos, qual seja, a investigação criminal pré-processual, pois, do contrário, o permissivo
constitucional que outorga ao MP a função titular da ação penal seria totalmente inócuo,
não passando de mero discurso retórico.” (Boletim do IBCCrim nº. 121, dezembro/2002).
A esse respeito escreveu Tourinho Filho:
“O parágrafo único do art. 4º. (CPP) deixa entrever
que essa competência atribuída à Polícia (investigar crimes) não lhe é exclusiva, nada
impedindo que autoridades administrativas outras possam, também, dentro em suas
respectivas áreas de atividades, proceder a investigações. As atinentes à fauna e flora
normalmente ficam a cargo da Polícia Florestal. Autoridades do setor sanitário podem,
em determinados casos, proceder a investigações que têm o mesmo valor e finalidade do
inquérito policial.”19
Da mesma forma pensa o já citado Marcellus Polastri
Lima:
“Obviamente, não sendo a Polícia Judiciária
detentora de exclusividade na apuração de infrações penais, deflui que nada obsta que o
MP promova diretamente investigações próprias para elucidação de delitos.
“Como já salientamos, de há muito Frederico
Marques defendia que o MP poderia, como órgão do Estado-administração e interessado
direto na propositura da ação penal, atuar em atividade investigatória.
“O art. 4º. do CPP já dispunha, em seu parágrafo
único, inteiramente recepcionado pela nova ordem constitucional, que a atribuição para
apuração de infrações penais não exclui a de autoridades administrativas, a quem por lei
seja cometida a função.”20 (grifo nosso).
Neste sentido, veja-se o Enunciado 397 da súmula do
Supremo Tribunal Federal21, com base no qual o Senado Federal editou a Resolução nº.
19 Código de Processo Penal Comentado, Vol. 1, São Paulo: Saraiva, 1996, p. 16. 20 Ob. cit., p. 84. 21 “O poder de polícia da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, em caso de crime cometido nas suas
dependências, compreende, consoante o regimento, a prisão em flagrante do acusado e a realização do
inquérito.” Confira-se, a propósito, os arts. 200 e 203, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados e
arts. 397 e 400, do Regimento Interno do Senado Federal.
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59/2002, regulamentando o art. 52, XIII, da Constituição Federal, cujo art. 2º., § 1º., IX,
estabelece que “são consideradas atividades típicas de Polícia do Senado Federal”, dentre
outras, “as de investigação e de inquérito.”
V - A Jurisprudência
O próprio Supremo Tribunal Federal, no julgamento
da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº. 1517 (tendo como requerente a ADEPOL –
Associação dos Delegados de Polícia do Brasil), tendo como Relator o Ministro Maurício
Corrêa, em julgamento do dia 30 de abril de 1997 (DJ de 22/11/2002, p. 55),
expressamente deixou consignado em determinado trecho que “competindo ao Judiciário a
tutela dos direitos e garantias individuais previstos na Constituição, não há como
imaginar-se ser-lhe vedado agir, direta ou indiretamente, em busca da verdade material
mediante o desempenho das tarefas de investigação criminal, até porque estas não
constituem monopólio do exercício das atividades de polícia judiciária.” (Informativo STF
nº. 69, de 07 de maio de 1997, p. 02, com grifo nosso).
Ainda no Supremo Tribunal Federal, no julgamento
do habeas corpus nº. 83157, em 1º.de julho de 2003, foi suscitado o papel do Ministério
Público nas investigações criminais. O Ministro-Relator, Marco Aurélio, entendeu que
a instituição não tem poderes para tomar depoimentos e conduzir as investigações em
matéria criminal, somente podendo agir assim nos inquéritos de natureza civil, conforme
prevê a Constituição Federal. Na oportunidade, o Procurador-Geral da República, Dr.
Claudio Fonteles declarou que “não há ilegalidade alguma em um procurador da
República tomar o depoimento de alguém no seu gabinete. É até melhor que assim seja do
que em delegacia de polícia. As razões são óbvias”. Segundo o chefe do Ministério
Público Federal, o parquet tem legitimidade para investigar fatos criminosos, “e isso não
significa dizer que termina o serviço da polícia”, devendo esta atividade “ser sempre
controlada pelo Poder Judiciário”. Ainda nesta sessão, o Ministro Marco Aurélio destacou
em seu voto o posicionamento da 2ª Turma da Suprema Corte que entendeu somente caber
ao Ministério Público “promover o inquérito civil”. Segundo o Relator, “como titular da
ação penal pública, acusador, impossível é conferir atividade investigatória, a presidência
de audiências para a oitiva de testemunhas. Há de lançar mão, o Ministério Público, do
que previsto no inciso VIII, do artigo 129, da Constituição Federal, requisitando
‘diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os
fundamentos jurídicos de manifestações processuais”. A ministra Ellen Gracie
acompanhou o voto do Relator, acrescentando que ao Ministério Público cabe promover a
investigação quando se trata de inquérito civil, “não devendo o mesmo acontecer no
inquérito penal, onde atuará, mais tarde, como acusador”. Para a Ministra o Ministério
Público não pode acumular essas duas tarefas: a de acusador e a de inquisidor. Nesta
oportunidade, colheu-se também o voto do Ministro Carlos Velloso que ressaltou “não
considerar ilegal o fato de a testemunha ter prestado o seu depoimento perante o membro
do Ministério Público”. Para este Ministro, “não obstante a importância do Ministério
Público no contexto social, pensa que as investigações correm por conta da polícia. É o
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que está na Constituição, mas não chego ao ponto de impedir que o Ministério Público em
certos casos, como neste, tome o depoimento de alguém e oriente as provas em que ele vai
se basear para oferecer a denúncia e instaurar a ação penal da qual participou.” Também
em sentido oposto à tese do Relator, o Ministro Joaquim Barbosa afirmou não concordar
com a ilegitimidade do Ministério Público para atuar nas investigações criminais. Segundo
ele, “a Constituição não criou o Ministério Público para ser um órgão inerte”, logo “deve
investigar sempre que fatos delituosos chegarem ao seu conhecimento”.
Também em decisão unânime, a Segunda Turma do
Supremo Tribunal indeferiu Habeas Corpus (HC 84965) que pedia o trancamento de ação
penal instaurada na Comarca de Matias Barbosa (MG) contra servidores públicos estaduais
e outros acusados de crimes contra a ordem tributária (artigo 1º, IV, e artigo 3º, II, da Lei
8.137/90) e formação de quadrilha (artigo 288 Código Penal). O andamento do processo
estava suspenso por força de liminar concedida pelo ministro Cezar Peluso. Com o
entendimento firmado nesta tarde, essa liminar perdeu efeito e a ação penal voltará a
tramitar normalmente. A decisão seguiu voto do ministro Gilmar Mendes, relator do
processo. Os advogados argumentaram que a ação penal deveria ser trancada (encerrada)
porque estaria fundamentada apenas em Procedimento Administrativo Criminal instaurado
internamente pelo Ministério Público mineiro, por meio de portaria da Promotoria de
Justiça de Combate ao Crime Organizado. Segundo eles, esse fato tornaria a denúncia
nula.O relator, no entanto, afirmou que o caso em questão “parece justificar” a atuação do
Ministério Público. “No caso concreto, constata-se situação excepcionalíssima, que, a meu
ver, justifica a atuação do Ministério Público na colheita de provas que fundamentam a
ação penal”, ressaltou o ministro Gilmar Mendes.“É uma situação extremamente
complexa, que a Corregedoria da Fazenda (de Minas Gerais) indicava, com participação
possível de servidores e policiais militares. Então, é um caso que parece justificar essa
atuação”, disse. “Não vejo nulidade na atuação investigativa do Ministério Público, nos
termos em que ela se deu no presente caso”, concluiu o ministro. Ao longo de seu voto, o
ministro Gilmar Mendes fez amplas reflexões sobre a possibilidade ou não de o Ministério
Público realizar investigações. Ele lembrou que o tema está em votação no Plenário do
Supremo, mas que, “enquanto não sobrevier uma decisão estabelecendo os exatos
contornos e limites dessa atividade, é lícito ao MP investigar, obedecidos os limites e os
controles ínsitos a essa atuação”.O ministro advertiu que a atividade investigatória não é
exclusiva da polícia judiciária e citou vários órgãos com poderes para tanto, como o Coaf,
a Receita Federal, entre outros. “O próprio constituinte originário, ao delimitar o poder
investigatório das comissões parlamentares de inquérito, pareceu encampar esse
entendimento”, disse. Ele classificou como “forma tacanha de hermenêutica
constitucional” qualquer leitura que extraia uma “não decisão, um silêncio eloquente”
diante de decisões explícitas do texto constitucional. “Ao permitir isto (a investigação
policial), está a se proibir aquilo (a investigação do MP). Essa é uma interpretação literal
empobrecida (da Constituição)”, afirmou.Entretanto, o ministro Gilmar Mendes advertiu
que o poder de investigar do MP não pode ser exercido “de forma ampla e irrestrita, sem
qualquer controle, sob pena da agredir inevitavelmente direitos fundamentais”. Como
exemplo, ele lembrou que o inquérito policial também foi concebido como um instrumento
de garantia do acusado. “Não obstante a ausência de contraditório, não deixa o inquérito
policial de representar um procedimento legal de mediação entre o interesse do acusado e o
direito de punir do Estado.” Assim, explicou, o inquérito assegura garantias mínimas ao
13
13
acusado, tais como prazos, a supervisão judicial, a ciências das partes, a possibilidade de
acompanhamento por meio de advogado, entre outros.Para o ministro Gilmar Mendes, o
tema do poder de investigação do MP comporta e reclama a disciplina legal para que a
ação do Estado não resulte prejudicada e não prejudique a defesa dos direitos
fundamentais. “É que esse campo tem se prestado ao abuso. Tudo isso é resultado de um
contexto da falta de lei a regulamentar a atuação do Ministério Público”, afirmou. De toda
forma, o ministro avalia que “a ausência de uma disciplina normativa não invalida toda e
qualquer atuação do Ministério Público, especialmente se ligada a elementos probatórios já
existentes”.
Aliás, de há muito o Supremo Tribunal Federal
admitiu a não exclusividade das apurações de infrações penais por parte da Polícia,
quando, por exemplo, sumulou o seguinte entendimento: “O poder de polícia da Câmara
dos deputados e do Senado Federal, em caso de crime cometido nas suas dependências,
compreende, consoante o regimento, a prisão em flagrante do acusado e a realização do
inquérito” (Súmula 397).
E não se diga que, sendo parte, não pode o Promotor
de Justiça ser considerado autoridade para efeito de instauração de procedimento
administrativo na forma permitida pelo parágrafo único do art. 4º. do Código de Processo
Penal; tal argumento também é rebatido pelo autor por último citado, ao afirmar, depois de
se apoiar nas lições de Hely Lopes Meirelles, que:
“Não resta dúvida que, estando o Ministério Público
regido por lei orgânica própria, detendo funções privativas constitucionalmente e
possuindo seus agentes independência funcional, além de preencher os demais requisitos
elencados pela doutrina, os seus membros são agentes políticos, e como tal exercem
parcela de autoridade.”
“Portanto, indubitavelmente, exerce o MP parcela de
autoridade e, administrativamente, pode proceder às investigações penais diretas na
forma da legislação em vigor.”22
Mirabete não pensa diferente:
“Os atos de investigação destinados à elucidação dos
crimes, entretanto, não são exclusivos da polícia judiciária, ressalvando expressamente a
lei a atribuição concedida legalmente a outras autoridades administrativas (art. 4º., do
CPP). Não ficou estabelecido na Constituição, aliás, a exclusividade de investigação e de
funções da Polícia Judiciária em relação às polícias civis estaduais. Tem o Ministério
Público legitimidade para proceder investigações e diligências, conforme determinarem
as leis orgânicas estaduais”, citando, então, várias hipóteses em que outras autoridades
administrativas, que não Delegados de Polícia, podem e devem proceder a investigações:
as referidas Comissões Parlamentares de Inquérito, a Lei nº. 4.771/65 – Código Florestal
(art. 33, b), o art. 43 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, etc.23
22 Ob. cit. págs. 85 e 87. 23 Processo Penal, São Paulo: Atlas, 1997, p. 77.
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14
Espínola Filho, por sua vez, já advertia há muito “que
o inquérito não é atribuição exclusiva da autoridade policial, é ponto assente, muito
comuns sendo os inquéritos administrativos.
“O Código de processo penal, no art. 4º., parágrafo
único, ressalva, do modo mais claro, a pertinência desses inquéritos extrapoliciais,
acentuando que a competência dada no inquérito à polícia judiciária, exercida por
autoridades policiais, não exclui a de autoridades administrativas, para promoverem
inquéritos, quando a isso legalmente autorizadas.”24
O Superior Tribunal de Justiça assim já se
manifestou:
“Como procedimento meramente informativo que é, o
inquérito policial pode ser dispensado se o titular da ação penal dispuser de elementos
suficientes para o oferecimento da denúncia.” (DJU, 08/06/92, p. 8.594).
O Supremo Tribunal Federal também já decidiu:
“A inexistência de inquérito policial não impede a
denúncia, se a Promotoria dispõe de elementos suficientes para a formulação da demanda
penal – Existência, no caso, de indícios suficientes para afastar a alegação de falta de
justa causa para a denúncia. Habeas Corpus indeferido.” (STF, Habeas Corpus n.º
70.991-5, Rel. Min. Moreira Alves).
Especificamente sobre o poder investigatório do
Ministério Público veja-se:
“O MP tem legitimidade para proceder a
investigações ou prestar tal assessoramento à Fazenda Pública para colher elementos de
prova que possam servir de base a denúncia ou ação penal. A CF/88, no art. 144, § 4º.,
não estabeleceu com relação às Polícias Civis a exclusividade que confere no § 1º., IV, à
Polícia Federal para exercer as funções de Polícia Judiciária.” (RT, 651/313).
Recentemente o Superior Tribunal de Justiça decidiu
no mesmo sentido:
“HABEAS CORPUS N.º 59.300-SP - Rel.: Min.
Arnaldo Esteves Lima - EMENTA - Habeas corpus substitutivo de recurso ordinário.
Processual penal. Crimes de denunciação caluniosa, estelionato e quadrilha. Legitimidade
do ministério público para proceder a investigação criminal. Súmula 234 do STJ.
Legitimidade do ministério público para conduzir investigação. Alegação de inépcia da
denúncia. Ausência de manifestação pelo tribunal de origem. Não conhecimento do writ
nessa parte. Constrangimento ilegal configurado pela omissão da autoridade. Devolução
24 Código de Processo Penal Anotado, Borsoi, 1960, p. 248.
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da matéria para a apreciação pela origem. Ordem conhecida em parte e, nessa parte,
concedida parcialmente. 1. O Ministério Público tem legitimidade para conduzir
investigação e proceder à colheita de elementos de convicção quanto à materialidade do
delito e indícios de sua autoria, sob pena de inviabilizar o cumprimento de sua função de
promover, privativamente, a ação penal pública (RHC 16.267/DF, Rel. Min. HÉLIO
QUAGLIA BARBOSA, DJ de 4/9/2006, p. 325; REsp 761.938/SP, Rel. Min. GILSON
DIPP, DJ de 8/5/2006, p. 282; e HC 41.615/MG, de minha relatoria, DJ de 2/5/2006, p.
343, RJP vol. 10, p. 106). 2. Além disso, conforme entendimento já sumulado por esta
Corte, “A participação de membro do Ministério Público na fase investigatória criminal
não acarreta o seu impedimento ou suspeição para o oferecimento da denúncia” (Súmula
n.º 234 do STJ).” (...) (STJ/DJU de 26/2/07, pág. 619).
“Ministério Público. Procedimento investigatório.
Policiais. A Turma denegou a ordem de habeas corpus com o entendimento de que, em se
tratando de procedimento com o fito de apurar fatos reputados delituosos e cuja autoria é
atribuída a integrante da organização policial, cuja atividade é controlada externamente
pelo Ministério Público, em tese não existirá antinomia para que o Parquet promova a
investigação. Ressalte-se que, mesmo no caso de eventual irregularidade por invasão das
atribuições da Polícia Judiciária pelo Ministério Público, ainda assim em nada estaria
afetada a ação penal porque objeto de apuração de delito cometido por agente de
autoridade policial. Precedentes citados do STF: RHC 66.428-PR, DJ 2/9/1988, e RE
205.473-9-AL, DJ 19/3/1999. (RHC 10.947-SP, Rel. Min. Fernando Gonçalves, julgado
em 19/02/2002).
“Não obstante o disposto no artigo 144, § 4º, da CF,
o Parquet não é absolutamente proibido de praticar atos investigatórios. Não faria
sentido, sendo essa instituição responsável, exclusivamente, pela ação penal pública –
artigo 129, I da CF -que não pudesse praticar qualquer ato tendente à elucidação dos
fatos. Se para o oferecimento da denúncia se exige um embasamento concreto quanto à
materialidade e autoria do delito, isso significa que a atividade do órgão acusador
depende diariamente de uma reconstituição bem feita do quadro fático. Sendo assim, não
se pode negar sua competência para a prática de fatos investigatórios, embora não lhe
seja permitido instaurar, formalmente, inquérito policial, pois esta é atividade atribuída à
polícia judiciária. Não por acaso, a Súmula, 234/STJ dispõe que ‘a participação de
membro do Ministério Público na fase investigatória criminal não acarreta o seu
impedimento ou suspeição para o oferecimento da denúncia’”. (STJ – Ac. un. da 5ª. T,
publicado em 18/3/2002 – RO - HC 10.974 – SP - Rel. Min. Félix Fischer).
“A Turma negou provimento ao recurso,
considerando o Ministério Público como detentor da competência para efetuar
diligências, colher depoimentos, investigar os fatos a fim de poder oferecer denúncia.
Entendeu que não há qualquer ilegalidade de o MP, em processo investigatório, requerer
a expedição de mandado de busca e apreensão, não ficando à espera de informações
fornecidas, única e exclusivamente, pela polícia judiciária. Além de que havia a
possibilidade de desaparecimento de provas documentais pertinentes.” (RMS 12.357-RJ,
Rel. Min. Vicente Leal, julgado em 19/11/2002).
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16
“STJ – HABEAS CORPUS Nº 18.060 – PR
(2001/0097707-4) (DJU 26.08.02, SEÇÃO 1, P. 271, J. 07.02.02). RELATOR: MINISTRO
JORGE SCARTEZZINI - EMENTA: PENAL E PROCESSO PENAL – CRIMES CONTRA
O SISTEMA FINANCEIRO – CRIME DE "LAVAGEM" – INÉPCIA DA DENÚNCIA –
CERCEAMENTO DE DEFESA – IMPEDIMENTO DE PROCURADORES PARA O
OFERECIMENTO DA DENÚNCIA – PROVAS ILÍCITAS – INOCORRÊNCIA.
(...) Quanto à ilegalidade das investigações promovidas pelo Ministério Público, sem a
instauração de inquérito policial, o writ, igualmente, improcede. Com efeito, a questão
acerca da possibilidade do Ministério Público desenvolver atividade investigatória
objetivando colher elementos de prova que subsidiem a instauração de futura ação penal,
é tema incontroverso perante esta eg. Turma. Como se sabe, a Constituição Federal, em
seu art. 129, I, atribui, privativamente, ao Ministério Público promover a ação penal
pública. Essa atividade depende, para o seu efetivo exercício, da colheita de elementos
que demonstrem a certeza da existência do crime e indícios de que o denunciado é o seu
autor. Entender-se que a investigação desses fatos é atribuição exclusiva da polícia
judiciária, seria incorrer-se em impropriedade, já que o titular da Ação é o Órgão
Ministerial. Cabe, portanto, a este, o exame da necessidade ou não de novas colheitas de
provas, uma vez que, tratando-se o inquérito de peça meramente informativa, pode o MP
entendê-la dispensável na medida em que detenha informações suficientes para a
propositura da ação penal. Ora, se o inquérito é dispensável, e assim o diz expressamente
o art. 39, § 5º, do CPP, e se o Ministério Público pode denunciar com base apenas nos
elementos que tem, nada há que imponha a exclusividade às polícias para investigar os
fatos criminosos sujeitos à ação penal pública. A Lei Complementar nº 75/90, em seu art.
8º, inciso IV, diz competir ao Ministério Público, para o exercício das suas atribuições
institucionais, "realizar inspeções e diligências investigatórias". Compete-lhe, ainda,
notificar testemunhas (inciso I), requisitar informações, exames, perícias e documentos às
autoridades da Administração Pública direta e indireta (inciso II) e requisitar
informações e documentos a entidades privadas (inciso IV).”
“SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA - Processo
AgRg no HC 39607/SC; AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS 2004/0162302-3
Relator(a) Ministro NILSON NAVES (361) Órgão Julgador T6 - SEXTA TURMA Data do
Julgamento 08/11/2005 Data da Publicação/Fonte DJ 06.02.2006 p. 343 Ementa
Ministério Público (funções). Participação na investigação e formulação de denúncia
(possibilidade). Impedimento (inexistência). 1. É lícito entender que o Ministério Público,
embora as investigações sejam destinadas à polícia nas áreas federal e estadual
(apuração de infrações penais), pode, também e concomitantemente, delas se incumbir. 2.
A participação do promotor na fase investigatória não o impede de propor a ação penal
(Súmula 234). 3. Agravo regimental improvido.”
“SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA - Processo
HC 41615/MG; HABEAS CORPUS 2005/0018682-5 Relator: Ministro ARNALDO
ESTEVES LIMA Órgão Julgador T5 - QUINTA TURMA Data do Julgamento 06/04/2006
Data da Publicação/Fonte DJ 02.05.2006 p. 343 Ementa PROCESSUAL PENAL.
HABEAS CORPUS. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA PROCEDER A
INVESTIGAÇÃO. GRAVAÇÃO DE CONVERSA POR UM DOS INTERLOCUTORES.
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17
PROVA LÍCITA. LAUDO DE DEGRAVAÇÃO VICIADO. IMPROPRIEDADE DA VIA
ELEITA. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. IMPOSSIBILIDADE. ORDEM
DENEGADA. O Ministério Público tem legitimidade para conduzir investigação e
proceder à colheita de elementos de convicção quanto à materialidade do delito e indícios
de sua autoria, sob pena de inviabilizar o cumprimento de sua função de promover,
privativamente, a ação penal pública.”
Em sessão realizada no dia 27 de outubro de 2004,
no julgamento do Recurso Especial nº. 494320, o Superior Tribunal de Justiça decidiu que
o Ministério Público pode realizar investigações criminais. O entendimento foi firmado
pela Sexta Turma, que, por maioria, acatou recurso contra a decisão que determinou à 9ª.
Promotoria de Investigações Penais do Rio de Janeiro a suspensão das apurações de
irregularidades no Procon do Estado. Naquela oportunidade, o Ministro Nilson Naves
argumentou “que as polícias não têm direito exclusivo à investigação criminal. Para
exemplificar esse entendimento, ele citou o parágrafo 3º do artigo 58 da Constituição,
dispositivo que confere poderes investigatórios às Comissões Parlamentares de Inquérito
(CPIs)”. Para ele, “se por um lado não há texto normativo que mencione expressamente a
possibilidade de o MP conduzir investigações criminais, por outro não há dispositivo legal
em sentido oposto. Ao contrário da total omissão, há indícios aqui, ali e acolá em direção
à legitimidade da atuação. (...) Se o MP é responsável pela propositura da ação penal
pública, deve ter o direito e os meios de colher elementos que vão sustentar essa ação.”
“HABEAS CORPUS N.º 49.419-PE - Rel.: Min. Felix
Fischer/5.ª Turma - EMENTA - Penal e processual penal. Habeas corpus substitutivo de
recurso ordinário. Artigos 288, 297 e 299, todos do CP e art. 90 da Lei n.º 8.666/93.
Trancamento da ação penal. Falta de justa causa. Dilação probatória. Impossibilidade na
via eleita. Poder investigatório do ministério público. Prisão preventiva. Sentença
condenatória. Fundamentação. (...) Na linha de precedentes desta Corte, malgrado seja
defeso ao Ministério Público presidir o inquérito policial propriamente dito, não lhe é
vedado, como titular da ação penal, proceder investigações. A ordem jurídica, aliás,
confere explicitamente poderes de investigação ao Ministério Público - art. 129, incisos
VI, VIII, da Constituição Federal, e art. 8.º, incisos II e IV, e § 2.º, da Lei Complementar
n.º 75/1993. (Precedentes). (...) Writ denegado.” (STJ/DJU de 26/2/07, pág. 617).
O Tribunal Regional Federal da 2ª. Região, em
acórdão unânime proferido pela sua 6ª. Turma, assim decidiu:
“(...) No que tange à possibilidade bem como à
legalidade da prova recolhida pelo Ministério Público, em seu poder investigatório
criminal, fulcrado no art. 129, VI, VII, VIII da CF, que tem como reflexo os arts. 26, V da
Lei nº. 8.625/93 e 8º., IV, V, VII e VIII da LC 75/93, independentemente da norma do art.
144, § 1º., IV do Texto Básico, a teor do princípio da unidade, trata-se de questão,
outrossim, pacificada nas Cortes Superiores (STF, HC 77.371, DJ 23/10/98; STF, HC
81.303, DJ 23/08/02; STF, HC 18.060, DJ 26/08/02), que conferem ao termo –
exclusividade – o sentido de divisão funcional entre as diversas categorias policiais, e não
a vedação de que o MP possa proceder em tema investigatório.” (HC nº.
18
18
2001.02.01.022657-6 – Rel. Des. Fed. Poul Erik Dyrlund, j. 02/04/03, DJU 2 29/04/03, p.
211).
É de Julio Fabbrini Mirabete a lição: “Como titular do
jus puniendi, nada impede que o Ministério Público, além de requisitar informações e
documentos para instruir procedimentos promova atos de investigação para apuração de
ilícitos penais, pois, nos termos da Constituição Federal, ´pode exercer outras funções que
lhe sejam conferidas desde que compatíveis com sua finalidade´ (artigo 129, IX).”25
Para encerrarmos as argumentações, objetamos ainda
o seguinte: mesmo em se admitindo que a Lei Orgânica do Ministério Público Estadual
não permitisse as investigações criminais (o que, absolutamente, não é verdade), ainda
assim, por força do art. 80 da referida Lei Federal poderíamos utilizar, subsidiariamente, as
normas da Lei Orgânica do Ministério Público da União (Lei Complementar Federal nº.
75/93), que “não deixa margem de dúvidas quanto à operacionalização das investigações
criminais diretas no âmbito do Ministério Público”, como argumenta Polastri, no livro já
aludido (p. 91), referindo-se, com certeza (ainda que não o diga expressamente), aos arts.
7º., I e 8º., VII, in verbis:
“Art. 7º. - Incumbe ao Ministério Público da União,
sempre que necessário ao exercício de suas funções institucionais:
“I - instaurar inquérito civil e outros procedimentos
correlatos.”
“(omissis).”
“Art. 8º. - Para o exercício de suas atribuições, o
Ministério Público da União poderá, nos procedimentos de sua competência:
“(omissis).”
“VII - expedir notificações e intimações necessárias
aos procedimentos e inquéritos que instaurar.”
VI - O Direito Comparado
Há vários sistemas jurídicos alienígenas que ao
priorizarem em suas reformas processuais penais o fortalecimento do Ministério Público,
passaram a permitir de maneira ampla a investigação criminal pelo parquet.
25 Código de Processo Penal Interpretado, São Paulo: Atlas, 8ª ed., 2001, p. 560.
19
19
No Direito comparado observamos a existência de
dois sistemas principais: o inglês (a Polícia detém o poder de conduzir as investigações
preliminares) e o continental (o Ministério Público conduz a investigação criminal).
Neste segundo sistema, encontramos, por exemplo,
países como a Itália, Alemanha, França e Portugal, como veremos a seguir:
Na Alemanha, lê-se no Código de Processo Penal:
“StPO § 160: (1) (omissis)
“(2). A Promotoria de Justiça deverá averiguar não
só as circunstâncias que sirvam de incriminamento, como também as que sirvam de
inocentamento, e cuidar de colher as provas cuja perda seja temível.
“(3). As averiguações da Promotoria deverão
estender-se às circunstâncias que sejam de importância para a determinação das
conseqüências jurídicas do fato. Para isto poderá valer-se de ajuda do Poder Judicial.
“StPO § 161: Para a finalidade descrita no
parágrafo precedente, poderá a Promotoria de Justiça exigir informação de todas as
autoridades públicas e realizar averiguações de qualquer classe, por si mesma ou através
das autoridades e funcionários da Polícia. As autoridades e funcionários da Polícia
estarão obrigados a atender a petição ou solicitação da Promotoria.”
Na Itália não é diferente no seu “Codice di Procedura
Penale”:
“Art. 326 – O Ministério Público e a Polícia
Judiciária realizarão, no âmbito de suas respectivas atribuições, a investigação
necessária para o termo inerente ao exercício da ação penal.”
“Art. 327 – O Ministério Público dirige a
investigação e dispõe diretamente da Polícia Judiciária.”
Em Portugal, conforme lição de Germano Marques
da Silva, “os órgãos de polícia criminal coadjuvam o Ministério Público no exercício das
suas funções processuais, nomeadamente na investigação criminal que é levada a cabo no
inquérito, e fazem-no sob a direta orientação do Ministério Público e na sua dependência
funcional (arts. 56 e 263).”26
Ainda em solo lusitano, a Lei Orgânica do Ministério
Público, no seu art. 3º., diz competir ao Ministério Público “dirigir a investigação
criminal, ainda quando realizada por outras entidades” e “ fiscalizar a actividade
processual dos órgãos de polícia criminal.”
26 Curso de Processo Penal, Vol. I, Lisboa: Editorial Verbo, 1996.
20
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Em França não é diferente, à vista do art. 41 do
respectivo Código de Processo Penal:
“O Procurador da República procede ou faz
proceder a todos os atos necessários à investigação e ao processamento das infrações da
lei penal. Para esse fim, ele dirige as atividades dos oficiais e agentes da polícia
Judiciária dentro das atribuições do seu tribunal.”
Diante de tudo quanto foi exposto pode e deve o
membro do Ministério Público, quando isto lhe é faticamente possível, investigar
diretamente fatos criminosos, principalmente quando se tratar de abuso de autoridade (a
título de exemplo); é bom que se diga não ter o Ministério Público, muitas das vezes,
condições de, motu proprio, levar adiante uma investigação criminal, até por carência de
material, seja humano (investigadores, por exemplo), seja físico (viaturas, espaço físico
apropriado, etc); quando houver dificuldades, nada impede, ao contrário, tudo indica, que
seja requisitada a instauração de inquérito policial (ou termo circunstanciado na forma da
Lei nº. 9.099/95) à autoridade policial respectiva, atentando-se para o fiel cumprimento da
requisição e adotando-se as medidas criminais em caso de não atendimento (pode-se estar
configurado, por exemplo, o delito de prevaricação), além da possibilidade de se
configurar ato de improbidade administrativa (art. 11, II da Lei nº. 8.429/92).
Neste aspecto, importante é a observação de Enzo
Bello, no sentido que “diante da escassez de recursos humanos e materiais do Ministério
Público – afinal a sua quantidade de membros e de estrutura física é ínfima em relação ao
tamanho da sua demanda de trabalho -, cumpre a cada membro da instituição conferir um
cunho seletivo às suas atividades profissionais (...), de maneira a atribuir uma índole
prioritária aos casos em que se tratem de condutas delitivas cuja potencialidade lesiva
seja capaz de ocasionar uma verdadeira disfunção social e atingir ou obstar os princípios,
fundamentos e metas da República brasileira (isto é, os verdadeiros anseios e perspectivas
da nossa sociedade).”27
O Conselho Superior do Ministério Público Federal
(em 14 de setembro do ano de 2004) editou a Resolução nº. 77/04 que regulamenta os
procedimentos de investigação criminal a serem observados pelos procuradores da
República em todo o país. A norma interna define o procedimento investigatório criminal
como um instrumento de coleta de dados para apurar a ocorrência de infrações penais, que
servirá para a proposição de ações penais ou instauração de inquérito pela polícia. Define-
se que o membro do Ministério Público Federal poderá dar início ao procedimento
valendo-se de qualquer meio, ainda que informal, mas terá que fundamentá-lo. “Caso surja
a necessidade de investigação de fatos diversos dos que já estavam incluídos no
procedimento, o procurador responsável terá que fazer um aditamento ou abrir um novo
procedimento. Para assegurar a impessoalidade na condução das investigação, o
procedimento será protocolado, autuado e distribuído. As partes envolvidas e terceiros
27 Perspectivas para o Direito Penal e para um Ministério Público Republicano, Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2007, p. 335.
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diretamente interessados poderão ter acesso às apurações, excetuando os casos de sigilo.
Nessa hipótese, o investigado terá acesso apenas aos documentos referentes aos atos de
que ele tenha participado pessoalmente. Os procuradores também terão que respeitar um
prazo para encerrar as investigações, 30 dias, contados da data de instauração, que só
poderá ser prorrogado por meio de decisão fundamentada.”
Veja-se esta decisão monocrática proferida pelo
Ministro Celso de Mello, em 16 de outubro de 2006:
“SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - MED. CAUT.
EM HABEAS CORPUS 89.837-8 DISTRITO FEDERAL - RELATOR : MIN. CELSO DE
MELLO - DECISÃO: A presente impetração insurge-se contra decisão, que, emanada do
E. Superior Tribunal de Justiça, acha-se consubstanciada em acórdão assim ementado
(fls. 491 – Apenso 4): “‘HABEAS CORPUS’. CRIME DE TORTURA IMPUTADO A
DELEGADO DA POLÍCIA CIVIL. INVESTIGAÇÃO REALIZADA PELO MINISTÉRIO
PÚBLICO. COLHEITA DE DEPOIMENTOS. INEXISTÊNCIA DE NULIDADE.
INQUÉRITO POLICIAL. PRESCINDIBILIDADE. 1. A teor do disposto no art. 129, VI e
VIII, da Constituição Federal, e no art. 8º, II e IV, da Lei Complementar nº 75/93, o
Ministério Público, como titular da ação penal pública, pode proceder a investigações,
inclusive colher depoimentos, sendo-lhe vedado, tão-somente, presidir o inquérito policial,
que é prescindível para a propositura da ação penal. 2. Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal. 3. Ordem denegada.” O exame dos fundamentos em que se
apóia o julgamento ora impugnado parece descaracterizar, ao menos em sede de estrita
delibação, a plausibilidade jurídica da pretensão deduzida pelos ilustres impetrantes. A
decisão emanada do E. Superior Tribunal de Justiça – que reconhece, ao Ministério
Público, a prerrogativa de promover, por direito próprio, sob sua autoridade e direção,
investigações penais – parece legitimar-se em face da Constituição da República
promulgada em 1988. É certo que o ordenamento positivo outorga, à autoridade policial,
a atribuição para presidir o inquérito policial, consoante assinala JULIO FABBRINI
MIRABETE (“Código de Processo Penal Interpretado”, p. 86, item n. 4.3, 7ª ed., 2000,
Atlas). HC 89.837-MC / DF Essa especial regra de competência, contudo, não impede
que o Ministério Público, que é o “dominus litis” – e desde que indique os fundamentos
jurídicos legitimadores de suas manifestações (CF, art. 129, VIII) –, determine a abertura
de inquéritos policiais, ou, então, requisite diligências investigatórias, em ordem a prover
a investigação penal, quando conduzida pela Polícia Judiciária, com todos os elementos
necessários ao esclarecimento da verdade real e essenciais à formação, por parte do
representante do “Parquet”, de sua “opinio delicti”. Todos sabemos que o inquérito
policial, enquanto instrumento de investigação penal, qualifica-se como procedimento
administrativo destinado, ordinariamente, a subsidiar a atuação persecutória do próprio
Ministério Público, que é – nas hipóteses de ilícitos penais perseguíveis mediante ação
penal de iniciativa pública - o verdadeiro destinatário das diligências executadas pela
Polícia Judiciária (RTJ 168/896, Rel. Min. CELSO DE MELLO). Trata-se, desse modo, o
inquérito policial, de valiosa peça informativa, cujos elementos instrutórios –
precipuamente destinados ao órgão da acusação pública - visam a possibilitar a
instauração da “persecutio criminis in judicio” pelo Ministério Público (FERNANDO DE
ALMEIDA PEDROSO, “Processo Penal - O Direito de Defesa”, p. 43/45, item n. 12,
1986, Forense; VICENTE DE PAULO VICENTE DE AZEVEDO, “Direito Judiciário
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22
Penal”, p. 115, 1952, Saraiva; JOSÉ FREDERICO MARQUES, “Elementos de Direito
Processual Penal”, vol. I, p. 153, 1961, Forense). É certo, no entanto, que, não obstante a
presidência do inquérito policial incumba à autoridade policial (e não ao Ministério
Público), nada impede que o órgão da acusação penal possa solicitar, à Polícia
Judiciária, novos esclarecimentos, novos depoimentos ou novas diligências, sem prejuízo
de poder acompanhar, ele próprio, os atos de investigação realizados pelos organismos
policiais. Essa possibilidade – que ainda subsiste sob a égide do vigente ordenamento
constitucional – foi bem reconhecida por este Supremo Tribunal Federal, quando esta
Corte, no julgamento do RHC 66.176/SC, Rel. Min. CARLOS MADEIRA, ao reputar
legítimo o oferecimento de denúncia baseada em investigações acompanhadas pelo
Promotor de Justiça, salientou, no que se refere às relações entre a Polícia Judiciária e o
Ministério Público, que este pode “requisitar a abertura de inquérito e a realização de
diligências policiais, além de solicitar esclarecimentos ou novos elementos de convicção a
quaisquer autoridades ou funcionários (...)”, competindo-lhe, ainda, HC 89.837-MC / DF
“acompanhar atos investigatórios junto aos órgãos policiais”, embora não possa
“intervir nos atos do inquérito e, muito menos, dirigi-lo, quando tem a presidi-lo a
autoridade policial competente” (RTJ 130/1053). Cabe salientar, finalmente, sem prejuízo
do exame oportuno da questão pertinente à legitimidade constitucional do poder
investigatório do Ministério Público, que o “Parquet” não depende, para efeito de
instauração da persecução penal em juízo, da preexistência de inquérito policial, eis que
lhe assiste a faculdade de apoiar a formulação da “opinio delicti” em elementos de
informação constantes de outras peças existentes “aliunde”. Esse entendimento – que se
apóia no magistério da doutrina (DAMÁSIO E. DE JESUS, “Código de Processo Penal
Anotado”, p. 07, 17ª ed., 2000, Saraiva; FERNANDO DA COSTA TOURINHO FILHO,
“Código de Processo Penal Comentado”, vol. I/111, 4ª ed., 1999, Saraiva; JULIO
FABBRINI MIRABETE, “Código de Processo Penal Interpretado”, p. 111, item n. 12.1, 7ª
ed., 2000, Atlas; EDUARDO ESPÍNOLA FILHO, “Código de Processo Penal Brasileiro
Anotado”, vol. I/288, 2000, Bookseller, v.g.) – tem, igualmente, o beneplácito da
jurisprudência dos
Tribunais em geral (RT 664/336 – RT 716/502 – RT 738/557 – RSTJ 65/157 - RSTJ
106/426, v.g.), inclusive a desta Suprema Corte (RTJ 64/342 - RTJ 76/741 - RTJ 101/571 -
RT 756/481): “- O inquérito policial não constitui pressuposto legitimador da válida
instauração, pelo Ministério Público, da ‘persecutio criminis in judicio’. Precedentes. O
Ministério Público, por isso mesmo, para oferecer denúncia, não depende de prévias
investigações penais promovidas pela Polícia Judiciária, desde que disponha, para tanto,
de elementos mínimos de informação, fundados em base empírica idônea, sob pena de o
desempenho da gravíssima prerrogativa de acusar transformar-se em exercício
irresponsável de poder, convertendo, o processo penal, em inaceitável instrumento de
arbítrio estatal. Precedentes.” (RTJ 192/222-223, Rel. Min. CELSO DE MELLO) Sendo
assim, e sem prejuízo da ulterior apreciação da controvérsia em referência, notadamente
em face do julgamento plenário, ainda em curso, do Inq 1.968/DF (em cujo âmbito está
sendo rejeitada, por três votos a dois, a tese ora exposta na presente impetração), indefiro
o pedido de medida liminar. HC 89.837-MC / DF. Achando-se adequadamente instruída a
presente impetração, ouça-se a douta Procuradoria-Geral da República. Publique-se.
Brasília, 16 de outubro de 2006. Ministro CELSO DE MELLO.”
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23
Em outra oportunidade, o Ministro Ricardo
Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, deferiu integralmente as diligências
requeridas pelo Procurador-Geral da República, Antonio Fernando Souza, no Inquérito
(INQ 2593) aberto para investigar condutas atribuídas ao presidente do Senado. Entre elas,
a quebra dos sigilos fiscal e bancário do senador. Lewandowski esclareceu que o
Procurador-Geral solicitou informações sobre a movimentação bancária e a declaração de
bens e rendas do senador, a partir de 2000, além de pedir toda a documentação que está no
Conselho de Ética do Senado sobre o caso. “Os dados nele coletados afetam a privacidade
e a intimidade do investigado. Isso [o segredo de justiça] ocorreria com qualquer
cidadão”, explicou. Ele ressaltou que todo o procedimento é, no momento, uma
investigação feita a pedido do Procurador-Geral. “Não se está fixando culpa, não se está
emitindo nenhum juízo de valor, nem por parte do MP, muito menos por parte do
Judiciário.” O Ministro Ricardo Lewandowski esclareceu que o Procurador-Geral da
República é o dono da ação penal. “Quem investiga é o Ministério Público. O Judiciário
não investiga nada. Ele apenas defere ou indefere as providências solicitadas [pelo MP].”
Questionado sobre a possibilidade de arquivamento de uma solicitação de abertura de
inquérito do MP, ele afirmou que isso só ocorre se o pedido for absolutamente inepto e
sem base. “O Ministério Público Federal, naturalmente, quando faz uma solicitação
dessas, sobretudo o procurador-geral da República, fundamenta o pedido. Então, à luz da
convicção do procurador-geral, existem elementos que permitem um aprofundamento da
investigação.” O Ministro Lewandowski, por sua vez, afirmou que deferiu o pedido do
procurador-geral porque entendeu que ele encontra fundamento nos fatos relatados. De
acordo com o ministro, a documentação solicitada será anexada aos autos do inquérito, que
voltará para o procurador-geral, para avaliar se houve ou não a prática eventual de um
delito por parte do presidente do Senado. “Se ele se convencer disso, poderá solicitar a
abertura de uma ação penal, mediante o oferecimento de uma denúncia, que poderá ou
não ser recebida pelo STF, por parte do Plenário.” Fonte: STF (Grifo nosso).
Apenas ressaltamos o nosso pensamento quanto à
impossibilidade de que o mesmo Promotor de Justiça ou Procurador da República (ou os
mesmos profissionais ou a mesma equipe) que investigue possa, depois, valorando os atos
investigatórios por ele próprio colhidos, oferecer denúncia. Não cremos ser isso possível.
Como afirma Aury Lopes Jr. “crer na imparcialidade de quem está totalmente absorvido
pelo labor investigador é o que James Goldschmidt denomina de erro psicológico.”28 Para
este autor, os “processos psicológicos interiores levam a um pré-juízo sobre condutas e
pessoas”, minando “a posição de neutralidade29 interior que se exige para que comece e
atue no processo.” Observa, ainda, agora citando Oliva Santos, que “essas idéias pré-
concebidas até podem ser corretas – fruto de uma especial perspicácia e melhores
28 Boletim do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais – IBCCrim, nº. 127 – Junho de 2003, p. 11. 29 Quanto à neutralidade, faz-se uma ressalva, pois não acreditamos em um Juiz neutro (como em um
Promotor de Justiça ou um Procurador da República neutro). Há sempre circunstâncias que, queiram ou não,
influenciam em decisões e pareceres, sejam de natureza ideológica, política, social, etc., etc. Neste sentido,
veja-se a lição de Rodolfo Pamplona Filho, “O Mito da Neutralidade do Juiz como elemento de seu Papel
Social” in "O Trabalho", encarte de doutrina da Revista "Trabalho em Revista", fascículo 16, junho/1998,
Curitiba/PR, Editora Decisório Trabalhista, págs. 368/375, e Revista "Trabalho & Doutrina", nº 19,
dezembro/98, São Paulo, Editora Saraiva, págs.160/170.
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24
qualidades intelectuais – mas inclusive nesse caso não seria conveniente iniciar o
processo penal com tal comprometimento subjetivo.”30
Vejamos a respeito as observações de Antonio
Evaristo de Morais Filho, citando Altavilla:
“Este fenômeno foi muito bem estudado por Altavilla,
em sua famosa ‘Psicologia Judiciária’ (Porto, 1960, v. 5, p. 36-39), onde dedicou dois
verbetes aos perigos das hipóteses provisórias, que podem ‘seduzir o investigador, de
maneira a torná-lo daltônico nas apreciações das conclusões de indagações ulteriores’.
Adverte o mestre italiano que, uma vez internalizada na mente do policial, do promotor ou
do juiz, a procedência da hipótese provisória, cria-se em seu espírito a necessidade de
demonstrar o que considera verdade, ‘à qual ele liga uma especial razão de orgulho’,
como se a eventual demonstração da improcedência de sua hipótese ‘constituísse uma
razão de demérito’. E assim, intoxicado por sua verdade, sobrevaloriza todos os elementos
probatórios que lhe forem favoráveis e diminui ‘o valor dos contrários, até o ponto de não
serem tomados em consideração num ato.”31
Afinal de contas nas veias do Promotor de Justiça
também corre o sangue dos pobres mortais... Observamos que o Supremo Tribunal Federal,
em 12 de fevereiro do ano de 2004, ao julgar a ADI nº. 570, declarou parcialmente
inconstitucional o art. 3º. da Lei do Crime Organizado (Lei n°. 9.034/90), que previa a
possibilidade de o Juiz conduzir direta e pessoalmente investigação criminal. Nesta
decisão, ressaltou-se que “ninguém pode negar que o Magistrado, pelo simples fato de ser
humano, após realizar pessoalmente as diligências, fique envolvido psicologicamente com
a causa, contaminando sua imparcialidade”. Será que esta assertiva também não se
aplicaria ao Promotor de Justiça? Será que o Promotor de Justiça, ao analisar uma peça
investigatória, não deverá fazê-lo de maneira também imparcial? Concordamos com
Marcos Zilli, ao afirmar que o fenômeno investigatório “concentra as energias para a
construção de uma acusação de modo que o sujeito que a conduz dificilmente deixará de
ficar a ela vinculado.”32
Note-se que o Código de Processo Penal reputa
impedido o Promotor de Justiça que “tiver funcionado” como autoridade policial, ex vi do
art. 252, II, c/c art. 258 do Código de Processo Penal; óbvio que não é exatamente o caso,
mas, mutatis mutandis, observamos que o legislador procurou afastar do subsequente
processo criminal aquele que investigou os respectivos fatos na fase pré-processual. No
julgamento de uma exceção de impedimento, o Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul
deixou consignado que o objetivo do art. 252, II, CPP (que se aplica aos membros do
Ministério Público – art. 258, CPP) “é impedir quem funcionou na busca de elementos
incriminadores de servir, posteriormente, como juiz no mesmo processo (...), estando
“impedido de processar e julgar o réu o juiz que haja diligenciado a obtenção de
30 Sistemas de Investigação Preliminar no Processo Penal, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2001, pp. 154/155. 31 Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, n.º 19, p. 106. 32 Boletim do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais – IBCCrim, nº. 188 – Julho de 2008, p. 02.
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25
elementos incriminadores do ato por ele praticado, antes de instaurada a ação penal”.
(RT 526/434-435).
Neste mesmo sentido, decidiu o Superior Tribunal de
Justiça:
“(...) É inegável que quem participou de processo
administrativo, colhendo provas e decidindo, está moral, legal e psicologicamente
comprometido para uma decisão judicial descompromissada.” No voto, afirma-se que “o
que se quer é evitar idéias preconcebidas.” (HC 4591-MG – 6ª. T – j. 12/06/95 – Rel.
Ministro Adhemar Maciel – DJU 25/09/95).
Bem a calhar a lição de M. Costa Manso: “A
autoridade incumbida de descobrir o criminoso, especialmente nos casos graves e
obscuros, é muitas vezes dominada pelo desejo de triunfar, de revelar argúcia e
capacidade, perdendo, em conseqüência, a calma e a imparcialidade.” (O Processo na
Segunda Instância e suas Aplicações à Primeira, São Paulo: Livraria Acadêmica, 1923,
Vol. I, p. 615).33
A jurisprudência, nesse sentido, também é
encontrada, inclusive no Superior Tribunal de Justiça:
“O magistrado e o membro do Ministério Público se
houverem participado da investigação probatória não podem atuar no processo. Reclama-
se a isenção de ânimo de ambos. Restaram comprometidos (sentido jurídico). Daí a
possibilidade de argüição de impedimento, ou suspeição.” (Recurso em habeas corpus
4.769. Relator: Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro. DJU de 06 mai. 1996.)
“Ministério Público. Impedimento de seus órgãos.
Nulidade da denúncia. 1) O membro do Ministério Público que atua na fase inquisitorial,
apurando pessoalmente os fatos, torna-se impedido para oficiar como promotor da ação
penal (inteligência dos arts. 252, I e 258, CPP). Nula, portanto, é a denúncia ofertada, se
inobservado esse aspecto.” (EJTJAP, v. 1, n. 1, p. 91).
“Os artigos 129, inciso VIII e 144, § 4º, da
Constituição Federal não prevêem a atuação do Ministério Público nos procedimentos
investigatórios criminais, tendo em vista tal fato comprometer a sua isenção. Desta forma,
não há que se admitir que um mesmo órgão acumule funções de investigador, acusador e
até julgador, já que é este órgão quem decide pelo impulso inicial da ação penal ou pelo
seu arquivamento. Ordem concedida” (TJMG – 3ª C. – HC 1.0000.08.470250-5/000(1) –
rel. Antônio Armando dos Anjos – j. 29.04.2008 – DOE 10.06.2008).
De toda forma, o Superior Tribunal de Justiça já
sumulou em sentido contrário ao decidir que “a participação de membro do Ministério
33 Apud Roberto Delmanto Junior, “As Modalidades de Prisão Provisória e Seu Prazo de Duração”, Rio de
Janeiro: Editora Renovar, 2ª. edição, 2001, p. 123 (nota de rodapé).
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26
Público na fase investigatória criminal não acarreta o seu impedimento ou suspeição para
o oferecimento da denúncia.” (Súmula 234). Aliás, os termos desta súmula deixam claro
que o Superior Tribunal de Justiça admite a investigação criminal pelo parquet, mesmo
porque, como afirma Eduardo Franco Cândia, “se o constituinte originário entendeu por
bem que cabe ao Ministério Público a exclusiva titularidade da ação penal pública (art.
129, I) e, portanto, quis o fim, por certo que os meios lhe devem ser inerentes.” (grifos no
original).34
Interessante, a título de ilustração, a observação feita
por Renê Ariel Dotti:
“(...) forçoso é reconhecer que o sistema adotado em
nosso país deixa muito a desejar quanto à eficácia e agilidade das investigações. E o
maior obstáculo para alcançar estes objetivos decorre da falta de maior integração não
somente das categorias funcionais da Polícia Judiciária e do Ministério Público como
também de seus integrantes. Observa-se, lamentavelmente e em muitas circunstâncias, a
existência de um processo de rejeição que parece ser genético.”35 Este mesmo autor, em
um alentado estudo sobre o assunto, após defender fundamentadamente a possibilidade da
investigação criminal pelo Ministério Público, extrai as seguintes conclusões:
“Neste derradeiro artigo é possível resumir algumas
conclusões fundamentais visando decifrar a esfinge da investigação criminal: 1.ª) O
desafio não se resolverá pela interpretação de textos (CF, CPP, leis federal e estadual do
MP, etc.); 2.ª) A Polícia Judiciária não detém (desde o advento do CPP) o monopólio da
apuração dos ilícitos penais; 3.ª) O procedimento preparatório da ação penal deverá
designar-se inquérito criminal em oposição ao inquérito civil, assim nominado pela
Constituição (art. 129, III) e pela Lei n.º 7.347/85 (ação civil pública, art. 8.º, § 1.º); 4.ª) O
inquérito criminal deve constituir um procedimento único, vale dizer, não se pode admitir
a investigação paralela (inquérito, pela Polícia Judiciária, e Procedimento
Administrativo, pelo Ministério Público); 5.ª) Uma reordenação constitucional e legal é
indispensável para estabelecer o concurso de funções e superar o conflito de atribuições
entre o MP e a Polícia Judiciária; 6.ª) Quando for necessária a abertura de inquérito
criminal pela Polícia Judiciária, a colheita de prova deve ser sumária e, em breve prazo
ser remetido ao MP; 7.ª) Recebendo os autos, o MP poderá propor o arquivamento,
oferecer denúncia ou prosseguir, ele mesmo, com a investigação; 8.ª) Não haverá mais a
baixa ou devolução de autos, rotina que alimenta a usina de prescrição; 9.ª) O chamado
Procedimento Administrativo Investigatório do Ministério Público (ou designação
correlata) ofende o princípio do devido processo legal porque: a) não existe prazo de
encerramento; b) não há controle jurisdicional; c) o indiciado ou suspeito não tem a
faculdade de requerer diligência, em atenção ao princípio da verdade material; 10.ª) O
aludido procedimento administrativo tem sido utilizado como alternativa contra a
burocracia, abuso de poder ou corrupção do inquérito policial; 11.ª) Uma nova
concepção de Política Processual Penal deverá modificar textos constitucionais e legais 34 “O Ministério Público e o Poder de Investigar Diretamente Infrações Penais”, in Repertório de
Jurisprudência IOB nº. 15/2004, Vol. III, p. 444. 35 O Ministério Público e a Polícia Judiciária - Relações formais e desencontros materiais, in Ministério
Público, Direito e Sociedade, Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1986, p. 135.
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27
para atribuir ao MP o controle da investigação, sem prejuízo do trabalho auxiliar da
Polícia Judiciária; 12.ª) A investigação criminal é exercício do poder estatal; deve
coordená-la o órgão que promove a ação penal de natureza pública.”36
VII – Conclusão
Atentos àquela observação supra (verdadeira e
preocupante), esclarecemos que tais considerações, longe de representarem obstáculos à
atuação policial, são apenas elucidações que devem ser feitas a respeito das prerrogativas
do Ministério Público, nunca se olvidando da importância da polícia judiciária.
Devemos, na lição do maior de todos os Promotores
de Justiça, “no trato com as autoridades policiais (...), além do respeito devido às
prerrogativas daqueles colaboradores e não subordinados, pugnar pelo prestígio que
advém da sua correção.”37
Julita Lemgruber, Leonarda Musumeci e Ignacio
Cano, em excelente estudo sobre o controle externo da polícia no Brasil, atentaram para “o
fato de o Ministério Público ter poder de investigar por conta própria crimes cometidos
por policiais e de iniciar o processo judicial à revelia dos procedimentos conduzidos pelas
Corregedorias é percebido como ´invasão` dos promotores na área de competência das
polícias. (...) Portanto, além de uma inércia interna, a limitada atuação do Ministério
Público nessa área deriva também do acirramento das resistências corporativas,
sustentadas pelo próprio hibridismo do modelo processual brasileiro.”38
Esta matéria estava para ser definitivamente decidida
pelo Supremo Tribunal Federal, no Inquérito nº. 1.968-2/DF; o relator, Ministro Marco
Aurélio, pronunciou-se contrário à possibilidade da investigação pelo Ministério Público,
sendo seguido pelo então Ministro Nelson Jobim. Votaram contrariamente, ou seja, pela
possibilidade da investigação do Ministério Público, os Ministros Joaquim Barbosa, Eros
Grau e Carlos Ayres de Brito. Porém, como o indiciado no referido inquérito deixou de ser
Deputado Federal (perdendo, por conseguinte, o foro por prerrogativa de função), os autos
foram encaminhados à primeira instância no dia 13 de março de 2007.
Atualmente, esta questão encontra-se para decisão no
Plenário do Supremo Tribunal Federal. Na sessão do dia 11 de junho de 2007, por um
pedido de vista do Ministro Cezar Peluso, foi suspenso o julgamento. A matéria está sendo
debatida por meio do julgamento de um pedido de Habeas Corpus (HC 84548) do
empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, que é acusado de ser o mandante do
assassinato do ex-prefeito de Santo André (SP) Celso Daniel, ocorrido em janeiro de 2002.
36 Site www.parana-online.com.br – Caderno Direito e Justiça, 28 de março de 2004. 37 Roberto Lyra, Teoria e Prática da Promotoria Pública, Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1989,
p. 121. 38 “Quem Vigia os Vigias?”, Rio de Janeiro: Record, 2003, págs., 124/125.
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Até o momento, já proferiram seus votos o relator do habeas corpus, Ministro Marco
Aurélio e o Ministro Sepúlveda Pertence. O primeiro se posicionou contra o poder de
investigação do Ministério Público, alegando que essa atribuição é exclusiva da Polícia. O
Ministro Pertence rejeita a tese de inconstitucionalidade das investigações realizadas pelo
MP. Para o Ministro Marco Aurélio, o “inquérito policial” acabou se tornando um
“inquérito ministerial”. “A sobreposição notada, procedendo o Ministério Público, a um
só tempo, a investigação e a propositura da ação penal, não se coaduna com a ordem
jurídica em vigor [no Brasil]”, disse ele. Para o Ministro, "o caso revelado neste processo
é emblemático”. Ele explicou que já havia processo devidamente formalizado na Primeira
Vara da Comarca de Itapecerica da Serra, em São Paulo. “Paralelamente, o Ministério
Público veio a formalizar procedimento investigatório, colhendo elementos, submetendo
os atos a sigilo e designando promotor de Justiça para a presidência das investigações.”
O Ministro Sepúlveda Pertence disse que o MP pode complementar as informações
relativas às investigações. “Eu rejeito a argüição abstrata de inconstitucionalidade de
qualquer ato investigatório do Ministério Público.” (Fonte: STF).
A Segunda Turma do STF, em julgamento realizado
no dia 10 de março de 2009, reconheceu por unanimidade que existe a previsão
constitucional de que o Ministério Público tem poder investigatório. A Turma analisava o
Habeas Corpus (HC) 91661, referente a uma ação penal instaurada a pedido do MP, na
qual os réus são policiais acusados de imputar a outra pessoa uma contravenção ou crime
mesmo sabendo que a acusação era falsa. Segundo a relatora do HC, ministra Ellen Gracie,
é perfeitamente possível que o órgão do MP promova a coleta de determinados elementos
de prova que demonstrem a existência da autoria e materialidade de determinado delito.
“Essa conclusão não significa retirar da polícia judiciária as atribuições previstas
constitucionalmente”, poderou Ellen Gracie. Ela destacou que a questão de fundo do HC
dizia respeito à possibilidade de o MP promover procedimento administrativo de cunho
investigatório e depois ser a parte que propõe a ação penal. “Não há óbice a que o
Ministério Público requisite esclarecimentos ou diligencie diretamente à obtenção da
prova de modo a formar seu convencimento a respeito de determinado fato, aperfeiçoando
a persecução penal”, explicou a Ministra. A relatora reconheceu a possibilidade de haver
legitimidade na promoção de atos de investigação por parte do MP. “No presente caso, os
delitos descritos na denúncia teriam sido praticados por policiais, o que também justifica
a colheita dos depoimentos das vítimas pelo MP”, acrescentou. Na mesma linha, Ellen
Gracie afastou a alegação dos advogados que impetraram o HC de que o membro do MP
que tenha tomado conhecimento de fatos em tese delituosos, ainda que por meio de oitiva
de testemunhas, não poderia ser o mesmo a oferecer a denúncia em relação a esses fatos.
“Não há óbice legal”, concluiu. Fonte: STF. Após este julgamento, o Ministro Carlos
Ayres Britto arquivou um pedido de Habeas Corpus (HC 99280), onde se afirmava não
caber ao Ministério Público a instauração de Procedimento Investigatório Criminal, papel
que seria da Polícia Judiciária (nos estados, a Polícia Civil; no nível federal, a Polícia
Federal). “Não caberia ao MP a investigação criminal por reunir em uma mesma pessoa a
produção de provas e a acusação, pois causaria desequilíbrio na relação processual, em
prejuízo da defesa. Violaria, portanto, os princípios constitucionais da ampla defesa e do
devido processo legal”, dizia o texto. Todavia, ao analisar o pedido, o ministro Ayres
Britto disse não vislumbrar “qualquer plausibilidade jurídica dos fundamentos expostos no
pedido, a indicar ilegalidade ou ato abusivo por parte do Ministério Público Federal onde
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se iniciou o procedimento investigatório”. Meses depois, decidiu-se que o Ministério
Público tem, sim, competência para realizar, por sua iniciativa e sob sua presidência,
investigação criminal para formar sua convicção sobre determinado crime, desde que
respeitadas as garantias constitucionais asseguradas a qualquer investigado. A Polícia não
tem o monopólio da investigação criminal, e o inquérito policial pode ser dispensado pelo
MP no oferecimento de sua denúncia à Justiça. Entretanto, o inquérito policial sempre será
comandado por um delegado de polícia. O MP poderá, na investigação policial, requerer
investigações, oitiva de testemunhas e outras providências em busca da apuração da
verdade e da identificação do autor de determinado crime. Com esse entendimento, a
Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal indeferiu, por votação unânime, o Habeas
Corpus (HC) 89837, em que um agente da Polícia Civil do Distrito Federal, condenado
pelo crime de tortura de um preso para obter confissão, pleiteava a anulação do processo
desde seu início, alegando que ele fora baseado exclusivamente em investigação criminal
conduzida pelo MP. O relator do processo, Ministro Celso de Mello, optou por apresentar
seu voto, independentemente do fato de que ainda está pendente de julgamento, pelo
Plenário da Suprema Corte, o HC 84548, no qual se discute justamente o poder
investigatório do MP. Ele citou vários precedentes da própria Corte para sustentar seu
ponto de vista em favor do poder de investigação criminal do MP. Um deles foi o caso
emblemático do recurso em HC (RHC) 48728, envolvendo o falecido delegado do extinto
Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) de São Paulo Sérgio Paranhos Fleury,
tido como personagem-símbolo do então existente “Esquadrão da Morte”, suspeito de
eliminar adversários do regime militar e de torturar presos políticos, em ação realizada
pelo próprio MP. No julgamento daquele processo, realizado em 1971 sob relatoria do
ministro Luiz Gallotti (falecido), a Corte rejeitou o argumento da incompetência do MP
para realizar investigação criminal contra o delegado. A investigação contra Fleury fora
comandada pelo então procurador Hélio Bicudo, integrante do MP paulista. Outro
precedente citado pelo ministro Celso de Mello foi o julgamento, pelo Plenário do STF, da
Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1517, relatada pelo ministro Maurício Corrêa
(aposentado), em que a Suprema Corte também reconheceu que não assiste à Polícia o
monopólio das investigações criminais. O relator se reportou, ainda, ao julgamento do HC
91661, de Pernambuco, relatado pela ministra Ellen Gracie, também envolvendo um
policial, em que a Segunda Turma rejeitou o argumento sobre a incompetência do MP para
realizar investigação criminal. O ministro Celso de Mello ressaltou, em seu voto, que este
poder investigatório do MP é ainda mais necessário num caso como o de tortura, praticada
pela polícia para forçar uma confissão, desrespeitando o mais elementar direito humano,
até mesmo porque a polícia não costuma colaborar com a investigação daqueles que
pertencem aos seus próprios quadros. “O inquérito policial não se revela imprescindível
ao oferecimento da denúncia, podendo o MP deduzir a pretensão punitiva do estado”,
afirmou o ministro Celso de Mello, citando precedentes em que o STF também considerou
dispensável, para oferecimento da denúncia, o inquérito policial, desde que haja indícios
concretos de autoria. “Na posse de todos os elementos, o MP pode oferecer a denúncia”,
completou. “O MP tem a plena faculdade de obter elementos de convicção de outras
fontes, inclusive procedimento investigativo de sua iniciativa e por ele
presidido”. Também segundo ele, a intervenção do MP no curso de um inquérito policial
pode caracterizar o poder legítimo de controle externo da Polícia Judiciária, previsto na Lei
Complementar nº 75/1993. Contrariando a alegação da defesa de que a vedação de o MP
conduzir investigação criminal estaria contida no artigo 144, parágrafo 1º, inciso IV, da
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Constituição Federal, segundo o qual caberia à Polícia Federal exercer, “com
exclusividade, as funções de Polícia Judiciária da União” – o que excluiria o MP –, todos
os ministros presentes à sessão da Turma endossaram o argumento do relator. Segundo ele,
a mencionada “exclusividade” visa, apenas, distinguir a competência da PF das funções
das demais polícias – civis dos estados, polícias militares, polícias rodoviária e ferroviária
federais. Foi esse também o entendimento manifestado pelo subprocurador-geral da
República, Wagner Gonçalves, presente ao julgamento. Celso de Mello argumentou que o
poder investigatório do MP está claramente definido no artigo 129 da CF que, ao definir as
funções institucionais do MP, estabelece, em seu inciso I, a de “promover, privativamente,
a ação penal pública, na forma da lei”. No mesmo sentido, segundo ele, vão os incisos V,
V, VII, VIII e IX do mesmo artigo. O ministro ressaltou que o poder investigatório do MP
é subsidiário ao da Polícia, mas não exclui a possibilidade de ele colaborar no próprio
inquérito policial, solicitando diligências e medidas que possam ajudá-lo a formar sua
convicção sobre determinado crime, como também empreender investigação por sua
própria iniciativa e sob seu comando, com este mesmo objetivo. Os mesmos fundamentos
que resultaram no indeferimento do HC 89837, do DF, foram utilizados pela Segunda
Turma do STF, para indeferir o HC 85419, impetrado em favor de dois condenados por
roubo, extorsão e usura no Rio de Janeiro. Segundo a denúncia, apresentada com base em
investigação conduzida pelo Ministério Público, um dos condenados é um ex-policial civil
que estaria a serviço de grupos criminosos. Segundo o relator do processo, ministro Celso
de Mello, as vítimas do condenado procuraram promotor de Justiça para denunciar a
extorsão por não confiar na isenção da Polícia Judiciária para investigar o caso. Fonte:
STF.
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