a internet e a luta de classes

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  • 7/26/2019 A Internet e a Luta de Classes

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    A INTERNET E A LUTA DE CLASSES

    No vlido formular o problema nesses termos: bom ou mau que exista a cultura de massa?.

    Quando na verdade o problema !..."qual a a#o cultural poss$vel

    a fim de permitir que estes meios de massapossam veicular valores culturais?%

    Umberto EcoApocalpticos e Integrados

    Pela primeira vez promove-se uma revoluo paradigmtica na comunicao a partir de um avanotecnolgico. No obstante o fato de ser essa mudana to radical ue reconfigura nossa maneirade pensar e fazer comunicao! vale sempre lembrar ue ela se constituiu no a partir daapresentao de um novo postulado terico ou manifestao social! mas sim das caractersticas deseu suporte.

    "sta afirmao aparece propositadamente aui em tom provocativo! com o intuito de instigar omeio acad#mico a refletir seu papel diante de um cenrio de constantes transforma$es no campoda comunicao! tendo a Internet como ambiente deste novo e irreversvel processo.

    No meio acad#mico! um dos maiores entusiastas das possibilidades da Internet % o filsofo Pierre&ev'. "le ressalta ue (a cibercultura e)pressa o surgimento de um novo universal! diferente dasformas culturais ue vieram antes dele no sentido de ue ele se constri sobre a indeterminaode um sentido cultural ualuer*+,. No se afirma a partir de uma proposta unificadora dentro deum campo distinto de atuao! mas trata-se de um universal no totalizante.

    "sta revoluo pode ser percebida de forma mais acentuada em relao comunicao. "stamos

    assistindo ao desenvolvimento de um meio ue oferece uma possibilidade ativa de participao! apartir de caractersticas to catalisadoras de articula$es como a efetiva interatividade de p/blicose de suportes0 udio! imagem! te)to e animao! al%m da converg#ncia de sinais de radiodifuso ede telefonia.

    1m meio ue! pela primeira vez na 2istria de todos os meios de comunicao 3 e)istentes!concebe uma relao de via dupla entre uem produz e recebe informao! suprimindo a barreiraentre esses dois atores! possibilitando uma sociedade de produtores-receptores de comunicao.

    Ao compartil2ar um mesmo suporte para receber e produzir informao! a massa se tornapotencialmente produtiva! passando a interagir e se reconfigurar como rede. A mensagem!portanto! no se apresenta mais como um bloco monoltico com um destino determinado! mas

    como um elemento comple)o e moldvel em relao aos movimentos promovidos nessa rede.

    4oda crtica dos tericos da comunicao ao longo dessas /ltimas d%cadas esteve construda empressupostos contemplados pela Internet! motivadas em especial pelo legado crtico da "scola de5ran6furt! to esplendidamente simplificado numa frase do 3ornalista alemo 7ieter Pro6op0 (ocarter emancipatrio da pr)is est +... na supresso da contraposio entre produtores ereceptores*+8. A formao da consci#ncia crtica! portanto! sempre esteve ligada id%ia departicipao ativa na produo de comunicao. "! nesse conte)to! os meios de comunicao de

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    massa sempre contriburam para estabelecer limites e afirmar o distanciamento entre uemproduzia e uem recebia comunicao! afirmando a autoridade de uma classe dominante esustentando assim seu poder.

    9endo assim! faz-se necessria a seguinte uesto0 se o pensamento latino-americano na rea dacomunicao sempre reivindicou espaos para um p/blico cu3o papel era ser mero destinatrio demensagens comunicacionais! porue diante da Internet a crtica permanece portadora detensionamentos ue no se levavam em conta anteriormente:

    AS CRTICAS

    7iante de um sem n/mero de crticas de vrios tons e cores! nos concentraremos apenas em tr#snorteadoras de grandes reas de toda estrutura social0 no campo poltico! a afirmao de ue aInternet acentua o enuadramento de seus usurios dentro de um modo de produo capitalista; auesto do acesso ao 2ard

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    Erias articula$es surgem a partir de 2omepages! listas de discusso! salas de c2at e mesmotroca de emails. Pensar essa articulao nos meios de comunicao tradicionais! por assim dizer!seria impossvel como ainda o %. Negar a e)ist#ncia dessas possibilidades de articulao % negarnossa prpria 2istria. "nto! como se motiva a crtica nesse sentido:

    A Internet como espao de articulao afirma o modo de produo capitalista comoirreversivelmente dominante. 4er computadores e programas mais capazes e atuais para acionarseus recursos! desfrutar do mel2or acesso e da mel2or lin2a telef=nica para obter uma cone)omais rpida! ter uma 2omepage mais atrativa e mais bem visitada. A performance impera comoperspectiva! mas a Internet no % determinante desta relao! ao contrrio! as possibilidades deuso p/blico e gratuito de suas ferramentas - 2ard

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    sobre o desempen2o de produtos e muitas vezes possuem contatos estreitos com a imprensaespecialiada! uando no so articulistas! colunistas! ou mesmo reprteres.

    ")emplos significativos no faltam0 a prpria icrosoft teve ue remodelar a aruitetura de suaicrosoft Net

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    funo de uma grade de programao cu3o controle % decidido por ele. Alis! a crescente tend#ncia% fazer com ue este conceito de grade de programao caia por terra! visto ue a apresentaodos conte/dos na Internet! e mesmo na 4E interativa! se daria por meio de pacotes decomunicao ou mesmo sites a partir de cone)$es mais rpidas.

    7eriva desse aspecto ue ter uma rdio na Internet 2o3e % algo e)tremamente simples! barato eacessvel do ponto de vista de sua legitimao. 1m site transmitindo udio ao vivo e 8T 2oras pordia no pode ser comparado a uma rdio convencional! ue ocupa um determinado espao no diale no %ter! al%m de! segundo campan2as difamatrias promovidas por associa$es de empresas decomunicao! interferir na estabilidade dos avi$es e na comunicao das ambulUncias. "mborano e)ista uma legislao ue impea sua e)ist#ncia e continuidade! o impasse est! obviamente!na recepo. Nesse sentido! receber a informao depende de uma infra-estrutura ue no %facilmente disponvel! e! al%m disso! em funo da interface do computador com o usurio! ainflu#ncia de uma rdio digital no % a mesma de uma rdio transmitida pelo ar.

    "ntretanto! podemos afirmar seguramente ue o controle na produo e na distribuio dessainformao se estabelece dentro das mesmas possibilidades na Internet. A prpria constituiodesse ambiente oferece a mesma capacidade de utilizao de recursos para desenvolver siteseficientes! de gerenciar essa informao e colocar disposio de seu p/blico e de! a partir da!desenvolver comunidades virtuais e espaos democrticos comuns de articulao e atuao.

    F ue no nos faz acreditar diante disso! ue a ind/stria da informtica e da produo de bensculturais no este3a abrindo mo do controle social de ue dispun2am a partir do formato dacomunicao massiva. Ao contrrio! outras formas de controle social e de bens da produo estosendo estabelecidas de forma mais contundente. ais e mais conglomerados de comunicao ecultura esto se desenvolvendo em escala mundial! originando fus$es e desen2ando um cenriopara a e)plorao de servios e produtos para mdias digitais.

    F controle social das grandes corpora$es est se estabelecendo! do ponto de vista da produo!a partir de grandes portais +sites de conte/do na Internet! ue oferecem vantagens de utilizao!al%m de programas e servios para a otimizao de seu uso. Al%m disso! grandes provedores deinformao e acesso! ue se associam a empreendimentos menores! tamb%m comeam a see)pandir! oferecendo de um lado as facilidades do acesso gratuito! de outro a conveni#ncia daInternet de alta velocidade. Fu se3a! podemos dizer ue a manuteno do controle social estdiretamente relacionada com a grandiloV#ncia da presena empresarial na Internet! associadatamb%m ine)ist#ncia de empreendimentos sociais de grande mobilizao.

    "mbora o crescimento da Internet este3a na capacidade de implementao de novos euipamentose recursos por parte do mercado de informtica! seu desenvolvimento % determinado pela medida

    da demanda de seu p/blico. A implicao dessas transforma$es para o mercado gera umimpasse e cria uma e)pectativa em relao continuidade dos investimentos. 7e um lado! anecessidade de acompan2ar as inova$es tecnolgicas! lanar novos servios e produtos e criarambientes mais amigveis. Por outro! o risco de no ter retorno comercial nos camin2os escol2idose desenvolvidos. Domo se no bastasse! o avano tecnolgico cresce mais rapidamente do ue acapacidade de assimilao de um determinado produto pelo mercado! diante disso! os produtosue c2egam ao consumidor esto au%m do ue a produo implementada e avaliada noslaboratrios das empresas desse setor.

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    A acelerao do consumo e do aparecimento de novos e mais capazes produtos de 2ard

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    A partir de outra perspectiva! ue % a do soft

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    razovel! at% mesmo por fora +eou imposio do 2bito! a lngua dei)a de ser um entrave! namedida em ue se percebem as possibilidades de intercUmbio entre os povos! originando novasinterfaces ue facilitam a comunicao entre pessoas de diferentes pases0 desde tradutoresautomticos disponveis em diversos sites e programas especficos! programas de utilizaogen%rica com vers$es nas mais diferentes lnguas! sem falar nos in/meros dicionrios t%cnicosdisponveis na @ede.

    9e % verdade ue! com o desenvolvimento da ind/stria da informtica! podemos ter como uaseestabelecida a imposio do ingl#s como lngua universal! tamb%m presenciamos na ind/stria doscomputadores o desenvolvimento de uma aruitetura aberta! ue possibilita a utilizao deinterfaces de vrias proced#ncias e finalidades! tornando o consumo cada vez maisindividualizado. 9endo assim! mais uma vez em relao produo! afirmamos ue o 2bito daprtica de utilizao da Internet % determinado pelas demandas dos usurios. "ssa evoluotecnolgica! pautada na apro)imao com o usurio final! % ue nos permite afirmar ue ocomputador ser cada vez mais acessvel no futuro.

    9e! por um lado! o desenvolvimento e a massificao das tecnologias se inserem num sistema deproduo empresarial! so os usurios e programadores ue estabelecem tend#ncias decomportamento e de utilizao da rede. A principal delas! o uso compartil2ado de seus recursos!nos leva a crer ue! ao contrrio dos meios de comunicao antecedentes! estar na Internet e fazeruso cada vez mais amplo dela sero cada vez mais atribui$es de todos do ue de uma casta deprivilegiados ou mesmo de profissionais do setor! visto ue tanto o p/blico pode ser concebidocomo consumidor de produtos e servios! como incentivador e realizador de pro3etos cooperativos.

    Dabe! portanto! renovar o esprito crtico! trazendo mais uma vez a perspectiva de Pierre &ev'!(apreender a cibercultura do seu interior! de acordo com a originalidade de seus dispositivos decomunicao! a partir de novas formas de laos sociais e longe do clamor montono dasmdias*+T. 1ma postura mais afirmativa e produtiva! sem abandonar a necessria crtica! seria a

    de apreender esse novo ambiente e suas possibilidades! nem ue isso val2a alguns cursosintrodutrios de informtica! de Internet! uma vasta troca de emails e participa$es em listas dediscuss$es e canais de c2at +proibidos em muitas escolas de comunicao! com a alegao deincentivar o desvio das atividades acad#micas. F ue possvel for para evitar ue o pensamentolatino-americano de comunicao Q ue um dia afirmou a capacidade das comunidades emdesenvolver seus prprios meios de comunicao! renegando um posicionamento passivo diantede uma articulao e)cludente em todo o continente Q no dei)e de afirmar o estmulo aos diversosgrupos e comunidades visando uma utilizao mais democrtica e efetiva dos produtos e serviosue a Internet coloca disposio.

    CONCLUSO DE NOSSA PRPRIA ATUAO

    F desenvolvimento de novas tecnologias para a Internet e a constante movimentao das grandesempresas de informtica! apesar de distantes de nosso cotidiano! so importantes para a pro3eoe a determinao do ue vir ou no ser a Internet num futuro de m%dio e longo prazos.

    1ma crtica ue redefina voca$es faz-se cada vez mais necessria dentro desse novo conte)to!onde a Internet desempen2ar um papel fundamental! mas no determinante das rela$es.Precisamos de um posicionamento crtico ue conte com a Internet para e)pandir possibilidades de

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    atuao e refle)o! ao contrrio de se cristalizar no tempo ou! o ue % pior! afirmar o fatalismo.Nesse ponto! no trata-se mais de uma crtica apocalptica ou mesmo niilista! mas sim de umasimples cegueira motivada pela incompatibilidade diante de um novo ambiente comunicacional.

    ? muito mais c=modo apontar limites do ue propor solu$es! principalmente devido aodescomprometimento em se afirmar determinados posicionamentos. Nesse sentido! portanto!pretendemos contribuir para ualificar a crtica em torno deste tema to pol#mico! uantoimprescindvel nos dias atuais.

    Notamos! ao longo desse tempo de afirmao da Internet no Umbito comercial e dom%stico! ueem muitas vezes a crtica % proporcional +incapacidade ou mesmo incompatibilidade deutilizao por parte de seu emissor! ou se3a! uanto mais se con2ece a Internet! mais se afirmamas ualidades de suas possibilidades de uso.

    Por outro lado! as crticas so incentivadas pelo recon2ecimento das limita$es de uso! ou se3a!uanto menor o costume em utilizar a Internet! maior o medo de ser dominado pelo prprioambiente e pelas novas gera$es ue a partir dele se desenvolvem! contribuindo-se assim paradeslegitimar tais posicionamentos.

    "ntre tantas implica$es! as mais inc=modas se relacionam com a perda do poder e da autoridadede posi$es de destaue como a do professor e a da prpria 1niversidade como espao darealizao do con2ecimento cientfico! diante de um con2ecimento ue se produz coletivamente ede forma compartil2ada.

    Nosso intuito! no entanto! % o de camin2ar no sentido contrrio! reunir vozes ue cultivem aInternet como um espao efetivamente democrtico e participativo! promotor da doce utopia uesempre perseguimos em nossa atuao como professores! pesuisadores e! principalmente! comoatores polticos.

    "st aberto o conviteS

    NOTAS

    ,. &"EY! Pierre. )ibercultura. 9o Paulo! "d. >T! ,ZZZ.

    8. P@F[FP! 7ieter. In A@DFN7"9 5K! Diro. *randes cientistas sociais. 9o Paulo! \tica! ,Z].

    >. DA94"&&9! anuel.+ ,ociedade em -ede. 9o Paulo! "d. Paz e 4erra! ,ZZZ.

    T. &"EY! Pierre. p. cit.

    BIBLIOGRAFIAAI@FN! 9%rgio. )ontato /mediato 0ultim$dia. 9o Paulo! "ditora ^lobal! ,ZZW.

    DA@A&! Adilson. 1 a massa virou rede. imeo! ,ZZZ.

    DA94"&&9! anuel.+ ,ociedade em -ede. 9o Paulo! "d. Paz e 4erra! ,ZZZ.

    &"EY! Pierre. )ibercultura. 9o Paulo! "d. >T! ,ZZZ.

    N"^@FPFN4"! Nic2olas.+ 2ida 3i'ital. 9o Paulo! Dompan2ia das &etras! ,ZZW.

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