a interferência das relações internacionais no meio ambiente

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UNIVERSIDADE PAULISTA CAMPUS MAGALHÃES TEIXEIRA - SWIFT INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E COMUNICAÇÃO - ICSC CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS DAIANE CRISTINA FRANCISCO DA SILVA A INTERFERÊNCIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS NO MEIO AMBIENTE CAMPINAS 2011

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Trabalho sobre a Interferência Política e Econômica das Relações Internacionais no Meio Ambiente.

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  • UNIVERSIDADE PAULISTA

    CAMPUS MAGALHES TEIXEIRA - SWIFT

    INSTITUTO DE CINCIAS SOCIAIS E COMUNICAO - ICSC

    CURSO DE RELAES INTERNACIONAIS

    DAIANE CRISTINA FRANCISCO DA SILVA

    A INTERFERNCIA

    DAS RELAES INTERNACIONAIS NO MEIO AMBIENTE

    CAMPINAS

    2011

  • DAIANE CRISTINA FRANCISCO DA SILVA RA.: 949505-3

    A INTERFERNCIA

    DAS RELAES INTERNACIONAIS NO MEIO AMBIENTE

    Trabalho de Concluso de Curso de Relaes Internacionais

    para o Instituto de Cincias Sociais e Comunicao da

    Universidade Paulista, apresentado com requisito parcial

    obteno do ttulo de Bacharel em Relaes Internacionais.

    PROF. ORIENTADOR: Ms. JOS DIAS PASCHOAL NETO.

    CAMPINAS

    2011

  • DAIANE CRISTINA FRANCISCO DA SILVA

    A INTERFERNCIA DAS RELAES INTERNACIONAIS NO

    MEIO AMBIENTE

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado como requisito parcial obteno do

    ttulo de Bacharel em Relaes Internacionais pela Universidade Paulista de Campinas.

    Aprovado em: ___/___/_____

    BANCA EXAMINADORA

    ORIENTADOR: ________________________________________________

    Prof. Ms. Jos Dias Paschoal Neto

    Universidade Paulista - UNIP

    MEMBRO: ________________________________________________

    Prof.__________________________

    Universidade Paulista - UNIP

    MEMBRO: ________________________________________________

    Prof.__________________________

    Universidade Paulista - UNIP

    Campinas, 08 de Novembro de 2011.

  • "A indiferena com o meio ambiente a conivncia

    com nossa destruio."

    HANS ALOIS

    Se soubesse que o mundo se desintegraria amanh,

    ainda assim plantaria a minha macieira.O que me

    assusta no a violncia de poucos, mas a omisso

    de muitos.Temos aprendido a voar como os

    pssaros, a nadar como os peixes, mas no

    aprendemos a sensvel arte de viver como irmos.

    MARTIN LUTHER KING

    "No a terra que frgil. Ns que somos frgeis.

    A natureza tem resistido a catstrofes muito piores

    do que as que produzimos. Nada do que fazemos

    destruir a natureza. Mas podemos facilmente nos

    destruir."

    JAMES LOVELOK

    "S quando a ltima rvore for derrubada, o

    ltimo peixe for morto e o ltimo rio for poludo

    que o homem perceber que no pode comer

    dinheiro."

    PROVRBIO INDGENA

    As coisas podem chegar at as pessoas que

    esperam, mas so somente as sobras deixadas por

    aquelas que lutam.

    ABRAHAM LINCOLN

  • Dedico esse trabalho nica e exclusivamente

    minha filha, Nicoly Nascimento da Silva, por ser a

    inspirao da minha vida em todos os momentos.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo primeiramente a Deus por estar ao meu lado em todos os momentos da minha

    vida, por me dar foras para lutar pelos meus objetivos e me dar nimo quando no tinha mais

    esperanas.

    Agradeo a minha famlia por estar ao meu lado, pela compreenso e principalmente

    pela demonstrao de amor que me faz seguir em frente.

    Ao Srgio, meu marido, pelo companheirismo, pela pacincia e pela perseverana em

    lutar comigo em cada obstculo. A minha filha Nicoly, por ser to abenoada por Deus e por

    me mostrar que a alegria pode estar nos pequenos detalhes da vida. Amo vocs.

    Agradeo aos meus pais por me auxiliarem nos meus estudos e me incentivarem desde

    o princpio a ser algum. Obrigado pela educao rgida e responsvel que me fez aprender

    tanto a viver essa vida.

    Ao meu pai por ser meu exemplo e me incentivar a lutar e alcanar xito em tudo que

    fao. Para minha me, pela exemplo em persistncia e amor, por ser minha guerreira e me dar

    coragem mesmo sem saber.

    Agradeo pois aos meus amigos Karla Leo, Lendel Teodoro e Mariele Santos por

    estarem comigo e fazerem dos meus momentos na faculdade intensos e felizes. Por serem

    amigos de verdade, sorrirem na minha alegria e me aconselharem nos meus erros, mesmo

    quando eu no entendia. Realmente acredito que nunca um grupo foi to perfeito e unido

    quanto o nosso. Amo muito vocs.

    Agradeo ainda aos meus outros amigos da faculdade que fizeram as minhas noites

    alegres, Bruna Bombardi Olivoto, Sandra Voltolini, Keylla Rodrigues, Carlos Cunha e Luiz

    Frana. Toro pela felicidade de vocs.

    Agradeo tambm aos meus sogros, Francisco e Maria, primeiramente por me dar a

    jia rara que meu marido e segundo por me acolherem como uma filha e torcerem por

    meu sucesso em todos os momentos.

    Agradeo aos meus professores que me ensinaram tanto, desde o Ensino Fundamental,

    Glucia e ngela, no Ensino Mdio, Amrico e Olvia, at hoje, Maurcio Cassar, Enzo

    Fiorelli, Paulo Vosgrau Rolim, Paulo Ramos e Ronaldo Ramos. Agradeo muito pela

    educao recebida.

  • Um agradecimento especial para meu professor orientador Jos Dias Paschoal Neto

    pela pacincia e pela forma de me fazer explorar meu potencial, para minha segunda

    orientadora que me auxiliou muito e me deu muita fora para continuar Rita Fontoura.

    E com certeza a Lcia Guimares, por me dar as melhores aulas do ltimo semestre e

    fazer em cada aula com que desenvolvssemos sentimentos e reflexes a cerca da minha

    prpria vida. Sinto-me muito orgulhosa em ter a Sra. como professora.

    Agradeo ainda pessoas que no me conhecem, porm fizeram parte muito importante

    na minha vida quanto evoluo desse trabalho. Pessoas como Daniel Luz com seus livros

    Insight 1 e 2 me auxiliaram a lutar; como Wagner Costa Ribeiro, Shigenoli Miyamoto e Paulo

    Roberto Almeida que mesmo no me conhecendo se propuseram a me ajudar.

    Pessoas j falecidas que me inspiraram continuar: Renato Russo com sua msica Mais

    Uma Vez e Abraham Lincoln com seu pensamento As coisas podem chegar at as pessoas

    que esperam, mas so somente as sobras deixadas por aquelas que lutam; ainda a Chico

    Xavier com seu poema Que eu no perca e a Vitor Hugo em Desejos.

    Um agradecimento especial ao site Google, por ser a melhor ferramenta de busca, pelo

    auxlio em todos os semestres sem o qual no concluiria de forma alguma. Ao programa do

    governo PROUNI sem o qual no estaria aqui de jeito nenhum, agradeo a oportunidade de

    dar uma nova perspectiva a todos os cidados.

    Agradeo ainda a todas as pessoas que concluem comigo mais uma etapa. Estivemos no

    mesmo barco por quatro anos e de fato, S os fortes sobrevivem!. Parabns a todos por essa

    conquista.

    Obrigado a todos que passaram pela minha vida e contriburam para o meu aprendizado,

    de qualquer forma. Buscarei sempre me aprimorar, pois o que sei que nada sei.

  • LISTA DE GRFICOS E ILUSTRAES

    GRFICO 1 CRESCIMENTO DEMOGRFICO CONFORME OS SCULOS........... 58

    GRFICO 2 CRESCIMENTO DEMOGRFICO NOS LTIMOS ANOS................... 59

    GRFICO 3 CRESCIMENTO DA PRODUO DOMSTICA PER CAPITA DE

    1820 A 1992.........................................................................................................................

    62

    FIGURA 1 RATIFICAO DOS PRINCIPAIS ACORDOS MULTILATERAIS

    SOBRE MEIO AMBIENTE................................................................................................

    53

    FIGURA 2 POPULAO URBANA CRESCENTE NO MUNDO............................... 60

    FIGURA 3 NVEL DE POLUIO DAS GUAS NO MUNDO................................ 65

    FIGURA 4 VANTAGENS E DESVANTAGENS DAS DIFERENTES

    DESTINAES DO LIXO...............................................................................................

    68

    FIGURA 5 CONCENTRAO ATMOSFRICA DE PARTCULAS POLUENTES

    NO MUNDO...................................................................................................................

    69

    FIGURA 6 NVEL DE DESMATAMENTO NO MUNDO.......................................... 72

    FIGURA 7 MAPA MUNDI COM O NVEL DE QUEIMADAS................................. 74

    FIGURA 8 CONCENTRAO DE GASES ESTUFAS NA ATMOSFERA AO

    LONGO DOS ANOS...........................................................................................................

    77

    FIGURA 9 VARIAO DA TEMPERATURA GLOBAL.......................................... 78

    FIGURA 10 ESCASSEZ DE GUA NO MUNDO......................................................... 84

    FIGURA 11 RISCO DE DESERTIFICAO NO PLANETA.................................... 86

  • LISTA DE SIGLAS E ABREVIAES

    CCMA Comit de Comrcio e Meio Ambiente

    CFC Clorofluorcarboneto

    CMMAD Comisso Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

    CNUMAD Conferncia Das Naes Unidas Para O Meio Ambiente E Desenvolvimento

    COPS Conferncia Das Partes Sobre Mudanas Climticas

    EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria

    EUA Estados Unidos Da Amrica

    FAO Organizao De Alimentao E Agricultura

    FMI Fundo Monetrio Internacional

    GATT General Agreement On Tariffs And Trade Acordo Geral de Tarifas e

    Comrcio

    GDP Gross Domestic Production Crescimento da Produo Domstica

    GEE Gases Do Efeito Estufa

    IBAMA Instituto Brasileiro Do Meio Ambiente e Dos Recursos Naturais Renovveis

    INPE Instituto Nacional De Pesquisas Espaciais

    IPCC Intergovernmental Panel On Climate Change

    MDL Mecanismo De Desenvolvimento Limpo

    MERCOSUL Mercado Comum Do Sul

    NAFTA North American Free Trade Agreement Acordo de Livre Comrcio da

    Amrica do Norte

    NASA National Aeronautics And Space Administration

    OIC Organizao Internacional Do Comrcio

    OIG Organizao Intergovernamental

    OMC Organizao Mundial Do Comrcio

    OMI Organizao Martima Internacional

    OMM Organizao Metereolgica Mundial

    ONG Organizao No Governamental

    ONU Organizao Das Naes Unidas

    OTAN Organizao Do Tratado Do Atlntico Norte

    PEDs Pases Em Desenvolvimento

    PIB Produto Interno Bruto

    PK Protocolo De Kyoto

    PNUD Programa Das Naes Unidas Para O Desenvolvimento

    PNUMA Programa Das Naes Unidas Para O Meio Ambiente

    REDD Reduo De Emisses Por Desmatamento E Degradao

    RMALC Rede Mexicana de Ao frente ao Livre Comrcio

    UE Unio Europia

    UNESCO United Nations Educational, Scientific, And Cultural Organization

    UNFCCC Conveno Quadro Das Naes Unidas Sobre Mudanas Climticas

    URSS Unio Das Repblicas Socialistas Soviticas

    WWF World Wildlife Fund Fundo Mundial para a Natureza

  • RESUMO

    O ser humano desde sua origem interfere na natureza de diversas formas, e conforme a

    construo das cidades e a intensificao das relaes de comrcio o meio ambiente sofreu

    com sua adaptao ao ambiente que o Homem necessitava. Alguns fatos polticos e

    econmicos contriburam gradativamente para o aumento da degradao ambiental. A partir

    do sculo XX movimentos ambientalistas e uma maior mobilizao da sociedade levou a

    cooperao dos Estados em prol da preservao ambiental atravs de Conferncias, acordos e

    protocolos multilaterais. O presente trabalho visa analisar no mbito das relaes

    internacionais quais foram, dentro da histria, as principais interferncias dessas relaes no

    meio ambiente, os processos de intensificao comercial que geraram o aumento da

    degradao e os principais acordos firmados entre Estados com o objetivo de preservao

    ambiental em nvel global. Analisa historicamente a evoluo das relaes entre Estados sob

    prisma poltico e econmico enfatizando os acontecimentos que interferiram nas questes

    ambientais. Descreve ainda as principais causas e conseqncias da degradao ambiental,

    observando a interveno humana como fator determinante para as modificaes ambientais e

    por fim analisa os principais acordos multilaterais na rea ambiental, sua efetividade e

    visibilidade internacional, identificando a cooperao internacional em prol da preservao

    ambiental.

    Palavras Chave: Meio Ambiente. Relaes Internacionais. Degradao Ambiental.

    Acordos Ambientais Multilaterais.

  • ABSTRACT

    The human being, since its origin, interferes on the nature (environment) in many

    different ways, and according to the construction of cities and the intensification of trade

    relations, the environment has suffered its adaptation to the environment that men needs. Some events, in the political and economic areas, contributed to the gradually increasing of

    the environmental degradation. From the twentieth century, the environmental movements

    and greater mobilization of the society took the cooperation of States in favor of the

    environmental preservation through conferences, multilateral agreements and protocols. The

    present project aims to analyze the international relations, which were, in history, the main

    interferences in the environment of these relationships, the commerces intensification processes, which generated the increased degradation and the major agreements between

    States that has as a goal and the environmental preservation on a global level. The project

    analyzes the historical development of relations between States under the perspective of

    political and economic events that interfered in the environmental issues. It also describes the

    main causes and consequences of environmental degradation, observing human intervention

    as the determining factor for the environmental changes and finally, discusses the best

    multilateral agreements in the environmental area, and also its international visibility and

    effectiveness, identifying the international cooperation in support of environmental

    preservation.

    Keywords: Environment. International Relations. Environmental Degradation.

    Multilateral Environmental Agreements.

  • SUMRIO

    INTRODUO 13

    METODOLOGIA 15

    1 A EVOLUO DAS RELAES INTERNACIONAIS 18

    1.1 MBITO POLTICO ................................................................................................... 18

    1.2 MBITO ECONMICO .............................................................................................. 28

    2 MEIO AMBIENTE VERSUS RELAES INTERNACIONAIS 39

    3 A DEGRADAO AMBIENTAL 56

    3.1 CAUSAS ....................................................................................................................... 56

    3.1.1 CRESCIMENTO DEMOGRFICO / URBANIZAO .................................................. 57

    3.1.2 CRESCIMENTO INDUSTRIAL .................................................................................... 61

    3.1.3 POLUIO ................................................................................................................... 63

    3.1.3.1 POLUIO DA GUA .................................................................................................. 64

    3.1.3.2 POLUIO DO SOLO .................................................................................................. 66

    3.1.3.3 POLUIO DO AR ....................................................................................................... 68

    3.1.4 DESMATAMENTO / QUEIMADAS .............................................................................. 70

    3.2 CONSEQNCIAS ...................................................................................................... 75

    3.2.1 EFEITO ESTUFA/AQUECIMENTO GLOBAL ............................................................. 75

    3.2.2 BURACO NA CAMADA DE OZNIO ........................................................................... 79

    3.2.3 PERDA DA BIODIVERSIDADE/ EXTINO DE ESPCIES ...................................... 80

    3.2.4 ESCASSEZ DE RECURSOS NATURAIS/ DESERTIFICAO .................................... 82

    3.2.5 CHUVA CIDA / INVERSO TRMICA ...................................................................... 87

    4 MEIO AMBIENTE NA PAUTA INTERNACIONAL 89

    4.1 CONFERNCIA DE ESTOCOLMO ............................................................................ 89

    4.2 PROTOCOLO DE MONTREAL ................................................................................. 91

    4.3 RIO 92 (ECO 92) ........................................................................................................ 92

    4.3.1 AGENDA 21 .................................................................................................................. 96

    4.3.2 CONFERNCIA DAS PARTES SOBRE MUDANAS CLIMTICAS ...................... 98

    4.4 PROTOCOLO DE KYOTO ....................................................................................... 104

    CONSIDERAES FINAIS 107

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 111

  • ANEXO I DECLARAO DA ONU SOBRE O MEIO AMBIENTE HUMANO

    (ESTOCOLMO, 1972) 122

    ANEXO II DECLARAO DO RIO SOBRE MEIO AMBIENTE E

    DESENVOLVIMENTO 124

  • 13

    INTRODUO

    Desde que o mundo mundo o ser humano interfere no meio ambiente e conforme a

    construo de sociedades, organizaes polticas atravs dos Estados, o Meio Ambiente sofre

    interferncia direta seja no crescimento populacional, industrial ou na explorao dos recursos

    naturais para uso e comrcio.

    Com a intensificao das trocas comerciais no perodo das grandes navegaes e da

    colonizao, o modelo de explorao predatrio tornou-se o principal meio de acmulo de

    riquezas dos pases europeus.

    Com a Paz de Westflia houve a institucionalizao do Direito Internacional, a criao

    do conceito de Estado soberano e a consolidao das Relaes Internacionais. Porm as

    questes ambientais s tornaram parte dos debates internacionais no final do Sculo XX,

    quando houve a conscientizao quanto importncia do Meio Ambiente e nossa

    necessidade do mesmo. A partir desse momento surgiram Conferncias, acordos e protocolos

    buscando a preservao ambiental, mas muito ainda confronta com a soberania de cada

    Estado e ao princpio da no interveno, gerando muitas vezes certa lentido na sustentao

    desses acordos.

    O presente trabalho visa identificar a interferncia das relaes entre Estados no

    Meio Ambiente ao longo da histria, tanto no campo poltico como no campo econmico.

    Para tanto, analisou a evoluo histrica das relaes internacionais, salientou a influncia

    dessas relaes no Meio Ambiente, enfatizou as principais causas e conseqncias da

    degradao ambiental e demonstrou a importncia dada s questes ambientais atravs de

    debates e acordos internacionais nas ltimas dcadas.

    O objetivo principal do presente trabalho identificar os principais efeitos que as

    Relaes Internacionais, sejam no mbito poltico ou econmico, trazem ao Meio

    Ambiente. As principais hipteses levantadas foram:

    1. O modelo de explorao dos recursos naturais ocorrido principalmente no perodo

    de colonizao, intensificado com as trocas comerciais que visavam o acmulo de

    riquezas do Mercantilismo, contribuiu para a elevao da degradao ambiental.

    2. As relaes internacionais foram e so importantes para que haja cooperao entre

    os pases buscando a diminuio dos impactos das atividades humanas no meio

    ambiente, atravs de conferncias e protocolos.

  • 14

    3. A questo ambiental entrou definitivamente na pauta dos debates internacionais,

    visto que a opinio pblica criou conscincia sobre a importncia que a natureza

    tem para a manuteno da vida humana na Terra.

    O trabalho comea tratando da evoluo das relaes internacionais, dividindo entre

    campo poltico e econmico onde no poltico conceituou-se Sociedade, Sociedade Poltica,

    Estado, Soberania e Interesses Polticos, alm de abordar os principais acontecimentos que

    permearam as relaes entre Estados em ambos os campos.

    Abordamos ento a temtica Meio Ambiente e a influncia do homem, da sociedade e

    das relaes entre Estados ao longo da histria enfatizando o perodo abordado no captulo

    anterior. Fala-se ainda sobre a degradao ambiental ocorrida desde a Antiguidade com povos

    nmades, construo das sociedades at os dias atuais com grandes conglomerados em

    pequenos espaos.

    Trata tambm sobre as principais causas para a degradao ambiental como

    crescimento demogrfico, urbanizao, poluio e desmatamento tendo base em dados

    estatsticos e utilizando as teorias de Malthus e Neomalthusiana para explicar. Tratamos ainda

    de analisar as principais conseqncias dessa degradao que coloca o planeta e vida

    humana sob ameaa.

    Por fim, analisa-se a evoluo das questes ambientais na pauta mundial salientando

    os principais acordos, conferncias e protocolos e sua efetividade na prtica. Identificamos

    como cada Conferncia foi tratada ao longo da histria da Humanidade, os exemplos pela

    efetividade prtica e a continuao das discusses em mbito internacional.

    A metodologia utilizada no trabalho basicamente a pesquisa bibliogrfica atravs de

    livros, revistas, sites, artigos, teses e dissertaes, alm de uma entrevista feita com um autor

    da rea. Tem um carter histrico, principalmente nos dois primeiros captulos, por tratar da

    contextualizao histrica.

  • 15

    METODOLOGIA

    O presente trabalho busca atravs de diversos processos metodolgicos encontrarem

    solues viveis para responder a questo central da pesquisa. O principal mtodo de pesquisa

    ser a metodologia qualitativa, na qual os fatos so registrados, analisados e interpretados para

    a concluso de forma dedutiva. Segundo Brevidelli (2008) o mtodo qualitativo definido

    como aquele capaz de incorporar as questes do significado e da intencionalidade como

    inseparveis dos atos, das relaes e das estruturas sociais. (Pg. 79)

    Para Lima (2008), s possvel imprimir significados de fenmenos humanos a

    partir de interpretaes e compreenses pautados na observao e na descrio de tais

    fatos. Ainda em Lima (2008), Denzin e Lincoln descreveram os pesquisadores qualitativos

    como aqueles que enfatizam a natureza sociologicamente construda na realidade, o

    relacionamento ntimo entre pesquisador e o que pesquisado, alm das restries

    situacionais que moldam a investigao.

    J Silverman (2009), acredita que o ponto forte da pesquisa qualitativa a capacidade

    para estudar fenmenos simplesmente impossveis em qualquer lugar, fala tambm que a

    pesquisa qualitativa relativamente flexvel, estuda o que as pessoas esto fazendo em seu

    contexto natural, est bem situada tanto para estudar os processos quanto os resultados, tanto

    os significados quantos as causas.

    Descrevendo bem a abordagem qualitativa pela qual ser embasado esse trabalho,

    explicam-se quais os tipos de pesquisa dessa abordagem sero utilizados. A primeira e mais

    comum a pesquisa bibliogrfica onde sero analisados artigos, livros, teses e sites como

    reviso bibliogrfica de fontes e teorias1 j publicadas a cerca do tema para embasamento e

    aprofundamento sobre o assunto.

    Segundo Severino (2007):

    aquela que se realiza a partir do registro disponvel, decorrentes de

    pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses

    etc. Utiliza-se de dados ou de categorias tericas j trabalhados por outros

    pesquisadores e devidamente registrados. Os textos tornam-se fontes dos

    temas a serem pesquisados. O pesquisador trabalha a partir das contribuies

    dos autores dos estudos analticos constantes nos textos. (Pg. 122)

    Para Lima (2008):

    1 Explica assim, num nvel mais geral ainda, um conjunto maior de fatos aparentemente diferentes entre si

    (Severino, 2007:103-104)

  • 16

    Pesquisa bibliogrfica uma atividade de localizao e consulta de fontes

    diversas de informao escrita orientada pelo objetivo explcito de coletar

    materiais mais genricos ou mais especficos a respeito de um tema. [...]

    pesquisar no campo bibliogrfico procurar no mbito dos livros, peridicos

    e demais documentos escritos as informaes necessrias para progredir na

    investigao de um tema de real interesse do pesquisador. (Pg. 48-49)

    Dentro da pesquisa bibliogrfica o presente trabalho utilizou-se da tcnica de pesquisa

    de documentao, que se trata do recolhimento, registro, sistematizao e anlise das

    informaes. Severino (2007) descreve a documentao como:

    Toda forma de registro e sistematizao de dados, informaes, colocando-

    os em condies de anlise por parte do pesquisador [...] no contexto da

    realizao de uma pesquisa, a tcnica de identificao, levantamento,

    explorao de documentos fontes do objeto pesquisado e registro das

    informaes retiradas nessas fontes e que sero utilizadas no

    desenvolvimento do trabalho. (Pg. 124)

    Para Marconi (2010), a fase de pesquisa realizada com intuito de recolher

    informaes prvias sobre o campo de interesse.

    Alm da pesquisa bibliogrfica, o presente trabalho apresentar carter histrico que,

    segundo Best apud Marconi (2010), o processo que enfoca investigao, registro, anlise e

    interpretao de fatos ocorridos no passado a fim de compreender o presente atravs de

    generalizaes; e carter interdisciplinar que, Pardinas apud Marconi (2010) descreve como

    uma pesquisa em uma rea de fenmenos estudados por investigadores de diferentes

    campos das cincias.

    Outro tipo de pesquisa da abordagem qualitativa utilizado no trabalho a pesquisa

    documental, que vir atravs de entrevista com um pesquisador do assunto. Descrevendo a

    pesquisa documental segundo a ABNT apud Lima (2008):

    Qualquer suporte quer contenha informao registrada, formando uma

    unidade, que possa servir para consulta, estudo ou prova. Inclui impressos,

    manuscritos, registros audiovisuais e sonoros, imagens, sem modificaes,

    independentemente do perodo decorrido desde a primeira publicao (Pg.

    56)

    A entrevista utilizada no trabalho pode ser definida por Marconi (2010) como um

    procedimento utilizado na investigao social, para a coleta de dados ou para ajudar no

    diagnstico ou no tratamento de um problema social. Severino (2007) define a tcnica como

    tcnica de coleta de informaes sobre um determinado assunto, diretamente solicitada aos

  • 17

    sujeitos pesquisados [...] O pesquisador visa apreender o que os sujeitos pensam, sabem,

    representam, fazem e argumentam.

    Finalizando os tipos de pesquisas da abordagem qualitativa utilizados no trabalho, a

    pesquisa descritiva que visa descrever diversos fatos para desencadear as possveis solues

    problemtica, Andrade (2009) explica a pesquisa:

    Nesse tipo de pesquisa, os fatos so observados, registrados, analisados,

    classificados e interpretados, sem que o pesquisador interfira neles. Isto

    significa que os fenmenos do mundo fsico e humano so estudados, mas

    no manipulados pelo pesquisador (Pg. 114)

    Ainda utilizou-se a pesquisa explicativa, na qual houve a tentativa de explicar

    primeiramente as causas da problemtica para depois buscar as solues. Para Severino

    (2007):

    aquela que, alm de registrar e analisar os fenmenos estudados, busca

    identificar suas causas, seja atravs da aplicao do mtodo

    experimental/matemtico, seja atravs da interpretao possibilitada pelos

    mtodos qualitativos (Pg. 123)

    Andrade descreve a pesquisa como mais complexa, visto que alm de analisar os

    fenmenos identificar os fatores determinantes, ou seja, suas causas.

  • 18

    1 A EVOLUO DAS RELAES INTERNACIONAIS

    As relaes entre Estados foram evoluindo conforme o tempo e para entender essa

    evoluo observou-se historicamente as Relaes Internacionais no mbito poltico e

    econmico a fim de discernir os dois campos e abranger mais tal evoluo. Segundo

    Hobsbawm (1977),

    Se a economia do mundo do sculo XIX foi formada principalmente sob a

    influncia da revoluo industrial britnica, sua poltica e ideologia foram

    formadas fundamentalmente pela Revoluo Francesa. (p. 71)

    1.1 MBITO POLTICO

    Para entender a evoluo das relaes entre Estados necessrio compreender a

    concepo de Sociedade, o conceito de Estado e Soberania, alm de entender as questes de

    interesses poltico-sociais.

    O ser humano tem a necessidade natural de socializar com outros da mesma espcie, a

    sociedade um agrupamento de pessoas com interesses semelhantes e habilidades distintas

    que causam certa interdependncia e que se unem para alcanar objetivos comuns e para

    proteo e segurana coletiva. Aristteles foi o primeiro a dizer que o homem naturalmente

    um animal poltico, a partir dele seguidores fortaleceram a idia, como Ccero que disse a

    primeira causa da agregao de uns homens a outros menos a sua debilidade do que certo

    instinto de sociabilidade em todos inato; [...] e Santo Toms Aquino:

    O homem , por natureza, animal social e polticos, vivendo em multido,

    ainda mais que todos os outros animais, o que se evidencia pela natural

    necessidade. (apud DALLARI, 2010, p. 10)

    Dallari (2010) define sociedade como sendo um agrupamento de humanos

    caracterizam-se quando tm um fim prprio e promovem manifestaes de conjunto

    ordenadas e se submetem a um poder a fim de atingir o bem comum.

    A idia de animal poltico demonstra que a poltica, segundo Heller apud Dallari,

    consiste sempre na organizao de oposies de vontade, sobre a base de uma comunidade

    de vontade e ainda, segundo Meynaud apud Dallari, representa a orientao dada gesto

    dos negcios da comunidade, tendo como principais exemplos de sociedades polticas a

  • 19

    famlia e o Estado, sendo a primeira um crculo mais restrito e a segunda de maior

    importncia, pela capacidade de influir e condicionar e pela sua amplitude.2

    Dallari (2010) define como sociedade poltica:

    Todas aquelas que, visando a criar condies para a consecuo dos fins

    particulares de seus membros, ocupam-se da totalidade das aes humanas,

    coordenando-as em funo de um fim comum. (p. 48)

    A construo das sociedades polticas organizadas levou ao conceito de Estado que,

    apesar de dividir opinies quanto a sua origem, tem significados semelhantes entre os

    principais pensadores.

    Maquiavel foi o primeiro a dar indcios do conceito de Estado na sua obra O

    Prncipe em 1513:

    [...] Todos os estados, todos os domnios que tiveram e tm imprio sobre os

    homens, so Repblicas ou principados [...] Transformar em colnias os

    estados em provncia diferente de lngua, de costumes e de leis. (1997, p. 21-

    26)

    E mesmo diversos autores acreditarem que as sociedades sempre existiram (porm

    sem organizao e estrutura de Estado) a consolidao do conceito de Estado deu-se em 1648

    com a Paz de Westflia, sendo justificado como a luta por autonomia pelas sociedades

    medievais, quando ento houve a consolidao das Relaes Internacionais e a

    institucionalizao do Direito Internacional.

    Alguns dos principais autores defendem que o Estado nasceu da necessidade humana

    de organizar a diviso do trabalho, buscando aproveitar os benefcios e habilidades de cada

    componente; que a posse de terra gerou poder e que a propriedade originou o Estado; que o

    Estado trata-se basicamente da soberania territorial e que o Estado antes um produto da

    sociedade, quando ela chega a determinado grau de desenvolvimento3. (DALLARI, 2010)

    Rousseau define o Estado como mero executor de decises que vem de um conjunto

    de pessoas associadas [e com poder e soberania] que buscam atravs do Estado seus interesses

    particulares, que ele define como a soma das vontades particulares definida como vontade

    geral do Estado. Para Dallari (2010) uma situao permanente de convivncia e ligado

    sociedade poltica. Ainda Le Prestre define:

    2 DALLARI, 2010:48-49

    3 Frases de Plato, Heller, Preuss e Engels respectivamente in DALLARI, 2010, p. 55

  • 20

    um conceito jurdico que descreve uma populao ocupante de um

    territrio definido e est organizada em torno de instituies polticas

    comuns. (2000: 124)

    Nas questes polticas do Estado a definio de Interesses Polticos (Nacionais) bem

    expressa com Hans Morgenthau apud Freitas, quando diz que toda poltica externa atua

    sempre promovendo seus prprios interesses e ainda na Poltica Internacional, todas as

    relaes se baseiam em relaes de poder.

    Na Paz de Westflia alm da concepo de Estado, aqui j tratada o conceito de

    Soberania emergiu para demonstrar a autonomia e autoridade que cada Estado tem diante de

    seu territrio seja no mbito poltico-econmico ou scio-cultural, sendo a mesma una (nica

    naquele Estado), indivisvel (universalidade de fatos ocorridos no Estado), inalienvel (s

    importante a nao, povo ou Estado enquanto h tem) e imprescritvel (no tem validade

    prazo de durao).

    Le Prestre (2000) define Soberania como sendo a doutrina em que o Estado possui a

    autoridade exclusiva e suprema de deciso e de aplicao das decises em um territrio

    dado, Dallari por sua vez traz a Soberania como o poder absoluto e perptuo de uma

    Repblica, sendo o poder absoluto a demonstrao de poder, cargo e tempo ilimitados

    soberania e o poder perptuo sendo uma soberania inesgotvel, inextinguvel, ou seja, para

    sempre. (JEAN BODIN apud DALLARI, 2010, p. 77)

    Ainda Reale apud Dallari (2010):

    O poder de organizar-se juridicamente e de fazer valer dentro do seu

    territrio a universalidade de suas decises nos limites dos fins ticos de

    convivncia. (p. 80)

    Conceituado Sociedade, Sociedade Poltica, Estado, Soberania e Interesses polticos

    pode-se contextualizar as Relaes Internacionais no campo poltico.

    Como j abordado anteriormente, as sociedades nasceram da necessidade humana em

    conviver socialmente e relacionar-se com outros da mesma espcie. Desde a Sumria em

    5.000 a.C que trouxe as primeiras civilizaes independentes e posteriormente com a

    centralizao do poder nas mos dos sacerdotes; o Egito com a construo das pirmides em

    sua demonstrao de planejamento e organizao, alm da introduo da matemtica e da

    expanso territorial devido ao poder militar, econmico e religioso conquistados no sculo IV

    a.C.

  • 21

    A China trouxe com sua cultura milenar o conceito de planejamento estratgico

    principalmente no campo militar, onde se estudava o inimigo visando o melhor resultado da

    guerra e ainda inseriu a filosofia como resposta intelectual para as crises econmicas e

    instabilidades polticas. A Grcia trouxe os principais conceitos que influenciam a cultura

    ocidental at hoje, a democracia, a tica, os mtodos juntamente com o planejamento e a

    estratgia, alm da caracterizao de suas cidades-Estado pelos conflitos em busca de

    interesses polticos particulares.

    A democracia trazida de Atenas, como um sistema poltico representativo era

    confrontada com a aristocracia de Esparta, que buscava tambm a expanso territorial gerando

    uma guerra entre as cidades-Estado e diversos conflitos sociais e econmicos, que com o

    tempo o desgaste causou a vulnerabilidade de tais cidades-Estado e facilitou a entrada e

    dominao da regio por outros povos.

    Porm o melhor retrato da sociedade na Idade Antiga o famoso Imprio Romano que

    nos deu importantes contribuies nos relacionamentos entre o Imprio e seus territrios

    conquistados, como o Direito das Gentes no qual Oliveira (2010, p. 30) menciona como o

    direito dos povos, direito das naes representando relaes de poder e conquista, onde as

    relaes entre comunidades aconteciam circunstancialmente. S. de Paula (2003) explica

    como tratado ou acordo para prpria convenincia fortalecido pela prtica do exerccio do

    comrcio, dos atos de guerra ou religiosos, resultando nas Relaes Internacionais

    propriamente ditas e Ramos (2004) trata como um conjunto de prticas e mtodos

    intelectuais que se ocupou em gerar materiais constitutivos do exerccio da autoridade

    referente [o Imprio Romano] a tais relaes.

    O Imprio Romano com o lema Divide ET Imperia fez dos elementos adquiridos da

    Grcia a execuo de seus interesses e alm de conquistar novos territrios, levava sua cultura

    para esses novos povos para que assim fizessem parte do Imprio Romano. Com um exrcito

    forte e muito bem organizado o Imprio Romano conquistou territrios e introduziu sua

    cultura para diversos povos sendo o maior smbolo das relaes internacionais da poca.

    At a queda da Constantinopla [em 1453] houve uma maior aproximao dos povos

    devido ao desenvolvimento das sociedades influenciado pelo poder da Igreja e do clero sobre

    os prncipes na poca.4

    4 OLIVEIRA, Odete Maria De. RELAES INTERNACIONAIS: ESTUDOS DE INTRODUO. 2 Ed. /

    6 Reimp. Curitiba: Editora Juru, 2010

  • 22

    A Igreja tambm teve importncia no que diz respeito s relaes internacionais, visto

    que parte da histria da humanidade ela teve influncia predominante na vida e atitudes dos

    indivduos, orientando as sociedades sobre o que era certo ou no [segundo seu prprio ponto

    de vista].

    A partir do sculo XIV as sociedades evoluram tornando-se organizaes

    politicamente centralizadas e buscando o desenvolvimento das relaes em diferentes

    aspectos. Entre os sculos XVI e XVII h com o renascimento do comrcio ocorrendo

    dinmicas polticas econmicas entre os grupos sociais e havendo a necessidade de

    organizaes polticas mais preparadas e estruturadas.

    Em 1648, a Paz de Westflia transforma o Direito das Gentes utilizado desde o

    Imprio Romano - em Direito Internacional a fim de atender novas necessidades dos Estados

    Soberanos ento conceituado. Alm disso, trouxe diversos princpios utilizados ainda hoje,

    tais como, legitimao do statu quo5, legitimao de todas as formas de governo, princpio da

    tolerncia e da liberdade religiosa, visando a no interveno em assuntos internos, a

    independncia dos Estados, a autonomia e a cooperao internacional dos mesmos.

    Segundo Ramos (2004), a paz de Westflia resultado de um conjunto de tratados

    diplomticos firmado em 1648 entre as principais potncias europias, que colocaram fim

    Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) (p. 8). Dos eventos marcantes entre a Paz de Westflia

    e a Primeira Guerra Mundial (1914-17) no mbito poltico social, a Revoluo Francesa teve

    bastante relevncia. Hobsbawm (1977) acredita que

    A Revoluo Francesa pode no ter sido um fenmeno isolado, mas foi

    muito mais fundamental do que os outros fenmenos contemporneos e suas

    conseqncias foram, portanto mais profundas (p. 72)

    A Revoluo Francesa ocorreu porque o Terceiro Estado composto pela classe

    trabalhadora, camponeses, burguesia pagavam impostos muito altos ao monarca e no

    tinham participao na poltica e nem liberdade econmica para trabalhar.

    No episdio, em 1789, a Queda da Bastilha6 marca o incio da Revoluo que tinha

    como lema Liberdade, Igualdade e Fraternidade tendo a priso da famlia real e sua

    execuo, alm do embargo de todos os bens da Igreja nas mos do clero, na sua evoluo.

    5 Statu quo: (latim) estado atual das coisas, situao atual. Refere-se ao equilbrio entre os pases para manter a

    paz e a cooperao entre os povos. 6 A Bastilha a monarquia prendia seus opositores (priso poltica) e depois os condenava a guilhotina. Era o

    smbolo da monarquia francesa.

  • 23

    Dos acontecimentos mais importantes da Revoluo Francesa est queda da monarquia de

    Luis XVI e a promulgao da Declarao dos Direitos do Homem e do Cidado, que tinha

    como princpios a igualdade entre as pessoas e a participao do povo na poltica estatal e que

    trouxe significativos avanos para a sociedade.

    No perodo entre a Paz de Westflia e a Primeira Guerra Mundial a solidariedade entre

    os Estados soberanos ocorre devido ao equilbrio de poder e a formao de alianas secretas e

    acirradas rivalidades num complexo jogo de interesses polticos e econmicos instigados de

    tenses polticas entre os pases europeus. (Castro apud RAMOS, 2004, p. 10)

    O clima no comeo do sculo XX era de aparente tranqilidade e a idia de que as

    guerras eram coisas do passado permaneciam entre a comunidade internacional. Porm as

    alianas estratgicas eram feitas secretamente e a busca por equilbrio de poder entre as

    potncias era fato escondido.

    Apesar da aparente paz devido aos avanos tecnolgicos e econmicos na poca entre

    1870 a 1914 (conhecida como Belle Epque), os pases ricos e industrializados vivam um

    ambiente de disputas e tenso buscando conquistas de territrios e modernizao em suas

    economias, impulsionados pelo capitalismo as naes buscavam novos territrios para fontes

    de matrias-prima e tambm novos mercados consumidores.

    O primeiro sinal dessa concorrncia entre as naes foi corrida armamentista, pelo

    fato dos pases buscarem atravs da alta tecnologia de guerra a conquista de novos territrios.

    Alm disso, a ideologia nacionalista utpica florescia como forma de recrutar legies de

    exrcitos. Outro aspecto importante para a poca foi s alianas estratgicas, buscando o

    equilbrio de poder tanto no campo poltico-militar quanto no campo econmico-comercial.

    Essas alianas construram o ambiente da Primeira Guerra Mundial: de um lado a

    Trplice Aliana (1882) formada por Alemanha, Itlia e Imprio Austro-Hngaro; do outro a

    Trplice Entente (1904) formado por Rssia, Inglaterra e Frana.

    Dentre as causas conhecidas do inicio da Primeira Guerra Mundial esto o

    descontentamento da partilha de territrios mercantis como sia e frica por parte de Itlia e

    Alemanha; a forte concorrncia comercial de mercados consumidores; alm do clima de

    apreenso e alerta gerado pela corrida armamentista intensificada. A expanso alem na busca

    pela estrada de ferro que ligava Berlim a Bagd, as disputas entre Frana e Alemanha pelos

    territrios africanos (o congo francs foi entregue aos alemes), o nacionalismo srvio X

    expansionismo austro-hngaro, na crise dos Blcs.

  • 24

    O ponto chave que culminou o incio da Primeira Guerra Mundial foi o assassinato de

    Francisco Ferdinando, prncipe do imprio austro-hngaro por um jovem de um grupo Srvio

    ocasionando a declarao de guerra a Srvia (aliada Rssia e conseqentemente da Trplice

    Entente), gerando o pretexto que as partes queriam para deflagrar a guerra.

    As principais disputas causadas pela guerra eram as disputas pelo controle de

    territrios africanos e asiticos e a explorao de suas matrias prima. Durante o confronto

    entre as potncias na Primeira Guerra Mundial, a Itlia mudou de lado devido a promessa de

    ganhar territrios austracos e a Rssia assinou paz com a Alemanha e saiu da Guerra, dando

    seu lugar aos Estados Unidos (EUA) em 1917. O Japo tambm entrou na guerra a fim de se

    apropriar das colnias alems no Oriente.

    Com o fim da guerra, houve o Tratado de Versalhes7 que condenava a Alemanha a

    pagar indenizaes para as potncias vencedoras, perder suas colnias e reduzir seu poder

    blico, tornando uma das principais causas da Segunda Guerra Mundial.

    Um dos pontos que o Tratado de Versalhes previa era a criao de um organismo

    capaz de assegurar a paz no mundo, buscando reduzir os conflitos entre naes, eis que surge

    a Liga das Naes8 em 1920.

    Os vinte anos que se passaram entre uma guerra e outra foram caracterizados pelo

    nacionalismo utpico de Alemanha, Itlia e Japo juntamente com o totalitarismo dos regimes

    vigentes, alm da humilhao sofrida pela Alemanha no final da Primeira Guerra Mundial na

    qual Clausewitz apud Manyanga (p. 01) menciona como

    A deciso de qualquer guerra nem sempre deve ser considerada como

    um caso absoluto: muitas vezes um Estado vencido v na sua derrota

    um mal transitrio, a que as circunstncias polticas ulteriores podero

    fornecer um remdio.

    Os regimes totalitrios buscavam o expansionismo atravs da fora militar. A criao

    de indstrias de armamentos e equipamentos blicos visando reduzir a crise econmica nos

    7 Assinado em 28 de junho de 1919, o Tratado de Versalhes foi um acordo de paz assinado pelos pases

    europeus, aps o final da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Neste Tratado, a Alemanha assumiu a

    responsabilidade pelo conflito mundial, comprometendo-se a cumprir uma srie de exigncias polticas,

    econmicas e militares. Estas exigncias foram impostas Alemanha pelas naes vencedoras da Primeira

    Guerra, principalmente Inglaterra e Frana. Em 10 de janeiro de 1920, a recm criada Liga das Naes (futura

    ONU) ratificou o Tratado de Versalhes.

    Fonte: http://www.suapesquisa.com/pesquisa/tratado_de_versalhes.htm 8 A idia principal da organizao era impedir as guerras e assegurar a paz atravs de discusses e aes

    diplomticas, dilogos e solues. A organizao no funcionou muito na prtica dando lugar a ONU em 1946,

    seus fracassos foram pela corrida armamentista das naes e pela ecloso de uma nova guerra.

  • 25

    pases totalitrios (nazifascistas) e a falta de empregos tambm foi importante na

    militarizao.

    O Japo buscava expanso de seus territrios objetivando a conquista dos territrios

    vizinhos e a partir desses objetivos expansionistas dos trs pases formou-se o Eixo com fortes

    caractersticas militares e grandes objetivos expansionistas.

    No que diz respeito ao Tratado de Versalhes, a Alemanha foi humilhada pelas

    condies polticas, econmicas e militares que foram impostas no tratado, perdeu territrios

    e foi impedida de promover a indstria blica do pas enfurecendo os sentimentos alemes e

    facilitando para a manipulao do dio alemo pela direita nacionalista.

    Os futuros aliados estavam, no perodo entre guerras, apenas se armando

    defensivamente. Os EUA se isolaram e no queria participar de agresses europias, a

    Inglaterra estava em paz por ser uma ilha e por ter a maior frota naval martima militar, a

    Frana buscava novos caminhos para encurralar a Alemanha e no dar o direito de nova

    agresso, a Rssia estava isolada e com problemas internos [guerra civil].

    O incio da guerra se deu com a invaso da Polnia pela Alemanha. Frana e Inglaterra

    logo declararam guerra Alemanha, formando uma das alianas que mais tarde juntariam

    EUA e Unio das Repblicas Socialistas Soviticas (URSS) e se tornariam os Aliados.

    Entre 1939 (inicio da guerra) a 1941 as potncias do Eixo conquistaram importantes

    territrios. O EUA entrou na guerra, em 1941, quando foras japonesas atacaram Pearl

    Harbor. Da at o fim da guerra (1945) as potncias aliadas vencem as batalhas. Os alemes

    perdem contingentes no inverno russo e as foras do eixo sofrem diversas derrotas acabando o

    conflito em 1945 com a rendio de Alemanha e Itlia.

    O Japo s se rende aps as perdas em Hiroshima e Nagasaki, quando os EUA lanam

    bombas atmicas em territrio japons dizimando a populao. Os prejuzos da guerra eram

    eminentes: cidades destrudas, milhes de mortos e feridos, economias devastadas, indstrias

    perdidas. A reconstruo comea numa nova diviso entre os pases que seguem a ideologia

    econmica capitalista norte-americana e os que seguem a ideologia econmica socialista

    sovitica gerando agora uma guerra (de influncias) sem confronto blico.

    A Organizao das Naes Unidas (ONU) veio em 1945 ao final da Segunda Guerra

    Mundial, como organismo sucessor da Liga das Naes buscando maior eficcia na

    manuteno da paz atravs das negociaes de conflitos a base da diplomacia e a participao

    de todos os Estados independentes. Os principais objetivos da ONU so:

    Manter a paz internacional.

  • 26

    Garantir os Direitos Humanos.

    Promover o desenvolvimento socioeconmico das naes.

    Incentivar a autonomia das etnias dependentes.

    Tornar mais fortes os laos entre os pases soberanos.

    Num contexto de reconstruo europia, as potncias sobreviventes e fortes (URSS e

    EUA) comeam a jogar ideologicamente buscando apoio dos pases para o fortalecimento de

    seus sistemas econmicos.

    O estopim da guerra foi insero da Doutrina Truman9 na qual o Estado norte-

    americano disse assumir o compromisso de "defender o mundo capitalista contra a ameaa

    socialista" em 1947. Posteriormente houve a preocupao com a reconstruo econmica

    europia que foi financiada pelos EUA atravs do plano Marshall. Em conseqncia, a URSS

    financiou os pases de regime socialista e afins com o Pacto de Varsvia buscando novas

    alianas para o seu sistema econmico.

    A Guerra Fria tinha carter de disputa poltico, econmico, tecnolgico, social, militar

    e ideolgico entre Estados Unidos e Unio Sovitica. A URSS tinha um sistema econmico

    socialista baseado na interferncia total do Estado na economia, a economia planificada,

    igualdade social, partido nico e falta de democracia. J os EUA pregavam a expanso do

    sistema capitalista onde os mais fortes sobrevivem, livre mercado e concorrncia, economia

    baseada no mercado, democracia, e propriedade privada.

    A Guerra considerada Fria pela ausncia de conflitos diretos, houve na verdade, a

    influncia das potncias divergentes em pequenos conflitos locais e na reconstruo de naes

    destrudas na Segunda Guerra Mundial, buscando a implantao de seus sistemas econmicos

    nessas naes influenciadas, ou seja, o conflito ocorreu apenas no campo ideolgico.

    Nesse momento surgem alianas buscando o fortalecimento dos modelos econmicos.

    No lado capitalista surge a Organizao do Tratado do Atlntico Norte (OTAN), em 1949,

    liderada pelos EUA, o acordo estabelecia que os Estados-membros se comprometessem em

    assegurar a sua defesa e que uma agresso a um ou mais aliados seria considerada uma

    agresso a todos. Assim, a OTAN fez grande esforo para a manuteno de uma defesa

    9 Doutrina Truman uma expresso que designa um conjunto de medidas polticas e econmicas assumidas

    depois de maro 1947, data em que o ento presidente dos EUA, Harry Truman, profere um violento discurso

    contra a ameaa comunista, onde diz que os EUA assumem o compromisso de defender o mundo dos soviticos.

    Fonte: http://www.infoescola.com/historia/doutrina-truman/

  • 27

    coletiva e, at ento, ideolgica, pois nunca houve um conflito armado contra o lado

    sovitico.

    Alm da corrida armamentista evidente das duas superpotncias, principalmente nas

    questes nucleares, houve tambm a corrida espacial, onde as potncias buscavam

    desenvolvimento para conquistar o espao [como um novo territrio].

    Dentre os principais envolvimentos indiretos das duas potncias esto:

    Guerra da Coria: Entre os anos de 1951 e 1953 a Coria foi palco do maior

    conflito armado da Guerra Fria envolvendo as duas superpotncias. Aps dois

    anos de guerra e milhares de mortes a Coria dividida, ficando a Coria do

    Norte sob influncia sovitica e com um sistema socialista e a Coria do Sul

    mantendo seu sistema capitalista.

    Guerra do Vietn: ocorrida entre 1959 e 1975, contou com a interveno direta

    dos EUA e URSS. Os soldados norte-americanos tiveram dificuldades em

    enfrentar os soldados vietcongues e soviticos e saram derrotados de forma

    vergonhosa em 1975, deixando o Vietn tornar-se socialista.

    O socialismo sovitico entrou em crise devido ao atraso na economia [controlada pelo

    Estado] que juntamente com a falta de democracia impulsionou crises em diversas repblicas

    socialistas em 1980. Com a queda do Muro de Berlim no inicio da dcada de 1990 [e a

    reunificao das Alemanhas] e com as reformas polticas e econmicas e acordos com EUA

    feitos pela URSS, o socialismo foi enfraquecendo e dissolveu a URSS.

    Ao fim da Guerra Fria, os EUA tornam-se a nica superpotncia mundial, com nveis

    expressivos de gastos com a indstria blica e nas questes militares superando a soma de

    todos os outros pases [em Produto Interno Bruto (PIB)]. Porm o cenrio das relaes

    internacionais modificado, novos temas so inseridos na pauta de negociaes, os conflitos

    tornam-se mais diplomticos, a ONU ganha destaque no mbito das relaes internacionais e

    a cooperao, ou a busca por equilbrio entre as naes favorece uma relao mais

    harmoniosa, visto que os Estados tm noo de que uma terceira guerra mundial dizimaria

    toda a populao do planeta devido aos avanos tecnolgicos e nucleares.

    Os pases da Europa aos poucos comeam a se juntar buscando uma integrao e

    assim permanecerem fortes no mbito das relaes internacionais. A Unio Europia (UE)

    uma integrao poltica e econmica constituda por 27 Estados-membros. Visa o

    fortalecimento das relaes entre as naes europias em todos os aspectos (social,

  • 28

    econmico, poltico, tecnolgico, ambiental, militar e cultural) e maior importncia e

    visibilidade no cenrio global.

    Dentre os acontecimentos marcantes a Guerra do Golfo teve grande importncia no

    mundo assim como os atentados de 11 de Setembro de 2001 aos EUA, que trouxe uma nova

    realidade comunidade internacional e uma instabilidade poltico-diplomtica e militar ao

    mundo.

    No que diz respeito ao ataque as torres gmeas norte-americanas houve um abalo a

    segurana da hegemonia mundial, causando instabilidade geral no planeta. Ainda com as

    decises de guerra contra o terrorismo na doutrina Bush10

    , a efetividade da ONU foi posta a

    prova devido incapacidade de conter os EUA quando o Conselho de Segurana foi contra a

    invaso no Iraque.

    As relaes internacionais no campo poltico so vistas desde as primeiras civilizaes

    mostrando a necessidade que a humanidade tem em relacionar-se. Apesar de diversos

    conflitos, guerras e crises sociais e polticas as relaes entre Estados esto conforme os

    sculos se intensificando devido aos processos de interdependncia e as alianas estratgicas

    visando o equilbrio do poder no cenrio internacional.

    A cooperao internacional trazida com a insero de novos atores internacionais

    como os organismos multilaterais [ONU] no interfere na soberania dos Estados conquistado

    desde a Paz de Westflia, porm ainda com esses organismos alguns Estados buscam atingir

    seus prprios interesses.

    1.2 MBITO ECONMICO

    No mbito econmico mostram-se os principais fatos que permearam e consolidaram

    as Relaes Internacionais. As relaes entre Estados sempre tiveram mais vnculos

    econmicos do que polticos, devido necessidade de troca de mercadorias e especiarias a fim

    de sobrevivncia e posteriormente de conforto.

    Na Antiguidade, as primeiras civilizaes conhecidas j comercializavam entre si no

    modo de subsistncia. Com as tcnicas agrcolas dominadas pelos egpcios a Revoluo

    Agrcola tornou o homem sedentrio e o fixou em determinadas regies originando as

    10 Guerras declaradas contra Afeganisto e posteriormente contra Iraque, no aceitas pela ONU como guerra

    legitimas.

  • 29

    primeiras cidades. A agricultura prevaleceu por grande parte da histria das relaes entre

    reinos, cidades-Estado e posteriormente os Estados soberanos.

    O mercantilismo um perodo muito importante na histria entre Estados, visto que

    conhecido como um modelo econmico de transio do feudalismo11

    para o capitalismo que

    foi caracterizado pela interveno do Estado na economia. Dentre outras caractersticas

    bsicas presentes no modelo cabem citar:

    Metalismo: o acmulo de ouro e metais preciosos definia o tamanho do poder

    do Estado;

    Balana Comercial Favorvel: importar menos e exportar mais gerando lucro

    ao Estado.

    Incentivo a produo manufatureira: subsdios e incentivos a indstria local

    visando produo, abastecimento do mercado interno e exportao;

    Incentivo a Construo Naval: devido expanso territorial e as grandes

    navegaes a busca de novas mercadorias e mercados consumidores elevaram

    a importncia martima no mercado e comrcio;

    Poltica demogrfica favorvel: buscando aumentar o contingente de exrcito

    (porque a militarizao gerava poder) e maior capacidade laboral e

    consumidora;

    Protecionismo alfandegrio: adoo de polticas que visam proteger o mercado

    domstico atravs de altos impostos (barreiras tarifrias) que encarecem os

    produtos importados;

    Colonialismo: a expanso territorial visava novos mercados consumidores e

    novas matrias prima proveniente dessas colnias, ainda utilizando de polticas

    de exclusividade as metrpoles tinham total controle sobre o comrcio das

    colnias;

    Formao de Cia. De Comrcio: A fim de monopolizar as Cia. De Comrcio

    nacionais que eram base do comrcio martimo com a produo colonial (ou

    seja, buscavam as mercadorias nas colnias atravs dos mares) gerando a

    acumulo privativo de capital.

    11 Caracterizado pelo retorno ao campo e abandono do comrcio como a principal atividade econmica, a

    concentrao de terra, o predomnio de grandes propriedades e do trabalho servil, alm de ser fundamentado na

    relao de suserania e vassalagem (dependncia e compromisso de fidelidade firmado entre senhores).

  • 30

    As trocas comerciais eram feitas anteriormente mercadorias por mercadorias,

    denominada escambo, com o aumento dessas trocas entre as naes houve a necessidade de

    padronizar a comercializao de mercadorias atravs da utilizao de moedas para configurar

    as trocas (padro ouro). Porm como esses metais preciosos tambm faziam parte das

    mercadorias e tornava-se difcil o transporte de grandes quantidades entre os Estados foi

    instaurado o cmbio, buscando minimizar as transferncias fsicas de metais preciosos atravs

    de um mecanismo de compensao das transaes entre os pases (SUPRINYAK, 2000).

    O perodo marcado pelo mercantilismo (entre os sculos XIV e XVIII) foi

    caracterizado pela intensificao das prticas de comrcio, onde ressalta a aliana poltico-

    econmica entre realeza (que buscava poder atravs do acumulo de riquezas e financiamento

    do comrcio) e a burguesia (que buscava expanso comercial e proteo segurana).

    A Pennsula Ibrica utilizava-se basicamente do metalismo e no contribuiu para o

    crescimento da sua economia, porm os Estados que no possuam colnias repletas de metais

    preciosos ou no utilizavam suas colnias para a explorao buscaram desenvolver a indstria

    manufatureira e o comrcio de produtos luxuosos que atraiam as cortes ibricas e geravam

    lucros extremos Inglaterra, Frana e Alemanha, alm de fortalecerem a construo naval e

    as rotas martimas em busca de novas mercadorias.

    Em 1776, Adam Smith com sua obra A Riqueza das Naes prega que o liberalismo

    econmico j se fazia presente na vida das pessoas (j capitalistas) e que era necessrio o

    Estado deix-lo expandir. O liberalismo econmico apareceu como objetivo de atender as

    necessidades da burguesia e no mais do Estado (como no mercantilismo). A interveno do

    Estado na economia fazia com que no houvesse chances de expanso comercial. A doutrina

    econmica liberal pregava, to somente:

    A economia se auto-regula por meio de leis naturais;

    A defesa da livre concorrncia;

    A liberdade cambial;

    Ampla liberdade na realizao de contratos;

    Propriedade privada;

    Combate ao mercantilismo;

    Estimulo ao crescimento demogrfico com finalidade de gerar mo de obra.

    O lema predominante do pensamento liberal est na expresso: Laissez faire, laissez

    passer, Le monde va de lui mem que significa deixa fazer, deixa passar, que o mundo

    anda por si mesmo. Dentre as teorias levantadas por pensadores liberais, destacam-se:

  • 31

    1. Adam Smith: primeiro a dizer que o Estado no deveria interferir na economia, pregar

    o livre comrcio, reconhecer que o trabalho a principal fonte de riqueza de uma

    nao e defender a intensificao da capacidade produtiva do trabalho;

    2. David Ricardo: Estudos a distribuio de renda, afirmando que h trs fatores que

    podem desestabilizar a economia de uma nao: salrio, lucro e renda da terra.

    3. John Stuart Mill: defensor do Laissez faire, acreditava na necessidade da distribuio

    equilibrada dos benefcios gerados pela economia e ainda propunha um sistema

    poltico capaz de permitir a participao da sociedade e garantir o direito das minorias.

    No sculo XVIII a Revoluo Industrial se deu a cerca de uma srie de pequenas

    revolues existentes na Inglaterra que culminaram a acelerao da evoluo industrial. A

    Revoluo Demogrfica ocorrida principalmente entre os sculos XVII e XVIII foi fator

    importante pela gerao de produtores e consumidores no mercado. Com o crescimento

    demogrfico houve tambm o crescimento da urbanizao gerando a necessidade de

    abastecimento desses aglomerados urbanos impulsionando a evoluo industrial. Alm disso,

    com a urbanizao houve a elevao de mo de obra nas cidades.

    Segundo Simo (2002, p. 09),

    A Revoluo Industrial a consumao do processo iniciado nos sculos

    XVI e XVII, sendo a principal diferena a mentalidade da burguesia que

    mais madura, poderosa e consciente da sua fora, deixa o desejo de ascender

    nobreza e passa a ambicionar transcende-la, reclamando uma mudana de

    estruturas em que possam vigorar as suas crenas e estipular a ao.

    Alm do mercado interno que aumentava em consumo, mo de obra e rendimentos, o

    mercado externo (denominado comrcio internacional) tambm era expandido na busca da

    balana comercial favorvel e da explorao e relao monopolista colonial. Com a evoluo

    da indstria e com a migrao da populao para os centros urbanos (e conseqentemente

    para as indstrias), a agricultura teve a necessidade de buscar novas tcnicas visando

    automatizar a funo (tornar a agricultura industrial) gerando uma Revoluo agrcola.

    J dentro da Revoluo Industrial a revoluo nos transportes e na comunicao pode

    ser destacada, por exemplo, na utilizao das maquinas a vapor em barcos e locomotivas.

    Esses tipos de transportes auxiliaram muito na comunicao (serviam como correios), no

    transporte de passageiros e nas transaes comerciais entre Estados (transporte de cargas).

    As vantagens desses novos transportes eram eminentes tanto para a sociedade quanto

    para a indstria, visto que tinham uma capacidade de carga/pessoas maior e eram mais rpidos

    que os transportes anteriores.

  • 32

    A competio comercial entre as naes tomou conta no perodo entre 1870 a 1914 e a

    Inglaterra preponderantemente industrializada e a frente dos outros pases comeou a

    encontrar obstculos no mercado internacional principalmente devido ao seu modelo

    tradicional j ultrapassado. A Alemanha tornou-se a principal concorrente britnica pelo

    mercado internacional devido s inovaes em tcnicas e mtodos de processos produtivos

    alm dos investimentos em empresas de plantaes, ferrovirias, mineiras e fabris.

    Alm da Alemanha e Inglaterra, Rssia teve uma evoluo tardia de sua

    industrializao, porm muito importante para a vida econmica do continente europeu. A

    corrida pela modernizao industrial bem como pela expanso no mercado internacional

    impulsionou a segunda Revoluo Industrial em meados do sculo XIX. O desenvolvimento

    tecnolgico em diversos campos industriais12

    bem como as mais incrveis e importantes

    invenes13

    buscando a melhoria na qualidade de vida nas sociedades.

    Os pases que mais se sobressaram com a segunda Revoluo Industrial foram

    Estados Unidos e Alemanha, que se consagraram como grandes potncias devido aos avanos

    tecnolgicos e aos novos modelos de sistema produtivo conquistados e a insero definitiva

    no comrcio internacional. Dentre as principais caractersticas desse processo destacam-se a

    utilizao de gs e petrleo como combustveis, o uso da energia eltrica tanto domstica

    quanto urbana e industrial e, principalmente, a implementao de um sistema de linha de

    produo industrial idealizado por Henry Ford14

    .

    A idia proposta por Hobsbawm (1977, p. 47) quando disse que no geral, o dinheiro

    no s falava como governava demonstra a importncia do capitalismo para a poca. No

    mbito econmico o capitalismo fator determinante das Relaes Internacionais, por ser um

    sistema econmico que se caracteriza pela privatizao dos meios de produo [mquinas,

    equipamentos, insumos e instalaes]. O sistema tem no modo de produo a necessidade de

    trabalhadores livres e a existncia de capital [recursos].

    12 Eltrica, qumica, farmacutica, metalrgica e de transportes.

    13 Prensa mvel, Motor de combusto interna, Telefone, Rdio, Autofalante, Fita eltrica, Furadeira eltrica,

    Microfone, Gramofone, Refrigerador, Filme fotogrfico, Antena, Cinema, Automvel, Lmpada eltrica,

    Fongrafo, Vlvula eletrnica, Raio X.

    Fonte: http://www.suapesquisa.com/industrial/segunda_revolucao.htm 14

    Ford considerado o primeiro a implantar um sistema de produo em srie. O engenheiro americano notou

    que era muito mais barato e rpido produzir um modelo de automvel padronizado. De acordo com o sistema

    fordiano de produo o automvel passava por uma esteira de montagem em movimento e os operrios

    colocavam as peas. Logo, cada operrio deveria cumprir uma funo especfica.

    Fonte: http://www.suapesquisa.com/biografias/henry_ford.htm

  • 33

    A idia central do capitalismo consiste em lucro num sistema que favorece o livre

    comrcio e a livre concorrncia e visa insero contnua de seus produtos no mercado

    internacional, intensificando constantemente as relaes de comrcio entre Estados.

    Nos momentos de crises e guerras ocorridos na histria das Relaes Internacionais

    sempre houve a interrupo das relaes econmico-comerciais entre os pases, alm da

    elevao das polticas protecionistas visando proteger o mercado interno e restringir

    importaes como se observa nas duas grandes guerras mundiais.

    No ps Primeira Guerra Mundial a economia estadunidense, que financiava a

    estruturao econmica e financeira europia, devastada com a guerra, estava em ascenso e a

    supervalorizao das aes na bolsa de Nova York bem como a estocagem de excedentes

    culminaram na crise de 1929, que consistiu na desvalorizao brusca das aes das empresas

    norte-americanas e conseqentemente a perda de bilhes de dlares e muito desemprego,

    visto que os investimentos migraram para a Europa, j fortalecida.

    Aps a segunda grande Guerra Mundial houve o embate dos sistemas econmicos

    vigentes nas potncias fortalecidas: o socialismo sovitico e o capitalismo norte-americano.

    Apesar da importncia sovitica no ps-guerra seu sistema no vigorou por muito

    tempo devido a uma srie de crises tanto polticas quanto econmicas [pelo atraso na

    evoluo industrial em relao aos pases capitalistas] e reformas no mesmo sentido. Outro

    ponto dominador que trouxe mais valor ao sistema capitalista foi o advento da globalizao.

    A globalizao importante para o sistema capitalista e para a nova ordem mundial

    [caracterizada pela atuao dos EUA como principal ator do sistema internacional e pela

    cooperao entre os Estados, alm da importncia gerada ao fim da Guerra Fria para as

    organizaes internacionais], pois traz a intensificao das relaes entre Estados alm da

    interdependncia dos mesmos nos aspectos econmico-comerciais.

    Segundo Held e McGrew apud Mariano (2007, p. 124) globalizao consiste em uma

    [...] mudana ou transformao na escala da organizao social que liga comunidades

    distantes e amplia o alcance das relaes de poder nas grandes regies e continentes do

    mundo, em outras palavras, um processo que diminui fronteiras, barreiras e distncia e

    aumenta a capacidade persuasiva dos Estados em suas relaes poltico-econmicas.

    Dentre as vantagens da globalizao no ambiente internacional esto rapidez na

    comunicao com todo o planeta e a variedade na informao [vista de vrios ngulos e

    possibilitando criar opinio prpria a cerca do assunto], porm a globalizao como

    impulsionadora do sistema econmico capitalista levam a acumulao permanente de capital;

  • 34

    a distribuio desigual da riqueza; o papel essencial desempenhado pelo dinheiro e pelos

    mercados financeiros e a concorrncia, gerando alm da desigualdade social dentro dos

    Estados a desigualdade entre Estados que no modelo capitalista traz maiores benefcios aos

    pases ricos e j industrializados marginalizando os pases em desenvolvimento.

    Com a importncia da globalizao veio tambm necessidade de se criar rgos

    capazes de fiscalizar as polticas comerciais adotadas pelos Estados a fim de reduzir as

    polticas protecionistas e buscando ideologicamente o livre comrcio. A nova ordem

    econmica mundial traz na Conferncia de Bretton Woods, em 1944, algumas regras para as

    relaes comerciais e financeiras entre os Estados tendo como principais caractersticas o

    estabelecimento de Fundo Monetrio Internacional (FMI) e Banco Mundial buscando regular

    as polticas internacionais de comrcio e financeiras nas questes operacionais monetrias.

    Surge na Conferncia de Havana, em 1947, o GATT General Agreement on Tariffs

    and Trade ou Acordo Geral de Tarifas e Comrcio como um acordo provisrio com a

    inteno de impulsionar a liberalizao multilateral com a reduo de tarifas aduaneiras,

    substituindo a OIC Organizao Internacional do Comrcio fracassada pela no-

    ratificao dos EUA. O GATT foi estabelecido ao longo dos anos e forneceu base

    institucional para diversas rodadas de negociaes multilaterais de comrcio.

    As seis primeiras rodadas15

    firmaram-se na diminuio dos direitos aduaneiros e

    redues tarifrias. Nessas, houve sucesso pela diminuio de 35% da mdia das tarifas

    aplicadas para bens.

    Na Rodada Tquio [a stima], alm da reduo tarifria vrios acordos tentaram

    reduzir tambm as barreiras no-tarifrias que ocorriam com mais freqncia na poca como

    forma de proteo ao mercado domstico. Nessa rodada a validade dos acordos s se

    concretizava se o pas o assinasse. Esses acordos eram: Barreiras Tcnicas, Subsdios, Anti-

    Dumping, Valorao Aduaneira, Licena de Importao, Acordos sobre Carne e produtos

    Lcteos dentre outros.

    A Rodada Uruguai, a oitava e mais importante rodada, comeou em 1986 e finalizou

    em 1994 com 123 pases membros assinantes dos acordos e o surgimento da OMC

    Organizao Mundial de Comrcio, que entrara em vigor em 1 de Janeiro de 1995 para

    substituir o GATT dando mais consistncia ao comrcio internacional e tendo mais poder

    sobre a pauta comercial mundial. A OMC um rgo que fornece bases institucionais e

    15 Rodada Genebra (1947), Annecy (1949), Torquay (1951), Genebra (1956), Dillon (1960-61) e Kennedy

    (1964-67)

  • 35

    legais. O diferencial deste rgo para o antigo GATT o cumprimento de todos os acordos na

    pauta pelos Estados e no s os que fossem interessantes. Dentre os principais objetivos da

    organizao destacam-se:

    Que as relaes nas reas econmicas e no comrcio de bens e servios sejam

    conduzidas assegurando o pleno emprego e o crescimento amplo da renda e da

    demanda de todos os Estados membros;

    Que todos os pases membros se esforcem positivamente para que os pases em

    desenvolvimento alcancem seus objetivos;

    A reduo tarifria e dos obstculos que restringem o comrcio e a eliminao do

    tratamento discriminatrio nas relaes internacionais de comrcio;

    O desenvolvimento de um sistema multilateral de comrcio integrado com maior

    liberalizao;

    Todos os membros at os mais conservadores que preferirem preservar seus

    princpios fundamentais tendem a favorecer os objetivos do sistema multilateral de

    comrcio; e

    Mostram a importncia da existncia do desenvolvimento sustentvel nas pautas

    comerciais atravs da proteo do meio ambiente.

    A importncia hegemnica dos EUA para o mundo [desde o fim da Guerra Fria] levou

    a construo de blocos econmicos visando uma maior rede de benefcios entre os membros e

    assim buscando o equilbrio de poder no sistema econmico internacional, onde a

    multipolaridade se sobressa nos mais diversos aspectos do mundo atual.

    Fator que configurou a nova ordem internacional, a integralizao regional traz

    importncia para o cenrio global contemporaneamente. Os processos de integrao

    econmica foram se intensificando medida que foram mostrando resultados positivos ao

    cenrio internacional. Dentre os principais blocos econmicos com maiores destaques no

    processo de integrao Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), Acordo de Livre Comrcio

    da Amrica do Norte (NAFTA) e principalmente, UE tem maior visibilidade internacional. O

    processo de integrao considerado uma estratgia dos Estados buscando o fortalecimento

    das relaes internacionais [entre os pases geograficamente mais prximos] e a modificao

    nas relaes de poder em mbito econmico, como expressa MARIANO (2002, p. 48):

    Os processos de integrao regional so impulsionados pelos Estados e

    fazem parte de sua lgica estratgica, no entanto, medida que evoluem,

    geram impactos que vo alm dos governos nacionais participantes,

    inuenciando o conjunto da sociedade e especialmente as unidades

  • 36

    governamentais sub-nacionais, como as prefeituras e os governos estaduais.

    Nas questes de integrao poltica e econmica entre Estados diversas teorias

    contemporneas foram levantadas, dentre as principais:

    Teoria funcionalista: David Mitrany defende a premissa de que as decises e

    aes polticas estatais so delegadas a um centro decisrio, fazendo o Estado

    renegar seus interesses para o bem comum dos membros da integrao sob a

    resoluo do centro decisrio;

    Teoria Neofuncionalista: Ernest Haas defende a relao custo x benefcio da

    integrao poltico-econmica e acrescenta a participao dos organismos

    internacionais no sistema econmico internacional auxiliando nos processos de

    integrao, principalmente regionais

    Alianas de Coalizo: Robert Osgood analisa as alianas entre Estados visando

    os objetivos em comum no mbito poltico-econmico e estratgico-militar.

    Defende que as alianas estratgicas configuram o cenrio internacional e

    moldam as relaes de poder entre Estados.

    A crise financeira de 2008 trouxe tona a interdependncia das relaes internacionais

    que se demonstrou atravs dos efeitos negativos diversos aos outros Estados do mundo.

    Segundo Cardote (2009, p. 11):

    O contgio da crise americana demonstra a atual indissociabilidade

    econmica dos pases de economia aberta. Inseridas em um sistema

    econmico fluido e globalizado, as economias internas se tornam permeveis

    aos efeitos das dinmicas domsticas estrangeiras. O processo de

    contaminao tambm expe a necessidade de um regime de coordenao e

    cooperao para fazer frente a esse tipo de circunstncia.

    A teoria da interdependncia complexa das relaes internacionais pode ser

    aplicada para explicar os efeitos decorrentes do colapso econmico de 2008

    e justificar a orientao adotada pelos pases integrantes do G-20 para

    enfrentar o problema. Essa anlise deve levar em considerao o efeito mais

    evidente da crise: a significativa contrao do PIB dos pases componentes

    do G-8.

    Os pases emergentes, principalmente os BRICs16

    , tiveram destaque em torno dessa

    crise econmica devido diminuio dos efeitos da crise se comparado com os pases do G-

    16 Sigla utilizada para os quatro pases emergentes em ascenso: Brasil, Rssia, ndia e China.

  • 37

    817

    . Isso acontece devido ao poder demogrfico e do mercado de consumo em expanso que

    os quatro pases juntos possuem. O que ocorreu foi ascenso desses pases em mbito

    econmico internacional devido aos menores impactos gerados com a crise registrados no

    mundo. Segundo Maia (2010, p. 03):

    No caso dos BRICs, exceo da Rssia (cuja economia recuou em 7,9%

    em 2009), as medidas anticclicas que adotaram foram fundamentais no

    apenas para se protegerem da recesso mundial, mas para atuar no sentido de

    motores do crescimento econmico internacional, substitudo os pases

    avanados como plo de dinamismo. A forte expanso chinesa (8,7% em

    2009) e da ndia (5,7%), assim como a pequena retrao do Brasil (-0,2%)

    funcionaram como um anteparo recesso mundial, fato que s veio a

    reforar a importncia crescente que tais economias emergentes exibem nos

    ltimos dez anos.

    No que se refere quebra de empresas, bancos e imobilirias, os pases emergentes

    tiveram suma importncia no que diz respeito salvao de certas empresas devido a

    manuteno e ao consumo em suas filiais nos pases em desenvolvimento. Esses pases tm

    relevncia internacional principalmente economicamente visto que estudos afirmam que se o

    BRICs continuar no ritmo acelerado que est caminhar em mdio prazo a ultrapassagem do

    PIB dos pases do G-718

    , como explica Almeida (2009, p. 04):

    E para onde caminham os Bric, nas prximas dcadas? Certamente no em

    direo ao mesmo destino, ainda que o trao comum de suas trajetrias seja

    uma crescente adeso, incontornvel, economia mundial. O estudo da

    Goldman Sachs aposta que esse G4 ultrapassar, conjuntamente, o PIB do

    atual G7 em 2035, sendo que a China ultrapassar a todos, individualmente,

    at 2040.

    Esse novo cenrio internacional mostra a importncia que a interdependncia entre

    Estados tem para as relaes internacionais e como a multipolaridade se faz presente nas mais

    diversas negociaes e modifica as relaes de poder estatais.

    No campo econmico as relaes entre sociedades sempre foram pautadas de trocas

    comerciais visando subsistncia e posteriormente buscando gerar riquezas, luxo e conforto

    s sociedades. O capitalismo predominante atualmente e fortemente relevante desde o fim da

    Segunda Guerra Mundial acompanhado da globalizao traz benefcios para os Estados,

    principalmente para aqueles que comearam a industrializao antecipadamente, mas tambm

    17 G-8: composto pelos oito pases mais desenvolvidos e industrializados economicamente no mundo EUA,

    Japo, Alemanha, Reino Unido, Itlia, Frana, Canad e Rssia. 18

    Consiste nos pases do G-8 menos a Rssia

  • 38

    gera perspectiva de crescimento e desenvolvimento para os pases emergentes.

    A multipolaridade valorizada principalmente ao final da Guerra Fria e o surgimento de

    organismos internacionais fazem com que o comrcio internacional ganhe destaque nas

    relaes internacionais, devido o aparecimento de agncias financiadoras do

    desenvolvimento, alm de acordos buscando o livre comrcio, parcerias estratgicas e blocos

    econmicos. A constituio de novos atores no cenrio econmico internacional contribuiu

    para reforar as relaes de poder e aumentar o multilateralismo em diversos campos das

    relaes internacionais. A interdependncia dos Estados conseqncia da globalizao de

    informaes, mercados e produtos e gera instabilidades em momentos de crises econmicas

    em grandes potncias.

  • 39

    2 MEIO AMBIENTE VERSUS RELAES INTERNACIONAIS

    A natureza est no homem e o homem est na natureza, porque o

    homem produto da histria natural e a natureza condio

    concreta, ento, da existencialidade humana. (MOREIRA, 1985 in

    OLIVEIRA, 2002, p. 02)

    Desde que o mundo mundo h certa interferncia humana no Meio Ambiente e

    conforme a construo das sociedades, a necessidade humana de conviver com os outros, as

    transformaes das sociedades, bem como a diviso do trabalho humano perante suas

    especialidades e conhecimentos houve uma intensificao dessa interferncia. Na histria da

    interferncia humana, fatos polticos e econmicos que permearam as relaes entre Estados

    tiveram grandes impactos no Meio Ambiente levando a degradao ambiental.

    A relao entre homem e natureza sempre foi conflituosa, visto que desde a existncia

    humana na Terra, h indcios de interferncias humanas nos ecossistemas de onde ele

    habitava. Contudo, as interferncias humanas no Meio Ambiente expandiram conforme o

    crescimento demogrfico e a complexidade das necessidades humanas, cada vez maiores.

    (Segundo Redcliff apud Rocha, 2002 p. 03-04)

    A evoluo humana considerada atravs da sua capacidade de interferncia no Meio

    Ambiente e nos recursos naturais a sua volta, que aumentaram com as descobertas cientficas

    e a criao de instrumentos que transformavam o homem no nico ser a moldar os

    ecossistemas a seu favor e dominar os recursos provenientes da natureza, buscando sempre

    novos limites a serem ultrapassados.

    O que ocorre que no mbito das Relaes Internacionais as polticas pblicas de cada

    Estado para com o Meio Ambiente afetam em escala global os demais Estados, ultrapassando

    fronteiras e levando o assunto a mesas de discusses globais. Miyamoto (1991, p. 108) afirma

    que:

    Se as relaes internacionais se encontram, ainda, em grande parte,

    estruturadas e amparadas nas teorias de poder, onde as fronteiras so

    consideradas inviolveis e a soberania alardeada como absoluta, o mesmo

    no pode ser dito sobre as implicaes das polticas pblicas mal

    conduzidas, sem os devidos cuidados com o meio ambiente, fazendo com

    que as conseqncias se verifiquem no s no mbito regional, mas podendo

    apresentar implicaes mundiais.

    Na histria natural do mundo, a sobrevivncia da espcie j mostra desde a pr-

    histria as modificaes do homem, visto que sem adaptaes ao meio o ser humano no teria

    condies de superar os animais predadores da poca. Segundo Dias (2008, p. 01):

  • 40

    A construo pelos seres humanos de um espao prprio de vivncia,

    diferente do natural, se deu sempre revelia e com a modificao do

    ambiente natural. Assim, o ser humano, para sua sobrevivncia, de um modo

    ou de outro, sempre modificou o ambiente natural.

    A partir da necessidade de superar sua capacidade limitada o homem comea a criar

    ferramentas que lhe auxiliem na sobrevivncia e formar grupos a fim de multiplicar as

    capacidades individuais e satisfazer as necessidades coletivas, originando o trabalho. Para

    Dias (2008) o trabalho uma atividade desenvolvida pela espcie humana para modificar a

    natureza e adapt-la para a satisfao de suas necessidades. Ainda afirma que:

    O trabalho humano, em sua essncia, tem como objetivo maior a

    manuteno da espcie humana no ambiente natural, melhorando as suas

    condies de existncia, ou seja, a sua qualidade de vida. (p. 03)

    A capacidade de trabalho se v ampliada devido organizao do trabalho que

    distribui os indivduos em funes e seqncia de tarefas. Com isso, a interferncia humana

    na natureza e os impactos no ambiente tambm elevaram. Dias (2008) completa:

    A capacidade de interveno humana sobre o meio ambiente ao longo dos

    anos foi sendo multiplicada de uma forma jamais imaginada pelo prprio

    homem, superando todos os seus limites. (p. 03)

    No perodo Paleoltico, a descoberta do fogo pelo homem trouxe a capacidade de

    aquecer-se e ao mesmo tempo proteger-se dos animais ferozes existentes a aproximadamente

    2 milhes de anos atrs.

    Na Antiguidade, as sociedades acreditavam que a natureza era ligada ao homem pela

    divindade, onde os Deuses eram representados por fenmenos naturais. Assim o

    comportamento humano era correlacionado aos fenmenos naturais, devido o medo da fria

    dos Deuses. A filosofia na Antiga Grcia fez com que se questionassem a respeito desses

    mitos e comeassem a olhar para a natureza com uma viso mais racional quanto origem das

    coisas no mundo. A constituio das cidades-Estado gregas leva a substituio da temtica

    natureza pela temtica homem, tornando-o o centro do Universo com sua poltica, tica e

    seus costumes e comportamentos (antropocentrismo).

    O domnio das tcnicas agrcolas e a domesticao de animais causaram a primeira

    revoluo no mundo fixando povos em determinadas regies, visto que antes os povos eram

    nmades e se deslocavam conforme as estaes, clima e fcil localizao de animais e

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    alimentos (vegetais) e levando a constituio das primeiras cidades e ao pensamento de que o

    homem deve por natureza dominar o meio ambiente. Segundo Dias (2008, p. 03)

    H 10.000 anos o homem era nmade e se deslocava conforme as estaes

    do ano, a busca por caa e gros. H 8.000 anos houve a domesticao dos

    animais e o domnio da tcnica de plantio, denominado Revoluo Agrcola,

    que se caracterizou pela fixao das pessoas em determinados territrios

    surgindo s primeiras vilas e cidades.

    A capacidade de produzir em local fixo fez um excedente da sua necessidade de

    alimentos, levando o homem a interagir com os demais determinando a diviso de funes na

    produo de alimentos, ou seja, cada produtor se especializava em uma [ou mais] vocao na

    qual clima, solo e relevo lhe eram favorveis. A produo gerava um excedente de suas

    necessidades; com tal excedente eram realizadas trocas entre os produtores originando as

    bases do comrcio. Dias explica que a melhoria qualidade de vida se dava em detrimento do

    mundo natural, pois a concepo predominante era de luta do homem contra a natureza. (p.

    04).

    A discusso de muitos autores a respeito da temtica se justifica principalmente pelo

    que Marilena Chau traduz como cultura. Segundo Chau apud Gonalves (2008, p. 171):

    A interveno deliberada e voluntria dos homens sobre a natureza de

    algum para torn-la conforme aos valores de sua sociedade chamada de

    cultura, que tem por significado o cuidado do homem com a natureza,

    cultivo, sendo considerada cultura: a tica, a moral e a poltica das

    sociedades.

    O surgimento da agricultura que transformou o homem em sedentrio e modificou

    suas relaes com o meio ambiente trouxe h a necessidade de cercar o territrio a fim de

    proteger o gado e as plantaes dos animais selvagens, dando origem propriedade privada.

    Alm disso, com o aumento da produo de alimentos e o aumento da populao houve maior

    ocupao de espaos naturais.

    A criao das cidades intensificou a destruio ambiental, como a civilizao romana

    que na Antiguidade contribuiu intensamente para a criao de espaos urbanos e

    conseqentemente para a diminuio da biodiversidade da regio19

    . A modificao dos

    ambientes naturais causava um desequilbrio ecolgico e con