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Integração Europeia: o transnacionalismo 1 INTRODUÇÃO As recentes convulsões em França mostram que a mobilidade transnacional conduz a interacções entre diferentes culturas que, por vezes, geram fenómenos violentos. É da mais elementar importância, para o futuro da Europa, conseguir, no presente e para o futuro, a integração cultural. Ao longo da história do velho continente a rejeição de certas culturas originaram situações de grave repressão e até mesmo de expulsão. Exemplo paradigmático é o dos judeus, expulsos de Portugal e de Espanha; na Inglaterra tiveram de aguardar 200 anos para serem admitidos nas Universidades. Situações destas seriam hoje irrepetíveis. Com efeito, na França do séc. XXI, os jovens apodados de “racaille” (escumalha) por Nicolas Sarkozy, imigrantes de segunda geração, não podem ser expulsos – eles são juridicamente tão franceses como Jacques Chirac. Na actualidade o número de pessoas que vivem fora dos seus países de origem ronda os 180 milhões de pessoas, número com tendência para um crescimento inevitável. A interacção entre mentalidades é irreversível. A integração intercultural é uma opção de consciência, mas torna-se principalmente num imperativo de coexistência, de gestão económica e de segurança colectiva. Prevê-se que, em 2017, cerca de 57% da população de Roterdão seja de origem estrangeira e, nessa cidade, está a ser construída a maior mesquita do continente. Na Europa, que absorve 57 milhões de imigrantes, 12 milhões de muçulmanos representam uma ínfima percentagem da população em geral mas congregam núcleos locais importantes, como em França. A maioria dos implicados nos atentados de Madrid residia no bairro madrileno de Lavapiés. No Reino Unido, mais de metade do crescimento populacional dos últimos anos é composto por imigrantes. Num plano unicamente moral, pode-se concluir que as portas dos países ricos deveriam estar humanitariamente abertas a todos os seres humanos que tiveram o azar de nascer na miséria, no local errado do mundo. Mas a escassez de recursos e a coesão local suscitam limitações.

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Integração Europeia: o transnacionalismo

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INTRODUÇÃO

As recentes convulsões em França mostram que a mobilidade transnacional

conduz a interacções entre diferentes culturas que, por vezes, geram fenómenos

violentos. É da mais elementar importância, para o futuro da Europa, conseguir, no

presente e para o futuro, a integração cultural.

Ao longo da história do velho continente a rejeição de certas culturas

originaram situações de grave repressão e até mesmo de expulsão. Exemplo

paradigmático é o dos judeus, expulsos de Portugal e de Espanha; na Inglaterra tiveram

de aguardar 200 anos para serem admitidos nas Universidades. Situações destas seriam

hoje irrepetíveis. Com efeito, na França do séc. XXI, os jovens apodados de “racaille”

(escumalha) por Nicolas Sarkozy, imigrantes de segunda geração, não podem ser

expulsos – eles são juridicamente tão franceses como Jacques Chirac.

Na actualidade o número de pessoas que vivem fora dos seus países de origem

ronda os 180 milhões de pessoas, número com tendência para um crescimento

inevitável.

A interacção entre mentalidades é irreversível. A integração intercultural é uma

opção de consciência, mas torna-se principalmente num imperativo de coexistência, de

gestão económica e de segurança colectiva.

Prevê-se que, em 2017, cerca de 57% da população de Roterdão seja de origem

estrangeira e, nessa cidade, está a ser construída a maior mesquita do continente. Na

Europa, que absorve 57 milhões de imigrantes, 12 milhões de muçulmanos representam

uma ínfima percentagem da população em geral mas congregam núcleos locais

importantes, como em França. A maioria dos implicados nos atentados de Madrid

residia no bairro madrileno de Lavapiés. No Reino Unido, mais de metade do

crescimento populacional dos últimos anos é composto por imigrantes.

Num plano unicamente moral, pode-se concluir que as portas dos países ricos

deveriam estar humanitariamente abertas a todos os seres humanos que tiveram o azar

de nascer na miséria, no local errado do mundo. Mas a escassez de recursos e a coesão

local suscitam limitações.

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Integração Europeia: o transnacionalismo

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ANTECEDENTES

A ideia de uma Europa falando a uma só voz, ou seja, comunitariamente

obedecendo, no fundamental, a idênticos padrões de convivência, sem prejuízo de

eventuais particularismos decorrentes da adaptação ao meio em que se processa a vida

de cada grupo social que integra a comunidade no seu todo, não é uma realidade

inteiramente nova no seu longo e multiforme historial, não sendo porventura ousado

afirmar que já se pode constatar nos tempos pré-históricos, designadamente a partir do

paleolítico-médio, correspondente ao homem neandertalense.

Com efeito, nesse longínquo e dilatado período o território europeu era

culturalmente homogéneo: o mesmo teor de vida, os mesmos hábitos e crenças, a

mesma utensilagem, a mesma incipiente espiritualidade, arquelogicamente deduzida. Só

que essa comunidade, por volta do quinquagésimo milénio antes da actualidade (BP),

começou a entrar em colapso face a uma nova vaga humana, o homo sapiens,

proveniente do mundo afro-asiático e melhor dotado para lidar com a inclemência

ambiental que então se estendeu sobre todo o território europeu. Do centro para as

franjas, os neandertais foram-se extinguindo e deixando espaço para a nova comunidade

que está na base da actual em gradual diferenciação civilizacional.

Se a ideia de um agrupamento de povos ou populações em grandes extensões

territoriais sob a alçada ou por impulso de um só detentor do poder teve expressão

originária no projecto greco-macedónico de Alexandre, seria Roma a potência destinada

a realizar na Europa idêntico ideal. Sob a sua tutela, a Europa quase toda foi de novo

uma só, partilhando com a Urbs os mesmos princípios da vivência cívica

voluntariamente aceite e praticada durante um dilatado período, ou seja, até quando os

chamados bárbaros, em invasões sucessivas, desmantelaram a coesão e estabilidade do

universo romano, que de futuro haveria de constituir ciclicamente o figurino de uma

Europa política e culturalmente falando a uma só voz.

Assim surgiram os Renascimentos, o primeiro dos quais pela acção político-

militar de Carlos Magno que, na Alta Idade-Média, refez sob o seu ceptro a unidade

imperial dos césares romanos. Foi sol de pouca dura, mas logo nos séculos XV e XVI,

com o humanismo triunfante, se voltaria em força aos ideais da romanidade em

múltiplos domínios, designadamente o literário e sobretudo o linguístico configurado

por Erasmo que se ufanava de nunca ter falado outro idioma senão o latim da era

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clássica, o latim ciceroniano, modelo desde então de todos os cogitadores do espaço

europeu ocidental, uma vez mais unificado sob o poder dos Habsburgos, com Carlos V

à cabeça, sonho familiar desfeito pelos distúrbios revolucionários da nova França anti-

borbónica.

É a vez de Napoleão tentar a sua sorte, subjugando a maioria dos estados

europeus e obrigando-os a aceitar e praticar os ideais dimanados da Revolução e por si

assumidos e difundidos pelos seus regimentos a pretexto dos irrecusáveis princípios que

universalmente devem nortear a vida social e que outros não são do que os direitos

fundamentais do ser humano, ideais de liberdade, fraternidade e igualdade que pronto se

esfumaram com a contra-ofensiva da aliança anglo-germânica nos campos de Waterloo.

Foi o começo da reorganização dos povos europeus em nações politicamente

autónomas e senhoras absolutas dos seus destinos como antes acontecera com a

pulverização do império romano por obra dos povos bárbaros que entre si o partilharam

em múltiplos estados que, mais fronteira menos fronteira, estão na génese ou substrato

da actual cartografia do respectivo continente.

Estaremos no caminho de, respeitando e reforçando a identidade histórico-

cultural de cada estado integrante, voltarmos ao sonho de uma Europa unificada por

ideais comuns num cenário estabelecido, não pela força das armas, mas por largos

consensos entre as diversas nações em causa? É bem possível, como já o foi na

civilização romana visceralmente oposta a todo e qualquer sentimento de discriminação

por razões quer de cor ou de proveniência: uma sociedade pluralista regida por um

único Direito universal e intemporalmente aplicável porque gerado nos princípios

fundamentais da dignidade humana. Possível e desejável é pois, com efeito, uma Europa

assim, una e coesa, a qual, sem afrontamento da independência de cada estado-membro,

perfeitamente assegurada e consagrada, se assuma como autêntica e salutar pátria

comum e generosamente aberta ao convívio com os demais povos do globo. Longe de

ser uma utopia, parece estar em curso a sua concretização como corolário de uma

milenária civilização de cunho marcadamente humanístico.

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NACIONALISMO, INTERNACIONALISMO E TRANSNACIONALISMO

O Estado, na sua concepção tradicional, tem-se mostrado incapaz de ser o

garante da paz e da estabilidade, apesar dos instrumentos que o podem ajudar nessa sua

missão e que são: o direito internacional e a organização internacional. Nos tempos

actuais, ao mesmo tempo que cresce a interdependência, procuram-se alternativas para

as deficiências do Estado, o que pode passar por uma transferência das questões que

surgem no relacionamento entre os Estados para outro plano.

Na cultura ocidental existe um sentimento importantíssimo de nacionalismo,

sentimento de lealdade política, que corresponde ao modelo do Estado-nação, onde

sobressai o valor da identidade nacional, que pouco ou nada tem a ver com o vínculo

jurídico-político da nacionalidade. O facto de se pertencer a um grupo é, por si só, factor

determinante para o aparecimento de um conjunto de direitos e lealdades que são

incompatíveis com a possibilidade de poderem ser transferidos para grupos diversos.

Este sentimento pode originar sentimentos racistas.

As conquistas de Napoleão, ao mesmo tempo que destruíram as soberanias e o

orgulho de outros povos, estabeleceram um governo supranacional e ao mesmo tempo

originaram um desenvolvimento dos nacionalismos europeus com características

defensivas, o que contribui para o enraizamento do idealismo relativo ao Estado-nação.

Neste domínio surge um debate conceitual de natureza ideológica, que é consequência

de vários factores, dos quais se devem ressaltar: o nacionalismo imperialista e racista; as

guerras provocadas pelo racismo e pelo imperialismo; e as exigências da

interdependência. A este nível não se deve confundir nacionalismo com patriotismo. Na

verdade eles são conceitos diferentes. Pode-se definir patriotismo como o sentimento de

lealdade às terras e ao grupo, respeito pelas leis e instituições; e nacionalismo como o

sentimento de superioridade étnico-cultural, respeito pela etnia, língua e tradição. Após

a Segunda Grande Guerra, o conceito de nacionalismo passou a comportar uma carga

negativa, sempre associada a um certo irracionalismo, fonte de imperialismos e

contrário a doutrinas e aos princípios modernos de mundialismo e de universalidade.

Torna-se claro que esta maneira de analisar o conceito de nacionalismo nada tem a ver

com o conceito de Estado-nação consagrado no Direito Internacional. Nacionalismo e

Internacionalismo não são doutrinas incompatíveis. O segundo consagra a

obrigatoriedade, na actualidade, de definição de objectivos políticos que saem fora da

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alçada dos Estados, isto é, ultrapassam os seus limites históricos, geográficos e

constitucionais, o que vai originar um desenvolvimento do método consensual e de um

modelo contratual do tratado e nunca uma política agressiva nacionalista.

Se Kant propunha a constituição de uma entidade que fosse responsável pela

aplicação de um direito universal que ficasse acima das jurisdições nacionais, Marx

pensava encontrar a unidade na luta de classes e Hitler propunha-se hierarquizar os

povos.

O termo transnacionalismo é muitas vezes usado para designar as instituições e

as doutrinas de consenso que são o suporte dessas políticas e que lhes dão continuidade,

ultrapassando a vontade dos Estados considerados isoladamente (ex: Organizações

Unidas). Apesar de existirem motivos mais do que suficientes para existir rigor na

distinção entre internacionalismo e transnacionalismo, por vezes surgem utilizadas de

maneira indiferente. Muitas vezes recorre-se à expressão transnacionalismo justamente

para designar as instituições e doutrinas do consenso que apoiam tais políticas e que as

prosseguem acima da vontade isolada dos Estados, como seria o caso da Organização

das Nações Unidas. Este rigor é justificado, mas as expressões internacionalismo e

transnacionalismo ainda aparecem utilizadas indiferentemente.

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Integração Europeia: o transnacionalismo

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OS IMIGRANTES NA UNIÃO EUROPEIA

O Acto Único Europeu de 1986 define o espaço europeu como “área sem

fronteiras em que a livre circulação de bens, pessoas, serviços e capital seja

assegurada”. A imigração é uma realidade deste espaço, onde actuam redes empresariais

profissionais, que podem ter como fundamento para a sua constituição os mais

diferentes motivos e que procuram ser representadas a nível europeu na Comissão

Europeia ou no Parlamento Europeu.

As políticas de imigração e integração pertencem ao Estado de acolhimento, embora os

imigrantes se organizem tendo em vista assegurar o seu reconhecimento, a nível estatal

e a nível de instâncias europeias, dando origem a um transnacionalismo influente numa

Europa encarada como uma nova realidade política, que não se confunde com o mero

conjunto dos Estados Membros.

Existindo um modo de acção influente, que é o transnacionalismo, e tendo-se

transformado a Europa numa nova unidade política, questiona-se se o Estado – nação

ainda é relevante nos tempos actuais. Se apenas entendermos os Estados – nações como

uma estrutura política, que se baseia na unidade territorial, cultural, linguística e

religiosa, podemos concluir que eles perderão importância e poderão ser “engolidos”

pelas instituições supranacionais e pelas redes transnacionais. Ambas fazem parte do

processo da europeização e da globalização, as primeiras porque impõem normas,

valores e discursos aos Estados-nações, e as segundas porque criam um espaço de

participação política que ultrapassa os territórios nacionais. O território europeu é

transformado num vasto espaço sem fronteiras, onde os Estados-nações e as instituições

supranacionais interagem e onde as redes transnacionais constroem pontes entre as

sociedades nacionais e a Europa.

As organizações transnacionais não conduzem ao “enterro” do Estado – nação,

antes provocam uma redefinição da sua estrutura política e do equilíbrio entre nação e

Estado. Este passa a ser considerado a força motriz da construção das estruturas globais

e a nação passa a ser considerada uma fonte de mobilização. Desta maneira é

promovido, pelas instituições europeias, um espaço europeu onde é reforçado o papel do

Estado na construção política da Europa e onde é reforçado o papel da nação como

fonte de identificação.

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O APARECIMENTO DE UMA COMUNIDADE TRANSNACIONAL

O fenómeno da imigração sofreu grandes alterações, principalmente nas duas

últimas décadas. Nos anos noventa viviam, na Europa, mais de treze milhões de

imigrantes não europeus legalizados. Se durante um largo período, a imigração se fez

maioritariamente dos Países colonizados para os Países colonizadores (casos dos

argelinos em França ou dos indianos e paquistaneses na Grã-Bretanha), nos tempos

actuais os grupos de imigrantes organizam-se em redes transnacionais, em nome de uma

nacionalidade, etnia ou religião e encaram a Europa como um novo espaço político de

representação. Estas redes auto intitularam-se, quando a Europa era constituída por doze

estados, na época da assinatura do Tratado de Maastricht em 1992, como o 13º Estado,

o que revela um desejo assumido de integração, num espaço que ultrapassa o âmbito

nacional para se fixar ao nível das comunidades políticas dos Estados membros. Através

desta nova mentalidade é criado um novo espaço transnacional, que ultrapassa a

definição territorial. Surge, assim, uma “comunidade transnacional” na Europa,

podendo ser caracterizada como uma comunidade organizada por sujeitos ou grupos

estabelecidos em diferentes sociedades nacionais que compartilham referências e

interesses comuns. É de salientar o papel importante e fundamental das associações de

voluntariado, dado que elas constituem um caminho para a organização e actividade

transfronteiras.

Analisando a realidade imigratória actual, constata-se que as comunidades

transnacionais são um fenómeno global, incrementado pela rapidez na comunicação e

pela mobilidade. O aparecimento, e consequente institucionalização, de uma

comunidade transnacional exige, a par de uma coordenação de actividades baseadas em

referências e interesses comuns de ordem vária (culturais, religiosos, económicos,

políticos, sociais), uma coordenação de recursos; informações e locais de força social do

outro lado das fronteiras nacionais, tendo como objectivo concretizar fins políticos,

culturais, económicos, tecnológicos e sociais.

Os trabalhos dos estudiosos deste fenómeno chamam a atenção para a realidade

da imigração pós-colonial e as relações individuais, comerciais e institucionais dos

imigrantes com os dois países. A homogeneidade, a intensidade das relações

intracomunais e a eficácia da acção das comunidades transnacionais são consequência,

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sobretudo, do facto de elas serem construídas na base de referências geográficas,

culturais e políticas comuns.

A nível da União Europeia, surge no caso da imigração, um fenómeno novo. De

facto, as fronteiras dos Estados membros são transcendidas, as comunidades

transnacionais relacionam o país de origem dos imigrantes com o vasto espaço

comunitário, onde são incluídos os Estados membros.

As redes transnacionais podem basear-se em iniciativas locais, podem aparecer

nos próprios países de origem ou podem ser mesmo incentivadas pelo Parlamento

Europeu; porém todas elas tem por missão ajudar os activistas a desenvolver estratégias

políticas e formas de mobilização para além dos Estados membros – o objectivo é

avançar para organizações europeias. O melhor testemunho disto são as palavras

proferidas por um activista, líder de uma associação em Marselha, quando referiu: “

Temos de nos habituar a lidar com organizações supranacionais, a conseguir uma

organização em Estrasburgo ou em Bruxelas, que será europeia e que avançará”.

Em relação a estas comunidades não se pode falar em homogenidade, pois o

envolvimento e o empenhamento na criação de redes transnacionais depende em larga

medida do país de origem, estando os imigrantes de certas áreas geográficas e nacionais

mais empenhados que outros. Um dos factores que tem larga influência nesta matéria é

o passado colonial. Na verdade ele condicionou determinados ciclos migratórios para

determinados países europeus, originando concentrações locais e consequentemente o

aparecimento de redes transnacionais. O exemplo que melhor ilustra a importância do

passado colonial é o caso dos argelinos e a sua ligação com a França, que continua a ser

a sua principal referência e que origina o pouco empenhamento dos imigrantes argelinos

na construção de redes transnacionais europeias. A transnacionalidade, para eles, limita-

se à relação entre a França e a Argélia e em menor escala o Norte de África, girando as

relações transfronteiras em volta das actividades económicas e culturais. Em

contraposição ao exemplo dos argelinos, fala-se no caso turco, que possuindo laços

económicos específicos que favoreceram a imigração para a Alemanha, nutrem em geral

grande indiferença em relação aos países de imigração e, portanto, existe grande

dispersão de imigrantes oriundos da Turquia, pelos países europeus. Os turcos estão

preparados para construir uma rede transnacional que atravesse as fronteiras de muitos

Estados europeus. A este propósito Giuseppe Callovi, conhecido especialista em

política de imigração europeia no âmbito da Comissão Europeia, reconheceu que os

turcos estão “sobre representados no Fórum dos Imigrantes”.

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Como já foi referido, actualmente os laços com os países colonizadores

deixaram de ser um factor determinante. Esta situação é fruto do aumento da

mobilidade, da uniformização das relações sociais, da convergência das políticas de

imigração e da globalização dos mercados. Os laços coloniais foram substituídos por

redes que aceitam os novos fluxos consoante as oportunidades sociais e de mercado nos

diferentes países.

Estas comunidades organizaram-se, construíram redes e desta maneira

conseguiram um grande incremento nas relações transfronteiras, institucionalizando-se

na base de uma coordenação de actividades alicerçadas em interesses comuns, na

coordenação de recursos e informações. Os imigrantes passam a ter relações

individuais, comerciais e institucionais (políticas, culturais e sociais) nos dois países.

Os fragmentos de identidade são outro factor a ter em conta e que podem levar à

constituição de redes transnacionais. Normalmente estes fragmentos, sejam linguísticos,

religiosos ou nacionais, são reprimidos nos países de origem por pertencerem a

minorias. Nos países de acolhimento, os fragmentos de identidade são reapropriados

pelos imigrantes através de políticas de identidade e assim asseguram o reconhecimento

a nível europeu desses fragmentos e conseguem obter legitimidade não só nas

instituições europeias mas também no seu país de origem. É o caso dos cábiles da

Argélia, dos curdos da Turquia e dos siques do Sudoeste asiático. As instituições

europeias incentivam e apoiam os chamados ”grupos nacionais e regionais” e as

“populações apátridas”. Nos países europeus existe uma política de desenvolvimento

conjunto com os países de imigração, que tem por objectivo a inclusão dos países de

origem na representação dos migrantes na Europa, e desta forma conseguir legitimidade

de acção e de reivindicação às populações minoritárias nos seus países de origem. Hoje

em dia, os imigrantes reivindicam não só os direitos de residência, de cidadania, o

direito contra a expulsão, mas reivindicam também os interesses expressos em termos

de identidades das populações formadas por intermédio da imigração, criando para esse

fim novas formas e estruturas de representação.

As instituições supranacionais europeias, através de acções transnacionais,

exercem um papel importante na divulgação de normas sociais, culturais, políticas e

jurídicas nos diversos países europeus e nos países de origem. Elas próprias favorecem

uma estrutura global, desenvolvem uma plataforma comum para a rede, baseadas na

lógica da regulamentação e da harmonização política e jurídica que impõem aos Estados

membros, definem os critérios nos quais as comunidades se devem apoiar e ajudam os

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intervenientes a encontrar um denominador comum para lidar com as reivindicações a

nível europeu, que está fora do âmbito das relações com os Estados-nações.

No início, motivos sociais, económicos, políticos e jurídicos justificavam a

formação de redes. Foi desta maneira que nasceu o Fórum dos Migrantes em 1986.

Durante o período que durou a sua existência (foi dissolvido em 2001) funcionou como

uma espécie de federação europeia de associações de imigrantes. Tinha como objectivo

principal criar “um lugar onde os emigrantes de países não europeus pudessem exprimir

as suas reivindicações, mas também um local através do qual pudessem partilhar as suas

exigências e que pudessem utilizar para circular informações de interesse comum

emanadas das autoridades europeias”. Segundo o Presidente do Fórum, “ o objectivo era

obter para os nacionais de países terceiros não europeus estabelecidos nos Estados

membros os mesmos direitos e oportunidades dos cidadãos autóctones da União e

compensar um défice democrático”. O objectivo explícito era a luta contra o racismo

com uma jurisdição comum em diferentes países europeus.

Foi ao Parlamento Europeu que coube definir os critérios a cumprir para as

associações de voluntários serem admitidas no Fórum:

• as associações de voluntariado têm de ser suportadas pelo Estado-providência de

cada Estado membro para serem reconhecidas como legítimas pelo Estado;

• têm de provar a sua capacidade de organização e de mobilizar recursos humanos

e materiais;

• as suas actividades devem ser definidas como universais;

• devem representar populações oriundas de países não europeus.

Do Fórum apenas podiam fazer parte associações de voluntariado que fossem

representativas no país onde se tinham estabelecido. A capacidade de organização era

aferida em razão do número de nacionalidades representadas, do número de secções, da

extensão das redes , da pluralidade dos sectores que abrange e da sua representatividade

nos países onde se encontram.

Tendo por base um interesse comum definido a nível europeu, formulado em

termos de igualdade de direitos, esta rede tem como missão “libertar” os imigrantes das

políticas dos países de origem e dos países de acolhimento e reivindicar para além de

ambos os Estados-nações. Os seus líderes falam em igualdade e na universalidade dos

direitos humanos e lutam contra o racismo e a xenofobia, mas não conseguem acordar

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uma base comum para prosseguirem a sua luta a nível europeu, uma vez que as

particularidades de cada nação acabam por aparecer nas reivindicações políticas. Na

verdade, os discursos oficiais deixam vislumbrar as identidades colectivas moldadas em

relação aos Estados residência e formulam interesses em reacção às políticas de

imigração e integração dos Estados, o que lesa as reivindicações declaradas pelas

diferentes identidades que procuram ser reconhecidas pelas instituições supranacionais,

em reacção às identidades nacionais.

Os imigrantes procuraram o seu reconhecimento pelo Estado. Para conseguir

este fim, e fruto de uma interacção entre os dois (Estado e imigrantes), os imigrantes

determinaram uma identidade central, a partir da qual foi possível ser construída uma

comunidade, que levaria à concretização daquele objectivo. Exemplo disto é o que se

passa em França, país onde o discurso republicano sobre a cidadania e o secularismo,

fez com que os imigrantes reclamassem o reconhecimento de uma comunidade religiosa

no âmbito da legitimidade do Estado – o seu argumento é a religião. Na Alemanha, os

turcos lutam pelo reconhecimento de uma minoria étnica baseada numa nacionalidade

“estrangeira” comum expressa pela sua reivindicação de dupla cidadania: a cidadania é

expressa em termos de direitos e a nacionalidade é expressa em termos de identidade

étnica – o seu argumento é a nacionalidade comum. Na Grã-Bretanha a discriminação

central a vencer é o argumento sobre a cor.

Chega-se à conclusão que, na Europa, os discursos reflectem as particularidades

nacionais. Esta afirmação pode ser justificada através da análise dos casos britânico,

francês e alemão, casos paradigmáticos no velho continente. É o que acontece com a

rejeição, por parte dos activistas britânicos, do termo “imigrante”, pela simples razão de

o considerarem desajustado à sua situação. Procuram a consagração, na Grã-Bretanha e

na Europa, de uma lei sobre a igualdade de raças. A organização SCORE (Standing

Conference on Racial Equality), surgida em 1990, manifestou publicamente o seu temor

de uma definição da própria identidade da Europa através da exclusão em termos de

estatuto jurídico dos estrangeiros, de raça e racismo. Em França, os líderes das

associações de voluntariado rejeitam qualquer política relativa à “etnicidade” e

defendem que as políticas relativas aos imigrantes não devem reconhecer uma

especificidade a nível cultural, mas devem prevenir a exclusão social em relação à

sociedade em geral. Os activistas lutam contra qualquer tipo de exclusão, lutam contra o

racismo e a desigualdade, pugnando sempre pela consagração da igualdade de direitos

na Europa.

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Existe uma convergência nas estratégias políticas e na participação dos activistas

nos diversos países. Os imigrantes procuram desenvolver estratégias com base numa

representação colectiva de identidades culturais, nacionais ou religiosas,

independentemente da diversidade na qualificação dos diferentes Estados (a França

define-se como um Estado republicano e assimilacionista; a Alemanha como um Estado

exclusivista em termos de cidadania e a Grã-Bretanha como um Estado que promove a

formação de comunidades raciais na esfera pública), o que permite concluir que o

critério principal é a identidade – identidade de origem ou identidade de circunstância.

A nacionalidade da associação, dos seus líderes e da população que representam

foram proclamados pelo Fórum dos Imigrantes como critérios, o que apesar de resultar

da designação de “imigrantes” e do seu estatuto jurídico no país de residência e na U.E.,

originou uma grande confusão. Na actualidade grande número de “imigrantes” tem

cidadania de algum país europeu: a maioria dos argelinos em França possui cidadania

francesa; os indianos e os paquistaneses detêm cidadania britânica e o mesmo se passa

com os turcos e os africanos na Alemanha. Existem, ainda, imigrantes oriundos de

outros países europeus membros da U.E. (Portugal, Espanha, Itália, Grécia) e, como tal,

cidadãos membros de um Estado e cidadãos da U.E, também preocupados com os

problemas da imigração e do racismo.

Podemos concluir que o problema não está na nacionalidade, mas sim na

etnicidade. O critério da nacionalidade é o critério jurídico, o critério da etnicidade é o

critério subjectivo, que é encarado como um sentimento subjectivo de pertença. É

demonstrativo o facto de as associações de voluntariado que fazem parte do Fórum

expressarem uma “nacionalidade de origem” ou uma religião ou uma cor, contudo elas

são obrigadas a dissimularem identidades na sua reivindicação de nacionalidade.

As associações islâmicas, embora utilizem o espaço europeu de forma idêntica

às associações culturais e sociais, não conseguem obter apoio das instituições nacionais

ou supranacionais. Como organizações religiosas, não seculares, apenas podem contar

com o apoio do seu país de origem ou de organizações internacionais. O papel dos

países de origem é no sentido de congregar os seus nacionais com o fim de conseguir o

reconhecimento do seu país por parte das autoridades europeias e reactivando, ao

mesmo tempo, a lealdade dos seus cidadãos, por intermédio da religião, contribuírem

para a criação de uma comunidade transnacional. As organizações internacionais

simpatizantes do Islão lutaram para conseguir que este ultrapasse a diversidade nacional

dos muçulmanos que vivem nos países europeus e conseguiram criar uma única

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identificação religiosa e uma solidariedade transnacional baseada nela. Foi desta

maneira que as redes religiosas se inseriram no sistema europeu e concorrem com as

outras associações sócio-culturais a nível local.

Contudo, a coordenação das redes islâmicas na Europa torna-se mais difícil do

que a coordenação das outras associações (culturais, sociais...), porque embora lhes seja

reconhecida uma certa autonomia em relação ao Estado-providência dos diferentes

países europeus, acabam por relacionar-se, tal como as outras associações, com as

autoridades dos países de residência. É o que acontece em França, na Alemanha e na

Holanda, países onde as associações islâmicas fazem parte de federações que agrupam

as associações por nacionalidade, procurando estas fazer representar a minoria a que

pertence no país de acolhimento. Neste sentido foram as palavras do líder da Federação

Nacional de Muçulmanos em França, quando disse: “ Tento não assumir uma posição

que vá além das fronteiras. Estamos em França, o nosso objectivo é a defesa do Islão em

França”.

Surge, porém outra dificuldade derivada da multiplicidade de nacionalidades,

seitas e grupos etno-culturais entre os muçulmanos na Europa. Existem algumas

associações mais preocupadas com a sua representação a nível europeu, por isso

procuram dar uma imagem de “multinacionais”, o que significa que fazem parte delas

várias nacionalidades de origem, enquanto se ramificam pelos diversos países europeus.

É o caso da Organização de origem indiana Jaamat-Tabligh, que surgiu na Grã-Bretanha

nos anos sessenta e, posteriormente, em França , na Bélgica, Alemanha e Holanda. Esta

organização transcende as fronteiras materiais, as seitas, as escolas legais; a organização

envia missionários para as comunidades locais para angariar apoios e promover a fé

entre os muçulmanos; os seus activistas evitam a tomada de posições políticas – o seu

único desejo é serem bons cidadãos.

Contrariamente, existem outras associações islâmicas de cariz político islâmico

claramente assumido. Porém, a maior parte das associações estão adstritas à

nacionalidade que representam e aos partidos políticos de que são porta-voz na Europa.

A Organização Visão Nacional é um bom exemplo disto. Esta Organização é a filial dos

sucessivos partidos religiosos na Turquia, que dispõe de 28 escritórios espalhados pela

Europa, dez dos quais na Alemanha. Os seus activistas procuram criar uma

solidariedade transnacional baseada numa identidade política expressa através da

religião. O mesmo se passa com as redes argelinas da Frente Islâmica de Salvação e do

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Integração Europeia: o transnacionalismo

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seu braço armado GIA, cujos objectivos é conseguir a legitimação política com os seus

apoiantes.

A procura de uma possível unidade do Islão, no meio de tanta diversidade é feita

por meio de uma rede transnacional. Contudo, como as organizações, que se dizem

representá-lo, se encontram fora das redes formais do Fórum dos Imigrantes,

intensificam o desenvolvimento de solidariedade baseado na religião. Estas redes

religiosas, tal como as culturais ou sociais, têm por objectivo conseguir o

reconhecimento de identidades nacionais e étnicas; as suas reivindicações são adaptadas

ao contexto europeu e levantam o problema da representação nas instituições europeias,

principalmente desde que a Convenção Europeia dos Direitos do Homem, no seu artigo

9º, consagrou a liberdade religiosa:

“qualquer pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião;

este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de crença, assim como a

liberdade de manifestar a sua religião ou a sua crença, individual ou colectivamente, em

público e em privado, por meio do culto, do ensino, de práticas e da celebração de

ritos”.

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Integração Europeia: o transnacionalismo

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CONSEQUÊNCIAS DA TRANSNACIONALIDADE NA IDENTIDADE E NA

CIDADANIA EUROPEIA

O Fórum dos Imigrantes criou uma lacuna entre “imigrantes europeus” e

“imigrantes não europeus” porque, quando seleccionou apenas associações

representativas de imigrantes nacionais de países terceiros, excluiu os imigrantes não

europeus da identidade europeia e criou, também, uma certa ambiguidade entre os

conceitos de cidadania e de identidade europeias. As iniciativas oficiais europeias

criaram uma minoria identificada por uma nacionalidade não europeia actual ou

original, assumindo a sua representação pelo Fórum dos Imigrantes um aspecto etno-

religioso. É consagrada uma ideia exclusiva de cidadania europeia igual à ideia de

cidadania nacional, definida pelos Estados-nações.

Os debates sobre cidadania europeia questionam a concepção tradicional do

Estado-nação e ao mesmo tempo chamam a atenção para os inconvenientes de

separação desse Estado.

Pelo Tratado de Mastricht, assinado em 1992, a Comunidade Económica

Europeia foi transformada em União Europeia, o que originou a concepção de novos

conceitos em coerência com esta mudança. Conceitos tais como: membro pós-nacional;

cosmopolita ou transnacional:

Membro pós-nacional: este conceito é defendido pelo filósofo francês Jean-Marc

Ferry, com base no argumento de que a adopção do princípio nacionalista é fomentado

pela construção de uma Europa política e aconselha um modelo “pós-nacional”- ser

membro para além do Estado-nação.

Solidariedade cosmopolita: O filósofo alemão Habermas cria o conceito de

“patriotismo constitucional”, cujo objectivo é exaltar a necessidade de “solidariedade

cosmopolita”, o que tem como consequência a separação entre a cidadania nacional e a

cidadania europeia.

Pós-nacional: Yasemin Soysal, levando em consideração as populações não

europeias, fruto da imigração da época de 1960, define como “pós-nacional” a criação

de normas internacionais que digam respeito à residência ou à pessoa, em vez da

cidadania legal.

Estes conceitos são apenas normativos. A cidadania europeia que os projectos

políticos europeus consagram é diferente, podendo até dizer-se que é precisamente o

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oposto do conceito “pós-nacional”, o que deriva do facto de a Europa estar a ser

construída com base em instituições supranacionais.

Enquanto o conceito pós-nacional implica o reconhecimento da diversidade

cultural e aceitação do pluralismo pelo simples facto de se pertencer à Europa, a

abordagem supranacional assemelha-se a um Estado-nação. O Tratado de Maastricht,

assinado em 1992, no seu artigo 8º define o Estatuto de Cidadania da seguinte maneira:

“ É cidadão da União quem tiver a nacionalidade dos Estados membros “, o que nos

leva a concluir que a cidadania da União exige a cidadania nacional de um dos Estados

membros, mantendo o Tratado, desta maneira, a ligação entre cidadania e nacionalidade

como sucede nos Estados-nações. Contudo, a pratica da cidadania, consagrada no

mesmo artigo 8º (8a - 8d), introduz uma nota de extraterritorialidade no que se refere

aos Estados-nações. Este artigo concede ao cidadão da União o direito de livre

circulação e a liberdade de residir e trabalhar no território de um Estado membro e

mesmo o direito de votar e de se candidatar às eleições locais para o Parlamento

Europeu com base na residência, ou seja, no território de um Estado membro do qual ele

não seja cidadão mas apenas residente. A territorialidade, segundo as palavras de

Preuss, transforma-se no meio básico da cidadania da União. Porém, introduz, ao

mesmo tempo, uma nota de extraterritorialidade no conceito de cidadania, que alarga a

sua prática para além dos Estados-nações limitados territorialmente, o que implica a

desterritorialização da comunidade nacional ou reterritorialização do espaço europeu.

Os imigrantes participam, cada vez mais na vida política, a nível nacional. Esta

participação é feita através de associações de voluntariado, o que dá um grande

contributo para a formação de uma “identidade de cidadão” no país de residência. Esta

identidade foi moldada em relação às instituições nacionais que criaram uma

identificação com a comunidade política através de uma acção colectiva.

A União Europeia procura um envolvimento político dos imigrantes e para

conseguir este objectivo esforça-se para obter a sua socialização. Ao aconselhar a sua

participação na vida política, a União Europeia tem como finalidade atingir uma

socialização política para os emigrantes e transformar o espaço europeu num espaço

político onde exercem a cidadania para além dos territórios políticos do Estado. Os

próprios líderes das associações de imigrantes trabalham conjuntamente neste novo

espaço de interacção política e de utilização do poder.

Os líderes e os activistas imigrantes iniciam um novo discurso, inspirado nas

novas ideias de cidadania, ao mesmo tempo que continuam a insistir na igualdade de

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direitos e na luta contra o racismo não só a nível europeu, mas também a nível mundial.

Reivindicam a cidadania europeia e um direito de participação na formação da Europa.

Aquela (a cidadania) deriva, principalmente, da participação política na vida pública e é

expressa pelo envolvimento dos indivíduos na política e pela sua participação directa ou

indirecta no bem público. Foi esta nova postura dos activistas que levou um dos seus

líderes a proferir as seguintes palavras, que são o reflexo da mudança de discurso: “

Somos cidadãos europeus; fazemos parte da paisagem europeia”.

Para os emigrantes de origem não europeia surge, assim, uma confusão entre o

estatuto jurídico da nacionalidade e o estatuto jurídico da cidadania. Quando a União

Europeia aconselha o seu empenhamento no bem comum, as instituições supranacionais

desligam os imigrantes dos seus laços ancestrais, afastando-os de qualquer acção directa

nos seus países de origem e de acolhimento. Ao mesmo tempo, e em contradição, a

cidadania europeia introduz a fidelidade dos imigrantes ao seu país de origem no

processo de negociação, da mesma maneira que eles manifestam a sua fidelidade ao

Estado de residência e à comunidade transnacional em que vivem.

Segundo Habermas a cidadania é pensada segundo “o modelo de pertencer a

uma organização que garante uma posição jurídica e posiciona o indivíduo fora do

Estado”. Ao transnacionalismo está associada uma pertença múltipla que é reflexo da

forma como o indivíduo combina e classifica as suas lealdades. Por exemplo, quando o

líder da Associação de Marroquinos em França diz que, na actualidade, os marroquinos

se devem considerar indivíduos pertencentes à Comunidade Europeia, franceses de

origem marroquina, poderia também acrescentar “de confissão muçulmana”,

exprimindo dessa forma a ligação a uma cultura religiosa, sem ferir o carácter laico do

Estado francês, mas expressando apenas uma ligação a uma cultura religiosa. Aqui o

factor religioso é apenas um indicador de laços religiosos, mas que poderiam também

ser históricos, culturais.

O transnacionalismo surge como um novo modelo de participação que ajuda a

afirmar a autonomia das identidades e dos seus representantes em relação aos Estados –

nações definidos territorialmente e possibilitou um processo de identificação das

organizações transnacionais dos activistas envolvidos nos projectos europeus.

Os imigrantes não europeus acreditaram nas promessas do Parlamento Europeu

de poderem participar na construção da Europa e da sua identidade. O novo espaço

político, surgido com o aparecimento da União Europeia, é uma identidade mais

flexível, aberta a todo o tipo de reivindicações e representações, em contraste absoluto

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com as identidades nacionais mais duras e inflexíveis. Os Estados-nações e as

identidades nacionais, detentores de séculos de história e de cultura solidamente

enraizadas, com grande memória colectiva, dificultam muito mais a integração dos

imigrantes. A construção da União Europeia deve implicar a construção de uma

comunidade política europeia plural, onde caibam não só os Estados e as Nações, mas

também as minorias. Existe uma responsabilidade comum na formação da nova

“comunidade de destino”, manifestada por todos, nacionais europeus, não nacionais e

minorias, quando falam numa Europa como representação de uma vontade de viver

juntos. Debate-se, a este propósito, a questão de saber até que ponto a construção

institucional da Europa produz um espaço político europeu unificado que reflecte a

“vontade geral” e traduz, ao mesmo tempo, a solidariedade entre cidadãos de diferentes

Estados membros e entre cidadãos e residentes. O que aconteceu em geral, e ficou

revelado através do Fórum dos Imigrantes, foi que os imigrantes reproduziram o

discurso da luta pela igualdade e contra o racismo, reivindicando o reconhecimento de

uma identidade em relação ao Estado de acolhimento. O discurso sobre a “vontade

geral” dos políticos europeus não encontrou acolhimento entre os imigrantes nacionais e

não nacionais, de facto não houve reacção da sua parte no sentido de definirem uma

“consciência colectiva”. O Fórum foi dissolvido sem conseguir criar uma solidariedade

e uma identificação com a Europa, apesar disto deixou uma rede informal construída

pelos imigrantes que conseguiu um bom trabalho no desenvolvimento de “uma

consciência colectiva de ser uma minoria”. Foi na religião que se encontraram os

fundamentos para a identidade da minoria, contudo o carácter laico dos projectos

políticos da União Europeia originou que as organizações religiosas consolidassem as

suas redes transnacionais. Os muçulmanos, por exemplo, apesar de poderem prestar

lealdade às nações e aos Estados, conseguiram desenvolver uma identidade comum

baseada no facto de ser muçulmano na Europa e reivindicaram o seu reconhecimento a

nível europeu.

Surge nesta matéria um grave problema que tem a ver com a natureza do espaço

europeu e com a sua capacidade de reconstituir toda uma comunidade política. Segundo

Dominique Wolton “todas estas redes conduzem a um espaço simbólico que

proporciona uma interligação e comunicação de diversas actividades sociais, mas não

origina um debate público”. Na verdade, a reivindicação de representação acabou por

limitar o relacionamento dos imigrantes com as instituições supranacionais europeias e

limitou o envolvimento da população imigrante a uma representação constituída pelos

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líderes de algumas associações de voluntariado seleccionadas. Estes transportaram para

o nível europeu as sua relações específicas com os Estado de residência e as

reivindicações dos seus interesses.

A sociedade civil europeia é, por sua própria natureza, uma sociedade

transnacional, campo fértil para os activistas formularem as suas novas exigências. Às

instituições supranacionais europeias é reconhecido um papel muito importante na

formação da sociedade civil transnacional europeia, dado que desempenham um

relacionamento com as associações de voluntariado e trazem à superfície da Europa

toda a fragmentação das sociedades democráticas que transportam consigo, respeitando

sempre a fragmentação admitida pelo artigo 6º do Tratado de Amesterdão (“a União

respeitará as identidades nacionais dos Estados membros”), que a limita às identidades

nacionais.

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O TRANSNACIONALISMO E O ESTADO-NAÇÃO

O conceito de “pós-nacional” pressupõe a aceitação e o respeito das diferentes

culturas de todos os Estados membros da União Europeia. O conceito de

”supranacional”, conceito que está a ser base para a construção da Europa, é uma

projecção do Estado-nação que, para além de estar a ser imposto aos Estados, reforça,

na medida em que põe em causa o Estado-nação, o papel do Estado na construção da

Europa na sua vertente política.

Pode-se dizer, a este propósito, que existe um paradoxo – é o chamado

paradoxo da supra nacionalidade. Esta situação tem origem no facto de o Parlamento

Europeu, quando criou o Fórum, ter demarcado a sua autonomia em relação às

instituições nacionais e ter levado os imigrantes a colocarem-se numa posição para além

dos Estados-nações, mas ao mesmo tempo o Parlamento Europeu definiu critérios

iguais aos dos Estados-providência para as instituições nacionais, o que teve como

consequência a projecção para um nível europeu da representação de identidades

colectivas que são questionáveis a nível nacional – o Estado europeu torna-se o reflexo

do Estado-nação numa escala transnacional. A luta contra o racismo é assumida

internamente, em cada país, normalmente por pessoas vítimas de problemas sociais,

facto que leva a que os factores considerados como incentivo à mobilização sejam a

identidade e a nacionalidade.

Também se pode falar de um paradoxo a nível da transnacionalidade. O fim da

solidariedade transnacional é influenciar o Estado a partir do exterior. As redes

transnacionais são estruturas muito importantes na negociação de identidades e

interesses colectivos impostas aos Estados, procurando dois objectivos: por um lado

esperam conseguir o reforço da sua representação a nível europeu, por outro lado

prosseguem o seu reconhecimento a nível nacional. Os activistas encaram os Estados

como os principais adversários e a autoridade destes é manifestamente sentida quando

as associações de voluntariado encetam acções sem o apoio das instituições

supranacionais.

O objectivo principal é conseguir uma representação política a nível nacional.

Ao Estado só podem ser reivindicados direitos e interesses de não europeus (protecção

dos seus direitos enquanto residentes, a política de habitação e emprego, o

reagrupamento familiar e a mobilização contra a expulsão). Porém, na actualidade,

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todas as reivindicações feitas a nível nacional implicam, também, reivindicações a nível

europeu e o mesmo se passa a nível inverso, ou seja, as reivindicações feitas a nível

europeu vão-se repercutir nas decisões tomadas a nível de cada Estado membro.

A este propósito convém relembrar as palavras do líder das associações de

trabalhadores africanos em França: “Nós, imigrantes do terceiro mundo, temos de agir

de uma forma que nos permita estarmos efectivamente numa posição para nos

organizarmos e protegermos, para elevarmos bem alto as nossas reivindicações, pois a

maioria das nossas recomendações, que são apoiadas pela CEE e muitas vezes nos são

favoráveis, nem sempre são vistas à melhor luz pelos Estados membros. Actuemos de

uma forma tal que o que é positivo a nível europeu encontre eco no país de residência.”

Surge, na Europa, fruto da sua união, um “supranacionalismo normativo” que

transpõe o contexto dos Estados-nações e se impõe aos Estados. É o que se passa, por

exemplo, no caso de expulsão de um estrangeiro que, tendo esgotado os modos de

recurso internos, se opõe às decisões nacionais, invocando o direito ao respeito da vida

familiar. Sendo os Direitos Humanos uma matéria pertencente à esfera de poder dos

Estados, estes são obrigados a aceitar as novas normas jurídicas produzidas pelas

instituições europeias. A Convenção Europeia dos Direitos do Homem consente que um

cidadão europeu contacte directamente o Conselho da Europa e que um cidadão não

europeu recorra ao Tribunal dos Direitos do Homem.

Não se pode deixar de falar, a este propósito, das minorias. A Convenção dos

Direitos do Homem define “minoria” como “um grupo inferior em número ao resto da

população e cujos membros partilham o desejo de manterem a sua cultura, as suas

tradições, a sua religião ou a sua língua. Este termo comporta uma carga ideológica

muito grande, que varia enormemente de país para país. Exemplifica-se com o caso

alemão e com o caso francês. Em França o termo está a ficar ultrapassado

independentemente da sua ligação a entidades religiosas ou regionais. Por sua vez na

Alemanha o termo aplica-se às minorias alemãs residentes fora do território alemão, o

que é aproveitado pelos imigrantes turcos para manifestarem uma vontade de

organização da respectiva comunidade na Alemanha.

Pode falar-se, a este propósito, da “Teoria da Cascata”. Na verdade, quando se

fala em transnacionalidade na Europa, ela surge fruto de um acréscimo de interacção

entre os Estados-nações e as instituições supranacionais quando definem as normas e os

valores gerais e quando tratam de problemas relativos às políticas de imigração, de

integração e de acesso à cidadania. A supranacionalidade faz com que as instituições

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europeias e os Estados-nações entrem em linha de colisão, quando discutem problemas

de vária ordem (políticas de asilo, de imigração, de integração), porque se as primeiras

defendem a unificação da arena política europeia, os segundos pugnam pela defesa da

soberania dos Estados.

A Europa devia tornar-se uma arena, onde os cidadãos estrangeiros residentes

pudessem ser inscritos numa pluralidade de culturas, pelas mesmas razões dos que se

referem às identidades nacionais tradicionais. Uma “comunidade transnacional” nascida

da imigração iria apoiar, por um lado, os sentimentos nacionalistas expressos pelos

Estados membros e, por outro lado, apoiaria a construção da Europa. Contudo a defesa

dos sentimentos nacionais opõe-se à racionalidade das instituições europeias, que

legislam, com o fim de uniformizar, sobre Direitos Humanos e Direitos das minorias.

Segundo palavras de V. Sydney Tarrow “uma organização transnacional de

imigrantes na Europa é um sinal da europeização de uma acção política, mas não da

europeização de reivindicações. As reivindicações de igualdade e reconhecimento

continuam ligadas ao Estado e à Nação. Ligadas ao Estado enquanto enquadramento

prático da mobilização e da negociação e enquanto enquadramento jurídico e

institucional de reconhecimento; ligadas à nação enquanto fonte de identidade e de

emoções de mobilização. As relações entre cidadania e nacionalidade, entre comunidade

política e a natureza da participação territorial, entre cultura e política, entre Estado e

nações, não são pacíficas, são perturbadas pela própria natureza das organizações

transnacionais que, ao transcenderem as fronteiras nacionais, arrastam consigo o

princípio de identificações múltiplas e a falta de relevância dos Estados-nações e da sua

ideologia unitária”.

Apesar do que foi escrito nas linhas anteriores, não se pode falar da perda de

importância do Estado-nação. Antes pelo contrário, estes (os Estados) são a força motriz

da União Europeia. Apesar de se encontrarem submetidos a normas supranacionais,

conservam a sua autonomia nas decisões internas e, nas relações internacionais, são os

principais intervenientes nos processos negociais – mantêm a autonomia em simultâneo

com o acesso às normas supranacionais. Por sua vez, a nação, continua a ser importante

porque se mantém como uma unidade emocional de identificação, mobilização e

resistência – a nação é base de qualquer empreendimento transnacional.

Concluindo, podemos afirmar que o Estado-nação, enquanto modelo de unidade política

na construção da Europa, se baseia na sua capacidade de alterar as estruturas e as

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instituições da nova realidade com o objectivo final de fazer parte dos dois “fenómenos”

actuais: a europeização e a globalização.

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CONCLUSÃO

De quanto fica dito parece poder concluir-se que, apesar dos múltiplos critérios

em presença e das várias soluções preconizadas nos centros de debate pertinentes, sem

que entretanto se haja chegado a uma consensual padronização de conceitos e sua

correspondente expressão terminológica, o facto é que a ideia de uma Europa

integralmente unificada e permeável ao convívio com pessoas ou grupos sociais

provenientes de outros continentes e portadores de culturas diferentes está em vias de se

concretizar. É um objectivo não só possível como desejável. Trata-se, ao fim e ao cabo,

de converter o território europeu numa terra de promissão tanto para os estados que o

integram como para os migrantes que a ele se acolhem na legítima esperança de se

realizarem sob o signo da tolerância democrática resultante da aceitação e prática dos

princípios básicos que devem reger as relações humanas, ou seja, a liberdade, a

igualdade e a fraternidade. É a Europa já sonhada pelos humanistas à luz do pensamento

erasmiano. Esperemos que nos nossos dias nos seja dado viver em plenitude essa

almejada realidade!

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Integração Europeia: o transnacionalismo

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ÍNDICE

Introdução.........…………………………………………………………………………1

Antecedentes………………………………………………………………...…………..2

Nacionalismo, Internacionalismo e Transnacionalismo………………………………...4

Os imigrantes na União Europeia……………………………………………………….6

O aparecimento de uma comunidade transnacional…………………………………….7

Consequências da transnacionalidade na identidade e na cidadania europeia…………15

O transnacionalismo e o Estado-nação…………………………………………….......20

Conclusão………………………………………………………………………………24

Bibliografia……………………………………………………………………………..25