a informalidade no mercado de trabalho e o impacto das instituições - uma análise sob a Ótica da...

Upload: jonesonteodoro

Post on 11-Oct-2015

8 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • Econ. aplic., So paulo, v. 12, n. 3, p. 341-363, JulHo-SETEMBRo 2008

    A informAlidAde no mercAdo de trAbAlho e o impActo dAs instituies: umA Anlise sob A ticA dA teoriA dos jogos*

    Fernando B. Meneguin Maurcio S. Bugarin

    resumo

    Este artigo analisa a informalidade no mercado de trabalho, com um jogo dinmico infinito entre empregador e empregados, no qual a Justia Trabalhista representada parametricamente. Duas classes de equilbrios de Nash perfeitos em subjogos so encontradas. Na primeira classe, a relao informal prevalece durante um determinado tempo, com posterior formalizao do trabalhador, sendo que, quanto mais efetiva for a Justia, mais rapidamente sero registrados os empregados. Na segunda classe, a informalidade se pereniza, asso-ciada a uma alta rotatividade no mercado de trabalho. Novamente, quanto mais efetivo o Judicirio, menor a probabilidade de esse ltimo equilbrio existir.

    AbstrAct

    This article presents a game theoretic analysis of informality in the labor market based on an infinite dy-namic game between employers and workers in which the Judiciary system enters parametrically. We find two classes of subgame-perfect Nash equilibria. In the first class, the worker first gets an informal contract but he eventually becomes a formal worker. We show that the more effective the Judiciary system, the faster the labor relationship is formalized. In the second class informal labor is maintained, coupled with high work turnover. Again, the more efficient the Judiciary system, the less likely is that equilibrium.

    Palavras-chave: teoria dos jogos, mercado de trabalho, instituies.

    Keywords: game theory, labor market, institutions.

    JEL classification: J63, C72.

    * Os autores agradecem a Mirta Bugarin, Marcelo Neri, Andr Rossi Oliveira, Carlos Alberto Ramos, aos participantes do Annual ALACDE Conference, do XXIX Encontro Brasileiro de Econometria, bem como a dois pareceristas annimos, por comentrios e sugestes que em muito contriburam para a qualidade deste trabalho. Eventuais erros e/ou omisses permanecem de inteira responsabilidade dos autores.

    Doutor em Economia. Consultor Legislativo do Senado Federal. Endereo para contato: Senado Federal/Consultoria Legislativa Anexo II Bl. B 2 andar. CEP 70165-900 Braslia, DF. E-mail: [email protected].

    Ph.D. em Economia. Professor Titular do Ibmec So Paulo. Endereo para contato: Ibmec So Paulo, Rua Quat 300, Vila Olmpia. CEP 04546-042 So Paulo, SP. E-mail: [email protected].

    Recebido em agosto de 2007. Aceito para publicao em junho de 2008.

    Artigos

  • 342 A informalidade no mercado de trabalho e o impacto das instituies

    Econ. aplic., 12(3): 341-363, jul-set 2008

    1 introduo

    O funcionamento do mercado de trabalho vem ocupando cada vez mais espao nas dis-cusses nacionais. So freqentemente assinaladas importantes imperfeies nesse mercado, como patamares elevados de desemprego, alta taxa de informalidade, a freqncia do litgio nos tribunais trabalhistas, a alta desigualdade de renda e o alcance limitado das leis trabalhistas e das intervenes governamentais para prestar assistncia aos trabalhadores.

    Neste estudo, especial ateno ser dada informalidade. Justifica nossa escolha a gravida-de do assunto, conforme evidencia a seguinte informao: entre 1991 e 2002, conforme dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), houve um crescimento, nas regies metropolitanas, das relaes informais de trabalho traba-lho assalariado sem carteira e trabalho por conta prpria de quase dez pontos porcentuais na mdia. J o estudo em Ribeiro e Bugarin (2003) sugere um crescimento de 26% no ndice da economia submersa no perodo de agosto de 1994 a julho de 1998.

    Assim, o foco deste texto ser a qualidade dos postos de trabalho e as relaes empregat-cias firmadas. Segundo Neri (2000, p. 38), nenhum segmento contribui mais para a pobreza bra-sileira do que o setor informal. cerca de 51,3% dos pobres brasileiros esto em famlias chefiadas por indivduos ocupados no segmento informal. O autor critica a direo do debate social brasileiro, que, ao focar excessivamente o desemprego metropolitano, exclui o pobre. Este no pode se dar ao luxo de ficar buscando emprego, pobre cai na informalidade.

    A caracterizao do setor informal no tarefa trivial, conforme se discute em Ramos (2007).1 De fato, existem distintas conceituaes para o que vem a ser o setor informal. Pela legislao brasileira, trabalhadores registrados so aqueles que possuem a carteira de trabalho assinada, o que garante benefcios como repouso semanal remunerado, contribuio para a seguridade social, direito a requerer seguro-desemprego e a ter uma compensao financeira no caso de demisso sem justa causa, licena gestante e paternidade. Por essa tica, estariam na informalidade aqueles trabalhadores que no possuem registro, ou seja, aqueles que deveriam possuir carteira de trabalho assinada, mas no a tm. Segundo a Organizao Internacional do Trabalho (OIT), ao setor informal so ainda agregadas as pessoas sem remunerao e os autnomos (em que no h uma separao ntida entre a propriedade do empreendimento e a execuo de suas atividades). Outra possvel definio considerar informal aquele cidado no segurado pela Previdncia Social. Conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (PNAD/IBGE), dos 64 milhes de trabalhadores do setor privado em 1999, 62% no contribuem para a Previdncia Social.2 Isso se configura num problema tanto social quanto fiscal. No presente trabalho, consideramos trabalhadores informais aqueles que j trabalham em alguma firma, mas no tm suas carteiras de trabalho registradas.

    1 Veja tambm as discusses cuidadosas sobre diferentes conceitos de economia informal em Cacciamali (1991) e Ribeiro e Bugarin (2003).

    2 Informao constante da publicao do Ministrio da Previdncia Social: conjuntura Social, v. 14, n. 1, p. 65, maio-ago 2003.

  • Fernando B. Meneguin, Maurcio S. Bugarin 343

    Econ. aplic., 12(3): 341-363, jul-set 2008

    A literatura sobre informalidade no mercado de trabalho brasileiro consiste principalmente em artigos que discutem as polticas pblicas de combate ao problema e trabalhos empricos com anlises economtricas.

    Ramos e Britto (2004, p. 8) argumentam que o crescimento da informalidade representa um foco de preocupao em relao perda de arrecadao tributria. uma corrente de estudiosos do mercado de trabalho advoga que esse fenmeno propiciado pelos elevados encargos trabalhistas impostos pela relao formal de trabalho, que faria com que o custo do fator trabalho dobrasse, segundo alguns clculos, em relao ao salrio efetivamente recebido pelo trabalhador. a discusso em torno da flexibilizao da legislao trabalhista nessa perspectiva poderia oferecer algumas solues que amenizassem a gravidade do problema, mas o debate a respeito intenso e no h con-senso estabelecido.

    Camargo (1996, p. 11) foca o papel dos incentivos no comportamento do mercado de tra-balho associado ao marco institucional. Segundo o autor, a possibilidade de negociar os direitos individuais inscritos na clT e na constituio atravs da Justia do Trabalho cria um incentivo adicional para que os empresrios no respeitem a legislao enquanto o trabalhador est emprega-do, ao mesmo tempo que induz o trabalhador a forar sua demisso para receber pelo menos parte desses direitos, atravs da Justia, quando demitido. o resultado so elevadas taxas de rotatividade da mo-de-obra e baixo nvel de cumprimento da legislao trabalhista. Em suas concluses, o autor ainda completa que, alm de criar incentivos baixa qualificao, as instituies tambm criam incentivos informalidade. Esses incentivos decorrem do elevado nvel de impostos sobre os salrios e da forma pela qual est desenhado o programa de seguro-desemprego.

    A diferena de remunerao percebida pelos empregados do setor formal em comparao aos do setor informal assunto recorrentemente estudado. Conforme o Anexo Estatstico da publicao do IPEA, Mercado de Trabalho conjuntura e anlise, n. 24, o diferencial de rendi-mentos efetivamente recebidos pelos empregados do setor privado com e sem carteira assinada, nas regies metropolitanas pesquisadas, entre janeiro e maio de 2004, foi em mdia 62,3%, ou seja, os trabalhadores com contrato de trabalho formalizado perceberam uma remunerao 62,3% maior quando comparados aos integrantes do setor informal.

    Menezes-Filho, Mendes e Almeida (2001) utilizam um mtodo economtrico de cross-section repetidas e concluem que o diferencial de salrios observados entre formais e informais decorre da melhor qualidade da fora de trabalho empregada no setor formal.

    Soares (2004a) documenta, com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Do-miclios (PNAD), referentes ao perodo de 1981 a 1999, o aumento na proporo de empregados sem registro em carteira e a reduo no diferencial de salrios entre trabalhadores registrados (com carteira) e sem registro (sem carteira). O porqu e a maneira como ocorreram essas alte-raes no mercado de trabalho so, segundo o autor, questes abertas ao debate.

    J em Soares (2004b), demonstra-se a existncia de uma fila por trabalhos formais no mer-cado de trabalho brasileiro. Quando os trabalhadores informais foram solicitados a responder

  • 344 A informalidade no mercado de trabalho e o impacto das instituies

    Econ. aplic., 12(3): 341-363, jul-set 2008

    se trocariam sua situao por um emprego formal, 70% responderam positivamente. Os que mais apresentam dificuldades para conseguir um emprego formal so os negros, as mulheres, os analfabetos, os jovens sem experincia e os que, no ltimo trabalho, estavam em situao informal.3

    Ulyssea (2005a) sistematiza os principais estudos sobre informalidade no Brasil, enfatizan-do o diferencial de salrios entre trabalhadores formais e informais, a segmentao no mercado de trabalho e os efeitos das instituies sobre o setor informal.

    Ramos e Ferreira (2005) examinam a evoluo da informalidade no Brasil a partir de 1991. Utilizam-se das bases de dados da PNAD e da PME, concluindo que a informalidade cresceu muito nas regies metropolitanas, embora tenha diminudo no restante do Pas. Em termos setoriais, tanto a indstria quanto o setor de servios contriburam para o aumento da informa-lidade, apesar de o movimento acontecer por razes distintas: no caso do setor de servios foi seu crescimento, enquanto na indstria foi sua crescente informalizao.

    Nessa breve reviso dos trabalhos existentes, percebe-se como a proliferao das prticas informais despertou interesse entre especialistas e sociedade em geral. No para menos, pois o crescimento do chamado setor informal, normalmente associado precarizao da qualidade do trabalho, fragilizao da insero no mercado e banalizao dos vnculos empregatcios, foi uma das tnicas do perodo a partir dos anos 1990.

    Na literatura internacional, destacam-se Rauch (1991) e Acemoglu (2001). O primeiro faz a definio, em seu modelo, de formal ou informal, conforme a firma cumpra ou no a legislao do salrio mnimo e, por meio de uma anlise de esttica comparativa, conclui que o aumento do salrio mnimo acarreta uma elevao no diferencial de salrios e na disparidade de tama-nho entre os setores formal e informal.

    Acemoglu (2001) elabora um modelo de matching com dois setores, em que a taxa de de-semprego, o diferencial de salrios entre os dois setores e a composio setorial do emprego so variveis endgenas. O objetivo analisar os impactos das instituies do mercado de trabalho sobre seus indicadores e resultados como a produtividade mdia e o nvel de emprego da eco-nomia. Uma das principais concluses do estudo consiste no fato de o seguro-desemprego gerar efeitos positivos na composio do emprego e na produtividade mdia. Cabe ainda citar Ulyssea (2005b) que constri um modelo, a partir de Acemoglu (2001), para o caso brasileiro. Utiliza a tecnologia de matching com dois setores formal e informal que considera algumas das vari-veis relacionadas ao mercado de trabalho como custos de admisso e demisso, tributos sobre a folha de salrios, seguro-desemprego, entre outros.

    Considerando todo o exposto, que bem reflete a relevncia do tema, o objetivo do presente texto fazer uma anlise com uma abordagem diferenciada das relaes informais de trabalho, por meio da Teoria dos Jogos. Procura-se entender melhor o comportamento dos agentes en-volvidos trabalhadores e patres e o efeito das instituies no funcionamento do mercado 3 Veja tambm estudo sobre diferena salarial entre homens e mulheres no Brasil em Madalozzo e Martins (2007).

  • Fernando B. Meneguin, Maurcio S. Bugarin 345

    Econ. aplic., 12(3): 341-363, jul-set 2008

    laboral. Mais especificamente, ser enfatizada a interao entre a informalidade e a Justia Trabalhista.

    Para realizar a anlise proposta, construdo um jogo dinmico e infinito, com dois jo-gadores: trabalhadores e patres. A Justia Trabalhista representada no modelo por um par-metro que aumenta ou diminui o custo dos empregadores em termos de encargos trabalhistas quando h dissdio e esta acionada. Pretende-se explicar, com os equilbrios de Nash do jogo, como determinado o tempo de informalidade a que o trabalhador submetido, bem como uma possvel causa para a alta rotatividade da mo-de-obra. A principal mensagem dos equi-lbrios encontrados que quanto mais gil for a Justia no julgamento de aes trabalhistas, menor ser o tempo em que um trabalhador ser mantido em situao informal antes de ser contratado formalmente por uma empresa. A segunda importante mensagem diz que, quanto mais lenta for a Justia no julgamento de aes trabalhistas, maior ser a rotatividade dos traba-lhadores em empregos que no so formalizados. Por outro lado, quanto mais gil for a Justia Trabalhista, menor ser a probabilidade de existir um equilbrio em que os empregados nunca tm suas carteiras assinadas.

    Reforando a argumentao que ser usada neste artigo, pode-se citar Perry et al. (2007, p. 2), em que os autores adotam como uma das razes da informalidade o fato de que cada agente procura o melhor para si, mesmo que isso signifique o descumprimento das normas tra-balhistas. Segundo o texto, muitos trabalhadores, empresas e famlias escolhem o seu melhor nvel de envolvimento com as normas e instituies pblicas, dependendo de sua avaliao dos benefcios lquidos associados informalidade e do esforo e capacidade do Estado para fazer cumprir as leis. ou seja, eles fazem anlises implcitas do custo-benefcio de ultrapassar a importante margem para a formalidade e freqentemente desejam no faz-lo.

    Na mesma direo, Ramos (2007, p. 32), ao discutir os atrativos da informalidade, afirma que o nus associado aos encargos sociais do trabalho tende a produzir um incentivo sua sonega-o como forma de reduo de custos e aumento, ou manuteno, de margens de lucros, particular-mente em tempos de retrao da atividade econmica.

    O tema aqui introduzido encontra-se dividido como se segue. A prxima seo aborda alguns aspectos que envolvem os entes associados ao mercado de trabalho, principalmente os tribunais trabalhistas no Brasil. A Seo 3 traz a modelagem formal propriamente dita. A propriedade do desvio em um nico estgio descrita na Seo 4. A quinta seo analisa um equilbrio em que a formalizao do empregado adiada e a Seo 6 discute outro equilbrio em que nunca ocorre o registro do trabalhador. Finalmente, tm-se as consideraes finais e concluses.

  • 346 A informalidade no mercado de trabalho e o impacto das instituies

    Econ. aplic., 12(3): 341-363, jul-set 2008

    2 Aspectos do mercAdo de trAbAlho brAsileiro

    O mercado de trabalho tem a funo de fazer a ponte entre a procura por mo-de-obra e a oferta de trabalho. de suma importncia, portanto, que esse vnculo esteja funcionando ade-quadamente. A ausncia de um bom funcionamento no mercado de trabalho pode fazer com que o crescimento econmico no gere empregos ou, ainda, que os investimentos em educao e novas tecnologias no signifiquem ganhos de produtividade e melhores salrios.

    As engrenagens do mercado de trabalho podem ser afetadas de trs formas: a) pelas ins-tituies, como os tribunais trabalhistas; b) pelas regulamentaes, a exemplo das normas que regem a demisso de trabalhadores, e c) pelas intervenes, como os programas de seguro-desemprego.

    Provavelmente, as instituies que mais influenciam o mercado de trabalho so os tribu-nais trabalhistas, de maneira que importante detalhar seu funcionamento.

    Segundo o IPEA e o Banco Mundial,4 a cada ano so ajuizados, no Brasil, 2 milhes de aes judiciais pelos trabalhadores contra seus empregadores atuais ou passados. Depois de iniciada a ao judicial, o caso vai para conciliao. Se no houver acordo, a matria encami-nhada ao juiz. A durao mdia para se ter uma deciso de 31 meses, sendo que pode haver apelao da sentena por duas vezes.

    Este mesmo relatrio informa que o procedimento comum dos tribunais trabalhistas ratear o valor da ao: os trabalhadores recebem aproximadamente 40% do valor disputado, o que faz com que os assalariados tenham incentivos a litigar na justia com mais freqncia e inflacionar suas demandas. Em contrapartida, os empregadores se sentem estimulados a no pagar todos os direitos acumulados dos trabalhadores na resciso e a aguardar at que sejam obrigados a faz-lo judicialmente.

    Os benefcios para o trabalhador, decorrentes da resciso, so basicamente trs: o empregado ganha permisso para sacar o saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Servio FGTS ; re-cebe multa indenizatria por resciso sem justa causa, que consiste no pagamento, pelo empre-gador, de 40% do saldo do FGTS (alm disso, o empregador paga 10% ao governo), e tem aviso prvio com um ms de antecedncia ou um ms de salrio.

    O relatrio do IPEA e do Banco Mundial (2002, p. 26) resume bem os efeitos da Justia Trabalhista no seguinte pargrafo:

    Dada a alta incidncia de causas trabalhistas, no surpreende que a justia do trabalho influencie significativamente os produtos do mercado de trabalho. os tribunais impem custos diretos e indiretos aos usurios. os custos diretos dos litgios mais freqentes so as taxas pagveis ao Estado e aos advogados, que so suportados pelas empresas. Estes custos no so desprezveis. Todavia, os custos indiretos devidos mudana de comportamento

    4 Banco Mundial; IPEA (2002).

  • Fernando B. Meneguin, Maurcio S. Bugarin 347

    Econ. aplic., 12(3): 341-363, jul-set 2008

    so muito maiores e recaem sobre os empregados e os empregadores. o litgio freqente implica que os custos de mo-de-obra em termos de pagamento futuro de multas e ho-norrios advocatcios so incertos para o empregador no tempo do emprego. o preo real da mo-de-obra s ser conhecido cinco anos depois da resciso do contrato aps o que o sistema judicirio no aceita mais denncias. Frente a essa incerteza, os empregadores se tornam cautelosos na contratao de novos trabalhadores, aumentando o cuidado na triagem e, dessa forma, aumentando igualmente seus custos de contratao. Embora no existam provas sistemticas, provvel que isto tenha reduzido o emprego.

    Outra informao ressalta os problemas enfrentados pela Justia Trabalhista, o que pode estar influenciando negativamente o mercado formal. Trata-se da carga de trabalho5 por magis-trado de 2 instncia nos Tribunais Regionais do Trabalho TRTs. Conforme Relatrio Geral da Justia do Trabalho de 2006, a mdia nacional da carga, no ano de referncia, foi de 1842 processos, enquanto, em 2005 e 2004, a carga foi estimada em 1790 e 1065 processos, respecti-vamente. Ou seja, observa-se um aumento do estoque nos TRTs no decorrer do tempo.

    O modelo apresentado na seo seguinte tentar representar o funcionamento do mercado de trabalho e como a atuao dos tribunais trabalhistas interfere na expectativa e no compor-tamento dos agentes, favorecendo a informalidade, que, conforme o grfico a seguir, apresenta uma tendncia crescente.

    Grfico 1 Grau de informalidade (em %)

    40,91

    43,0943,93

    45,39 46,0347,56 48,08

    48,5949,92

    50,8750,04 49,98

    35,00

    40,00

    45,00

    50,00

    55,00

    1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

    Fonte: PME/IBGE.Notas: Refere-se informalidade no mercado de trabalho metropolitano. Os valores correspondem s mdias aritmticas

    anuais.

    Cabe ainda mencionar outro grave aspecto do mercado laboral brasileiro: a alta rotativi-dade. Apesar de a rotatividade ser inerente a qualquer mercado de trabalho, ela gera custos, como os encargos decorrentes de uma demisso. Se esses custos so altos, os empregadores, na

    5 A carga de trabalho corresponde ao estoque de processos acumulados.

  • 348 A informalidade no mercado de trabalho e o impacto das instituies

    Econ. aplic., 12(3): 341-363, jul-set 2008

    expectativa de ter sua fora de trabalho renovada constantemente, tm menos incentivos para investir no treinamento individual dos trabalhadores.

    Corseuil et al. (2002, p. 39), ao analisar essa distoro, conclui que a rotatividade brasileira de fato elevada, mas heterognea. Setores como comrcio e servios apresentam alta taxa de rea-locao de emprego e so responsveis por grande parte da rotatividade agregada. Firmas pequenas revelaram ser as maiores responsveis tanto pela criao de emprego quanto pela rotatividade total. Em compensao, no setor secundrio, a rotatividade mais baixa. O modelo a ser apresentado sugere que a Justia Trabalhista tambm interfere na rotatividade do mercado de trabalho.

    De posse dessas informaes e evidncias, passa-se modelagem formal com o intuito de estudar esses pontos sob o prisma do comportamento estratgico.

    3 modelo terico

    Com o intuito de entender as relaes entre os agentes no mercado de trabalho, prope-se um jogo dinmico e infinito, de informao completa. Cabe ressaltar que algumas hipteses nesse modelo se distanciam da realidade do mercado de trabalho brasileiro, sendo usadas aqui tendo em vista possibilitar a anlise de um mercado extremamente complexo, na esperana de trazer tona reflexes importantes que possam ser transformadas em polticas pblicas rele-vantes.

    Na modelagem, o trabalhador (T) inicialmente ter duas opes: ou ele escolhe ser aut-nomo (a) e, nessa situao, aufere a renda 0 ou ele prefere ser empregado (emp) na empresa (E).

    Se ele optar por ser assalariado, tem-se ento a deciso da empresa (E). Ela poder re-gistrar o empregado (reg), assinando a carteira de trabalho, e pagar, alm da remunerao (r), todos os encargos trabalhistas (e) que correspondem aos benefcios (b) devidos ao trabalhador, mais as contribuies patronais (p) que a empresa recolhe ao governo: e = b + p. Ou, ento, a firma poder decidir no registrar o empregado (nreg) e mant-lo na informalidade, pagando apenas a remunerao r.

    Caso a empresa registre o empregado, o emprego se torna formal e assim persiste, sem que exista qualquer oportunidade de comportamento estratgico futuro. Observe que o presente modelo, estando centrado na deciso de formalizar ou no o vnculo empregatcio pela em-presa, omite qualquer anlise a respeito de incentivos internos dedicao do empregado. Em particular, no h considerao a respeito de incentivo adverso (moral hazard) nem de seleo adversa, uma vez assinada a carteira de trabalho.

    Por outro lado, caso o empregado fique na informalidade, ele pode se acomodar, recebendo apenas sua remunerao r, ou ento denunciar a empresa Justia Trabalhista. Se assim fizer,

  • Fernando B. Meneguin, Maurcio S. Bugarin 349

    Econ. aplic., 12(3): 341-363, jul-set 2008

    receber sua remunerao mais um porcentual dos benefcios trabalhistas a que teria direito ( 0 1< < ). O parmetro representa as instituies trabalhistas: quanto maior for , maior o benefcio para o trabalhador em acionar na Justia o empregador.

    No presente modelo, adota-se por simplicidade que o empregado denuncia a empresa e demitido simultaneamente. Mais ainda, se for demitido, permanecer autnomo, recebendo a partir de ento o salrio . Segundo matria publicada na Folha de So Paulo,6 em 05/05/2003, pelo menos 80% dos processos que chegam s mos dos juzes trabalhistas so movidos por quem est sem emprego, conforme levantamento do Tribunal Superior do Trabalho TST. No caso dos outros 20%, boa parte das aes contra ex-patres. O Ministro Francisco Fausto, presidente do TST, afirma que quem est empregado no procura os seus direitos na Justia por-que as relaes de emprego esto cada vez mais precrias. O presidente da Associao Nacional dos Magistrados da Justia do Trabalho ANAMATRA acrescenta que o trabalhador teme ir Justia porque existe no pas uma cultura de represlia aos que buscam seus direitos, fazendo referncia existncia de uma lista negra que consiste em um documento que circula entre as empresas para identificar o trabalhador que recorreu Justia.

    Se o empregado for demitido, a empresa ter ainda a opo de contratar novo trabalhador no lugar vago, desde que haja demanda de trabalho. Por simplicidade, qualquer trabalhador gera a mesma receita R para a firma e o salrio r dado pelo mercado. Por hiptese R > r + e, de forma que a firma sempre tem incentivo a manter o trabalhador, independentemente do regime de contratao ser formal ou informal. Portanto, a deciso da firma se restringe a man-ter o trabalhador informal, ao custo mnimo de seu salrio r, ou formaliz-lo, adicionando ao custo os encargos e = b + p. J o trabalhador, alm de decidir se torna-se autnomo ou busca emprego, caso procure emprego e seja contratado informalmente, decide se denuncia na Justia a firma, e demitido, ou se cala diante da informalidade, mantendo seu emprego.

    A Figura 1 apresenta o jogo em seu estgio inicial em maiores detalhes. O trabalhador (T) comea escolhendo entre ser autnomo, (a), ou procurar emprego, (emp). Se decidir ser autnomo, far jus receita . O payoff da firma com esse trabalhador naturalmente 0. Caso decida procurar emprego, a firma o contrata e decide se assina carteira de trabalho (reg) ou o mantm na informalidade (nreg). Caso registre o emprego, o trabalhador permanece emprega-do nos prximos perodos, recebendo sempre o salrio r + b, encerrando-se tambm, neste caso, qualquer interao estratgica. O payoff da firma com esse trabalhador R (r + e). Caso a firma mantenha o trabalhador na informalidade, este deve decidir se aceita a situao de infor-malidade (aco), recebendo ento a renda r ou se, ao final do perodo, aciona a firma na Justia, garantindo assim o salrio r + b, [0,1]. Se o trabalhador se acomodar, a firma recebe o payoff R r e o trabalhador continua trabalhando. Caso o trabalhador acione a firma na Justi-a, ele recebe r + b e perde seu emprego, tornando-se autnomo nos prximos perodos. J a firma tem por payoff R [r + (b + p)]. Caso o trabalhador decida manter-se autnomo nesse estgio inicial, um novo estgio inicial (do) se repete no estgio seguinte.

    6 Fernandes, F.; Rolli, C. (2003).

  • 350 A informalidade no mercado de trabalho e o impacto das instituies

    Econ. aplic., 12(3): 341-363, jul-set 2008

    Figura 1 Estgio inicial do jogo entre um trabalhador e uma firmaT

    E

    t0

    t1

    a emp

    reg nreg

    0

    Tt2aco den

    rR

    r

    )( pbrR

    br

    )( pbrR

    br

    A Figura 2 representa o jogo em seu estgio n > 1, na situao em que a empresa ainda no formalizou o contrato com o trabalhador. Trata-se da nica situao em que existe compor-tamento estratgico na continuao do jogo descrito no estgio inicial. Observe que, quando o empregado decide acionar judicialmente a firma, ele recebe r + nb, ou seja, alm do salrio r, recebe a parcela do total dos benefcios no pagos nos n estgios: nb. J a firma tem por payoff R [r + n (b + p)]. Portanto, quanto mais tempo passar na informalidade, maior o custo de oportunidade para o trabalhador de permanecer mais um perodo na informalidade.7

    Figura 2 Estgio n > 1 do jogo entre um trabalhador sem carteira assinada e uma firmaE

    t1reg nreg

    Tt2aco den

    rRr

    )( pbnrR

    nbr

    )( pbrR

    br

    Para se computar o retorno total para cada agente associado e um perfil de estratgias no jogo infinito desconta-se os payoffs do segundo estgio pelo fator de desconto intertemporal ( )10 , ou seja, o retorno total do trabalhador com carteira assinada maior que o retorno do trabalhador autnomo. Essa hipte-

    7 Por simplicidade, no consideramos a correo monetria da quantia no paga no passado. Esta simplificao no implica qualquer perda de generalidade nos resultados a seguir.

  • Fernando B. Meneguin, Maurcio S. Bugarin 351

    Econ. aplic., 12(3): 341-363, jul-set 2008

    se confirmada em Soares (2004b) e pode ainda ser verificada pelos dados da Pesquisa Mensal de Emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica, IBGE,8 tendo por conseqncia a concluso de que, se o trabalhador tiver a opo, preferir ser empregado com certeira assina-da a ser autnomo.

    4 A propriedAde do desvio em um nico estgio

    Para encontrar os equilbrios de Nash perfeitos em subjogos, ser utilizada a propriedade denominada one-Stage-Deviation,9 ou desvio em um nico estgio. Essa propriedade garante que um perfil de estratgias perfeito em subjogos se no for possvel, para nenhum jogador, desviar unilateralmente de sua estratgia de equilbrio em um nico estgio do jogo e se bene-ficiar com esse desvio. Em outras palavras, a propriedade permite que se analise o desvio em um nico estgio e se conclua pela perfeio em subjogos.

    Mais formalmente, por esse princpio, para saber se uma estratgia si, do jogador i, parte de um equilbrio perfeito em subjogos (si, si), basta provas de que no existe um histrico h

    t (definido como a seqncia de aes escolhidas pelos jogadores nos perodos anteriores a t) em que o jogador i pode obter algum ganho desviando de si exclusivamente em t e, aps esse desvio, retornando a si, dado que os demais jogadores seguem as estratgias si.

    No entanto, para que essa propriedade valha, o jogo deve ter a qualidade de ser contnuo no infinito. Seja h uma histria infinita qualquer, definida como uma seqncia de aes tomadas pelos jogadores ao longo do jogo, e seja ht uma restrio de h para os primeiros t per-odos; ento um jogo dito contnuo no infinito se, para cada jogador i, a funo de utilidade ui satisfaz:

    ~( ) ( ) 0, . .

    sup i it t

    u h u hh h s a h h

    =

    , quando t (1)

    Na prtica, essa condio diz que os eventos em um futuro distante tm pouca impor-tncia. No presente jogo, os payoffs de cada jogador, em todos os estgios, so uniformemente limitados. Como os payoffs no jogo inteiro so descontados a cada perodo pelo fator de des-conto intertemporal , segue imediatamente que nosso jogo contnuo no infinito. Trata-se da observao logo aps a Definio 5.1 em Fudenberg e Tirole (1991). Portanto, vale a proprie-dade de desvio em um estgio para nosso jogo. Na prxima seo, fica clara a utilidade dessa propriedade na soluo do modelo desenvolvido.

    8 Site http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/pme_nova/default.shtm, acessado em 20/3/2008.

    9 Fudenberg e Tirole (1991). Teorema 5.2 da subseo 5.2.

  • 352 A informalidade no mercado de trabalho e o impacto das instituies

    Econ. aplic., 12(3): 341-363, jul-set 2008

    5 equilbrio com registro AdiAdo

    Nesta seo verificamos se existe um equilbrio perfeito em subjogos, em que a firma inicialmente contrata o empregado sem registrar sua carteira, mas, aps um nmero n de pe-rodos, formaliza o vnculo empregatcio. O perfil de estratgias correspondente o seguinte: para o trabalhador, busca emprego no estgio inicial (emp) e aceita trabalhar sem registro (aco) at o n-simo estgio do jogo. Caso no tenha sua carteira assinada at esse estgio, ento acio-na judicialmente a firma (den). Para a firma, contrata o trabalhador sem assinar sua carteira (nreg) no estgio inicial e o mantm na informalidade at o n-simo estgio do jogo, quando ento assina sua carteira (reg).

    5.1 Anlise para a empresa

    Primeiramente, sero analisados os incentivos ao desvio unilateral em um nico perodo do empregador com relao estratgia anteriormente descrita. Em qualquer estgio em que a firma venha a tomar uma deciso, existe um trabalhador interessado em trabalhar para a firma, independentemente da situao se encontrar dentro ou fora do caminho de equilbrio.

    Caso a firma decida assinar a carteira do trabalhador antes de esse trabalhador concluir n estgios de trabalho, estar arcando com um custo adicional de e = b + p, sem nenhum ganho adicional. Portanto, antecipar a formalizao do trabalhador apenas reduzir seu lucro.

    Considere agora a possibilidade de a firma no assinar a carteira do trabalhador aps n estgios de trabalho. Ento o trabalhador denunciar na Justia a firma, concluindo seu vnculo empregatcio, o que representar um custo adicional de ne nesse estgio para a firma. Alm disso, pela propriedade de desvio em um nico estgio, a firma contratar outro trabalhador sem carteira assinada no prximo estgio, mas assinar a carteira desse novo trabalhador n es-tgios depois. Portanto, o ganho lquido para a firma em no assinar a carteira do trabalhador, desviando do perfil considerado, dado por:

    1 11

    nne e e n e n e

    = + + + = (2)

    Os primeiros termos positivos da expresso acima correspondem economia que a firma far no pagando os benefcios hoje e adiando por mais n1 perodos a assinatura da carteira (ao contratar o outro empregado). J o ltimo termo corresponde ao custo atual de ter que pagar o porcentual dos benefcios acumulados.

    A firma no ter interesse em desviar se 0 , o que equivale a:

    1 11

    n

    n

    (3)

  • Fernando B. Meneguin, Maurcio S. Bugarin 353

    Econ. aplic., 12(3): 341-363, jul-set 2008

    Essa ltima condio deve ser satisfeita para que a empresa tenha incentivo a registrar o trabalhador a partir do perodo n. Note-se que sempre h um valor de n que satisfaz a condio (3), pois, tomando-se os limites, o lado direito tende a ( ) 11 enquanto o lado esquerdo tende ao infinito.

    Simulao

    De posse dessa expresso, podem-se fazer algumas simulaes. Considere-se hipotetica-mente um fator de desconto = 0,98, compatvel com uma taxa de juros de 2% por perodo. Conforme mencionado na segunda seo, os trabalhadores recebem na Justia algo em torno de 40% do valor litigado,10 ou seja, 0,4 = . No entanto, a inteno variar o valor de e ver qual intuio nos fornece essa prtica. O resultado encontra-se na Tabela 1.

    Tabela 1 Valores de n() a partir dos quais a empresa tem incentivo a registrar o empre-gado

    n()0,3 161

    0,4 112

    0,5 81

    0,6 57

    0,7 39

    0,8 25

    0,9 12

    Esta tabela mostra que, quanto mais eficiente o quadro institucional ( maior), ou seja, quanto mais a Justia Trabalhista obrigar os empregadores a pagarem a integralidade dos bene-fcios devidos, mais rapidamente o empregador estar disposto a registrar o empregado.

    Uma forma alternativa de se entender o coeficiente referente ao quadro institucional, , interpret-lo como o tempo necessrio para a concluso do processo, uma vez que um eleva-do pode representar maior celeridade nas decises judiciais, o que aumenta o valor presente do benefcio devido ao trabalhador. Nesse caso, quanto maior for , menor ser o tempo de espera caso o trabalhador acione a Justia, portanto, o empregador ter que pagar mais rapidamente sua dvida com o empregado caso este a acione na Justia, o que aumentar o incentivo para que a firma antecipe a assinatura de sua carteira de trabalho.

    Para que a condio (3) da empresa seja um equilbrio, deve haver um perodo n que satisfaa essa condio, tal que o trabalhador no esteja disposto a denunciar seu contrato de trabalho antes disso. Resta, ento, analisar os incentivos do trabalhador.

    10 Banco Mundial; IPEA (2002)

  • 354 A informalidade no mercado de trabalho e o impacto das instituies

    Econ. aplic., 12(3): 341-363, jul-set 2008

    5.2 Anlise para o empregado

    Analisemos inicialmente se o trabalhador tem incentivo a no buscar emprego, permane-cendo autnomo. Pela propriedade de desvio em um nico estgio, basta considerar a situao em que o trabalhador permanece autnomo um estgio, mas busca emprego no estgio seguin-te, trabalha n estgios sem carteira, tendo ento seu emprego formalizado. O benefcio lquido do desvio dado por:

    ( ) ( )1 11 1

    1 1n n n nu r r r r b r r r r b = + + + + + + + + + + +

    Os primeiros dois termos positivos da expresso acima correspondem utilidade quando o trabalhador primeiro mantm-se autnomo por um estgio, buscando emprego em seguida. O ltimo termo, precedido do sinal negativo, reflete a utilidade do trabalhador quando ele segue a estratgia de equilbrio. A expresso acima pode ser reescrita na forma abaixo.

    ( ) ( ) ( )1 11

    1 1

    nn nu r r b r b

    = + + = +

    O trabalhador no ter interesse nesse desvio se u 0, o que equivale condio abaixo.

    nr b+ (4)

    Por hiptese, baseada em evidncia emprica, temos que >+ br . Portanto, a condio estar satisfeita se for suficientemente prximo de 1 e n no for muito elevado, ou seja, a espe-ra para ter sua carteira assinada no for muito grande. Observe que, se r , ento o trabalha-dor no ter interesse a permanecer autnomo qualquer que seja o valor de n.

    Analisemos agora se o trabalhador, tendo aceitado trabalhar para a firma sem carteira assinada, tem incentivo a desviar em um nico estgio da estratgia de equilbrio, denuncian-do a firma antes de ter sua carteira assinada. Suponha que o trabalhador desvie do equilbrio, denunciando a firma no estgio k < n. Ento, seu benefcio lquido :

    ( ) ( )1 11 1

    1 1k k n nu r r r k b r r r r b = + + + + + + + + + +

    O primeiro termo positivo da expresso acima corresponde utilidade quando o traba-lhador denuncia a firma no estgio k, sendo em seguida demitido e permanecendo a partir de ento na informalidade. O ltimo termo, precedido do sinal negativo, reflete a utilidade do trabalhador quando ele segue a estratgia de equilbrio. A expresso acima pode ser reescrita na forma abaixo.

    1

    1

    11

    n kk u k b r b

    = +

  • Fernando B. Meneguin, Maurcio S. Bugarin 355

    Econ. aplic., 12(3): 341-363, jul-set 2008

    Portanto, o trabalhador no ter incentivo a denunciar a firma se for vlida a desigualdade a seguir:

    11,1

    n kk n k r bb

    < + (5)

    Observe que, como as funes dos dois lados da igualdade acima so crescentes em k, no se pode determinar a priori para que valores de n essa condio ser satisfeita. Ademais, o termo

    direita limitado superiormente por [ ]11

    r bb

    +

    , enquanto o termo esquerda cresce

    sem limites (com n e conseqentemente) com k; portanto, se n for muito grande, o trabalhador denunciar a firma com certeza antes ter seu contrato efetivado. No entanto, como r b+ > e como

    1

    muito grande, se n no for demasiadamente elevado, possvel satisfazer a con-

    dio.

    Simulao

    De fato, uma vez conhecidos os parmetros relevantes, pode-se calcular esses valores de forma bastante direta. A Tabela 2 apresenta os valores mximos de n para os quais o trabalha-dor no tem incentivo a desviar do equilbrio, para as configuraes dos parmetros discutidas a seguir. O fator de desconto continua sendo = 0,98 e continuar assumindo seis valores de 0,3 a 0,9. Neri (2000) estima que os custos trabalhistas correspondem a aproximadamente 65,4% da remunerao. Parte desse montante, no entanto, no se reflete em retorno monet-rio para o trabalhador, como, por exemplo, as contribuies ao sistema S (Sesi, Senai, Sebrae) estimados em 3,1% do salrio. Portanto, postula-se, nesta simulao, que b=0,6r, por simpli-cidade. Estipula-se ainda que a remunerao r corresponda a um salrio mnimo, R$380.11 O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica, IBGE, publica regularmente a Pesquisa Mensal de Emprego,12 que estima a relao entre o rendimento do trabalhador autnomo em compara-o com o trabalhador assalariado. A mdia dos meses de janeiro de 2003 a dezembro de 2005 estabelece essa relao em 80,2%, o que nos leva estimativa da renda do autnomo em = R$300.13

    Com essas hipteses, o trabalhador est disposto a esperar a empresa registr-lo at os seguintes estgios:

    Observa-se que, quanto mais a Justia privilegiar o trabalhador ( maior), menos ele esta-r disposto a esperar, ou seja, ele denunciar a empresa mais rapidamente.

    11 Valor do salrio mnimo referente a abril/2007.12 Dados disponveis em http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/pme_nova/, aces-

    sado em 20/03/2008.13 O valor exato seria 0,802x380=304,86, que aproximamos aqui por convenincia para R$300. Observe que, como a

    renda do autnomo menor que r, o trabalhador no tem interesse em adiar sua entrada na firma.

  • 356 A informalidade no mercado de trabalho e o impacto das instituies

    Econ. aplic., 12(3): 341-363, jul-set 2008

    Tabela 2 Valores de n() at os quais o trabalhador no denunciar

    n ()0,3 166

    0,4 138

    0,5 118

    0,6 103

    0,7 92

    0,8 82

    0,9 74

    Cabe neste momento um registro. O modelo apresentado, por fazer uma anlise de equil-brio parcial, no levou em considerao a demanda de trabalho. No entanto, destaca-se que, se a houvesse incorporado, o aumento do custo poderia reduzir a demanda por trabalho, podendo afetar o efeito do aumento de sobre o equilbrio.

    5.3 Equilbrios de Nash perfeito em subjogo

    A condio (3) estabelece explicitamente um nmero mnimo de estgios, nmin(), a partir do qual o empregador ter incentivo a registrar o trabalhador, se estimar que o trabalhador o denunciar caso no seja registrado. Por outro lado, a condio (5) estabelece implicitamente um nmero mximo de estgios, nmax(), que um empregado est disposto a esperar para ter sua carteira regularizada. As Tabelas 1 e 2 mostram que, para a parametrizao escolhida, temos nmin () < nmax (), para todos os valores de considerados. Como o empregador no re-gistrar um empregado se no esperar ser denunciado, o nico equilbrio perfeito em subjogos

    em que h registro aquele em que n = nmax ( )1 1

    1

    n = , em que o smbolo x significa

    a parte inteira inferior de x que, neste caso, 1 1

    1

    n

    x =

    . Mais especificamente, o equilbrio

    perfeito em subjogos dado pelo perfil de estratgias a seguir.

    Trabalhador: procurar trabalho no perodo inicial, aceitar trabalhar sem carteira assinada por

    at nmax()1 1

    1

    n = perodos. Se sua carteira de trabalho no for assinada at o perodo

    nmax(), denunciar a empresa na Justia.

    Empregador: oferecer trabalho no registrado no perodo inicial e sempre que o trabalhador

    procurar emprego. Manter o trabalhador sem registro at o perodo nmax()1 1

    1

    n = . Re-

    gistrar sua carteira nesse perodo nmax().

  • Fernando B. Meneguin, Maurcio S. Bugarin 357

    Econ. aplic., 12(3): 341-363, jul-set 2008

    Os resultados desta seo explicam situaes em que a informalidade prevalece durante um determinado tempo e, posteriormente, resulta numa formalizao da relao de traba-lho. Pode-se interpretar esse perodo de informalidade como um contrato no registrado de experincia entre trabalhador e empregador que, se for positivo, resulta na formalizao do empregado. Destaca-se da anlise aqui apresentada um importante papel para as instituies na determinao do equilbrio, marcada pela dependncia de nmax() na varivel . De fato, quando = 0,3, o que corresponde a uma baixa recuperao dos benefcios no recebidos, ento o empregado dever esperar 166 perodos para ter sua carteira assinada. Esse nmero vai se reduzindo medida que o parmetro institucional aumenta, garantindo uma maior recuperao dos benefcios no recebidos. No caso em que = 0,9, chega-se ao mnimo de 74 perodos, inferior metade do prazo de espera quando = 0,3.

    A prxima seo discute outro equilbrio no qual a empresa estar sempre demitindo aps um determinado perodo de tempo, mesmo tendo que arcar com as indenizaes determinadas pela Justia Trabalhista.

    6 equilbrio sem registro e com processo judiciAl

    Verifiquemos agora se existe um equilbrio perfeito em subjogos no qual o empregador contrata o trabalhador, mas no assina sua carteira de trabalho, e o trabalhador, por sua vez, apresenta denncia na Justia, desligando-se ento da firma e permanecendo autnomo a par-tir do perodo seguinte. As estratgias correspondentes so as seguintes: o empregador nunca assina carteira de trabalho do empregado; j o trabalhador solicita emprego no estgio inicial, e trabalha sem carteira assinada at o n-simo estgio, denunciando nesse estgio a empresa, caso sua situao no seja at ento formalizada.

    6.1 Anlise para a empresa

    Primeiramente sero analisados os incentivos ao desvio unilateral em um nico perodo do empregador com relao estratgia acima descrita. Em qualquer estgio em que a firma venha a tomar uma deciso, existe um trabalhador interessado em trabalhar para a firma, inde-pendentemente da situao se encontrar dentro ou fora do caminho de equilbrio.

    O nico desvio possvel do empregador consiste em assinar a carteira do trabalhador em algum perodo anterior ao perodo n em que a firma ir denunci-lo, uma vez que qualquer es-tratgia envolvendo a contratao aps n estgios ser incua. Alm disso, dada a estratgia do trabalhador, o melhor desvio possvel envolver a contratao justamente nesse estgio n. Uma vez feita a contratao, o empregado se torna estvel e no h mais comportamento estratgico. Portanto, o ganho lquido para a firma, desviando do perfil considerado, dado por:

    1 11 2 1 1

    1 1

    n nn n n n

    nn e n e e e n e e

    = + + + + =

  • 358 A informalidade no mercado de trabalho e o impacto das instituies

    Econ. aplic., 12(3): 341-363, jul-set 2008

    Os primeiros termos positivos da expresso acima correspondem economia que a firma far ao assinar a carteira do empregado, pois este no entrar na Justia. Observe que, nesse cmputo, foi considerado que, segundo a estratgia de equilbrio, a firma denunciada na Justia a cada n perodos. Os ltimos termos, precedidos do sinal negativo, correspondem ao adicional que a firma passar a pagar a cada perodo aps ter assinado a carteira de trabalho.

    A firma no ter interesse em desviar se 0 , o que equivale a:

    1 11

    n

    n

    (6)

    Vale observar que a condio acima oposta condio (3), que foi encontrada para o equilbrio com contratao. Ela diz que, se o trabalhador no estiver disposto a esperar tempo suficiente para ser contratado, ento melhor para a firma enfrentar o processo judicial, nunca assinando a carteira do empregado.

    6.2 Anlise para o empregado

    Analisemos inicialmente se o trabalhador tem incentivo a no buscar emprego, permane-cendo autnomo. Pela propriedade do desvio em um nico estgio, basta considerar a situao em que o trabalhador permanece autnomo no estgio inicial, mas busca emprego no estgio seguinte, trabalha n estgios sem carteira, e ento denuncia a firma Justia. O benefcio lqui-do do desvio dado por:

    1 1 1 11 1

    1 1n n n n n nu r r r n b r r r n b = + + + + + + + + + + +

    Os primeiros dois termos positivos da expresso anterior correspondem utilidade quando o trabalhador primeiro mantm-se autnomo por um estgio, buscando emprego em seguida e denunciando a firma na Justia n estgios aps ser contratado. O ltimo termo, precedido do sinal negativo, reflete a utilidade do trabalhador quando ele segue a estratgia de equilbrio. A expresso pode ser reescrita na forma abaixo.

    ( ) ( )( ) ( )1 11 11 1 1

    1 1

    nn n n nu r n b r n b

    = + + =

    O trabalhador no ter interesse nesse desvio se u 0, o que equivale condio abaixo.

    ( )11 1 1

    1

    n

    nn rb

    (7)

    Observe que, se r , ento a condio acima estar trivialmente satisfeita. Caso contr-

    rio, podemos reescrever a equao (7) como: ( )1 1 11

    nn n r

    b

    . fcil provar que o termo

  • Fernando B. Meneguin, Maurcio S. Bugarin 359

    Econ. aplic., 12(3): 341-363, jul-set 2008

    esquerda da desigualdade converge para zero quando n aumenta, enquanto o termo direita

    converge para um nmero real positivo. Portanto, se r > ento necessrio que n no seja muito elevado para que a condio seja satisfeita.

    Analisemos agora a situao em que o trabalhador aceita trabalhar para a firma sem car-teira assinada. Se o equilbrio diz que o trabalhador denunciar a firma no estgio n, ento, para determinar esse estgio, basta analisar para que valores de n a utilidade do trabalhador denunciando a firma no estgio n maior que a utilidade denunciando no estgio n + 1. A diferena de utilidade correspondente :

    ( ) ( )( )1u r n b r r n b = + + + + +

    Os primeiros termos (positivos) na expresso acima correspondem aos ganhos do trabalha-dor nos estgios n e n+1, quando ele denuncia a firma no estgio n. Os ltimos termos, prece-didos do sinal negativo, correspondem aos ganhos nos mesmos estgios quando a denncia feita no estgio n+1. A expresso acima pode ser reescrita como:

    1r bn

    b +

    Portanto, o nico estgio n compatvel com um equilbrio perfeito em subjogos a parte inteira do termo direita da desigualdade acima.

    1

    r bnb

    + = (8)

    Para confirmar que vale a propriedade de desvio em um nico estgio, ainda deveramos considerar desvios em qualquer possvel estgio do jogo. No entanto, nossa comparao mostra que no h interesse para o trabalhador em permanecer um tempo superior a n no emprego sem carteira assinada. Alm disso, se houvesse um perodo anterior a n em que o trabalhador preferisse denunciar a firma, ento, como antes do estgio n o trabalhador sempre prefere es-perar mais um estgio, chega-se imediatamente a uma contradio. Portanto, no possvel ao trabalhador desviar unilateralmente da estratgia de equilbrio em um nico estgio e com isso se beneficiar.

    Simulao

    A Tabela 3 apresenta os valores de ( )n no equilbrio sem registro, correspondendo aos respectivos valores de , variando entre 0,3 e 0,9, para a parametrizao descrita anteriormente: r = R$380, = R$300, b = 0,6, = 0,98. Observe que, como r > , a condio (7) automa-ticamente satisfeita, ou seja, o trabalhador no tem incentivo a permanecer autnomo desde o primeiro perodo.

  • 360 A informalidade no mercado de trabalho e o impacto das instituies

    Econ. aplic., 12(3): 341-363, jul-set 2008

    Tabela 3 Tempo de espera ( )n para que o trabalhador acione a Justia no equilbrio sem registro

    ( )n0,3 106

    0,4 91

    0,5 83

    0,6 77

    0,7 73

    0,8 70

    0,9 68

    6.3 Equilbrio de Nash perfeito em subjogo

    A condio (8) determina em que estgio ( )n o trabalhador denunciar a firma em um equilbrio sem registro. Para que se trate de equilbrio, no entanto, o empregador tem que estar decidido a no registrar o trabalhador nesse estgio, mesmo tendo conscincia de que o trabalhador o denunciar na Justia Trabalhista. Para que isso ocorra, necessrio que esse estgio seja anterior ao estgio ( )n que aparece na Tabela 1. A comparao entre as Tabelas 1 e 3 mostra claramente o papel das instituies na existncia desse equilbrio. De fato, se as instituies trabalhistas so muito fracas, o que corresponde a valores de iguais a 0,3 e 0,4, existe equilbrio sem registro, que envolve elevado tempo de espera at o trabalhador denunciar a firma na Justia. Vale recordar que as estimativas para o Brasil nos colocam, infelizmente, na categoria de pases14 de baixos valores de .

    Por outro lado, se a Justia for mais eficiente, o que corresponde a valores de de pelo menos 0,5, ento o empregador preferir registrar o trabalhador antes que ele o denuncie na Justia, de forma que no existe equilbrio sem registro. Esta constatao sugere que uma eleva-o do valor atualmente estimado no Brasil de 0,4 para 0,5 poderia significar um grande passo na direo, seno da eliminao total do perodo sem registro, pelo menos da eliminao do equilbrio em que a carteira nunca registrada.

    Quando o equilbrio sem registro existe, ele tem a seguinte forma: o trabalhador busca emprego no estgio inicial do jogo, trabalha sem carteira assinada por n estgios, e ento denuncia a firma na Justia, recebendo a parcela n b dos benefcios devidos, e tornando-se autnomo a partir de ento. O empregador, por sua vez, contrata novos empregados, mas os mantm sempre na informalidade, substituindo um empregado por outro informal quando este o denuncia na Justia.

    14 Banco Mundial; IPEA (2002).

  • Fernando B. Meneguin, Maurcio S. Bugarin 361

    Econ. aplic., 12(3): 341-363, jul-set 2008

    7 concluso

    Este estudo focou a informalidade no mercado de trabalho sob a tica da Teoria dos Jogos, evidenciando o comportamento dos agentes envolvidos e de como o funcionamento da Justia Trabalhista pode afetar a formalizao dos contratos. Procurou-se ressaltar que as mudanas institucionais, a exemplo das condies macroeconmicas, tm importantes impactos sobre o tipo de postos de trabalho gerados.

    Mostra-se primeiramente que existe um equilbrio em que o empregado contratado informalmente e, aps determinado perodo, ele tem sua carteira de trabalho assinada. Esse resultado confirma Perry et al. (2007), em que se afirma que a informalidade pode acontecer simplesmente porque os agentes esto maximizando suas respectivas utilidades.

    Assim como Camargo (1996), que focou os incentivos no mercado de trabalho, associados ao conjunto das instituies, a soluo do modelo vislumbrado neste estudo permite concluir que, quanto mais eficiente o quadro institucional, ou seja, quanto mais a Justia Trabalhista obriga os empregadores a pagarem a integralidade dos benefcios a que os empregados teriam direito, mais rapidamente acontecer a formalizao do contrato de trabalho nesse equilbrio em que o empregador formaliza o trabalho aps um perodo inicial sem carteira assinada.

    O modelo confirma tambm o que parece ser a realidade em certos mercados de trabalho em que, sob certas condies, o empregador prefere manter os empregados na informalidade, mesmo sabendo que isso acarretar despesas trabalhistas na Justia. Ou seja, as firmas adotam a sistemtica de contratar informalmente e demitir freqentemente, contribuindo para a alta rotatividade da mo-de-obra. Essa inferncia est de acordo com a grande rotatividade agregada do mercado de trabalho brasileiro, principalmente no setor tercirio, como descreve Corseuil et al. (2002). Constata-se, assim, uma triste convergncia do mercado de trabalho para uma situao de estabilidade da informalidade em nveis elevados. Apesar do resultado negativo, o presente estudo tambm evidencia que o equilbrio sem registro no existe se a Justia consegue garantir ao trabalhador elevado porcentual de recuperao dos benefcios no pagos pela firma durante o perodo de informalidade. Nesse caso, a firma prefere assinar a carteira do trabalha-dor antes que ele a denuncie na Justia.

    Esses resultados sugerem, para o combate da informalidade, a tomada de polticas pblicas como reformar a Justia Trabalhista, tornando-a mais gil, com julgamentos que reflitam os reais direitos dos trabalhadores, ou, talvez, criar outras instncias de conciliao entre empre-gados e empregadores no vinculadas ao Poder Judicirio, que garantam celeridade e justia s disputas trabalhistas. Segundo o presente estudo, essa reforma tem dois importantes efeitos. Em primeiro lugar, faz com que as firmas assinem a carteira de trabalho mais rapidamente, no caso do equilbrio com registro adiado, reduzindo o tempo de informalidade na economia. Em segundo lugar, pode acabar com o nefasto equilbrio em que a firma nunca assina a carteira do trabalhador, substituindo-o por outro informal quando este a aciona na Justia.

  • 362 A informalidade no mercado de trabalho e o impacto das instituies

    Econ. aplic., 12(3): 341-363, jul-set 2008

    Os resultados encontrados neste artigo reforam a literatura existente com o instrumental do comportamento estratgico. No entanto, ainda so oriundos de um modelo com hipteses restritivas, como a simultaneidade para o empregado entre recorrer Justia e a perda do em-prego, bem como o fato de o trabalhador tornar-se irreversivelmente autnomo aps a denncia. Alm disso, nossas simulaes so todas baseadas na hiptese de que r > e o valor de b, ainda que baseado em estudos existentes, no discrimina os benefcios recebidos pelo trabalhador no momento da demisso, como o depsito na conta vinculada do trabalhador no FGTS, de importncia igual a 40% do montante acumulado durante a vigncia do contrato de trabalho (hiptese de despedida sem justa causa), ou o seguro-desemprego a que o demitido tem direito. Adicionalmente, no presente modelo, a nica diferena salarial entre o empregado com carteira assinada e aquele sem carteira o benefcio b, no havendo adicional de salrio ao empregado sem carteira. Deixa-se como sugesto para pesquisas futuras desenvolver novas verses do jogo relaxando essas hipteses, de forma a tornar o modelo mais prximo da realidade.

    refernciAs

    ACEMOGLU, D. Good jobs versus bad jobs. Journal of labor Economics, v. 19, n. 1, 2001.

    BANCO MUNDIAL; IPEA. Relatrio: empregos no Brasil, v. 1, 2002. (Seo Informativa sobre Poltica). .

    CACCIAMALI, M. As economias informal e submersa: conceitos e distribuio de renda. In: CAMACHO, J. M.; GIAMBIAGI, F. (Org.). Distribuio de renda no Brasil. So Paulo: Paz e Terra, 1991.

    CAMARGO, J. M. Flexibilidade e produtividade do mercado de trabalho brasileiro. In ______. (Org.). Flexibilidade do mercado de trabalho no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fundao Getlio Vargas. 1996.

    CARDOSO JR., J. C.; FERNANDES, S. A informalidade revisitada: evoluo nos ltimos 20 anos e mais uma hiptese para pesquisa. Mercado de Trabalho conjuntura e anlise, IPEA/MTE, n. 14, out. 2000.

    CORSEUIL, C. H.; RIBEIRO, E. P.; SANTOS, D. D.; DIAS, R. criao, destruio e realocao do em-prego no Brasil. IPEA, 2002. (Texto para Discusso, n. 855).

    EHRENBERG, R. G.; SMITH, R. S. a moderna economia do trabalho: teoria e poltica pblica. 5. ed. Makron Books, 2000.

    FERNANDES, F.; ROLLI, C. Justia do Trabalho s atende desempregado. Jornal Folha de So paulo, 5 maio 2003.

    FUDENBERG, D.; TIROLE, J. Game theory. 3. ed. Cambridge: The MIT Press, 1991.

    IPEA; MTE. Mercado de Trabalho - conjuntura e anlise, v. 24, Braslia: IPEA/MTE, 2004.

    MADALOZZO, R. C. ; MARTINS, S. R. . Gender wage gaps: comparing the 80s, 90s, and 00 in Brazil. In: 7TH GLOBAL CONFERENCE ON BUSINESS & ECONOMICS, Roma, 2007.

    MENEZES-FILHO, N. A.; MENDES, M.; ALMEIDA, E. S. O diferencial de salrios formal-informal: segmentao ou vis de seleo? Revista Brasileira de Economia, v. 58, n. 2., 2004.

    MINISTRIO DA PREVIDNCIA SOCIAL. conjuntura social. Braslia: Ministrio da Previdncia Social, v. 14, n. 1, maio-ago. 2003

  • Fernando B. Meneguin, Maurcio S. Bugarin 363

    Econ. aplic., 12(3): 341-363, jul-set 2008

    NERI, M. Empregos e negcios informais: subsdios para polticas. Mercado de trabalho conjuntura e anlise, IPEA/MTE, out. 2000.

    NERI, M. Diretos trabalhistas, encargos e informalidade. conjuntura Econmica, p. 38-41, set. 2000

    __________. Cobertura previdenciria: diagnstico e propostas. conjuntura Social. Ministrio da Pre-vidncia Social, maio-ago 2003.

    PERRy, G. E.; MALONEy, W. F.; ARIAS, O. S.; FAJNZyLBER, P.; MASON, A. D.; SAAVEDRA-CHANDUVI, J. informality exit and exclusion. World Bank, 2007.

    RAMOS, L.; BRITTO, M. o funcionamento do mercado de trabalho metropolitano brasileiro no perodo 1991-2002: tendncias, fatos estilizados e mudanas estruturais. IPEA, 2004. (Texto para Discusso, n. 1011).

    RAMOS, L.; FERREIRA, V. padres espacial e setorial da evoluo da informalidade no Brasil 1991-2003. IPEA, 2005. (Texto para Discusso, n. 1099).

    RAMOS, L. o desempenho recente do mercado de trabalho brasileiro: tendncias, fatos estilizados e padres espaciais. IPEA, 2007. (Texto para Discusso, n. 1255).

    RAUCH, J. E. Modelling the informal sector formally. Journal of Development Economics, v. 35, p. 33-47, 1991.

    RIBEIRO, R. N.; BUGARIN, M. N. S. Fatores determinantes e evoluo da economia submersa no Brasil. Estudos Econmicos, v. 33, n. 3, p. 435-466, 2003.

    SOARES, F. V. Some stylized facts of the informal sector in Brazil in the 1980s and 1990s. IPEA. 2004a. (Texto para Discusso, n. 1020).

    __________. Do informal workers queue for formal jobs in Brazil? IPEA, 2004b. (Texto para Discusso, n. 1021).

    TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABAHO. Relatrio geral da Justia do Trabalho. 2006.

    ULySSEA, G. informalidade no mercado de trabalho brasileiro: uma resenha da literatura. IPEA, 2005a. (Texto para Discusso, n. 1070).

    __________. instituies e a informalidade no mercado de trabalho. IPEA, 2005b. (Texto para Discusso, n. 1096).