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Universidade Cândido Mendes - UCAM
Diretoria de Projetos Especiais
Curso de Pós – Graduação Lato – Sensu - Psicopedagogia
“A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE ESCOLAR NO
DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE:
ESCOLA, AGENTE MODIFICADOR DO
COMPORTAMENTO INFANTIL”
Professora – Orientadora: Maria Esther de Araújo Oliveira
Ângela Oliveira da Silva Bernardino
Rio de Janeiro, _______ de ____________ de 2003.
Ângela Oliveira da Silva Bernardino
Aluna do curso de Pós- Graduação Lato Sensu em Psicopedagogia
“A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE ESCOLAR NO
DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE:
ESCOLA, AGENTE MODIFICADOR DO
COMPORTAMENTO INFANTIL”
Trabalho monográfico de conclusão do curso
de Pós - Graduação Lato Sensu em
Psicopedagogia, apresentado a UCAM como
requisito final para a obtenção do título de
Pós -Graduação em Psicopedagogia.
Professora – Orientadora: Maria Esther de Araújo Oliveira
Rio de Janeiro, _______ de ____________ de 2003.
“A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE ESCOLAR NO
DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE:
ESCOLA, AGENTE MODIFICADOR DO
COMPORTAMENTO INFANTIL”
Elaborada por Ângela Oliveira da Silva Bernardino
(Aluna do curso de Pós - Graduação Lato Sensu em Psicopedagogia da
UCAM)
Foi analisada e aprovada com:
_______ Grau _________
Rio de Janeiro, _______ de ____________ de 2003.
___________________________________________
Professora – Orientadora
Rio de Janeiro, _______ de ____________ de 2003.
Dedico a Deus, que com toda
certeza iluminou a confecção e o
aperfeiçoamento desse trabalho. A
Marina da Conceição de Oliveira,
minha mãe e primeira professora na
universidade da vida. E a você
Marcelo, amigo super especial que
durante todo o tempo esteve ao meu
lado.
Agradecimentos,
Agradeço com louvor a Deus por ter
me dado forças para chegar até aqui
cumprindo a minha missão, minha
filha Nayana pela alegria que me dá
e por ter suportado a minha ausência
e a minha amiga Luci que nos
momentos mais difíceis de minha
vida me apoiou me incentivou para
que eu não desistisse. E uma das
glórias do magistério são os
reencontros. Hoje minha monografia
foi digitada e formatada por uma
aluna das séries iniciais, onde
contribui nos seus primeiros passos
da vida. Obrigada Lú.
SUMÁRIO INTRODUÇÃO
CAPITULO I
1. PERSONALIDADE
CAPITULO II
2. COMPORTAMENTO E AGRESSIVIDADE
CAPITULO III
3. A ESCOLA E SUA FUNÇÃO SOCIAL
3.1- Relação como os iguais
3.2 - Relação com o professor
CAPÍTULO IV
4. METODOLOGIA
CAPÍTULO V
5. RELATO DE UM ESTUDO DE CASO
5.1 Como os iguais
5.2 Na sala de aula
5.3 Com a professora
5.4 Com a direção da escola
CAPÍTULO VI
6. ANÁLISE DO ESTUDO DE CASO
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANEXOS
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INTRODUÇÃO
Atualmente, a personalidade tem sido alvo de profundas discussões entre
os pesquisadores de diversas áreas. Os desvios de comportamento, especialmente a
agressividade e a indisciplina têm sido apontados pelos educadores como um dos
maiores problemas à aprendizagem das crianças.
Em recente reunião da ANPED (Associação Nacional de Pesquisa em
Educação), a questão da indisciplina foi abordada por Freller (1999:1) que afirmou:
“... a indisciplina na escola é considerada por pesquisadores, educadores, pais e até
pelos próprios alunos, como um dos maiores obstáculos à aprendizagem escolar”.
Durante os estágios de prática de ensino, observa-ser crianças com sérios
problemas de comportamento, que eram reforçados, na maioria das vezes, pelos
professores. Argumenta – se que estas crianças conseguem melhorar seu
comportamento com o apoio da escola. Para isso, o professor deve estar preparado
para lidar com estes problemas. Os comportamentos agressivos podem ser reforçados
ou amenizados de acordo com a postura do professor.
Estudos como estes são importantes, pois é necessário que os problemas
sejam sanados logo na infância, para que mais tarde as crianças não se tornem
adultos violentos, ficando assim difícil recupera-los.
“Essas pesquisas têm resultado em esclarecimentos úteis a
respeito da formação moral em crianças e adolescentes,
da influência da família e do meio social nesse processo e
da correspondência entre o desenvolvimento da
moralidade e a maturação intelectual” ( Krüger,
1988,p.40).
A escola exerce uma grande influência na vida da criança, é através dela
que aprende a lidar com sues desejos e suas frustrações. Se for recompensada, tende
a ser mais tolerante e menos exigente e agressiva.
“(...) a criança que recebe recompensas adequadas às
suas necessidades infantis tenderá a ser mais apta a
renunciar a seus hábitos de exigências e a aprender a
ser”.
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tolerante em suas frustrações futuras. (...) relações
infantis perturbadas podem deixar atrás de si feridas
insanáveis “(Allport, 1955,p.50-51)”.
Algumas escolas ainda não estão preparadas o suficiente para enfrentar
problemas como estes. O que se tem constatado são algumas instituições com
sistemas de ensino deficientes onde as mesmas acabam expulsando os alunos que
estão fora do padrão exigido. No que diz respeito às escolas públicas, estas nada
fazem, não podem expulsar, porém nenhum programa é desenvolvido para reverter
esta situação, e as crianças se tornam ainda mais agressivas. Em uma reportagem
publicada na Nova Escola (Glanternick, 1998), essa afirmação é confirmada, M.P de
10 anos de idade é criança agressiva, que bate em sues colegas e fala muitos
palavrões. Sempre acaba sendo expulsa das escolas, que só transferem o problema.
Especialistas acreditam que o prazer da aprendizagem é o primeiro passo para que
crianças nessa situação conquistem suas auto-estima e se integrem ao grupo
(Glanternick, 1998:39).
A interação da criança com os objetos é o objetivo principal da educação,
principalmente nos primeiros onze anos de vida. Assim, a criança age sobre o meio
transformando - o para primeiramente atender às suas necessidades e posteriormente
as do seu grupo.
“Os comportamentos indisciplinados são, geralmente,
entendidos como ataque à escola, patologia ou falta de
educação da criança. A intervenção dirige –se no sentido
de culpabilização, castigo, moralização ou
encaminhamento para o especialista”( Freller, 199, p.1)
Desse modo, os professores não refletem sobre sua influência a do
ambiente escolar na manutenção do comportamento. Precisam estar conscientes que
a escola tem uma importante função social, a de tentar modificar comportamentos
que são traços da personalidade e que estarão consolidados no final dos anos pré -
escolares.
Esta pesquisa tem como objetivo principal estudar a relação entre o
ambiente escolar e o comportamento da criança, além de dar subsídios aos
-10-
professores para uma reflexão e enriquecimento sobre suas influências e as do
ambiente escolar no comportamento das crianças, propiciando um maior
entendimento, visto que o tema é abordado em um contexto mais amplo onde várias
questões são estudadas.
Tem se realizado muitas pesquisas no que diz respeito a encontrar
soluções que modifiquem o comportamento da criança, mas são poucos os que
realmente se interessam em como está sendo utilizada a teoria na prática.
Para a realização desse estudo levaram – se em conta algumas questões:
• Como estão sendo resolvidas as questões relacionadas aos
problemas de comportamento?
• Como deve ser o ambiente escolar e até que ponto influencia na
formação da personalidade?
• As expectativas dos professores interferem na capacidade das
crianças?
Nos três primeiros capítulos, será desenvolvida a fundamentação teórica
da pesquisa. No certo, o tema abordado pretende ambientar o leitor, conceituando a
formação da personalidade, de forma ampla, e em seguida, nos dois últimos
capítulos, o Comportamento e Agressividade, dando ênfase a questão da
agressividade; e A Escola e sua Função Social, finalizando como o questionamento
da função da pré – escola e suas relações e influências na criança.
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CAPÍTULO I
PERSONALIDADE
O tema personalidade e sua formação têm sido ao logo da história alvo de
discussões e estudos entre vários autores como Freud, Wallon, Bandura, entre outros.
Um estudo importante a ser considerado para a realização desta pesquisas
é a construção da personalidade moral, que se dá segundo Puig (1996), através da
adaptação à sociedade e a si próprio, a crenças, valores culturais e hábitos morais que
ajudarão na construção do eu. Nesta visão a educação moral assume um papel
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importante na socialização, valores como justiça, liberdade e igualdade aprendidas
pelo sujeito, seja no ambiente escolar ou familiar, serão imprescindíveis na formação
da personalidade.
Na ótica de Vayer (1986), a personalidade é construída pelas interações
ser – mundo, essas interações se dão através de sensações, percepções e ações
corporais. Vayer se baseou nas teorias de Wallon (1965) que afirmava ser durante o
desenvolvimento da criança que sua personalidade se forma. Para Wallon (1965), é
durante os primeiros anos de vida da criança que a personalidade dá inicio a sua
formação. Afirmava ainda que os primeiros contatos da criança como meio se dão
através da emoção.
Desde muito cedo a criança reconhece e interage como os objetos,
estabelecendo relações, percebendo assim através da discussão a sociedade em que
vive.
Wallon (1965) afirmava que a fala e a marcha são de extrema importância
para a diversificação das relações da criança com o mundo, fator importante na
formação da personalidade.
Para Allport (1961:50-51) “a personalidade é a organização dinâmica,
no indivíduo, dos sistemas psicofísicos que determinam seu comportamento e seu
pensamento característico”. A personalidade assume um caráter essencialista,
possuindo uma estrutura intern apropria existem na pessoa que se forma através s da
interiorização de padrões que conduzem a atividade, ao pensamento e ao
comportamento. Nosso comportamento e pensamento, além de nos ajustar ao mio,
nos fazem agir sobre ele.
Allport (1955:35) acreditava que “a personalidade é menos um produto
acabado que um processo transitivo. Ainda que tenha alguns aspectos estáveis está
ao mesmo tempo continuamente sofrendo mudanças”.
A aprendizagem, nesta visão, tem uma importância fundamental no
processo de desenvolvimento da personalidade, tem o objetivo de formar estruturas
mentais mais ou menos estáveis como a consciência moral, autoconceito e a
personalidade. Para ele a personalidade se desenvolve através das possibilidades
individuais como a auto – consciência, auto – crítica e não unicamente por impulsos
comuns a toda espécie.
-13-
Castiello (1958:28) afirma que:
“Formar uma personalidade é alguma coisa mais do que
produzir um advogado, um médico ou um engenheiro
capaz, (...) Além de ser um profissional, o homem é um ser
moral e social. Deve estar integrado no mundo que o
rodeia e deve aprender a disciplinar sua vida à luz dos
princípios morais.”
Segundo Castiello (1958), há a necessidade de proporcionar ao indivíduo
uma educação moral, formar o homem como um todo, um ser social, ativo e criativo,
pensante e crítico não somente uma máquina dotada de técnicas que empregará no
mercado de trabalho. Para ele os elementos fundamentais da personalidade são o
pensamento, a criatividade e a formação do “eu”. A educação foi definida como “a
transformação da matéria prima da natureza humano na unidade rica e harmoniosa
duma personalidade”.(Castiello, 1958:189)
Para Lundin (1974:6) “personalidade é a organização do equipamento
comportamental singular que cada indivíduo adquiriu sob as condições especiais de
seu desenvolvimento”.Lundin (1974:7) afirma que o comportamento sofre mudanças
resultantes das experiências como o meio. Essas mudanças são entendidas como
aprendizagem ou condicionamento. Afirma ainda que “nossas personalidades vêm a
ser moldadas pelo tipo de cultura e sociedade em que vivemos”.
Mussen, Conger e Kagan (1977), assim como Lundin (1974) acreditam
que a personalidade da criança se forma a partir da interação como o meio social em
que vivem, porém acreditam que as características das personalidades se tornam mais
claras aos cinco anos, devido ao fato de nesta idade as crianças serem capazes de
adquirir novos padrões de resposta e interagir mais com o meio social em que vivem.
Mussen, Conger e Kagan (1977: 303) definem personalidade como “a
organização total ou ao padrão de características do indivíduo, as formas de pensar,
sentir e comportar - se, reveladoras da peculiaridade de seus meios de relacionar-se
como ambiente e adaptar-se a ele (...)”.
-14-
CAPÍTULO II
COMPORTAMENTO E AGRESSIVIDADE
Em recente matéria apresentada em um jornal (Jornal O GLOBO,
25/04/99, p.1) sobre fatores ligados à personalidade, é feito um alerta sobre a
influência do comportamento dos pais no comportamento apresentado pelas crianças.
Este tema tem sido freqüentemente alvo de discussões nas áreas da educação e da
psicologia.
“O que chamamos comportamento são manifestações
visíveis das interações e inter – relações ser-mundo. As
qualidades da personalidade, isto é , o que os outros
percebem, e também as capacidades gerais das pessoas de
se adaptar ou de se afirmar diante do mundo presente vão
depender da qualidade das comunicações assumidas e
vividas pelo sujeito” (Vayer, 1986, p: 34).
Estas manifestações da personalidade se moldam de acordo com as trocas
indivíduo – meio, vividas pelo sujeito. As trocas são muito importantes na
construção da personalidade.
Segundo Jover (1998), é necessário que o professo esqueças as frases
prontas que rotulam o adolescente como revoltado e as crianças como naturalmente
egocêntricas e indisciplinadas. Para ela “ninguém nasce rebelde ou indisciplinado:
trata - se de um comportamento construído” (Jover, 1998, p: 35).
Carmichael (1975) acredita que se houver reforço ao comportamento
apresentado pela criança, o mesmo será fortalecido. Os comportamentos agressivos
podem ser observados nas relações sociais entre as crianças como os colegas e a
família. O controle deste se torna um problema constante na vida da criança que
precisa inibir sua ira e adequar suas agressividade ao grau de frustração sofrida. Em
alguns casos, as crianças têm determinados comportamentos para conseguir realizar
desejos e necessidades internas.
-15-
Segundo Allport (1955: 91) “todo comportamento tende à eliminação do
estado de excitação, do equilíbrio, ou, em palavras técnicas, a redução do
impulso”.Quanto maior for a perturbação, maior será a necessidade de redução da
tensão. Para ele, todo comportamento tende a resolver um problema que incomoda o
indivíduo em determinado momento. Agimos de um certo modo para conseguir o
que queremos ou para resolver um problema que nos aflige. Para este autor, além de
estabilidade queremos variedade; “ao aprender certos modos de reduzir tensão,
abandonamos velhos hábitos e arriscamo – nos a procurar novas maneiras de
conduta” ( Allport, 1955:92).
Allport (1961) considera existirem dois tipos de comportamento:
expressivo, inconsciente e incontrolável: e instrumental, definido como intencional,
motivado, determinado pela situação do momento, formal, controlado, inibido,
transformador do meio e consciente. Este último será de maior importância para o
presente estudo, uma vez que se pode ser controlado ou inibido nos leva a uma
reflexão sobre como a escola influi e até que ponto modifica o mesmo.
Segundo Lundin (1974:39), “uma das reações mais comuns à frustração é a
agressão”. A agressão é uma conseqüência da frustração, onde houver agressão
pressupõe – se a presença da frustração.
Os comportamentos agressivos segundo Mussen, Conger e Kagan (1977:
308) “são ações cuja intenção é causar dano ou ansiedade nos outros, incluindo
bater, chutar, destruir, propriedade, discutir, depreciar e atacar verbalmente outras
pessoas e resistir a pedidos”. Para esses autores as formas de exibição o grau de
agressão apresentada pelas crianças dependem de fatores como a intensidade da
motivação hostil definida por eles como “motivação ou o desejo de magoar alguém
(1977:308)”, o grau de frustração exercida pelo ambiente que está inserida, os
reforços que recebe pelos comportamentos agressivos, entre outros.
Segundo Mussen, Conger e Kagan (1977: 308) a frustração pode ser
entendida como “(...) os que bloqueiam o comportamento de buscar atingir
objetivos, ameaçam a auto-estima do indivíduo ou privam – no da oportunidade de
gratificar algum motivo forte”. A agressão é entendida como uma reação à
frustração. A agressão e a frustração, para esses autores têm a mesma relação que
têm para Ludin (1974).
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Bee (1984) considera que a forma de agressão muda conforme o avanço da
idade, esta mudança deve –ser ao fato doa aprimoramento da linguagem.
Provavelmente as crianças de 2 ou 3 anos de idade agridem muito mais fisicamente
os colegas do que as crianças maiores. Estas têm uma maior domínio da linguagem e
podem “insultar” ao invés de simplesmente bater.
Para Bee (1984:292) “(...) na maioria das escolas maternais, agressão é
uma tática muito bem sucedida. As crianças freqüentemente conseguem o que
querem dessa maneira”. Se houver reforço após o comportamento apresentado pela
criança, esta se sente recompensada e tende a tornar - se cada vez mais agressiva. O
reforço pode ser tanto o ato de revidar à agressão sofrida quanto, por exemplo,
entregar ao agressor o objeto desejado por ele.
CAPÍTULO III
A ESCOLA E SUA FUNÇÃO SOCIAL
Segundo Krüger (1998), a escola tem uma importante função social, a
educação possibilita mudanças significativas no comportamento e na personalidade
através de experiências com o meio, e não somente pela hereditariedade.
Para Moreno e Cubero (in: Koll, Palácios & Marchesi,1993) as diversas
culturas possuem sistemas organizados que têm a função de preparar os indivíduos
para a incorporação ao meio social. A escola nesta visão assume um importante
papel na socialização da criança. A pré – escola, neste conceito, propõe um
desenvolvimento diferenciado do que é proporcionado pela família. São dois
-17-
contextos diferentes em que a criança apreende comportamentos, regras e métodos
de comunicação característicos.
López (in: Koll, Palácios & Marchesi, 1993) cita a importância da
educação infantil para um aprimoramento da socialização da criança e uma educação
porfissional diferente da que é transmitida pela família. Em casos onde a criança é
filha única ou o ambiente familiar é depravado, a escola é mais importante ainda.
Mussen, Conger e Kagan (1977) enfatizam a importância do tamanho da
escola para a construção da personalidade da criança. Quando a escola é grande e
possui turmas numerosas, os professores acabam tendo que se utilizar o controle, da
limitação, da disciplina e estipular regras de convivência em grupo. Nas escolas
pequenas, os professores não precisam estipular regras tão rígidas de comportamento
e a interação professor – aluno é bem mais freqüente e possível.
Gardner (1994) afirma que é na pré – escola que se dá à consolidação da
visão de mundo da criança. Não só dos aspectos cognitivos, como também o
temperamento e a personalidade, que representam o modo como enfrenta problemas
e enigmas. No que se refere à personalidade, cada criança é única e individual e és
essa individualidade que vai interferir no modo como ela lida com o meio ambiente e
as lições escolares,
Um fator de muita importância para Gardner (1994) são os fatores
culturais e sociais e sua influência na formação da personalidade. Gardner (1994) dá
uma valiosa contribuição para a pesquisa pelo fato de relatar a influência da cultura
escolar na formação de valores, crenças e comportamentos da criança.
“(...) valores a respeito do comportamento e conjunto de
crenças (...) freqüentemente exercem um efeito muito
poderoso sobre as ações e reações infantis. Em algumas
culturas cedo é delineado um limite entre a esfera moral,
onde as violações merecem sanções severas, e a esfera
convencional, onde as práticas são simplesmente uma
questão de gosto ou costume; em outras culturas, todas as
práticas são avaliadas segundo uma única dimensão de
moralidade” (Gardner, 1994: 90).
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As crianças acabam levando consigo uma gama de estereótipos, modelos,
crenças e roteiros que ao passar do tempo continuarão a afetar seus gostos e
preferências ficando muito difícil de mudar. As crianças “tornar – se – ão mais
habilitadas naquelas atividades que atraem seus interesses e seus esforços e que são
valorizadas pelos pares e adultos de seu ambiente” (Gardner, 1994: 94).
A afirmação acima nos remete a duas questões importantes a serem
consideradas neste estudo: a influência dos iguais e do professor no comportamento
nas crianças.
3.1- Relação com os iguais
As crianças passam a se desvencilhar dos pais com o passar dos anos e
um dos motivos é o aumento da capacidade de comunicação e pensamento que
segundo Bee (1984) se desenvolvem entre os 2 e 5 anos. As outras crianças,
definidas nesta pesquisa como iguais, passam a exercer maior influência, tornando –
se mais importantes no processo de socialização. A socialização é entendida por
López (in: Koll, Palácios & Marchesi, 1993: 82) como “(...) uma interação entre a
criança e seu meio”.
Bee (1984) acredita que os grupos continuam se formando além dos anos
pré – escolares e aumentam durante os anos escolares. Os amigos em geral são do
mesmo sexo e se unem em torno de um objetivo comum, seja para se divertir ou para
praticar algum esporte.
“Ser aceito pelos companheiros é uma das fortes necessidades das
crianças e dos adolescentes” (Mussen, Conger e Kagan,1977:417). Segundo esses
autores, os iguais podem influenciar a vida acadêmica dos colegas, fortalecendo ou
enfraquecendo – a. Em alguns grupos, o sucesso durante a vida escolar é muito
valorizado, os mais estudiosos são reconhecidos como melhores e cooperativos. Já
em outros grupos, os iguais valorizam o fracasso escolar não reforçando o êxito
acadêmico.
“(...) o grupo de companheiros ajuda a criança a
desenvolver um conceito de si própria. Os modos pelos
quais o grupo reage a ela, bem co as bases nas quais é
aceita ou rejeitada, dão – lhe uma idéia mais clara e
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talvez mais realista de seus pontos negativos e positivos”
(Mussen, Conger e Kagan,1977: 426).
Através da conversa com os iguais, as crianças podem perceber que não
são as únicas a sofrerem certos problemas ou terem sentimentos complexos, o que
pode ser muito importante e confortante.
Segundo Moreno e Cubero (in: Koll, Palácios & Marchesi, 1993) a escola
não só influi na transmissão do saber científico, como também na socialização e na
individualização da criança, suas relações afetivas e no desenvolvimento da
sexualidade. Na escola, ela tem a oportunidade de conhecer outras crianças e ampliar
suas relações sociais, além de poder interagir com adultos que não fazem parte de seu
ambiente familiar.
As interações entre os pré – escolares contribuem para o controle da
agressividade, coordenação de ações e a formação de uma conduta pró – social,
algumas crianças são aceitas ou não pelo grupo de acordo com suas características da
personalidade. São isoladas por serem consideradas agressivas violam regras,
provocam brigas e estão sempre em conflito como professor. Por outro lado, são
aceitas se possuem o espírito de cooperação e amizade.
As autoras, assim como Bee (1984) consideram a relação dos iguais como
sendo freqüente durante toda a vida escolar da criança. Mesmo exercendo muitas
atividades individuais no início de sua escolarização, acabam por desenvolver
atividades em grupo, estas vão se tornando mais freqüentes à medida que os anos
escolares avançam.
”Parece, contudo que as preferências sociais dos pré –
escolares quando são perguntados sobre seus iguais
relacionam – se aos comportamentos de amizade,
cooperação e ajuda, bem como à participação do grupo e
ap cumprimento das regras” (Moreno e Cubero in: Koll,
Palácios & Marchesi, 1993:201).
Nos grupos escolares as crianças acabam preferindo ou rejeitando outras
crianças. As crianças que violam regras e provocam brigas acabam sendo isolada do
grupo. Acredita – se que as crianças agressivas têm um status abaixo, ao passo que as
cordiais, têm um alto “status” e influenciam o comportamento dos colegas.
-20-
3.2 - Relação com o professor
A conduta do professor em relação ao aluno será determinante para o auto
– conceito da criança, pois os sentimentos que o aluno tem sobe si mesmo dependem
em grande parte dos comportamentos que percebe que professor tem em relação à
ele. (Moreno e Cuberoin: Koll, Palácios & Marchesi, 1993).
Se o professor demonstrar confiança e boas expectativas ao aluno, este se
orna confiante e capaz de obter bons resultados acadêmicos ao passo que se o
professor demonstrar – se inseguro e desconfiado, o aluno sente – se incapaz e
conseqüentemente irá fracassar.
Esta afirmação nos leva a refletir sobre como o professor interfere na
capacidade intelectual das crianças, podendo conduzi – la ao fracasso ou ao sucesso,
Silva (1996) acredita que se o professor e o aluno não se gostam, o
aprendizado fica muito difícil. Wanderli (por Silva, 1996) considera que “Além de se
preocupar como o conteúdo didático, ele deve se lembrar de que suas atitudes
afetam o desenvolvimento da personalidade das crianças” (1996: 18).
É nas séries iniciais que as crianças passam a maior parte do tempo com
um só professor, fazendo dele uma figura de muita importância. Segundo Wanderli
(por Silva, 1996: 19) “É o professor quem encaminha a crianças na passagem do
meio familiar para o desconhecido mundo da escola”.
“Dentre os fatores situacionais que afetam o ajustamento e o progresso da
criança, no ambiente escolar, o relacionamento professor – aluno é possivelmente, o
mais importante” (Mussen, Conger e Kagan,1977:406).
No início da vida escolar, o professor tem um papel central na vida da
criança. Esta importância perdura em toda a vida escolar. Os professores que as
crianças terão, determinarão se as suas experiências acadêmicas facilitarão seu
sucesso ou aumentarão suas dificuldades, provocando frustrações.
“Recompensam a ordem, a obediência, a cooperação e a
limpeza, punindo o esbanjamento, a falta de
responsabilidade, a mentira e a agressividade. Muitas
professoras afirmam que roubar, enganar, mentir e
desobedecer são os crimes mais sérios que uma criança
-21-
pequena pode cometer. É fácil verificar que os padrões
anteriores de reforços e punições familiares podem
facilitar o ajustamento inicial de meninas aos valores dos
professores” (Mussen, Conger e Kagan,1977:406).
Segundo estes autores, a ordem e a não – exibição de comportamentos
agressivos são características femininas, enquanto que desleixo e travessuras são
comportamentos tipicamente masculinos.
As crianças obtêm melhores resultados com professores democráticos e
competentes que estabelece padrões e objetivos. Estes professores despertam o gosto
da criança pela aprendizagem, sem perderam a disciplina e a liderança. Segundo
Mussen, Conger e Kagan (1977) os professores influenciam no comportamento de
seus alunos de várias formas, se o professor é impulsivo as crianças tendem a ficar
impulsivas, se é cuidadoso, as crianças tendem a ficar mais cuidadosas.
Em um recente entrevista como educador Veiga – Neto (por Vikttor,
199) a questão da importância do professor também é relatada. “O educador,
desenvolvendo esse modo de comunicação criativa com o jovem, terá uma ação
muito eficaz, porque é isso que configura o perfil do que os alunos entendem como
sendo um bom professor” (Veiga – Neto, por Viktor, 1999: 6).
O bom professor passa a ser admirado e respeitado pelos alunos, servindo
de referência para os mesmos, visto o tempo que passa com ele. Como o professor,
os alunos têm possibilidade de crescer. O professor tem a possibilidade de educar e
impor limites, limites que por outro lado, promove aberturas para situações.
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CAPÍTULO IV
METODOLOGIA
A personalidade da criança deve ser observada no seu mundo exterior,
pois é neste mundo que manifesta suas reações, quando colocada diante de diversas
situações. Segundo Freud (1985:26) “Uma multidão de atitudes, atividades e
atributos é exibida abertamente pela criança, na vida familiar ou escolar facilitando
assim o trabalho do observador”.
Realizei ume estudo etnográfico em uma escola particular localizada no
bairro de Jacarepaguá, no estado do Rio de Janeiro, de março a julho. A clientela é
composta por crianças de classe média, ma maioria residentes próximas à escola.
Retive – me no ambiente onde houve o maior contato que promovesse a socialização,
como o objetivo de identificar os padrões de comportamentos existentes e como
estão sendo tratados os alunos agressivos com possíveis distúrbios de
comportamento.
Segundo Lüdke e André (1986: 11), “Por exemplo, se a questão que está
sendo estudada é a da indisciplina escolar, o pesquisador procurará presenciar o
maior número de situações em que esta se manifeste (...)”.
A escolha da metodologia qualitativa deve-se ao fato de que pretendo
com a pesquisa levar os sujeitos envolvidos a refletirem sobre suas práticas na
tentativa de uma possível modificação. Entendo também que esta metodologia
procura investigar o processo e não o produto final, essencial para a realização da
pesquisa.
Para Lüdke e André “(...) podemos dizer que o estudo”qualitativo“
ou”naturalístico” encerra um grande potencial para conhecer e compreender
melhor os problemas da escola (1986: 24)”.
Os instrumentos de coletas de dados utilizados para a realização da
pesquisa foram à observação, analisas no capítulo seis e o questionário aplicado à
professora da turma, analisado no capítulo sete, que consiste em sete perguntas sobre
-23-
as regras e os comportamentos dos alunos apresentados em classe. Para Lüdke e
André o ato de observar possibilita um contato maior do pesquisador com o aspecto
pesquisado. Através da observação podemos verificar se um determinado fenômeno
acontece ou não.
“(...), para compreender melhor a manifestação geral de
um problema, as ações, as percepções, os comportamentos
e as interações das pessoas devem ser relacionadas à
situação específica onde ocorrem ou a problemática
determinada a que estão ligadas” (Lüdke e André, 1986:
18- 19).
A observação foi feita como propósito de propor ao final da pesquisa
possíveis soluções para a recuperação das crianças que apresentam problemas de
comportamento; além de verificar se as respostas dadas pelo professor da instituição
são coerentes com sua prática.
Este estudo objetiva dar subsídios aos professores para uma reflexão e
enriquecimento sobre suas influências e a do ambiente escolar no comportamento das
crianças, propiciando uma maior entendimento, visto que o tema é abordado em um
contexto mais amplo, onde há várias questões são estudadas.
CAPÍTULO V
RELATO DE UM ESTUDO DE CASO
A turma observada é composta de vinte crianças entre seis e sete anos de
idade. A turma é bem homogênea quanto ao comportamento. São falantes, agitados,
carinhosos e questionadores, solicitam bastante a professora. Algumas crianças têm
dificuldade com a leitura, mas são poucas as que apresentam esta dificuldade.
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A maioria mantém uma boa relação com a professora, são amistosos e
parecem aceitar bem as regras estipuladas.Esta é paciente e atenciosa, quando
alguma criança viola as regras adotadas por ela, imediatamente é chamada para uma
conversa em particular, se persistir no erro é encaminhada até a coordenação da
escola. Se duas ou mais crianças violam as regras ao mesmo tempo, como brigar ou
começar a gritar e fazer bagunça, ela imediatamente reúne toda a turma e recoloca
todas as regras, passando um bom tempo conversando com elas.
Durante o período de observação constatei uma criança com problemas de
comportamentos, sendo a seguir relatado.
D., de sete anos de idade, é uma criança de comportamentos agressivos.
Se irrita quando é contrariado, chora muito quando não consegue o que quer, fala
palavrões para os colegas, está sempre implicando com os outros. Fica com a
empregada, sua mãe trabalha, era ela quem o levava e buscava todo dia na escola e
quem o ajudava nas lições da escola.
D. adora fantasiar as situações, um dia me disse que suas costas estavam
doendo porque não estava acostumado a sentar em cadeiras comuns, só sentava em
barcos. Quando eu disse que precisava se acostumar a sentar nessas cadeiras porque
na escola só tem cadeiras comuns, aceitou e foi sentar – se sem reclamar.
D. só gostava de desenhar cenas de violência, a família com armas
brigando ou figuras estranhas sem definição. Quando desenhou um palhaço ceio com
muito orgulho nos mostrar dizendo: _ Olha só o meu palhaço, não é assustador? A
professora da turma respondeu dizendo que era assustador e engraçado, depois
propôs a ele que fizesse desenhos mais coloridos, alegres. Deu outra folha a ele e
pediu que fizesse outro desenho, D. voltou com outro desenho bem colorido e rico,
havia feito bonecos em um castelo. Passei então a pedir que fizesse sempre esses
desenhos, o que deu resultado, todas as vezes que fazia um desenho vinha nos
mostrar todo alegre.
5.1 Com os iguais
Ficava sempre sozinho, tanto na sala de aula quanto no recreio, implicava
muito com as crianças, se estavam quietas as perturbava e quando reclamavam as
imitava, repetindo tudo o que elas falavam com ironia. As crianças tinham
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dificuldade em aceita – lo, não queriam brincar com ele, queixavam – se sempre que
atrapalhava a brincadeira porque batia nelas ou porque falava palavrões.
Era aceito por poucos meninos, os mais indisciplinados, mas acabava
saindo da brincadeira porque os colegas alegavam que ele não sabia brincar do modo
deles e queria que fosse do jeito que ele falava. D. acabava chorando e ficando só,
passava o resto do tempo que tinha livre sentando e irritado.
5.2 Na sala de aula
Além de não ser muito aceito na hora das brincadeiras, sofria o mesmo
problema dentro da sala de aula, as crianças não o ajudavam nos exercícios porque
diziam que ele não sabia nada. D. tinha dificuldade na leitura e na escrita, entrou
nesta escola depois que o ano letivo havia começado, pois veio expulso de outra
instituição por problemas de comportamento.
Conseguia resolver os problemas de matemática com facilidade, resolvia
– os rapidamente e sozinho, não precisava de ajuda, quando terminava me chamava
pra perguntar se estava correto, se a resposta fosse positiva, sorria. O mesmo não
acontecia com os exercícios de português, sempre chorava quando não conseguia ler
ou escrever as palavras, não conhecia as letras, nem mesmo as do seu nome.
Precisava da minha ajuda e a da professora para fazer os exercícios, os trabalhos de
casa voltavam na maioria das vezes sem terem sido feitos. D. ficava com a
empregada, sua mãe trabalhava e não podia ajuda – li e a empregada, por sua vez,
fazia o mesmo.
D. mentia muito, pegava o material dos colegas sem que eles percebessem
e dizia que era dele ou o colega havia emprestado. Certo dia pegou um objeto da
colega que estava sentada ao lado dele, a menina pediu que devolvesse e D.
respondeu que não iria porque era dele. A menina me chamou e pediu que eu
resolvesse, quando pedi que entregasse a borracha ele me responde: _ A borracha é
minha, eu ganhei no aniversário do meu primo. Eu sabia que a borracha não era dele,
guardei – a e esperei que a professora resolvesse o caso, uma vez que não possuía
liberdade para decidir. Este caso não foi resolvido, a professora esqueceu e a menina
também, não pediu mais sua borracha.
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5.3 No pátio
Uma situação que me chamou atenção foi quando D. desceu para o pátio
da escola com um pirulito na mão, todos estavam brincando e ele estava sozinho.
Começou a chutar o brinquedo que era à base do pirulito, até que este quebrasse,
quando viu que o brinquedo quebrou sentou no chão e começou a chorar, me
aproximei dele e perguntei o porque de estar chorando e me respondeu dizendo que
havia perdido o brinquedo. Quando mostrei a ele seu brinquedo D. disse que aquele
não era o dele, o dele era verde, mostrei novamente dizendo que aquele era verde e
ele insistiu dizendo que não, agora com a desculpa de estar quebrado. Como insisti
mostrando a ele que estava quebrado porque o havia chutado, chorou ainda mais,
negando que havia quebrado o brinquedo.
5.3 Com a professora
Era uma criança que não solicitava muito a professora, ficava sempre
sozinho, às vezes pedia ajuda, mas queria que fosse rápido, que a professora o
atendesse na hora e se revoltava quando ela não podia atende-lo porque estava com
outra criança. Começava então a implicar novamente com os colegas. Exigia que
fôssemos atende-lo na hora em que nos chamasse, dizia que já estava cansado de
esperar e seu braço estava doendo de tanto ficar levantado.1
Quando a professora brigava com ele ficava ainda mais irritado, largava o
lápis e não fazia mais nada, só chorava, no entanto, quando a professora esperava a
turma sair para o recreio e conversava com ele sozinho e com calma suas reações
eram melhores, pedia desculpas e ficava mais tranqüilo durante a aula.
5.4 Com a direção da escola
Na hora da entrada e do recreio as coordenadoras e professora ficam no
pátio observando as crianças, se houver alguém criando problemas, primeiro
chamam a atenção e se continuar, fica na coordenação e só sai de lá quando começar
a aula, acompanhada da coordenadora.
1 Regra adotada pela professora, só atendia a criança que estivesse com o braço levantado.
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Com o passar do tempo D. foi melhorando seu comportamento, a
coordenadora pediu a mãe que viesse à escola para uma conversa na qual a
professora da turma também participou. Começou a participar das aulas de apoio
com a professora da turma e sua mãe passou a ir mais na escola, a coordenadora a
conversava muito com a mãe e com a criança. Quando a professo não consegui
controlar D. o levava para a direção e lá ele ficava um tempo conversando com a
coordenadora, voltava ainda um pouco irritado, porém mais tranqüilo.
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CAPÍTULO VI
ANÁLISE DO ESTUDO DE CASO
D. era uma criança com comportamentos agressivos, os quais com a sua
experiência com a professora da turma e com acompanhamento pedagógico, foram
amenizados. Através da aprendizagem e da interação como o meio, D. teve a
possibilidade de modificar seus comportamentos. Esta afirmação nos remete a Alport
(1961) que considera ser a personalidade um processo transitivo e contínuo que
sempre sofre mudanças. Para Alport (1961) a aprendizagem é essencial a formação
da personalidade.
D. após várias conversas com a professora e a coordenadora se adaptou as
regras da escola. Passou a ser mais aceito entre as crianças uma vez que mudou seu
comportamento, entendidos por Ludin (1974) como característica da personalidade.
As mudanças são entendidas por Ludin como aprendizagem ou condicionamento. A
personalidade é moldada pelo tipo de cultura e sociedade em que vivemos.
D. chorava muito quando não conseguia o que queria, se irritava quando
contrariado, falava palavrões e mentia, tinha comportamentos definidos como
agressivos por Mussen, Conger e Kagan (1977) por causarem danos e provocarem
ansiedades nas outras pessoas. Os comportamentos de D. podem ser entendidos
como instrumentais segundo Alport (2961), por ser motivado e determinado pela
situação do momento, uma vez que se revoltava sempre que a professora não podia
atende – lo.
Carmichael (1975) acredita que se houver reforço ao comportamento
apresentado pela criança, o mesmo será fortalecido, por isso quando a professora
brigava com ele, ficava ainda mais irritado, ao passo que se parasse e conversasse
com ele, ficava mais tranqüilo durante a aula.
Conforme mencionado no capítulo cinco, D. não tinha uma boa relação
como os colegas, estava sempre implicando com eles, falava palavrões, batia e os
imitava, o que fazia com que ele o isolassem, não gostavam de ajuda-lo nem de
brincar com ele.
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Este isolamento era prejudicial para D. Segundo Moreno e Cubero (in:
Koll, Palacios & Marchesi, 1993) acaba não permitindo a interação entre eles. A
interação é importante porque contribui para o controle da agressividade,
coordenação de ações e a formação de uma conduta pró-social.
Moreno e Cubero (in: Koll, Palacios & Marchesi, 1993) afirmam que as
crianças acabam preferindo ou rejeitando as outras essa rejeição é devida ao fato das
crianças violarem regras ou provocarem brigas.
A professora de D. contribuiu muito para a sua mudança de
comportamento. Com sua ajuda, D. começou a mudar, se tornar mais tranqüilo e a
aprender, entre outras coisas, a ler e a escrever. A professora, durante todo o período
da observação, mostrou –se paciente e encorajadora, atendia D. em horas extras,
geralmente antes do horário da aula, sempre lhe dizendo que era capaz. Moreno e
Cubero (in: Koll, Palacios & Marchesi, 1993) afirmam que a conduta do professores
em relação ao aluno tem sobre si mesmo dependem em grande parte dos
comportamentos que percebe que o professor tem em relação a ele.
A escola tem uma importância muito grande na formação da
personalidade da criança D. foi expulso de uma escola por apresentar
comportamentos agressivos, poderia acontecer o mesmo neta escola em que está se
esta adotasse os mesmos métodos de disciplina. A escola observada não possuía um
espaço físico muito grande, o que segundo Mussen, Conger e Kagan (1977), é
importante para a construção da personalidade da criança.
Os professores e coordenadores estão sempre presentes, no pátio, na hora
do recreio, da entrada e da saída, observando todas as atitudes dos alunos primando
sempre pela socialização e a boa convivência. Segundo Mussen, Conger e Kagan
(1977), nas escolas pequenas os professores não precisam estipular regras tão rígidas
de comportamento e a interação professor – aluno é bem mais freqüente e possível.
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CONCLUSÃO
Com esta pesquisa procurou-se observar com a escola influencia na
formação da personalidade infantil, se pode ou não modificar o comportamento
infantil.
Segundo a professora da turma observada é importante colocar as regras
no início das aulas, mesmo para as crianças pequenas, sendo nesta fase mais
importante, para ela, a colocação das regras e a imposição de limites facilita o
relacionamento como os alunos. “As questões dos valores, ética, cidadania são todos
imbuídos de regras de comportamento, que de uma forma ou de outra impõem
limites e disciplinam a turma”.
A professora afirma que não tem muitos problemas com alunos agressivos
e indisciplinados. São poucas as crianças que lhe causam este tipo de problema. Na
sua opinião isso se deve ao fato do constante contato com a direção da escola com as
crianças e os pais das crianças. Estes são convocados a comparecerem na escola para
conversar quando as crianças apresentam comportamentos agressivos constantes. A
conversa, para a professora é o melhor que se tem a fazer nestes casos. Toda vez que
algum aluno seu quebra alguma regra, ela o chama para conversar e coloca todas as
regras novamente. “Em qualquer ambiente escolar sempre ocorre indisciplina, mas
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com o uso do diálogo, de forma democrática e justa procurei resolver junto aos
alunos e professores como a melhor forma de se evitar tais problemas”.
Admite que tem um aluno seu com problemas de comportamento, mas que
ela e a direção da escola juntamente com a mãe da criança (especificamente neste
caso), estão unidas para encontrar ma solução que já vem obtendo algum sucesso.
“Sempre temos reuniões com a direção e a coordenação pedagógica, de forma a
trabalhar individualmente a dificuldade ou problema da criança”.
“Todas as escolas devem sempre trabalhar com os pais e as crianças, de
modo a compreender as reais causas da agressividade, contribuindo assim para a
resolução do problema”.
O professor influencia na vida escolar de seus alunos, pode amenizar
problemas de comportamento, levando seus alunos a obterem sucesso ou fracasso
durante a vida acadêmica.
O depoimento da professora confirma os autores citados no referencial
teórico. As questões respondidas por ela a careca da importância da colocação das
regras e limites e a resolução adotada pela escola para problemas relativos ao
comportamento agressivo encontram respaldo em Jover (1998), Carmichael (1975),
Allport (1931) e Krüger (1988).
Com a observação e o questionário aplicado à professora da turma,
observou-se que sua teoria e prática são coerentes, é uma profissional preocupada
com seus alunos. Está na escola há três anos e possui nível superior completo, é o seu
primeiro ano como professora nesta escola, mas desenvolve um bom trabalho,
sempre preocupada com a harmonia em sala.
Como desenvolvimento da pesquisa realizada em uma instituição particular
no Rio de Janeiro diagnosticou - se que a escola contribui para a formação da
personalidade da criança, sendo capaz de modificar certos comportamentos.
Percebeu –se que as crianças agressivas, se reforçadas tendem a ser mais
agressivas, ao passo que se o professor mudar seu comportamento em relação à
criança, enfatizando a aprendizagem, esta modificará seu comportamento.
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Outro aspecto percebido foi à relação que os iguais têm com crianças
agressivas, tendem a isola-las do grupo, não deixando que elas participem de
nenhuma atividade.
Evidenciou – seque se a escola procura desenvolver não só intelectual da
criança como também sua personalidade através da transmissão de valores e regras
de convivência, o índice de comportamentos agressivos diminui, as crianças se
tornam mais amistosas e cooperativas.
Espera - se que este estudo possa servir para uma reflexão dos profissionais
a cerca de usa importância para o desenvolvimento infantil. Considera – se,
entretanto que este estudo não esgota possibilidades para pesquisa nesta área, pelo
contrário, outros estudos podem partir deste, enfocando a família como o objetivo de
observar como esta se relaciona com a escola no processo de desenvolvimento da
personalidade infantil.
Os professores devem se integrar mais aos pais das crianças, sanando e/ou
evitando que os problemas de comportamento e indisciplina aconteçam. As direções
das escolas devem ser mais atuantes e devem estar sempre em contanto com as
crianças promovendo a ordem e a disciplina, quanto menor for a escola, maior a
possibilidade de se trabalhar a disciplina de uma forma harmoniosa.
Após ter feito tais colocações, constatou- se que a escola influencia na
formação da personalidade infantil, modificando comportamentos
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VIKTOR, M. Revista Educação. Novembro, 1999.
WALLON, Henri. La evolución Psicocológica Del Niño. Buenos Aires: Psique, 1965
ANEXOS
RESUMO
O presente estudo tratou da questão do ambiente escolar e sua
possível influência no desenvolvimento da personalidade.
Baseado, principalmente, em teórico que concebem o
comportamento como parte integrante da personalidade que começa a se
consolidar no início da infância, entre outros, através de trocas de
experiências com o meio, procurou – se pesquisar o cotidiano de uma
instituição escolar localizada no bairro de Jacarepaguá por observar
crianças com comportamentos agressivos.
A metodologia utilizada foi à observação da relação aluno –
escola, compreendendo uma turma de Classe de Alfabetização durante o
período de 90 dias e a aplicação de um questionário ao professor da
turma.
Após a realização da pesquisa observou – se que a escola te
uma importante influencia no comportamento das crianças, conclui – se
que a escola consegue modificar comportamentos, influenciando assim
na formação da personalidade das mesmas.
Universidade Cândido Mendes - UCAM
Diretoria de Projetos Especiais
Curso de Pós – Graduação Lato – Sensu - Psicopedagogia
Ângela Oliveira da Silva Bernardino
Professora – Orientadora: Maria Esther de Araújo Oliveira