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1 Autor: Cristiane Mendes Faustino Orientador: Profª Msc. Luciana Santos Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Lato Sensu em Psicopatologia e Psicodiagnóstico Trabalho de Conclusão de Curso A INFLUÊNCIA DA RELAÇÃO COM O OUTRO NO PROCESSO DE PSICODIAGNÓSTICO INFANTIL: UM ESTUDO DE CASO Aluna: Cristiane Mendes Faustino Orientadora: Profª Msc. Luciana Santos Brasília - DF 2013

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Autor: Cristiane Mendes Faustino

Orientador: Profª Msc. Luciana Santos

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Lato Sensu em Psicopatologia e Psicodiagnóstico Trabalho de Conclusão de Curso

A INFLUÊNCIA DA RELAÇÃO COM O OUTRO NO PROCESSO DE PSICODIAGNÓSTICO INFANTIL: UM ESTUDO DE CASO

Aluna: Cristiane Mendes Faustino Orientadora: Profª Msc. Luciana Santos

Brasília - DF 2013

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CRISTIANE MENDES FAUSTINO

A INFLUÊNCIA DA RELAÇÃO COM O OUTRO NO PROCESSO DE PSICODIAGNÓSTICO INFANTIL: UM ESTUDO DE CASO

Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação Lato Sensu em Psicologia da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do certificado de Especialização em Psicopatologia e Psicodiagnóstico. Orientadora: Profª Msc. Luciana Santos

Brasília-DF

2013

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Monografia de autoria de Cristiane Mendes Faustino, intitulada "A INFLUÊNCIA

DA RELAÇÃO COM O OUTRO NO PROCESSO DE PSICODIAGNÓSTICO

INFANTIL: UM ESTUDO DE CASO", apresentada como requisito parcial para obtenção

do certificado de Especialista em Psicopatologia e Psicodiagnóstico da Universidade de

Brasília, em 8 de outubro de 2013, defendida e/ou aprovada pela banca examinadora abaixo

assinada:

___________________________________________________________________

Profª. Msc. Luciana Santos

Orientadora

___________________________________________________________________

CONVIDADO(A)

INSTITUIÇÃO

Brasília

2013

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AGRADECIMENTO

À Deus, por permitir e tornar possível meus sonhos, por ser a essência de minha vida.

À Profª Msc. Luciana Santos, pelo direcionamento, dedicação, pelo apoio e partilha de seu conhecimento.

Aos meus pais inspiradores de minha vida, pelo amor, carinho, compreensão e apoio concedido.

À minha irmã pela força, carinho e conivência.

Aos parceiros da pós-graduação pelo carinho, amizade, partilha de conhecimento e pelas longas conversas.

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"Como um ser que progride e evolui, o homem está onde está para que possa aprender que tem que crescer; e na medida em que consegue aprender a lição espiritual que cada circunstância lhe oferece, esta passa e cede lugar as outras."

James Allen

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RESUMO

Referência: FAUSTINO, Cristiane Mendes. Titulo: A INFLUÊNCIA DA RELAÇÃO COM O OUTRO NO PROCESSO DE PSICODIAGNÓSTICO INFANTIL: UM ESTUDO DE CASO.Especialização em Psicopatologia e Psicodiagnóstico apresentado ao curso de Pós-Graduação e Pesquisa Latu Sensu. Universidade Católica de Brasília- DF, 2013, 25 p.

O presente estudo tem como objetivo apontar algumas considerações sobre um processo de psicodiagnóstico clínico individual realizado em uma criança. No qual visa compreender a influência da relação com o outro no processo de avaliação psicológica com a criança, dessa forma este estudo irá verificar a importância do rapport entre psicólogo e paciente; ainda verificar a influência dos pais/responsáveis no processo psicoterápico. Para o desempenhar a pesquisa utilizou o método qualitativo com a técnica de estudo de caso. O estudo partiu do processo psicodiagnóstico e o laudo de uma criança de 8 anos de idade, cursando o 4º ano do ensino médio, realizado no Centro de Formação em Psicologia Aplicada (CEFPA) da Universidade Católica de Brasília. A análise do processo e do laudo permitiu verificar que é essencial o estabelecimento da relação entre profissional e paciente já em seu primeiro contado, assim como a preparação, o manejo adequado e entrega do psicólogo durante o processo de psicodiagnóstico, é primordial que entre ambos haja empatia e confiança para que a avaliação seja adequada. Assim como a importância de um espaço de escuta, também a inserção dos pais/responsável no processo da avaliação, considerando que a família e o primeiro grupo social em que a criança se relaciona e suas primeiras vivencias são base fornecedoras para a constituição de seu psiquismo, conclui-se que, parte das problemáticas psíquicas desenvolvidas na criança podem estar sendo geradas por um contexto familiar conflituoso em que a criança vive, refletindo a problemática do ambiente em que está inserida.

Palavras-chave: Psicodiagnóstico Infantil. Relação paciente-psicólogo. Relação paciente-

pais/responsável.

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RESUMEN

El presente estudio tiene como objetivo señalar algunas consideraciones acerca de un proceso de psicodiagnóstico clínico individual realizado en un niño. En cuyo objetivo es comprender la influencia de la relación con los demás en el proceso de evaluación psicológica con el niño, por lo que este estudio fue verificar la importancia de la relación entre el psicólogo y el paciente, consultar también la influencia de los padres/tutores en el proceso psicodiagnóstico. Para llevar a cabo la investigación se utilizó métodos cualitativos con la técnica de estudio de caso. El estudio se inició el proceso y el informe psicodiagnóstico de un niño de 8 años de edad , está en el cuarto año de la escuela secundaria, hecho en Centro de Formação em Psicologia Aplicada (CEFPA) da Universidade Católica de Brasília. El análisis del proceso y el informe ha demostrado que es esencial para establecer la relación entre el profesional y el paciente en su primer contacto, así como la preparación, manipulación y entrega del psicólogo durante el proceso psicodiagnóstico, es fundamental que entre ellos hay la empatía y la confianza para que la evaluación sea apropiada. Así como la importancia de un espacio de escucha , además de la inserción de los padres/tutores en el proceso de evaluación, teniendo en cuenta que la familia el su primer grupo social en el que el niño se relaciona con su primer vivencia se basan proveedores para formar su psique, se concluye que la parte psíquica del problema se puede desarrollaren el niño que está siendo generada por un contexto familiar conflictivo en el que vive el niño, que reflejan los problemas del medio ambiente en el que opera.

Palabra clave: Pscodiagnóstico infantil. Relación psicólogo-paciente. Relacion paciente-pais responsable.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 9

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..................................................................................... 11

2.1 COMPREENDENDO A RELAÇÃO NO PSICODIAGNÓSTICO................................. 14

2.1.1 Relação paciente-psicólogo........................................................................................... 15

2.1.2 Relação paciente-psicólogo........................................................................................... 17

3 MÉTODO............................................................................................................................ 19

3.1 PARTICIPANTES............................................................................................................ 19

3.2 INSTRUMENTOS............................................................................................................ 19

3.3 PROCEDIMENTOS......................................................................................................... 19

4 RESULTADO E DISCUSSÃO......................................................................................... 21

4.1 HISTÓRIA CLÍNICA...................................................................................................... 21

4.2 ANÁLISE DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS EMPREGADAS............................ 21

4.3 CONCLUSÃO DO PROCESSO DE PSICODIAGNÓSTICO........................................ 23

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................ 24

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................. 25

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1. INTRODUÇÃO

O psicodiagnóstico é uma técnica utilizada por psicólogos, para compreender a luz do

problema, assim como investigar e avaliar os recursos e dificuldades específicas do indivíduo.

O psicodiagnóstico auxilia e possibilita uma intervenção mais direcionada e pontual do

problema em uma psicoterapia por exemplo, assim como em uma intervenção medicamentosa

apropriada, entre outros (Cunha, 2000).

O psicodiagnóstico é realizado por um processo no qual exigem algumas etapas e

condições, como: realização de entrevistas, eleição e aplicação de técnicas e teste

psicológicos. No entanto, o processo de psicodiagnóstico não é algo tão simples como

aplicação e correção de técnicas e teste psicológicos; o psicodiagnóstico exige muito mais de

um profissional. Um processo psicodiagnóstico demanda relação, confiança e encontro de

intersubjetividade. Como afirma Cunha (2000), o processo demanda a existência de um bom

estabelecimento de rapport, que é o sentimento de continuidade e segurança estabelecido na

relação clínica. Ainda, é no vínculo clínico, que se constituirá a relação de ajuda e de

confiança entre o paciente e o profissional livres de crítica, menosprezo e desvalia.

Gomila (2007) ressalta que o psicodiagnóstico é um estudo científico que avalia o

funcionamento do sujeito bio-psico-socialmente, constituído pelas interações do meio em que

vive e suas relações. Desta forma, o psicodiagnóstico possibilita ao profissional que o avalia

ter um norte mais amplo da necessidade e personalidade do sujeito, o que facilita ao

profissional uma terapêutica mais responsável e até mesmo modificar aspectos da vida e de

seu ambiente quando a intervenção funciona. Tal argumento, sugere que o psicodiagnóstico

avalia o sujeito como um todo, em uma avaliação bem realizada o profissional poderá ter o

conhecimento do paciente deste sua personalidade constituída á suas relações sociais e

influências ambientais.

Segundo Raymundo (2000) no contato com o paciente e, principalmente no primeiro

momento, o psicólogo deve ter a sensibilidade e acolhimento adequado. Também é neste

momento que são esclarecidos os motivos aparentes e ocultos possibilitando a determinação

dos objetivos do psicodiagnóstico, assim como o fornecimento de dados sobre a capacidade

de vinculação e de concretização da tarefa pelo paciente e/ou responsável. É importante que

neste primeiro momento o psicólogo distinga quem será o paciente, se é o próprio paciente,

família, instituição, etc. Ao longo deste trabalho poderá verificar que a solicitação de um

psicodiagnóstico pode vir com demandas exteriores implícitas, como por exemplo, o

psicodiagnóstico infantil, no qual a criança poderá ser o reflexo da problemática familiar.

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Tendo em vista a importância de identificar o paciente a ser analisado na avaliação

psicológica, reflete-se a respeito do processo de psicodiagnóstico realizado com crianças. Que

para Gomila (2007) não somente o sujeito paciente e terapeuta estão envolvidos no processo,

mas também a família do paciente e outros profissionais também podem estar indiretamente

envolvidos. Igualmente, características do ambiente e a relação terapeuta-paciente, interfere

diretamente no desenvolvimento, interação e intervenção que o terapeuta irá realizar no

processo. Por isso a importância de avaliar a relação da criança com sua família durante o

psicodiagnóstico, pois serão essas peculiaridades familiar que norteará o atendimento,

possibilitando um tipo de intervenção direcionada e eficaz na psicoterapia.

Este estudo tem por objetivo apontar algumas considerações sobre um processo de

psicodiagnóstico clínico individual realizado em uma criança. No qual visa compreender a

influência da relação com o outro no processo de avaliação psicológica com a criança, dessa

forma este estudo irá verificar a importância do rapport entre psicólogo e paciente; ainda

verificar a influência dos pais/responsáveis no processo psicoterápico.

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Gomila (2007) assinala que o psicodiagnóstico é a avaliação do comportamento tanto

normal quanto anormal do sujeito. Completa dizendo que o método utilizado no

psicodiagnóstico possui duas vertentes, sendo estas analítico-indutiva e a hipotético-dedutiva,

no entanto em diferentes momentos históricos foram utilizado uma mais que a outra, porém

atualmente compreende-se que ambas fazem parte da análise da estrutura psíquica e do

comportamento humano. Entende que a essência do psicodiagnóstico é a compreensão do

mundo interno, com suas estruturas psíquicas, fantasias, inconsciente, mecanismos de defesas,

assim como o comportamento do sujeito avaliado. Desta forma, entende que o método

cientifico que se aplica, garante características de confiabilidade e validade que regem o

processo psicodiagnóstico em sua formulação de hipóteses, projeto e verificação. Tal

afirmação possibilita seguridade no psicodiagnóstico, como avaliação da mente com a

credibilidade que a ciências nos aporta.

Conforme aponta Cunha (2000) o psicodiagnóstico parte das queixas do sujeito,

seguido pela identificação dos conflitos e causas, pautação dos conteúdos e, por fim, a

integração das informações colhidas, tudo isso irá contribuir para o entendimento do paciente.

A autora conceitua o psicodiagnóstico como um processo científico, limitado no tempo, que

utiliza técnicas e teste psicológicos para compreender, identificar e avaliar aspectos

específicos; assim como para classificar o caso e prever seu possível desenvolvimento.

Santiago (2000) alerta para a sensibilidade que o psicólogo deve ter em relação ao

paciente para que este não assuma a posição de apenas informante, já que o profissional está

com todas as suas atenções apontadas para o levantamento de inúmeras informações do que

com o paciente em si. É importante que o profissional seja acolhedor, moderando e inclua o

paciente no processo, pois este ao buscar o auxílio psicológico, subentende-se a dificuldade

que possui para resolver seus problemas. Aqui o autor alerta o psicólogo para a sensibilidade

que deve ser mantida, pois o psicodiagnóstico por ter uma compreensão objetiva, no qual

busca resultados claros e específicos, continua sendo um momento em que o sujeito busca

uma acolhimento e atenção de suas dores e angústias.

Ainda, Potter e Carrasco (2005) ressaltam que em um processo psicodiagnóstico,

deve-se considerar o contexto no qual o paciente está inserido, pois este interfere no seu

desenvolvimento. No psicodiagnóstico de crianças e adolescentes é importante saber,

inclusive, de seu nascimento, considerando clima familiar e união dos pais, para obter-se o

contexto no qual o paciente está inserido desde a sua concepção.

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Gomila (2007) considera que o psicodiagnóstico infantil é o estudo científico que

busca compreender a criança em seu contexto bio-psico-social em interação ao meio que

pertence, com o objetivo de conhecer a personalidade do sujeito avaliado e indicar o

tratamento mais adequado a este e sua família. A autora afirma que:

El Psicodiagnóstico infantil se diferencia del diagnóstico de adolescentes y adultos

en una serie de aspectos específicos que deben ser tenidos en consideración:

aspectos relacionados con el sujeito evaluado, características de edad, tipo de

desarrolo bio-psiquico-social, grado de madurez, papel e influencia del contexto

familiar, escolar, social, legal, hospitalario; aspectos relacionado con los instrumento

utilizados y su cientificidad consigna, procedimiento de aplicación, fiabilidad y

validez; y la situación de consulta setting, relación con el entrevistador,

comportamiento o cambios observados durante el proceso (GOMILA, 2007, p. 27).

A autora nos remete a pensar no feeling e manejo cuidadoso que o psicólogo deve ter

no atendimento do processo no psicodiagnóstico infantil, pois a visão bio-psiquico-social da

criança exige que o profissional averigue diversos pontos de conflito que podem estar

indiretamente ligados a criança, no qual a criança é o reflexo da problemática gerada em seu

contexto.

Na visão de Aberastury (1982) no psicodiagnóstico infantil o profissional deve

assumir desde o primeiro momento o papel de analista do filho, pois assim diminui a angústia

inicial dos pais, que é a sensação de serem analisados e julgados. Assim como ter o cuidado

de não dar preferência a uma das falas, da mãe ou do pai. O objetivo da entrevista inicial em

um psicodiagnóstico infantil é identificar o motivo da consulta (conhecer a demanda);

conhecer o histórico da criança; conhecer a dinâmica das relações parentais; rotina e levantar

as hipóteses diagnósticas. O fechamento da entrevista inicial consiste em explicar o modo de

funcionamento do processo do psicodiagnóstico; contrato terapêutico com os pais; contato

com os profissionais que atendem a criança; contato com a escola e solicitação dos trabalhos

escolares da criança. A autora aponta para a importância de informar a criança sobre a ida ao

psicólogo. O profissional deve ter um prontuário contendo o contrato, dados da criança,

histórico, demanda, hipótese diagnóstica, testes, desenhos, anotações da evolução das sessões

e o relatório psicológico.

A mesma autora indica que para o acolhimento adequado da criança o consultório

deve ter características próprias, como chão e mesa de fácil limpeza, pia, fraldas, lenços

umedecidos e colchões; é importante manter sempre os mesmo materiais e renovar os que são

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gastos; cada paciente deve ter sua pasta ou caixa, na qual somente a criança e o analista tem

acesso. No consultório é necessário ter materiais básicos diversos por meio dos quais a

criança consiga brincar, lápis, canetinhas, massa de modelar, tinta, cola de várias cores;

materiais lúdicos que favoreçam o brincar, família de bonecos, maleta de médico, casinha,

bonecas e carrinhos; jogos de competição, de construção, de cooperação, que avaliará a

tolerância a frustração, perdas, angústias, ansiedade (60s), transtorno de conduta desafiador;

para crianças muito inibidas, tímidas ou introvertidas usar o jogo do rabisco e tinta. A autora

assinala algumas técnicas e instrumentos de trabalhos com a criança, como a análise do

desenho, interpretação do brincar, personificação e encenação, trabalho com histórias, testes

psicológicos, uso de eletrônicos e internet, PECS e materiais do Teach.

O atendimento infantil se diferencia em vários aspectos do atendimento do adolescente

e adulto, como descreve a autora citada acima. O atendimento infantil exige técnicas

diferenciadas, ambiente apropriado e principalmente o conhecimento do psicólogo de jogos e

brincadeiras endereçada a criança no qual é capaz de revelar bastante conteúdos necessário

para a análise no processo do psicodiagnóstico.

A última etapa do processo psicodiagnóstico é a devolutiva com os pais e o

fechamento do psicodiagnóstico. Cunha (2000) destaca que a devolução é definida pela

identidade e qualidade do receptor. Ela deve ser clara, precisa e integrar as informações

obtidas até aquele momento. O profissional deve procurar perceber se está sendo

compreendido. A entrevista devolutiva pode iniciar retomando o motivo do psicodiagnóstico

e, então, informar gradualmente as potencialidades e as dificuldades do paciente. É

importante a orientação dos pais sobre o diagnóstico, de como manejar e conduzir a partir do

diagnóstico. Por fim, dá-se o encaminhamento necessário (POTTER e CARRASCO, 2005).

A devolução do psicodiagnóstico deve ser de igual importância como em todo o

processo. O resultado obtido no psicodiagnóstico pode ser angustiante tanto para os pais,

quanto para a criança, pode ser um conteúdo revelador de uma dinâmica familiar doentia,

assim como os pais não saber lidar e até mesmo dificuldade em aceitar o diagnóstico. A etapa

da devolução é um momento que surgem dúvidas, ansiedade e questionamentos que dever ser

atentamente acolhidos e esclarecidos pelo profissional. Nessa fase é importante que sejam

clarificados mitos criados pelo senso comum e principalmente que o profissional oriente quais

são as possibilidades de tratamento e cuidados a serem tomados. Também é importante

destacar aspectos positivos que foram encontrados no psicodiagnóstico, por se tratar de algo

que aflige a todos, apontar aspectos positivos da criança pode evitar a visão negativa do

avaliado.

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2.1. COMPREENDENDO A RELAÇÃO NO PSICOADIAGNÓSTICO

Oliveira (2006) considera a interação como um conjunto de eventos discretos, por

períodos limitados, na qual os indivíduos realizam trocas entre si, com aspectos objetivos, isto

é, o indivíduo responde aos comportamentos emitidos pelo parceiro. Para Hinde (1997 apud

BRANDÃO, 2009) as interações sociais são vistas de uma perspectiva interdisciplinar, visto

que sua organização está baseada em níveis de complexidades social. A interação social parte

da interação entre dois sujeitos, em um período curto de tempo. Desta maneira, a interação

social se difere da relação social, pois a relação social é composta de várias interações entre

sujeitos que se conhecem.

Na perspectiva de Hinde (1997 apud BRANDÃO, 2009) as interações sociais são

compostas por díades, em que estão envolvidos aspectos subjetivos de cada sujeito, e estes

por sua vez, conduzirá o percurso das interações. Com base nas características componentes

das relações interpessoais, na dinamicidade dos relacionamentos e das interações, o autor

reúne fatores que facilitam o entendimento do comportamento, aspectos afetivos e cognitivos

do indivíduo em suas relações pessoais.

Assim, para o autor as categorias dos comportamentos estão integradas nos conteúdos

das interações, das qualidades, diversidades e frequências. O conteúdo das interações refere-

se ao que os participantes fazem em conjunto. As qualidades das interações indicam a

maneira em que acontecem as interações. Em contrapartida a diversidades, revela a

qualidades das interações embasando nas diversidades dos comportamentos de seus

participantes. Em relação à frequência relativa das interações, pode-se considerar que estas

incorporam as variações das interações, assim como as frequências qualitativas, considerando

associações antecessoras e sucessoras das interações, para que não haja equívocos de

julgamentos em relação a estas.

O autor segue dizendo que a reciprocidade e complementaridade estão associadas aos

comportamentos afetivos e cognitivos da interação. Elas tendem a analisar interações que

sejam recíprocas ou harmônicas, na qual integrantes da interação tenha comportamentos

semelhantes. Da mesma forma acontece com os complementares, em que integrantes da

interação apresentam comportamentos diferentes, mas que se completam. Outro fator do

relacionamento é o compromisso, que é caracterizado pela confiança e cooperação na

interação, o compromisso quando aderido conscientemente e gradualmente, terá menor

probabilidade de declínio ou termino de uma relação. A percepção interpessoal é a

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compreensão que o indivíduo tem do relacionamento, da qual ele faz parte, isto é, a ideia que

ele tem dele próprio e do outro como integrantes de uma relação, a partir de avaliações, auto

avaliações, suas imagens e sentimentos. Aspecto que é de extrema importância no processo

do psicodiagnóstico, na qual a relação será primordial para um processo harmônico e

adequado. Em que o profissional deverá ter a sensibilidade de perceber, estabelecer e manter

o vínculo de confiança e segurança à pessoa avaliada.

Hinde (1997 apud BRANDÃO, 2009) aponta como fator primordial a análise das

interações sociais, uma vez que esta faz parte das relações social. Porém, a necessidade de

serem diferencias quando abordagem teórica de tais fenômenos, pois as interações sociais

podem sofrer alterações uma da outra durante uma relação. A partir de uma rica observação

de grande quantidade de interações, estamos sujeitos a dados mais significativos para análise.

A probabilidade de variar o conteúdo das interações de uma mesma díade é possível de

acordo com a mudança de contexto, alterando consequentemente a qualidade das interações.

A interação é ponto fundamental para entender os objetivos principais desse trabalho, na qual

procura compreender a relação entre paciente e o psicólogo no psicodiagnóstico e a relação

entre paciente-pais/responsáveis.

2.1.1 Relação paciente-psicólogo

No primeiro contato com o paciente o psicólogo deve estar sensível e aberto a acolher

apropriadamente quem o procura. Contato significa o tatear das angústias e do sofrimento de

quem busca ajuda. É papel do psicólogo lidar com as inúmeras resistências ao processo

psicodiagnóstico, sentimentos ambivalentes e situações desconhecidas (RAYMUNDO, 2000).

Considerando os níveis conscientes da demanda, a mesma autora compreende que o

paciente já em seu primeiro contato com o psicólogo, em que é formalizado na marcação da

consulta, etapa na qual já existe intensa angústia e ambivalência, sustentando a ideia de que o

paciente necessita de ajuda para resolver seus problemas. Os pacientes que apresentam fortes

defesas, podem ocultar suas motivações inconscientes da busca pelo processo

psicodiagnóstico. Quando o examinado é encaminhado por outrem, por exemplo o psiquiatra,

é possível que o paciente tenha certo nível de consciência de seu problema, podendo se tornar

uma situação dolorosa. Desta forma, o sujeito por resistência pode negar sua realidade

depositando responsabilidade pela busca do psicodiagnóstico a um terceiro.

A autora ainda revela que na dinâmica da relação clínica, nos aspectos conscientes e

inconscientes surgem à transferência, resistência, contratransferência e o rapport na relação

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entre psicólogo-paciente. Assim, na relação entre psicólogo e paciente passam a interagir em

dois planos, o de atitudes que para o psicólogo tem a função de examinador e clínico,

enquanto que a do paciente é de apresentar sua sintomatologia e necessidade de ajuda. E no

plano das motivações, em que ambos apresentam aspectos inconscientes e assumem papéis

com seus sentimentos primitivos e suas fantasias. Assim, no plano do inconsciente têm-se os

fenômenos de transferência e de contratransferência.

A autora segue apontando para o cuidado que o psicólogo deve ter em relação a

contratransferências, não permitindo que passe de um fenômeno normal, controlando seus

sentimentos de forma que não influencie no processo. Tal afirmação permite refletir na

relação do profissional para com o sujeito avaliado, principalmente com crianças que pode

remeter necessidade de afeto e cuidado para com o psicólogo que muitas vezes a acolhe,

escuta e tem toda a atenção voltada a ela, por isso o distanciamento dos sentimentos afetivos

pessoais despertados no profissional dever ser controlados.

No psicodiagnóstico infantil o vínculo estabelecido já nos primeiros contatos e fator

definidor para o processo psicodiagnóstico dinâmico e eficaz. Como afirma Aberastury

(1982) os meios de avaliação com a criança requerem dinâmica, atratividade e manejo

adequado. Pois mesmo com disponibilidades de materiais, teste entre outros bons recursos no

mercado, o psicólogo necessita de habilidade para manejá-los adequadamente, deve ter a

capacidade de brincar, conhecer alguns jogos básicos, conhecer histórias e os personagens

clássicos e atuais, para que a obtenha um resultado satisfatório. Para isso, a relação

profissional-paciente deverá ser de confiança, empatia e certo grau de conhecimento do

profissional para com o paciente. Caso contrário, o psicólogo encontrará resistência, oposição,

desconfiança e desinteresse da criança, impossibilitando um resultado seguro no

psicodiagnóstico.

A autora reporta que a primeira sessão com a criança, configura-se com contrato

terapêutico, em que explica-se o porquê a criança está ali, além de investigar o que a criança

sabe sobre o que faz o psicólogo e determinar as regras do local. Nesse momento é necessário

explicar as etapas e fazer uma aliança terapêutica com a criança.

Winnicott (1975 apud MENICHETTI; SALOMÃO &TARDIVO, 2009) considera que

o vínculo com o psicólogo possibilitará à criança avaliada um espaço potencial único e

criativo intermediário entre o mundo interno e externo do sujeito. O autor alerta para uma

terceira área de experiência que intermédia entre esses dois mundo, o transicional existente

entre a fantasia e a realidade, neste campo ocorre a sobreposição de duas áreas lúdicas, sendo

a do examinando e a do psicólogo, semelhante a que foi vivenciada na relação de confiança

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entre a mãe e o bebê. Ressalta para características do psicólogo, na qual é fundamental que o

profissional tenha um bom senso de humor e goste de brincar.

Gomila (2007) complementa despertando para a importância do psicólogo ter

habilidade, preparação e formação adequada, pois estas características contribuem para um

desenvolvimento terapêutico harmonioso e eficaz.

2.1.2 Relação paciente-pais/responsáveis

Como visto nos tópicos anteriores o processo psicodiagnóstico é delineado da história

de vida do paciente em suas relações com a família e o contexto em que está inserido. Dessa

forma, é importante que o psicólogo atente-se para a relação e grau de interferência dos

pais/responsáveis no processo psicodiagnóstico.

Santa-Rosa (2008) afirma que no psicodiagnóstico infantil o psicólogo deve-se atentar

sobre a família da criança atendida, considerando que é a família responsável pela formação

da criança. O autor destaca alguns estudiosos que tiveram seu foco na psicologia infantil,

como Winnicott, Sptiz, Anna Freud, tais autores compreendiam que o desenvolvimento

psíquico da criança está diretamente vinculado com sua relação familiar.

Considerando que as primeiras relações sociais vivenciadas pela criança são

fornecedoras para a base da constituição de seus psiquismo e o primeiro grupo social em que

a criança mantém suas relações é sua família, presume-se que a influência da relação familiar

é então co-responsável pelas dificuldades psicológicas que a criança possa desencadear

(SANTA-ROSA, 2008).

Diante disso, Arzeno (1995) enfatiza a importância de se inserir a família da criança

no psicodiagnóstico infantil, para possibilitar a compreensão dos possíveis problemas

psíquicos da criança avaliada. A autora percebe que os sintomas apresentados pela criança é a

ponta do iceberg de um sistema intrapsíquico que advém de um sistema familiar doentio, com

problemas em suas economia e dinâmica. A partir da teoria apresentada, a autora

complementa apontando a necessidade da família participar da(s) entrevista(s) iniciais do

psicodiagnóstico infantil, para que o psicólogo possa conhecer o sistema familiar na qual a

criança está inserida, para compreender e identificar a luz da problemática apresentada pela

criança.

Para Aberastury (1982) no psicodiagnóstico infantil é importante averiguar como

procede o relacionamento dos pais e a criança avaliada, também a inclusão destes no processo

do psicodiagnóstico. Pois não apenas a criança, mas também os pais e o contexto na qual

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estão inseridos são influenciados e sofrem o impacto de um processo de avaliação. A autora

enfatiza o cuidado que o profissional deve manter para com os sentimentos hostis e

contraditórios apresentado pelos pais em relação a criança, sentimentos que geralmente são

revelados durante a entrevista na qual o psicólogo tem a ideia da relação afetiva e o

significado que a criança tem para eles. Ainda aponta a autora para a primeira entrevista, na

qual podem comparecer somente um dos pais ou em casos especiais um familiar ou amigo

que representam aos pais, essas situações por si mesmas, revelam o funcionamento do grupo

familiar na relação com o filho.

Santa-Rosa (2008) aponta que o psicodiagnóstico infantil pode ser revelador de uma

família problemática, em que os membros componentes dessa estrutura não possuem

habilidades adequadas para assumir os papéis designados a ele pela sociedade ou a

configuração familiar não está adequada, provocando problemas psicológicos na criança. Em

seus estudos o autor ressalta a importância de nestes casos indicar psicoterapia não somente

para a criança avaliada, mas também para os membros inseridos na família.

Nota-se que os autores apresentados compreendem que a família pode colaborar na

problemática apresentado pela criança, como componentes que estão ligados

psicologicamente e em que os problemas familiares são geradores dos chamados sintomas da

criança, seriam produzidos no interior da família. No entanto, tal afirmação não pode ser

levada como regra, pois como foi abordado anteriormente, outros fatores também devem ser

levados em conta.

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3.MÉTODO

Para realizar esta investigação optou-se pela abordagem qualitativa em pesquisa e pela

técnica de estudo de caso, por possibilitar o contato com a situação real que está sendo

investigado, permite também um encontro com o contexto em estudo sem manipulação

intencional do pesquisador, em outras palavras, proporciona a relação do pesquisador com sua

fonte direta. Nessa perspectiva o pesquisador se constitui no principal instrumento,

procurando descrever sua compreensão a partir da realidade investigada, visando estabelecer

sentidos e significados (GONZÁLES-REY, 2002).

3.1. Participante

O trabalho foi desenvolvido com uma criança do sexo masculino, de 8 anos de idade,

cursando o 4º ano do ensino fundamental. O paciente foi encaminhado para avaliação

psicológica por apresentar decorrência de choros e tristeza sem motivos aparentes na escola,

bem como rebaixamento de notas escolares. Com ele foi realizado um processo de

psicodiagnóstico no Centro de Formação em Psicologia Aplicada (CEFPA) da Universidade

Católica de Brasília, como atividade obrigatória para a conclusão do curso de pós-graduação

latu sensu em Psicopatologia e Psicodiagnóstico.

3.2. Instrumentos

Foram utilizados para a avaliação psicodiagnóstica entrevista clínica e elaboração do

Genograma do paciente, que consiste na representação gráfica de informações sobre a família,

à medida que vai sendo construído, evidencia a dinâmica familiar e as relações entre seus

membros. Também foram aplicados os teste de: 1) Matrizes Progressivas Coloridas de Raven,

desenvolvido por John C., destinado à avaliar o desenvolvimento intelectual de crianças de 5

a 11 anos de idade; 2) Pirâmides Coloridas de Pfister, considerado bastante útil quando se

trata de apreender a dinâmica afetiva do paciente, principalmente no caso de indivíduos com

dificuldade de expressão verbal ou gráfica e 3) o HTP (House, Tree and Person), técnica

projetiva criada por Kolck que tem por finalidade avaliar aspectos projetivos e expressivos da

personalidade.

3.2. Procedimentos

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O processo de psicodiagnóstico foi realizado em seis encontros de cinquenta minutos

cada, iniciado no dia 17 de abril ao dia 09 de maio do ano de 2013. No primeiro encontro foi

realizada entrevista clínica com o paciente e sua atual responsável para levantamento das

demandas, assim como explicações necessárias do objetivo de trabalho, esclarecimento sobre

benefícios de uma avaliação para o paciente e observação do comportamento do paciente. No

segundo foi realizado o genograma com a sua responsável; o terceiro encontro consistiu na

aplicação dos testes Matrizes Progressivas Coloridas de Raven e as Pirâmides Coloridas de

Pfister; o quarto encontro foi aplicado o teste de H.T.P. O quinto encontro consistiu em uma

entrevista com o paciente, em que foram utilizados recurso técnico para colher dados e

informações do sentimento e comportamento do paciente. Por fim, a entrevista de devolução

realizadas com o paciente e sua responsável, realizada oralmente e a entrega do Laudo

Psicodiagnóstico com a apresentação das conclusões diagnósticas, orientação e

esclarecimento a sua responsável e sugestão de psicoterapia ao paciente.

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. História Clínica

Maria (nome fictício) 50 anos de idade, foi casada aproximadamente 10 anos, com

João (nome fictício) 50 anos de idade. Nesse período do casamento, Maria fez tratamento para

a engravidar de seu único filho, Pedro (nome fictício), após o nascimento da criança os pais se

separaram e em seguida, João foi morar em outro país. Pelos relatos de Joana (nome fictício

para a atual responsável por Pedro), a criança não tem contato com o pai desde então. Pedro,

nasceu no Japão e viveu lá com sua mãe até seus 2 anos de idade, por motivos não citados

durante as entrevistas, Pedro veio morar em Brasília (Brasil) com seus avós maternos, com o

qual viveu até aproximadamente seus 6 anos de idade, por seus avós já terem idade avançada,

tiveram dificuldade em dar continuidade na criação do neto, achando mais adequado que este

fosse viver com sua tia, que também vive em Brasília.

A tia criou Pedro por um pouco mais que um ano, que por suas razões não teve

condições de seguir com a criação do sobrinho. Desta forma, Joana, 61 anos de idade e amiga

da família a muitos anos, também cunhada do tio de Pedro, propôs que a criança vivesse com

ela. Joana está com Pedro desde março deste ano (2013) e proporciona a criança o que é de

necessidade para um desenvolvimento adequado do mesmo. Ambos, durante a entrevista e

aplicação dos testes demonstram ter um laço de afeto e carinho já estabelecido, na qual Joana

lhe proporciona os cuidados e acompanhamentos necessários.

Pedro no período em que morou com os avós maternos e em seguida com sua tia

materna apresentou choros e tristeza sem motivos aparentes principalmente na escola,

chamando a atenção de seus professores que orientaram sua responsável a procura de um

profissional psicólogo.

A atual responsável por Pedro diz que a criança apresenta interesse por jogos

agressivos, que envolve luta, armas e matanças. Ela também já presenciou Pedro relatando o

desejo de que quando adulto, planeja de várias formas agressivas homicídios coletivos de

pessoas. Igualmente expressado durante uma sessão do psicodiagnóstico, no entanto sua

expressão não aparentou rancor ou raiva.

4.2. Análise dos instrumentos e técnicas empregadas

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Na primeira entrevista o paciente demonstrou-se incômodo por estarmos falando dele,

estava inquieto e impaciente. As perguntas direcionadas a ele foram respondidas vagamente e

até mesmo monossilábicas, complementadas pela responsável que o acompanhava. Neste

primeiro momento o vínculo paciente-terapeuta foi pouco estabelecido, decorrido da

aplicação dos testes descritos nos instrumentos. Analisando os procedimentos percebe-se que

nesta fase não houve momentos lúdicos com a criança analisada, dificultando desta forma o

vínculo entre o paciente e o terapeuta em tese. É defendido por Aberastury (1982) que o

psicólogo deve estabelecer com a criança uma comunicação possível e de compreendê-la a

partir dessa comunicação, forma que na maior parte das vezes é estabelecida a partir da

atividade lúdica. Analisando essa situação, compreende-se que o despreparo e até mesmo a

não entrega total do profissional ao processo do psicodiagnóstico, possibilitou a falta do

rapport entre ambos. No entanto, percebendo a resistência da criança em entregar-se ao

processo, a profissional avaliadora proporcionou um momento lúdico com a criança durante a

última entrevista, possibilitando assim a entrega de ambos ao processo de psicodiagnóstico,

mesmo que em sua fase final foi possível obter dados e informações valiosas para o resultado

da avaliação. Neste trecho é possível observar a importância do cuidado e principalmente o

preparo que o profissional deve ter para a realizar o psicodiagnóstico, confirmando o que foi

apontado por Cunha (2000), em que no processo psicodiagnóstico é primordial que a relação

terapeuta e paciente seja de confiança e empatia, considerando que psicodiagnóstico é uma

avaliação composta não somente de técnicas e testes psicológicos, mas uma relação que irá

atribuir ao profissional o conhecimento aprofundado do analisando para uma avaliação

confiável.

Analisando as informações colhidas no processo do psicodiagnóstico, foi possível

verificar nas entrevistas que o paciente possui potencialidades como recursos emocionais e

psíquicos para enfrentar conflitos, no entanto, foi percebida fragilidade afetiva, o que pode ser

justificado por seu histórico de conflito familiar.A criança também apresentou capacidade

intelectual acima da média como verificado nas Matrizes Progressivas Coloridas de Raven.

No Pfister também foi identificado que o paciente demonstra capacidade de contato

afetivo, boa percepção das situações, além de manter o controle estabilizador das emoções e

tem boa capacidade de ação e reação frente aos estímulos. Ainda no mesmo teste verificou-se

uma boa capacidade de enfrentamento emocional, boa produtividade, energia, dinamismo,

adaptação funcional estável e constante. Apesar do paciente demonstra índices de ansiedade e

voracidade, ele possui mecanismos que ajudam a mantê-lo em equilíbrio.

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No teste dos desenhos da Casa, Árvore e Pessoa - H.T.P, realizados pelo paciente,

pode-se averiguar características tipicamente apresentadas em desenhos de indivíduos,

retraídos, ansiosos, com nível de tensão considerável, justificável por seu histórico de vida.

Verificou-se conflitos familiares a partir do inquérito desse teste, o que pode ter gerado em

Pedro incerteza e insegurança quanto ao seu futuro.

A partir da análise alcançada no laudo descrito acima, é possível compreender que o

paciente estava inserido em um contexto familiar confuso, no qual ele não se sentia

pertencente, e, de certa maneira, sendo rejeitado por seus familiares. O histórico clínico do

paciente revela um contexto familiar conflituoso, que no entender de autores como Arzeno

(1995), Santa-Rosa (2008) e Aberastury (1982) o contexto familiar conflituoso é facilitador

para que a criança venha a desenvolver problemas psicológicos. Porque a família é o primeiro

vínculo social realizado pela criança, estes por sua vez são bases fornecedora da constituição

do psiquismo da criança.

Nota-se no processo psicodiagnóstico que a criança analisada, após ser submetida a

uma mudança de contexto, mesmo que não familiar, porém estruturado e que estabelece uma

rotina básica, fundamental para o desenvolvimento psíquico de uma criança, apresenta

mudanças notáveis em seu comportamento, que inicialmente foram queixas da demanda do

psicodiagnóstico. De acordo com Santa-Rosa (2008), um contexto familiar desestruturado, em

que os membros que seriam de maior autoridade nesse contexto, tem dificuldades de assumir

os papéis designados a eles, causam o desequilíbrio psíquico na configuração familiar,

consequentemente causando o problema psíquico na criança.

4.3. Conclusão do processo de psicodiagnóstico

A partir dos dados analisados no processo de psicodiagnóstico, constatou-se que o

paciente não apresenta qualquer tipo de problema intelectual que justifique seu rebaixamento

de notas. Este pode ser justificado pela ausência ou inadequado acompanhamento disciplinar

fora da escola, além de sua dinâmica familiar e relacional.

Porém, constatou-se um nível de ansiedade e tensão considerável. No entanto, não

enquadra-se até o momento como um transtorno psicopatológico, devido aos seus recursos e

mecanismos que o auxiliam a manter-se em equilíbrio emocional e afetivo.

Sugeriu-se acompanhamento psicoterápico ao paciente para prevenção do

desenvolvimento de um Transtorno de Ansiedade que poderá ser desenvolvido futuramente e,

ainda, potencializar os seus recursos relacionais e equilíbrio emocional.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho pretendeu-se compreender a influência das relações em um

processo psicodiagnóstico infantil. Baseando-se em um psicodiagnóstico infantil realizado em

uma clínica escola, no qual, a partir do psicodiagnóstico foi possível levantar informações

sobre o paciente e seu histórico familiar, tendo em vista compreender sua história,

personalidade e a causa de seu sofrimento. Além de permitir o contato com o paciente para a

avaliação a relação terapeuta-paciente.

Desta maneira, compreendendo as questões que foram apontadas a partir do

psicodiagnóstico ilustrado neste artigo, destaca-se a importância de ser estabelecido no

primeiro momento um ambiente acolhedor, amistoso e adequado, que possibilite um espaço

de escuta ao paciente, e quando o paciente é uma criança como no caso analisado, o ambiente

assim como o profissional devem estar preparados para acolher a criança, é essencial que não

só a criança, mas também o psicólogo se entregue ao processo durante o psicodiagnóstico,

para que o vínculo entre o paciente e o terapeuta seja estabelecido de forma adequada. No

processo psicodiagnóstico, deve-se ter o cuidado de não tratar o paciente como mero

informante, deixando o psicólogo em um lugar de autoridade rígida frente a criança,

possibilitando a colaboração dela na avaliação.

O estudo também mostrou a importância de incluir a família no processo

psicodiagnóstico, por considerar que a família contribui na formação dos problemas

psicológicos das crianças, por compreender que a família, geralmente representa o primeiro

contato social da criança, portanto base formadora de seu psiquismo, desta forma, as suas

primeiras relações marcarão profundamente sua personalidade. Como apresentado no estudo

de Gomila (2007) entende que a criança considerando seu contexto bio-psíquico-social está

em interação com o seu meio, e é esta interação que o profissional deve atentar-se com o

objetivo de conhecer a personalidade da criança avaliada.

Cabe ressaltar, que não se pode responsabilizar diretamente e unicamente os pais pelos

problemas psicológicos apresentados na criança, pois como viu-se a criança está inserida em

um contexto bio-psiquico-social, o que abrange as possibilidades a outros diversos fatores, no

qual podem ser os provocadores da problemática psicológica na criança. Por isso, a

importância do preparo do psicólogo, no qual somente uma relação empática estabelecida

entre ambos e principalmente o preparo e a entrega do profissional a avaliação possibilitará

um psicodiagnóstico bem realizado, com resultado confiável.

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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